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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.797.991 - PR (2019/0044742-7)

RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI

RECORRENTE : SUL AMERICA COMPANHIA NACIONAL DE SEGUROS ADVOGADOS : JOÃO FILIPE PARPINELLI - RS090570

ENEIDA DE CASSIA CAMARGO - PR044759

PAULO ANTONIO MULLER - PR067090

MARCO AURELIO MELLO MOREIRA - PR088898

RECORRIDO : JOSÉ MARIA

RECORRIDO : JUMARIO ALVES DA CRUZ RECORRIDO : JURACI MEDEIROS LEAL RECORRIDO : LEA APARECIDA DOS SANTOS RECORRIDO : LIANE DE FATIMA GUIMARAES RECORRIDO : LOURIVAL DOS SANTOS BUENO RECORRIDO : LOURIVAL JOSE DE SOUZA RECORRIDO : MARIA CANDIDA DA SILVA RECORRIDO : MARIA DA LUZ BUENO RECORRIDO : MARIA NEUZA COIMBRA

RECORRIDO : MARGARIDA DE SOUZA CASTRO RECORRIDO : NELSON TEMPS

RECORRIDO : OSMAR DOS ANJOS PAES RECORRIDO : PAULO BUENO ALVES RECORRIDO : PEDRO DA LUZ

RECORRIDO : PEDRO RAIMUNDO DOS SANTOS

RECORRIDO : REGINA DE JESUS BITTENCOURT PEREIRA RECORRIDO : ROSA APARECIDA ARAUJO DA SILVA RECORRIDO : SEBASTIAO PULIN DE OLIVEIRA RECORRIDO : TEREZINA SCHARAIBER DOS SANTOS ADVOGADO : DIOGO LUIZ MARTINS - SC016857 INTERES. : CAIXA ECONÔMICA FEDERAL

EMENTA

CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE RESPONSABILIDADE OBRIGACIONAL SECURITÁRIA. DECISÃO INTERLOCUTÓRIA QUE ADMITE A INTERVENÇÃO DE TERCEIRO E DECLINA DA COMPETÊNCIA PARA A JUSTIÇA FEDERAL. RECORRIBILIDADE IMEDIATA. ART. 1.015, IX, DO CPC/15. PRONUNCIAMENTO JUDICIAL DE DUPLO CONTEÚDO. CRITÉRIOS DE EXAME. INTERVENÇÃO DE TERCEIRO QUE É O ELEMENTO PREPONDERANTE DA DECISÃO JUDICIAL. ESTABELECIMENTO DE RELAÇÃO DE ANTECEDENTE-CONSEQUENTE. IMPUGNAÇÃO ADEQUADA DA PARTE, QUE SE VOLTA ESSENCIALMENTE AOS MOTIVOS PELOS QUAIS A INTERVENÇÃO É NECESSÁRIA EM RELAÇÃO A TODAS AS PARTES. DELIBERAÇÃO SOBRE O DESLOCAMENTO DA COMPETÊNCIA QUE É DECORRÊNCIA LÓGICA,

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Superior Tribunal de Justiça

EVIDENTE E AUTOMÁTICA DO EXAME DA QUESTÃO PREPONDERANTE.

1- Ação proposta em 14/08/2009. Recurso especial interposto em 21/08/2018 e atribuído à Relatora em 12/03/2019.

2- O propósito recursal é definir se a decisão interlocutória que versa, a um só tempo, sobre a intervenção de um terceiro com o consequente deslocamento da competência para justiça distinta é impugnável desde logo por agravo de instrumento fundado na regra do art. 1.015, IX, do CPC/15. 3- O pronunciamento jurisdicional que admite ou inadmite a intervenção de terceiro e que, em virtude disso, modifica ou não a competência, possui natureza complexa, pois reúne, na mesma decisão judicial, dois conteúdos que, a despeito de sua conexão, são ontologicamente distintos e suscetíveis de inserção em compartimentos estanques.

4- Em se tratando de decisão interlocutória com duplo conteúdo – intervenção de terceiro e competência – é possível estabelecer, como critérios para a identificação do cabimento do recurso com base no art. 1.015, IX, do CPC/15: (i) o exame do elemento que prepondera na decisão; (ii) o emprego da lógica do antecedente-consequente e da ideia de questões prejudiciais e de questões prejudicadas; (iii) o exame do conteúdo das razões recursais apresentadas pela parte irresignada.

5- Aplicando-se tais critérios à hipótese em exame, verifica-se que: (i) a intervenção de terceiro exerce relação de dominância sobre a competência, porque somente se cogita a alteração de competência do órgão julgador se houver a admissão ou inadmissão do terceiro apto a provocar essa modificação; (ii) a intervenção de terceiro é o antecedente que leva, consequentemente, ao exame da competência, induzindo a um determinado resultado – se deferido o ingresso do terceiro sujeito à competência prevista no art. 109, I, da Constituição Federal, haverá alteração da competência para a Justiça Federal e, se indeferido o ingresso do terceiro sujeito à competência prevista no art. 109, I, da Constituição Federal, haverá a manutenção da competência na Justiça Estadual; (iii) a irresignação da parte recorrente está no fato de que o interesse jurídico que justificaria a intervenção da Caixa Econômica Federal existiria em relação a todas as partes e não em relação a somente algumas, tendo sido declinados os fundamentos de fato e de direito correspondentes a essa pretensão e apontado que a remessa do processo para a Justiça Federal teria como consequência uma série de prejuízos de índole processual.

6- Recurso especial conhecido e provido.

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Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas constantes dos autos, por unanimidade, conhecer e dar provimento ao recurso especial nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Paulo de Tarso Sanseverino, Marco Aurélio Bellizze e Moura Ribeiro votaram com a Sra. Ministra Relatora. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva.

Brasília (DF), 18 de junho de 2019(Data do Julgamento)

MINISTRA NANCY ANDRIGHI Relatora

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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.797.991 - PR (2019/0044742-7)

RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI

RECORRENTE : SUL AMERICA COMPANHIA NACIONAL DE SEGUROS ADVOGADOS : JOÃO FILIPE PARPINELLI - RS090570

ENEIDA DE CASSIA CAMARGO - PR044759

PAULO ANTONIO MULLER - PR067090

MARCO AURELIO MELLO MOREIRA - PR088898

RECORRIDO : JOSÉ MARIA

RECORRIDO : JUMARIO ALVES DA CRUZ RECORRIDO : JURACI MEDEIROS LEAL RECORRIDO : LEA APARECIDA DOS SANTOS RECORRIDO : LIANE DE FATIMA GUIMARAES RECORRIDO : LOURIVAL DOS SANTOS BUENO RECORRIDO : LOURIVAL JOSE DE SOUZA RECORRIDO : MARIA CANDIDA DA SILVA RECORRIDO : MARIA DA LUZ BUENO RECORRIDO : MARIA NEUZA COIMBRA

RECORRIDO : MARGARIDA DE SOUZA CASTRO RECORRIDO : NELSON TEMPS

RECORRIDO : OSMAR DOS ANJOS PAES RECORRIDO : PAULO BUENO ALVES RECORRIDO : PEDRO DA LUZ

RECORRIDO : PEDRO RAIMUNDO DOS SANTOS

RECORRIDO : REGINA DE JESUS BITTENCOURT PEREIRA RECORRIDO : ROSA APARECIDA ARAUJO DA SILVA RECORRIDO : SEBASTIAO PULIN DE OLIVEIRA RECORRIDO : TEREZINA SCHARAIBER DOS SANTOS ADVOGADO : DIOGO LUIZ MARTINS - SC016857 INTERES. : CAIXA ECONÔMICA FEDERAL

RELATÓRIO

A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relatora):

Cuida-se de recurso especial interposto por SUL AMÉRICA

COMPANHIA NACIONAL DE SEGUROS, com base nas alíneas “a” e “c” do

permissivo constitucional, em face de acórdão do TJ/PR que, por unanimidade,

negou provimento ao agravo interno interposto em face da decisão unipessoal que

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não conheceu do agravo de instrumento interposto pelo recorrente.

Recurso especial interposto e m: 21/08/2018.

Atribuído ao gabinete e m: 12/03/2019.

Ação: de responsabilidade obrigacional securitária ajuizada pelos

recorridos em face da recorrente.

Decisão interlocutória: pronunciou no sentido de que “a Caixa

Econômica Federal manifestou interesse em integrar a presente demanda em

relação aos autores José Maria, Juracy Medeiros Leal e Lea Aparecida dos Santos”,

motivo pelo qual “reconheço a incompetência desta Juízo Estadual para processar

e julgar a demanda, declinando-a em favor da Justiça Federal, nos termos do art.

109, inc. I, da Constituição Federal”, determinando-se, ainda, “o desmembramento

destes autos em relação aos autores acima citados” e a remessa dos autos à Vara

Federal da Subseção Judiciária de Telêmaco Borba após o prazo legal e desde que

ausente recurso (fls. 854/855, e-STJ).

Acórdão: por unanimidade, negou provimento ao agravo interno

interposto em face da decisão unipessoal que não conheceu do agravo de

instrumento interposto pelo recorrente, nos termos da seguinte ementa:

AGRAVO INTERNO – AÇÃO DE COBRANÇA – RESPONSABILIDADE SECURITÁRIA – SEGURO HABITACIONAL – INTERVENÇÃO DE TERCEIRO – DISCUSSÃO QUE TRATA, EM VERDADE, DA COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO DO FEITO – NÃO CONHECIMENTO DA REFERIDA MATÉRIA – HIPÓTESE NÃO PREVISTA NO ROL TAXATIVO DO ART. 1.015 DO NCPC – DECISÃO MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO.

O art. 1.015 do NCPC trouxe rol taxativo das hipóteses de cabimento do agravo de instrumento. Considerando que nenhuma delas abrange decisão que versa sobre competência absoluta da matéria, o tema não comporta conhecimento. (fls. 924/931, e-STJ).

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Superior Tribunal de Justiça

rejeitados, por unanimidade (fls. 945/952, e-STJ).

Recurso especial: alega-se violação ao art. 1.015, IX, do CPC/15,

bem como dissídio jurisprudencial, ao fundamento de que o objeto de sua

irresignação não é a competência para processar e julgar a ação em 1º grau, mas,

sim, os motivos pelos quais foi reconhecida a existência de interesse da Caixa

Econômica Federal em relação a apenas uma parcela dos autores e não em relação

aos demais (fls. 955/966, e-STJ).

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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.797.991 - PR (2019/0044742-7)

RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI

RECORRENTE : SUL AMERICA COMPANHIA NACIONAL DE SEGUROS ADVOGADOS : JOÃO FILIPE PARPINELLI - RS090570

ENEIDA DE CASSIA CAMARGO - PR044759

PAULO ANTONIO MULLER - PR067090

MARCO AURELIO MELLO MOREIRA - PR088898 RECORRIDO : JOSÉ MARIA

RECORRIDO : JUMARIO ALVES DA CRUZ RECORRIDO : JURACI MEDEIROS LEAL RECORRIDO : LEA APARECIDA DOS SANTOS RECORRIDO : LIANE DE FATIMA GUIMARAES RECORRIDO : LOURIVAL DOS SANTOS BUENO RECORRIDO : LOURIVAL JOSE DE SOUZA RECORRIDO : MARIA CANDIDA DA SILVA RECORRIDO : MARIA DA LUZ BUENO RECORRIDO : MARIA NEUZA COIMBRA

RECORRIDO : MARGARIDA DE SOUZA CASTRO RECORRIDO : NELSON TEMPS

RECORRIDO : OSMAR DOS ANJOS PAES RECORRIDO : PAULO BUENO ALVES RECORRIDO : PEDRO DA LUZ

RECORRIDO : PEDRO RAIMUNDO DOS SANTOS

RECORRIDO : REGINA DE JESUS BITTENCOURT PEREIRA RECORRIDO : ROSA APARECIDA ARAUJO DA SILVA RECORRIDO : SEBASTIAO PULIN DE OLIVEIRA RECORRIDO : TEREZINA SCHARAIBER DOS SANTOS ADVOGADO : DIOGO LUIZ MARTINS - SC016857 INTERES. : CAIXA ECONÔMICA FEDERAL

EMENTA

CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE RESPONSABILIDADE OBRIGACIONAL SECURITÁRIA. DECISÃO INTERLOCUTÓRIA QUE ADMITE A INTERVENÇÃO DE TERCEIRO E DECLINA DA COMPETÊNCIA PARA A JUSTIÇA FEDERAL. RECORRIBILIDADE IMEDIATA. ART. 1.015, IX, DO CPC/15. PRONUNCIAMENTO JUDICIAL DE DUPLO CONTEÚDO. CRITÉRIOS DE EXAME. INTERVENÇÃO DE TERCEIRO QUE É O ELEMENTO PREPONDERANTE DA DECISÃO JUDICIAL. ESTABELECIMENTO DE RELAÇÃO DE ANTECEDENTE-CONSEQUENTE. IMPUGNAÇÃO ADEQUADA DA PARTE, QUE SE VOLTA ESSENCIALMENTE AOS MOTIVOS PELOS QUAIS A INTERVENÇÃO É NECESSÁRIA EM RELAÇÃO A TODAS AS PARTES. DELIBERAÇÃO SOBRE O DESLOCAMENTO DA COMPETÊNCIA QUE É DECORRÊNCIA LÓGICA, EVIDENTE E AUTOMÁTICA DO EXAME DA QUESTÃO PREPONDERANTE.

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Superior Tribunal de Justiça

1- Ação proposta em 14/08/2009. Recurso especial interposto em 21/08/2018 e atribuído à Relatora em 12/03/2019.

2- O propósito recursal é definir se a decisão interlocutória que versa, a um só tempo, sobre a intervenção de um terceiro com o consequente deslocamento da competência para justiça distinta é impugnável desde logo por agravo de instrumento fundado na regra do art. 1.015, IX, do CPC/15. 3- O pronunciamento jurisdicional que admite ou inadmite a intervenção de terceiro e que, em virtude disso, modifica ou não a competência, possui natureza complexa, pois reúne, na mesma decisão judicial, dois conteúdos que, a despeito de sua conexão, são ontologicamente distintos e suscetíveis de inserção em compartimentos estanques.

4- Em se tratando de decisão interlocutória com duplo conteúdo – intervenção de terceiro e competência – é possível estabelecer, como critérios para a identificação do cabimento do recurso com base no art. 1.015, IX, do CPC/15: (i) o exame do elemento que prepondera na decisão; (ii) o emprego da lógica do antecedente-consequente e da ideia de questões prejudiciais e de questões prejudicadas; (iii) o exame do conteúdo das razões recursais apresentadas pela parte irresignada.

5- Aplicando-se tais critérios à hipótese em exame, verifica-se que: (i) a intervenção de terceiro exerce relação de dominância sobre a competência, porque somente se cogita a alteração de competência do órgão julgador se houver a admissão ou inadmissão do terceiro apto a provocar essa modificação; (ii) a intervenção de terceiro é o antecedente que leva, consequentemente, ao exame da competência, induzindo a um determinado resultado – se deferido o ingresso do terceiro sujeito à competência prevista no art. 109, I, da Constituição Federal, haverá alteração da competência para a Justiça Federal e, se indeferido o ingresso do terceiro sujeito à competência prevista no art. 109, I, da Constituição Federal, haverá a manutenção da competência na Justiça Estadual; (iii) a irresignação da parte recorrente está no fato de que o interesse jurídico que justificaria a intervenção da Caixa Econômica Federal existiria em relação a todas as partes e não em relação a somente algumas, tendo sido declinados os fundamentos de fato e de direito correspondentes a essa pretensão e apontado que a remessa do processo para a Justiça Federal teria como consequência uma série de prejuízos de índole processual.

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RECURSO ESPECIAL Nº 1.797.991 - PR (2019/0044742-7)

RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI

RECORRENTE : SUL AMERICA COMPANHIA NACIONAL DE SEGUROS ADVOGADOS : JOÃO FILIPE PARPINELLI - RS090570

ENEIDA DE CASSIA CAMARGO - PR044759

PAULO ANTONIO MULLER - PR067090

MARCO AURELIO MELLO MOREIRA - PR088898 RECORRIDO : JOSÉ MARIA

RECORRIDO : JUMARIO ALVES DA CRUZ RECORRIDO : JURACI MEDEIROS LEAL RECORRIDO : LEA APARECIDA DOS SANTOS RECORRIDO : LIANE DE FATIMA GUIMARAES RECORRIDO : LOURIVAL DOS SANTOS BUENO RECORRIDO : LOURIVAL JOSE DE SOUZA RECORRIDO : MARIA CANDIDA DA SILVA RECORRIDO : MARIA DA LUZ BUENO RECORRIDO : MARIA NEUZA COIMBRA

RECORRIDO : MARGARIDA DE SOUZA CASTRO RECORRIDO : NELSON TEMPS

RECORRIDO : OSMAR DOS ANJOS PAES RECORRIDO : PAULO BUENO ALVES RECORRIDO : PEDRO DA LUZ

RECORRIDO : PEDRO RAIMUNDO DOS SANTOS

RECORRIDO : REGINA DE JESUS BITTENCOURT PEREIRA RECORRIDO : ROSA APARECIDA ARAUJO DA SILVA RECORRIDO : SEBASTIAO PULIN DE OLIVEIRA RECORRIDO : TEREZINA SCHARAIBER DOS SANTOS ADVOGADO : DIOGO LUIZ MARTINS - SC016857 INTERES. : CAIXA ECONÔMICA FEDERAL

VOTO

A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relatora):

O propósito recursal é definir se a decisão interlocutória que versa, a

um só tempo, sobre a intervenção de um terceiro com o consequente

deslocamento da competência para justiça distinta é impugnável desde logo por

agravo de instrumento fundado na regra do art. 1.015, IX, do CPC/15.

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Superior Tribunal de Justiça

1. DA IRRECORRIBILIDADE DA DECISÃO INTERLOCUTÓRIA

QUE

DEFERE

OU

INDEFERE

INGRESSO

DE

TERCEIRO

E,

CONSEQUENTEMENTE, DESLOCA OU NÃO A COMPETÊNCIA. ART. 1.015,

IX, DO CPC/15.

Em primeiro lugar, sublinhe-se que a Corte Especial do Superior

Tribunal de Justiça, por ocasião do julgamento dos recursos especiais

representativos da controvérsia nº 1.696.396/MT e 1.704.520/MT, ambos com

acórdãos publicados no DJe de 19/12/2018, pronunciou-se expressamente pela

impossibilidade de uso da interpretação extensiva e da analogia para alargar as

hipóteses de cabimento do recurso de agravo de instrumento.

Anote-se, aliás, que houve unanimidade da Corte Especial nesse

particular, na medida em que os e. Ministros que foram contrários à tese

vencedora se filiaram ao entendimento de que o rol do art. 1.015 do CPC/15 era

taxatividade irrestrita, negando, por consequência, a possibilidade de

interpretação extensiva ou de analogia.

A tese veiculada no recurso especial, contudo, não está fundada na

extensão ou na analogia, mas, sim, no próprio conteúdo e na incidência, na

hipótese, da regra contida no art. 1.015, IX, do CPC/15, que assim dispõe, in verbis:

Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre:

IX – admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;

De um lado, não há dúvida acerca da recorribilidade imediata, por

agravo de instrumento, da decisão interlocutória que versa exclusivamente sobre a

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Superior Tribunal de Justiça

CPC/15, hipótese que se justifica, como bem destacam Nelson Nery Jr. e Rosa

Maria de Andrade Nery, no fato de que os limites subjetivos da coisa julgada

necessariamente precisam estar definidos na época da prolação da sentença de

mérito. (NERY JR., Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de Processo Civil

Comentado. 16ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. p. 2.240).

De outro lado, também não há dúvida de que a decisão interlocutória

publicada após 19/12/2018 e que versa exclusivamente sobre competência será,

igualmente, recorrível de imediato por agravo de instrumento com base na tese

jurídica da taxatividade mitigada (tema 988), especialmente quando se verifica que

o precedente vinculante se formou a partir de recursos especiais que envolviam,

justamente, competência.

A questão controvertida está na hipótese de um pronunciamento

judicial de natureza complexa, que, acolhendo ou rejeitando a intervenção do

terceiro, também se pronuncia sobre a necessidade, ou não, de modificação da

competência em virtude da referida intervenção.

Dada a ausência de doutrina que tenha tratado especificamente desse

tema, é preciso construir e estabelecer critérios decisórios para a solução da

questão, tendo como fundamento, sobretudo, o conteúdo de cada

pronunciamento judicial.

Nesse particular, anote-se que, embora exista uma profunda

imbricação entre os conteúdos de cada parcela do pronunciamento jurisdicional

em exame – intervenção de terceiro e competência – é possível inseri-los em

compartimentos estanques e perfeitamente definidos para, a partir daí,

estabelecer a natureza da conexão havida entre eles.

O primeiro critério que se pode fixar diz respeito a preponderância

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Superior Tribunal de Justiça

pronunciamento judicial é mais relevante, critério que se pode importar, por

analogia, da classificação das ações delineada por Pontes de Miranda.

A partir desse critério, conclui-se que a intervenção de terceiro

exerce relação de dominância sobre a competência, sobretudo porque, na

hipótese, somente se pode cogitar de uma alteração de competência do órgão

julgador se – e apenas se – houver a admissão ou inadmissão do terceiro apto a

provocar essa modificação.

Daí decorre, inclusive, o segundo critério que se pode estabelecer

para solver a controvérsia, calcado na lógica do antecedente-consequente e na

ideia das questões prejudiciais e das questões prejudicadas que se pode

emprestar da própria ciência processual, em que se verifica se a primeira matéria –

intervenção de terceiro – influencia o modo de se decidir a segunda matéria –

competência.

No ponto, conclui-se que a intervenção de terceiro é o antecedente

que leva, consequentemente, ao exame da competência, induzindo a um

determinado resultado – se deferido o ingresso do terceiro sujeito à competência

prevista no art. 109, I, da Constituição Federal, haverá alteração da competência

para a Justiça Federal; se indeferido o ingresso do terceiro sujeito à competência

prevista no art. 109, I, da Constituição Federal, haverá manutenção da

competência na Justiça Estadual.

É também relevante examinar, nesse contexto, o foco da irresignação

da parte agravante em suas razões recursais para que se conclua pela incidência do

art. 1.015, IX, do CPC/15, ou seja, se a impugnação se dirige precipuamente para a

questão da intervenção de terceiro ou para a questão da competência.

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Superior Tribunal de Justiça

Econômica Federal manifestou interesse em integrar a presente demanda em

relação aos autores José Maria, Juracy Medeiros Leal e Lea Aparecida dos Santos”

e que esse é o motivo pelo qual se conclui pela incompetência do Juízo Estadual

somente em relação especificamente a esses autores-recorridos.

Nas razões recursais de fls. 4/30 (e-STJ), verifica-se que,

diferentemente do que se consignou no acórdão recorrido, o foco da irresignação

é o fato de que o interesse jurídico que justificaria a intervenção da Caixa

Econômica Federal existiria em relação a todos os autores-recorridos e

não somente àqueles acima nominadas, declinando o recorrente os fundamentos

de fato e de direito correspondentes a essa pretensão e apontando –

sucintamente, a propósito – que a remessa do processo para a Justiça Federal teria

como consequência uma série de prejuízos de índole processual.

Finalmente, registre-se que não há óbice ao enfrentamento da

questão controvertida em virtude do reconhecimento de repercussão geral pelo

Supremo Tribunal Federal no RE 827.996/PR (tema 1011, definido como

“controvérsia relativa à existência de interesse jurídico da Caixa Econômica

Federal para ingressar como parte ou terceira interessada nas ações envolvendo

seguros de mútuo habitacional no âmbito do Sistema Financeiro de Habitação e,

consequentemente, à competência da Justiça Federal para o processamento e o

julgamento das ações dessa natureza”).

A uma, porque não houve determinação de suspensão de todos

os processos pendentes que envolvam a mesma questão de direito e, a duas,

porque até que se defina a questão no âmbito do Supremo Tribunal Federal, vigora

o entendimento de que a intervenção da Caixa Econômica Federal, quando

cabível, se dá na modalidade de assistência simples, que é espécie do gênero

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Superior Tribunal de Justiça

14/12/2012).

Em síntese, por qualquer ângulo que se examine a controvérsia,

conclui-se que a decisão que versa sobre a admissão ou inadmissão de

terceiro é recorrível de imediato por agravo de instrumento fundado no art.

1.015, IX, do CPC/15, ainda que da intervenção resulte modificação ou não da

competência, que, nesse contexto, é uma decorrência lógica, evidente e

automática do exame da questão principal.

2. CONCLUSÃO

Forte nessas razões, CONHEÇO e DOU PROVIMENTO ao recurso

especial, determinando o retorno do processo ao TJ/PR para que, afastado o óbice

do cabimento, examine a presença dos demais pressupostos de admissibilidade e,

se admissível o agravo de instrumento, examine a alegação de que deveria a Caixa

Econômica Federal intervir também em relação aos demais recorridos.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO TERCEIRA TURMA

Número Registro: 2019/0044742-7 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.797.991 / PR

Números Origem: 00040693520098160165 00068809420178160000 06181088 16586315 1658631501 1658631502 1658631503 40693520098160165 6181088 68809420178160000 9157688 915768801

PAUTA: 18/06/2019 JULGADO: 18/06/2019

Relatora

Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI Presidente da Sessão

Exmo. Sr. Ministro MOURA RIBEIRO Subprocuradora-Geral da República

Exma. Sra. Dra. MARIA SOARES CAMELO CORDIOLI Secretário

Bel. WALFLAN TAVARES DE ARAUJO

AUTUAÇÃO

RECORRENTE : SUL AMERICA COMPANHIA NACIONAL DE SEGUROS

ADVOGADOS : JOÃO FILIPE PARPINELLI - RS090570

ENEIDA DE CASSIA CAMARGO - PR044759 PAULO ANTONIO MULLER - PR067090

MARCO AURELIO MELLO MOREIRA - PR088898

RECORRIDO : JOSÉ MARIA

RECORRIDO : JUMARIO ALVES DA CRUZ

RECORRIDO : JURACI MEDEIROS LEAL

RECORRIDO : LEA APARECIDA DOS SANTOS

RECORRIDO : LIANE DE FATIMA GUIMARAES

RECORRIDO : LOURIVAL DOS SANTOS BUENO

RECORRIDO : LOURIVAL JOSE DE SOUZA

RECORRIDO : MARIA CANDIDA DA SILVA

RECORRIDO : MARIA DA LUZ BUENO

RECORRIDO : MARIA NEUZA COIMBRA

RECORRIDO : MARGARIDA DE SOUZA CASTRO

RECORRIDO : NELSON TEMPS

RECORRIDO : OSMAR DOS ANJOS PAES

RECORRIDO : PAULO BUENO ALVES

RECORRIDO : PEDRO DA LUZ

RECORRIDO : PEDRO RAIMUNDO DOS SANTOS

RECORRIDO : REGINA DE JESUS BITTENCOURT PEREIRA

RECORRIDO : ROSA APARECIDA ARAUJO DA SILVA

RECORRIDO : SEBASTIAO PULIN DE OLIVEIRA

RECORRIDO : TEREZINA SCHARAIBER DOS SANTOS

ADVOGADO : DIOGO LUIZ MARTINS - SC016857

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Superior Tribunal de Justiça

ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Obrigações - Espécies de Contratos - Sistema Financeiro da Habitação - Seguro

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

A Terceira Turma, por unanimidade, conheceu e deu provimento ao recurso especial, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora.

Os Srs. Ministros Paulo de Tarso Sanseverino, Marco Aurélio Bellizze e Moura Ribeiro (Presidente) votaram com a Sra. Ministra Relatora.

Referências

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