E-mail do trabalho não é para
brincadeiras
27/03/2009 Fábio Reynol
Usar de modo inadequado o e-mail que a empresa lhe dá pode gerar problemas sérios como demissão e até processos judiciais.
Um novo emprego geralmente vem com um e-mail novo e a primeira reação de muitos recém-contratados é espalhar aos amigos o seu endereço com o nome da empresa depois da “@”. Porém, misturar a caixa postal eletrônica da empresa com a pessoal é um dos erros mais comuns e que tem trazido sérios problemas a muita gente. Não revisar o texto, não verificar o
destinatário, enviar correntes ou arquivos piratas e escrever em linguagem inadequada são outras encrencas que as empresas enfrentam em seus correios eletrônicos. Para não passar por isso, preste atenção nos
conselhos dos especialistas.
Primeira dica, “o endereço de e-mail que você recebe no trabalho não é seu, é da empresa. É uma ferramenta como um computador ou uma enxada que o trabalhador recebe para trabalhar. Quando você sai da empresa essas coisas não vão com você,” compara o consultor Bruno Russo. Por isso, use-o estritamente para o trabalho. Para as mensagens pessoais use outro endereço. Russo também aconselha a ficar atento às regras utilizadas na sua empresa. A maioria já conta com normas para utilização de e-mail e de internet. É muito importante conhecer essas regras antes de começar a trabalhar. “Há empresas mais liberais e outras menos”, afirma Russo, portanto, talvez não seja uma boa idéia você trocar receitas pelo mail da empresa só porque seu último patrão não se
importava com isso, por exemplo.
Russo lembra ainda que o e-mail da empresa não é programa de bate-papo, por isso não use abreviações nem a linguagem que você costuma usar com os amigos. Jamais repasse correntes e cuidado ao enviar arquivos anexados. “Se você não souber a capacidade do destinatário não envie arquivos com mais de 10Mb”, aconselha o consultor. Há ainda empresas que abrem espaços eletrônicos específicos para os seus colaboradores, como, por exemplo, canais para anunciar a venda de carros ou imóveis, fóruns de
A advogada Patrícia Peck Pinheiro dá dicas para o bom uso de e-mails corporativos.
debates, etc. Caso você trabalhe numa empresa assim, respeite as regras e use esses espaços nos limites especificados.
Há ainda um aspecto muito sério do correio
eletrônico e que poucos se dão conta, o e-mail é um documento legal. “Cada vez mais as pessoas estão documentando o que elas pensam”, afirma a
advogada Patrícia Peck Pinheiro, especialista em direito digital, “e no meio jurídico a prova escrita é mais forte que a oral”. Isso quer dizer que uma piada racista postada num blog, enviada por torpedo ou transmitida por e-mail pode gerar um processo judicial contra o remetente. Nem é preciso ir tão longe. Um simples elogio pode assumir outro sentido no e-mail. “Uma coisa é você olhar para a sua colega de trabalho e brincar: ‘nossa! Como você está
bonita!’ Essa mesma frase por escrito pode dar a conotação de assédio sexual”, alerta a advogada, “pois máquinas não têm contexto.”
É preciso ter muito critério com o que vamos
escrever. “A chamada ‘rádio corredor’ agora é a ‘rádio e-mail’”, conta Patrícia se referindo às conversas na hora do cafezinho que migraram para o correio eletrônico. O problema é que muitos falam mal do chefe, contam fofocas ou criticam colegas por e-mail. Não é raro essas mensagens irem parar nos computadores das pessoas envolvidas. “Não temos controle do destino das mensagens”,
lembra a especialista que coleciona histórias desagradáveis provocadas por falta de bom senso no uso das mensagens eletrônicas. Entre os casos mais comuns estão os de profissionais que reclamam por e-mail da postura de colegas num grupo de trabalho. Essa mensagem acaba sendo retransmitida várias vezes e seu conteúdo vai permanecendo na parte de baixo, no
histórico das conversas, e uma hora chega à caixa postal do criticado gerando mal estar entre os envolvidos.
Patrícia Peck ainda chama a atenção para outro item importantíssimo, verificar sempre o destinatário da mensagem, especialmente quando for enviar documentos confidenciais. O preenchimento automático de
endereços pode causar enganos e por causa de uma letra trocada a mensagem pode parar em mãos erradas. Caso isso aconteça, a advogada aconselha a enviar uma mensagem de correção para quem a recebeu, informando o erro de destinatário, deixando claro que o documento não deve ser lido, mas apagado imediatamente. Esse e-mail de correção deve ser guardado em meio eletrônico (pen drive, por exemplo) como prova do
remetente.
Hoje, muita gente já sabe que pornografia em computadores da empresa, por exemplo, pode gerar demissão por justa causa. Porém, poucos se
importam com outras atividades mais corriqueiras como enviar um filme ou mesmo um arquivo MP3 pelo e-mail corporativo. No entanto, caso a
empresa seja periciada, ela poderá responder por pirataria e até ser multada. “O empregado além de ser demitido, pode ser acionado
judicialmente para pagar o prejuízo que deu à empresa”, alerta Patrícia. No mais, é preciso ter sempre em mente que quando mandamos uma mensagem no nosso e-mail corporativo não somos somente nós que
falamos, mas também a empresa que está com o nome naquele endereço. Nas palavras de Patrícia Peck, “e-mail corporativo é papel timbrado digital”. Daí a importância de não se cometer erros de português, evitar mensagens de duplo sentido e usar o endereço somente para assuntos profissionais da corporação. “Jamais mande um currículo para outra empresa pelo e-mail corporativo,” exemplifica a advogada. Lembre-se sempre de que a empresa tem o direito de ler todas as mensagens que contém o seu nome depois da arroba, e muitas decisões judiciais já garantiram isso. Falta de privacidade? No e-mail profissional, sim. Patrícia compara essa situação a outra bem corriqueira. “É como as câmeras nos elevadores, ao mesmo tempo em que você perde a privacidade, você se protege dos maus usuários”.
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