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Impacto de grandes empreendimentos na dinâmica populacional: Campos dos Goytacazes e São João da Barra 1

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Academic year: 2021

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Impacto de grandes empreendimentos na dinâmica populacional: Campos

dos Goytacazes e São João da Barra

1

Gustavo Henrique Naves Givisiez2 Universidade Federal Fluminense

ghnaves@globo.com

Elzira Lúcia de Oliveira3 Universidade Federal Fluminense

elziralucia@globo.com

Palavras Chave: Projeções de População; Geração de Emprego; Desenvolvimento

Urbano

1 Trabalho apresentado no XVIII Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Águas

de Lindóia/SP – Brasil, de 19 a 23 de novembro de 2012

2 Doutor em Demografia. Professor Adjunto. Universidade Federal Fluminense. Campos dos Goytacazes. 3 Doutor em Demografia. Professor Adjunto. Universidade Federal Fluminense. Campos dos Goytacazes.

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1 Introdução

A região Norte do Estado do Rio de Janeiro tem passado por profundas mudanças, nos últimos 40 anos, decorrentes da passagem do predomínio da agroindústria do açúcar para as atividades de exploração de petróleo. Outro ponto, mais recente e que reforça o interesse na área como objeto de estudo, é a construção do Complexo Logístico e Industrial do Porto do Açu em São João da Barra, cujo investimento, da ordem de US$ 40 bilhões, prevê a geração de 50 mil empregos diretos. No caso específico do Porto do Açu, os processos de licenciamento ambiental tem elaborado projeções populacionais que sugerem altas taxas de crescimento demográfico nos dois principais municípios impactados pelos empreendimentos – Campos dos Goytacazes e São João da Barra, indicando que eles, isoladamente, receberão em torno de 750 mil imigrantes em menos de 15 anos. Por outro lado, projeções realizadas por métodos demográficos clássicos, a exemplo do AiBi e do método de crescimento das coortes, tem indicado taxas de crescimento mais baixas, ou até negativas, no horizonte de 20 anos, sugerindo que os Censos de 2000 e 2010 não apresentam inflexão na tendência histórica de crescimento da população. Essas contradições nos valores absolutos das populações projetadas é o principal ponto de investigação deste artigo: é fato que a população dessas duas cidades está em crescimento e que tem recebido imigrantes de diversas regiões do país, ou seja, os métodos de projeções baseados somente na tendência demográfica não tem captado essa inflexão no crescimento. Por outro lado, os investimentos de exploração de Petróleo na camada pré-sal, na região de Macaé, e do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro - COMPERJ, na região Metropolitana do Rio, também concorrem na atração de imigrantes, indicando que, aparentemente, as projeções elaboradas pelos técnicos ligados aos processos de licenciamento ambiental na região do Açu estão muito “otimistas”.

O que se propõe para o presente artigo é apresentar projeções populacionais, realizadas pelos estudos de impacto ambiental dos empreendimentos do Porto do Açu e também projeções realizadas pelos métodos demográficos “clássicos” para pequenas áreas, para os dois municípios mais impactados pelos empreendimentos: São João da Barra e Campos dos Goytacazes. O objetivo desde artigo é discutir os desafios impostos ao planejamento de políticas públicas face à grande turbulência econômica da região e a diversidade de números que são apresentados, servindo aos seus diversos propósitos. Sendo assim, este artigo não será conclusivo, tendo em vista que não se pode concluir em cenários de incertezas. Entretanto, ao longo deste documento são apresentadas questões que estão no centro da discussão da ciência demográfica, mas, ainda assim, a demografia tem ficado à margem dessa discussão ou tem apresentado soluções herméticas ou sem aderência com os desafios que se apresentam.

2 A tradição econômica e os grandes empreendimentos

Até a atual conformação geográfica a região Norte do Estado do Rio de janeiro passou por algumas fragmentações territoriais. Há que se considerar como divisor de águas para a atual divisão territorial a década de 1970, que marcará definitivamente sua formação econômica e regional. A região que antes do predomínio da monocultura

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canavieira e a pecuária, desenvolvia uma agricultura bastante diversificada para consumo local e externo, depara-se com a descoberta, na segunda metade da década de grandes reservas de petróleo, cuja atividade concorreria com as atividades tradicionais, decretando, paulatinamente a decadência do setor tradicional e a emergência de uma nova indústria.

Sendo assim, a região do Norte Fluminense tem tradição econômica histórica na pecuária e agricultura, especialmente a monocultura canavieira e indústria sucroalcooleira, vem experimentando, desde a segunda metade da década de 1970, um processo de reordenamento territorial ditado pela implantação da Indústria Petrolífera da Bacia Petrolífera de Campos, descoberta naquela década.

O município de São João da Barra, neste contexto tinha certa importância econômica no setor agropecuário quanto no industrial, abrigando em seu território uma fábrica de tecidos, uma indústria de bebidas e uma usina de açúcar e álcool. Contudo, a fábrica de tecidos que foi instalada em 1961, encerrou suas atividades no município em 2008. A usina de Barcelos também teve suas atividades encerradas neste ano. A fábrica de Bebidas, ainda em funcionamento, que absorvia importante contingente de trabalhadores com relações formais de trabalho, vem, ao longo do tempo, diminuindo o contingente de mão-de-obra contratada em termos absolutos.

Em que pese o esvaziamento econômico do município, a descoberta das grandes reservas de petróleo da Bacia de Campos e, principalmente, o advento da Lei de Petróleo de 1997, que estabelece novos parâmetros para a partilha dos recursos dos Royalties e Participações Especiais, fez com que os municípios da região aumentassem significativamente suas receitas orçamentários decorrentes dessa rubrica, especialmente a partir de 2003, como demonstrado na TAB. 1, que apresenta as rendas petrolíferas dos 31 municípios com maiores benefícios em valores absolutos. Percebe-se que tanto Campos dos Goytacazes, quanto São João da Barra, estão entre os cinco maiores beneficiários, em valores absolutos e em valores per capita. Em relação à média dos municípios brasileiros, o poder público desses municípios são altamente dependentes das rendas petrolíferas e, em que pese essa dependência, denominada por Serra, em vários trabalhos, de “preguiça fiscal”, essas receitas diferenciadas conferem a esses municípios alta capacidade de investimento e poderiam ser considerados “ricos” em relação à média nacional.

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Tabela 1

Royalties e Participações Especiais , per capita e valores absolutos. Maiores beneficiários do país, 2010

Município Rendas Petrolíferas (valores absolutos) Rendas Petrolíferas (valores per capita) UF Nome População Absoluto Rank % Per Capita Rank RJ Campos dos Goytacazes 463.731 R$1.190.443.017,08 1 23,2 R$2.567,10 5 RJ Macaé 206.728 R$472.985.285,96 2 9,2 R$2.287,96 8 RJ Rio das Ostras 105.676 R$319.447.491,39 3 6,2 R$3.022,90 4 RJ São João da Barra 32.747 R$227.396.439,21 4 4,4 R$6.944,04 2 RJ Cabo Frio 186.227 R$207.089.291,48 5 4,0 R$1.112,03 21 ES Presidente Kennedy 10.314 R$143.686.203,59 6 2,8 R$13.931,18 1 RJ Quissamã 20.242 R$101.271.721,07 7 2,0 R$5.003,05 3 RJ Angra dos Reis 169.511 R$85.914.886,62 8 1,7 R$506,84 41 RJ Casimiro de Abreu 35.347 R$83.178.856,58 9 1,6 R$2.353,21 7 RJ Rio de Janeiro 6.320.446 R$66.123.803,49 10 1,3 R$10,46 318 RJ Paraty 37.533 R$65.829.882,46 11 1,3 R$1.753,92 13 AM Coari 75.965 R$62.879.504,36 12 1,2 R$827,74 26 ES Linhares 141.306 R$62.775.840,42 13 1,2 R$444,25 50 SP São Sebastião 73.942 R$60.851.547,23 14 1,2 R$822,96 27 RJ Armação dos Búzios 27.560 R$59.034.774,91 15 1,2 R$2.142,05 9 ES Itapemirim 30.988 R$54.148.805,11 16 1,1 R$1.747,41 15 SP Guararema 25.844 R$54.065.140,55 17 1,1 R$2.091,98 10 RJ Niterói 487.562 R$51.312.361,24 18 1,0 R$105,24 149 RJ Maricá 127.461 R$46.196.033,77 19 0,9 R$362,43 67 RJ Duque de Caxias 855.048 R$45.756.868,69 20 0,9 R$53,51 213 RJ Magé 227.322 R$40.804.026,56 21 0,8 R$179,50 111 RJ Guapimirim 51.483 R$35.389.219,70 22 0,7 R$687,40 32 RJ Carapebus 13.359 R$31.879.081,67 23 0,6 R$2.386,34 6 RJ Cachoeiras de Macacu 54.273 R$31.405.824,83 24 0,6 R$578,66 36 ES Aracruz 81.832 R$28.902.474,92 25 0,6 R$353,19 69 SP Caraguatatuba 100.840 R$28.643.754,34 26 0,6 R$284,05 80 SE Carmópolis 13.503 R$28.227.335,09 27 0,6 R$2.090,45 11 RJ Silva Jardim 21.349 R$28.156.946,27 28 0,5 R$1.318,89 18 BA São Francisco do Conde 33.183 R$26.614.572,55 29 0,5 R$802,05 28 SP Bertioga 47.645 R$26.196.023,66 30 0,5 R$549,82 38 RJ Mangaratiba 36.456 R$26.121.207,86 31 0,5 R$716,51 31

Demais municípios 69.955.979 R$1.442.554.920,37 28,1 R$20,62 Total (968 municípios) 80.071.402 R$5.128.194.392,69 100,0 R$64,05 Fonte: http://inforoyalties.ucam-campos.br

Apesar da vantagem orçamentária concedida ao poder público dos municípios, a estrutura produtiva instalada em seus territórios, não incluem necessariamente, atividades econômicas de Exploração e Produção de Petróleo – Atividades E&P, que seriam, de certa forma, uma alternativa econômica à decadente tradição agropecuária da região. Essa dinâmica econômica, impulsionada pela pulsante economia do petróleo, não pode ser notada em todos esses municípios beneficiados com tais recursos. Esse fato pode ser demonstrado tomando-se por base o total de trabalhadores residentes ocupados em atividade de E&P, baseado em dados do Censo Demográfico de 2010 (TAB. 2); e pelo total de postos de trabalho em empresas de E&P, baseados em dados da Relação Anual de Informações Sociais – RAIS, do Ministério do Trabalho e Emprego – MTE (TAB. 3). Os dados apresentados na TAB. 2 listam, de forma ordenada, o conjunto de 20 municípios fluminenses segundo a proporção da população ocupada em atividades de E&P. No caso dos municípios fluminenses, a maior proporção da população empregada neste setor de atividade é observada nas cidades de Macaé e Rio das Ostras, com 7,31% e 6,60%, respectivamente. Ou seja, os trabalhadores da indústria de E&P residem principalmente, em termos relativos, nos municípios de Macaé e Rio das Ostras.

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Tabela 2

Total de trabalhadores ocupados em atividades de Exploração e Produção de Petróleo e Gás Natural e em outras atividades, segundo o município de residência do trabalhador.

Rio de Janeiro, 2010

Unidade Territorial Outras Atividades Petróelo e Gás Total

Rank

Nome Abs % Abs % Abs %

Macaé 103.021 92,69 8.128 7,31 111.149 100,00 1 Rio das Ostras 51.467 93,40 3.635 6,60 55.102 100,00 2 Carapebus 6.680 96,55 239 3,45 6.919 100,00 3 Natividade 6.845 97,00 212 3,00 7.057 100,00 4 São Fidélis 16.157 97,35 440 2,65 16.597 100,00 5 Italva 6.543 97,73 152 2,27 6.695 100,00 6 Conceição de Macabu 10.551 98,22 191 1,78 10.742 100,00 7 Campos dos Goytacazes 205.009 98,28 3.593 1,72 208.602 100,00 8 Quissamã 9.588 98,31 165 1,69 9.753 100,00 9 São Francisco de Itabapoana 17.366 98,50 265 1,50 17.631 100,00 10 Cardoso Moreira 5.171 98,63 72 1,37 5.243 100,00 11 Casimiro de Abreu 18.523 98,66 252 1,34 18.775 100,00 12 Trajano de Moraes 4.733 98,69 63 1,31 4.796 100,00 13 Niterói 248.400 98,81 3.002 1,19 251.402 100,00 14 Arraial do Cabo 13.909 98,86 161 1,14 14.070 100,00 15 Porciúncula 8.209 98,88 93 1,12 8.302 100,00 16 Bom Jesus do Itabapoana 16.492 99,13 145 0,87 16.637 100,00 17 Abre Campo 1.657 99,16 14 0,84 1.671 100,00 18 São João da Barra 15.502 99,31 108 0,69 15.610 100,00 19 Aperibé 4.933 99,34 33 0,66 4.966 100,00 20 Outros municípios (RJ) 7.011.646 99,55 31.931 0,45 7.043.577 100,00 Total Rio de Janeiro 7.761.967 99,32 52.753 0,68 7.814.720 100,00 Fonte: Censo Demográfico 2010 (IBGE, 2012)

A análise da quantidade de postos de trabalho em atividades de E&P, por sua vez, demonstra que apenas nove municípios fluminenses tinham, em 2010, estabelecimentos com oferta de postos de trabalho nessas atividades. Em termos relativos, apenas Macaé apresentava uma expressiva participação de postos de trabalho associados à atividades de exploração de Petróleo e Gás e, em termos absolutos, apenas Macaé e o Rio de Janeiro se destacam.

Tabela 3

Total de trabalhadores em atividades de Exploração e Produção de Petróleo e Gás Natural e em outras atividades, segundo o município da empresa. Rio de Janeiro, 2010

Unidade Territorial Petróleo e Gas Outras Atividades Total

Rank

Nome Abs % Abs % Abs %

Macaé 15.007 12,96 100.768 87,04 115.775 100,00 1 Rio das Ostras 39 0,20 19.404 99,80 19.443 100,00 2 Angra dos Reis 70 0,17 41.096 99,83 41.166 100,00 3 Rio das Flores 4 0,11 3.723 99,89 3.727 100,00 4 Rio de Janeiro 2.075 0,09 2.346.536 99,91 2.348.611 100,00 5 Duque de Caxias 142 0,08 173.816 99,92 173.958 100,00 6 Três Rios 7 0,03 22.829 99,97 22.836 100,00 7 Volta Redonda 6 0,01 69.156 99,99 69.162 100,00 8 Cabo Frio 2 0,01 35.227 99,99 35.229 100,00 9 Outros Municípios 0 0,00 4.062.730 100,00 4.062.730 100,00 Total Rio de Janeiro 17.352 4.062.730 100,00 4.080.082 100,00 Fonte: RAIS (MTE, 2012)

Em que pese o fato da indústria e as atividades econômicas associadas à E&P sejam, principalmente, lotadas em Macaé, a partir de 2007, o município de São João da Barra pode reverter sua trajetória de esvaziamento econômico e baixa capacidade de arrecadação tributária. A implantação, em seu território, do Complexo Logístico e

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Industrial do Porto do Açu, prevê, no cenário econômico pleno, investimento na ordem de US$ 40 bilhões e a geração de 50 mil empregos diretos. Segundo informações disponíveis no site das empresas do grupo EBX, são previstos para o Complexo Portuário do Açu seis berços de atracação para navios graneleiros e quatro berços de atracação para cargas gerais, além de embarcações de apoio às atividades off-shore de extração de petróleo. O projeto completo do porto prevê ainda um terminal de minério de ferro e plantas de pelotização, um complexo siderúrgico, usina termoelétricas, indústrias cimenteiras, um pólo metal-mecânico, unidades petroquímicas, montadora de automóveis, pátios de armazenagem inclusive para gás natural, cluster para processamento de rochas ornamentais e instalações para embarcações de apoio à atividade offshore (FIG. 3). Adicionalmente, o grupo EBX, do empresário Eike Batista, planeja ainda instalar complexos urbanísticos na cidade, objetivando abrigar prováveis fluxos migratórios.

Figura 3 Croqui do Complexo Portuário e Industrial do Açu

Legenda: (1) Indústria offshore; (2) Technip; (3) NKTF; (4) Intermoor; (5) Siderúrgica Ternium; (6) Aço/Granéis sólidos; (7) Unidade de Construção Naval; (8) Supply boat; (9) UTE Açu – MPX; (10) Granéis Líquidos; (11) Terminal de Minério de Ferro; (12) Siderúrgica Wuhan; (13) Cimenteiras; (14) Vale do Silício; (15) Polo metalomecânico; (16) Pátio logístico / UTP; (17) Carvão; (18) Petróleo; (19) Minério de ferro

Fonte: Site da LLX (http://www.llx.com.br/media/mapa_novo_acu.jpg)

Os empreendimentos consolidam um vultoso investimento privado cujo porte e diversificação vem aumentando desde o projeto inicial e que, com certeza, mudará o perfil do município de São João da Barra. A infraestrutura urbana e em suas demandas sociais (saúde, educação e habitação) serão altamente impactadas pelos fluxos migratórios com destino ao município, nas diversas etapas do empreendimento. Muitos desses impactos já são notados, especialmente no que respeita ao mercado de trabalho e características sociodemográficas da população.

Outro empreendimento de vulto, que pode alterar a tradição agropecuária do município de Quissamã e da região do Farol de São Tomé, em Campos dos Goytacazes, é a construção do Complexo Logístico e Industrial da Barra do Furado. Com investimento

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privados estimados em R$2 bilhões, são previstos a construção estaleiros para fabricação e manutenção de embarcações de apoio as plataformas de petróleo em operação na Bacia de Campos (FIG. 2). Embora seja, em escala, muito menor que o complexo do Açu, os empreendimentos da Barra do Furado terão sensíveis impactos sobre o pequeno município de Quissamã, que contabilizou, em 2010, apenas 20 mil habitantes.

Figura 2 Croqui do Complexo Portuário e Industrial da Barra do Furado

Fonte: Jornal Folha da Manha. Campos dos Goytacazes, 14-11-2009 Disponível em:

<http://fmanha.com.br/blogs/pontodevista/files/2009/11/Complexo-Barra-do-Furado.jpg> Acesso em: 3-7-2012

3 A dinâmica populacional

São João Barra pode ser considerado, hoje, como um município de pequeno porte, que, em 1970, tinha uma população contabilizada em 55 mil habitantes e, em função da emancipação do município de São Francisco do Itabapoana, totaliza, em 2010, 33 mil. O município de Campos, por sua vez, contabilizava, em 1970, 318 mil habitantes e, em 2010, 463 mil habitantes4

Macaé, por sua vez, em 1970 também poderia ser considerado um município de pequeno porte, quando tinha população de 65 mil habitantes. Entretanto, contabilizou 206 mil habitantes em 2010, em uma cidade adensada e sócio-espacialmente segregada, com periferias favelizadas e forte tendência de conurbação com municípios vizinhos, em especial com Rio das Ostras, que cresceu a surpreendentes 10% ao ano, em média, na década de 2000-2010 (OLIVEIRA, GIVISIEZ e TERRA, 2009). Em que pese a crescente . O município de Campo dos Goytacazes é, desde o período colonial, a principal cidade da região Norte do Estado do Rio de Janeiro e sempre deteve a centralidade de comércio, indústria e educação da região.

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centralidade econômica da cidade de Macaé, ditada pela economia associada às atividades de E&P, Campos ainda mantém relativa importância na região, principalmente em função das atividades de comércio e serviços já instaladas.

Tabela 4

População residente e participação relativa em relação à unidade regional imediatamente superior

Fonte: Censo Demográfico IBGE

Contudo, novos horizontes se delineiam no futuro do município de São João da Barra, indicando tendências de crescimento populacional no curto prazo e, de certa forma, Macaé serve como um exemplo a não ser seguido. As seções a seguir apresentam duas projeções populacionais, sendo que a primeira considera o horizonte delineado pelos Estudos de Impacto Ambiental dos empreendimentos em fase de instalação no território de São João da Barra e a segunda considera métodos “clássicos” de projeção demográfica. Notar-se-á que os resultados apresentados, por essas duas projeções, são divergentes. Como já mencionado anteriormente, um dos objetivos desse artigo é discutir essas diferenças, que impõem sérias dificuldades para o planejamento de demandas sociais relacionadas à dinâmica populacional.

3.1 As projeções populacionais dos empreendedores

Como fonte de dados das projeções apresentadas pelos empreendedores, optou-se por elaborar uma análise de conteúdo dos Relatórios de Impacto Ambiental – RIMA e dos Estudos de Impacto Ambiental – EIA, disponíveis no site do INEA, órgão fluminense responsável pelo licenciamento ambiental de empreendimentos de impacto. As fontes utilizados foram os documentos apresentados no quadro a seguir:

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RIMA

Usina Termelétrica Porto do Açu Energia I (CRA e MPX, 2008) Pátio Logístico e Operações Portuárias (Ecologus e LLX, 2010) Projeto Siderúrgica Ternium Brasil (Ecologus e Ternium, 2010)

Infraestruturas do Distrito Industrial de São João da Barra (Ecologus e LLX, 2011) Usina Termelétrica Porto do Açu Energia II (CRA e MPX, 20[??])

EIA

Distrito Industrial de São João da Barra (Ecologus e LLX, 2011) Terminal Sul (CRA e LLX, 2011)

Figura 4 EIA’s e RIMA’s utilizados na consulta da estimativa populacional adotada pelos empreendedores do complexo portuário do Açu

Fonte: INEA (www.inea.rj.gov.br/)

Em que pesem as dificuldades em se mensurar com precisão as populações futuras, os processos de licenciamento ambiental tem apresentado estimativas populacionais que sugerem altas taxas de crescimento demográfico nos dois principais municípios impactados pelos empreendimentos: Campos dos Goytacazes e São João da Barra teriam um incremento populacional absoluto de cerca de 750 mil habitantes em 15 anos (TAB. 5). Vale ressaltar que os documentos são pouco precisos na descrição da metodologia utilizada nas projeções populacionais, que, geralmente, consideram a extrapolação de taxas de crescimento para o denominado “cenário tendencial”. Já no caso do denominado “Cenário Pleno”, os documentos consultados tem frequentemente atribuído a relação de dois ou três empregos indiretos gerados para cada emprego direto gerado. A partir da estimativa de empregos diretos e indiretos, pressupostos sobre tamanho das famílias são adotados. Não foram notados, na análise do conteúdo destes documentos, referências sobre os tipos e tendências de formação e composições das famílias e domicílios.

Tabela 5

Projeção populacional Campos dos Goytacazes e São João da Barra. Campos dos Goytacazes

População

População Observada Total em 2010 463.731 Cenário Pleno

Total em 2025 834.000 Crescimento 2010-2025 3,91% Crescimento 2012-2025 3,90% Cenário Tendencial Total em 2025 550.213

Crescimento 2008-2025 1,14%

São João da Barra

População

População Observada Total em 2010 32.747 Cenário Pleno

Total em 2025 410.000 Crescimento 2010-2025 16,85% Crescimento 2012-2025 17,80% Cenário Tendencial Total em 2025 38.854 Crescimento 2008-2025 1,14% Fonte: Adaptado do RIMA: Infraestruturas do Distrito Industrial de SJB (Ecologus e LLX, 2011)

Como mencionado anteriormente, parte desse incremento populacional foi certamente atribuído às estimativas de empregos diretos e indiretos previstos para os empreendimentos (TAB 6), que, teriam impactos, em diferentes níveis, nas populações de todos os municípios do estado do Rio de Janeiro (TAB 7). Percebe-se a previsão de que São João da Barra teria, em 2025, 147 mil empregos (TAB 7), direta e indiretamente associados aos empreendimentos, e uma população total de 410 mil habitantes (TAB 5). De maneira similar, as hipóteses de projeção consideram que a população de Campos

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dos Goytacazes será de 834 mil habitantes (TAB 5), em função dos 116 mil empregos gerados (TAB 7).

Tabela 6

Total de empregos diretos e indiretos previstos para os empreendimentos do Porto do Açu.

Empreendimento EIA/RIMA Data Obras Operação Empregos Descrição Duração Empregos Descrição Usina Termelétrica Porto do Açu Energia

I 2008

2500 No Pico

52 meses 170 Diretos

1500 Média

Pátio Logístico e Operações Portuárias 2010 2000 Diretos 34 meses 180 Diretos

450 Indiretos

Siderúrgica Ternium Brasil 2010 18000 2900 Fase 2 e 3 Fase 1 meses 168 11000 Diretos Infraestruturas do Distrito Industrial de

São João da Barra 2011

9700 No pico até 2025

3800 Média

Usina Termelétrica Porto do Açu Energia

II 20[??] 2400 No Pico 48 meses 180 Diretos 1387 Média 400 Indiretos 5000 Indiretos

Distrito Industrial de São João da Barra 2011 10000 até 2025 50000 Diretos 40000 Indiretos Terminal Sul 2011 5370 Diretos 38 meses 4800 Diretos Unidade de Construção Naval 201[?] 3500 Diretos 39 meses 11000 Diretos 10500 Indiretos 30000 Indiretos Fonte: Elaborado pelos autores com base nos documentos listados na FIG 4

Tabela 7

Síntese da previsão de empregos a serem gerados por todo o Complexo Industrial e Portuário do Açu. Unidades Territoriais selecionadas, 2008 a 2025

Unidade Territorial 2008 2012 2016 2020 2025 Rio de Janeiro 1.718 57.197 204.398 243.987 279.437 Norte Fluminense 1.718 57.025 201.230 239.717 275.587 Campos dos Goytacazes 644 22.021 86.236 104.914 116.666 São João da Barra 1.012 37.865 117.309 135.556 147.413 Outros municípios do Norte Fluminense 62 2.116 7.563 9.272 10.239 Outros municípios do Rio de Janeiro 0 189 3.168 4.148 4.850 Fonte: EIA: Terminal Sul. CRA e LLX (2011)

Nos dois casos, o cenário pleno aposta em um expressivo crescimento populacional com consequências imprevisíveis para as duas cidades. Entretanto, os documentos não informam a origem dos imigrantes que irão assumir esses postos de trabalho e os responsáveis pelos empreendimentos também não tem respostas para essa questão. Essas incertezas tem gerado muitos documentos sem base científica, a exemplo de textos de jornais e blogs na Internet, que tem alimentado imaginário da população que vislumbra grandes grupos de estrangeiros, na maioria chineses, que estariam se preparando para suprir a grande demanda local por mão de obra. Entende-se que é nesse cenário de incertezas e imprevisibilidades que está a importância da participação dos demógrafos, definindo os limites e as possibilidades das projeções populacionais.

3.2 Projeções Demográficas “Clásssicas”

A projeção da população para municípios, no Brasil, utiliza comumente o método conhecido no Brasil como AiBi ou como “método dos coeficientes” que foi utilizado de forma pioneira por Madeira e Simões (1972), para estimar as populações urbana e rural das Unidades Federativas no período de 1960/1980. O também denominado

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“Apportionment Method” ou projeção da participação no crescimento (Pickard, 1959) consiste em projetar a população em função da contribuição de uma área no crescimento absoluto da população esperada em uma área maior (Waldvogel, 1998). Esse método estabelece uma relação linear entre a população de uma área menor – um município, por exemplo – e a população da área maior da qual ela faça parte – a UF desse município. Dessa forma, o modelo estima a participação relativa de cada área menor no crescimento da área maior, calculada pela diferença relativa entre a população da área menor e um outro ponto no passado. A multiplicação desta proporção pelo crescimento absoluto da área maior do período que se deseja projetar estima o crescimento esperado para cada área menor. Para este caso, a tendência de crescimento relativa observada entre 2000 ( ) e 2010 ( ) foi utilizada como referência, mas, dependendo da disponibilidade de dados, podem ser usados mais de dois pontos no tempo.

As projeções realizadas utilizando por este método indicam taxas de crescimento baixas, ou até negativas, no horizonte de 20 anos para os municípios de Campos e São João da Barra. Ou seja, os Censos de 2000 e 2010 ainda não demonstraram inflexão na tendência histórica de crescimento da população dos municípios. A projeção populacional do IBGE, revisão de 2008, prevê que a população do Rio de Janeiro será de 17,9 milhões em 2030, contra 16,1 milhões em 2010. Isso perfaz um crescimento exponencial médio de 0,5% (2010-2030), com tendência de queda em todo o período (0,69% no quinquênio 2010-2015 e 0,33% no quinquênio 2025-2030).

A tendência apresentada pelo método AiBi indica que a maior taxa de crescimentos será observada em Rio das Ostras, com 2,53% em todo o período de 30 anos, refletindo o expressivo crescimento do município na década de 2000. Nos municípios de Laje do Muriaé, Natividade e Miracema, mantidas as hipóteses da projeção, notar-se-á crescimento negativo da população.

De forma a sugerir uma comparação entre as cidades associadas a este trabalho, foram arbitradas duas regiões. A primeira, assumida como a área de influência do Complexo Portuário do Açu – AIAçu, é coerente com os relatórios de impacto ambiental dos empreendimentos do Açu e da Barra do Furado, e consideram os municípios de Campos dos Goytacazes, São João da Barra, Quissamã e São Francisco do Itabapoana. A segunda, assumida como Área de Influência do Complexo de Exploração e Produção de Petróleo de Macaé – AIMacaé, consideraram os municípios de Macaé, Rio das Ostras e Casimiro de Abreu, que já apresentam áreas urbanas conurbadas, acrescentados dos municípios de Cabo Frio e Armação de Búzios que, embora não totalmente conurbados com a área urbana de Macaé, tem tido expressivo crescimento populacional que, em grande parte, pode ser atribuído à pulsante economia industrial de Macaé.

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Tabela 6

Projeção da população Total, segundo a unidade territorial. Municípios selecionados e Estado do Rio de Janeiro. 2010, 2015, 2020, 2025 e 2030.

Unidade Territorial População

Cod Nome 2010 2015 2020 2025 2030

33 Rio de Janeiro 16.141.412 16.705.349 17.168.199 17.558.995 17.853.193

3300159 Aperibé 10.419 11.193 11.828 12.364 12.767 3300233 Armação dos Búzios 28.431 31.723 34.424 36.705 38.423 3300605 Bom Jesus do Itabapoana 35.578 36.198 36.706 37.136 37.459 3300704 Cabo Frio 191.766 212.670 229.827 244.313 255.218 3300902 Cambuci 14.842 14.897 14.943 14.981 15.010 3300936 Carapebus 13.795 15.446 16.801 17.945 18.806 3301009 Campos dos Goytacazes 469.100 489.112 505.537 519.405 529.845 3301157 Cardoso Moreira 12.600 12.602 12.604 12.605 12.606 3301306 Casimiro de Abreu 36.571 41.212 45.020 48.236 50.657 3301405 Conceição de Macabu 21.441 22.298 23.001 23.595 24.041 3302056 Italva 14.200 14.708 15.126 15.478 15.744 3302106 Itaocara 22.889 22.852 22.822 22.797 22.778 3302205 Itaperuna 96.706 99.923 102.564 104.794 106.472 3302304 Laje do Muriaé 7.447 7.298 7.175 7.072 6.994 3302403 Macaé 213.627 239.750 261.191 279.293 292.921 3303005 Miracema 26.822 26.744 26.680 26.626 26.585 3303104 Natividade 15.078 15.063 15.050 15.040 15.032 3304102 Porciúncula 17.931 18.569 19.093 19.534 19.867 3304151 Quissamã 20.854 23.165 25.062 26.664 27.870 3304524 Rio das Ostras 111.848 136.081 155.970 172.763 185.405 3304706 Santo Antônio de Pádua 40.769 41.439 41.988 42.452 42.802 3304755 São Francisco de Itabapoana 41.374 41.448 41.508 41.559 41.598 3304805 São Fidélis 37.615 37.881 38.099 38.284 38.423 3305000 São João da Barra 33.225 35.011 36.477 37.714 38.646 3305133 São José de Ubá 7.059 7.267 7.438 7.582 7.691 3306156 Varre-Sai 9.628 10.199 10.668 11.064 11.362 Área de Influência do Porto do Açu 564.554 588.736 608.584 625.342 637.958 Área de Influência de Macaé 582.243 661.435 726.431 781.310 822.623 Fonte: Elaborado pelo autor

As duas regiões apresentavam populações similares em 2010, ou seja, 564,6 mil na AIAçu e 582,2 mil na AIMacaé. Entretanto os crescimentos, positivos nos dois casos, são divergentes. Mantidas as tendências da década de 2010 a AIMacaé teria 822,6 mil habitantes em 2030 e a região do AIAçu teria 638,0 mil na mesma data. Entretanto, não foram contabilizados os impactos diretos no mercado de trabalho em função da instalação dos empreendimentos do Complexo do Açu, que, indubitavelmente, não são desprezíveis. Embora existam controvérsisas quanto aos números apresentados, os relatórios e os estudos de impacto ambiental das empresas associadas à implantação do complexo, sugerem que o empreendimento gerará cerca de 50 mil empregos diretos, quando em pleno funcionamento. Ou seja, no caso desses empregos denotarem incremento populacional, de forma direta e indireta, espera-se que, em 2030, as populações da AIAçu e AIMacaé permaneçam similares, em valores absolutos.

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Tabela 7

Taxa de crescimento, segundo a unidade territorial. Municípios selecionados e Estado do Rio de Janeiro. 2010, 2015, 2020, 2025 e 2030.

Unidade Territorial Taxa de crescimento

Cod Nome 2010-15 2015-20 2020-25 2025-30 2010-2030

33 Rio de Janeiro 0,69% 0,55% 0,45% 0,33% 0,50%

3300159 Aperibé 1,43% 1,10% 0,89% 0,64% 1,02% 3300233 Armação dos Búzios 2,19% 1,63% 1,28% 0,91% 1,51% 3300605 Bom Jesus do Itabapoana 0,35% 0,28% 0,23% 0,17% 0,26% 3300704 Cabo Frio 2,07% 1,55% 1,22% 0,87% 1,43% 3300902 Cambuci 0,07% 0,06% 0,05% 0,04% 0,06% 3300936 Carapebus 2,26% 1,68% 1,32% 0,94% 1,55% 3301009 Campos dos Goytacazes 0,84% 0,66% 0,54% 0,40% 0,61% 3301157 Cardoso Moreira 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 3301306 Casimiro de Abreu 2,39% 1,77% 1,38% 0,98% 1,63% 3301405 Conceição de Macabu 0,78% 0,62% 0,51% 0,38% 0,57% 3302056 Italva 0,70% 0,56% 0,46% 0,34% 0,52% 3302106 Itaocara -0,03% -0,03% -0,02% -0,02% -0,02% 3302205 Itaperuna 0,65% 0,52% 0,43% 0,32% 0,48% 3302304 Laje do Muriaé -0,40% -0,34% -0,29% -0,22% -0,31% 3302403 Macaé 2,31% 1,71% 1,34% 0,95% 1,58% 3303005 Miracema -0,06% -0,05% -0,04% -0,03% -0,04% 3303104 Natividade -0,02% -0,02% -0,01% -0,01% -0,02% 3304102 Porciúncula 0,70% 0,56% 0,46% 0,34% 0,51% 3304151 Quissamã 2,10% 1,57% 1,24% 0,88% 1,45% 3304524 Rio das Ostras 3,92% 2,73% 2,05% 1,41% 2,53% 3304706 Santo Antônio de Pádua 0,33% 0,26% 0,22% 0,16% 0,24% 3304755 São Francisco de Itabapoana 0,04% 0,03% 0,02% 0,02% 0,03% 3304805 São Fidélis 0,14% 0,12% 0,10% 0,07% 0,11% 3305000 São João da Barra 1,05% 0,82% 0,67% 0,49% 0,76% 3305133 São José de Ubá 0,58% 0,46% 0,38% 0,28% 0,43% 3306156 Varre-Sai 1,15% 0,90% 0,73% 0,53% 0,83% Área de Influência do Porto do Açu 0,84% 0,66% 0,54% 0,40% 0,61% Área de Influência de Macaé 2,55% 1,87% 1,46% 1,03% 1,73% Fonte: Elaborado pelo autor

3.3 Tendências recentes do mercado de trabalho

A TAB 8, a seguir, apresenta a evolução do emprego formal para os dois município associados ao complexo portuário, baseado em dados da RAIS. Em que pese o gap temporal, os números contabilizadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego, estão muito distantes daqueles previstos pelos relatórios de impacto, que previram a geração de 22 mil empregos em São João da Barra e 38 mil em Campos dos Goytacazes, para o ano de 2012 (TAB 7).

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Tabela 8

Empregos formais, por localização do estabelecimento, segundo o período. Campos dos Goytacazes e São João da Barra, 2000 a 2010

Período

Postos de trabalho Formais

Estoque Fluxo

Campos dos

Goytacazes São João da Barra Janeiro Rio de Campos dos Goytacazes São João da Barra Janeiro Rio de 2010 87.380 7.397 4.080.082 10.505 1.682 228.823 2009 76.875 5.715 3.851.259 -11.355 403 138.876 2008 88.230 5.312 3.712.383 -11.012 952 46.537 2007 99.242 4.360 3.665.846 15.018 366 292.219 2006 84.224 3.994 3.373.627 6.064 102 181.843 2005 78.160 3.892 3.191.784 8.665 113 131.610 2004 69.495 3.779 3.060.174 7.745 331 114.981 2003 61.750 3.448 2.945.193 8.807 296 22.730 2002 52.943 3.152 2.922.463 4.999 707 121.093 2001 47.944 2.445 2.801.370 230 -162 83.232 2000 47.714 2.607 2.718.138 Fonte: RAIS

Entretanto, faz-se notar que, a partir de 2007, ano de início das obras do complexo portuário e industrial do Porto do Açu, o total de postos de trabalhos formais teve um expressivo incremento em São João da Barra, com um aumento relativo de 360% no intervalo de quatro anos. Adotando a hipótese de que os empregos formais tenderiam a um crescimento linear em função do período (Empregos = a + b.t), projetar-se-ia um total de 21 mil empregos formais em 2025. Considerando que a proporção de empregos formais – Empregados com Carteira, Militares, Empregadores e Funcionários Públicos, segundo os dados do Censo Demográfico de 2010 – foi de 44,9%, em 2010, em São João da Barra, nota-se que o total de empregos formais estão distantes das expectativas dos documentos de licenciamento. Para Campos, esse mesmo exercício sugeriria inclinação negativa, diminuindo o total de postos de trabalhos até 2025, uma vez que o município perdeu postos de trabalho entre 2007 e 2009. Vale ressaltar que o padrão do crescimento relativo dos postos de trabalho é distinto do observado no Estado do Rio de Janeiro (FIG 3).

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Figura 3 Crescimento relativo do total de postos de trabalho formais. São João da Barra, Campos dos Goytacazes e Estado do Rio de Janeiro.

Fonte: RAIS

O aumento do total de empregos se faz notar no Saldo Migratório que é positivo, quando o destino é São João da Barra e negativo, quando o destino é Campos dos Goytacazes (TAB 8). A análise da origem e do destino desses migrantes (TAB 9) revela que a maioria das migrações em São João da Barra são resultados de trocas de população internas à Região Norte Fluminense e, em menor grau, com a região Metropolitana do Rio de Janeiro. Por outro lado, Campos dos Goytacazes, pelos dados do Censo Demográfico 2010, tem perdido população principalmente para outros municípios da região Norte Fluminense, mas também, em nível não desprezível, para municípios da região das Baixadas, que pode ser caracterizada como uma área de influência de Macaé.

Tabela 8

Total de migrantes por data fixa, segundo o município. Campos dos Goytacazes e São João da Barra. 2010

Descrição Campos dos Goytacazes São João da Barra

Emigrantes 19.379 887

Imigrantes 12.993 3.132

Saldo Migratório -6.386 2.245 População (2010) 463.218 32.700

Taxa Bruta de Emigração 4,18 2,71 Taxa Bruta de Imigração 2,81 9,58 Taxa Bruta de Migração -1,38 6,86

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Tabela 9

Total de imigrantes, emigrantes e saldo migratório, por data fixa, segundo a origem e o destino. Campos dos Goytacazes e São João da Barra. 2010

Unidade Territorial Emig. São João da Barra Imig. SM Emig. Campos dos Goytacazes Imig. SM 3301 Noroeste Fluminense 10 0 -10 730 703 -27 3302 Norte Fluminense 604 1826 1222 6233 2122 -4111 3303 Centro Fluminense 0 0 0 162 127 -35 3304 Baixadas 67 77 9 4662 1006 -3656 3305 Sul Fluminense 0 24 24 252 119 -133 3306 Metropolitana do Rio de Janeiro 160 511 351 3592 4036 444 Total Estado do Rio de Janeiro 841 2438 1597 15631 8114 -7517

Outras Origens 46 694 648 3748 4879 1131

Total 887 3132 2245 19379 12993 -6386 Fonte: Censo Demográfico 2010

4 Considerações Finais

Em que pese a provável aumento da população nos municípios de Campos e São João da Barra, em função dos investimentos que estão planejados para a região, outros empreendimentos de médio e grande porte concorrem com essa região na atração de imigrantes, em especial os investimentos de exploração de Petróleo na camada pré-sal, na região de Macaé, e do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro - COMPERJ, na região Metropolitana do Rio de Janeiro. Nesse sentido existem três hipóteses possíveis para justificar as contradições observadas entre as projeções dos empreendedores da região do Açu e as tendências demográficas analisadas: (i). Os métodos de projeções baseados somente na tendência demográfica não tem captado essa inflexão no crescimento; (ii) As projeções elaboradas para os processos de licenciamento ambiental na região do Açu estão muito “otimistas”; e (iii) a hipótese mais correta seria algum número intermediário. De fato, tais hipóteses só poderão ser confirmadas ou refutadas em 2025 e, hoje, somente é possível enumerar tais projeções e procurando por coerências e incoerências.

Se confirmadas as hipóteses dos empreendedores, o futuro que se delineia para São João da Barra pode ser comparado à história recente do município de Macaé que, na verdade, apresenta-se como um alerta. Tanto Macaé como São João da Barra são marcados por expressivos investimentos econômicos, com notórias consequências nas suas cidades, embora as inflexões sejam separadas, temporalmente, por quase quatro décadas. Os dois municípios, situados em regiões contíguas, possuíam tradição econômica similar, caracterizada pela pecuária e agricultura, mas, a partir da segunda metade da década de 1970, Macaé foi escolhida como a principal sede de implantação da Indústria Petrolífera da Bacia Petrolífera de Campos, e transitou, em apenas trinta anos, de uma pequena cidade de 30 mil habitantes, com características de uma vila de pescadores, para uma cidade industrial de 200 mil habitantes, marcada por uma forte segregação socioespacial. A região contígua a Macaé tem ainda experimentado processos de reordenamento territorial, onde já se notam grandes regiões conurbadas envolvendo os municípios de Macaé, Rio das Ostras e Casimiro de Abreu. O expressivo crescimento populacional dos municípios de Cabo Frio e Armação de Búzios, embora não totalmente conurbados com Macaé, pode ainda ser atribuído à pulsante economia industrial de Macaé. Ocupando a posição de detentores das mais elevadas receitas

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orçamentárias do país, em função dos royalties de petróleo, os gestores desses municípios teriam condições de promover grandes avanços sociais. Entretanto, esses municípios nem sempre têm alocado as receitas adicionais na resolução e mitigação dos problemas sociais advindos dos impactos causados pela atividade instalada. As consequências notadas no planejamento urbano, em diversos níveis de complexidade, são o crescimento desordenado, favelização e ausência de infraestrutura urbana adequada.

Caso contrário, se confirmadas as hipóteses dos métodos demográficos apresentados, o cenário futuro alteraria a distribuição relativa das áreas urbanas entre os municípios e, com isto, seriam notadas fortes consequências na distribuição das forças políticas e econômicas dessa região e é certo que o centro econômico regional, e provavelmente também o centro político e cultural, se dividirá entre a tradicional cidade de Campos dos Goytacazes, e a tríade representada por Macaé, Rio das Ostras e Cabo Frio.

Dado as informações de trabalho e emprego apresentadas na seção anterior, espera-se que um cenário intermediário se delineie. O desafio para as projeções demográficas, nesse caso, envolvem o uso de tendências de curto prazo na elaboração de hipóteses. Para isso, o monitoramento contínuo dessas regiões, seja por meio de modelagem econômicas ou de sistemas urbanos, se apresentam como alternativas às estimativas e projeções populacionais.

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Referências

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