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CRIANDO NOVOS PISOS CERÂMICOS PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL

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Academic year: 2021

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CRIANDO NOVOS PISOS CERÂMICOS PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL

M. Dischinger, O. E. Alarcon, M. L. Mattos, A. M. Lima, M. G. Andrade Caixa Postal 10.060, Lagoa da Conceição – Florianópolis – SC

CEP 88062-970 - E-mail: martadischinger@gmail.com A2D – Agência para o Desenvolvimento do Design Cerâmico. Dep. Engenharia Mecânica. Universidade Federal de Santa Catarina.

RESUMO

Para permitir a inclusão das pessoas com deficiência visual de forma plena são necessárias mudanças culturais, ações políticas e legislativas. As mudanças no ambiente físico são também fundamentais para atingir a acessibilidade espacial. O projeto aqui apresentado, inserido na área de atuação conhecida como Desenho Universal, visa o desenvolvimento de uma linha de pisos táteis para espaços públicos externos e internos. Face à complexidade e especificidade do tema o foco central do trabalho é a descrição pormenorizada do processo de design dos novos produtos principalmente quanto a suas características formais e aspectos técnicos. Ressalta-se a relevância social do projeto, para permitir maior liberdade de

locomoção a pessoas com deficiência visual, apoiando sua orientação espacial e suas possibilidades de participação. Destacamos ainda sua importância econômica ao criar produtos que atendem novas demandas geradas pelas recém-aprovadas leis de acessibilidade espacial brasileira e a carência de produtos de materiais de construção.

Palavras-chave: Desenho Universal, Pisos Cerâmicos, Pisos Táteis, Acessibilidade Espacial, Deficiência Visual.

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INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA

Na última década, no Brasil, ocorreram grandes mudanças em relação ao panorama da exclusão de pessoas com deficiência, objetivando criar condições para seu acesso à saúde, educação, trabalho e todas as esferas da vida social. Esta nova visão de inclusão gerou, entre outras ações, novas leis e normas técnicas de

acessibilidade. Apesar do cenário promissor, muitos esforços ainda são necessários para implementar - na prática - os direitos recentemente adquiridos. A maioria dos espaços públicos do país, por exemplo, ainda são inacessíveis às pessoas com algum tipo de deficiência.

Neste sentido podemos destacar a lei da Lei Federal n. 10.098, promulgada em 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida e torna obrigatória a observância da norma técnica de acessibilidade NBR9050. Esta lei teve sua regulamentação em 2004 através do decreto n. 5.296 que, além disso, estabelece um prazo de 30 meses para que as edificações de uso público já

existentes garantam acessibilidade às pessoas portadoras de deficiência ou mobilidade reduzida.

No caso do grupo específico de usuários com deficiência visual, objeto de nosso estudo, a simples eliminação de barreiras físicas (como remoção de postes em calçadas estreitas e a construção de rampas), não é suficiente para garantir o seu acesso e a participação nas atividades da vida diária. Para esses usuários é fundamental garantir a oferta de informações espaciais específicas, que auxiliem na compreensão do espaço, na sua orientação e deslocamento de modo independente e com segurança.

Desenhar espaços considerando as necessidades das pessoas com deficiência visual exige, principalmente, a compreensão de seus problemas e de como elas podem se orientar com independência face à diminuição ou total ausência de informações visuais. Entre as situações espaciais que lhes oferecem maior

dificuldade para a orientação podemos destacar aquelas em que o excesso de informações torna difícil a seleção de referências válidas (espaços poluídos, ruidosos, com muitos obstáculos). No outro extremo estão os locais amplos onde não estão acessíveis referenciais que possam apoiar sua orientação, tais como paredes, bordas de calçada, sons, etc.

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Entre as soluções possíveis – que envolvem desde a instalação de sinaleiras sonoras até a criação de sistemas informativos acessíveis sobre espaços urbanos e edificados (através da confecção de modelos e maquetes tridimensionais, mapas táteis, gravações e treinamento) – encontram-se os pisos táteis. Estes pisos, colocados tanto em ambientes urbanos como nos espaços edificados de maior complexidade, visam fornecer informações adicionais sobre situações de perigo potencial e rotas seguras a seguir, apoiando a pessoa com deficiência visual em seu processo de orientação e permitindo seu deslocamento com autonomia e segurança.

No Brasil, as primeiras experiências de aplicação dos pisos táteis datam do final da década de 1990, tendo sido normatizadas em 2004. Atualmente os principais materiais empregados são peças de concreto e ladrilho hidráulico, cuja produção industrial está consolidada e já existe relativa diversidade em sua oferta. No entanto a mesma situação não se verifica nos espaços edificados internos, para os quais não existem materiais no mercado. Nos edifícios públicos de grande porte, com uso intensivo e grande complexidade espacial – como aeroportos, terminais rodoviários, estações de metrô, hospitais e escolas – se faz fundamental a utilização de pisos táteis para apoiar a orientação de usuários com deficiência visual. Nestes, ao contrário dos passeios urbanos, a variedade dos pisos existentes leva à necessidade de uma flexibilidade maior de soluções, sendo básico cumprir o princípio de contraste entre os pisos táteis e os pisos circundantes para possibilitar sua identificação.

Conseqüentemente, é urgente o desenvolvimento de produtos de qualidade, com características formais diversificadas, e que permitam sua utilização na

construção civil. Neste contexto, face às possibilidades de variação nos modelos e cores, além das qualidades intrínsecas do material, a cerâmica é um dos materiais ideais para esta aplicação. Outro fator relevante é possibilidade que os pisos cerâmicos oferecem de permitir a instalação de sistemas de orientação tátil sem a total retirada de pisos cerâmicos pré-existentes e seu alto custo decorrente.

A partir dessa necessidade é que surge o projeto de “Pesquisa e

Desenvolvimento de Pisos Cerâmicos e Compósitos para Acessibilidade”, realizado em Florianópolis – SC, pela A2D (Agência para o Desenvolvimento do Design Cerâmico) da Universidade Federal de Santa Catarina, com financiamento do FINEP/CNPq e participação das indústrias Itagres e Dow Chemical do Brasil. O seu objetivo central é o de desenvolvimento de uma nova linha de pisos que auxilie os

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processos de orientação e deslocamento de usuários com restrições visuais ou perda total de visão. Além deste, a pesquisa tem como objetivo particular, a difusão do conhecimento gerado em vários setores: produção industrial, capacitação dos quadros técnicos responsáveis pelas ações de projeto, fiscalização e execução, associações de pessoas com deficiência e público em geral.

O desenvolvimento do projeto se dá através de processo integrado de gestão do conhecimento – troca de experiências entre os profissionais de diversas áreas, relação universidade/indústria, além de testes e diálogo com os usuários. Por constituir-se em novo produto que estabelece novos códigos de uso e aplicação, a realização de testes e a troca de informações com usuários com diferentes tipos de deficiência visual, além de técnicos das diferentes áreas é crucial em todas etapas do trabalho: definição inicial do design, avaliação de protótipos, avaliação de peças industrializadas; avaliação da aplicação do sistema em áreas existentes, processo produtivo, comercialização e instruções para uso e aplicação.

O QUE SÃO PISOS PARA ACESSIBILIDADE

As primeiras experiências com pisos para acessibilidade em ambientes públicos urbanos datam do final dos anos 1960, no Japão. Seus objetivos eram dar solução a um problema comum nas grandes cidades do país: a dificuldade que tinham os usuários cegos, ou com baixa visão, de identificar a passagem entre a calçada e as vias de tráfego de veículos. Mais tarde, já na década de 1980 inicia-se a instalação dos pisos nos Estados Unidos e Reino Unido, atendendo a mesma demanda japonesa. A partir daí se inicia o processo de normatização da fabricação e instalação dos pisos para acessibilidade nesses países. No Brasil, em 1985 é publicada pela primeira vez a NBR 9050, Norma para “Acessibilidade de pessoas portadoras de deficiências a edificações, espaço, mobiliário e equipamento urbano”, revisada e promulgada em 2004, e que traz as regras de dimensionamento e uso dos pisos acessíveis no país.

Os diferentes usos do pisos acessíveis

Em todo mundo encontram-se diferentes modos de utilização dos pisos acessíveis. Nos Estados Unidos os pisos são instalados principalmente em

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situações de perigo – cruzamentos de trânsito, plataformas, etc. – onde não há oferta de outra fonte de informação que avise da presença de risco. No Reino Unido são adotados sete diferentes tipos de pisos que, além da função de segurança, também indicam equipamentos urbanos e diferenciam as situações de risco com desenhos diferenciados de pisos. Austrália, Nova Zelândia e Canadá utilizam dois tipos de pisos: um que indica cruzamento veicular, e que identifica bordas e

percursos livres de barreiras. Outros países como Japão, Áustria, Suíça, Suécia, França e Brasil, adotam os pisos acessíveis como um sistema de orientação. Neste caso, além da função de segurança, o modo de instalação dos pisos indica também caminhos preferenciais e leva a pontos de interesse pré-determinados.

Os tipos de pisos e suas funções

Face à variedade de funções que os pisos acessíveis podem assumir, são variados também os desenhos adotados a fim de servir as essas funções.

Enfocaremos neste trabalho a utilização dos pisos como sistema de orientação, destacando a necessidade de pelo menos três tipos de pisos diferenciados: piso guia, piso alerta e piso decisão.

O piso guia é formado por relevos de seção trapezoidal, estendidos

longitudinalmente até o limite da base, formando sulcos ou guias. (figura 01). Sua função é a de orientar o deslocamento dos usuários ao longo de áreas de circulação, indicando caminhos preferenciais a serem percorridos em ambientes onde não se podem obter outras referências para orientação. Também é indicado em avenidas amplas e travessias, aeroportos e terminais urbanos de transporte (rodoviária e metrô). Deve, impreterivelmente, indicar caminhos seguros e livres de obstáculos.

O piso alerta é formado por domos ou relevos tronco-cônicos distribuídos em padrão homogêneo sobre uma superfície base (figura 01). No mercado internacional é encontrado nos mais diversos materiais: concreto, ladrilho hidráulico, borracha, polímero, fibra de vidro, metal, etc. No Brasil são fabricados em borracha, ladrilho hidráulico ou concreto. Sua função é a de alertar os pedestres - em especial aqueles com deficiência visual - sobre a presença de perigos iminentes tais como: obstáculos suspensos; rebaixamentos de calçadas; presença de trânsito veicular; início e

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junto às portas dos elevadores e desníveis como plataformas de embarque e desembarque, palcos, vãos, entre outros.

Figura 01: Esquema de aplicação e modelos de pisos

Na norma brasileira o piso alerta assume uma dupla função: além de informar sobre os riscos potenciais, também informa ao pedestre sobre uma possível

mudança de rota, sendo maior a sua área de instalação, quanto maiores forem as possibilidades de mudança de direção. Cabe observar, no entanto, que o uso do piso alerta com esta segunda função acaba por gerar uma informação dupla: hora o piso diz ao pedestre que interrompa seu movimento, hora diz que ele pode mudar de direção. Deste modo, a inclusão de um novo piso, com função específica de orientar a mudança de rotas, nos parece bastante benéfica no sentido de aumentar a

coerência do sistema e a segurança dos pedestres, ainda que a experiência

brasileira venha demonstrando incontáveis casos de confusão das funções entre o piso guia e o piso alerta (gerada basicamente pela falta de políticas

informativas)(figura 02).

O piso decisão (figura 01) que ora propomos não tem, portanto, um desenho normatizado. Convém, todavia, que seu relevo seja facilmente identificado como diferente dos relevos do piso guia e do piso alerta. Deve ser instalado sempre associado ao percurso do piso guia e tem a função de informar ao usuário sobre a presença de pontos de tomada de decisão relativas a mudanças de direção ou à escolha de novas rotas.

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Figura 02 – Instalação equivocada dos pisos. A) piso guia com função de alerta B) Piso alerta com função de guia C) Obstáculos fora da faixa de alerta.

CONDICIONANTES E REQUISITOS DO PROJETO DE PRODUTO

A primeira característica a se considerar no desenho de um piso cerâmico para acessibilidade é a eficiência do produto quanto a sua detectabilidade pelos pés e pela bengala. Garantir uma boa detectabilidade envolve a consideração de

inúmeras e complexas variáveis. Quando consideramos o usuário cego, a

detectabilidade é obtida através de um desenho adequado de relevo e da escolha dos materiais. Cabe aos pisos acessíveis, no entanto, auxiliar também a orientação de pessoas com baixa visão e a população em geral. Para estes primeiros, além das características anteriormente citadas, deve-se aprofundar estudos para a definição de contrastes de cores que aumentem a detectabilidade e diferenciação do piso accessível em relação ao seu piso circundante.

Dentro da faixa de usuários classificada como com baixa visão, existe uma enorme variação de possibilidades de percepção visual, de modo que a

compreensão das diferentes patologias da visão e seus sintomas, bem como a realização de testes com a mais ampla e variada faixa de usuários possível, é fator determinante para o sucesso de um novo desenho.

Desde a década de 80 vem sendo realizadas pesquisas em todo mundo – notadamente nos Estados Unidos e no Reino Unido – a fim de encontrar um desenho de produto que seja mais seguro, confortável e detectável para um maior espectro possível de pessoas. Baseadas nestas pesquisas foram fundamentadas as recomendações e normatizações desses países, que vieram a ser modelo para boa parte dos outros que possuem legislação acerca deste tema, incluindo o Brasil.

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Conforme dito anteriormente, existe uma diferença conceitual na utilização dos pisos para acessibilidade entre alguns países: alguns adotam a sinalização tátil com função de segurança, alertando para perigos e obstáculos. Outras somam a essa função a de sistema de orientação, mediante adição de novas peças. Desta maneira, e dado o fato das pesquisas nessa área estarem sendo realizadas principalmente nos Estados Unidos, os estudos dimensionais encontrados são quase exclusivamente voltados para a sinalização de segurança, cujo produto final correspondente no Brasil chamamos de piso alerta.

Em relação à altura dos domos, uma pesquisa japonesa com 60 voluntários testou diferentes alturas de domos entre 2,5mm e 10mm. A partir deste teste, e de testes americanos subseqüentes, chegou-se à medida média recomendada na maioria das normas internacionais: a de 5,0mm de altura do domo.

No que tange à definição das dimensões de base, topo e espaçamento entre os domos, as principais preocupações giram em torno da necessidade de se evitar que os domos sejam identificados como superfície única e homogênea, e de evitar que sejam identificados como linhas-guia. As pesquisas realizadas mostram que as relações mais adequadas (com mais de 90% de identificação positiva) são: A) 22mm de diâmetro da base com 50mm de espaçamento B) 22mm de diâmetro da base com 60mm de espaçamento C) 28mm de base com 60mm de espaçamento. Na norma brasileira, para o piso tátil alerta, foram determinadas dimensões de 22 a 30mm de base com 42 a 53mm de espaçamento.

Em relação ao piso guia existe pouca pesquisa específica, mas é usual

considerar que, em termos de detectabilidade, utilizar as mesmas dimensões do piso alerta (mas desta vez de modo alongado por toda a peça) lhe confire as mesmas propriedades de identificação. É importante observar, no entanto, que piso guia e piso alerta, por possuírem funções distintas, não necessariamente precisam atender exclusivamente aos mesmos critérios dimensionais.

Ainda não existe um consenso quanto ao modo de utilização do piso guia – como orientação apenas para a bengala, como referência tátil no contato com os pés, ou empregando ambos os meios – é importante, todavia, que se considere em seu desenho não apenas sua alta detectabilidade, mas também o conforto do

usuário ao caminhar. Diferentemente do piso alerta – no o qual o desconforto pode ser um dado importante, já que pretende anunciar a presença um risco iminente – o

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piso guia deve permitir longas caminhadas sem causar incômodo ou situações de risco tais como entorces, tropeços, etc.

No caso do piso decisão, por se tratar de um produto novo, não existe nenhuma normatização que regule seu dimensionamento. No entanto, dado sua função, é desejável que seu desenho agregue uma alta detectabilidade de seu relevo associada necessariamente a uma clara diferenciação de seu desenho em relação tanto ao piso guia – ao qual está sempre justaposto – quanto ao piso alerta.

Cor e Contraste Visual

A norma brasileira para acessibilidade NBR 9050:2004 (1) não estabelece uma cor ou paleta específica de cores para os pisos táteis, no entanto determina que “a sinalização tátil no piso (...) deve ter cor contrastante com a do piso adjacente”. Do mesmo modo se posicionam as normas e recomendações internacionais,

priorizando a necessidade da presença de relação de contraste entre o piso tátil e o piso circundante, em detrimento da escolha de uma, ou algumas cores específicas. A recomendação americana ADAAG (2), no entanto, é mais precisa quanto ao nível de contraste desejável entre as áreas, indicando a utilização de cores de pisos que apresentem no mínimo 70% de contraste entre si (apêndice 4.29.2).

Cabe observar que a refletância de luz não é o único fator que afeta a

percepção de uma determinada cor. Em adição a ela podemos citar, por exemplo, a iluminação do ambiente em relação à cor. Uma cor quando iluminada com luz de mesma freqüência tende a ser percebida como branco. Da mesma maneira, algumas cores como o vermelho, laranja, verde e azul, tendem a parecer

acinzentadas quando iluminadas com luz amarela. Além disso, as condições de manutenção e limpeza das superfícies podem afetar o modo como são percebidas suas cores.

Em seu recente estudo sobre a detectabilidade de pisos táteis por usuários com baixa visão, o Departamento de Estradas Americano(3) conclui que, se for desejável a normatização de um esquema cromático para pisos táteis para acessibilidade, é recomendada a adoção de um padrão de escala de duas cores que, relacionadas, possuam um alto contraste entre si e com o piso do entorno adjacente. Além disso, quando for necessária a adoção de uma única cor para os pisos táteis, a mais recomendada, de acordo com seus testes, é o “amarelo

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segurança” (ISO 3864), por apresentar mais contraste com uma maior gama de cores base. Exceção se faz nos casos em que o piso circundante é muito claro (branco ou cinza claro), quando é mais apropriada a adoção da cor vermelha em tom vivo.

Contraste Sonoro

O som é uma importante fonte de informação ambiental para pessoas cegas ou com baixa visão. Através do uso pendular da bengala podem não apenas

identificar os obstáculos e os diferentes relevos e texturas das superfícies pelo tato, mas também reconhecê-las e identificá-las através da variação da reflexão do som em contato com estas diversas superfícies.

Desta maneira se torna importante - como agente potencializador das características de detectabilidade de um piso acessível - que ele apresente, além dos contrastes de relevo e cor, contraste sonoro com o piso circundante ao toque da bengala.

Para tanto, algumas estratégias mostram maior eficiência, sendo que a mais comum é a adoção de pisos acessíveis constituídos de materiais diferentes

(sobretudo em termos de resistência e densidade) do material do piso de entorno imediato. Nessa situação se mostram notadamente eficientes pisos feitos em materiais de base polimérica ou de borracha, em contraste com entornos de pavimentação mais rígida e reflexiva, como o concreto, o granito, ou mesmo a cerâmica.

Apesar de desejável, o contraste sonoro não é exigência da norma brasileira de acessibilidade. Na recomendação americana o contraste sonoro ao toque da bengala é solicitado, mas não mensurado.

Outros Requisitos Importantes

Além dos requisitos de desenho já descritos, é igualmente importante que se considere como características necessárias ao produto final: a anti-derrapância, a resistência mecânica, a resiliência (resistência ao choque), a resistência a

intempéries (tanto do ponto de vista cromático, quando da integridade física do material), entre outros.

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Em relação às características específicas do piso cerâmico para fins de acessibilidade, são requisitos mínimos desejáveis: absorção de água entre 0,5 e 3,0%, PEI 5, resistência ao risco entre 7 a 8 Mohs, resistência ao deslizamento Classe II (Igual ou maior que 0,75), e resistência a manchas nível 3 a 5.

CONCLUSÃO

Em junho deste ano termina o prazo estipulado pelo decreto n. 5.296 para a adaptação das edificações de uso público já existentes, com vistas à garantia de acessibilidade às pessoas portadoras de deficiência ou mobilidade reduzida. Em várias cidades brasileiras ações de fiscalização sob responsabilidade do Ministério Público estão em andamento visando o cumprimento das novas leis. No entanto, que se refere à sinalização tátil, a falta de oferta de produtos adequados para a utilização em ambientes internos, dificulta a implementação da lei e a sua

adequação. Algumas iniciativas se fazem introduzindo materiais alternativos para pisos que atendam essas funções, como manufatura em pedra ou aplicação de materiais poliméricos adesivados sobre os pisos já existentes.

Face à necessidade real de produtos que possam atender a essa nova demanda e à adequação do material cerâmico à mesma, esperamos que a

descrição do processo e dos aspectos técnicos envolvidos no design de pisos táteis aqui descrito possa contribuir para a difusão do conhecimento nesta área tão

específica. Apesar do projeto ainda estar em desenvolvimento, e no presente momento ainda não ter iniciado a etapa de produção industrial das primeiras peças (confecção das formas), a fundamentação teórica e a realização de testes iniciais com usuários, torna possível a avaliação parcial de resultados e o inicio de ações de difusão do conhecimento.

Ressaltamos, por fim, a relevância social do projeto. Desenvolver novos produtos de qualidade que possam aumentar a capacidade de pessoas com

deficiência visual criando melhores condições para sua orientação e mobilidade nos espaços edificados certamente contribui para ampliar suas possibilidades de

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 9050/2004 -Acessibilidade de pessoas portadoras de deficiências a edificações, espaço, mobiliário e equipamento urbano. Rio de Janeiro: ABNT. (2004) 97.

2. ADAAG - American with Disability Act. Accessibility Guidelines for Buildings and Facilities. oline em: <http://www.access-board.gov/adaag/html/adaag.htm>

3. J. Jennes, J. Singer. Visual Detection of Detectable Warning Materials by Pedestrians with Visual Impairments. Final Report. Washington: Federal Transit Administration. (2006) 109.

CREATING NEW CERAMIC TILES FOR VISUALLY IMPAIRED PERSONS

ABSTRACT

To allow full conditions of inclusion for visually impaired persons cultural changes and legal and political acts are necessary. Changes in the physical

environment are also fundamental to attain spatial accessibility. We present here a project with a Universal Design approach that aims the development of tactile pavements for outdoor and indoor public spaces. Due to the complexity and specificity of the project subject we will focus on the detailed description of formal characteristics and technical aspects of the new products’ design process. We stress the study social relevance to support a better spatial orientation process for visually impaired users increasing their independent locomotion and participation opportunities. We also emphasize the project economic relevance while creating products which satisfy new demands generated by the recent Brazilian spatial

accessibility laws and the lack of similar products in the industrial construction sector.

Key-words: Universal Design, Ceramic Tiles, Tactile Pavement, Accessibility, Visual Impairments.

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