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O estudo da mediação do tempo na Comunicação 1

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O estudo da mediação do tempo na Comunicação

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FORMENTÃO, Francismar UNICENTRO/PR

RESUMO

A comunicação é mediada pela linguagem e instaura a história, no estudo da mediação, a filosofia da linguagem apresentada por Mikhail Bakhtin contribui explicando o universo sígnico ideológico e o movimento de tempo-espaço, que articulam obrigatoriamente forma-conteúdo e processo. A linguagem materializa movimentos de relações sociais que acontecem em uma dinâmica fluída e de alteridades de sujeitos em devir histórico.

PALAVRAS-CHAVE: tempo-espaço; mediação, história; comunicação; filosofia da

linguagem.

O entendimento da realidade material nos vários campos da comunicação implica no reconhecimento da materialidade ideológica do signo e do papel fundamental da linguagem como movimento epistemológicos de estudo da mediação do tempo na comunicação, estudo e de exposição de dados sustentada nos parâmetros da filosofia da linguagem. A equivalência entre os signos e a ideologia em Bakhtin torna todos os fenômenos ideológicos um conjunto de signos, um universo em sua dupla materialidade – a física/material e a sócio/histórica. (BAKHTIN, 1995, p. 33). No signo existe uma perspectiva, um ponto de vista que o constituiu e o determina sócio-historicamente, e é na comunicação que os signos materializam sentidos.

O sujeito, no evento de ser, processo de devir existencial, se constitui como tal na cultura polifônica em tempo e espaço dinâmicos que entrelaçam passado e presente, compartilhados pelos demais sujeitos sociais. A cronotopia

designa um lugar coletivo, espécie de matriz espaço-temporal de onde as várias histórias se contam ou se escrevem. Está ligado aos gêneros e a sua trajetória. [...] Bakhtin mostra que à visão do sujeito individual e privado corresponde um tempo individualizado e desdobrado em múltiplas esferas: o tempo de cada um dos sujeitos, em função de suas múltiplas vivências (AMORIM. In: BRAIT, 2006, p. 105).

Espaço tempo estando relacionados com o momento histórico, contudo, são refrações do mundo real, compondo movimentos integrados que dão visibilidade às diferentes formas de narrar um mesmo acontecimento.

1 Trabalho apresentado no GT Historiografia da Mídia, componente do I Encontro Paraná/Santa

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O conceito/categoria de cronotopia, relacionado ao movimento dialético de espaço-tempo, tanto no objeto estético, quanto no artístico-literário, trata da “fusão dos indícios espaciais e temporais num todo compreensivo e concreto (...). Os índices do tempo transparecem no espaço, e o espaço reveste-se de sentido e é medido com o tempo. Esse cruzamento de séries e fusão de sinais caracterizam o cronotopo artístico”. (BAKHTIN, 1998, p. 211).

A categoria, ou o movimento de tempo-espaço denominada por Bakhtin como cronotopo

[...] é um termo adaptado da teoria da relatividade de Einstein para designar a relação de interdependência existente entre as categorias de tempo e espaço no romance. O tempo, ao se inscrever no espaço, torna-se não somente uma outra dimensão deste (o espaço), como também resgata o modo de ver o mundo de uma época e um autor. O cronotopo possibilita a leitura de tempo no próprio discurso. No romance, o cronotopo é centro organizador dos principais acontecimentos temáticos e o princípio determinante do gênero. (MACHADO, 1995, p. 309-310).

Essa relação tempo-espaço acontece em todas as relações dialógicas, ou seja, nas relações entre discursos constituídos nas alteridades dos sujeitos. O tempo dimensiona e organiza o discurso, é determinante do espaço, ambos interagem e revelam a natureza do discurso social ou artístico.

O acontecimento está formado no preenchimento do espaço como um todo em formação, e simultaneamente, com “a aptidão para ver o tempo, para ler o tempo no espaço” e não apenas como parte imutável de algo estabelecido, mas como parte fundamental nesta relação. “A aptidão para ler, em tudo – tanto na natureza quanto nos costumes e até nas suas idéias (nos seus conceitos abstratos) -, os indícios da marcha do tempo.” (BAKHTIN, 1997, p. 243). O movimento temporal aparece no ambiente, e principalmente na natureza, como nas estações do ano, nos indícios do clima, do sol e das estrelas. “Tudo isso está relacionado com os momentos que lhe correspondem na vida do homem (com seus costumes, sua atividade, seu trabalho) e que constituem o tempo cíclico”. (BAKHTIN, 1997, p. 243).

No campo do conhecimento surgem questionamentos sobre a relação existente entre a comunicação e a sociedade que a institui como campo existência social, pois, além de ser fundamental no processo de comunicação, é também um elemento importante do movimento histórico. Os estudos históricos encontram-se de certa forma eivados pelo presentismo reivindicado por Benedetto Croce (MASIP, 2001, p. 310), que

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estabelece para o estudo da história a concepção de um passado inacabado em permanente reconstrução.

Sobre as idéias de Croce, Adam Schaff esclarece que:

É esta visão radicalmente subjetivista da história que o presentismo subentende. Porque se tudo o que existe é um produto do espírito, os fatos históricos são-no igualmente. Não há passado objetivamente dado, há apenas fatos criados pelo espírito num presente extremamente variável. Toda história deve pois ser atual, visto que é o produto de um espírito cuja atividade se situa sempre no presente, e que cria a sua imagem histórica (fora da qual não existe história) sob a influência de interesses e de motivos atuais. (SCHAFF, 1986, p. 111).

Adam Schaff afirma que o conhecimento é um processo infinito de verdades parciais que a humanidade estabelece nas diversas fases de seu desenvolvimento histórico. (SCHAFF, 1986, p. 97).

A construção contínua do passado sempre se dá em um tempo presente para os historiadores e para os pesquisadores das diversas áreas do conhecimento: o sujeito que pesquisa os fatos ocorridos no passado e que estão todos submetidos a condicionantes históricas, está condicionado também, assim como ao conhecimento que a gerou. Trata-se do que Schaff preferiu chamar de “condicionamento social do conhecimento histórico”. Assim,

[...] evidencia-se como imprópria qualquer coincidência entre memória e História. A memória, como construção social, é formação de imagem necessária para os processos de constituição e reforço da identidade individual, coletiva e nacional. Não se confunde com a História, que é forma intelectual de conhecimento, operação cognitiva. A memória, ao invés, é operação ideológica, processo psíquico-social de representação de si próprio, que reorganiza simbolicamente o universo das pessoas, das coisas, imagens e relações, pelas legitimações que produz. A memória fornece quadros de orientação, de assimilação do novo, códigos para classificação e para intercâmbio social. Nessa perspectiva, o estudo da memória ganharia muito se fosse conduzido no domínio das representações sociais. [...] A História não deve ser o duplo científico da memória; o historiador não pode abandonar sua função crítica; a memória precisa ser tratada como objeto da História. (MENESES, p. 11, 1999).

Essas relações e movimentos assumem sua materialidade no signo ideológico, num processo de relação social, que é marcado por um horizonte social de uma época e de um grupo social definido. O signo é determinado pelas formas da interação social, e tem seu conteúdo também determinado por este meio. (BAKHTIN, 1995, p. 44-45).

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Nesse processo, a alteridade, o outro é de fundamental importância. A alteridade implica em interação entre o eu e o outro, em que ambos se incluem mutuamente, numa relação recíproca, se definindo na tríade eu-para-mim, outro-para-mim e eu-para-o outro, numa ação concreta. Essa ação se materializa no ato, no discurso, e requer uma compreensão responsiva e responsável de ordem ética e cognitiva (conhecimento), dos sujeitos em interação.

Jacques Revel (2009) cita o historiador britânico Quentin Skinner2 que critica o

olhar internalista de textos históricos, como se eles estivessem situados fora do tempo. Alem disso, Revel também discute a crítica “à ilusão de coerência e de continuidade que produzem as obras (...) (e de que a história da arte, a história da literatura ou a da filosofia frequentemente oferecem exemplo)”. (REVEL, 2009, p. 134). Pensando em comunicação como a mediação da linguagem no tempo, é importante destacar que estudos que fragmentam e conduzem sob a lógica desta coerência e desta continuidade também implicam no risco de situarem-se fora do tempo (história da imprensa, história da mídia, história da comunicação também oferecem de forma recorrente exemplos desta fragmentação), assim, destacar novamente o pensamento de se pensar conteúdo e forma da comunicação, em suas mais diversas perspectivas implica sempre em pensar no movimento de tempo e espaço.

Segundo Revel, Skinner julga necessário

[....] recolocar os enunciados em um contexto: não o contexto geralmente definido demais que “constituiria o quadro fundamental” para qualquer tentativa de compreensão, que determinaria, portanto, o que é dito, pensado, escrito e recebido no seio de uma dada sociedade, mas uma série de contextos que deve permitir especificar não somente os usos que são feitos das palavras e conceitos, mas também as “intenções” que foram as dos autores em situações histórias particulares e que é importante reconstituir. (...) Skinner propõe, portanto, é levar em conta a dimensão performativa de um enunciado, dos efeitos que ele pretende produzir dentro de um dado sistema de comunicação; é ao mesmo tempo, a reivindicação de uma abordagem propriamente histórica deste enunciado. Daí esta formulação lapidar, que foi vigorosamente discutida: “Simplesmente não existem questões eternas em filosofia: há apenas respostas individuais a questões individuais, como tantas respostas diferentes quanto haja questões, e tantas questões diferentes quanta haja interrogadores”. (REVEL, 2009, p. 134).

Nas relações sociais existe uma dinâmica fluída, dialógica que conduzem à 2 Skinner, Q. Meaning and understading in the magic. Londres: Penguin Books, 1971.

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produção do sentido. Em Bakhtin, essa produção do sentido não é absolutizada e nem relativizada axiológicamente, e sim, estabelecida como um processo aberto do vir-a-ser humano. Acontecimento que carrega a alteridade do homem como fator fundamental de um processo que, pela linguagem, dá ao signo sentido e existência ideológica. O homem – num entendimento que não se deixa levar por um reducionismo economicista – é um ser social imerso nesta dinâmica, pois

Para entrar na história é pouco nascer fisicamente: assim nasce o animal, mas ele não entra na história. É necessário algo como um segundo nascimento, um nascimento social. O homem não nasce como um organismo biológico abstrato, mas como fazendeiro ou camponês, burguês ou proletário: isto é o principal. [...] Só essa

localização social e histórica do homem o torna real e lhe determina o

conteúdo da criação da vida e da cultura (BAKHTIN, 2004, p. 11).

A comunicação situa-se como um espaço de produção de discursos que se instaura no dialogismo, que é “o princípio constitutivo da linguagem e a condição do sentido do discurso” (BARROS. In: FARACO et alii, 2001, p. 33). Como gênero, assume esferas e campos de circulação e significação que recriam em signos uma materialidade específica da realidade, uma mediação da mediação.

A comunicação é uma mediação da linguagem no tempo e no espaço, uma substancia da história e a constituição da sociedade em seu devir, assim a história deve ser observada fora do seu contexto unificado, fragmentado, e sim em um

[...] contexto que se poderia chamar de “folheado” visto que é feito de uma série de contextos diferentes e diferentemente organizados, o que é uma maneira de lembrar que os autores sociais do passado viviam, como é nosso caso, simultaneamente em vários mundos de significações e de ações. (REVEL, 2009, p. 136).

Pensar história em comunicação é um exercício obrigatório de consideração de contextos diversos, “folheados”, em quês sujeitos se organizam nas mais diversas esferas de criatividade ideológicas e mediam pela linguagem comunicações, constituindo em seu devir histórico, movimentos de tempo x espaço, em que o estudo da mediação do tempo também tem como caráter obrigatório observar estes processos como movimentos de conteúdo e formas condicionados por estes autores sociais que vivem simultaneamente em vários mundos de produção de sentido e com horizontes axiológicos diversos em consonância de tempos.

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AMORIM, Marília. Cronotopo e exotopia. In: BRAIT, Beth (Org.) Bakhtin: outros conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2006

BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: contexto de François Rebelais. São Paulo: Hucitec. 1987.

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BARROS, Diana Luz Pessoa de. Contribuições de Bakhtin às teorias do texto e do discurso. In: FARACO, Carlos Alberto et alii. Diálogos com Bakhtin. Curitiba: Editora da UFPR, 2001.

BOTTOMORE, Tom. Dicionário do pensamento marxista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1988.

MACHADO, Irene A. O romance e a voz - a prosaica dialógica de Mikhail Bakhtin. Rio de Janeiro, São Paulo: Imago - FAPESP, 1995.

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manuscritos econômico-filosóficos. São Paulo: Martin Claret, 2004.

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MASIP, Vicente. História da filosofia ocidental. São Paulo: EPU, 2001.

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Referências

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