• • n•• t6-TA 0.1 ("NJ ntrrrt ESTADO DA PARAÍBA PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Gab. Des. Genésio Gomes Pereira Filho ACÓRDÃO
APELAÇÃO CÍVEL n°031.2007.000081-O /001 — 2 a Vara Cível de Princesa Isabel
RELATOR: Des. Genésio Gomes Pereira Filho
APELANTE: Companhia de Seguros Aliança do Brasil ADVOGADOS: Carlos Antônio H. Filho e outros
APELADA: Maria do Socorro N. Ferreira ADVOGADO: José Rivaldo Rodrigues
CIVIL — Apelação cível — Ação de restabelecimento de contrato de seguro de vida — Consumidora que àtrasou algumas parcelas — Rescisão dos contratos não precedida de notificação da segurada — Existência de cláusula que prevê o cancelamento automático do seguro quando inadirriplidas duas parcelas consecutivas — Cláusula abusiva — Necessidade de prévia interpelação da segurada para constituição em mora — Precedentes do STJ — Desprovimento da apelação.
— "O mero atraso no pagamento de prestação do prémio do seguro não importa em desfazimento automático do • contrato, para o que se exige. ao menos, a prévia
constituição em mora do contratante pela seguradora, mediante interpelação". (STJ. REsp 316.449/SP, DJ 12/04/2004).
VISTOS, relatados e discutidos os autos acima,
ACORDAM os integrantes da Terceira Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça da Paraíba, por unanimidade, em negar provimento ao recurso, nos termos do voto do Relator e da certidão de julgamento de fl.179.
RELATÓRIO
Maria do Socorro Nunes Ferreira ajuizou
Ação de Restabelecimento de Contrato de Seguro de Vida c/c Pedido de Purgação de Mora em face da Companhia de Seguros Aliança do Brasil,
relatando que celebrou dois contratos de seguro de vida com a promovida, cujos valores eram mensalmente debitados em sua conta corrente. Disse que após çz
• que realizava não estavam sendo utilizados para quitação dos prêmios de seguro
de vida, mas para quitação do empréstimo.
Alega que nunca recebeu qualquer notificação para sua constituição em mora e que somente ficou sabendo do cancelamento do seguro quando foi notificada pelo banco para regularização do empréstimo.
Afirma que ao tomar conhecimento do cancelamento propôs o pagamento do mesmo, acrescido da mora, mas seu pedido não foi atendido pela seguradora.
Ressaltou que seu intuito é restabelecer o contrato de seguro com o pagamento do débito e seus respectivos consectários, fundamentando seu direito nos arts.112,421 e 422 do Código Civil, bem como, nos princípios da conservação do negócio jurídico, da boa fé objetiva e na teoria do adimplemento substancial.
Juntou documentos às fls.18/45.
Devidamente citada, a seguradora apresentou • contestação às fls.55/61 alegando que a apólice de seguro prevê no item 10.2 que inadimplidas duas parcelas consecutivas o seguro ficará automaticamente cancelado, não podendo mais ser restabelecido. Aduz também que a regra contratual é decorrente do art.6°, do Decreto-Lei n°73, de 21 de novembro de
1966, que dispõe sobre o Sistema Nacional de Seguros Privados. Juntou documentos às fls. 62/112.
Impugnação à contestação às fls.117/121.
Conclusos, a MM. Juíza a quo julgou procedente o pedido, nos seguintes termos: "POSTO ISTO, e atenta ao mais que dos autos consta, julgo procedente o pedido para determinar que a CIA DE SEGUROS ALIANÇA DO BRASIL restabeleça os-dois contratos de seguros _firmado com MARIA DO SOCORRO NUNES PEREIRA no prazo de 30 dias, contados da intimação da sentença. sob pena de multa diária de RS •
1.000,00 limitada ao valor máximo de RS 30.000.00 devendo ainda interpelar a promovente para purgar a mora em 30 dias, contados da interpelação.(...) - (fls.127/130)
Inconformada, a promovida interpôs apelação (fls. 133/144).
Apresentadas contra-razões às fls. 147/158, com documentos de fls.159/163.
A douta Procuradoria de Justiça opinou pelo desprovimento do recurso (fls. 170/172).
É o relatório.
VOTO
Trata-se de apelação cível interposta contra sentença que condenou a Companhia de Seguros Aliança do Brasil ao restabelecimento dos seguros de vida firmados com a autora sob pena de multa.
Aduz a apelante ser legal a cláusula do contrato que prevê o cancelamento do seguro quando ocorrer a inadimplência, existindo • regra específica para os contratos de seguro no CC (art.763). Disse, ainda, que é
• desnecessária a prévia notificação da segurada quando o atraso do pagamento
durou mais de sessenta dias.
No caso em tela, entendo que a sentença não merece reforma.
É sabido que a mora só fica caracterizada no pagamento de prestações relativas ao seguro de vida após a interpelação do segurado. Logo, a alegação da apelante de que é desnecessária a prévia notificação não merece guarida, pois não basta um mero atraso para se desconstituir a relação contratual, sendo imprescindível a notificação do consumidor antes de se proceder ao cancelamento.
Assim já decidiu o STJ:
"CONTRATO DE SEGURO DE VIDA EM GRUPO. LEGITIMIDADE PASSI'A DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA PERTENCENTE AO MESMO GRUPO ECONÔMICO DA SEGURADORA. ATRASO NO PAGAMENTO DO PRÊMIO. CANCELAMENTO AUTOMÁTICO DO CONTRATO. LWPOSSIBILIDADE.
110
NECESSIDADE DE INTERPELAÇÃO DO SEGURADO PARA CONSTITUI-LO EM MORA.
I - Omásis.
II - "O mero atraso no pagamento de prestação do prêmio do seguro não importa em desfazimento automático do contrato, para o que se exige, ao menos, a prévia constituição em morá, do contratante pela seguradora, mediante interpelação". (REsp 3I6.449/SP, DJ 12/04/2004).
Recurso não conhecido. - (STJ - REsp. 434865/RO, 3' Turma, Rel. Min. Castro Filho. j. 13.09.2005)
O atraso no pagamento de parcelas do seguro autoriza a promovida apenas a realizar a cobrança com juros da mora sem permitir, contudo, a rescisão unilateral do contrato.
Deste modo, é nula de pleno direito a cláusula 10.2 do contrato (f1.75) por ser nitidamente abusiva, visto que deixa o segurado em desvantagem exagerada e rompe, assim, o equilíbrio contratual, em benefício da seguradora. Esta afirmação encontra fundamento, inclusive, no art.51 do Código de Defesa do Consumidor. Vejamos:
"Art. 51- São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
IV- estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-lê ou a eqüidade;
XI - autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente. sem que igual direito seja conferido ao consumidor.
. .
Ademais, conforme afirmou o Ministério Público em seu parecer de fls.170/172, o contrato deve ter a sua interpretação realizada da forma que mais beneficie o hipossuficiente da relação de consumo.
Portanto, a rescisão dos contratos de seguro de vida da autora não pode ser considerada legal já que inexistiu interpelação para que a segurada purgasse a mora.
Ante o exposto, e em harmonia com o parecer
ministerial, NEGO PROVIMENTO À APELAÇÃO, mantendo a decisão em todos
os seus termos.
É como voto.
Presidiu a Sessão o Exmo. Sr. Desembargador Genésio Gomes Pereira Filho. Participaram do julgamento, o Eminente Desembargador Genésio Gomes Pereira Filho, o Exmo. Des. Márcio Murilo da Cunha Ramos e o Exmo. Des. Saulo Henriques de Sá e Benevides.
Presente ao julgamento o Exmo. Sr. Dr. Doriel
111
Veloso Gouveia, Procurador de Justiça.
Sala de Sessões da Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, João Pessoa, 15 de setembro de 2009.
-,
•
'fr,- L'-- -
-Des. Genéd lo Gomes Perei2,1_ Filho
Relator
_
TRIBUNAL DE JUSTIÇ"
Coordenador),. Judiciária)
Regitttrado