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Os efeitos jurídicos das decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal em sede de repercussão geral: uma visão a partir da mutação constitucional.

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KATIA XAVIER SESTREM SIMÕES PIRES

OS EFEITOS JURÍDICOS DAS DECISÕES PROFERIDAS

PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL EM SEDE DE REPERCUSSÃO GERAL: UMA VISÃO A PARTIR DA MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL

Palhoça 2017

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KATIA XAVIER SESTREM SIMÕES PIRES

OS EFEITOS JURÍDICOS DAS DECISÕES PROFERIDAS

PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL EM SEDE DE REPERCUSSÃO GERAL: UMA VISÃO A PARTIR DA MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Jeferson Puel, MSc.

Palhoça 2017

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KATIA XAVIER SESTREM SIMÕES PIRES

OS EFEITOS JURÍDICOS DAS DECISÕES PROFERIDAS

PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL EM SEDE DE REPERCUSSÃO GERAL – UMA VISÃO A PARTIR DA MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de bacharel em Direito e aprovado em sua forma final pelo Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Palhoça, 19 de junho de 2017.

_________________________________________ Prof. e orientador Jeferson Puel, MSc. Universidade do Sul de Santa Catarina

_________________________________________ Profa. Sâmia M. Fortunato, Esp.

Universidade do Sul de Santa Catarina

_________________________________________ Profa. Andreia Catine Cosme, MSc.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

OS EFEITOS JURÍDICOS DAS DECISÕES PROFERIDAS

PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL EM SEDE DE REPERCUSSÃO GERAL: UMA VISÃO A PARTIR DA MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico e referencial conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Sul de Santa Catarina, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de todo e qualquer reflexo acerca desta monografia.

Estou ciente de que poderei responder administrativa, civil e criminalmente em caso de plágio comprovado do trabalho monográfico.

Palhoça, 19 de junho de 2017.

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Dedico este trabalho ao meu marido e companheiro de todas as horas, Pedro, e ao nosso filho Henrique, pelo amor que nos une.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter me dado saúde, força e sabedoria para conduzir meus estudos, e permitir a concretização deste sonho.

A esta universidade, seu corpo docente, direção e administração, pela oportunidade de fazer o curso.

Ao meu orientador, Professor Jeferson Puel, pela orientação segura na elaboração do TCC.

A todos os meus professores pelos ensinamentos e experiências transmitidos. Ao meu sogro, Paulo Augusto Simões Pires (in memoriam), advogado e professor de Direito, pelo grande incentivo para que eu fizesse este Curso.

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RESUMO

A monografia tem por objetivo o estudo dos efeitos jurídicos das decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal em sede de repercussão geral, uma visão a partir da mutação constitucional. Construída a partir do método de abordagem dedutivo, da pesquisa bibliográfica qualitativa e da pesquisa documental. Aponta os aspectos que envolvem o sistema recursal no Brasil e os meios de acesso à Jurisdição Constitucional, assim como o conceito de recurso e os efeitos recursais, princípios recursais, pressupostos recursais, recursos protelatórios e os recursos extremos. Apresenta a evolução histórica dos recursos extremos, os conceitos e as características do Recurso Especial e do Extraordinário: pressupostos de admissibilidade, cabimento, e seus efeitos, o recurso especial repetitivo e o recurso extraordinário repetitivo. Por fim, é realizada uma abordagem dos efeitos jurídicos das decisões do STF e do controle incidental de constitucionalidade. Como resultado para presente monografia tem-se que, considerando a premissa da segurança jurídica nas decisões do STF e os limites à interpretação do texto constitucional, quando houver conflito entre a transcendência da coisa julgada e o efeito vinculante, prevalecerá, por meio da técnica da ponderação de princípios e/ou direitos, os efeitos jurídicos das decisões do Supremo Tribunal Federal.

Palavras-chave: Jurisdição Constitucional. Supremo Tribunal Federal. Repercussão Geral. Mutação Constitucional. Segurança Jurídica.

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LISTA DE SIGLAS

CLT – Consolidação das Leis do Trabalho CPC – Código de Processo Civil

CPC- Código Processo Civil

CRFB – Constituição da República Federativa do Brasil STF – Supremo Tribunal Federal

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 10

2 SISTEMA RECURSAL NO BRASIL ... 12

2.1 CONCEITO DE RECURSO ... 13

2.2 PRINCÍPIOS RECURSAIS ... 14

2.2.1 Duplo Grau de Jurisdição ... 16

2.2.2 Taxatividade ... 18

2.2.3 Proibição da reformatio in pejus ... 18

2.2.4 Fungibilidade ... 19 2.3 EFEITOS RECURSAIS ... 21 2.3.1 Devolutivo ... 21 2.3.2 Suspensivo ... 22 2.4 PRESSUPOSTOS RECURSAIS ... 23 2.4.1 Objetivos ... 24 2.4.2 Subjetivos ... 25 2.5 RECURSOS PROTELATÓRIOS ... 26 3 RECURSOS EXTREMOS ... 28 3.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA ... 28 3.2 CONCEITO ... 31 3.3 RECURSO ESPECIAL ... 33 3.3.1 Pressupostos de Admissibilidade ... 34 3.3.2 Efeitos ... 35

3.3.3 Recurso especial repetitivo ... 37

3.4 RECURSO EXTRAORDINÁRIO ... 40

3.4.1 Cabimento ... 40

3.4.2 Efeitos ... 44

3.4.3 Recurso Extraordinário repetitivo ... 45

4 EFEITOS JURÍDICOS DAS DECISÕES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL EM SEDE DE REPERCUSSÃO GERAL A PARTIR DA MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL ... 48

4.1 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE . 49 4.1.1 O controle incidental na Constituição da República Federativa do Brasil ... 50

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4.2 MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL ... 54

4.2.1 Conceito ... 55

4.2.2 Limites à interpretação do texto constitucional ... 57

4.2.3 Segurança jurídica nas decisões do STF ... 59

4.3 EFICÁCIA DAS DECISÕES DO JULGAMENTO DO STF ... 61

4.3.1 A transcendência da coisa julgada ... 62

4.3.2 O efeito vinculante ... 64

4.3.3 Reclamação ... 66

4.4 EFEITOS JURÍDICOS DAS DECISÕES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL EM SEDE DE REPERCUSSÃO GERAL E A MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL ... 68

4.5 DECISÕES JUDICIAIS A RESPEITO DO TEMA ... 74

4.5.1 Recurso Extraordinário n. 778889/ PE ... 74

4.5.2 Recurso Extraordinário n. 589998/ PI ... 77

5 CONCLUSÃO ... 79

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1 INTRODUÇÃO

A presente monografia pretende, com fundamento na legislação, doutrina e jurisprudência, demonstrar a eficácia das decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal em sede de Repercussão Geral, uma visão a partir da mutação constitucional. O trabalho se desenvolveu reunindo informações relevantes, de acordo com o Código de Processo Civil (CPC) de 2015.

A razão que levou à realização deste trabalho, relacionado ao tema da Repercussão Geral, instiga a pesquisadora, pois é condição para a admissibilidade à interposição de Recurso Extraordinário no Supremo Tribunal Federal. Apurou-se pela necessidade de localizar publicações com conteúdo atualizado de acordo com o novo CPC, vigente a partir de 17 de março de 2016.

A relevância da presente monografia consiste na percepção das constantes transformações da sociedade contemporânea. Os valores da sociedade também evoluem trazendo a mudança de paradigmas. Neste contexto, busca-se compreender os efeitos jurídicos das decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e os seus impactos no mundo jurídico.

O problema da pesquisa abarca o estudo sobre a atuação do STF e o controle incidental na Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB): existe eficácia das decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal em sede de Repercussão Geral, considerando a mutação constitucional?

A pesquisa orienta-se pelo objetivo principal que consiste em demonstrar a eficácia das decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal em sede de Repercussão Geral, em razão da mutação constitucional. Seguido dos objetivos específicos: apontar o sistema recursal no Brasil desde o conceito de recurso até a sua utilização de maneira protelatória; verificar os recursos extremos e suas particularidades; demonstrar a eficácia do controle de constitucionalidade e os efeitos que envolvem as decisões constitucionais, no plano subjetivo, para além dos limites da coisa julgada.

Para alcançar os objetivos propostos, aplicou-se o método de abordagem dedutivo, utilizando-se, basicamente, a técnica de pesquisa bibliográfica qualitativa, respaldada pela doutrina, assim como a pesquisa documental, alicerçada na legislação e na jurisprudência.

Para explanar as questões apresentadas, este trabalho monográfico estrutura-se em 5 (cinco) capítulos, sendo o primeiro a presente introdução, seguida de 3 (três) teóricos, finalizando-se com a conclusão.

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O capítulo 2 (dois) trata do Sistema Recursal no Brasil, desde conceito de recurso, princípios recursais e efeitos recursais, como também os pressupostos recursais e os recursos protelatórios.

O capítulo 3 (três) expõe os recursos extremos: sua evolução histórica, conceito, recurso especial: pressupostos de admissibilidade, efeitos e recurso especial repetitivo; recurso extraordinário: cabimento, efeitos, e recurso extraordinário repetitivo.

O capítulo 4 (quatro) traz à baila os efeitos jurídicos das decisões do Supremo Tribunal Federal em sede de Repercussão Geral a partir da mutação constitucional, bem como o STF e o controle de constitucionalidade: o controle incidental na Constituição de 1988 e os meios de acesso à Jurisdição Constitucional; Mutação Constitucional: conceito, limites à interpretação do texto constitucional e segurança jurídica nas decisões do STF; eficácia das decisões do julgamento do STF: a transcendência da coisa julgada, o efeito vinculante e reclamação. São apresentadas decisões judiciais a respeito do tema, para dar embasamento aos estudos realizados.

Por fim, encerra-se com a conclusão, que objetiva enfatizar os pontos de relevância esclarecedores a respeito do referencial teórico explorado ao longo da pesquisa. Dada a importância do princípio da segurança jurídica, o presente trabalho monográfico elucida os aspectos que envolvem os limites à interpretação do texto constitucional, quando houver conflito entre a transcendência da coisa julgada e o efeito vinculante das decisões do julgamento do STF, dos quais a garantia constitucional é basilar à exigibilidade de direito e à paz social.

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2 SISTEMA RECURSAL NO BRASIL

O presente capítulo demonstra os pontos significativos em relação à importância do Sistema Recursal no Brasil por meio do ordenamento jurídico processual brasileiro. Visa destacar os elementos constitutivos do direito de recurso, essenciais à obtenção da tutela jurisdicional efetiva. Apresenta o conceito de recurso e os princípios fundamentais dos recursos, bem como os efeitos dos recursos e os pressupostos recursais, indispensáveis à obtenção da tutela jurisdicional adequada ao processo, como também os recursos protelatórios, relaciona os referidos temas aos princípios e às normas fundamentais que o próprio Estado disponibiliza ao jurisdicionado com possibilidade de impugnar decisão estatal, por conta de seu inconformismo.

Os direitos fundamentais processuais integram a prerrogativa ao processo justo, assegura o artigo 5º, incisos XXXV e LIV, da Constituição da República Federativa do Brasil, conforme segue:

Art. 5º [...]

XXXV. A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito. LIV. Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.1

O Código de Processo Civil de 2015 explicita, no seu artigo 1º, que o processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na CRFB.2 A tutela dos direitos na esfera jurisdicional deve ser concebida tanto no que diz respeito

à proteção do direito material como do direito processual, afirmam Marinoni, Arenhart e Mitidiero, “[...] tendo em vista os vários interesses que convergem na solução da controvérsia e na prestação de uma tutela jurisdicional adequada, efetiva e tempestiva”.3

O estudo dos recursos leva a compreensão do conjunto de regras processuais, bem como dos instrumentos processuais adequados à tutela da prerrogativa almejada. O direito ao processo justo deve ser interpretado a partir da Constituição da República Federativa do Brasil, tanto em relação à decisão judicial como em relação à espécie de recurso a ser interposto.

1 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 30 mar. 2017.

2 BRASIL. Lei Nº 13.105, de 16 de março de 20l5. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência da República. Casa Civil, 2015. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 20 mar. 2017.

3 MARINONI, L. G.; ARENHART, S. C.; MITIDIERO, D. Novo curso de processo civil: tutela dos direitos mediante procedimento comum. 2. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. v. 2. p. 44.

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2.1 CONCEITO DE RECURSO

O significado de recurso vem do latim recursus, possui o vocábulo um sentido amplo e um sentido estrito, na terminologia jurídica. Em sentido amplo, recurso é todo remédio, ação ou medida ou todo socorro, indicados por lei, para que se proteja ou se defenda o direito ameaçado ou violentado. É a proteção legal assegurada para garantia e integridade dos direitos. Em sentido restrito, recurso é a provocação a novo exame dos autos para emenda ou modificação de sentença.4

Compreende-se o recurso no sentido amplo como um instrumento jurídico processual previsto em lei que serve para a defesa de um direito ameaçado ou violado. No sentido estrito, recurso é o instrumento jurídico processual direcionado contra uma decisão judicial, utilizado pela parte insatisfeita que pretende o reexame da decisão por um órgão jurisdicional hierarquicamente superior. Há casos em que o recurso é dirigido ao mesmo órgão julgador numa relação jurídica processual já existente.

Humberto Theodoro Júnior ensina que recurso em direito processual tem acepção técnica e restrita, podendo ser definido como o “meio ou remédio impugnativo apto para provocar, dentro da relação processual ainda em curso, o reexame de decisão judicial, pela mesma autoridade judiciária, ou por outra hierarquicamente superior”5, com objetivo de reforma, invalidação, esclarecimento ou integração. No sistema jurídico brasileiro, o recurso caracteriza-se pela sua inserção na própria relação jurídica processual em que o direito de ação está sendo exercido.6

Para José Carlos Barbosa Moreira, concebe-se que as decisões judiciais em geral sejam objeto de impugnação “no todo ou em parte”. Conforme a extensão da matéria impugnada, o recurso pode ser total ou parcial. Deve considerar-se total o recurso que abrange todo o conteúdo impugnável da decisão recorrida. Classifica-se como parcial o recurso que, em virtude de limitação voluntária, não compreenda a totalidade do conteúdo impugnável da decisão. Como exemplo, aquele autor que requer vários pedidos e todos são julgados

4 SILVA, De Plácido E. Vocabulário jurídico. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1973. p. 1312.

5 AMARAL SANTOS, 1973 apud THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: execução forçada, processo nos tribunais, recursos e direito intertemporal. 48. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2016. v. 3. p. 939.

6 Nas palavras de Theodoro Júnior, “não é o recurso o único instrumento utilizável para atacar a decisão judicial. Além do recurso existem ações autônomas de impugnação. No sistema jurídico brasileiro, o que caracteriza o recurso é a sua inserção na própria relação jurídica processual onde o direito de ação está sendo exercido, enquanto as ações de impugnação, como a rescisória o mandado de segurança, os embargos de terceiro etc., representam a instauração de uma nova relação jurídica processual”. AMARAL SANTOS, 1973 apud

THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: execução forçada, processo nos tribunais, recursos e direito intertemporal. 48. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2016. v. 3. p. 940.

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improcedentes no primeiro grau de jurisdição, se interpõe apelação somente de parte da sentença referente a um ou a alguns dos pedidos. De outro modo, se o recorrente não especifica a parte em que impugna a decisão, entender-se-á́ que o recurso é total.7

Num sentido mais restrito, segundo Didier Jr. e Cunha, “[...] recurso é o meio ou instrumento destinado a provocar o reexame de decisão judicial, no mesmo processo em que proferida, com a finalidade de obter-lhe a invalidação, a reforma, o esclarecimento ou a integração”8. Apontam que é preciso fazer algumas anotações a esse conceito: i) depende do exame de um dado ordenamento jurídico; ii) o recurso prolonga o estado de litispendência, não instaura processo novo; iii) o recurso é modalidade ou extensão do próprio direito de ação exercido no processo. O direito de recorrer é conteúdo do direito de ação, e o seu exercício manifesta-se como expressão do direito de acesso aos tribunais.9

O artigo 996 do Código de Processo Civil estabelece que o “recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo Ministério Público, como parte ou como fiscal da ordem jurídica”.10

Assim, compreende-se que o recurso corresponde a uma manifestação de insatisfação a decisão judicial, trata-se de um mecanismo jurídico de utilização voluntária, hábil para provocar o reexame da decisão proferida pelo órgão julgador, numa relação jurídica processual ainda em curso no sistema judiciário. Destina-se àquele que pretende recorrer da decisão judicial com a finalidade de obter-lhe a sua invalidação, reforma, esclarecimento, ou a integração do seu direito. O direito de recorrer acompanha o direito de ação, àqueles que têm legitimidade para o seu exercício na ordem jurídica, apresenta-se como o direito de acesso aos tribunais.

2.2 PRINCÍPIOS RECURSAIS

Princípios são os fundamentos que regem a interpretação e aplicação do direito, normalmente são associados aos elementos que outorgam coerência às regras. Para a doutrina

7 BARBOSA MOREIRA, José Carlos. O novo processo civil brasileiro: exposição sistemática do procedimento. 29. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2012. p. 114. Disponível em:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309-4385-1/cfi/5!/4/4@0.00:60.8>. Acesso em: 31 mar. 2017. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

8 DIDIER JÚNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processos nos tribunais. 14. ed. rev. ampl. e atual. Salvador: JusPodivm, 2017. v. 3. p. 107.

9 DIDIER JÚNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processos nos tribunais. 14. ed. rev. ampl. e atual. Salvador: JusPodivm, 2017. v. 3. p. 108.

10 BRASIL. Lei Nº 13.105, de 16 de março de 20l5. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência da República. Casa Civil, 2015. Disponível em:

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os princípios são como garantia de sistematicidade do direito. Os princípios recursais caracterizam-se como regras ou postulados normativos aplicáveis no direito processual.11 Segundo Canotilho, os princípios na sua qualidade de verdadeiras normas, qualitativamente distintas das outras categorias de normas ou regras jurídicas, traduzem-se fundamentalmente nos seguintes aspectos:

Os princípios são normas jurídicas impositivas de uma optimização, compatíveis com vários graus de concretização, consoante com os condicionalismos fácticos e jurídicos; as regras são normas que prescrevem imperativamente uma exigência (impõem, permitem ou proíbem) que é ou não é cumprida (nos termos de Dworkin:

applicable in all-or-nothing fashion); a convivência de princípios é conflitual

(Zagrebelsky), a convivência de regras é antinómica; os princípios coexistem, as regras antinómicas excluem-se. Consequentemente, os princípios, ao constituírem exigências de optimização, permitem o balanceamento de valores e interesses (não obedecem, como as regras, à “lógica do tudo ou nada”), consoante o seu peso e a ponderação de outros princípios eventualmente conflitantes; as regras não deixam espaço para qualquer outra solução, pois se uma regra vale (tem validade) deve cumprir na exacta medida das suas prescrições, nem mais nem menos.12

Em virtude de uma verdadeira constitucionalização do processo civil, há vários princípios relacionados aos recursos contidos no art. 5.º da CRFB, que disciplina os direitos e as garantias fundamentais, qualificam-se como cláusulas pétreas, não se admitindo a sua supressão sequer por emenda constitucional, por imposição do inciso IV, § 4.º, do art. 60, da CRFB.13 Os princípios recursais são parte do processo civil, são regidos pelos mesmos princípios que regem o processo como um todo, afirmam Marinoni, Arenhart e Mitidiero que é fácil percebê-los, e exemplificam.

O direito ao contraditório (arts. 5º, LV, da CRFB, e 7º, 9º e 10) e o dever de fundamentação analítica das decisões judiciais (art. 10, 11 e 489, §§ 1º e 2º [CPC]) obviamente se aplicam integralmente ao direito recursal. O mesmo vale para o dever de colaboração judicial (art. 6º [CPC]): não por acaso, vários dispositivos do novo Código referem o dever de o órgão recursal primeiro prevenir a parte a respeito de problemas formais com o recurso, viabilizando a sanação de eventual vício, para tão somente depois declará-lo, em sendo o caso, inadmissível (art. 932, parágrafo único, do CPC).14

11 BARBERIS, 2011 apud MARINONI, L. G.; ARENHART, S.; MITIDIERO, D. Novo curso de processo civil: tutela dos direitos mediante procedimento comum. 2. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. v. 2. p. 517.

12 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 3. ed. Coimbra: Livraria Almedina, 1999. p. 1087.

13 MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil. 12. ed. reform. e atual. São Paulo: Atlas, 2016. Disponível em:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597006513/cfi/6/58!/4/104/2/2@0:0>. Acesso em: 03 abr. 2017. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

14 MARINONI, L. G.; ARENHART, S. C.; MITIDIERO, D. Novo curso de processo civil: tutela dos direitos mediante procedimento comum. 2. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. v. 2. p. 517-518.

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Assim, os princípios recursais, como o duplo grau de jurisdição, taxatividade, proibição da reformatio in pejus15 e fungibilidade, são específicos do direito recursal, conforme segue.

2.2.1 Duplo Grau de Jurisdição

A Constituição da República Federativa do Brasil disciplina o Poder Judiciário com uma organização hierarquizada, e tem nela inserido o princípio do duplo grau de jurisdição, que consiste na possibilidade do reexame de decisão judicial por um grau superior de jurisdição, o chamado juízo ad quem, sob o amparo do artigo 5º, inciso LV, da CRFB16.

O duplo grau de jurisdição decorre imediatamente da garantia do contraditório. Afirma Theodoro Júnior, que além de seus aspectos tradicionais, significa, sem dúvida, o direito de fiscalizar, controlar e criticar a decisão judicial. Explicita que, com a sujeição da matéria decidida sucessivamente a dois julgamentos, procura-se prevenir da falibilidade do ser humano, “não é razoável supor que o juiz seja imune de falhas no seu mister de julgar”, como também é da natureza humana o inconformismo.17

Nesse sentido, a regra do duplo grau de jurisdição permite que se questione o ato judicial quanto à sua fundamentação, conforme previsto no artigo 93, IX, da CRFB, e artigo 11, do CPC. Compreende-se que o julgamento em instância única deixaria intacta a sentença afrontosa ao contraditório e a ampla defesa, assim, a regra permite o acesso da parte prejudicada ao tribunal para demonstrar a ilegalidade do julgado abusivo pronunciado no primeiro grau de jurisdição.

Segundo Barbosa Moreira, o duplo grau de jurisdição tem o propósito de assegurar, na medida do possível, a justiça das decisões. Afirma que em regra, não fica circunscrita a um

15 O termo reformatio in pejus é frase latina de uso forense, que significa “reforma para pior. Diz-se da sentença recorrida e reformada”.

CARLETTI, Amilcare. Dicionário de latim forense. 10. ed. rev. São Paulo: Liv. e Ed. Universitária de Direito, 2011. p. 251.

16 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 30 mar. 2017.

17 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: execução forçada, processo nos tribunais, recursos e direito intertemporal. 48. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2016. v. 3. p. 954-955.

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único pronunciamento a apreciação, pelo organismo investido da função jurisdicional, da matéria que lhe compete julgar. Permite a lei a realização de dois ou mais exames sucessivos.18

Assim, o sistema recursal confere à parte o direito de provocar outra avaliação do seu alegado direito, em regra perante órgão jurisdicional diferente, qualquer que seja a posição hierárquica do órgão jurisdicional no qual teve início o processo. Didier Jr. e Cunha afirmam que o princípio do duplo grau de jurisdição pressupõe dois órgãos jurisdicionários diversos, postos em posição de hierarquia, sendo um inferior e outro superior. A decisão proferida pelo órgão de grau inferior é revista pela decisão proferida pelo órgão de grau hierárquico superior, a segunda decisão não é necessariamente melhor que a primeira. 19

Existem exceções na lei processual. Marinoni, Arenhart e Mitidiero argumentam que algumas decisões, proferidas em determinadas ações, apenas contemplam excepcionalmente a possibilidade recursal, diante da existência de algum pressuposto específico, como na hipótese de decisões proferidas em ação de competência originária do Supremo Tribunal Federal, conforme prevê o art. 102, I, da CRFB. Assim, proferida a decisão dessa Corte, somente em casos excepcionalíssimos caberá recurso dirigido ao próprio tribunal.20

Sobre as causas de competência originária dos tribunais, Theodoro Júnior explicita.

Dada a composição coletiva dos órgãos julgadores que reúnem juristas de alto saber e experiência, considera-se dispensável, na espécie, a garantia da dualidade de instâncias. A decisão, nesses casos, é fruto da concorrência de votos de diversos juízes, de modo que cada um revê o voto daquele ou daqueles que o precederam. De outra maneira, portanto, resta assegurada às partes o juízo múltiplo de suas pretensões, o que, afinal, cumpre similar à do duplo grau de jurisdição entre o juiz de primeiro grau e o tribunal.21

Ressalta-se que a maioria das demandas começa o seu trâmite no primeiro grau de jurisdição, sendo que há os que se iniciam em grau hierarquicamente superior, são os processos de competência originária dos tribunais. As instâncias ordinárias referem-se a processos em

18BARBOSA MOREIRA, José Carlos. O novo processo civil brasileiro: exposição sistemática do procedimento. 29. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2012. Disponível em:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309-4385-1/cfi/5!/4/4@0.00:60.8>. Acesso em: 31 mar. 2017. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

19 DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de direito processual civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processos nos tribunais. 14. ed. rev. ampl. e atual. Salvador: JusPodivm, 2017. v. 3. p.111-112.

20 MARINONI, L. G.; ARENHART, S. C.; MITIDIERO, D. Novo curso de processo civil: tutela dos direitos mediante procedimento comum. 2. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. v. 2. p. 518-519.

21 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: teoria geral do direito processual civil, processo de conhecimento e procedimento comum. 56. ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2015. v. 1. p. 59.

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primeiro grau e em segundo grau de jurisdição. As instâncias superiores referem-se ao Superior Tribunal de Justiça e ao Supremo Tribunal Federal, temática que será explanada no próximo capítulo.

2.2.2 Taxatividade

Os recursos devem estar previstos expressamente em lei, compete à União legislar privativamente sobre direito processual, conforme determina o artigo 22, inciso I, da Constituição da República Federativa do Brasil22. O texto constitucional ordena que somente lei federal pode criar recursos judiciais.

O princípio da taxatividade orienta que “somente são recursos os expressamente relacionados pela lei, numa previsão fechada, ou seja, em numerus clausus23, não podendo a parte interpor recurso que não se encontre previsto na norma”.24 Desse modo, os recursos são enumerados taxativamente em lei, seja no Código de Processo Civil, na Consolidação das Leis do Trabalho, como na legislação extravagante. É vedada a criação de recursos por outros meios que não seja lei federal.

Assim, o princípio da taxatividade consiste na exigência de que os recursos judiciais sejam enumerados taxativamente em lei federal, ou seja, é vedada a criação de recursos por outros meios que não seja por lei federal, assim evita-se qualquer espécie de subjetividade na ordem jurisdicional.

2.2.3 Proibição da reformatio in pejus

O princípio da proibição da reformatio in pejus revela a preocupação com a segurança jurídica dos pronunciamentos judiciais, possui relação com outro princípio muito

22 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 30 mar. 2017.

23 O termo numerus clausus, do latim, significa número fechado,“locução empregada para exprimir que a enunciação é enumerativa, não exemplificativa, e por isso não admite acréscimo”.

SIDOU, J. M. Othon et al. Dicionário jurídico: academia brasileira de letras jurídicas. 11. ed., rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2016. Disponível em:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530973056/cfi/6/52!/4/504/2/2@0:0>. Acesso em: 17 abr. 2017. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

24 MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil. 12. ed. reform. e atual. São Paulo: Atlas, 2016. Disponível em:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597006513/cfi/6/58!/4/104/2/2@0:0>. Acesso em: 03.04.2017. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

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importante para o processo civil, como o da adstrição ou da correlação, disciplinado pelos arts. 141 e 492 do CPC. O juiz deve ater-se ao pedido formulado pelas partes.25

Art. 141. O juiz decidirá o mérito nos limites propostos pelas partes, sendo-lhe vedado conhecer de questões não suscitadas a cujo respeito a lei exige iniciativa da parte. Art. 492. É vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem como condenar a parte em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado. Parágrafo único. A decisão deve ser certa, ainda que resolva relação jurídica condicional. (BRASIL, 2015).26

Não se admite que o julgamento recursal venha a piorar a situação do recorrente, afirma Theodoro Júnior. Adverte que há questões de ordem pública, como as condições da ação, os pressupostos processuais, a intangibilidade da coisa julgada, a decadência etc., que devem ser conhecidas de ofício, em qualquer fase do processo e em qualquer grau de jurisdição. Nessas hipóteses, com ou sem a provocação da parte, o juiz ou o tribunal têm o dever de ofício de resolver, sem antes cumprir o contraditório assegurado aos litigantes como direito fundamental, conforme estabelece o artigo 5º, inciso LV, da CRFB.27

Por outro lado, ocorre a reformatio in pejus quando “o órgão ad quem, no julgamento de um recurso, profere decisão mais desfavorável ao recorrente sob o ponto de vista prático, do que aquela contra a qual se interpôs o recurso”28. Essa prática é vedada no sistema processual brasileiro, quando uma só parte recorre. Na hipótese de ambas as partes recorrerem da decisão, não há a aplicação da proibição da reformatio in pejus, pois o julgamento pelo juízo ad quem pode melhorar a situação jurídica de uma parte em prejuízo da outra, considerando as razões apresentadas.

2.2.4 Fungibilidade

O princípio da fungibilidade recursal permite a conversão de um recurso em outro no caso de equívoco da parte, desde que não haja erro grosseiro ou não tenha precluído o prazo

25 MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil. 12. ed. reform. e atual. São Paulo: Atlas, 2016. Disponível em:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597006513/cfi/6/4!/4/2/4@0:44.5>. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

26 BRASIL. Lei Nº 13.105, de 16 de março de 20l5. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência da República. Casa Civil, 2015. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 30 mar. 2017.

27 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: execução forçada, processo nos tribunais, recursos e direito intertemporal. 48. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2016. v. 3. p. 965. 28 BARBOSA MOREIRA, 1998 apud THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: execução forçada, processo nos tribunais, recursos e direito intertemporal. 48. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2016. v. 3. p. 965.

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para a interposição do recurso. A sua aplicação decorre dos princípios da boa-fé processual, da primazia da decisão de mérito e da instrumentalidade das formas. Significa que deve aceitar-se um recurso pelo outro sempre que não houver comportamento contrário à boa-fé objetiva.29

A instrumentalidade das formas é premissa básica para a aplicação da fungibilidade na matéria recursal. Montenegro Filho explicita, “[...] jamais se aconselha que a forma sacrifique o direito do jurisdicionado”30. Para a aplicação do princípio na matéria recursal, a parte deve preencher dois requisitos cumulativos, isto é, interpor o recurso equivocado no prazo do recurso correto e demonstrar a não ocorrência do erro grosseiro, evidenciando a presença da denominada dúvida objetiva.31

A regra da fungibilidade amolda-se para não prejudicar a parte que, diante de “dúvida séria, derivada da existência de discussões jurisprudenciais e doutrinárias” a respeito do cabimento de determinado recurso”, interpõe recurso que pode não ser considerado cabível.32 Marinoni, Arenhart e Mitidiero ponderam que, a fungibilidade não se destina a legitimar o equívoco crasso ou para chancelar o profissional inábil, serve para aproveitar o ato que diante de circunstâncias do caso concreto, decorreu de dúvida séria, oriunda da jurisprudência a respeito de determinado caso. Importante observar que não é qualquer dúvida que autoriza a aplicação da regra da fungibilidade.33

A adoção de um recurso pelo outro, quando preservados os requisitos de conteúdo daquele que seria o correto, e não constatada a má fé nem o erro grosseiro, resolve-se em erro de forma. A partir das citações doutrinárias referidas, compreende-se que o princípio da fungibilidade recursal prestigia o princípio da boa-fé processual de modo a preservar o instrumento processual equivocado e aproveitá-lo às razões que o fundamentam, sendo necessário que o erro não seja grosseiro e o recurso deve ser tempestivo.

29 DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de direito processual civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processos nos tribunais. 14. ed. rev. ampl. e atual. Salvador: JusPodivm, 2017. v. 3. p. 130.

30 TUCCI, 2002 apud MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil. 12. ed. reform. e atual. São Paulo: Atlas, 2016. p. 630. Disponível em:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597006513/cfi/6/4!/4/2/4@0:44.5>. Acesso em: 10 jun. 2017. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

31 MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil. 12. ed. reform. e atual. São Paulo: Atlas, 201. p. 630. Disponível em:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597006513/cfi/6/58!/4/104/2/2@0:0>. Acesso em: 03 abr. 2017. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

32 VASCONCELOS, 2007 apud MARINONI, L. G.; ARENHART, S. C.; MITIDIERO, D. Novo curso de processo civil: tutela dos direitos mediante procedimento comum. 2. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. v. 2. p. 521.

33 MARINONI, L. G.; ARENHART, S. C.; MITIDIERO, D. Novo curso de processo civil: tutela dos direitos mediante procedimento comum. 2. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. v. 2. p. 522.

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2.3 EFEITOS RECURSAIS

A interposição de recurso no processo judicial impede o trânsito em julgado da decisão. Segundo Barbosa Moreira, o efeito comum e constante de todos os recursos, desde que admissíveis, é o de obstar, uma vez interpostos, ao trânsito em julgado da decisão. No direito brasileiro, a coisa julgada jamais se constitui enquanto a decisão comporte algum recurso seja qual for.34

Com a admissibilidade do recurso pela instância superior, prolonga-se o estado de litispendência entre as partes. O recurso possui dois efeitos principais, um é o efeito devolutivo, ao passo que o outro é o suspensivo.

2.3.1 Devolutivo

O efeito devolutivo é comum a todos os recursos. É da natureza do recurso provocar o reexame da decisão, e é isso que caracteriza a devolução. Segundo Didier Jr. e Cunha, o efeito devolutivo deve ser examinado em duas dimensões, pela sua extensão e pela sua profundidade. A extensão do efeito devolutivo determina o objeto litigioso, a questão principal do procedimento recursal, tantum devolutum quantum appellatum35. A profundidade do efeito devolutivo determina as questões que devem ser examinadas pelo órgão ad quem para decidir o objeto litigioso do recurso.36

A princípio, o tribunal deve se limitar a examinar as questões já decididas pelo juízo de primeiro grau. Existem situações em que a legislação admite que o tribunal decida questões não conhecidas pelo juízo a quo, desde que estejam em condições de imediato julgamento, isto é, quando não dependem de produção de prova diversa daquela já constante nos autos para sua apreciação.37

34 BARBOSA MOREIRA, José Carlos. O novo processo civil brasileiro: exposição sistemática do procedimento. 29. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2012. p. 122. Disponível em:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309-4385-1/cfi/5!/4/4@0.00:60.8>. Acesso em: 31 mar. 2017. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

35 O termo tantum devolutum quantum appellatum é frase latina de uso forense, que significa “devolvido tanto quanto apelado”.

CARLETTI, Amilcare. Dicionário de latim forense. 10. ed. rev. São Paulo: Liv. e Ed. Universitária de Direito, 2011. p. 267.

36 DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de direito processual civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processos nos tribunais. 14. ed. rev. ampl. e atual. Salvador: JusPodivm, 2017. v. 3. p. 168-169.

37 MARINONI, L. G.; ARENHART, S. C.; MITIDIERO, D. Novo curso de processo civil: tutela dos direitos mediante procedimento comum. 2. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. v. 2. p. 533-534.

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Constata-se que o efeito devolutivo decorre da interposição de qualquer recurso, a extensão da matéria limita-se ao pedido do recorrente, já a profundidade abrange as questões jurídicas levantadas no processo. Interposto o recurso contra decisão do juízo a quo, o tribunal poderá reexaminar todas as questões suscitadas, desde que relativas ao objeto impugnado e não dependam de produção de prova senão daquela constante nos autos para verificação, obviamente, respeitado o princípio do contraditório.

2.3.2 Suspensivo

O efeito suspensivo consiste na suspensão dos efeitos normais da sentença.38 Theodoro Júnior aponta que a apelação normalmente suspende os efeitos da sentença, seja esta condenatória, declaratória ou constitutiva. Afirma que, via de regra, a apelação tem o duplo efeito, suspensivo e devolutivo. O pedido de suspensão terá de demonstrar a configuração do fumus boni iuris39 e do periculum in mora40, em grau que não permita aguardar o normal julgamento do recurso. No entanto, há exceções, o parágrafo 1º do artigo 1.012 do CPC41 enumera seis casos em que o efeito de apelação é apenas devolutivo. Em tais hipóteses é possível a execução provisória enquanto estiver pendente o recurso.42

Para Montenegro Filho, os recursos não impedem a eficácia da decisão, salvo disposição legal ou decisão judicial em sentido diverso, de acordo com a regra do artigo 995,

caput, do CPC43. Os recursos não são dotados do efeito suspensivo, de modo que a decisão atacada produz efeitos imediatos, permitindo a instauração da execução fundada em título provisório, com fundamento nos artigos 520 e seguintes, do CPC”.44

38 AMARAL SANTOS, 1973 apud THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: execução forçada, processo nos tribunais, recursos e direito intertemporal. 48. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2016. v. 3. p. 1.019.

39 O termo fumus boni iuris é frase latina de uso forense, que significa “aparência de bom direito. Diz-se quando a pretensão não parece ter fundamento jurídico”.

CARLETTI, Amilcare. Dicionário de latim forense. 10. ed. rev. São Paulo: Liv. e Ed. Universitária de Direito, 2011. p. 182.

40 Frase latina de uso forense, o termo periculum in mora significa “perigo de mora”.

CARLETTI, Amilcare. Dicionário de latim forense. 10. ed. rev. São Paulo: Liv. e Ed. Universitária de Direito, 2011. p. 236.

41 BRASIL. Lei Nº 13.105, de 16 de março de 20l5. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência da República. Casa Civil, 2015. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 30 mar. 2017.

42 THEODORO JUNIOR. Curso de direito processual civil: execução forçada, processo nos tribunais, recursos e direito intertemporal. 48. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2016. v. 3. p. 1.019-1.020.

43 BRASIL. Lei Nº 13.105, de 16 de março de 20l5. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência da República. Casa Civil, 2015. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 30 mar. 2017.

44 MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil. 12. ed. reform. e atual. São Paulo: Atlas, 2016. Disponível em:

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Assim, compreende-se que o Código de Processo Civil autoriza a suspensão dos efeitos da sentença, consideradas as circunstâncias do caso concreto, nas hipóteses em que o apelante demonstre o risco de dano grave, de difícil ou impossível reparação e a probabilidade de provimento do recurso.

2.4 PRESSUPOSTOS RECURSAIS

Interposto o recurso, para que seja admitido, submete-se a determinados requisitos, são os chamados pressupostos recursais, pois sem esses o mérito da impugnação não será examinado.45 O requisito básico para que seja examinado o mérito do recurso é o juízo de admissibilidade, “que pode levar ao conhecimento ou ao não conhecimento, à admissão ou à inadmissão – o juízo preliminar a respeito da existência do direito de recorrer e da regularidade do seu exercício”.46

A admissibilidade do recurso exige o preenchimento dos pressupostos recursais, quais sejam, a investidura do órgão ad quem, capacidade processual, regularidade formal da interposição do recurso, e que não esteja presente qualquer impedimento recursal. O recurso somente poderá ser apreciado se o juízo de admissibilidade tiver sido positivo, hipótese em que será realizado o juízo de mérito do recurso, no qual se examinará o pedido formulado pelo recorrente, seja de reforma, invalidação, esclarecimento ou integração do pronunciamento judicial impugnado.47

Assim, se o recurso for julgado inadmissível, nos termos do inciso III do art. 932 do CPC48, contra a decisão proferida pelo relator, caberá o recurso de agravo interno para o respectivo órgão colegiado. Os pressupostos recursais podem ser objetivos e subjetivos.

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597006513/cfi/6/58!/4/104/2/2@0:0>. Acesso em: 03 abr. 2017. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

45 ALVIM, José Eduardo Carreira. Teoria geral do processo. 19. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2016. p. 313. Disponível em:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530971571/cfi/6/48!/4/92@0:60.9>. Acesso em: 31 mar. 2017. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

46 BARBOSA MOREIRA, 1999 apud MARINONI, L. G.; ARENHART, S. C.; MITIDIERO, D. Novo curso de processo civil: tutela dos direitos mediante procedimento comum. 2. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. v. 2. p. 525.

47 CÂMARA, Alexandre Freitas O novo processo civil brasileiro. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2017. p. 487-488. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597009941/cfi/6/10!/4/10/2@0:77.4>. Acesso em: 31 mar. 2017. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

48 BRASIL. Lei Nº 13.105, de 16 de março de 20l5. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência da República. Casa Civil, 2015. Disponível em:

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2.4.1 Objetivos

Os pressupostos objetivos dizem respeito ao modo de exercício do direito de recorrer, quais sejam, a recorribilidade da decisão, a adequação, a singularidade, a tempestividade, o preparo, a regularidade formal e a motivação do recurso.49 A recorribilidade da decisão significa que a lei deve prever recurso para a decisão judicial.

A adequação do recurso pressupõe que o recurso deve ser apropriado à impugnação pretendida. Excepcionalmente, a lei permite a interposição simultânea (não o julgamento) de dois recursos, como exemplo, nos processos civil e penal, a interposição dos recursos especial e extraordinário.50 A tempestividade exige que o recurso deve ser interposto dentro do prazo previsto em lei.51

A regularidade formal e a motivação do recurso, quanto ao exercício do direito de recorrer, impõe a observância da forma prescrita em lei. Theodoro Júnior aponta, o recurso interposto sem motivação constitui pedido inepto, essa exigência é expressa no tocante à apelação,52 ao agravo de instrumento,53 aos embargos de declaração,54 e aos recursos extraordinário e especial55,56 como será verificado no próximo capítulo.

49 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: execução forçada, processo nos tribunais, recursos e direito intertemporal. 48. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2016. v. 3. p. 972. 50 ALVIM, José Eduardo Carreira. Teoria geral do processo. 19. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2016. p. 313.

51 § 5º do art. 1.003, do CPC.

BRASIL. Lei Nº 13.105, de 16 de março de 20l5. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência da República. Casa Civil, 2015. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 30 mar. 2017. 52 Art. 1.010, II e III, do CPC.

BRASIL. Lei Nº 13.105, de 16 de março de 20l5. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência da República. Casa Civil, 2015. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 30 mar. 2017. 53 Art. 1.016, II e III, do CPC.

BRASIL. Lei Nº 13.105, de 16 de março de 20l5. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência da República. Casa Civil, 2015. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 30 mar. 2017. 54 Art. 1.023, do CPC.

BRASIL. Lei Nº 13.105, de 16 de março de 20l5. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência da República. Casa Civil, 2015. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 30 mar. 2017. 55 Art. 1.029, I, II e III, do CPC.

BRASIL. Lei Nº 13.105, de 16 de março de 20l5. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência da República. Casa Civil, 2015. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 30 mar. 2017.

56 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: execução forçada, processo nos tribunais, recursos e direito intertemporal. 48. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2016. v. 3. p. 993.

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Assim, os pressupostos objetivos dizem respeito ao modo de exercício do direito de recorrer, sendo que o recurso somente será admissível se o procedimento utilizado pautar-se estritamente pelos critérios descritos em lei.

2.4.2 Subjetivos

Os pressupostos subjetivos, avaliados no juízo de admissibilidade, são os requisitos concernentes à própria existência do poder de recorrer, quais sejam, o cabimento, interesse recursal, legitimidade recursal, inexistência de fato impeditivo ou extintivo do direito de recorrer.57

Quanto ao cabimento do recurso, avalia-se a aptidão do ato para sofrer impugnação e o recurso adequado, expresso no catálogo do artigo 994 do CPC58. Segundo Assis, o exame se realiza através de dois ângulos distintos, a recorribilidade do ato, e a propriedade do recurso eventualmente interposto.59 Marinoni, Arenhart, e Mitidiero apontam que a avaliação do cabimento de certo recurso depende da análise, em abstrato, da previsão de certo recurso como sendo hábil a atacar determinada decisão judicial ou, mais precisamente, o vício apontado na decisão judicial.60

O recurso é cabível se for adequado para promover o ataque da decisão judicial impugnada, isto é, quando indicado pela lei processual diante de determinada finalidade específica e certo ato judicial. A parte não pode interpor recurso que não se encontre previsto na norma legal. É necessário que o interessado em recorrer tenha sofrido algum prejuízo ou encargo em decorrência da decisão judicial ou não tenha sido satisfeita sua pretensão jurídica. A legitimidade recursal é a habilitação outorgada por lei, o recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo Ministério Público.61 Segundo Theodoro Júnior, a legitimidade para recorrer decorre ordinariamente da posição que o

57 MARINONI, L. G.; ARENHART, S. C.; MITIDIERO, D. Novo curso de processo civil: tutela dos direitos mediante procedimento comum. 2. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016. v. 2. p. 525.

58 BRASIL. Lei Nº 13.105, de 16 de março de 20l5. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência da República. Casa Civil, 2015. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 30 mar. 2017.

59 ASSIS, Araken de. Manual dos recursos. 8. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. p. 171.

60 MARINONI, L. G.; ARENHART, S. C.; MITIDIERO, D. Novo curso de processo civil: tutela dos direitos mediante procedimento comum. 2. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. v. 2. p. 525. 61 Artigo 996, do CPC.

BRASIL. Lei Nº 13.105, de 16 de março de 20l5. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência da República. Casa Civil, 2015. Disponível em:

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inconformado ocupava como sujeito da relação processual em que se proferiu o julgamento a ser impugnado.62 Cumpre ao terceiro demonstrar a possibilidade de a decisão sobre a relação jurídica submetida à apreciação judicial ter atingido direito de que se afirme titular ou que possa discutir em juízo como substituto processual.63

Assim, no contexto da admissibilidade do recurso, os pressupostos subjetivos ou intrínsecos estão relacionados à existência do poder de recorrer, são requisitos necessários ao recurso para que posteriormente seja examinado o mérito do recurso interposto. Depois de admitido ou conhecido o recurso é que será examinado o mérito do recurso, para saber se o recorrente tem razão ou não naquilo que alega como motivo da decisão recorrida, e a partir desse resultado o recurso poderá ser provido, provido em parte, ou desprovido.

2.5 RECURSOS PROTELATÓRIOS

Os embargos de declaração, opostos tempestivamente, interrompem o prazo para a interposição de recurso e revelam-se como o recurso mais propenso a estimular o intuito de procrastinação. Didier e Cunha ressaltam, os embargos de declaração, ainda que protelatórios, interrompem o prazo para a interposição do recurso cabível no caso.64

A fim de evitar que se utilize dos embargos de declaração com a finalidade exclusivamente protelatória, valendo-se do seu efeito interruptivo dos prazos, o Código de Processo Civil prevê sanções à utilização deturpada dos embargos de declaração, quando manifestamente protelatórios. Não serão admitidos novos embargos de declaração se os dois anteriores houverem sido considerados protelatórios.

É muito difícil traçar um esquema abstrato para enquadrar todas as hipóteses de embargos protelatórios, elemento que há de ser manifesto, conforme exige a lei.65 Para

62 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: execução forçada, processo nos tribunais, recursos e direito intertemporal. 48. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2016. v. 3. p. 982. 63 Parágrafo único do art. 996 do CPC.

BRASIL. Lei Nº 13.105, de 16 de março de 20l5. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência da República. Casa Civil, 2015. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 30 mar. 2017.

64 DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de direito processual civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processos nos tribunais. 14. ed. rev. ampl. e atual. Salvador: JusPodivm, 2017. v. 3. p. 319.

65 NOGUEIRA, 1995 apud ASSIS, Araken de. Manual dos recursos. 8. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. p. 760.

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Marinoni, Arenhart, e Mitidiero, o recurso manifestamente protelatório é aquele que tem por escopo unicamente retardar o andamento do processo.66

Incumbe ao juiz, na direção do processo, prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à dignidade da justiça e indeferir postulações meramente protelatórias.O processo começa por iniciativa da parte autora, mas o desenrolar do procedimento é atribuição do juiz, isso significa que a gestão do processo deve submeter-se às garantias constitucionais processuais. O juiz deve cumprir o mandamento constitucional e, para tanto, deverá envidar todos os seus esforços. Não se trata apenas da conduta pessoal do magistrado diante das partes e de todos os envolvidos no processo, mas da utilização de mecanismos de observação e de gestão.67

Não é possível ao interessado opor recursos protelatórios ou abusivos, pois a prática reiterada revela-se como estratagema para impedir indefinidamente o trânsito em julgado da decisão, evidencia-se uma conduta ilícita da parte, caracterizada pelo abuso do direito de recorrer.

O conteúdo tratado no presente capítulo possui relevância para o tema da pesquisa, pois se constitui sob a base do sistema recursal brasileiro, o recurso como instrumento jurídico processual e os princípios recursais que regem a interpretação e aplicação do direito, os efeitos recursais consideradas as circunstâncias do caso concreto, os pressupostos recursais necessários à admissibilidade do recurso para que seja examinado o pedido formulado pelo recorrente, assim como os recursos protelatórios propensos a estimular o intuito de procrastinação.

Passa-se, no próximo capítulo, aos Recursos Extremos, sua evolução histórica e conceito, o Recurso Especial e o Recurso Extraordinário, que visam nortear e trazer conceitos relevantes como conteúdo ao terceiro capítulo deste trabalho, que fundamentado na doutrina do Direito Processual Constitucional brasileiro, pretende concretizar o objeto da presente monografia.

66 MARINONI, L. G.; ARENHART, S. C.; MITIDIERO, D. Novo código de processo civil comentado. 3. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017. p. 1106.

67 WAMBIER, T. A. A. et al. Primeiros comentários ao novo código de processo civil: artigo por artigo. 1. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. p. 139.

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3 RECURSOS EXTREMOS

Este capítulo aborda os recursos extremos, bem como sua evolução histórica e conceito. Segue-se com as concepções do Recurso Especial, seus pressupostos de admissibilidade, efeitos, e o Recurso Especial repetitivo, como também do Recurso Extraordinário, seu cabimento, efeitos, e o Recurso Extraordinário repetitivo, são conceitos de extrema relevância para a presente pesquisa.

No sistema processual brasileiro, além da dualidade de instâncias ordinárias entre os juízes de primeiro grau e os tribunais de segundo grau, também há a possibilidade de recursos extremos ou excepcionais para os dois órgãos superiores que formam a cúpula do Poder Judiciário brasileiro, isto é, para o Supremo Tribunal Federal e para o Superior Tribunal de Justiça. O primeiro é encarregado da matéria constitucional e o segundo dos temas constitucionais de direito federal. Cabe-lhes em princípio o exame não dos fatos controvertidos, nem das provas existentes no processo, tampouco da justiça ou injustiça do julgado recorrido, mas tão somente da revisão das teses jurídicas federais envolvidas no julgamento impugnado.68

3.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA

Os recursos extremos têm sua origem no Império Romano com a apelação. Apelações sucessivas propiciavam que a causa percorresse juízos de cinco instâncias hierárquicas, podendo chegar ao Imperador. No século VI, o imperador romano Justiniano reduz as instâncias de julgamento, admitindo até duas apelações sucessivas, que não levavam mais a causa ao Imperador, mas permitia a supplicatio69 do Imperador.70 Esse sistema de recursos vigorou nos países que herdaram a tradição romana até a Revolução Francesa, na qual

68 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: execução forçada, processo nos tribunais, recursos e direito intertemporal. 48. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2016. v. 3. p. 1085. 69 Na supplicatio, o imperador não exercia jurisdição, ele submetia as demandas que recebia aos seus

jurisconsultos, se estes lavrassem parecer afirmando que a última decisão apresentava indícios de ser injusta ou ilegal, o Imperador concedia a supplicatio, devolvendo a causa ao juízo que proferira a decisão anterior para que a rejulgasse. Normalmente esse juízo era o prefeito do pretório.

GRECO, Leonardo. Instituições de processo civil: recursos e processos da competência originária dos tribunais. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. v. 3. p. 215. Disponível em:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309-6834-8/cfi/6/10!/4/2/4@0:0>. Acesso em: 09.05.2017. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

70 GRECO, Leonardo. Instituições de processo civil: recursos e processos da competência originária dos tribunais. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. v. 3. p. 215. Disponível em:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309-6834-8/cfi/6/10!/4/2/4@0:0>. Acesso em: 09.05.2017. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

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se pretendeu submeter os juízes à autoridade do novo soberano, o povo, cuja vontade era expressa nas leis elaboradas pelos seus representantes reunidos no Parlamento.71

Para verificar se a decisão de um tribunal inferior havia ou não violado a lei, a Corte de Cassação não renovaria o julgamento dos fatos e a avaliação das provas, admitia-se a verdade fática tal como reconhecida na decisão recorrida. Essa distinção entre a questão de fato e a questão de direito e a limitação da violação da lei, segundo afirmações de Calamandrei, esta última vem do Direito Romano.

O jus constitutionis representava a lei, que a autoridade do soberano exigia que fosse respeitada em todas as decisões dos juízos e tribunais inferiores e que, na época das Ordenações, ensejava a concessão da revista para que outra decisão fosse proferida em substituição à anterior; e o jus litigatoris representava a controvérsia fática em virtude da qual poderia ter sido o vencido injustiçado, mas que não interessava ao soberano porque não representava um desafio à sua autoridade e não ensejava, portanto, o reexame da decisão.72

A Constituição do Império, de 1824, desconhecia remédio similar ao recurso extraordinário, o artigo 164, III, daquela Carta recepcionou das Ordenações Filipinas o recurso de revista, cujo julgamento tocava ao Supremo Tribunal de Justiça, organizado pela Lei de 18.09.1828. A revista destinava-se a manter a integridade formal da lei violada por julgados contaminados por nulidade manifesta ou injustiça notória. Com o advento da República, o objetivo de garantir a um só tempo a supremacia da Constituição e a inteireza do direito positivo, o Decreto 848 de 1890 organizou a Justiça Federal, espelhando-se no Judiciary Act norte-americano de 1789 e o writ of error73.

Miranda registra que o recurso extraordinário, ou seja, o recurso extremo, penetrou no direito brasileiro com a República Federativa, como descrito a seguir.

71 GRECO, Leonardo. Instituições de processo civil: recursos e processos da competência originária dos tribunais. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. v. 3. p. 216-217. Disponível em

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309-6834-8/cfi/6/10!/4/2/4@0:0>. Acesso em: 09.05.2017. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

72 CALAMANDREI, 1976 apud GRECO, Leonardo. Instituições de processo civil: recursos e processos da competência originária dos tribunais. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. v. 3. p. 218. Disponível em <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309-6834-8/cfi/6/10!/4/2/4@0:0>. Acesso em: 09.05.2017. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

73 Segundo José Afonso da Silva, “assim é que o writ of error dos ingleses, que tinha como função primordial corrigir erros de direito em favor da parte prejudicada, obteve, nos Estados Unidos, nova missão – a de sustentar a supremacia da Constituição e a autoridade das leis federais, em face das Justiças dos Estados-membros”. SILVA, 1963 apud ASSIS, Araken de. Manual dos recursos. 8. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. p. 802.

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O recurso extraordinário, cujas espécies são estritas e precisadas na Constituição, penetrou no direito brasileiro com a República Federativa. Prende-se ele com galhos e tronco à raiz, à necessidade de se assegurar, em todo o território e em todas as dimensões do ambiente jurídico nacional, a realização uniforme da lei federal. Não podemos dizer que seja inerente ao regime federativo, porque não é impossível o Estado federal com unidade de justiça, nem, sequer, Estado unitário e Justiça múltipla. Tal como temos e como adotamos, veio-nos ele dos Estados Unidos da América, onde o criou o Judiciary Act de 1789. Porém estávamos preparados para ele, mais do que os outros povos, quando vínhamos da unidade política do Império. Por outro lado, melhoramo-lo. Entrou no Brasil como recurso “constitucionalizado”, independente, portanto, de qualquer legislação ordinária. As leis processuais apenas podem reger assim a forma como o pressuposto de tempo para o recurso.74

Wambier e Dantas afirmam que a inspiração do nosso modelo de Estado, desde a proclamação da República, é oriunda dos Estados Unidos. Ressaltam que a estruturação desse modelo de Estado ocorreu na mesma época em que profundas modificações aconteciam na Europa, embora o nosso legislador tenha buscado na América do Norte os fundamentos políticos para nosso sistema de uniformização do direito federal, a evolução do recurso extraordinário revelou que sua função era a proteção da lei.75 Até o ano de 1988, o STF era responsável pela manutenção da inteireza de todo o direito federal, constitucional e infraconstitucional. Com a promulgação da Constituição de 1988, a competência constitucional e infraconstitucional foi fracionada, criou-se o Superior Tribunal de Justiça, transferindo-se ao STJ a função de zelar pelo direito federal infraconstitucional, restando ao STF a missão de cuidar do direito pela Constituição.76

A proclamação da República significou uma ruptura institucional no sistema de governo e na teoria política brasileira do Império. A Constituição Federal de 1891 conservou o sistema jurídico de tradição romano-germânica, por outro lado, teve a influência do Direito dos Estados Unidos da América, que se materializou na instituição do federalismo.77

O novo sistema recursal inaugurado na República desenvolveu nas décadas seguintes mecanismos de formação de jurisprudência; alguns de seus exemplos são o recurso extraordinário com fundamento na existência de precedentes divergentes nos tribunais, o recurso de revista com fundamento na existência de precedentes

74 MIRANDA, Pontes de. Comentários ao código de processo civil. tomo 8, n. 09452. Rio de Janeiro: Forense, 1975. p. 15.

75 WAMBIER, T.A.A; DANTAS, B. Recurso especial, recurso extraordinário e a nova função dos tribunais superiores no direito brasileiro. 3. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. p. 289. 76 WAMBIER, T.A.A; DANTAS, B. Recurso especial, recurso extraordinário e a nova função dos tribunais superiores no direito brasileiro. 3. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. p. 298-299. 77 DIDIER JÚNIOR, Fredie; SOUZA, Marcus Seixas. O respeito aos precedentes como diretriz histórica do direito brasileiro. Revista de Processo Comparado. v. 2, p. 99-120, jul./dez., 2015. Disponível em:

<http://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/resultList/document?&src=rl&srguid=i0ad82d9b0000015c23fd d84d5c4ded05&docguid=Ib5518110c0fb11e5a4e2010000000000&hitguid=Ib5518110c0fb11e5a4e2010000000

000&spos=8&epos=8&td=1500&context=8&crumb-action=append&crumb-label=Documento&isDocFG=false&isFromMultiSumm=&startChunk=1&endChunk=1>. Acesso em: 15 mar. 2017. Acesso restrito via meu pergamum.

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