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Esperança para quem se sente verme

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Academic year: 2021

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“Esperança para quem se sente “verme”

A publicação, uma obra tradismática sobre o verso “Sou verme, não homem!” (Sl 22, 6), que Jesus rezou na Cruz, é um conjunto de 95 ensaios sobre o ser humano, em toda a sua miséria e dignidade, na perspectiva da humanidade de Jesus, Deus que Se faz homem e assume a natureza humana até ao fim, na dor e no abandono, causados pela injustiça e pela maldade. Porque é Deus e porque Deus é amor, não elimina mas transforma a vermidade humana em húmus, adubo para uma nova existência. N’Ele toda a fragilidade — todo o pecado — se converte em vida, graça, felicidade. Nesta terra batida que somos, Ele abre túneis arejados e férteis, de onde brota auma Nova Criação; as montanhas gigantescas de obstáculos e dilemas que nos bloqueiam Ele tritura e pulveriza num silêncio eficaz. Na verdade, o cristianismo não é uma moral, mas o caminho de uma lenta metamorfose.

Novo modo de fazer cristologia

Todo o texto é perpassado por uma nova forma de “cristologia”, ciência sobre Cristo enquanto Filho de Deus, encarnado: trata-se de uma “cristopoética”, neologismo que configura uma abordagem alegórica, a preferência pela estética, tanto na beleza como na fealdade, enquanto sensibilidade que toca o ser humano na sua globalidade, mente e coração, alma e carne. Este livro é o primeiro volume de uma série ainda em construção. <p>

Numa linguagem actual, esta série reflexões espelha a existência humana no hoje da história, com todos os seus êxitos e dramas, focando as situações em que o ser humano, prolongando o sofrimento da Cruz, se sente verme ou trata o seu próximo como verme. É aqui que Deus intervém, transmutando desumanidade em vida verdadeira. <p>

A obra reedita o modo como é exposto o mistério da Criação, do Corpo, da Encarnação no seio da Virgem Maria, da Redenção na Cruz, da Eucaristia, do Amor. Propõe uma nova

aproximação: efectiva e afectiva, antiga e nova. É um livro de mística moderna, enraizada na Sagrada Escritura, na Tradição, no Magistério e nos Sinais dos Tempos da cultura

contemporânea. Nele, antropologia, filosofia, teologia, filologia e arte se entrelaçam harmoniosamente.

Aos olhos da poeta luso-brasileira Eleonora Marino Duarte

“A partir de uma metáfora evocando um dos seres vivos mais repugnantes — o verme —, sem remorsos, vergonhas ou preconceitos, Ricardo Tavares nos oferece, em linguagem poética e filosófica, o desafio de suas considerações pessoais sobre o cristianismo, a religiosidade e a vida, usando como figura central para a narrativa o ícone máximo da religião cristã: Jesus, o Filho de Deus.

“Homem, poeta e sacerdote, o autor estimula-nos a entrar nas questões mais obscuras do anseio humano por respostas divinas, para encontrarmos, inevitavelmente, a luz, uma luz vertiginosa e ofuscante trazida pela sua escrita decisiva e direta. O pensamento crítico é a chave oferecida pelo autor para nos ajudar a redescobrir a ligação com o divino, a vida, a morte e a ressurreição.

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Ana Gil, presidente da Faculdade de Ciências e Humanas da Universidade dos Açores, afirma que uma das coisas que a cativou nesta obra foi a preocupação do autor “em chegar a um vasto público, sobretudo àquele que está mais afastado da prática religiosa”, considerando “O Verme de Deus” uma “obra ecuménica”, “complexa, profunda e poética”. O título, “a uma primeira leitura, afigura-se intrigante, parecendo apoucar o sujeito a que se refere — Cristo ou o próprio Homem —, colocando-o numa situação de inferioridade, de quase insignificância, de quase nulidade em relação a Deus”.

“Conjugada com a titulação está a materialidade do livro, ou seja, o próprio formato que ele assume: bastante alongado na vertical, fazendo lembrar a própria forma do verme, indício incontestável de que tudo nesta obra foi pensado ao pormenor, numa harmonia completa entre forma e conteúdo, entre o material e o espiritual.” O Cristo apresentado é o último desenho do arquitecto e artista plástico português Luís Cunha (Porto, 1933 — Lisboa, 2019), que faleceu em 2019, o ano da escrita desta obra.

Perpassa pel’ “O Verme de Deus” a “estética do fragmento”: as formas breves unem-se numa mensagem harmoniosa e coerente, ganhando nova dinâmica e novas possibilidades

semânticas.

Estamos perante uma “cristopoética”, “revolucionária e inovadora”, que espelha a “necessidade de superação da condição de verme”, a “vermidade”, neologismo que

representa a reduzida e humilhante condição humana, que são as ameaças contemporâneas. O motor desta metamorfose renovadora é precisamente o poder do amor, de Deus pelos Homens, e dos Homens entre si e por Deus.

No estilo linguístico, os conceitos tecnológicos adaptam-se ao campo da religião: “Precisamos ser diariamente reiniciados, na meditação, como os telemóveis, para assimilarmos os upgrades de Deus.” Também experienciamos nesta obra “o efeito de desautomatização da linguagem”, a qual faz reencontrarmo-nos com a poeticidade intrínseca às palavras, mesmo as que se nos afiguram mais banais. “O poeta dá vida nova às palavras de sempre e de todos os dias.” “Esta obra está, pois, toda ela povoada pelo discurso analógico, no qual a metáfora assume uma preponderância evidente. O discurso metafórico confere ao texto uma beleza poética que transforma a sua leitura num exercício de fruição estética, a par da sua componente

pedagógica.”

“Cristopoética” é uma poética de Cristo, a mensagem de Cristo através de uma nova linguagem, mais próxima do século XXI e da contemporaneidade que nos habita dia-a-dia, para, de acordo com o sentido original da palavra “poiesis”, ser uma arte de “fazer” através da palavra.

Excerto da obra

O coração deste verme, do Verme de Deus, é o centro do ser, umbigo da personalidade, relíquia da ligação à placenta divina, buraco negro onde mergulhamos para o transcoração, órgão de carne e espírito. Chamam-lhe consciência profunda, transconsciência… É o lógos ou, melhor, o trânslogo (neol.), que somos nós, palavra de carne viva, espírito vivo, comunicação corporal, identidade em si, inacessível, santuário de Deus, pessoa em partilha, diálogo, emoção e inteligência. O coração é aquele diamante cristalino, transparente, a caverna mais abscôndita do nosso ser, o tesouro guardado por Deus, em nós, quando nos forjou no ventre da mãe; por

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ele se refractam, em uma, em duas, em três, em quatro, em cinco, em seis ou em sete cores, todas as luzes exteriores; a única luz que passa no coração sem qualquer perturbação vem de dentro, é a Luz de Deus. Motor do ser, em fluxo de sangue e irradiação espiritual, tecido de sentimentos e pensamentos, conselho dos íntimos sábios, mensageiros das sensações e suas sistematizações, o coração, único órgão interno que sentimos, rosto do metacoração (neol.), tem o peso de toda esta carne, a leveza de todo este espírito. Sentindo, pensando,

aconselhando-se junto dos mais velhos, embaixadores da tradição, vai o coração, shamir rígido, devorando o túnel da estultícia, alimentando-se de boas decisões, nunca se enganando, cada vez mais próximo do Verme de Deus — o coração do cosmo — na sua câmara divina. Um coração inteligente e sensitivo, justo e amoroso, só diz a verdade se tal for um acto de amor, só ama se tal for um acto verdadeiro, porque é uma tábua de pedra (Ex 24, 12; Jr 31, 33), transmutada em carne, onde o dedo do Coração divino escreve os mandamentos do amor e da verdade (Ex 31, 18; Pr 3, 3; 7, 2s), indeléveis, inapagáveis, palavras faladas ao ouvido do

coração vasto, largo (Dt 6, 6; 1Rs 3, 9; 5, 9), nem o pó da história as esconde, bastará o pano da memória profunda, dois ventrículos, duas aurículas, dois amores inseparáveis (Dt 6, 5; Mt 22, 37-39), o amplo Coração de Deus. Todo Ele é coração, amor, verdade, misericórdia,

inteligência, justiça, perdão, fonte abundante que nos dessedenta e terra árida que tem sede de nós. Ele quer encher o nosso coração, tornando-o um só coração com o coração daqueles que Ele aproxima de nós. Que somos nós, também, senão um verme em forma de coração, com olhos, boca, ouvidos, cabeça, garganta, mãos, pés, ventre e seios, desejosos de receber e dar amor? O coração é um motor eléctrico, movido a cargas e descargas eléctricas, altas e baixas, doces e amargas, oriundas das células nervosas, misteriosos radares da vida que fazem mover este verme na estrada da existência. Por isso, estamos aqui e agora de alma e coração — isso é sabedoria! —, no fundo, não temos coração, ele é que nos tem, foi-nos dado, somos responsáveis por ele, não o deixemos endurecer, para que possamos sempre ver e ouvir através dele (Mt 13, 15), sem a agressividade da palavra, mas com a mansidão do coração assertivo (Mt 11, 29; Jo 2, 15): quando o abismo do coração está pleno, até os lábios se calam. Não sejamos como Dalila, que, para invadir o coração de Sansão e esvaziar-lhe o segredo que partilhava apenas com Deus, teve de o molestar até à angústia de morte (Jz 16, 16); por mais que o matrimónio funda duas carnes, por mais abundante que seja a paixão, não deve cilindrar corações (Jz 16, 17), que pertencem exclusivamente a Deus. Porque o homem é um coração, a mulher são tantos corações quantas as células, regaço inesgotável, amor incontido, mãos sempre abertas. Vejamos o tesouro do Coração de Maria: guardava, ruminava, revivia em Si todos os acontecimentos — melífluos e acres — do seu Filho, era uma biblioteca cordial de pergaminhos vitais do Verme de Deus, Mãe sábia que tinha o Coração na suave língua, era como agradável espada de dois gumes… como aquela lança que abriu o Coração infinito do seu Filho, dele manou o sangue do amor e a água da verdade, porque colocou o Coração na obra que fez, deu-Se até à última gota (Jo 19, 34). Nós, vermes no Verme, coração no Coração divino-humano, moldamos a vida no coração, sem espectáculo, marketing, encriptamos no segredo interior os diálogos com o Pai, cuja verdade só Ele julga (Mt 6, 6), a renúncia a si mesmo, cujo sacrifício só Ele entende (Mt 6, 18), e a partilha com o próximo, que só o seu Coração valoriza e agradece devidamente (Mt 6, 4). É na câmara oculta do coração que são tecidas todas as raízes do amor. Este nosso coração é como um verme: inútil aos olhos do mundo, vermeja nos túneis do Coração de Deus, baloiçado pelas batidas da sua mão de Pai.”

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Índice

1, Sou verme, não homem. 2. A elementar solidão da verdade 3. A beleza de ser verme

4. No escondimento silencioso 5. A teoria do intercâmbio 6. O Senhor dos Dentes 7. Shamir, a lenda

8. Guardado para guardar 9. O culto que fissura corações 10. A montanha perfurada

11. Grão de centeio lançado à rocha 12. Sepulcros caiados

13. Esburacar impossibilidades 14. O Rei dos vermes

15. Raízes no Céu

16. Ázimos sobre a Mesa do Amor 17. Verme louco, ousado, sôfrego 18. Verme de mel

19. Verme rebelde, cheio de graça 20. Doce aroma de carmesim 21. Belo vinho

22. De verme a pomba 23. O amigo do melro

24. Espaço verminal no seio de Deus 25. Bailado da salvação

26. Ver Deus carne a carne 27. Iconema do corpo santo 28. Viver até ao tutano 29. Poderosa carne fraca 30. Débil matriz

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31. Cabeça de diamante 32. Arregalar o olhos 33. Escavaste-me ouvidos. 34. Bocarda insaciável 35. À porta da garganta 36. Mãos que sonham 37. Pé descalço

38. Ventre, sacrário de emoções 39. No vale dos peitos

40. Metacoração

41. Nunca ninguém se perdeu. 42. No sulco da memória divina 43. No brilho das rugas e das feridas 44. Memória do corpo

45. Para além das cinzas 46. Temperados no fogo divino 47. Economia do Êxodo

48. Rodopio do Pai Celeste 49. Êxodo ao ventre da mãe 50. Oásis na montanha 51. Reiniciar tudo 52. Na sarça do ferreiro 53. Vacina contra o desamor 54. Sou. Logo, existo. 55. A liturgia do silêncio

56. Saudade de um mundo novo 57. Misteriosa alquimia do amor 58. Pai, Pastor, Mestre

59. Assimetria da vida

60. Toda a ciência é revelação. 61. Corrigir o pH

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62. Ampulheta de sangue 63. Intensa bipolaridade 64. Na fábrica da madrepérola 65. Fugir das manchetes 66. O Sacramento da Erótica 67. Negrume espesso, tenebroso 68. O amor será o resto de mim. 69. Bêbedos de amor

70. O amor não tem medo. 71. Desamor primevo 72. O fim de um mundo 73. Descobre-te!

74. Unidos no silêncio da gruta 75. Transformados em bichos inúteis 76. O poder da bênção e da gratidão 77. Seja feita a nossa vontade! 78. Anjo e besta

79. Delicadeza de Deus 80. Buraco negro de amor 81. O nó único do amor 82. Justiça no amor 83. A pedra humana 84. Na sobriedade do ser 85. Dores de um leve parto 86. A cerveja da Sabedoria 87. Semear no pó

88. Mais poesia nos discursos 89. Trigo cósmico

90. Curar a vontade 91. O Rei que ouve 92. Belo horrível

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93. Espera, já volto!

94. A pirâmide de diamante 95. Estética do viver

Referências

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