A REFORMULAÇÃO DO FÓRUM PERMANENTE DAS MICROEMPRESAS E EMPRESAS DE PEQUENO PORTE – ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELA
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO COMÉRCIO DE BENS, SERVIÇOS E TURISMO (CNC)
Orlando Spinetti
Advogado
Em setembro de 2009, foi publicado no Diário Oficial da União (DOU) a Portaria nº 170, de 31 de agosto de 2009, que aprovou o novo regimento interno do funcionamento do Fórum Permanente das Micro e Pequenas Empresas.
Como é sabido, o Fórum Permanente das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte é presidido pelo Ministro de Estado do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, e foi criado em 1999, pela Lei nº 9.841 e regulamentado, em 2000, pelo Decreto nº 3.474, com o objetivo de ser o espaço de debates e de conjugação de esforços entre o Governo e o setor privado para a consecução de ações e de políticas públicas orientadas às microempresas e empresas de pequeno porte.
Em 2006, a Lei do Simples, nº 9.317/1996, foi revogada pela Lei Complementar nº 126/2006, que instituiu o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, o qual prevê o tratamento diferenciado e favorecido a ser dispensado às microempresas e empresas de pequeno porte nas três esferas do Governo: Federal, Estadual e Municipal, sendo, por isso denominado, popularmente, por Simples Nacional ou Super Simples.
Essa lei complementar atribuiu maior importância ao Fórum Permanente das Micro e Pequenas Empresas e, ainda, criou o Comitê Gestor de Tributação das Microempresas, vinculado ao Ministério da Fazenda, para tratar dos aspectos tributários.
Assim, por exclusão, todos os demais aspectos relacionados às Micro e Pequenas Empresas são tratados por esse fórum que, para desenvolvimento de suas atividades, está estruturado pelos seguintes Comitês Temáticos: I - Desoneração e Desburocratização; II - Comércio Exterior; III - Tecnologia e Inovação; IV - Investimento e Financiamento; V - Rede de Disseminação, Informação e Capacitação; e VI - Compras Governamentais.
Cada Comitê Temático possui um Coordenador de Governo designado pela Secretaria Técnica do Fórum Permanente das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, e de um Coordenador da Iniciativa Privada, eleito pela maioria absoluta das entidades de apoio e de representação habilitadas a participarem das eleições, que ocorrem bianualmente.
Recentemente, coube à CNC a Coordenação do Comitê Temático de Compras Governamentais.
Os demais Comitês Temáticos tiveram seus coordenadores indicados pelas seguintes entidades:
1) Desoneração e Desburocratização ASSIMPI
2) Comércio Exterior CONAMPI
3) Tecnologia e Inovação CACB
4) Investimento e Financiamento CNI
5) Rede de Disseminação, Informação e Capacitação COMICRO
O Fórum é realizado bimestralmente em reuniões ordinárias dos Comitês Temáticos e em reuniões extraordinárias sempre que convocado pela Secretaria Técnico, tendo as reuniões caráter aberto ao público.
São realizadas, ainda, reuniões plenárias semestrais com a finalidade de ser apresentadas as políticas públicas desenvolvidas e os resultados alcançados no decorrer do semestre pelos Comitês Temáticos, além da proposta de trabalho para o semestre subsequente.
Esclarecidos esses aspectos estruturais do Fórum, os trabalhos que são desenvolvidos abrangem todas as áreas e matérias de interesses das Micro e Pequenas Empresas.
Atualmente, o tema central do Fórum, principalmente no Comitê de Desoneração e Desburocratização, é a regulamentação do Micro Empresário Individual.
O Empreendedor Individual (EI) é a pessoa que trabalha por conta própria e que se legaliza como pequeno empresário. Para ser um empreendedor individual, é necessário faturar, no máximo, até R$ 36.000,00 por ano, não ter participação em outra empresa como sócio ou titular e ter um empregado contratado que receba o salário mínimo ou o piso da categoria.
A Lei Complementar nº 128, de 19 de dezembro de 2008, criou condições especiais para que o trabalhador, conhecido como informal, possa se tornar um Empreendedor Individual legalizado.
Dentre as vantagens oferecidas por essa lei, está o registro no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ), o que facilitará a abertura de conta bancária, o pedido de empréstimos e a emissão de notas fiscais.
Além disso, o Empreendedor Individual será enquadrado no Simples Nacional, ficará isento dos impostos federais (Imposto de Renda, Programa de Integração Social – PIS, Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social – Cofins, Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – CSLL) e pagará apenas o valor fixo mensal de R$ 52,15 (comércio ou indústria) ou R$ 56,15 (prestação de serviços), que será destinado à Previdência Social e ao Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) ou ao Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS). Estas quantias serão atualizadas anualmente, de acordo com o salário mínimo.
O pagamento do tributo é feito por meio de um documento chamado Documento de Arrecadação do Simples Nacional (DAS) que é gerado pela Internet no endereço www.portaldoempreendedor.gov.br, sendo possível gerar, de uma só vez, os DAS do ano inteiro e ir pagando mês a mês, na rede bancária e casas lotéricas, até o dia 20 de cada mês.
Com essas contribuições, o Empreendedor Individual terá acesso a benefícios previdenciários como auxílio maternidade, auxílio doença, aposentadoria, entre outros.
Para se inscrever como Empreendedor Individual, o trabalhador deve exercer atividades em uma das categorias a seguir:
a) Comércio e Indústria em geral e
b) Serviços de natureza não intelectual, sem regulamentação legal, como por exemplo, ambulante, camelô, lavanderia, salão de beleza, artesão, costureira, lava-jato, reparação, manutenção, instalação, autoescolas, chaveiros, organização de festas, encanadores, borracheiros, digitação, usinagem, solda, transporte municipal de passageiros, agências de viagem, dentre inúmeros outros.
Além da facilidade do pagamento do tributo, o CNPJ, o número de inscrição na Junta Comercial, no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e um documento de alvará que equivale ao alvará de funcionamento são obtidos imediatamente, devendo ser impresso, assinado e encaminhado à Junta Comercial acompanhado de cópia da Identidade e do Cadastro de Pessoa Física (CPF).
Já no Comitê Temático de Compras Governamentais, os macro temas centrais que estão sendo trabalhados são: a) implementação da cédula de crédito microempresarial, por meio da sua regulamentação; b) implementação da lei geral das micro e pequenas empresas no que concerne ao capítulo de compras governamentais uma vez que menos de 16%, dos 5.564 municípios brasileiros promulgou a sua lei geral de forma a tornar realidade a compra de produtos e serviços, por parte dos municípios, das microempresas e empresas de pequeno porte.
Foi intenção da Lei Complementar nº 123/2006 tornar sustentável a vida financeira das microempresas a longo prazo, que em geral tem problemas de fluxo de caixa. Por isso, no artigo 46, criou a cédula de crédito microempresarial que é título de crédito regido, subsidiariamente, pela legislação prevista para as cédulas de crédito comercial, tendo como lastro o empenho do poder público.
Pelo texto da Lei Complementar nº 123/2006, a cédula de crédito microempresarial poderá ser emitida quando microempresas e empresas de pequeno porte forem titulares de direitos creditórios decorrentes de empenhos liquidados por órgãos e entidades da União, Estados, Distrito Federal e municípios, mas não forem pagos em até 30 dias contados da data de liquidação.
Embora o Poder Executivo devesse, por meio do Banco Central, regulamentar esse título de crédito no prazo de 180 dias a contar da publicação da Lei Complementar nº 123, que ocorreu em 14 de dezembro de 2006, até agora não o fez.
Por isso, pensamos que a regulamentação é importante porque, além de garantir o recebimento das vendas efetuadas por micro e pequenas empresas para o poder público, as cédulas de crédito microempresarial poderão ser negociadas, caso necessário, com instituições financeiras, já que são títulos de crédito.
O outro tema, objeto dos trabalhos neste comitê do Fórum Permanente, é a efetiva implantação da Lei Geral por parte dos municípios porque, enquanto a lei não for regulamentada por estes entes federativos, não pode ser aplicada pelos Prefeitos e órgãos municipais nem exigida pelos microempresários.
Acredita-se que a causa, não confesssada, da não regulamentação da Lei Geral por parte dos municípios seja o temor da perda de receitas tributárias por parte destes entes federativos.
De acordo com o artigo 77, da Lei Complementar nº 123/2006, todos os municípios e estados já teriam que regulamentar as leis e atos necessários para assegurar o imediato tratamento jurídico diferenciado, simplificado e favorecido às microempresas e empresas de pequeno porte.
Na esfera federal o exemplo foi dado, pois a regulamentação da parte que trata das compras públicas veio pela edição do Decreto nº 6.204, de 5 de setembro de 2007, e tem funcionado de forma satisfatória, razão pela qual podemos afirmar que o problema reside na regulamentação por parte dos municípios.
De forma individual e de acordo com cada caso concreto o empresário que se sentir lesado por não usufruir dos benefícios da legislação, como, por exemplo, vantagens em licitações púbicas, pode impetrar um Mandado de Segurança sob o fundamento de cometimento de ato resultante em improbidade administrativa por parte de prefeitos ou governadores.
Todavia, em que pese o caminho do contencioso judicial ser uma das vias para tentar solucionar o problema, os Membros do Fórum Permanente entenderam que devemos priorizar o caminho da mais ampla negociação com os Prefeitos e Câmaras Municipais antes de partirmos para qualquer ação judicial.
Em vista do exposto, as entidades integrantes do Fórum Permanente pretendem fazer uma trabalho de conscientização para implementação do Capítulo referente a “compras governamentais” da Lei Geral junto à Frente Nacional de Prefeitos, Confederação Nacional de Municípios e Associação Nacional de Municípios, de modo a viabilizar ações para promulgação desta lei em nível municipal.
Nesse sentido, salientamos que todas as Federações e Sindicatos do comércio que tiveram qualquer dúvida em relação à legislação das Micro e Pequenas Empresas, bem como tenham alguma sugestão de alteração ou aperfeiçoamento legislativo, poderá encaminhá-la a nossa entidade para que possamos trabalhar numa solução satisfatória.