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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA CHRISTOPHER JONATHAN MORO

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA

CHRISTOPHER JONATHAN MORO

UM CAMINHO PARA UMA EXPERIÊNCIA: MUNDO E PERCEPÇÃO SEGUNDO MERLEAU-PONTY.

Projeto de Mestrado apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Filosofia do Departamento de Filosofia do Setor de Ciências Humanas da Universidade Federal do Paraná, como requisito para o processo de seleção.

CURITIBA

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1

1. LINHA DE PESQUISA: História da Filosofia.

2. TÍTULO DO PROJETO: Um caminho para uma experiência: mundo e percepção

segundo Merleau-Ponty.

3. RESUMO: O objetivo deste projeto é problematizar e discorrer a respeito da relação entre corpo, percepção e mundo na filosofia de Maurice Merleau-Ponty, reformulando e refletindo

sobre o problema da imanência e da transcendência, isto é, o paradoxo da percepção, problema com o qual esta pesquisa se ocupa. Para tanto, em primeiro lugar, apresentar-se-á o modo como Merleau-Ponty interpreta e se posiciona em relação à tradição. Em seguida, suas reflexões sobre os conceitos de corpo, percepção e mundo serão delineadas conforme os trabalhos da primeira fase e de acordo com os cursos que constituem a fase intermediária da filosofia merleau-pontiana. Vê-se que, para Merleau-Ponty, as relações que o corpo mantém como seu entorno (quer dizer, com os outros e com o mundo) se dão, a princípio, por intermédio das experiências perceptivas, ou seja, pela capacidade sensitivo-motora e exploratória de um corpo entendido enquanto consciência encarnada. Assim, o problema da percepção será desdobrado, perpassando, nos momentos oportunos, por outras noções basilares para sua compreensão, como, por exemplo, as noções de perspectiva, instituição,

espaço e tempo. Dentre os benefícios desta pesquisa, pode-se citar a ampliação da

compreensão e do uso das concepções de corpo, percepção e mundo ao longo da história da filosofia, bem como seus desdobramentos na contemporaneidade.

PALAVRAS-CHAVE: Corpo; Percepção; Mundo; Merleau-Ponty.

4. INTRODUÇÃO

4.1 A PERCEPÇÃO E O CORPO.

A relação entre percepção e filosofia é, de fato, longeva. Ao longo da história da filosofia, a percepção foi considerada de variadas formas e, por isso, ela contribuiu de maneiras diversas ao conhecimento e à reflexão filosófica. Às vezes, ela era vista enquanto um auxiliar e, em outros momentos, como algo que poderia atrapalhar o acesso à verdade, à realidade das coisas ou ao mundo.

A percepção, afirma Gilbert Simondon, teve um papel fundamental à reflexão filosófica na antiguidade, pois, antes do desenvolvimento das ciências naturais, ela era nossa principal forma de contato com o mundo (SIMONDON, 2006). Aliás, segundo Simondon, na

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2 antiguidade, a percepção pode ser identificada como um instrumento de conhecimento. Contudo, diz o filósofo, com o passar dos séculos, a percepção perdeu espaço, em particular, no que diz respeito ao verdadeiro conhecimento do mundo. Tal conhecimento só poderia ser dado por meio do exame das coisas sensíveis e, para tanto, é preciso de um método, de cálculos e de uma minuciosa análise dos resultados. Para Descartes, por exemplo, no que concerne ao verdadeiro conhecimento das coisas, os sentidos são enganosos. Os objetos, tal como realmente são, não se apresentam por intermédio dos órgãos dos sentidos, mas são compreendidos pelo entendimento. Lembremo-nos do famoso exemplo da cera: em um primeiro momento, ela pode ser descrita por suas qualidades sensoriais, ou seja, seu cheiro, seu sabor, sua rugosidade e sua cor, no entanto, em um segundo momento, quando aproximamo-la do fogo, a cera perde suas características sensíveis e, por isso, ela se torna totalmente diferente de antes, porém ela ainda é a mesma cera. Por conseguinte, nada do que se conhece da cera com clareza e distinção pode apreendido pelos sentidos. A verdadeira cera não é vista, nem sentida: “a fonte da verdade está noutro lugar”. (SIMONDON, 2006, p. 3) 1 2, ou seja, aqui, “a relação da percepção com a ciência é a mesma da aparência com a realidade” (MERLEAU-PONTY, 2009, p. 3), diria Maurice Merleau-Ponty. Assim sendo, nota-se que, na modernidade, o papel concedido à percepção se torna menor em comparação com o período antigo.

A tradição, segundo Merleau-Ponty, trata a percepção “como uma operação intelectual pela qual os dados inextensivos (as ‘sensações’), são postas em relação e explicadas de tal modo que acabam constituindo um universo objetivo” (MERLEAU-PONTY, 2017, p. 11). Assim considerada, a percepção “é como uma ciência incompleta, uma operação mediata” (MERLEAU-PONTY, 2017, p. 11). Em contraposição à ótica tradicional, a filosofia merleau-pontiana

Visa retornar ao sujeito concreto da percepção por meio de uma crítica das interpretações empirista e idealista da experiência perceptiva; essa parte aparece enquanto um imensa redução fenomenológica, na medida em que o estudo do corpo próprio e das relevâncias corporais da experiência interrompem e invertem o movimento natural da percepção que é esquecida como tal, quer dizer, como evento em prol de um mundo que aparece, então, como um objeto pré-existente (BARBARAS, 2009, p. 159) 3.

1

“La source du vrai est ailleurs” (SIMONDON, 2006, p. 3).

2 Para as citações em língua estrangeira transcritas neste projeto, a fim de evitar inadequações gramaticais,

apresento-as traduzidas para o português com citação original como nota de rodapé.

3 “Vise à faire retour au sujet concret de la perception au moyen d’une critique des interprétations empiriste et

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3 Em vista disso, “não diremos mais que a percepção é uma ciência iniciante, mas, inversamente, que a ciência clássica é uma percepção que esquece suas origens e se acredita acabada” (MERLEAU-PONTY, 2015, p. 89).

É tão somente com o desenvolvimento do pensamento contemporâneo que a percepção ganha novamente uma importância primordial. Para Merleau-Ponty, a fenomenologia de Edmund Husserl, os estudos da Gestaltpsychologie – à época, uma nova psicologia da percepção repleta de pressupostos filosóficos –¸ os desenvolvimentos da psicologia da criança, da fisiologia do sistema nervoso e da patologia mental servem como justificativa para se retomar o problema da percepção. Na época, Merleau-Ponty via, na Gestalt, uma “concepção inteiramente nova do conteúdo da consciência” (MERLEAU-PONTY, 2017, p. 28) que, por sua vez teria “importantes consequências para a teoria do conhecimento sensível” (MERLEAU-PONTY, 2017, p. 28). Tais consequências foram expostas, principalmente, nos seus dois primeiros livros: A estrutura do comportamento e a Fenomenologia da percepção, todavia foram exploradas e desdobradas ao longo de toda sua trajetória na filosofia.

Por intermédio do operador conceitual forjado por Martin Heidegger 4, à sombra da redução fenomenológica de Edmund Husserl, Merleau-Ponty propõe um retorno aos

fenômenos a parir da suspensão dos denominados prejuízos clássicos 5 – mais precisamente, contrapondo-se às tradições realistas, idealistas e intelectualistas – reafirmando uma existência essencialmente corporal e priorizando a experiência vivida. Merleau-Ponty reitera que, nessas correntes filosóficas, a percepção não ocupou um espaço proeminente: a coisa percebida é comumente confundida com uma coleção de qualidades sensíveis ou reduzida a um objeto mental, ou seja, a percepção não é reconhecida, em prol de uma sensação ou de uma intelecção. Entretanto,

ceci que l’étude du corps propre et des relevances corporelles de l’expérience interrompt et inverse le mouvement naturel de la perception qui s’oublie comme telle, c’est-à-dire comme événement, au profit d’un monde qui apparaît alors comme un objet préexistant” (BARBARAS, 2009, p. 159).

4 O operador conceitual utilizado, o Ser-no-mundo, aparece como uma terceira dimensão aquém das categorias

tradicionais, “um commercium do sujeito com o mundo” (§ 13/ HEIDEGGER, 2005, p. 102), como diz Heidegger. Sendo da ordem prática, o Ser-no-mundo constitui a junção do psicológico e do fisiológico – Merleau-Ponty ilustra essa junção por meio do problema do membro fantasma que, de modo algum, poderia ser explicado pelas categorias tradicionais, uma vez que este evento está situado na interseção do presente e do ausente, ou seja, numa ambiguidade vivente. O exemplo do membro fantasma pode ajudar a ponderar sobre o corpo: considerando que um membro do passado se exprime no presente, isto é, reconhece-se a presença de uma ausência, desvela-se uma diferença entre o corpo que se tem (corpo atual) e o corpo que se é (corpo habitual). Por isso, é necessário que haja a suspensão ou a ressignificação das categorias clássicas, só assim é possível compreender o caráter ambíguo da nossa condição e existência. Caso contrário, ficaríamos condicionados na oposição e na contradição, isto é, num campo intransmissível e inconciliável.

5

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4 O estudo da percepção, quando se faz sem preconceitos [...] termina por revelar que o mundo percebido não é uma soma de objetos, no sentido que as ciências dão a esta palavra; que nossa relação com ele não é a de um pensador com um objeto de pensamento; que, enfim, a unidade da coisa percebida, na qual várias consciências concordam, não é assimilável à de um teorema que vários pensadores reconhecem, nem a existência percebida à existência real (MERLEAU-PONTY, 2017, p. 31). No que diz respeito aos estudos sobre a percepção e sobre o corpo, pode-se dizer que, na contemporaneidade, a obra de Maurice Merleau-Ponty é um marco, já que, em especial, reconsidera a percepção, como nossa abertura ao mundo, e repensa o estatuto do corpo, enquanto um terceiro gênero de ser 6: nem enquanto sujeito, nem enquanto objeto. Em outras palavras, Merleau-Ponty elabora uma filosofia que pretende pensar a reunião do sujeito e do objeto.

Em suma, é possível dizer que Merleau-Ponty busca reaprender a ver o mundo 7. Destarte, o filósofo francês realiza uma fenomenologia da percepção, isto é, a partir do denominado contato ou experiência ingênua com o mundo, Merleau-Ponty pondera sobre as experiências que o corpo realiza no mundo vivido, pois é tão só por intermédio do corpo que se vive, ele é o sujeito da percepção. O corpo, enquanto fenomenal, é considerado em sua função pré-objetiva, isto é, pelo sua capacidade sensitivo-motora e exploratória, que possibilita retornar as coisas mesmas, ou seja, “retornar a este mundo anterior ao conhecimento do qual o conhecimento sempre fala” (MERLEAU-PONTY, 2015, p. 4). Ele, o corpo, é o meio de apropriação do espaço, do tempo, dos objetos e, também da cultura, na medida em que eles são objetos da percepção, afinal, “o mundo percebido não é apenas o conjunto de coisas naturais” (MERLEAU-PONTY, 2009, p. 65), o mundo sensível é, também, o mundo da ciência e o mundo cultural (ou mundo da expressão), ou seja, os quadros, as músicas, os livros e etc.

5. FORMULAÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA E SUA JUSTIFICATIVA

Como mencionado acima, na filosofia merleau-pontiana, a percepção é considerada como a modalidade original da consciência enquanto nossa iniciação ao o Ser: um caminho

para uma experiência do eu, dos outros e do mundo. O corpo, como campo

prático-perceptivo, é aquilo que proporciona, mas que, ao mesmo tempo, delimita toda experiência, ele transforma o mundo sem o esquecer. O corpo mantém uma íntima relação com o mundo percebido, pois, habitando-o, o corpo percebe e é percebido. Não se pode, portanto, abandonar

6 Ver: Fenomenologia da Percepção, capítulo IV, “Outrem e o mundo humano”. 7

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5 o ponto de vista subjetivo, nem renunciar ao ponto de vista objetivo. O mundo percebido, por sua vez, “seria o fundo pressuposto por toda racionalidade, todo valor e toda existência” (MERLEAU-PONTY, 2017, p. 32). A coisa percebida, no que lhe concerne, “é uma totalidade aberta para o horizonte de um número indefinido de visadas perspectivas, que se recortam segundo certo estilo, estilo que define o objeto de que se trata” (MERLEAU-PONTY, 2017, p. 37). A percepção, assim, é “compreendida como referência a um todo que, por princípio, não é captável, senão através de algumas de suas partes ou alguns de seus aspectos” (MERLEAU-PONTY, 2017, p. 36), o oculto está presente à sua maneira. Merleau-Ponty afirma que a correlação, de algum modo orgânica, entre o sujeito percipiente e o mundo percebido, comporta, por princípio, a contradição da imanência e da transcendência (MERLEAU-PONTY, 2017), que é expressa da seguinte maneira:

A percepção é, portanto, um paradoxo, e a própria coisa percebida é paradoxal. Ela não existe senão enquanto alguém puder percebê-la. Não posso, por um instante sequer, imaginar um objeto em si. Como dizia Berkeley, se eu tentar imaginar algum lugar do mundo nunca antes visitado, o próprio fato de que imagino me torna presente nesse lugar; não posso, portanto, conceber o lugar perceptível no qual eu mesmo não estiver presente. Mas os próprios lugares em que me encontrar nunca me serão, entretanto, inteiramente dados. As coisas que vejo são coisas para mim somente sob a condição de sempre se retirarem para além de seus aspectos captáveis. Há, portanto, na percepção, um paradoxo da imanência e da transcendência. Imanência, visto que o percebido não poderia ser estranho àquele que o percebe; transcendência, visto que comporta sempre um além do que está atualmente dado. E esses dois elementos da percepção não são propriamente contraditórios, pois, se refletirmos sobre tal noção de perspectiva, se reproduzirmos em pensamento a experiência perspectiva, veremos que a evidência própria do percebido, o aparecimento de “algo” exige indivisivelmente esta presença e esta ausência (MERLEAU-PONTY, 2017, p. 37).

Eis o ponto de partida deste projeto: como se estabelece a relação entre o corpo, enquanto sujeito da percepção que se movimenta em direção daquilo que ele não é, e o

mundo, que, porquanto se mostra, se esconde? Como posso ser “aberto a fenômenos que me

ultrapassam e que, todavia, só existem na medida em que os retomo e os vivo” (MERLEAU-PONTY, 2015, p. 487)? E, por último, como, a partir deste problema, a filosofia merleau-pontiana trabalha os conceitos de mundo percebido, mundo sensível, mundo da expressão e

mundo da ciência na medida em que são objetos da percepção e da relação eu-outrem-mundo?

A primeira parte deste projeto deve ser justificada, antes de tudo, com base numa leitura da história da filosofia e/ou da história da filosofia da percepção, haja vista que, ao longo da filosofia ocidental, a percepção, por vezes, assumiu um protagonismo em determinadas correntes filosóficas e, noutros momentos, desempenhou um papel coadjuvante nas mais diversas áreas da filosofia, recebendo, assim, distintas funções, e suscitando, por causa disso,

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6 diferentes problemas. Por isso, apresentar a maneira como Merleau-Ponty lê e interpreta a história da filosofia nos ajudaria a adentrar no debate que ele não hesita em realizar com o pensamento antigo e, principalmente, com o pensamento moderno e contemporâneo e, dessa forma, a compreender as críticas direcionadas à tradição. Nesse aspecto, Carlos Alberto Ribeiro de Moura nos ajuda a pensar na relação estabelecida entre uma filosofia e seus antecessores, neste caso, entre a filosofia moderna e a filosofia contemporânea:

Se o estudo da filosofia moderna pareceu indispensável à análise da filosofia contemporânea, é menos por aquilo em que ela a antecipa e mais como um referencial privilegiado para se perceber por que, em certos momentos, esta filosofia se torna deliberadamente uma atividade “reflexionante”, no sentido kantiano da palavra, quer dizer, menos uma estratégia de aplicação de conceitos dados e mais uma operação de criação de conceitos novos, inexistentes no repertório legado pela tradição, visto desde então como inadequado. Por outro lado, é a partir desse referencial que se pode detectar também como um “problema” aparentemente tradicional está, na verdade, sendo reformulado, ou através de qual decantação a filosofia contemporânea inova e reorganiza os conceitos que ela recebe dessa mesma tradição. Assim, é apenas levando em conta os “modernos” que se pode identificar em que momento preciso um conceito como o de “subjetivo” adquire uma originalidade no interior da fenomenologia, por oposição àquilo que até esse momento se entendia sob essa noção (MOURA, 2001, p.10).

Por essa razão, tendo, primeiramente, apresentado o modo como Merleau-Ponty, interpreta a história da filosofia, indicar-se-á seu posicionamento em relação à sua tradição, uma vez que uma fenomenologia da percepção não poderia se constituir antes de todos os esforços filosóficos que a tradição representa (MERLEAU-PONTY, 2017). A fundamentação histórica servirá para melhor definir, por contraste e simetria, o modo como as noções de

corpo, percepção e mundo, por exemplo, são ressignificadas e, assim, assimiladas no trabalho

desse filósofo.

À luz de novos operadores conceituais, poder-se-á, também, refletir sobre os desdobramentos e o alcance dessa filosofia, enquanto uma filosofia da percepção, na atualidade. Na filosofia de Renaud Barbaras, por exemplo, encontramos, ainda hoje, reverberações do problema da percepção, compreendido enquanto um problema da nossa relação com o Ser (BARBARAS, 2002). É importante lembrar que, de acordo com Renaud Barbaras, uma filosofia da percepção não é aquela que somente toma a percepção como objeto de estudo, mas, sobretudo, é aquela filosofia que se forma a partir da percepção (BARBARAS, 2006). Por esse motivo, aliás, segundo Renaud Barbaras, a filosofia de Maurice Merleau-Ponty pode ser considerada como uma verdadeira filosofia da percepção. À vista disso, a segunda parte deste projeto pode ser mais bem fundamentada. Busca-se, a partir dela, delimitar as diferenças, bem como apontar a reformulação de determinados conceitos da

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7 obra de Merleau-Ponty, pois a filosofia “não é o reflexo de uma verdade prévia, mas, assim como a arte, é a realização de uma verdade” (MERLEAU-PONTY, 2015, p. 19).

6. OBJETIVOS

6.1 OBJETIVOS GERAIS

I. Descrever o modo como Maurice Merleau-Ponty compreende a relação entre corpo,

mundo e percepção ao longo da história da filosofia, ou seja, enquanto filósofo-historiador da

filosofia 8.

II. Identificar como o autor supracitado define e trabalha com as concepções de corpo,

mundo e percepção e, assim, esboçar um quadro teórico sobre estes conceitos e seus usos na

filosofia merleau-pontiana.

6.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

I. Explanar a leitura e a crítica de Merleau-Ponty à tradição, ou seja, aquilo que o autor denomina prejuízos clássicos.

II. Delineamento do conceito de corpo, mundo e de percepção segundos as primeiras obras de Merleau-Ponty.

III. Fundamentação do primado da percepção e a reformulação do problema da imanência e transcendência.

IV. Exposição dos estudos e dos cursos de Merleau-Ponty sobre a percepção: apresentação das particularidades dos conceitos de corpo, mundo e percepção na segunda fase da obra de Merleau-Ponty.

V. Analisar e esboçar as diferenças existentes entre a primeira e a segunda fase da filosofia Merleau-Ponty.

VI. Refletir sobre os desdobramentos e o alcance dessa filosofia, enquanto uma filosofia da percepção, na atualidade.

8 É importante acrescentar que, na medida em que elabora sua filosofia, Merleau-Ponty dialoga e apresenta uma

leitura crítica da história da filosofia. À vista disso, a distinção entre “historiador da filosofia” e “filósofo” deve ser considerada didaticamente. Fazer filosofia é estar ciente de sua historicidade.

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8

7. MATERIAIS, MÉTODOS E PLANO DE TRABALHO

O método utilizado para o desenvolvimento desta pesquisa consistirá, primeiramente, num levantamento bibliográfico e na análise de cursos e conferências transcritas e publicadas, assim como de textos e livros escritos por Maurice Merleau-Ponty, relativos ao tema deste trabalho. Concomitantemente, realizar-se-á um estudo bibliográfico concernente à literatura secundária do tema em questão. Isto posto, a partir da leitura e fichamento das obras supramencionadas, os textos serão confrontados de modo a manifestar divergências e/ou confluências de conceitos e de ideias. Com isso, ter-se-ão elementos suficientes para se montar um quadro teórico sobre o estatuto das noções de corpo, mundo e percepção na fase inicial e na fase intermediária da filosofia de Maurice Merleau-Ponty.

Além disso, outro recurso que deverá ser utilizado é a interlocução com outros pesquisadores por intermédio do trabalho com grupos de estudos sobre os autores e temas desta pesquisa, dentre os quais é possível mencionar o Grupo de Estudos em Filosofia Contemporânea da UFPR, organizado pelo professor Dr. Leandro Neves Cardim, grupo de estudos do qual eu participo desde 2015. Buscar-se-á, nesses grupos, espaço para apresentações e debates sobre o tema em questão, uma vez que, neste intermeio, seus integrantes desenvolveram/desenvolvem temas correlatos ao desta pesquisa.

Os trabalhos desta pesquisa serão desenvolvidos na Universidade Federal do Paraná, ao longo de dois anos, referentes à duração do Programa de Mestrado em Filosofia, divididos em quatro semestres.

A cada semestre, após a leitura e o exame da literatura primária, segue-se com a leitura e estudo de artigos e livros de estudiosos e comentadores de Merleau-Ponty, bem como dos temas abordados, dentre os quais se pode citar Nature et Humanité: le problème

anthopologique dans l’oeuvre de Merleau-Ponty (2004), por Étienne Bimbenet; O transcendental e o existente em Merleau-Ponty (2002), por Marcus Sacrini Ferraz; e o livro Le tournant de l’expérience : recherches sur la philosophie de Merleau-Ponty (2009), por

Renaud Barbaras. É importante acrescentar que os outros trabalhos dos pesquisadores sobreditos e/ou dos autores referenciados no final deste projeto também fornecerão material para o desdobramento desta pesquisa.

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9 No início do primeiro semestre, retomar-se-á este projeto juntamente com o orientador. O objetivo dessa retomada é conversar sobre o conteúdo do projeto e seu andamento ao longo do período de mestrado. À vista disso, sua bibliografia e seu cronograma poderão ser revisados e/ou alterados.

Ademais, cumprir-se-á parte das disciplinas obrigatórias e parte dos créditos necessários para conclusão do mestrado. Nesse meio tempo, retomar-se-ão as atividades no grupo de estudos supramencionado e participar-se-á de eventos relacionados ao tema desta pesquisa. Essas atividades continuarão ao longo dos dois anos relativos ao Programa de Mestrado.

Tendo em vista os objetivos específicos apontados acima, trabalhar-se-á com parte da obra de Maurice Merleau-Ponty, especificamente, os livros A Estrutura do Comportamento (1942), Fenomenologia da Percepção (1945), Conversas (1948), L’union de l’âme et du

corps chez Malebranche, Biran et Bergson (1947 - 1948) e Les philosophes de l’Antiquité au XXe siècle (1956). Visa-se, com a leitura destes livros, compreender a maneira como

Merleau-Ponty interpreta sua tradição. Assim sendo, iniciar-se-á a redação da dissertação de mestrado.

No segundo semestre, continuar-se-á trabalhando com a obra de Merleau-Ponty. Quer-se, neste momento, delinear o primado da percepção na sua obra, bem como apresentar três conceitos fundamentais para sua compreensão: as noções de corpo, percepção e mundo. Trabalhar-se-á com parte da obra de Maurice Merleau-Ponty, especificamente, os livros A

Estrutura do Comportamento (1942), Fenomenologia da Percepção (1945), o Primado da Percepção e suas consequências filosóficas (1946) e Conversas (1948).

Tal como no primeiro semestre, realizar-se-á parte das disciplinas obrigatórias e parte dos créditos necessários para conclusão do mestrado. Publicar-se-á uma resenha sobre o livro

L’union de l’âme et du corps chez Malebranche, Biran et Bergson.

No terceiro semestre, investigar-se-á a segunda fase da filosofia de Merleau-Ponty. Assim, as peculiaridades das concepções de corpo, mundo e de percepção na fase intermediária de sua filosofia serão apresentadas. Para tanto, utilizar-se-á os cursos ministrados na Sorbonne, intitulados Resumo de cursos (1949 - 1952), e o curso proferido no

Collège de France, no ano de 1953, denominado Le monde sensible et le monde de l’expression.

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10 Neste semestre, concluir-se-ão as disciplinas obrigatórias e os créditos necessários para o mestrado. Publicar-se-á um artigo sobre o Corpo na obra de Merleau-Ponty. Além do mais, o exame de qualificação de mestrado deverá ocorrer em meados deste semestre.

No quarto e último semestre, finalizar-se-á a leitura dos livros de Merleau-Ponty, assim como dos seus interlocutores. Além do mais, concluir-se-á a redação da dissertação de mestrado, bem como ocorrerá uma revisão da mesma antes da entrega e de sua defesa frente à banca.

8. CRONOGRAMA

Descrição das atividades: 1/2020 2/2020 1/2021 2/2021

Retomada e revisão do projeto junto ao orientador.

Realização das disciplinas obrigatórias e cumprimento dos créditos. Leitura da obra de Merleau-Ponty e de estudiosos sobre o tema e/ou o autor. Início da redação da dissertação.

Participação em eventos, congressos e grupos de estudo. Publicação de artigos, resenhas e/ou traduções.

Qualificação.

Revisão da dissertação.

Entrega do texto final da dissertação. Defesa da dissertação.

9. BIBLIOFRAFIA PARA O PROJETO

9.1 BIBLIOGRAFIA LIDA E/OU CONSULTADA

BARBARAS, Renaud. La percezione: saggio sul sensibile. Tradução: Giacomo Carissimi. 1ª ed. Milão: Mimesis, 2002. L’occhio e lo spirito.

______. Le désir et la distance : introduction à une phénoménologie de la perception. 2ª ed. Paris : Librarie Philosophique J. Vrin, 2006.

______. Le tournant de l’expérience : recherches sur la philosophie de Merleau-Ponty. 2ª ed. Paris : Librarie Philosophique J. Vrin, 2009.

BIMBENET, Étienne. La structure du comportement, “l’ordre humain” (chap. III, 3),

Merleau-Ponty. 1ª ed. Paris : Ellipses éditions, 2000. Collection Philo-textes.

BIMBENET, Étienne (editor); MOUTINHO, Luiz Damon Santos (editor). Dois Pontos:

Merleau-Ponty. Curitiba; São Carlos, vol. 9, n. 1, abril, 2012.

CARDIM, Leandro Neves. Corpo. 1ª ed. São Paulo: Editora Globo, 2009. Coleção Filosofia

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11

______. “A percepção segundo Barbaras”. In: Cadernos Espinosanos, nº XXVII, p. 105-129,

2012.

DUPOND, Pascal. Vocabulário de Merleau-Ponty. Tradução: Claudia Berliner. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010. Coleção vocabulário dos filósofos.

FERRAZ, Marcus Sacrini Ayres. O transcendental e o existente em Merleau-Ponty. São Paulo: Associação Editorial Humanitas: FAPESP, 2016.

______; PINTO, Débora Cristina Morato; MOUTINHO, Luiz Damon Santos; STIVAL, Monica Loyola (orgs.). Ensaios de filosofia em homenagem a Carlos Alberto Ribeiro de

Moura. 1ª ed. Curitiba: Editora da UFPR, 2015.

HEIDEGGER, Martin. O ser e o tempo – parte 1. Tradução: Maria de Sá Cavalcante Schuback. 15ª ed. Petrópolis: Vozes, 2005. Coleção Pensamento Humano.

MOURA, Carlos Alberto Ribeiro de. Racionalidade e crise: estudos de história da filosofia

moderna e contemporânea. São Paulo: Discurso Editorial e Editora da UFPR, 2001.

MARZANO, Michela. Dictionnaire du corps. 1ª ed. 3ª tir. Paris: Press Universitaires de France, 2010.

MERLEAU-PONTY, Maurice. Conversas – 1948. Organização e notas: Stéphanie Ménasé. Tradução: Fabio Landa e Eva Landa. 1ª ed. 2ª tir. São Paulo: Martins Fontes, 2004. Coleção

Tópicos.

______. Fenomenologia da Percepção. Tradução: Carlos Alberto Ribeiro de Moura. 4ª ed. 3ª tir. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011. Biblioteca do Pensamento Moderno. ______. La structure du comportement. 4ª ed. 2ª tir. Paris: Presses Universitaires de France, 2018.

______. O primado da percepção e suas consequências filosóficas. Tradução: Sílvio Rosa Filho e Thiago Martins. 1ª ed. 1ª reimpr. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017. Coleção

Filô.

______. Textos escolhidos. Seleção de textos: Marilena Chauí. Tradução e notas: Marilena Chauí. 2ª ed. São Paulo: Abril Cultural, 1980. Coleção Os Pensadores.

SIMONDON, Gilbert. Cours sur la perception (1964 – 1965). 1ª ed. Chatou : Les éditions de la Transparence, 2006. Philosophie.

SOKOLOWSKI, Robert. Introdução à fenomenologia. Tradução: Alfredo de Oliveira Moraes. 3ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2012.

WAELHENS, Alphonse de. “Une philosophie de l’ambiguïté”. In: MERLEAU-PONTY. La

structure du comportement. 4ª ed. 2ª tir. Paris: Presses Universitaires de France, 2018.

9.2 BIBLIOGRAFIA A SER LIDA

BIMBENET, Étienne. Nature et humanité: le problème anthropologique dans l’oeuvre de Merleau-Ponty. 1ª ed. Paris: Librarie Philosophique J. Vrin, 2004.

MARSHALL, George J. A guide to Merleau-Ponty’s Phenomenology of Perception. 1ªed. Milwaukee: Marquette University Press, 2008.

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12 MERLEAU-PONTY, Maurice. Le monde sensible et le monde de l’expression. Cours au Collège de France, notes, 1953. Texte établi et annoté par Emmanuel de Saint Aubert et Stefan Kristensen. Genève : MêtisPresses, 2011.

______. Les philosophes de l’antiquité au xxe siècle : histoire et portraits. 1ª ed. Paris :

Librairie Générale Française, 2006. Encyclopédies d’aujourd’hui.

______. L’Union de l’âme et du corps chez Malebranche, Biran et Bergson. Notes prises au cours de Maurice Merleau-Ponty à l´École Normale Supérieure (1947 – 1948). Recueillies et rédigées par : Jean Deprun. 2ª ed. Paris : Librarie Philosophique J. Vrin, 2014.

______. Merleau-Ponty na Sorbonne: resumo de cursos (1949 - 1952). Tradução: Constança Marcondes Cesar e Lucy Moreira Cesar. 1ª ed. Campinas: Papirus Editora, 1990.

Referências

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