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O MUNDO DA ARTE, DE ARTHUR C. DANTO, À LUZ DA TEORIA INSTITUCIONAL DA ARTE

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Academic year: 2021

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O MUNDO DA ARTE, DE ARTHUR C. DANTO, À LUZ DA TEORIA INSTITUCIONAL DA ARTE

Cristiane Silveira24 Universidade Federal do Paraná

RESUMO

O presente estudo visa compreender a noção de “mundo da arte” formulada pelo filósofo Arthur C. Danto, a partir da revisão provida no artigo “The Art World Revisited: Comedies of Similarities” (1992). No referido artigo, o autor refuta as chamadas “teorias institucionais da arte”, desenvolvidas a partir da década de 1960 após a publicação de seu célebre artigo “The Artworld” (1964). Neste movimento de refutação, Danto ajusta suas posições à luz das diferenças entre sua teoria do “mundo da arte” e a mais conhecida das versões institucionais, a “Teoria Institucional da Arte” do filósofo George Dickie.

Palavras-chave: Arthur C. Danto; mundo da arte; George Dickie; teoria institucional da arte.

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Doutoranda em História pela Universidade Federal do Paraná e Mestre em Filosofia pela mesma instituição. Contato: cristiane.silveira1@gmail.com.

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INTRODUÇÃO

No artigo “The Artworld”, publicado em 1964, o filósofo norte-americano Arthur C. Danto faz a identificação filosófica de um campo expansivo, a que denomina “mundo da arte” [artworld], formado por teorias artísticas e pela história da arte, cujo conhecimento se caracteriza como necessário para que possamos constituir algo como arte: “Ver alguma coisa como arte exige algo que o olho não pode perceber – uma atmosfera de teoria artística, um conhecimento da história da arte: um mundo da arte” (DANTO, 1964, p. 580). A operação retira o peso da percepção na recepção das obras de arte: ao afastar a ênfase sobre as propriedades manifestas e descontextualizadas, em favor de seu caráter cognitivo, ressalta os aspectos não-manifestos e dependentes do contexto histórico-social como decisivos para a aceitação de determinados objetos como obras de arte. A abordagem filosófica proposta por Danto, entretanto, dará origem, nos anos que se seguem, a um número de teorias que ficariam conhecidas como as “teorias institucionais da arte”. A mais célebre delas foi desenvolvida a partir de 1969 pelo filósofo norte-americano George Dickie. Em “Defining Art”, Dickie apresenta os elementos do que viria a ser a Teoria Institucional da Arte e o que acredita ser a explicitação do conteúdo da tese original de Danto. Para Dickie, o que “o olho não pode perceber” é uma complicada característica não manifesta dos artefatos em questão:

A “atmosfera” da qual Danto fala é elusiva, mas ela tem um conteúdo substancial. Talvez esse conteúdo possa ser capturado numa definição. Primeiro, irei declarar a definição para em seguida defendê-la. Uma obra de arte no sentido

descritivo é (1) um artefato (2) ao qual alguma sociedade ou algum subgrupo de uma sociedade tenha conferido o estatuto de candidato à apreciação.” (DICKIE, 1969, p.

254, grifo do autor, minha tradução).

A “atmosfera de teoria artística” aludida por Danto é investida de substância e caráter social na teoria de Dickie: “Assumindo que a artefatualidade é o gênero [genus] da arte, falta ainda a diferença. Esta segunda condição será uma propriedade social da arte. Além disso, esta propriedade social será [...] uma propriedade relacional não manifesta.” (DICKIE, 1969, pp. 253-254). Na mais conhecida versão de sua definição, publicada em 1974, uma obra de arte, no sentido classificatório, é “(1) um artefato (2) um conjunto dos aspectos pelos quais lhe tenha sido conferido o estatuto de candidato à apreciação por alguma pessoa ou pessoas agindo em nome de certa instituição social (o mundo da arte)” (DICKIE, 1974, p. 464).

Devido à grande repercussão obtida pelos escritos de Dickie e às menções feitas aos seus próprios escritos, Danto foi identificado como um dos fundadores da Teoria Institucional da Arte. Nas décadas de 1980 e 1990, o filósofo lança argumentos em refutação à teoria de Dickie, assim como rechaça as paridades que se lhes atribuem.25 Este estudo pretende mostrar, portanto, que nesse movimento de

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refutação, Danto ajusta suas posições à luz dessa suposta diferença entre sua teoria do “mundo da arte” e a Teoria Institucional de Dickie, de modo tal que, dessa comparação, é possível extrair elementos importantes para recompor sua própria noção de “mundo da arte”.

OBJETIVOS

O objetivo primário deste estudo é (i) compreender a noção de “mundo da arte” formulada pelo filósofo Arthur C. Danto. Para tanto, será necessário estabelecer (ii) a diferença entre os conceitos de “mundo da arte” apresentados por Arthur C. Danto e George Dickie; e (iii) a ênfase dada por Danto ao caráter cognitivista de seu conceito de “mundo da arte” com vistas a afastar as práticas envolvidas em sua tese dos simples decretos arbitrários proferidos por representantes da estrutura institucionalizada da arte.

MÉTODOS E RESULTADOS

Ainda que a Teoria Institucional tenha sido objeto de muita discussão filosófica, desde a publicação de sua primeira versão, é apenas no ensaio “The Art World Revisited: Comedies of Similarity”, publicado em 1992, que Danto retoma sua noção de “mundo da arte” e a reconstrói de modo a esclarecer os aspectos obscuros e que se tornaram proeminentes quando Dickie erigiu sua teoria a partir de “The Artworld”. Embora formado por elementos externos ao sujeito, i.e., as teorias artísticas e a

história da arte, desde a primeira versão, o “mundo da arte” é agora reafirmado como

“o mundo historicamente ordenado das obras de arte, emancipadas [enfranchised] por teorias que são, elas mesmas, historicamente ordenadas” (DANTO, 1992, p. 38).

Levando a termo a proposição de Dickie, segundo a qual os especialistas agem em nome de “uma certa instituição social” (1974), i.e., o “mundo da arte” da versão institucional, Danto (1992, p. 38) afirma que o “mundo da arte” de Dickie seria apenas o corpo de especialistas que confere o estatuto de arte a alguma coisa por meio de

uma declaração: “o mundo da arte decretou que a Brillo Box – mas não a caixa de

Brillo [Brillo box] – era uma ‘candidata à apreciação’, para usar a famosa expressão de George Dickie” (DANTO, 1992, p. 36). Danto afirma ainda que a teoria de Dickie implica num tipo de “elite dotada de autoridade [empowering elite]” que a assemelharia à Teoria Não Cognitivista do Discurso Moral (DANTO, 1992, p. 38). As declarações do especialista de Dickie, portanto, não podem ser analisadas em termos de seu conteúdo de verdade, já que se caracterizam pela ausência de tais critérios, de modo semelhante ao que acontece com as proposições morais da Teoria Não Cognitivista do Discurso Moral, cujos juízos expressam apenas as atitudes de aprovação, desaprovação, ou mesmo, desejo de quem os emite (van ROOJEN, 2009). Para Danto, ao menos no que concerne à revisão de 1992, é fundamental que tais proposições sejam passíveis de verdade e falsidade.

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Os esforços de Danto, presentes em “The Art World Revisited: Comedies of Similarity”, fonte principal do presente estudo, poderiam ser agrupados em dois movimentos estratégicos. No primeiro, Danto (i) acentua o caráter cognitivista de sua própria teoria de modo a afastá-la da sombra dos meros decretos proferidos por integrantes do “mundo da arte” e, no segundo, como consequência, (ii) defende que há um tipo adequado de interpretação que constitui objetos como obras de arte, caracterizada pela objetividade e pela produção de inferências históricas.

CONCLUSÃO

Ser uma obra de arte, para Arthur Danto, depende de um conjunto de razões

que constitui determinada coisa como tal e nada pode ser uma obra de arte fora desse sistema de fundamentação: “Uma distinção deve ser feita entre ter razões para crer que algo seja uma obra de arte e algo que se constitua como uma obra de arte de modo contingente às razões para que o seja”. Um “inspetor da Alfândega”, no exemplo oferecido por Danto (1992, p. 39), pode realmente usar o fato de que “o diretor de um museu nacional disse que alguma coisa é arte como uma razão para crer que ela o seja, simplesmente pela posição ocupada por diretores nas estruturas de especialização”, mas, afirma Danto, “a sua declaração de que aquela é uma obra de arte não é uma razão para que ela o seja”. Entretanto, completa o autor, “ser uma obra de arte é dependente de algum conjunto de razões, e nada pode ser uma obra de arte fora do sistema de razões que deu a ela aquele estatuto” (DANTO, 1992, p. 39, grifo do autor).

Este sistema de razões, Danto denomina “discurso de razões”, a real substância de seu “mundo da arte”. O “discurso de razões” é, ele próprio, um sistema fundado em causas que se referem ao momento artístico-histórico em que cada obra de arte surge em vista de todas as demais obras de arte já produzidas e das teorias artísticas que delas são inseparáveis e é esse sistema que constitui determinado objeto como obra de arte. Assim, o “mundo da arte” é o “discurso de razões institucionalizado”, i.e., o sistema que articula obras de arte e teorias artísticas, estruturado em caráter de relativa permanência e identificável por suas práticas. A estrutura de justificação proposta por Danto, portanto, e que singulariza sua teoria em relação à Teoria Institucional de George Dickie, consiste numa cadeia de regressão a crenças básicas, fundadas no campo da história e das teorias que as próprias obras veiculam.

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REFERÊNCIAS

DANTO, A. C. “The Artworld”. In: The Journal of Philosophy, Vol. 61, nº19, 15 de outubro de 1964, pp. 571-584.

______. “The Art World Revisited: Comedies of Similarities”. In: DANTO, Arthur C. Beyond the Brillo Box, Berkeley, Los Angeles: University of California Press, 1992, pp. 33-53.

DICKIE, George. “Defining Art”. In: American Philosophical Quarterly. Volume 6, Number 3, July 1969, pp. 253-256.

______. Art and the Aesthetic: An Institutional Analysis. Ithaca: Cornell University Press, 1974.

van ROOJEN, M., "Moral Cognitivism vs. Non-Cognitivism". In: The Stanford

Encyclopedia of Philosophy (Fall 2009 Edition), Edward N. Zalta (ed.), Disponível em:

<http://plato.stanford.edu/archives/fall2009/entries/moral-cognitivism/>. Acesso em: 17/05/2010.

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