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A ESCASSEZ DE PROFESSORES HABILITADOS EM FÍSICA NA REGIÃO DA AMAVI

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Academic year: 2021

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A ESCASSEZ DE PROFESSORES HABILITADOS EM FÍSICA NA REGIÃO DA AMAVI

Janice POCKSZEVNICKI; Otávio BOCHECO

Estudante de Graduação em Licenciatura em Física, IFC, bolsista do PIBID; Mestre em Ensino de Física,UFSC, professor orientador do IFC câmpus Rio do Sul.

INTRODUÇÃO

A carência de professores licenciados para atuar em algumas áreas disciplinares do ensino médio vem sendo objeto de discussão, tanto em artigos acadêmicos como na mídia. Aproximadamente, 55% dos professores atuantes em sala de aula não possuem formação específica na disciplina que lecionam. Em números, esse percentual chega próximo a 280 mil professores, em todo o Brasil.

Em relação a disciplina de física, além da falta de professores formados nas salas de aula, constata-se uma baixa procura por cursos de licenciatura. Pinto (2014) revela que apesar de haver escolas sem professores no Brasil, o número de licenciados formados entre 1990 a 2010 seria suficiente para atender a atual demanda por docentes em nosso país. No entanto, o desinteresse desses profissionais em seguir a carreira dentro das salas de aula cria tal demanda. De acordo com o autor, uma das atratividades da carreira docente seria o salário dos docentes, um dos piores do mundo, segundo pesquisa realizada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECDE, 2014). Esta pesquisa mostra que o salário dos professores brasileiros é extremamente baixo quando comparado a países desenvolvidos. Segundo a pesquisa, um professor em início de carreira que leciona em instituições públicas para o ensino fundamental e médio, no Brasil, recebe em média, 10.375 dólares por ano. Somente melhores salários, talvez, não resolva o interesse pela profissão. De acordo com Basso (2012, p.1) “[...] educadores atribuem o desinteresse aos baixos salários dos professores, ao estresse da profissão e à dificuldade intelectual de alguns cursos de graduação”. Portanto, um plano de carreira atrativo envolveria salários decentes e condições de trabalho compatíveis com a difícil tarefa de ensinar e complementar a educação dos jovens brasileiros.

Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, criado em 2008 pelo governo federal, visa atender as crescentes demandas por formação profissional, difundindo conhecimentos científicos e tecnológicos com ênfase no desenvolvimento socioeconômico local, regional e nacional. Quanto aos objetivos destas instituições cabe destacar a oferta de cursos superiores de licenciaturas, bem como programas especiais de formação pedagógica,

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com vistas na formação de professores para a educação básica, sobretudo nas áreas de ciências e matemática. Atualmente, o Instituto Federal Catarinense (IFC) – Campus Rio do Sul oferta o curso de licenciatura em Física, implantando desde 2011. São disponibilizadas 40 vagas anuais, via o Sistema de Seleção Unificada (SISU). O curso funciona em regime semestral, com aulas ocorrendo no período noturno, conta com uma excelente estrutura física de salas de aula, laboratórios didáticos e um corpo docente formado por mestres e doutores.

Uma das principais missões do curso é suprir a demanda local por professores de física, promovendo uma formação docente sólida em conhecimentos de física com domínio no âmbito conceitual, histórico, epistemológico, filosófico, didático e metodologias de ensino-aprendizagem.

A região do Alto Vale do Itajaí, onde está localizada a cidade de Rio do Sul, é formada por 28 municípios, cuja representatividade efetua-se pela Associação dos Municípios do Alto Vale do Itajaí (AMAVI). Somados, a população destes 28 municípios atinge, aproximadamente, 285 mil habitantes. Em termos educacionais, a Secretaria Estadual de Educação é dividida, administrativamente, em 4 Gerências Regionais de Educação (GERED), além das Secretarias Municipais de cada município.

Diante do cenário descrito acima, falta de professores de física e a missão do IFC-Rio do Sul em suprir esta demanda local, realizou-se uma pesquisa para mapear a situação quanto a demanda por professores de Física na região da AMAVI. Tal estudo foi executado dentro de uma das ações do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) e servirá de referência para a interpretação do cenário quanto as políticas públicas de contratação de professores de física na região da AMAVI. Também, será útil quanto as ações do curso de Física, ofertado no IFC-Rio do Sul.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Os dados foram coletados via contato direto com as escolas, através de email, telefone e visita in loco. Por meio da página da Secretaria de Estado da Educação, obteve-se o endereço eletrônico e telefone de cada instituição. Primeiramente, enviou-se uma mensagem, via correio eletrônico, solicitando o número de aulas de física na escola, o número de professores habilitados em física dentro e fora da sala de aula e o número de professores não-habilitados em física em sala de aula. Não havendo retorno no caso de algumas escolas,

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realizou-se uma segunda tentativa, via telefone, onde os resultados foram imediatos. Mesmo assim, houve casos em que o telefonema não foi atendido ou o responsável pelas informações não estava apto para o atendimento. Desta forma, realizou-se uma terceira tentativa através de uma visita in loco para a coleta dos dados.

Foram consultadas 49 escolas que ofertam ensino médio, separadas

administrativamente, por quatro Gerências de Educação (GERED) inseridas nos 28 municípios pertencentes a AMAVI.

RESULTADOS E DISCUSSÂO

No total, foram identificadas 790 aulas referentes à área de física no ensino médio. A distribuição destas aulas, número de professores habilitados e não habilitados, bem como o número de professores habilitados em sala de aula, por GERED, são apresentados nas tabelas, abaixo.

GERED IBIRAMA

M EEB NaF PhSA PnhSA PhFSA

M1 EEB1 10 0 1 0 M2 EEB2 14 1 0 0 EEB3 26 1 0 0 M3 EEB4 17 0 1 0 M4 EEB5 28 1 1 0 M5 EEB6 6 0 1 0 EEB7 22 1 0 1 EEB8 15 0 1 0 M6 EEB9 6 0 1 0 M7 EEB10 6 0 1 0 EEB11 10 0 1 1 M8 EEB12 10 0 1 0 TOTAL 170 4 9 2

GERED RIO do SUL

M EEB NaF PhSA PnhSA PhFSA

M1 EEB1 20 1 0 0 EEB2 10 0 1 0 M2 EEB3 12 1 0 0 M3 EEB4 12 0 1 0 M4 EEB5 14 1 1 0 M5 EEB6 16 1 0 0 EEB7 4 0 1 0 M6 EEB8 10 0 1 1 EEB9 10 1 0 0 EEB10 16 1 0 0 EEB11 14 1 0 0 EEB12 45 2 0 1 EEB13 36 1 1 1 EEB14 8 1 0 0 EEB15 24 2 0 0 M7 EEB16 18 1 0 1 TOTAL 269 14 6 4 GERED ITUPORANGA

M EEB NaF PhSA PnhSA PhFSA

M1 EEB1 8 0 1 0 M2 EEB2 20 1 0 0 M3 EEB3 16 0 1 0 M4 EEB4 16 0 1 0 M5 EEB5 12 0 1 0 EEB6 38 0 1 1 EEB7 10 0 1 1 EEB8 10 0 1 0 M6 EEB9 24 0 1 1 EEB10 18 0 1 1 M7 EEB11 20 1 0 0 TOTAL 192 2 9 4 GERED TAIÓ

M EEB NaF PhSA PnhSA PhFSA

M1 EEB1 15 1 1 1 M2 EEB2 12 0 1 0 EEB3 24 0 1 0 EEB4 3 0 1 0 M3 EEB5 16 1 0 0 M4 EEB6 20 1 0 0 M5 EEB7 8 0 1 1 EEB8 16 0 1 0 M6 EEB9 21 1 1 0 EEB10 24 2 0 0 TOTAL 159 6 7 2 Legenda M = Município

EEB = Escola de Educação Básica NaF = Nº de aulas de Física

PhSA = Profº habilitado em Física em Sala de Aula PnhSA = Profº não-habilitado em Física em Sala de Aula PhFSA = Profº habilitado em Física fora da Sala de Aula

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Fica visível através das tabelas que a maioria dos professores que leciona as aulas de Física não são habilitados na área. Observa-se um total de 31 professores não habilitados perante 26 professores habilitados, em sala de aula.

As tabelas denunciam que, em muitos casos, como por exemplo na GERED de Rio do Sul, na EEB5, existem aulas de Física disponíveis no momento, porém verifica-se que as mesmas estão sendo ministradas por 2 professores, um habilitado e outro não habilitado. Caso semelhante ocorre na GERED de Ibirama, onde na EEB5, as 28 aulas disponíveis são lecionadas por dois professores, sendo um habilitado e outro não habilitado, também. Poderíamos citar outros casos visíveis nas tabelas, inclusive situações em que todas as aulas, disponíveis na escola, são ministradas por um professor não habilitado porque a instituição não conta com professor licenciado em Física.

Não há dúvida que isto pode comprometer a qualidade do ensino de Física, almejado nos tempos atuais. É muito provável que um professor não habilitado opte por um ensino focado em aplicações de fórmulas e/ou definições matemáticas. Longe de um ensino de Física conceitual e contextualizado, que leve o estudante a enxergar esta ciência nos fenômenos presentes no seu entorno sócio-cultural.

Outro caso diagnosticado foi na GERED de Ituporanga, na EEB6, onde as 38 aulas de Física disponíveis são ministradas por um professor não habilitado, enquanto que o professor habilitado ocupa um cargo fora da sala de aula. Apesar de delicada, faz parte do magistério este tipo de situação. O funcionamento de uma escola depende da gestão e esta proporciona cargos e funções exercidos por docentes, que, naturalmente, se afastam das salas de aula para colaborar em outros setores. O ideal seria que esta reposição se efetuasse mediante a contratação de professores habilitados, no entanto, a escassez de profissionais licenciados em

Física na região da AMAVI1 não permite tal façanha.

De acordo com as aulas de Física disponíveis até então, constatou-se que apenas a GERED de Rio do Sul dispõe de um bom número de professores habilitados atuando em sala de aula, cerca de 70% dos professores, seguido da GERED de Taió, com aproximadamente 46,15%. Os professores habilitados da GERED de Ibirama atingem cerca de 30,8% e na GERED de Ituporanga verificou-se que apenas 18,2% dos professores que atuam em sala de aula possuem formação específica na área de Física.

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Além disso, sabe-se que um professor habilitado só pode se efetivar em apenas uma escola, com contrato de 10, 20, 30 ou 40 horas. Portanto, se 49 escolas proporcionam aulas de Física na região da AMAVI, seria necessário, no mínimo, 49 professores habilitados em Física para compor o quadro de professores das quatro GERED’s supracitadas. Ao colocarmos na conta a recomposição deste quadro, por conta de licenças ou afastamento das salas de aula por conta da gestão, a demanda seria ainda maior.

Estes dados reforçam e ampliam a importância e justificativa em se manter a oferta e o investimento na formação de professores de Física no IFC – Campus Rio do Sul.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sabendo que o IFC tem a missão de suprir as necessidades regionais e mediante aos resultados obtidos com a pesquisa sobre as aulas de Física nos municípios associados na AMAVI, conclui-se que a instituição citada é de fundamental importância para toda a região, pois é evidente a carência de professores licenciados em Física e deste modo, torna-se preocupante a forma que os alunos do Ensino Médio estão aprendendo Física. É provável que muitos acabam perdendo o interesse pela disciplina por não terem aprendido realmente a Física e, assim, não a identificarem presente em seu cotidiano, acabam por acreditar que a Física é só mais uma disciplina de cálculos e aplicação de fórmulas.

REFERÊNCIAS

BASSO, M. Professores de áreas como Física e Matemática estão em extinção. 16/09/2012. Disponível em

<http://osoldiario.clicrbs.com.br/sc/noticia/2012/09/professores-de-areas-como-fisica-e-matematica-estao-em-extincao-3887424.html>. Acesso em

09/03/2015.

OCDE. (2014). Education at a Glance 2014 – Home. France: OECD. Disponível em: http://www.oecd.org/edu/Education-at-a-Glance-2014.pdf. Acesso em 07 de julho de 2015. PINTO, J. M. R. O que explica a falta de professores nas escolas brasileiras? Jornal de Políticas Educacionais. N° 15 | Janeiro-Junho de 2014 | PP. 03–12.

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