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A fotografia na Arquivologia: o estudo de caso no acervo do fotógrafo Kurt Klagsbrunn

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE - UFF INSTITUTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO SOCIAL - IACS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO - GCI CURSO DE ARQUIVOLOGIA

CARLOS HENRIQUE LOYOLA NOVAES

A FOTOGRAFIA NA ARQUIVOLOGIA:

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CARLOS HENRIQUE LOYOLA NOVAES

A FOTOGRAFIA NA ARQUIVOLOGIA:

o estudo de caso no acervo do fotógrafo Kurt Klagsbrunn

Orientador Acadêmico

Profª. Lindalva Rosinete Silva Neves

Niterói 2016/2

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CARLOS HENRIQUE LOYOLA NOVAES

A FOTOGRAFIA NA ARQUIVOLOGIA:

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Dedico este trabalho a minha família e amigos, que sempre foram a minha base nas horas mais difíceis.

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AGRADECIMENTOS

Começar esse pequeno texto é relembrar brevemente minha trajetória até aqui. Desde o pré popular da UFF na Praia Vermelha em meados de 2011 até o ingresso na faculdade em 2012, assusta um pouco saber que nesse final de 2016 tudo está chegando ao fim. Um ciclo está terminando e esse ciclo só foi possível graças às pessoas que me ajudaram a percorrer esta jornada. Meus pais, minhas avós, meus irmãos e meus amigos foram essenciais. Os colegas que fiz na faculdade, as pessoas com quem tive o prazer de aprender nos estágios em que passei (Iate Clube do Rio de Janeiro, Álamo Engenharia e Academia Brasileira de Letras) foram importantes demais durante essa minha caminhada. Agradeço a todos do fundo do meu coração.

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RESUMO

NOVAES, Carlos. ​A Fotografia na Arquivologia: o estudo de caso no acervo do fotógrafo Kurt Klagsbrunn. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2016. (Monografia de Graduação.)

Este trabalho relata a experiência no acervo fotográfico de Kurt Klagsbrunn, fotógrafo austríaco que viveu e trabalhou no Brasil durante o século XX deixando um acervo riquíssimo para ser explorado, além de levantar o debate das fotografias nos arquivos utilizando como referência os principais autores que tratam desse tema, tendo como principal referencial teórico a tese de doutorado da professora Aline Lopes Lacerda.

Palavras-chaves: Arquivologia. Fotografia. Arquivos fotográficos. Documentos fotográficos.

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Abstract

NOVAES, Carlos. ​A Fotografia na Arquivologia: o estudo de caso no acervo do fotógrafo Kurt Klagsbrunn. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2016. (Monografia de Graduação.)

This paper presents reports the experiencie in the photographic collection of Kurt Klagsbrunn, austrian photographer who lived and worked in Brazil during the 20th century, leaving a rich collection to be explored. Besides raising the debate of the photographys in the archives using as reference the main authors who deal whith this theme, having as main reference the doutoral thesis of the theacher Aline Lopes de Lacerda.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Hercules Florence (1804-1879) 20

Figura 2 - Augusto Malta (1854 - 1967) 22

Figura 3 - Avenida Beira Mar. Augusto Malta. 12/11/1906. Acervo IMS 23

Figura 4 - Marc Ferrez (1843 - 1923) 24

Figura 5 - Praça XV de novembro, ao centro, chafariz do mestre Valentim, c. 1905.

Centro, Rio de Janeiro / Acervo IM 25

Figura 6 - Kurt Klagsbrunn na Praia Vermelha (1918-2005) 26 Figura 7 - Capa do Livro “Refúgio do Olhar - A fotografia de Kurt Klagsbrunn”

lançado pela Casa da Palavra em 2013 31

Figura 8 - Panfletos para a exposição “Kurt Klagsbrunn, um fotógrafo humanista no Rio (1940-1960)” no Museu de Arte do Rio (MAR) em 2015 31

Figura 9 - A esquerda os diários com os “contatos” 6x6 e a direita estão as caixas de

cor amarela que armazenavam os negativos 6x6 33

Figura 10 - Caderno diário com os contatos colados, abaixo dos contatos o seu

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LISTA DE ABREVIATURAS

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 11 1.1 JUSTIFICATIVA 12 1.2 OBJETIVOS 14 1.3 METODOLOGIA 14 1.4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 15 2 ARQUIVO E FOTOGRAFIA 16

3 A HISTÓRIA BRASILEIRA DA FOTOGRAFIA 19

3.1 ANTOINE FLORENCE, O PIONEIRO DA FOTOGRAFIA NO BRASIL 19

3.2 AUGUSTO MALTA E MARC FERREZ 22

3.3 KURT KLAGSBRUNN 25

4 ESTUDO DE CASO: O ACERVO DE KURT KLAGSBRUNN 29

4.1 LEVANTAMENTO DO ACERVO 31

4.2 A VISÃO ARQUIVÍSTICA 33

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 37

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1 INTRODUÇÃO

A discussão sobre organização de documentos fotográficos é importante e atual, uma vez que constitui, nas instituições de guarda do patrimônio histórico, um dos assuntos menos discutidos e mais naturalizados no que diz respeito ao cumprimento de metodologias arquivísticas. (LACERDA, 2009, p. 17)

A fotografia é, sem sombra de dúvida, uma das mais importantes invenções do homem na história da humanidade. A quantidade imagética já produzida desde a invenção da técnica de imagens por meio de exposição luminosa, fixando-as em uma superfície sensível, é inumerável.

As fotos se tornaram populares e estão cada vez mais presentes na vida das pessoas.

Um dos mitos fotográficos, e talvez o maior deles, é que uma imagem vale mais do que mil palavras. Apesar desse pensamento ser muito difundido entre os interessados pela temática da fotografia, é uma visão que se torna equivocada visto que as imagens não falam sozinhas, principalmente quando estão isoladas dos complementos necessários para o entendimento do seu real significado. Assim como acontece com um documento em arquivo, uma foto fora do seu contexto de produção perde em grande parte ou totalmente o seu sentido.

Fotografou-se muito ao longo dos séculos mas, lamentavelmente, também perderam-se e perdem-se, ainda, muitas fotos por diferentes fatores. Esse é um debate corriqueiro na área fotográfica uma vez que, enquanto as tecnologias evoluíram e tornaram possível o acesso das câmeras nas camadas mais populares ocasionando uma maior produção de imagens por pessoa ao longo da vida, ainda não estão resolvidos os problemas das fotografias que já tinham sido produzidas

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antes da evolução científica e tecnológica, principalmente as que foram produzidas pela imprensa.

O campo da Arquivologia em conjunto com profissionais envolvidos no âmbito da fotografia estão discutindo, atualmente, seja através de palestras, seminários, publicações, seja a partir de novas teorias até procedimentos técnicos já existentes, sobre como resolver questões de organização, preservação e difusão dos acervos fotográficos, criando um elo entre as duas áreas, o que irá propiciar um maior estudo sobre as fotografias presentes nos arquivos.

1.1 JUSTIFICATIVA

Toda imagem fotográfica captada só é possível graças a uma visão, a um olhar, que é o do fotógrafo. Ele é o grande autor desse processo, sendo que sem a presença desse profissional, essas imagens não seriam possíveis, pois a visão de cada fotógrafo, é uma visão única, um olhar capaz de captar algo que passa despercebido pelos que não tem o hábito de ver o mundo através de uma lente.

Alguns fotógrafos conseguiram que seus acervos sobrevivessem ao longo do tempo e ficaram marcados, principalmente, pela sua contribuição à memória social. No Brasil não foi diferente, e muitos desses profissionais e suas fotografias ainda são desconhecidos pelo grande público em geral. Esses acervos desconhecidos contêm parte da história brasileira, sendo muitas vezes guardados de maneira inadequada, desorganizada ou até mesmo recebendo algum tipo de tratamento, mas não do profissional capacitado para fazer esse tipo de trabalho.

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Ocasionalmente esses acervos fotográficos foram/são mantidos por familiares, parentes mais próximos até que resolvam doar ou vender para instituições que tem a experiência em lidar com esse tipo de material, como é o caso do renomado Instituto Moreira Salles (IMS)1​. Acontece que nessa transição, essas instituições costumam separar os documentos de caráter textual e preferindo ficar somente com as fotografias, o que é um grande erro do ponto de vista arquivístico, pois quebra-se o vínculo e a integralização do acervo como um todo. Essas condições aceitas ocorrem pela necessidade das pessoas, detentoras desse tipo de acervo, desejarem "se livrar" desse material devido ao espaço que tais documentos ocupam, e também por conta da integridade física deles ou até mesmo pensando em uma futura divulgação daquele acervo/fotógrafo. Por isso, Lacerda (2009, p. 118) menciona que “O momento da doação é de valorações (tanto de quem doa quanto de quem recebe) das imagens e das possíveis utilidades que elas podem ter ou funções que podem assumir, ao passar do domínio privado para o público."

Talvez, por essa razão, alguns arquivistas que lidam com esses documentos considerados “especiais” pela terminologia arquivística, não dão a importância devida que eles merecem. Na maior parte das vezes esses profissionais focalizam apenas os aspectos físicos dos documentos, separando-os dos demais como medida preventiva, embora eles possam ser de tamanha importância quanto os documentos textuais, comumente mais encontrados nos arquivos e consequentemente mais "naturalizados" no trato entre os profissionais da área.

1 O ​Instituto Moreira Salles​ é uma​ organização sem fins lucrativos​ fundada por​ Walther Moreira Salles

em​ 1990​. É administrada pela família Moreira Salles e tem por finalidade exclusiva a promoção e o desenvolvimento de programas culturais atuando principalmente em cinco áreas:​ fotografia​,​ literatura​, biblioteca​,​ artes plásticas​ e​ música brasileira​. Fonte: Wikipédia

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Por isso, a necessidade de um trabalho que vise estudar as fotografias e os acervos fotográficos do ponto de vista arquivístico, para que fomente a discussão em torno dos documentos fotográficos, auxilie em futuros estudos e, no caso deste trabalho em particular, mostre os desafios arquivísticos encontrados em um acervo fotográfico.

1.2 OBJETIVOS

Geral

Este trabalho tem como objetivo geral analisar o documento fotográfico quanto a sua importância como integrante de um arquivo.

Específico

Entre os objetivos específicos encontram-se: contribuir para a discussão epistemológica das fotografias enquanto documento arquivístico; reunir as publicações de alguns autores importantes que lidam com o tema sobre as fotografias em arquivos; discorrer sobre desafios encontrados e da experiência adquirida no acervo do fotógrafo Kurt Klagsbrunn.

1.3 METODOLOGIA

"Ao contrário da documentação escrita, a documentação visual não possui, na bibliografia arquivística geral, nem no campo da produção de manuais em particular, vasta e profícua produção teórico- metodológica." (LACERDA, 2009, p. 28)

A metodologia consistiu em uma pesquisa bibliográfica sobre as principais obras nas áreas de Arquivologia e Fotografia, nas quais os autores enfatizaram os documentos fotográficos, com a finalidade de filtrar aquelas que falavam

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especificamente das fotografias nos arquivos. Foram pesquisados também os cadernos técnicos existentes sobre como tratar esses documentos.

Este trabalho optou por seguir referências que tratassem de maneira mais teórica e menos técnica sobre as fotografias nos arquivos.

A maioria das publicações encontradas foram descobertas via internet, olhando sobretudo as referências bibliográficas das publicações que já tratavam do tema. Foi necessário utilizar a pesquisa em biblioteca sobretudo na parte referente às fotografias porque os livros e materiais sobre fotografia não são baratos e dificilmente estão disponíveis para fazer “download”.

1.4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Definido o método de pesquisa, a fundamentação teórica foi elaborada através dos principais autores sobre “fotografias em arquivo” e/ou “documentos fotográficos” destacando-se aqueles que tratassem a fotografia como um documento podendo vir a ter um vínculo arquivístico. Assim, pode-se destacar como principal referência a autora Aline Lopes de Lacerda, através da sua tese de doutorado, como o principal referencial teórico deste trabalho e André Porto Ancona Lopez, o qual segundo a própria Lacerda:

O trabalho de Lopez representa importantes demarcação de espaço para a discussão dos materiais imagéticos em arquivos, diante da aridez de reflexões que caracteriza a área – tanto brasileira quanto estrangeira – e com relação a esse tema especificamente. São raros os trabalhos que apresentam reflexão sobre a natureza arquivística desses materiais a partir de uma perspectiva teórica. (LACERDA, 2009, p. 118)

E, do lado da fotografia, Boris Kossoy, com suas obras iluminando o estudo do valor documental das fotografias.

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O trabalho foi dividido em quatro capítulos além da introdução sendo que o primeiro relaciona as fotografias nos arquivos, o segundo discorre brevemente sobre a fotografia no Brasil e alguns dos seus principais fotógrafos e o terceiro trata do estudo de caso no acervo de Kurt Klagsbrunn. O último capítulo foi destinado para reforçar o argumento de que os documentos fotográficos têm que ser mais estudados dentro da área arquivística.

2 ARQUIVO E FOTOGRAFIA

Uma das dificuldades em abordar o tema das fotografias nos arquivos é a falta de literatura que trate desse assunto, especialmente, na literatura Arquivística. Diferentemente da Biblioteconomia que já conta com mais estudos e diretrizes sobre materiais fotográficos, a Arquivologia não contém muitas publicações envolvendo o universo da Fotografia, destacando-se mais as obras que tratam do tratamento técnico visando sua conservação e preservação, sendo poucas e contáveis as obras que discutem teoricamente o tratamento desse material dentro dos conceitos arquivísticos.

Na bibliografia sobre arquivos fotográficos, de modo geral, poucos trabalhos se detêm sobre sua natureza e constituição nos domínios público e privado. A maioria gira em torno de regras e métodos de tratamento técnico, ou sobre a conservação e preservação desses registros." (LACERDA, 2009, p. 118)

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creditado em parte pela ausência das fotografias nos principais manuais que norteiam a Arquivística, vindo a aparecer de forma mais contundente em Schellenberg no seu "Arquivos modernos: princípios e técnicas" como destaca Lacerda (2008, p. 51). Apesar dessa demora dos documentos fotográficos entrarem na literatura Arquivística, a fotografia já se fazia presente nos arquivos, muito pelo papel de prova que exercia na sociedade, como lembra Albuquerque:

Pode-se dizer que nos arquivos a entrada do documento fotográfico se deu através dos usos que este tinha em uma sociedade ávida por ter em mãos todos os tipos de provas: das coleções particulares do início do século XX às fotografias institucionais, o caráter documental se mostrou como um testemunho da existência de coisas e pessoas que fizeram parte da construção de uma época. (ALBUQUERQUE, 2006, p. 125)

Porém, em comparação com os documentos textuais, as fotografias levaram mais tempo para serem inseridas na rotina dos arquivistas desde a sua descoberta e popularização como lembram Albuquerque (2012) e Silva (2013). Talvez em parte, isso justifique a demora em citar os documentos fotográficos nas principais publicações arquivísticas, uma vez que o principal integrante dos arquivos são os documentos de caráter textual, que são historicamente os mais encontrados e tratados nos arquivos tanto pessoais quanto institucionais.

Se, por um lado, o registro fotográfico disseminava-se como instrumento de comunicação social cada vez mais admirável, por outro, foi um registro de aparição tardia nos arquivos, considerando os séculos de acúmulo de registros do tipo tradicional textual em suporte papel que a história dos arquivos nos oferece." (SILVA, 2013, p. 19)

Essa distinção entre os documentos textuais e as fotografias ocorrem até os dias atuais, porém um dos maiores erros dos profissionais que lidam com as fotos

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nos arquivos é a “naturalização” desse tipo de documento, como se as imagens falassem por si, dando a falsa impressão que a informação estivesse nela de forma incontestável. Alguns autores, como Lacerda (2008) e Lopez (2000) discordam dessa análise, sempre dando relevância ao contexto de produção dessas imagens para chegarem ao seu real significado, algo também parecido com o que defende Kossoy (1999):

Assim como as demais fontes de informação históricas, as fotografias não podem ser aceitas imediatamente como espelhos fiéis dos fatos. Assim como os demais documentos elas são plenas de ambigüidades, portadoras de significados não explícitos e de omissões pensadas, calculadas, que aguardam pela competente decifração. Seu potencial informativo poderá ser alcançado na medida em que esses fragmentos forem contextualizados na trama histórica em seus múltiplos desdobramentos (sociais, políticos, econômicos, religiosos, artísticos, culturais) que circunscreveu no tempo e no espaço o ato da tomada do registro. Caso contrário

essas imagens permanecerão estagnadas em seu silêncio: fragmentos

desconectados da memória, meras ilustrações 'artísticas' do passado. (KOSSOY, 1999, p. 14)

De fato, a leitura das imagens são muito mais complexas do que aparentam ser e essa é uma diferença entre os documentos tradicionais para os documentos fotográficos. Essa dificuldade em entender a informação contida na fotografia ou naquele conjunto de fotos, enquanto que nos documentos textuais a leitura e interpretação, não são menos difíceis, mas são rotineiras dentre profissionais que lidam com a documentação mais textual, conforme demonstra a citação abaixo:

A fotografia, como texto visual, possui um enunciado, uma textualidade, uma narrativa. É um meio de comunicação possuindo um emissor (a fotografia em si – imagem fixa), um receptor (o usuário) e um mediador (que será a linguagem fotográfica). (BOCCATO; FUJITA, 2006, p. 86)

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3 A HISTÓRIA BRASILEIRA DA FOTOGRAFIA

A história da fotografia e da câmera fotográfica de maneira geral são facilmente encontradas em livros, revistas, publicações acadêmicas, internet e outros meios.

O surgimento da fotografia e os primeiros experimentos fotográficos se tornaram bastante conhecidos pelos que nutrem um mínimo de interesse por esse tema.

Embora existam referências que tratem dos passos dos primeiros fotógrafos e das fotos em território nacional, para se alcançar os objetivos deste trabalho é necessário que se discorra um pouco sobre a entrada da fotografia no Brasil e principalmente de alguns nomes que marcaram época na fotografia brasileira. Essa pequena lente de aumento nos principais fotógrafos, sobretudo oriundos da cidade do Rio de Janeiro, levará até o fotógrafo e foco principal deste trabalho que é Kurt Klagsbrunn e o seu vasto acervo.

3.1 ANTOINE FLORENCE, O PIONEIRO DA FOTOGRAFIA NO BRASIL

Em janeiro de 1833, Antoine Hercule Romuald Florence ou apenas Hercule Florence como ficou conhecido, foi um francês da cidade de Nice na França que vivia no Brasil quando descobriu a fotografia. A afirmação anterior não está errada, é que naquele momento, meados do século XIX, a Europa era o centro do mundo e o fato de uma descoberta de tamanha magnitude ter vindo de um país até então

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pouco conhecido não chegou aos ouvidos europeus que, em 1939, anunciaram nos veículos de comunicação a descoberta do Daguerre coincidentemente na França, país natal de Florence, ou seja, seis anos depois da descoberta “esquecida” do francês em território tupiniquim.

As diculdades , encontradas por Hércules, para publicação de seus estudos, zeram com que, entre 1832 e 1836, pesquisasse uma forma alternativa de impressão. Esse estudo foi chamado Poligraphye, e seu objetivo inicial fora a impressão das partituras sobre a Zoofonia. Hércules Florence chegou, com essa pesquisa, a obter uma série de exemplares, de diplomas maçônicos e rótulos de farmácia em papel fotossensível, sensibilizado por sais de prata. Utilizou, para isso, o princípio da câmera obscura, aplicado a um processo que chamou de “photographie”." (OLIVEIRA, 2009, p. 2)

Figura 1: Hercules Florence (1804-1879)

1 - Fonte: Disponível em:

<http://paleonerd.com.br/wp-content/uploads/2015/07/escola-focus.hercules-florence.jpg> Acesso em:

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Quando a notícia desta descoberta com ares de "redescoberta" chegou ao Brasil, Florence se manifestou reivindicando a descoberta da fotografia através de publicação no jornal paulista “A Phoenix” (26/10/1939). O devido crédito a Florence só chegou tempos depois, com o esforço de estudiosos brasileiros na área fotográfica em colocá-lo no patamar de autêntico “pai da fotografia” que lhe era de direito, sendo que esse fato só foi alcançado devido a documentação deixada por ele como explica Oliveira:

A seriedade das pesquisas e a documentação deixada pelo pesquisadorfranco- brasileiro colocam-no como um dos grandes inventores do século XIX, ao lado de Bartolomeu Lourenço Gusmão, o “Padre Voador”, (Aerostação), Alberto Santos Dumont (Aviação) e Padre Roberto Landell de Moura (transmissão radiofônica), que antecederam outros pesquisadores, cujos inventos também não foram reconhecidos pelos meios cientícos e culturais. (OLIVEIRA, 2009, p. 2)

E completa:

Hércules Florence fez anotações sobre seus inventos e descobertas nos documentos manuscritos entre 1830 e 1862, em francês, num volume de 423 páginas, intitulado de “L’Ami Des Arts Livré à Lui Même ou Recherches Et Découvertes Sur Différents Sujets Nouveaux”. Em um conjunto de três cadernos pequenos de informações, intitula- dos “Correspondance”, copiou diversas cartas por ele expedidas, em que há referências aos inventos. (OLIVEIRA, 2009, p. 7)

Pode-se dizer que a fotografia em território brasileiro teve um incentivo de caráter especial, ou melhor, imperial uma vez que o Imperador era fotógrafo-amador e colecionador como lembra Silva ( 2007). Essa ascensão da técnica fotográfica se deu ao mesmo tempo em que o meio artístico era dominado pelas pinturas de paisagem, abrindo espaço para discussões sobre a relevância desse meio de representação do tempo e espaço.

Quase simultaneamente, no fim do século XIX, os fotógrafos da época começaram a retratar o cotidiano local, principalmente no Rio de Janeiro, capital do Brasil na época.

Como observa Luciano Migliaccio, no Brasil, também após a década de 1880, o repertório de imagens do Brasil Pitoresco e de outros álbuns fotográficos tornou-se fonte de inspiração e foi retomado por artistas que praticavam a nascente pintura de gênero, buscando representar cenas do cotidiano nacional. (SILVA, 2007 p. 338)

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3.2 AUGUSTO MALTA E MARC FERREZ

Dois fotógrafos merecem destaque, tanto pela vasta produção, quanto pela qualidade que realizaram seus trabalhos. O primeiro deles é Augusto Malta que fotografou do século XIX até o século XX, sendo grande responsável por retratar a urbanização que o Rio sofria naquela tempo, e cuja obra é marcada por retratar um Rio de Janeiro em transformação2​.

Ao examinarmos a produção de Augusto Malta à luz das imagens guardadas em coleções e acervos públicos e particulares, verificamos que o seu percurso foi oposto ao de outros fotógrafos da época. Ele não começou pelas panorâmicas, tão em voga no final do século XIX e no início do século passado, mas sim através de um trabalho que visava atender aos projetos urbanísticos desenvolvidos pela gestão do prefeito Pereira Passos. (HOLLANDA, 2013, p. 183)

Figura 2: Augusto Malta (1854 - 1967)

2- Fonte: Disponível em:

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A obra de Augusto Malta é sem dúvida muito importante para os mais variados campos do conhecimento que estudam essa época em especial e esta documentação que está guardada tanto no Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro quanto no Arquivo Nacional ajuda a entender tanto o passado quanto às transformações que ocorreram na cidade. A visão do fotógrafo foi essencial uma vez que essa percepção social só poderia existir através de uma sensibilidade apurada atrás das lentes na hora de registrar os acontecimentos.

A obra de Augusto Malta guarda muitas relações com a cidade do Rio de Janeiro, pois através desta vasta e eclética documentação fotográfica, desenvolvida no primeiro terço do século XX, percebe-se toda a dinâmica da cidade moldada em um universo de informações único, configurando um retrato representativo, de expressão e estética, da belle époque tropical. Nenhum recanto da cidade do Rio de Janeiro escapou à sua visão aguda de documentarista. (HOLLANDA, 2013, p. 183) FIGURA 3: Avenida Beira Mar. Augusto Malta. 12/11/1906. Acervo IMS

3- Fonte: Disponível em:

<http://brasilianafotografica.bn.br/wp-content/uploads/2015/06/013RJ011054.jpg> Acesso em: Out. 2016

Outro que ajudou a registrar o cenário carioca foi Marc Ferrez. Considerado por muitos o mais importante fotógrafo brasileiro do século XIX, Ferrez deixou uma

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grande obra composta sobretudo por fotografias paisagísticas do Rio de Janeiro. Seu acervo foi adquirido pelo IMS e conta com aproximadamente 15 mil imagens, sendo o acervo com maior número de imagens reunidas dentro da instituição. 3

Figura 4: Marc Ferrez (1843 - 1923)

4 - Fonte: Disponível em :

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/5/5d/Marc_Ferrez_(c._1876).png/210px-Marc_F

errez_(c._1876).png>. Acesso em: Out. 2016

O fato de ter um acervo com uma grande quantidade de imagens preservadas é um diferencial que ajuda a alavancar a fama de Marc Ferrez. Poucos fotógrafos tiveram essa sorte de preservar uma parte considerável dos seus trabalhos.

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Figura 5: Praça XV de novembro, ao centro, chafariz do mestre Valentim, c. 1905. Centro, Rio de Janeiro / Acervo IMS

5- Fonte: Disponível em:

<http://brasilianafotografica.bn.br/wp-content/uploads/2015/06/0072137CX008-04.jpg. Acessso em: Out.

2016

3.3 KURT KLAGSBRUNN

Kurt Klagsbrunn era descendente de judeus e veio da Áustria fugindo do nazismo que se aproximava do seu país. Abandonou os estudos em medicina e desembarcou juntamente com o seu irmão na cidade do Rio de Janeiro em 1939. Em um dos seus diários, enquanto estava na Praia Vermelha, anota a seguinte frase “Meu primeiro banho de mar”.

Em 15/03/1939, os Klagsbrunn chegam ao Rio de Janeiro a bordo do navio

alemão General Artigas. O Pão de Açúcar, na entrada da baía da Guanabara, era uma imagem tão poderosa que a companhia de navegação alemã Hamburg-Sud colocava o famoso morro nos anúncios publicitários de suas rotas. A visão da Praia Vermelha – local do primeiro banho de mar – tornou-se o ponto de vista favorito do jovem fotógrafo. (LISSOVSKY, 2015, p. 36)

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6 - Fonte : Arquivo Pessoal

Morando no bairro das Laranjeiras, desde sua chegada até o último dia da sua vida, Kurt começa a procurar uma forma de trabalhar na cidade carioca e devido ao seu apreço pela fotografia na época em que vivia na Áustria acaba encontrando uma forma de se sustentar com o ofício de fotógrafo.

Os poucos serviços que presta (inclusive tirando retratos dos vizinho para

documentos), permitem que vá investindo na compra de refletores e

equipamentos.O laboratório e o estúdio improvisados funcionam, por enquanto, na casa da família.” (LISSOVSKY, 2015, p. 36)

Lissovsky (2015, p.36) ainda complementa que:

Em 12/02/1941, sua carreira faz uma inflexão decisiva. Kurt começa

a trabalhar para a Turismo Brasil-América (Brazilian American Travel

Bureau), tira carteira de trabalho e, em 17/05, trava contato com

o escritório da revista Time no Brasil. Em junho, sente-se

suficiente- mente seguro para pedir demissão da Brasil-América e

tirar seu primeiro alvará de estúdio fotográfico. Em outubro do

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da Associated Press, mais tarde correspondente de guerra da agência junto às tropas brasileiras na Itália (LISSOVSKY, 2015, p. 36)

O fato de ser um fotógrafo fluente em inglês ajuda Kurt a conseguir emprego em agências internacionais, mas por ser um fotógrafo estrangeiro, principalmente vindo de um país dominado pelos nazistas naquele momento, também teve suas complicações, principalmente um preconceito que se nota no início da sua carreira fotografando no Brasil.

A partir de 1942, com os negócios melhorando, Kurt compra uma

Rolleiflex e investe bastante em seu estúdio e laboratório. A

paisagem da cidade, a vida dos cariocas, e o carnaval, claro,

foram os primeiros e mais recorrentes temas de sua

obra.(LISSOVSKY, 2015, p. 39)

A carreira de Kurt começa a decolar, podemos destacar a época em que trabalhou para a Life, famosa revista americana, retratando as belezas do Rio de Janeiro para o exterior, principalmente aquela que seria conhecida como a praia mais famosa do mundo, Copacabana. Kurt começa a ser reconhecido pelo seu trabalho, acumulando inúmeros eventos e consequentemente muitos contatos. O austríaco que estudava em ser médico a algum tempo atrás começa a ganhar notoriedade como fotógrafo e a desfilar entre a elite carioca da época.

A fotografia social será uma das importantes vertentes do trabalho do fotógrafo que, graças a isso, nos legou um impressionante registro documental dos costumes das elites brasileiras no período.Suas fotografias são um fantástico testemunho do modo como esses segmentos vão reelaborando sua imagem em um mundo que se transforma rapidamente. (LISSOVSKY, 2015, p. 39)

Apesar de frequentar grandes eventos elitizados da época, Kurt começa a fotografar movimentos sociais, principalmente os movimentos estudantis vindo a se tornar um assíduo frequentador da União Nacional dos Estudantes (UNE). Como a profissão de fotógrafo pede uma certa imparcialidade, Kurt convive entre os

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estudantes e os militares facilmente. Sua série de fotos da UNE são uma raridade e de tamanha importância uma vez que a sede principal do movimento pegou fogo em 1964 e muita coisa se perdeu.

O fotógrafo vivia nos principais acontecimentos que ocorriam naquele tempo. Onde havia um evento ou uma pessoa muito importante, lá estava Kurt com sua câmera. Ao mesmo tempo em que era pago para cobrir esses eventos, Kurt reservava os seus próprios negativos para fotografar quem trabalha por trás das cortinas, suas fotos dos trabalhadores, das pessoas comuns, dos anônimos refletem o lado humanista que existia no olhar daquele personagem que facilmente poderia ter se deslumbrado com o glamour de cobrir grandes eventos e fotografar celebridades.

Kurt fotografou o Rio de Janeiro e as pessoas que frequentavam a cidade, desde anônimos até as mais famosas. Realizou algumas excursões pelo país, registrando lugares e pessoas isoladas. Carnaval, bailes, paisagens, movimentos, manifestações, encontros políticos e uma infinita de outras ocasiões, tudo passou pelas suas lentes.

Se tornar um grande fotógrafo não foi por acaso, não só de beleza viveram suas imagens. Atento, sempre buscou os melhores equipamentos, inclusive comprando máquinas do exterior. Ele mesmo revelava suas fotos e ele mesmo construía maquinarias que ajudassem na sua profissão. Sempre tomou nota de tudo, anotando em seus caderninhos o local e quantidade de fotos tiradas. O seu olhar atento também se voltou na preservação dos seus negativos, vindo a utilizar o que de melhor de material fotográfico pensando no futuro das suas fotos.

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Kurt Klagsbrunn sofreu um AVC em 1969 onde foi obrigado a abandonar o seu trabalho parcialmente mas nunca o afastando totalmente do que mais gostava de fazer. Sua importância como fotógrafo ainda não ganhou o destaque que merece como Augusto Malta e Marc Ferrez, mas a sua obra certamente irá alcançar esse patamar pois a incrível quantidade de aproximadamente 200 mil imagens e uma vasta documentação preservada já seriam suficiente para elevar seu grau de importância, mas Kurt foi mais do que isso, foi um humanista, um estrangeiro que vindo de fora do país conseguiu documentar as paisagens, pessoas e costumes de uma forma sensível que somente alguém com a história dele e trazendo essa visão de fora conseguiria.

4 ESTUDO DE CASO: O ACERVO DE KURT KLAGSBRUNN

Kurt Klagsbrunn não deixou herdeiros, então coube a Vitor Hugo Klagsbrunn, o seu sobrinho, a tarefa árdua e ao mesmo tempo gratificante e honrosa de ficar com seu acervo. Vitor é professor aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e segundo os seus relatos, seu tio era uma pessoa reservada, visto isolado nos encontros em família, com uma peculiaridade de sempre observar qualquer lugar que entrasse, examinando tudo ao seu redor como se exercesse em alguns momentos o olhar atento que adquiriu durante a profissão que exerceu por tantos anos.

O acervo fora dividido em duas partes, a primeira e maior delas ficou em um apartamento em Copacabana e a segunda na região serrana onde Vitor possui uma casa. Esse apartamento na rua Rua Ministro Viveiros de Castro nº 128, apesar

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de ser do sobrinho de Kurt, não era frequentado por ele, sendo utilizado exclusivamente para a guarda de parte do acervo e de todos os projetos que envolviam as fotos do falecido fotógrafo, incluindo o projeto que irá ser tratado nesse estudo de caso. Esse local de guarda de parte do acervo serviu primeiramente para dois projetos: o primeiro foi a publicação de um livro chamado "Refúgio do Olhar - a Fotografia de Kurt Klagsbrunn no Brasil dos Anos 1940 - Mauricio Lissovsky; Marcia Mello (2013)” e para uma exposição no Museu de Arte do Rio (MAR) intitulada "Kurt Klagsbrunn, um fotógrafo humanista no Rio (1940 - 1960)” que inicialmente estava prevista para começar em 14 de abril e se encerrar no dia 09 de agosto de 2015, porém devido ao desconhecimento do público e o interesse que se formou em volta da exposição, acabou ficando até janeiro de 2016.

Figura 7 - Capa do Livro “Refúgio do Olhar - A fotografia de Kurt Klagsbrunn” lançado pela Casa da Palavra em 2013

7- Fonte :Disponível em:

<http://www.dupladesign.com.br/wp-content/uploads/2014/05/Kurt_destaque.jpg> Acesso em out. 2016.

Figura 8 - Panfletos para a exposição “Kurt Klagsbrunn, um fotógrafo humanista no Rio (1940-1960)” no Museu de Arte do Rio (MAR) em 2015

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8 - Fonte: Disponível em

<http://www.premiatadesign.com/blog/wp-content/uploads/2015/04/DSC_0754-2.jpg> Acesso em out.

2016.

4.1 LEVANTAMENTO DO ACERVO

Kurt fotografou e conservou aproximadamente 200 mil imagens, além de guardar quase todo o seu material de trabalho, desde câmeras utilizadas, até crachás, diários contendo anotações sobre os seus dias de trabalho, criando um acervo monumental, uma verdadeira "Disneyworld" para qualquer apaixonado por fotografia. A divisão do seu acervo entre a casa da Região Serrana e o apartamento em Copacabana se deu por décadas, ficando as primeiras décadas (1940-1960) e boa parte da sua carreira como fotojornalista no apartamento de Copacabana devido a publicação do livro e a exposição. Por isso, a documentação restante ficou mantida na região serrana, até por uma questão de conservação pois temperaturas mais baixas são os melhores lugares para armazenar fotografias, principalmente quando falamos de fotografias antigas. A maior parte do acervo é composto por negativos 6 x 6 que estão guardados em caixas e dentro dessas caixas, numa espécie de papel manteiga devidamente numerado. Kurt enumerava todas as caixas, todos os papéis manteigas com os negativos e fazia "contatos" desses negativos, colando todos em diários com as devidas anotações, ou seja, o fotógrafo mantinha um método de organização lógico e até fácil de compreender apesar da quantidade de fotos.

Os negativos representam a maior parte do acervo que contêm algumas ampliações mas não em tamanha quantidade quanto os negativos. Em compensação, os diários contendo "contatos" dos negativos 6 x 6 são bastante numerosos.

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Esses diários são de muita importância, pois preserva o negativo original ao mesmo tempo em que proporciona ao fotógrafo ver sua foto sem a necessidade de recorrer ao original, sendo uma forma de controle sobre a produção do seu trabalho bastante válida e também um meio de comercializar suas imagens de maneira mais ágil.

Figura 9: A esquerda os diários com os “contatos” 6x6 e a direita estão as caixas de cor amarela que armazenavam os negativos 6x6

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Figura 10: Caderno diário com os contatos colados, abaixo dos contatos o seu número de série

10 - Fonte : Arquivo pessoal

4.2 A VISÃO ARQUIVÍSTICA

Depois dos dois projetos serem realizados, o livro e a exposição, Vitor sentiu a necessidade de organizar o acervo do seu falecido tio, uma vez que, com o sucesso das fotografias de Kurt, muitos curiosos e estudiosos começaram a querer saber mais e ter acesso ao acervo, até pelo fato de reunir uma grande quantidade de fotografias em que apareciam as personalidades da época e do Rio antigo.

Com a publicação do livro e a exposição em andamento, algumas fotos começaram a ser solicitadas para estampar capas de livros, capítulos ou até mesmo serem comercializadas em definitivo. Essa nova forma de pensar o acervo, de maneira mais arquivística, durou do dia 19 de junho de 2015 até 7 de Dezembro do mesmo ano. Os objetivos consistiam em organizar e preservar o acervo, procurando

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entender se todos os documentos fotográficos do acervo se relacionavam de alguma forma, além de digitalizar, organizar e preservar os negativos de 35 mm, que diferentemente dos 6x6, não tinham contatos ou ampliações, o que tornavam aquelas imagens até então com caráter de “inéditas”.

Além de toda a bagagem teórica arquivística, foi necessário recorrer a apostila da professora Aline Lopes de Lacerda, intitulada “Curso de Organização de Arquivos e Coleções Fotográficas”. Em um dos primeiros contatos com o acervo, buscou-se entender a história do fotógrafo, a sua trajetória como fotojornalista, quais tipos de documentos aquele acervo guardava, quantidade de fotografias; se elas estavam organizadas de maneira lógica e compreensível, principalmente obedecendo a ordem original e respeitando o princípio da proveniência; se existiam anotações, enfim, o mínimo de informações que se deve levantar nos primeiros contatos com esse tipo de acervo.

O próprio Vitor, sobrinho do Kurt e proprietário do acervo, é uma peça fundamental para entender o processo que aqueles arquivos passaram até chegarem ali. Uma vez que eles foram vasculhados e utilizados para a publicação do livro e exposição, era de suma importância saber se nada foi alterado da ordem original em que o fotógrafo guardava seus arquivos, pois qualquer alteração pode sugerir uma quebra informacional irreparável para entender a relação daqueles documentos.

Uma vez contando com a ajuda do sobrinho que conhecia a trajetória do tio e entendia principalmente suas anotações nos seus diários e cadernos de trabalho, foi possível relacionar aquelas fotos, identificar os eventos, descobrir o ano, saber

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Os negativos estavam em perfeito estado, o papel manteiga que os envolviam sobreviveu bem ao tempo porém o apartamento não era o local mais adequado, às condições não eram favoráveis para a guarda permanente de um acervo fotográfico. O quarto contava apenas com um ar condicionado comum que não poderia ficar ligado 24 horas, por estar localizado em Copacabana perto da praia também não eram um ponto a favor. O apartamento era apenas provisório mas com o trabalho do livro e a exposição, os documentos fotográficos acabaram ficando mais tempo que o esperado naquele local.

Uma das sugestões apresentadas ao responsável pelo acervo, durante o trabalho arquivístico, era de que a preservação e conservação fosse de responsabilidade de uma equipe especializada. Apesar de aparentemente não apresentarem danos, somente uma equipe especializada em cuidar de materiais fotográficos poderia identificar a ação nociva de fungos que danificam as fotografias ao longo do tempo.

Terminado o trabalho arquivístico, todo aquele acervo iria se unir a outra parte do acervo na casa do Vitor na região serrana e lá sim tem condições, estrutura e um clima favorável para a sua guarda.

Durante a realização do trabalho o objetivo consistiu, a curto prazo, em entender as fotografias de maneira que servissem como base para uma melhor compreensão de suas anotações. Alguns documentos oficializando o seu trabalho foram encontrados juntamente com crachás e registros como fotógrafo. A numeração que o fotógrafo usou nos seus negativos e caixas serviu como classificação. Essa numeração, em seu diário de contatos, onde eram feitas as pequenas revelações para visualização das fotos, ele anotava exatamente do que se

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tratava aquela foto, incluindo informações como o local e data. Algumas pessoas importantes das fotos já tinham sido identificadas e colocadas em uma planilha, mas esso foi o trabalho da equipe de pesquisadores que atuaram na confecção da exposição e do livro.

Apesar de ser um grande acervo, em comparação ao de outros fotógrafos que não tiveram a mesma chance de ter tanto material de trabalho quase intacto, não houve grandes dificuldades em compreender e relacionar tudo o que envolvia o seu acervo. De maneira organizada e ao seu modo, Kurt deixou tudo de forma bastante detalhada. Se existia algum risco de perda de informação, era o risco de terceiros na hora de vasculharem ou mexerem naquela documentação, embaralhar ou tirar da ordem natural os documentos.

Ao mesmo tempo que é necessário pensar na preservação das fotos, é preciso saber qual o sentido de guardar tantas fotos, mesmo que tenham seu valor, é preciso ter demanda para guardar um acervo desse porte. Propostas que tragam visibilidade ao acervo são necessárias, uma vez que o usuário é quem vai se interessar e dar vida aquelas fotos, seja ele um pesquisador ou um amante da fotografia.

Essa monografia, assim como o livro e exposição tratando sobre as fotos de Kurt Klagsbrunn ajudam a aumentar sua visibilidade. Porém, existem projetos mais rentáveis e adequados para isso, e durante o trabalho arquivístico foi criada a ideia para que o acervo de Kurt e todo o seu trabalho ficassem eternizados com uma possível candidatura no Programa Memória do Mundo da UNESCO.4 Esse

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programa, que visa guardar memórias que contribuem culturalmente para a humanidade é o local mais adequado para que o seu imenso acervo e seu excelente trabalho nunca mais caia no esquecimento e tenha o devido valor que merece.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho buscou fomentar a discussão envolvendo os arquivos fotográficos colocando como objeto estudado um acervo que contêm mais fotos do que documentos textuais entre o seu vasto material.

O campo da Arquivologia é relativamente novo se for comparado com outros

campos do conhecimento e a tendência é continuar crescendo e evoluindo em seus conceitos, métodos e teorias.

A fotografia é pouca explorada dentro do universo arquivístico, panorama

esse que vem tentando ser modificado com o auxílio de profissionais como os professores Lopes e Lacerda.

Trabalhos como esse, não importando qual nível seja, desde uma graduação até uma especialização, fortalecem a visão de que as fotografias têm sim o seu valor como documento integrante de um arquivo.

No entanto, os arquivistas precisam estar atentos, não só quanto aos documentos textuais, mas também valorizar os documentos audiovisuais e iconográficos pois esses também fazem parte da rotina arquivística.

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As tecnologias avançam e as fotografias digitais já são um desafio para os profissionais da informação, mas quantos acervos, quantos Kurt’s estão esperando serem descobertos e receberem um tratamento profissional adequado?

Esses acervos tradicionais servem como parâmetro na hora de estudarmos os acervos digitais que estão se formando. Atualmente, um fotógrafo seja ele amador ou profissional fotografa igual ou mais do que um profissional de antigamente. A fotografia digital proporciona, com todas as suas facilidades, uma quantidade muito maior de fotos por pessoa e os desafios digitais são iguais a outros arquivos gerados eletronicamente: como armazenar tudo isso a longo prazo?

Trabalhar com os acervos antigos ajuda a entender o valor de cada fotografia, desde o processo da sua criação até a sua revelação, algo que o digital talvez tenha perdido porque é tão rápido e fácil fazer uma foto. No entanto, devido a esse fato, alguns valores tenham sido perdidos e passam desapercebidos quanto a importância daquela foto digital no seu contexto.

Os desafios desses acervos fotográficos manuais servirão de estudo para os acervos fotográficos digitais que estão se formando. Se por um lado, um existe fisicamente e o outro digitalmente, seus problemas continuam sendo a preservação da informação.E, para que isso não se perca é necessário estudar as tecnologias atuais, maneiras de remediar agora, pensando no futuro dessas fotos. Assim, procedendo se evitará o que aconteceu com tantos acervos que foram perdidos ao longo das décadas, levando consigo imagens e informações que ninguém nunca mais terá acesso.

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REFERÊNCIAS

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