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FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO CURSO DE GRADUAÇÃO JOSÉ VICTOR BATISTA

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Academic year: 2021

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FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO

CURSO DE GRADUAÇÃO

JOSÉ VICTOR BATISTA

A CATAPORA DA CHIQUINHA

UM RETRATO DE DESIGUALDADE, PANDEMIA E DA REALIDADE

LATINO-AMERICANA

(2)

2

2020

FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO

CURSO DE GRADUAÇÃO

JOSÉ VICTOR BATISTA

A CATAPORA DA CHIQUINHA

UM RETRATO DE DESIGUALDADE, PANDEMIA E DA REALIDADE

LATINO-AMERICANA

Trabalho apresentado no

curso de graduação da

Fundação Escola de Sociologia

e Política de São Paulo.

Professores:

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Sumário

Introdução4 A Catapora4

O Menino no Barril e sua Querida Vizinhança6 Chiquinha: Precursora do Distanciamento Social?8 Conclusão8

Referências9

3

SÃO PAULO

2020

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A Catapora da Chiquinha: Um Retrato de Desigualdade, Pandemia e

da Realidade Latino-Americana.

José Victor Batista | RA: 0025187 | 2º Semestre

Introdução

Nenhum seriado foi tão influente na América Latina quanto ​Chaves​. Do México a Argentina, da Colômbia ao Brasil, qualquer pessoa que se preze conhece o personagem. Está viajando além da nossa quebrada latino-americana e quer encontrar algum compatriota? Vista uma camiseta estampada do ​Chavo del Ocho​, como é chamado nos países de língua espanhola.

Mas o que faz o ​sitcom criado pelo mexicano Roberto Gómez Bolaños se manter emblemático em um meio que é dominado pelo entretenimento estadunidense 40 anos após sua estreia?

Por mais entretenedor que sejam, os seriados e filmes estadunidenses também tendem a ser, porém, fora da nossa realidade. Dou como exemplo este que vos escreve, que cresceu frustrado ao descobrir que, ao contrário dos filmes, não só não há neve no Natal como é incrivelmente quente durante tal época do ano.

Chaves é emblemático por retratar a realidade daquela que é a região mais desigual do planeta. O menino órfão que mora em um barril é um retrato da pobreza na América Latina. São esses paralelos que pretendo traçar aqui, por meio de dois episódios do seriado mexicano: ​Quem com catapora fere, com catapora será ferido!​, de 1975, e ​A catapora​, de 1979, ambos remakes​1 do episódio ​O surto de catapora​,

de 1973. A Catapora

Primeiramente, abordaremos a narrativa dos episódios citados, que por serem ambos remakes, são praticamente iguais, possuindo algumas diferenças pontuais e pouco significativas, além de certas piadas alteradas. A distinção mais notável é a substituição de Quico (Carlos Villagrán) por sua prima Pópis (Florinda Meza) na

1 ​Na época, não havia reprises dos episódios exibidos. Logo, esses remakes eram uma forma da

audiência – e da produção – revisitar as mesmas histórias.

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versão de 1979, mas seus papeis dentro da narrativa são os mesmos e por isso usarei o personagem de Villagrán aqui.

Também é importante ressaltar que, devido a grande fama que ​Chaves têm nas terras tupiniquins, parto do pressuposto de que você leitor já esteja familiarizado com o cenário e personagens.

O episódio começa com Chaves (Roberto Gómez Bolaños) tomando um refresco que ganhou do dono da venda da esquina quando Chiquinha (Maria Antonieta de lãs Nieves) passa chorando histericamente. Quico vê o ocorrido e pergunta ao amigo por que Chiquinha estava chorando, mas se irrita, pois Chaves constantemente interrompe a explicação para tomar seu refresco, e toma a bebida das mãos dele. Resolve por despeito derramar o refresco e acaba o fazendo em cima de Chiquinha, que começa a chorar ainda mais, e foge quando Chaves ameaça lhe bater.

O choro chama atenção do pai da Chiquinha, Seu Madruga (Ramón Valdez), que lhe diz que o Professor Girafales (Ruben Aguirre) iria lhes pagar uma visita, para o desespero da menina que resolve ir correndo para dentro de casa.

Passado algum tempo – e muitas piadas – Sr. Barriga (Édgar Vivar) o dono do cortiço, chega para cobrar os alugueis, a começar Seu Madruga, que o reconhece pelos sons da batida na porta. Em um rápido raciocínio, diz para a filha ir para o quarto e “não sair por nada nesse mundo”, bagunça os cabelos e ao deixar Sr. Barriga entrar o informa que Chiquinha anda doente.

Inicialmente cético e, corretamente, suspeitando de que é apenas uma desculpa para não pagar os 14 meses de aluguel, Sr. Barriga é logo convencido pelo inquilino que Chiquinha não só está doente como está com uma doença contagiosa e decide sair para cobrar os outros alugueis.

Corta a cena e então vemos Sr. Barriga, tendo terminado de cobrar o aluguel de Dona Florinda, sendo acertado na barriga por Chaves, que continua a perseguir Quico, acertando também o Professor Girafales, que acabara de chegar na vila.

Após uma breve interação com Dona Florinda (Florinda Meza), mãe de Quico e seu eterno interesse romântico, descobrimos que o motivo da visita do professor é

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Chiquinha ter faltado as aulas daquele dia, alegando estar com catapora, o que enfurece o pai da garota, mas o obrigado a confirmar a história para que sua mentira não seja desmascarada para o Sr. Barriga. Logo todos decidem manter distância de Seu Madruga e Chiquinha para não serem infectados, com a exceção de Chaves, que quer pegar catapora, pois é alimentado sempre que fica doente.

Para manter a história crível, e para castigar Chiquinha por ter faltado na escola, Seu Madruga a proíbe de sair do quarto, aborrecendo a menina que decide fugir pela janela para brincar e acaba causando um caos na vila ao deixar todos acharem que está lhes passando catapora.

Seguindo para a última cena, é revelado não só que Chiquinha realmente tinha catapora ao afinal das contas, como ela acabou de fato passando a doença para todos, com a exceção de Chaves, ironicamente.

Figura 1 – Sr. Barriga cobre o aluguel de um Seu Madruga “aflito” com a “doença” da filha. Figura 2- Chaves e Chiquinha conversam após descobrirem que a garota realmente estava

doente.

(Fonte: ​A Catapora​, 1979, dir. Roberto Gómez Bolaños).

O Menino no Barril e sua Querida Vizinhança

Já mencionamos que ​Chaves conseguiu o sucesso que teve por trazer a realidade latino-americana para as telinhas da TV, mas o que isso significa? Pretendo levar alguns pontos em relação a isso.

Os trabalhos de Roberto Gómez Bolaños trazem narrativas comuns. Em

Chaves​, simplesmente acompanhamos o dia-a-dia dos inquilinos do cortiço. Mesmo nas histórias que contam com o herói ​Chapolin Colorado​, outro seriado de sucesso

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criado e estrelado por Bolaños, os roteiros muitas vezes contam com situações mais “cotidianas”, como ajudar um casal a fugir de um hotel na qual foram extorquidos.

Outra questão importante já mencionada é como o ​sitcom retrata a questão da desigualdade. Apesar dos avanços das últimas décadas, a América Latina ainda é o lugar mais desigual do mundo. ​O simples fator de nascer em um bairro mais rico ou mais pobre da América Latina pode mudar a expectativa de vida de uma pessoa em vários anos​. A maioria dos personagens do seriado personifica a falta de renda na região, ou então conceitos tradicionais de nossos personagens fictícios.

Analisaremos alguns dos personagens a partir do que pudemos observar. A começar por Seu Madruga, o eterno desempregado – que vez ou outra consegue arranjar alguns bicos – que foge de credores para não pagar aluguel e cria a filha sozinho – pois a esposa faleceu durante o parto. Ele e Chiquinha, que herdou a esperteza do pai, remetem aos clássicos malandros de nosso entretenimento nacional – desde Didi ao Pedro Malasartes de Amácio Mazzaropi, entre outros.

Passando dos moradores da casa de número 72 para a de número 14, temos Dona Florinda que, viúva de um capitão da marinha que fora engolido por uma baleia, sobrevive com o que recebe de pensão. Embora a própria admita em certas ocasiões ter problemas com falta de dinheiro – o que a leva a abrir um restaurante alguns episódios a frente na temporada de 1979 para complementar a renda –, seu antigo status na alta sociedade leva Florinda e seu mimado filho Quico (e a sobrinha Pópis) a se convencerem como superiores a seus vizinhos, a “gentalha”.

Porém, a renda superior da família em relação aos vizinhos, que por mais que não seja grande, permite a apelidada “valentona do 14” a comprar brinquedos de primeira mão para o filho os fazem serem vistos como endinheirados na vizinhança, visão essa compartilhada pelo superprotegido Quico. No episódio, ao ir perguntar a Chaves o porquê de Chiquinha estar chorando, o amigo se mostra defensivo por achar que Quico queria seu refresco, ao que responde:

“Ah engole, eu nem quero. Porque se eu quisesse eu pedia pra minha mamãe e ela me comprava ​todos os refrescos do mundo.” (LA Viruela, 1975)

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Pulando o (verdadeiramente) rico – porém de grande coração – dono da vila, Sr. Barriga, e o instruído porém tímido Professor Inocêncio Girafales, chegamos ao protagonista, que nunca soubemos o verdadeiro nome, mas a quem sempre chamamos de Chaves, o menino órfão que aparenta viver em um barril – embora argumente viver na casa de número oito, a qual nunca vimos – e está sempre com fome.

Bolaños creditava a inocência e ingenuidade de Chaves como uma das razões pelo qual o público tinha tanto carinho pelo seu personagem. Porém mesmo em sua ingenuidade ele possui uma lógica, a exemplo de seu desejo não cumprido de pegar catapora. É quando descobrimos que Chaves pensa isso como uma forma de ser alimentado que Seu Madruga e a audiência compreende o raciocino do garoto faminto.

Chiquinha: Precursora do Distanciamento Social?

Gostaria de, por fim, brevemente mencionar que outra razão pelo qual os episódios abordados foram escolhidos se deve ao momento em que este texto está sendo escrito.

Embora esses episódios sejam de, respectivamente, de 45 e 41 anos atrás, enquanto vivenciamos a pandemia atual, a da COVID-19, em que 158 mil pessoas morreram no Brasil e cujo governo tem sido criticado por suas ações – ou a falta delas – em relação a isso, não deixa de ser uma mensagem clara de aviso, mesmo que não intencional, acompanharmos uma personagem supostamente doente quebrar o distanciamento social e acabar por infectar quase toda a vizinhança. Conclusão

Seria exagero fazer uma análise social de um seriado de comédia de quatro décadas atrás? Alguns podem argumentar que sim, mas tenho a convicção de que

Chaves ​permanece relevante e até mesmo atual em nosso imaginário popular. Através de muito bom humor para todas as idades, Roberto Gómez Bolaños e todo o lendário elenco da série conseguiram nos trazer um retrato simples e autêntico de uma América Latina bela, porém desigual.

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É por esse e vários outros motivos que, dentro do entretenimento latino-americano, ​Chaves​ sem dúvida merece a coroa.

Referências

LA Viruela (Temporada 3, ep. 34). El Chavo Del Ocho [seriado]. Direção: Enrique Segoviano. Produção: Roberto Gómez Bolaños e Enrique Segoviano. Cidade do México: Televisa, 1975. 1 vídeo (21m), son., color.

LA mentira de La Chilindrina (Temporada 7, ep. 7). El Chavo Del Ocho [seriado]. Direção: Roberto Gómez Bolaños. Produção: Roberto Gómez Bolanõs e Enrique Segoviano. Cidade do México: Televisa, 1979. 1 vídeo (21m), son., color.

TELEVISA, Editora. Chaves: a história oficial ilustrada. 1º edição. São Paulo: Universo dos Livros, 2012.

LISSARDY, Geraldo. Por que a América Latina é a ‘região mais desigual do planeta’. BBC News Brasil, Nova York. Disponível em:

<​https://www.bbc.com/portuguese/brasil-51406474​>​. Acesso em: 21 de out. de 2020. NOGUEIRA, Luiz. Covid-19: Brasil tem 510 mortes nas últimas 24h; total ultrapassa 158 mil. Olhar Digital, São Paulo. Coronavírus. Disponível em:

https://olhardigital.com.br/coronavirus/noticia/covid-19-brasil-tem-510-mortes-nas-ulti mas-24h-total-ultrapassa-158-mil/98089. Acesso em: 28 de out. de 2020.

Referências

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