• Nenhum resultado encontrado

Links 2015: os elos entre os consumos de água, energia e alimentos, no contexto das estratégias de mitigação das mudanças climáticas

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Links 2015: os elos entre os consumos de água, energia e alimentos, no contexto das estratégias de mitigação das mudanças climáticas"

Copied!
314
0
0

Texto

(1)

José Baltazar Salgueirinho Osório de Andrade Guerra Professor do Programa de Pós-Gradua-ção em AdministraPós-Gradua-ção da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul). Fellow do Cambridge Centre for Energy, Environment and Natural Resource Governance (C-EENRG), Department of Land Economy, da Universidade de Cambridge. Líder do Grupo de Pesquisa em Eficiência Energética e Sustentabili-dade da Unisul.

Rafael Ávila Faraco

Professor da Universidade do Sul de Santa Catarina. Coordenador da Unidade Acadêmica Tecnológica, Gerência de Ensino, Pesquisa e Extensão. Doutor em Engenharia de Produção pela Universi-dade Federal de Santa Catarina Jean-François Mercure

Professor Assistente em Energia, Clima e Inovação no Departamento de Ciência Ambiental da Universidade de Radboud. Foi Vice-Diretor do “Cambridge Centre for Climate Change Mitigation Research” (4CMR) da Universidade de Cambridge. É PhD em Física e ciências da complexi-dade (St. Andrews, Reino Unido). Pablo Salas

Assistente de Pesquisa e Doutorando no “Centre for Climate Change Mitigation Research” (4CMR) do Departamento de Economia da Terra (Universidade de Cambridge). Mestre em Economia pela Universidade de Hamburgo, Alemanha. Graduado em Engenharia Elétrica pela Universidade de Chile.

Issa Ibrahim Berchin Mestrando em Administração pela Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), Brasil. Pesquisador do Grupo de Pesquisa em Eficiência Energética e Sustentabilidade, Unisul.

ORGANIZA

Ç

Ã

O

José Baltazar Salgueirinho

Osório de Andrade Guerra

Rafael Ávila Faraco

Jean-François Mercure

Pablo Salas

Issa Ibrahim Berchin

tempestade perfeita

A tempestade perfeita da catástro-fe mundial está revelando-se. Na Europa estamos sendo lentamen-te envolvidos por esses fatores. A seca espalhou-se por toda a Áfri-ca e o Oriente Médio. Agora vimos emergir o autoproclamado “estado islâmico” e estamos concentrados no fato de eles serem todos fanáti-cos religiosos. “Se eles fossem como os muçulmanos menos fanáticos de outras partes do Mundo, estaría-mos bem.” Mas esquecemo-nos de que a luta só é parcialmente religio-sa. A religião converteu-se na lin-guagem usada para fazer com que a luta pareça moral.

Estamos vivendo a tempestade perfeita de crescimento populacio-nal, mudança climática, êxodo ru-ral, urbanização e proliferação de favelas nas grandes cidades do he-misfério Sul. Só necessitamos adi-cionar o fácil acesso a armas e urâ-nio, e temos um perfeito conjunto de pragas bíblicas. É claro que sem-pre teremos o Facebook e outras re-des sociais a dizer-nos que a vida é muito mais agradável, basta deixar-mo-nos seguir a onda.

Trecho do prefácio assinado por Benny Dembitzer, antigo diretor do escritório europeu daInternational Physicians for the Prevention of Nuclear War – Prêmio No-bel da Paz de 1985 – e Diretor Gerente da Grassroots Africa.

É igualmente um dever prioritário dos decisores políticos, a nível mundial, retirar da pobreza as populações mais desfavorecidas, elevar o respectivo nível educacional, criar empresas sólidas, capazes de gerar emprego. O pa-radoxo ainda pendente ocorre quando os níveis de emergência industrial não se compatibilizam com justas exigências de sustentabilidade.

Hoje em dia, começa felizmente a generalizar-se o conceito de que é in-viável - e incorreto - pugnar-se pelo crescimento a todo o custo, pois ha-verá que condicioná-lo a normas éticas progressivamente mais exigentes. Ao longo dos últimos anos, procuramos aprofundar o estudo de distintos aspectos relacionados com o desenvolvimento sustentável, de modo a in-centivar boas práticas num horizonte transnacional.

Os elos entre os consumos de água, energia e alimentos, no

contexto das estratégias de mitigação das mudanças climáticas

ISBN 978-85-8019-145-5

LINKS

2015

Os elos en tr e os c

onsumos de água, ener

gia e alimen tos , no con te xt o das estr at égias de mitigaç

ão das mudanç

as climá José Baltazar S algueirinho Osório de A ndr ade Guerr a, Rafael Á vila F ar ac o, Issa Ibr ahim B er chin, Jean-F ranç ois Mer cur e e P ablo S alas

(2)
(3)
(4)

Osório de Andrade Guerra

Rafael Ávila Faraco

Jean-François Mercure

Pablo Salas

Issa Ibrahim Berchin

ORGANIZA

(5)

R E I T O R Sebastião Salésio Herdt

V I C E - R E I T O R Mauri Luiz Heerdt

E D I T O R A U N I S U L D I R E T O R Laudelino José Sardá A S S I S T E N T E E D I T O R I A L

Alessandra Turnes Soethe A S S I S T E N T E D E P R O D U Ç Ã O Amaline Mussi C O O R D E N A Ç Ã O D E P R O J E T O S N A C I O N A I S Deonísio da Silva A S S I S T E N T E D E V E N D A S Larissa de Souza A V E N I D A P E D R A B R A N C A , 2 5 F A Z E N D A U N I V E R S I T Á R I A P E D R A B R A N C A 8 8 1 3 7 - 2 7 0 – P A L H O Ç A S C F O N E ( 4 8 ) 3 2 7 9 - 1 0 8 8 – F A X ( 4 8 ) 3 2 7 9 - 1 1 7 0 E D I T O R A @ U N I S U L . B R C A P A Officio (officio.com.br) C O N C E P Ç Ã O G R Á F I C A Jucélia Fernandes R E V I S Ã O Amaline Mussi

L72 Links 2015 : os elos entre os consumos de água, energia e alimentos, no contexto das estratégias de mitigação das mudanças climáticas / organização José Baltazar Salgueirinho Osório de Andrade Guerra ... [et al.]. - Palhoça : Ed. Unisul, 2016.

312 p. ; 21 cm. Inclui bibliografias. ISBN 978-85-8019-145-5

1. Mudanças climáticas. 2. Meio ambiente. 3. Água - Conservação. 4. Desenvolvimento sustentável. 5. Gestão ambiental. 6. Recursos energéticos. 7. Energia - Fontes alternativas. 8. Poluição. 9. Alimentos. I. Guerra, José Baltazar Salgueirinho Osório de Andrade, 1968-. II. Série.

(6)

IN THE EYE OF THE PERFECT STORM

An extremely distinguished British scientist, Professor Lord Rees, a former President of the Royal Society of London, said some 10 years ago: “mankind has a 50/50 chance to survive the 21st century”.

I am not sure if, in the light of what is happening now, we should not revise that deadline and possibly shorten it.

The perfect storm of world catastrophe is unfolding. In Europe, we are slowly being engulfed in it all. For the last 20 years, the Horn of Africa has experienced increasing poverty because of poor governance, constant civil wars, increasing drought, and finally large movements of people. For the last five years, there has been a series of droughts in Ethiopia, Eritrea, Somalia, parts of Kenya. That drought has meant that there is less water, less food can grow, there is less for the animals of nomadic people to eat, less water for people in the cities to consume.

The drought has spread all over the Middle East. Saudi Arabia a decade ago made it illegal to use water for irrigation; you can use water from local aquifers for human use only. This has encouraged the Saudis, the Qataris, the Omanis to invest in lands in other parts of the world, primarily in Africa. Even weaker people in those lands have been expropriated from their traditional lands.

Now we have seen the emergence of ISIS. We are all concentrating on the fact that they are all religious fanatics. “If only they were like the less fanatic Moslems from other parts of the world, we would all be OK.”  But we forgot that the fight is only partially one of religion. Religion has become the language used to make the fight seem moral. But more fundamentally

(7)

their rulers whom we generally support. In fact, Saudi Arabia, a beloved ally of ours, is doing nothing really very different to what ISIS is doing. But we fight ISIS and do not even start to condemn Saudi Arabia, which has beheaded more people this year than ISIS has. But their leadership has managed to divert attention to ISIS and export terrorism.

The drought has spread from the Arabian Peninsula further north. Iraq, Jordan, Israel, Lebanon all have had ever poorer harvest because there is no water. Rural people move into the cities to escape the drought and the lack of food. Then more conflict arise. Their miserable regimes, most of them, fight them if they rebel against the injustices and increasing poverty. So, they escape. They come to the shores of Europe.

We are experiencing the perfect storm of population growth, climatic change, rural exodus, urbanization, and increasing slums in the large cities of the South. You only need to add the ease availability of small arms and medium grade uranium, and then you have the perfect cocktail of biblical plagues. Of course, there is always Facebook and other social medias that can tell you how much nicer is life and you get up and go.     

Let us look at the issues in two main groups. Nassim Nicholas Taleb warned us of the black swans. These are, to quote the Donald Rumsfeld, former US Secretary of Defense, the known unknowns – issues that we more or less know are on the horizon. Then there are the unknown unknowns – the issues that we cannot even forecast, the consequences of which might well hit us and catch us unaware.  

In the first group are clearly issues such as the catastrophic global climate change. Is it man made? Let us carry on discussing this. It is a perfectly made for the academic mind as there is no solution and can be debated ad infinitum. Meantime, round the tropics the damage is already evident. It is irreversible. It is already over the 2°C level, which 5 years ago everyone was saying was the tipping point. Meantime, the oceans are acidifying, the polar cap is reducing, El Niño and La Niña are reversing their flows. 2015 is the hottest year ever. 2016 will be even hotter. Global climate change is not reversible however much we may like to study it.

(8)

global population expanding? No one really knows for certain, but it is growing at rate faster than the highest estimates, because we really do not know how to measure population. It is all guess work.

We are in the midst of a catastrophic famine. We are not noticing it. It is not a matter of thousands of people dying in any one place - but many thousands of individuals dying here and there and everywhere. How many? Possibly 25,000, possibly 30,000 people per day.

More and more of the world is urbanizing. More people into barrios and favelas. Life in the favelas is tough and insecure. More people are in perpetual fear. It leads to a perpetual state of anarchy.  Who will feed them? Will governments have to become more repressive in order to control them?

One immediate consequence of global climate change and of population increase and of urbanizations is that the whole world is facing water scarcity. This is evident in your own large cities. Rio and São Paulo are both screaming for more water.

The world is awash with small arms. Some large and some small nations are facing one another like some cowboys in the old American Westerns. Who is going to pull the trigger first? Who will blink first?

We are experiencing migration on a colossal scale. It arises from a combination of civil wars, religious extremism, climate change, urbanization, and criminal gangs of traffickers. In some of the poorest countries, anyone who manages to obtain a little education tries to escape. The scale of migration from North Africa and the Sahelian region of thousands and thousands of refugees, migrants, people escaping wars and famines, have overwhelmed Europe in 2015. The Americas have had migration of millions and millions of people for decades. East Asia has seen the rise of a similar phenomenon of huge migration, from Burma, from Bangladesh, from Thailand.

The list of leaves on these onions is very long. It includes decreasing availability of arable land, a shortage of some scarce resources, the resurgence of slavery in modern form, the loss of biodiversity, international criminality. The issues are all linked. It is not surprising to see that some of the issues are coming together into a perfect storm.

(9)

cannot anticipate; they are much too distant and vague for us to quantify and analyze, but are going to assume ever greater importance in our daily lives.  

Corruption is growing and it is invading all walks of life. We have seen in the last few months the huge corruption scandals in world football, in athletics, in the international financial markets, in political life in Russia, in China, in Kenya, in Brazil itself. There is very little morality in public life.  

Over the last 2-3 decades, we have increasingly lost confidence in our governing classes. We no longer trust politicians, whether they deserve it or not. Multinational corporations, in the wind of change that globalization has heralded, have helped to undermine the power of democratic and even undemocratically elected governments. We have moved on to trust social media and non-governmental institutions – but they are even less democratic.  

This is leading to the weakening and the increasing irrelevance of the nation state. We need new structures to replace that authority, without going to the other extreme which we see now slowly being rolled out in Russia. The institutions that have enabled us to be where we are – create sophisticated societies, maintaining civil relationships, following the rule of law, protecting all of us, caring for the poorest in our societies – are all collapsing, at different rates. Even in some of the most stable societies like the US, we can see that those in government have lost the trust of many groups within their own society, who feel marginalized and abandoned. It leads to huge tensions that boil over from time to time.

The growing global inequality which will lead to an uncontainable discontent from the growing numbers of people who are out of the charmed circles in which we find ourselves. We have more poor people and more rich people in our same little planet. The rich are becoming richer and the poor are becoming poorer. Should we be concerned? Yes; other people’s insecurity means that we will be less secure – less justice for all means more injustice to the majority and less security for the few. Education is the main tool we have to combat inequality. Education is our business – the business of everyone in academic life, of everyone who attended this

(10)

only a few privileged people have the right to accede. After the right to life, education is the most basic global right of everyone on earth.

The idea of the public good is disappearing from our societies; we have to pay for all services. We are witnessing the commercialization of everyday life. The doctrine of neoliberalism is forcing each of us to issue invoices to everyone else. But it means that if you cannot pay, you do not have access to the most basic public goods. Surely that is not right. If you cannot enter the commercial arena, you are nobody. Over the best part of the last century we have grown to think that education must be open to all. We have slowly grown into believing that health is a right for all. Are we all perverted by neoliberalism into believing that rights = riches and riches=rights?

Look at the same phenomenon at global level. No one seriously cared about Ebola until the numbers involved started to explode and some people in the West started to be affected. After all, it was only three small, impoverished countries in West Africa that were affected by it. But there are 17 neglected diseases – according to Margaret Chang, the Director General of WHO – that need to be tackled.   Who will tackle them? It is interesting to see how HIV/AIDS started to be seriously tackled only when big philanthropic foundations started to offer to pay for the research.

We are entering a technological world that is frighteningly out of control. The speed of change in the world of science is such that we cannot keep up with it. When it comes to mobile telephones and computer capacity – surely we are there already. Artificial intelligence is out of control; this is not just my impression; it is statement made by one of the geniuses of our current generation – Professor Stephen Hawking. The same is happening with warfare: most of the fighting undertaken by “our lot” against the murderous ISIS in the Middle East is undertaken by drones. The collateral damages – in terms of lives of ordinary desperately vulnerable adults and frightened children and old people – have become just that: collateral damage.  

We are increasingly thinking short term.

Politicians need to be re-elected every four or five years. Chief Executives have to deliver better dividend every year. In academia we are

(11)

next round of funding. No one is looking at the longer term consequences of our action or inaction.  No one, for example, is looking at the long term consequences of globalization – which will deprive large sections of our young people of any kind of long term job security.  In a couple of decades there will be no secure jobs in any of realm of society. The consequences on the capacity of today’s young families to feed and house themselves are impossible to confront.

We need to use different tactics.   Do you remember Einstein’s saying ‘if a problem cannot be solved at the level at which it arises, it must be tackled at a higher level’? The academic community encompasses the largest number of people who are “officially” clever. That means that we have special responsibilities. Noblesse oblige; let us discharge those obligations to society. Let us answer in different terms, at different levels. Let us not allow ‘them’ to set and frame the language and tone of the debate.

Here is a tentative agenda for us all to explore:

We should speak to power. Edmund Burke said some 250 years ago that there were four main centres of power, and that the last one, the press, was probably the most important, because it could speak truth to power. Who is speaking truth to power now? Most newspapers and television stations are pure commercial concerns, dominated by entities that are at the best of times right of centre. Is this not a role for the academic community? But then you need to be vigilant and courageous. We all know that population is one of the two or three top challenges across the globe, not necessarily in any single country. But in the rich world, catholic or not, the better-off segment of the population do not have many children. Why are we not even politely telling the Catholic Church and the Moslem authorities that it is wrong to have too many children?

Let us take governments to task. Governments always make promises. That is their job, their duty. But do they deliver? Well, let us make it our task to ensure that we look what governments deliver and if they are lying, let us define tools that will enable us to check on them.

Let us take the long term view. Whose task it is to fight for the longer terms needs of mankind?  Are we making a serious and unviable

(12)

concentrate on?   Because of the lack of long-term thinking, no one is investing in the next generation of antibiotics. In 20 years there will be new germs and bacteria and the like that will kill us off in very large numbers because they have become immune to the present generation of antibiotics.  

Let us support societal values and principles. Who will fight for equality and social justice? Is this not an obligation on the academic community? In the uneasy triangular balance between governments, the private sector and individual human beings, let us plant ourselves firmly in the camp of values and principles. The academic community has ceded the responsibility to be concerned with the values of society to non-governmental organizations, to civil society. Why? Are we only concerned with some abstract concept of the purity of our research?

Let us be inclusive by being local. By looking at the big picture, at macro and global economic issues, we assume that all challenges across the globe are the same. We forget those who have not entered the world of globalization. We forget those who have needs and aspirations that can only be addressed through local policies. Let us connect scarcity of resources at the global level, for example, with the needs of everyone to have access to more energy at local level.

Break taboos. To ignore corruption, the power of the multinationals, the interests of vested groups is to be complicit in what they do wrong. The Catholic Church is against contraception. The poorest, those who have neither the means to adopt contraception nor the education to rationalize their opposition to the church, have too many children. Islam is against family planning. Who is challenging those positions? There is not enough good agricultural land in the world to waste it on growing more tobacco and more alcohol. We need more food to be produced by local communities in their local areas, not replying on international trading of the same commodities.   If Chinese companies can produce solar panels that are cheaper than the American ones, let the Chinese undercut the American companies. What matters more: destroying our world or protecting intellectual copyright laws?

(13)

need to have our feet firmly planted in the real world, not just be lost in the pursuit of our academic interests and careers. The issues that you are addressing today and tomorrow and the rest of your lives are the stuff of life. Make it REAL. We are atomizing our societies by atomizing our studies and our research. We are becoming increasingly blinkered in our vision of the world. We are working in ever deeper silos. We ignore the wider dimensions of society and our responsibility to it. We no longer speak the same language across the different disciplines. We do not have to talk to anyone – we send them messages. If they ignore a point, that is too bad, you reply with another point. It is a series of arrows where one miss another. They all end up in the ether. So it does not matter.  But it does, because the increasing narrowness of communication, the increasing lack of interconnectedness leads us to form more and more tribes. We talk only to people who think and act like us, in ever narrowing circles. Concomitant to this is the lack of personal morality and sense of personal responsibility. We cannot understand other people’s needs, their hopes, their despair, because we no longer see them in their wholeness, we see the bit that we are interested in and understand. We are all numbers. The real world cannot cope with averages.

Let us find our own path, not those of the World Bank or the IMF. In May 2014 the Washington Post discovered that 31 per cent of all papers produced by the Bank has never been downloaded, not even once! We need to study issues that are relevant, that connect with other people in other fields of human concern. By wasting time and energy, we are wasting the trust that society has vested in us.

Let us maintain our feet firmly planted in the relevant world.

Benny Dembitzer

Antigo Diretor do Escritório Europeu da International Physicians for

the Prevention of Nuclear War – Prêmio Nobel da Paz de 1985 – e Diretor Gerente da Grassroots Africa.

(14)

Um distinto cientista britânico, Professor Lord Rees, antigo Presi-dente da Royal Society of London, afirmou há dez anos atrás que “a Hu-manidade tem 50% de chance de sobreviver ao século XXI”.

Não estou certo, observando o atual cenário global, se não deve-ríamos rever essa previsão e talvez antecipá-la.

A tempestade perfeita da catástrofe mundial está revelando-se. Na Europa estamos sendo lentamente envolvidos por esses fatores. Ao longo dos últimos 20 anos, o Chifre da África (nordeste africano) tem sentido um aumento da pobreza, devido à má governação, guerras ci-vis constantes, seca profunda e, finalmente, as grandes deslocações de pessoas. Nos últimos cinco anos, tem-se verificado uma série de secas na Etiópia, Eritreia, Somália e partes do Quênia. Essa seca significa que há menos água, menos alimento, menos recursos para a criação de animais e menos água para o consumo nas cidades.

A seca espalhou-se por todo o Oriente Médio. Há uma década, a Arábia Saudita tornou ilegal o uso da água para irrigação; a água dos aquíferos locais só pode ser utilizada para consumo humano. Isto enco-rajou os sauditas, os qataris e os omanis a investir em terras localizadas em outras partes do mundo, prioritariamente na África. Até mesmo as populações mais desfavorecidas daquelas regiões foram expropriadas das suas terras tradicionais.

Agora vimos emergir o autoproclamado “estado islâmico” e es-tamos concentrados no fato de eles serem todos fanáticos religiosos. “Se eles fossem como os muçulmanos menos fanáticos de outras partes do Mundo, estaríamos bem.” Mas esquecemo-nos de que a luta só é parcial-mente religiosa. A religião converteu-se na linguagem usada para fazer com que a luta pareça moral. Mas, fundamentalmente, é uma explosão

(15)

nantes, aos quais normalmente damos apoio. De fato, a Arábia Saudita, nosso querido aliado, não procede de modo muito diferente do praticado pelo “estado islâmico”. Mas nós combatemos o “estado islâmico” e nem sequer condenamos a Arábia Saudita, que já decapitou mais pessoas este ano do que o “estado islâmico”. Porém, a sua liderança conseguiu fazer divergir a atenção para o “estado islâmico” e exportar terrorismo.

A seca expandiu-se da Península Arábica para o norte. Iraque, Jordânia, Israel e Líbano tiveram as colheitas mais pobres de sempre, porque não há água. As populações rurais deslocam-se para as cidades, a fim de escapar da seca e da falta de alimentos, então surgem novos conflitos. A maioria dos seus regimes miseráveis combatem-nos, se eles se rebelam contra as injustiças e a pobreza crescente. Assim sendo, eles fogem em busca de um futuro melhor em direção às praias da Europa.

Estamos vivendo a tempestade perfeita de crescimento popula-cional, mudança climática, êxodo rural, urbanização e proliferação de fa-velas nas grandes cidades do hemisfério Sul. Só necessitamos adicionar o fácil acesso a armas e urânio, e temos um perfeito conjunto de pragas bíblicas. É claro que sempre teremos o Facebook e outras redes sociais a dizer-nos que a vida é muito mais agradável, basta deixarmo-nos seguir a onda.      

Olhemos os vários temas em dois grupos principais. Nassim Ni-cholas Taleb avisou-nos dos cisnes negros. Estes são, citando Donald Rumsfeld, antigo Secretário da Defesa dos Estados Unidos, os desconhe-cidos conhedesconhe-cidos – assuntos que sabemos mais ou menos que se encon-tram no horizonte. Mas, depois, há os desconhecidos desconhecidos – os assuntos que não podemos sequer prever, cujas consequências podem bem atingir-nos e apanhar-nos desprevenidos.   

No primeiro grupo enquadram-se claramente assuntos como a catastrófica mudança climática global. Foi causada pelos seres huma-nos? Continuemos a discutir isto: é um tema perfeitamente adequado à mentalidade acadêmica, como não tem solução, e pode ser debatido infinitamente. Entretanto, nos trópicos, os danos são já evidentes. É ir-reversível. A temperatura já está acima dos 2ºC, que, há cinco anos atrás,

(16)

cando, a calota polar está diminuindo, El Niño e La Niña estão revertendo seus fluxos. 2015 é o ano mais quente registrado, 2016 será ainda mais quente. A mudança climática global não é reversível, assim temos muito a estudar.

O próximo assunto da minha agenda é o Crescimento Populacio-nal. Com que rapidez a população global está se expandindo? Ninguém sabe ao certo, mas cresce percentualmente mais depressa do que as es-timativas mais elevadas, porque, na verdade, nós não sabemos medir a população. Tudo não passa de um trabalho de suposição.

Estamos vivendo um período de fome catastrófica e não perce-bemos isso. Não se trata da morte de milhares de pessoas em um local – mas milhares de indivíduos morrendo aqui, ali e por toda a parte. Quan-tos? Possivelmente 25 mil, possivelmente 30 mil pessoas por dia.

Cada vez mais o Mundo está se urbanizando. Mais e mais pessoas passaram a viver em favelas. A vida nas favelas é dura e insegura, expon-do as pessoas ao meexpon-do permanentemente. Isso conduz a um estaexpon-do de anarquia perpétua. Quem os alimentará? Terão os governos de se tornar mais repressivos, a fim de os controlar?

Uma consequência imediata da mudança climática global, do crescimento populacional e das urbanizações é a escassez de água que todo o mundo está vivendo. Isto é já evidente nas nossas grandes cida-des. Rio e São Paulo, ambas clamam por mais água.

O Mundo está infestado de armas. Algumas nações grandes e outras pequenas se enfrentam como os “cowboys” dos velhos filmes do Oeste Americano. Quem apertará primeiro o gatilho? Quem pestanejará primeiro?  

Estamos assistindo à Migração em uma escala colossal. Este fenô-meno nasce de uma combinação de guerras civis, extremismo religioso, mudança climática, urbanização e organizações criminosas. Em alguns dos países mais pobres, quem consegue obter um pouco de educação tenta escapar. A Europa enfrenta, em uma escala avassaladora, migra-ções do Norte de África e da região do Sahel, de milhares e milhares de refugiados, migrantes, pessoas fugindo das guerras e da fome. Nas

(17)

Amé-Ásia Oriental assistiu ao surgimento de um fenômeno semelhante: migra-ção, da Birmânia, do Bangladesh e da Tailândia.

A lista de camadas nestas “cebolas” é muito longa. Inclui uma de-crescente disponibilidade de terra arável, redução de alguns recursos es-cassos, ressurgimento da escravatura em forma moderna, perda de bio-diversidade e criminalidade internacional. Os temas aparecem ligados, pelo que não é surpreendente observar que alguns dos assuntos estão se transformando em uma tempestade perfeita.  

Depois há os desconhecidos desconhecidos – assuntos que nós, simplesmente, não conseguimos antever: são demasiado distantes e vagos para que possamos quantificá-los e analisá-los, mas irão assumir uma importância crescente na nossa vida quotidiana.

A Corrupção está crescendo e invadindo todos os aspectos coti-dianos da vida. Temos assistido nos últimos meses aos enormes escân-dalos no mundo do futebol, no atletismo, nos mercados financeiros inter-nacionais e na vida política na Rússia, na China, no Quênia e no próprio Brasil. Há muito pouca moralidade na vida pública.

Ao longo das últimas 2-3 décadas, temos progressivamente per-dido confiança nas nossas classes governantes. Já não acreditamos nos políticos quer eles mereçam, ou não. As corporações multinacionais – na onda de mudanças que a globalização implementou – ajudaram a minar o poder dos governos democráticos e mesmo dos não democraticamen-te eleitos. Fomos levados a confiar nos meios de Comunicação Social e nas instituições não governamentais, mas estas são ainda menos demo-cráticas.

Esta conjuntura está conduzindo ao enfraquecimento e à cres-cente irrelevância do Estado Nação. Necessitamos de novas estruturas para substituir aquela autoridade, sem cair no outro extremo, como po-demos ver acontecer lentamente na Rússia. As instituições que nos per-mitiram chegar aonde nos encontramos – criar sociedades sofisticadas, mantendo as relações civis, seguindo o cumprimento da Lei, protegendo--nos a todos, cuidando dos mais pobres em nossa sociedade – estão to-das a colapsar em diferentes níveis. Mesmo em algumas to-das sociedades

(18)

que se encontram no governo perderam a confiança de muitos grupos, dentro da sua própria sociedade, que se sentem marginalizados e aban-donados. Isso conduz a fortes tensões que entram em efervescência de tempos em tempo.

A crescente desigualdade global levará a um descontentamento incontrolável por parte de um número crescente de pessoas que perma-necem fora dos círculos de conforto em que nós próprios nos encontra-mos. Temos hoje, em nosso pequeno planeta, em simultâneo, mais pes-soas pobres e mais pespes-soas ricas. Os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres estão cada vez mais pobres. Deveríamos preocupar-nos? Sim, a insegurança de outros significa que estaremos menos seguros – menos justiça para todos corresponde a mais injustiça para a maioria e menos segurança para alguns. A Educação é a principal ferramenta que temos para combater a desigualdade. A Educação é o nosso negócio – o negócio de todos na vida acadêmica, de todos os que assistem a esta conferên-cia. Vamos usá-la. Vamos impedir que a Educação se torne algo acessível apenas a alguns. Depois do direito à Vida, a Educação é o mais básico direito global de todos.   

A ideia de bem público está desaparecendo das nossas socieda-des; todos os serviços têm de ser pagos. Estamos assistindo à comercia-lização da vida cotidiana. A doutrina do neoliberalismo força cada um de nós a passar faturas a todos os outros. Mas isso quer dizer que se não podes pagar, não tens acesso aos mais básicos bens públicos. Certamen-te isto não é correto. Se não consegues entrar na arena comercial, não és ninguém. Durante a melhor parte do século passado fomos levados a pensar que a educação deve estar aberta a todos. Fomos lentamente acreditando que a saúde é um direito de todos. Estamos todos perverti-dos pelo neoliberalismo no sentido de acreditar que direitos=ricos e que ricos=direitos?

Olhemos para o mesmo fenômeno em nível global. Ninguém deu a devida atenção ao Ebola, até que os números envolvidos começaram a explodir e algumas pessoas no Ocidente começaram a ser infectadas. Afinal, tratava-se apenas de três pequenos países empobrecidos, na

(19)

negligenciadas – segundo Margaret Chang, Diretora Geral de OMS – que necessitam ser combatidas. Quem o fará? É interessante observar como o HIV/AIDS começou a ser seriamente enfrentado apenas quando grandes fundações filantrópicas decidiram oferecer-se para custear a pesquisa.

Estamos a entrar num mundo tecnológico que está assustadora-mente fora de controle. A velocidade de mudança no mundo da ciência é tal que não conseguimos acompanhá-la. Quando chegamos aos tele-fones móveis e à capacidade dos computadores – certamente já alcan-çamos este patamar. A inteligência artificial está fora de controle; isto não é só a minha impressão: é uma declaração feita por um dos gênios desta geração – Professor Stephen Hawking. O mesmo acontece com o material bélico: a maior parte da luta empreendida pelo “nosso grupo” contra os assassinos do “estado islâmico”, no Oriente Médio, é efetuada por drones. Os danos colaterais – em termos das vidas de adultos deses-peradamente vulneráveis, de crianças assustadas e de pessoas idosas – tornaram-se apenas isso: danos colaterais.  

Estamos cada vez mais pensando a curto prazo. Os políticos têm de ser reeleitos a cada quatro ou cinco anos. Os chefes executivos têm de entregar anualmente melhores dividendos. Na Academia andamos todos à caça do próximo contrato. Temos de assegurar que somos incluídos na próxima ronda de financiamento. Ninguém olha para as consequências a mais longo prazo, da nossa ação ou inação. Por exemplo, ninguém olha para as consequências a longo prazo da globalização – que irá privar lar-gas camadas dos nossos jovens de qualquer tipo de segurança no em-prego. Em algumas décadas, não haverá empregos seguros em qualquer setor da sociedade. Não é possível confrontar as consequências na capa-cidade das jovens famílias de hoje para se alimentarem e alojarem.

Precisamos utilizar diferentes táticas. Lembram-se que Einstein dizia que “se um problema não pode ser resolvido ao nível em que sur-ge, deve ser enfrentado a um nível superior”? A comunidade acadêmica engloba o maior número de pessoas que são “oficialmente” sábias. Isso significa que temos especiais responsabilidades. Noblesse oblige; vamos aplicar essas obrigações na sociedade. Vamos responder em termos

(20)

dife-drar a linguagem e o tom do debate.  

Aqui está uma agenda provisória para todos explorarmos. Devíamos falar com o poder. Edmund Burke disse há cerca de 250 anos que existiam quatro centros principais de poder, e que o último, a Imprensa, era provavelmente o mais importante, porque podia dizer a verdade ao poder. Quem está falando a verdade ao poder? A maioria dos jornais e estações de televisão são de âmbito puramente comercial, dominados por entidades que são, na melhor das hipóteses, de centro--direita. Não é este um papel para a comunidade acadêmica? Mas então devem ser vigilantes e corajosos. Todos sabemos que a população é um dos dois ou três principais desafios globais, não necessariamente em um país específico. Mas no mundo rico, católico ou não, o segmento mais bem-sucedido da população não tem muitos filhos. Por que razão não dizemos educadamente à Igreja Católica e às autoridades muçulmanas que é errado ter muitos filhos?

Vamos encarar os governos como tarefa. Os governos sempre fa-zem promessas. É esse o seu papel e o seu dever. Mas será que as cum-prem? Bem, empenhemo-nos na tarefa de assegurar que olhamos o que os governos executam e, se estão mentindo, vamos definir ferramentas que nos permitam fiscalizá-los.

Optemos por assumir a visão de longo termo. A quem pertence a tarefa de lutar pelas necessidades da humanidade a mais longo termo? Estamos estabelecendo uma divisão séria e inviável entre o que a socie-dade global necessita e aquilo em que os governos se concentram? Devi-do à falta de reflexão a longo prazo, ninguém está investinDevi-do na próxima geração de antibióticos. Dentro de vinte anos, haverá novos germes, bac-térias e similares que nos matarão em números muito elevados, porque se tornaram imunes à atual geração de antibióticos.

Vamos apoiar valores e princípios da sociedade. Quem lutará pela igualdade e pela justiça social? Não é isto uma obrigação da comunidade acadêmica? No difícil equilíbrio triangular entre governos, setor privado e seres humanos individuais, posicionemo-nos firmemente no campo dos valores e dos princípios. A comunidade acadêmica cedeu a

(21)

respon-não governamentais, à sociedade civil. Por quê? Estamos apenas preocu-pados com um qualquer conceito abstrato de pureza da nossa pesquisa?

Sejamos inclusivos, sendo locais. Olhando para os assuntos glo-bais da macroeconomia, com uma visão holística, reconhecemos que to-dos os desafios que atravessam o Mundo são iguais. Esquecemos aqueles que não entraram no mundo da globalização. Esquecemos aqueles que têm necessidades e aspirações que só podem encontrar resposta me-diante políticas locais. Façamos, por exemplo, a ligação entre a escassez de recursos em nível global e a necessidade de todos terem acesso a mais energia em nível local.

Quebrem tabus. Ignorar a corrupção, o poder das multinacionais, os interesses de grupos paramentados, é ser cúmplice daquilo que eles fazem de errado. A Igreja Católica condena a contracepção. Os mais po-bres, aqueles que não têm meios para praticar a contracepção nem edu-cação para racionalizar a sua oposição à Igreja, têm demasiados filhos. O Islão é contra o planejamento familiar. Quem desafia essas posições? Não existem no Mundo suficientes terrenos agrícolas férteis para desper-diçar na produção de mais tabaco e mais álcool. É necessário mais comi-da produzicomi-da pelas comunicomi-dades nas suas áreas locais, e não responder ao comércio internacional das mesmas “commodities”. Se as empresas chinesas são capazes de produzir painéis solares mais baratos do que os americanos, deixem os chineses baixar a cotação das companhias ame-ricanas. Que interessa mais: destruir o nosso Mundo ou proteger leis de propriedade intelectual?  

Vamos escapar das nossas torres de marfim. Isto significa aceitar-mos a necessidade de ter os pés firmes no mundo real, sem nos perder-mos apenas no desenvolvimento dos nossos interesses e das nossas car-reiras acadêmicas. Os assuntos que você aborda hoje, amanhã e no resto da sua vida são a matéria da Vida. Torne-os reais. Estamos a atomizar as nossas sociedades ao atomizar os nossos estudos e a nossa pesquisa. Estamos a ficar com uma visão cada vez mais desfocada do Mundo. Es-tamos a trabalhar em silos da máxima profundidade. Ignoramos as mais amplas dimensões da sociedade e a nossa responsabilidade para com

(22)

temos de falar com ninguém – mandamos-lhes mensagens. Se eles igno-ram um ponto, tanto pior, respondemos com outro. Lança-se uma série de flechas em que todos erram mutuamente os alvos, acabando todas no espaço etéreo. Por isso parece não ter importância, mas tem, porque o afunilamento da comunicação, a crescente falta de interligação leva--nos a formar mais e mais tribos. Só falamos com pessoas que pensam e agem como nós, em círculos cada vez mais estreitos. Concomitantemen-te, surge a falta de moralidade e do sentido de responsabilidade pessoal. Não conseguimos compreender as necessidades dos outros, as suas es-peranças nem o seu desespero, porque já não os vemos na sua totalida-de, vemos o pedaço que nos interessa e que entendemos. Somos todos números. O mundo real não é compatível com percentagens.

Vamos encontrar o nosso próprio caminho, não os do Banco Mun-dial ou do FMI. Em maio de 2014, o Washington Post descobriu que não se fez um único “download” de 31% dos relatórios produzidos pelo Banco. Precisamos estudar temas que sejam relevantes, que estabeleçam liga-ção com outras pessoas em outras áreas das preocupações humanas. Ao perdermos tempo e energia estamos perdendo a confiança que a socie-dade depositou em nós.   

Vamos manter os pés firmemente assentes no Mundo relevante.

Benny Dembitzer

Antigo Diretor do Escritório Europeu da International Physicians for

the Prevention of Nuclear War – Prêmio Nobel da Paz de 1985 – e Diretor Gerente da Grassroots Africa. Traduzido por: Manuel José Sá-Osório de Andrade Guerra Jornalista e escritor

(23)
(24)

1. Os conceitos água virtual e pegada hídrica no cenário

brasileiro ... 27

Fabiano Sutter de Oliveira

2. Gerenciamento da água virtual exportada pelo Brasil ... 45

Jaquelini Gisele Gelain and Márcia Istake

3. O desenvolvimento sustentável através de instrumentos de gestão ambiental: o caso das

empresas assistidas pelo NEPI Missões em 2014 ... 71

Luis Cláudio Villani Ortiz, Lucélia Ivonete Juliani and Filipe Molinar Machado

4. Avaliar a sensação térmica dos usuários do parque

Massairo Okamura na cidade de Cuiabá/ MT ... 89

Deborah Caroline Zanatta, Eduardo Menacho Campos, Gabriely Albuez Bento, Juliana de Amorim Barbosa, Mariana Yoshie Hondo, Victor André Botelho Rodrigues dos Santos, Geraldo Aparecido Rodrigues Neves, Flávia Maria de Moura Santos, José de Souza Nogueira and Marta Cristina de Jesus Albuquerque Nogueira

5. Projeto de controlador automático de sistemas de

resfriamento evaporativo visando à eficiência energética .. 109

André Luiz Amorim da Fonseca, Luciana Oliveira da Silva Lima, Ana Cláudia de Azevedo, Luiz Felipe Albuquerque Ota, Alex Ferreira Dias Sales and Herbert de Souza Andrade

(25)

gases de efeito estufa: estudo de caso do refeitório do

CEFET-MG – Campus I ... 133

Valéria Cristina Palmeira Zago, Franciele Aparecida Plotásio Duarte, Jéssica Thebaldi Victoriano and Luiz Fernando Jácome Lopes

7. Leito de carvão ativado e membrana inespecífica aumentam a capacidade de produção sustentável de eletricidade e robustez de células de energia

microbiana ... 149

Katialaine Corrêa de Araújo and Bruno Meireles Xavier

8. Paisagens produtivas contínuas para promoção da

soberania alimentar em cidades de pequeno porte ... 167

Deloan Mattos Perini and Marcela Alvares Maciel

9. Contribuições para a gestão sustentável da Bacia Hidrográfica do Paraná Três (3) a partir de políticas e

projetos envolvendo o nexo água-energia-alimentos... 189

Marcela Valles Lange, Sigrid Andersen, Janaina Camile Pasqual and Rafael Gonzalez

10. Estimativa do potencial de complementaridade entre

fontes renováveis para o estado de Minas Gerais ... 209

Lívia Maria Leite da Silva, Wilson Pereira Barbosa Filho, Rafaela Garcia Diniz de Souza, Wemerson Rocha Ferreira, Antonella Lombardi Costa and Ricardo Brant Pinheiro

11. Análise em regime permanente dos efeitos da geração distribuída solar em um modelo de sistema

de distribuição de energia elétrica padrão IEEE ... 231

Douglas Lima Ramiro, Luigi Galotto Junior, Jéferson Menguin Ortega and Jamson Justi

(26)

sustentabilidade/desenvolvimento sustentável da

Rede Brasileira de Tecnologia do Biodiesel (RBTB) ... 251

Angela Machado Rocha, Marcelo Santana Silva, Fábio Matos Fernandes, Ednildo Andrade Torres, Leonard Fernandes e Silva and Dante

Lowenthal Lopes Ferreira

13. Delineamento da proteção patentária para a tecnologia eólica em países-membros do MERCOSUL: casos da

Argentina, Uruguai e Brasil ... 275

Luiza Peres, Rita Pinheiro-Machado and Douglas Alves Santos

14. Emissões de gases do efeito estufa e custos associados

à geração elétrica por fontes eólica e térmica ... 299

Dante Lowenthal Lopes Ferreira, Diego Lima Medeiros, Angela Machado Rocha, Marcelo Santana Silva and Leonard Fernandes e Silva

(27)
(28)

1 (M.Sc.) Universidade Federal do Rio de Janeiro, Centro de Tecnologia - Escola de Química - Bloco E - Rio de Janeiro – Brasil. E-mail: fabianosutter@gmail.com

Fabiano Sutter de Oliveira1

1

OS CONCEITOS ÁGUA

VIRTUAL E PEGADA HÍDRICA

NO CENÁRIO BRASILEIRO

(29)
(30)

RESUMO

Diante da crise hídrica sem precedentes e da demanda cada vez maior de volume de água pela agricultura, os conceitos de Pegada Hídrica e Água Virtual vêm ocupando cada vez mais espaço na comunidade científica. Isto porque referem-se à importação e exportação de água entre países, de ma-neira nada convencional e pouco conhecida, através de produtos agrícolas (commodities). O presente trabalho mostra como o Brasil, um importante produtor de commodities agrícolas, atua como sendo um dos principais exportadores de Água Virtual e um importante  player  neste cenário. O consumo de água empregado nas cadeias produtivas dos alimentos tornou-se uma importante ferramenta para orientar e implementar políticas aplicadas em recursos hídricos e mostram a interação de produtos com a escassez e a poluição hídricas. Além disso, o modo como a água é apropriada para esse propósito serve para avaliar impactos sociais, ambientais e econômicos, visto que os recursos hídricos de um país são utilizados na produção de bens de exportação para outros países.

Palavras-chave: Escassez Hídrica. Pegada Hídrica. Água Virtual.

(31)

ABSTRACT

In view of the unprecedented water crisis and the increase of the demand in the volume of water for agriculture,  concepts like  Water Footprint and virtual water are objects of a great deal of attention in the scientific community. This is so in connection with the import and export of water between countries in an unconventional way and little known way, throu-gh agricultural products (commodities). This paper sets out to establish how Brazil, a major producer of agricultural commodities, shows up as one of the main virtual water exporters and a major player in this scena-rio. The consumption of water used in the supply chains of food has beco-me an important tool to guide and implebeco-ment policies in water resources and show the interaction of products with the shortage and water pollu-tion. In addition, the way how water is suitable for this purpose serves to assess social, environmental and economic impacts, as the water resour-ces of a country are used in the production of goods for exportation to other countries.

(32)

1 INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, o desenvolvimento econômico e o cresci-mento populacional têm demandado cada vez mais água para consumo e sua falta pode ocasionar um entrave para o desenvolvimento da socie-dade. A escassez de água afeta uma em cada três pessoas em cada conti-nente. Apesar de a água ser um recurso renovável, a sua disponibilidade depende de vários fatores exógenos e endógenos: condições climáticas, distribuição desigual de chuvas ao longo do ano, sendo ainda afetada por outros fatores como rápido crescimento demográfico, massiva ur-banização, poluição do ar e solo, etc. A agricultura é um dos setores que apresentam maior impacto, em função da variação desses efeitos, pois depende da água para o seu desenvolvimento. O Brasil, que não utili-za uma irrigação em larga escala, beneficia-se de chuvas regulares para essa finalidade, porém, com as secas, a produção agrícola é afetada (FRACASSO, 2014).

A extração de água doce no mundo aumentou quase sete vezes no século passado e vem cada vez mais crescendo ao longo dos anos, devido ao aumento populacional (MARAKAJA, 2012).

O relatório “Water in a Changing World Report 2009”, do Progra-ma de Avaliação Mundial da Água, elaborado pela UNESCO, estiProgra-ma que, em 2030, aproximadamente 50% da população mundial estarão localiza-das em áreas com estresse hídrico. Aproximadamente 1/3 dos países no mundo (Oriente Médio, Norte da África, México, Paquistão, África da Sul e grande parte da China e Índia) já sofrem de escassez hídrica, e essa lista tende a aumentar. Até o ano de 2025, estima-se que cerca de 230 milhões de africanos terão de enfrentar a crise hídrica e 460 milhões de pesso-as viverão em países com escpesso-assez de água. Segundo a Organização dpesso-as Nações Unidas, através do seu Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP, em inglês)1, mais de 2,8 bilhões de pessoas em 48 países

terão de enfrentar o estresse hídrico, ou condições de escassez em 2025, conforme demostrado na Figura 1 (UNEP, 2008).

1 O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, cuja sigla é PNUMA, (em inglês: United Nations Envi-ronment Programme, UNEP).

(33)

Figura 1 - Mapa de escassez hídrica: escassez, stress e vulnerabilidade

Fonte: UNEP, 2008.

Um percentual equivalente a 67% da população mundial con-tinuará sem acesso às instalações sanitárias adequadas e a qualidade da água afetada pela poluição afetará diretamente a segurança alimen-tar. Segundo o relatório “Living Planet 2010” da World Wildlife Fund, dos 177 rios que possuem mais de mil quilômetros de extensão, apenas 64 permanecem com o seu fluxo sem qualquer impedimento imposto pela ação antropogênica. Intervenções promovidas pelos homens modificam o meio ambiente e afetam a vida marinha (KLABIN, 2011).

2 SEGURANÇA HÍDRICA

O conceito de segurança hídrica é definido como sendo a dispo-nibilidade de água em quantidade e qualidade aceitáveis para a saúde,

(34)

meios de vida, ecossistemas e produção. Em um sentido mais amplo, tra-ta-se de um conceito de gestão de água, que tem como prioridade prote-ger os ecossistemas e a saúde humana (KOTSUKA, 2013).

Porém, quando a exploração ocorre de maneira desordenada e a demanda supera a oferta, a poluição inviabiliza o uso da água. Além disso, os efeitos nocivos das mudanças climáticas afetam diretamente a disponibilidade de água (GLOBAL WATER SECURITY, 2010).

Países com rápido crescimento populacional e nível de industria-lização crescente, como a China, já sofrem com a escassez hídrica. A bacia do rio Haihe, da qual faz parte a cidade de Beijing, é uma das áreas mais deficientes do país e a escassez de água já é considerada um impedimen-to para o progresso da cidade e de seus habitantes. De acordo com as au-toridades locais, o total de volume de água disponível, em 2010, era de 2,18 bilhões de m³, enquanto que o total de água consumida era o equi-valente a 3,55 bilhões de m³. A agricultura faz uso de 1,20 bilhões de m³, equivalente a um percentual maior que 50% do total disponível. Dados como estes fazem de Beijing uma das 111 cidades da China identificadas como deficientes na disponibilidade de água. Nos últimos dez anos, o go-verno vem implementando uma política, buscando diminuir o consumo de água por parte da agricultura e das indústrias. Além disso, a popula-ção chinesa residente em cidades cresceu de 18%, em 1978, para 50%, em 2010 (WANG; HUANG, 2013).

Outra área problemática é a região mediterrânea. De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, a demanda de água por área tem duplicado nessa região, durante a segunda metade do século 20. Em muitas regiões do mundo, a extração atinge níveis superio-res ao tempo necessário para a renovação do aquífero (FRACASSO, 2014). A agricultura é um dos setores que demandam elevados volumes de água. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricul-tura (FAO) calcula que, para alimentar uma população que deve chegar a 9 bilhões em 2050, a produção mundial de alimentos terá de crescer 70%. A demanda global de energia irá aumentar 36%, em 2035. Como re-sultado, a disputa por água entre o setor agrícola, as cidades e a indústria será intensificada. Porém, a agricultura é peça fundamental para a

(35)

im-plementação de políticas de gestão sustentável da água e na segurança alimentar (FAO, 2015).

Nas indústrias, em uma planta típica, para se produzir uma tone-lada de aço, a quantidade de água requerida equivale a 807 tonetone-ladas/ hora, das quais 20% desse volume são perdidos na evaporação, pois a água é utilizada em um processo de apagamento úmido do coque. Além disso, na produção de minério de ferro e do carvão mineral ou vegetal, utilizados na produção de aço, ainda são adicionados vultuosos volumes de água, e, considerando-se o carvão vegetal, a perda de água por evapo-transpiração, ocorrida no seu cultivo, deve ser contabilizada no balanço. Atividades como estas, sejam na agricultura ou nas indústrias, estão na base da economia moderna, sendo essenciais para o bem-estar da popu-lação (PINTO-COELHO, 2015).

A escassez de água é um fator limitante para o desenvolvimento econômico em algumas regiões, principalmente naquelas que estão lo-calizadas em áreas áridas e semiáridas. Este cenário agrava-se quando parte da água demandada deve ser direcionada para a produção agrícola (FRACASSO, 2014).

Diante deste cenário, deve-se questionar como a agricultura pode impactar menos a disponibilidade e a qualidade das águas. Bus-cando minimizar os conflitos entre os setores da economia e seus inte-resses e a agricultura, considerando ser este o principal usuário de água, surgiu, na década de 90, um conceito denominado Água Virtual.

3 ÁGUA VIRTUAL E A PEGADA HÍDRICA

O termo “Água Virtual” foi sugerido por John Anthony Allan, pro-fessor da Escola de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Lon-dres, no início da década de 90. Em seu trabalho denominado Virtual

Wa-ter: a strategic resource. Global solutions to regional deficits, Alan expõe os principais elementos do conceito, demonstrando como o crescimento populacional e o consumo de alimentos necessitam de água e possuem implicações diretas sobre a sua utilização. Essas interações geram inú-meros fluxos que são determinados por um enorme número de forças

(36)

que influenciam a produção, o consumo e as trocas de commodities e de serviços: produção de tecnologias, preços de mercadorias internas para os mercados interno e externo e barreiras de mercado (FRACASSO, 2014).

A Tabela 1 apresenta alguns valores de Água Virtual utilizados na produção em alguns itens (PLANETA SUSTENTÁVEL, 2015):

Tabela 1 - Consumo de água em alguns itens

Produto/Quantidade Consumo de água (Litros)

Cerveja – 1 litro 5,5 Arroz – 1 Kg 2.500 Manteiga – 1 Kg 18.000 Queijo – 1 Kg 5.280 Batata – 1 Kg 132,5 Carne de boi – 1 Kg 17.100 Banana – 1 Kg 499 Carne de frango – 1 Kg 3.700 Fonte: Planeta Sustentável, 2015.

Somente em 2002, o trabalho de Allan obteve maior repercussão quando um grupo de pesquisadores, liderado por A. Y. Hoekstra, da Uni-versidade de Twente, introduziu o conceito de Pegada Hídrica, tornando o termo de Alan totalmente operacional (CARMO, 2007).

Já o termo Pegada Hídrica é entendido como sendo um indica-dor2 que considera o uso da água de forma direta3, aquela utilizada pelo

consumidor ou produtor, e da forma indireta3. Portanto, constitui toda a

2 O termo Pegada Hídrica possui analogia com um outro termo chamado de pegada ecológica, que foi criado durante o doutorado de Mathis Wackernagel, com a supervisão de William Rees, ambos da Universidade de Columbia Britânica. Mathis conceituou e desenvolveu a metodologia, além de escrever o livro “Our Ecological Footprint: Reducing Human Impact on the Earth”, em conjunto com Rees e Phil Testemale. Refere-se, em termos de divulgação ecológica, à quan-tidade de terra e água que seria necessária para sustentar as gerações atuais, tendo em conta todos os recursos mate-riais e energéticos, gastos por uma determinada população. CHAPAGAIN et al. discutem as semelhanças entre pegada ecológica e água virtual.

3 A Pegada Hídrica direta de um consumidor ou produtor (ou um grupo de consumidores ou produtores) se refere ao consumo de agua e à poluição que está associada ao uso da água pelo consumidor ou produtor. Ela é diferente da Pegada Hídrica indireta, que se refere ao consumo de água e a poluição que pode ser associada com a produção de bens e serviços consumidos pelo consumidor ou os insumos usados pelo produtor.

(37)

água empregada na produção de uma dada mercadoria ou serviço. Os fluxos da água importada e exportada são calculados em função da Pe-gada Hídrica de cada nação.

A Figura 2 apresenta os principais fluxos de Água Virtual entre as nações:

Figura 2 - Fluxos de Água Virtual pelo mundo (em bilhões de m³/ano)

Fonte: Kotsuka, 2013.

Quanto maior a intensidade da cor em um dado país, maior será a sua exportação ou importação em bilhões de m³ por ano.

A base de cálculo para a Pegada Hídrica está fundamentada na quantificação de água empregada diretamente (nas operações) ou indi-retamente (na cadeia de suprimentos) para a produção de um determi-nado item, ou seja, trata-se da soma dos usos da água em todas as etapas de ciclo de vida de um produto. Quanto ao emprego, a Pegada Hídrica pode ser aplicada em um produto (somatório das pegadas hídricas de todos os processos necessários na produção deste produto, incluindo o fornecimento), Pegada Hídrica do consumidor (somatório das pegadas hídricas dos produtos consumidos por este consumidor), Pegada Hídrica

(38)

de uma comunidade (somatório de todas as pegadas hídricas de todos os membros da comunidade), Pegada Hídrica de uma empresa (somatório de todas as pegadas hídricas dos produtos finais que esta empresa pro-duz) e Pegada Hídrica de uma área delimitada (somatório das pegadas hídricas de todos os processos que ocorrem no interior desta área).

Além de países, muitas empresas como a Unilever, Coca-Cola e Nestlé, entre outras, já contabilizam a Pegada Hídrica na sua produtivi-dade (PLANETA SUSTENTÁVEL, 2011; UNILEVER, 2009; PEPSICO, 2013; NESTLÉ, 2009).

Oito países são responsáveis pela metade da Pegada Hídrica glo-bal. São eles: Índia (13%), China (12%), Estados Unidos (9%), Rússia (4%), Indonésia (4%), Nigéria (3%), Brasil (3%) e Paquistão (2%) (KOTSUKA, 2013). A Pegada Hídrica dos Estados Unidos é de 2.480 m³/ano per capita, enquanto que, no Irã, por exemplo, o valor é de 1.624 m³/ano per capita. Isso se deve principalmente ao fato de que este último, além de possuir uma alta taxa de evapotranspiração, também apresenta baixa produção agrícola. Além disso, deve-se considerar que, nos países desenvolvidos, a Pegada Hídrica é elevada devido a um maior consumo de bens e servi-ços. Outro fator relevante é o emprego de técnicas ultrapassadas e falta de inovação para o desenvolvimento de novas tecnologias, objetivando um aumento da produção agrícola nos países em desenvolvimento (MA-RAKAJA, 2012).

Em relação ao consumo, a Pegada Hídrica pode ser classifica-da em 3 tipos: azul, verde e cinza. A azul refere-se ao consumo de água superficial ou subterrânea; a verde refere-se ao consumo da água da chu-va, desde que não escoe; e a cinza refere-se ao volume de água neces-sário para assimilar a carga de poluentes existentes no meio ambiente e associados ao processo de produção. O consumo refere-se à perda de água disponível em uma determinada bacia hidrográfica. Geralmente, quando se refere à escassez de água, trata-se da parcela de água azul, seja superficial ou subterrânea. O termo “uso de água de consumo” com-preende quatro casos: (1) evaporação da água; (2) água incorporada ao produto; (3) não retorno da água no mesmo período (água subtraída no período de estiagem e retorna no período de cheias) e (4) não retorno

(39)

da água para a área de captação, ou seja, a água retorna para outra área (HOEKSTRA, 2011).

No artigo The water footprint of humanity, Hoekstra e Mekonnen apresentaram uma quantificação e mapearam a Pegada Hídrica da hu-manidade e apresentaram esses resultados em termos de água verde, cinza e azul. Neste trabalho, concluíram que a média anual global da Pe-gada Hídrica, entre os anos de 1996 e 2005, era de 9.087 Gm³/ano, onde 74% equivalem a pegada verde, 11% azul e 15% cinza, e que a produção agrícola equivale a 92%, onde 20% referem-se à exportação (MEKONNEN, 2012).

Ao considerar esses valores e suas implicações no meio ambien-te, uma nova base para implementar políticas de gestão de recursos hí-dricos surge em todo o mundo, envolvendo todos os stakeholders (produ-tores e consumidores), mesmo que um determinado produto ou serviço seja exportado.

Em termos de volume de água, 16% do uso total da água utilizada não são empregados na produção de produtos para a economia domés-tica, mas de produtos para exportação. Considerando este elevado per-centual, torna-se necessário entender os fluxos de água e implementar políticas para melhor explorar esse potencial mundial (HOEKSTRA, 2006).

4 A PRODUÇÃO AGRÍCOLA E O BRASIL

Segundo o relatório da Organização para a Cooperação e Desen-volvimento Econômico (OECD, em inglês), os cereais ainda são conside-rados a base da alimentação em muitos países, especialmente em países com maior densidade populacional, como a China e Índia. O relatório afirma que mudanças nas dietas de certas culturas, combinadas com o crescimento da população global, exigirão um aumento substancial de produção nas próximas décadas. Lideradas pela Ásia e América Latina, as regiões em desenvolvimento serão responsáveis por um percentual superior a 75% dessa produção agrícola incrementada nas próximas dé-cadas (OECD, 2014).

(40)

O uso sustentável e com eficiência do uso da água doce na agri-cultura é fundamental para o alcance de um abastecimento seguro e consciente de toda a população mundial. Os impactos causados pelo uso indiscriminado podem ser divididos em 2 grupos: primários e secundá-rios, e ambos são analisados em termos de qualidade e quantidade da água. Os impactos primários são os que comprometerão as premissas de fluxos ambientais, ou seja, fluxos fluviais sustentáveis para os ecossiste-mas e para a vida humana ou para os padrões de qualidade e do ambien-te da água. Já os impactos secundários incluem a ausência da água potá-vel, perda da biodiversidade e de outros fatores ecológicos, econômicos e socioambientais. Além da água que é consumida na cadeia produtiva, durante a produção agrícola, um outro volume é poluído nos processos derivados nos setores industriais e domésticos (MARAKAJA, 2012).

Um país que importa 1 milhão de toneladas de trigo, por exem-plo, está importando, na verdade, 1 bilhão de m³ de água. Como as projeções de exportação e importação de produtos apontam para uma demanda cada vez maior, é fundamental considerar o papel da Água Virtual nesse cenário. Os estoques mundiais de grãos representam uma reserva de 500 bilhões de m³ de água. Este valor chega a 830 bilhões de m³, se consideradas as reservas de açúcar, carne e óleos. Com o gado no pasto, o volume total representa 4.600 bilhões de m³ de água (RENAULT, 2002).

O Brasil ocupa uma posição de destaque no cenário mundial, no que diz respeito à produção agrícola. Além de ser essencial para a ba-lança comercial, a agricultura representa ao país um custo relativamente baixo de produção, com alta disponibilidade de terras cultiváveis e tam-bém de recursos hídricos.

Atualmente, o Brasil é o segundo maior exportador de soja no mundo, atrás dos Estados Unidos, porém possui alguns entraves para ter um papel ainda mais atuante no cenário da Água Virtual. Apesar de pos-suir 12% de toda água doce do mundo, 73% desta água encontra-se na Bacia Amazônica, onde reside menos de 5% de toda a população nacio-nal, restando então 27% dos recursos hídricos disponíveis para 95% da população brasileira (KOTSUKA, 2013).

(41)

É ainda o terceiro país exportador e o primeiro em produtividade em sequeiro4 na produção agrícola de algodão, e, quando considerado o

cenário interno, o país é o quinto maior consumidor, com quase 1 milhão de toneladas por ano. Nas últimas três safras, apresentou volume médio próximo de 1,7 milhão de toneladas de pluma, onde aparece entre os cin-co maiores produtores mundiais, ao lado de países cin-como China, Índia, EUA e Paquistão (ABRAPA, 2015).

No trabalho Water footprints of nations: water use by people as a

function of their consumption pattern, Chapagain et al. consideraram o al-godão como sendo responsável por 2,6% do uso global da água. Para cada 1 kg de algodão são necessários 10.000 litros de água. Grande parte dos fluxos de resíduos globais não são tratados, principalmente nos países em desenvolvimento, porém parte do percentual de tratamento em países industrializados ainda diz respeito apenas às indústrias e residências, ex-cluindo o tratamento de resíduos agrícolas. Segundo o mesmo trabalho, o algodão e seus derivados são responsáveis por aproximadamente metade dos problemas de água em todo o mundo (MARAKAJA, 2012).

Quanto à disponibilidade hídrica, a bacia do Alto Xingu, locali-zada ao sul da região amazônica, é uma região considerada estratégica no cenário da Pegada Hídrica. Apesar de sofrer um processo de desma-tamento em larga escala provocado pela criação de gado e pela expan-são de lavouras de soja (principal componente da ração animal), a região ainda é pouco explorada, o que indica que se trata de um potencial local para a implementação de políticas de uso racional dos recursos hídricos da região baseadas na Pegada Hídrica.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Restou comprovado ao longo dos anos que a falta de água tam-bém está ligada diretamente ao padrão de consumo dos países e de seus habitantes. Adotar medidas e políticas que orientem o uso racional da água é fundamental nesse cenário. A Pegada Hídrica foi apresentada

(42)

como sendo um indicador importante de troca entre os países, principal-mente em relação aos produtos agrícolas, e intimaprincipal-mente ligado ao uso da água. Buscar metodologias que minimizem o impacto de sua extra-ção, principalmente para a irrigação de grandes áreas agrícolas, torna-se necessário, pois a agricultura tem demandado elevadas quantidades de água. O Brasil, especificamente, precisa avançar em outras áreas. Apesar de ser um grande player no agronegócio, é líder mundial em consumo de agrotóxicos.

Em recente informativo emitido pelo Instituto Nacional de Cân-cer José Alencar Gomes da Silva (INCA), órgão do Ministério da Saúde, noticiou-se que a venda de agrotóxicos evoluiu de US$ 2 bilhões para US$ 8,5 bilhões, entre os anos de 2001 e 2011. Em 2009, o Brasil ocupou a po-sição de maior consumidor mundial de agrotóxicos (INCA, 2015). Além de buscar novas tecnologias e boas práticas para a agricultura, o Brasil deve praticar cada vez mais a agricultura orgânica, buscando minimizar os im-pactos provocados pela poluição.

Esses fatores impactam negativamente, pois, apesar da elevada oferta de água doce e potencial agrícola, o Brasil se revela como sendo um país descompromissado com o uso racional da água, bem como com a diminuição de certas práticas que diretamente afetam a metodologia da Pegada Hídrica e a sustentabilidade local e mundial, além de poluir os corpos hídricos. Utilizar o cálculo da Pegada Hídrica para nortear as polí-ticas aplicadas nas bacias hidrográficas pode-se tornar uma importante ferramenta de gestão de recursos hídricos.

Uma das alternativas de diminuir a Pegada Hídrica é associar um maior custo ao valor final da água, principalmente nas grandes cidades. Em relação à agricultura, é importante buscar o cultivo de alimentos que exijam menor demanda de água. As indústrias devem adotar processos de reuso e reaproveitamento de suas águas residuais. O governo, por sua vez, deve impor uma legislação ambiental mais rígida e subsidiar políti-cas, inclusive privadas, que objetivem o uso racional de recursos hídricos. Empresas como a Natura, Coca Cola, entre outras, já utilizam a metodo-logia da Pegada Hídrica em seus relatórios de sustentabilidade, buscan-do, entre demais vantagens, otimizar seus processos internos.

Referências

Documentos relacionados

Após a colheita, normalmente é necessário aguar- dar alguns dias, cerca de 10 a 15 dias dependendo da cultivar e das condições meteorológicas, para que a pele dos tubérculos continue

[r]

Após a capitulação jurídica e validação por parte do Delegado de Polícia responsável pelo atendimento virtual, o sistema pode viabilizar a inserção de informações

Quando conheci o museu, em 2003, momento em foi reaberto, ele já se encontrava em condições precárias quanto à conservação de documentos, administração e organização do acervo,

Desta forma, foram criadas as seguintes hipóteses de investigação: H1 – O compromisso organizacional e o engagement são diferentes para as categorias dos militares dos

Foi membro da Comissão Instaladora do Instituto Universitário de Évora e viria a exercer muitos outros cargos de relevo na Universidade de Évora, nomeadamente, o de Pró-reitor (1976-

Dessa maneira, os resultados desta tese são uma síntese que propõe o uso de índices não convencionais de conforto térmico, utilizando o Índice de Temperatura de Globo Negro e

Atualmente os currículos em ensino de ciências sinalizam que os conteúdos difundidos em sala de aula devem proporcionar ao educando o desenvolvimento de competências e habilidades