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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA GUILHERME FAGUNDES FERNANDES

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA

GUILHERME FAGUNDES FERNANDES

Construção e caracterização de mola helicoidal com memória de forma aplicada em um atuador linear termoativado

Lorena 2014

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GUILHERME FAGUNDES FERNANDES

Construção e caracterização de mola helicoidal com memória de forma aplicada em um atuador linear termoativado

Trabalho de Graduação apresentado à Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Engenheiro de Materiais.

Orientador: Prof. Dr. Sergio Schneider

Lorena 2014

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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

Ficha Catalográfica

Elaborada pela Biblioteca Especializada em Engenharia de Materiais EEL USP

Fernandes, Guilherme

Construção e caracterização de mola helicoidal com memória de forma aplicada em um atuador termoativado. / Guilherme

Fagundes Fernandes ; orientador Sergio Schneider. --Lorena, 2014. 45 f.: il.

Monografia (Trabalho de Graduação em Engenharia de Materiais) – Escola de Engenharia de Lorena - Universidade de São Paulo.

1. Ligas memória de forma 2. Molas helicoidais 3. Atuadores 4. Ligas de NiTi I. Título.

CDU 669.018

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Dedico este trabalho à minha mãe, Vera Lucia Fagundes Fernandes, ao meu pai, Wanderley Fenandes e ao meu irmão Glauco Fagundes Fernandes, que transformaram os inúmeros incentivos e apoios nesta etapa da minha vida em um sonho se tornando realidade.

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AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Sergio Schneider, pela oportunidade, ensinamento e vontade em ajudar neste trabalho de conclusão de curso.

Aos funcionários do Departamento de Engenharia de Materiais da Escola de Engenharia de Lorena, Bento Ferreira, Everaldo Pinheiro Bruno e Francisco de Paiva Reis, pela cooperação e boa vontade.

Aos meus colegas Fabiano Eduardo Marques, Juliana Soares L’Abbate e Roberta Narezi Pimentel Rosa, pelas conversas e intensa ajuda.

Aos meus amigos de república Alexandre Dutra Golanda, Caio Rodrigues Cabestré, Denyel Mulia Miranda e Marcos Benedetti Groblackner, que me acompanharam nessa incrível jornada.

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“Os que se encantam com a pratica sem a ciência são como os timoneiros que entram no

navio sem timão nem bússola, mas tendo

certeza de seu destino”.

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RESUMO

FERNANDES, G.F. Construção e caracterização de mola helicoidal com memória de forma aplicada em um atuador linear termoativado. 2014. 45 f. Monografia (Trabalho de Graduação em Engenharia de Materiais) – Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, 2014.

Ligas com memória de forma (SMA) têm sido considerados como um dos materiais inteligentes mais promissores. Eles podem fornecer novas soluções em diversas áreas, para várias aplicações (por exemplo, atuadores, aplicação biomédica, sistemas de fixação, etc.). Ligas com memória de forma demonstram uma capacidade única de recuperar a sua forma inicial após a deformação através de uma transformação de fase termo elástica reversível, isso permite as ligas com memória de forma recuperar grandes deformações, também espontaneamente (pseudoelasticidade) ou através de um aumento da temperatura (efeito memória de forma). Entre as ligas com memória de forma disponíveis comercialmente, níquel-titânio (NiTi) são as mais requeridas devido a sua excelente performance e confiabilidade, além de recuperar sua deformação, NiTi é atraente para várias aplicações médicas, devido a sua biocompatibilidade, resistência à corrosão e seu comportamento sob fadiga. O presente trabalho tem como objetivo principal a construção e a caracterização de uma mola SMA de NiTi para aplicação em atuadores termoativados. As técnicas de análise empregadas para a mola SMA foram, DSC e obtenção da histerese, e ensaios termomecânicos para obter uma mola TWSME e ensaios para determinação das constantes elásticas da mola na fase martensita e na fase austenita. Os resultados obtidos para as temperaturas de transformação de fase foram Mi = 38,42°C ; Mf = 28,2°C ; Ai = 33,61°C e Af = 43,7°C. O

treinando da mola foi possível obter uma recuperação elástica média de η = 53,06%. Para os ensaios de constante elástica da mola nas fases martensítica e austenítica foram realizadas nas temperaturas de 25°C e 50°C, respectivamente, obtendo os valores de k25°C = 0,395 N/mm e

k50°C = 0,611 N/mm. A partir dos resultados obtidos foi possível desenvolver e testar um

atuador termoativado SMA capaz de acionar e desacionar um dispositivo eletônico.

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ABSTRACT

FERNANDES, G.F. Construction and characterization of coil spring shape memory applied to linear actuator activated by temperature. 2014. 45 f. Monograph (Undergraduate Work in Materials Engineering) – Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, 2014.

Shape Memory Alloys (SMAs) have been considered as one of the most promising smart materials. They can provide novel solution in several fields, for various applications (e.g. actuator, biomedical application, clamping systems, ect.). Shape Memory Alloys demonstrate a unique ability to recover their initial shape after deformation through a reversible thermo-elastic phase transformation, it allows Shape Memory Alloys to recover large strains, either spontaneously (pseudo elasticity) or through an increase in temperature (Shape Memory Effect). Among the commercially available Shape Memory Alloys, nickel-titanium (NiTi) one are outstanding due to their excellent performance and reliability, in addition to strain recovery, NiTi is attractive for several medical applications due to its biocompatibility, corrosion resistance and fatigue behavior. The present work aims to manufacture and characterization of coil spring NiTi SMA applied to linear actuator active by temperature. Analytical techniques employed for SMA coil spring were, DSC and obtaining hysteresis, and thermo mechanical tests to get a TWSME coil spring and tests to determine the elastic constants of coil spring in martensite phase and austenite phase. The results obtained for a phase transformation temperatures were Mi = 38,42°C ; Mf = 28,2°C ; Ai = 33,61°C e Af =

43,7°C. The coil spring training was possible to obtain an average elastic recovery η = 53,06%. For the testing of elastic coil spring constant in the martensitic and austenitic

phase were held at 25°C and 50°C respectively, giving the values of k25°C = 0,395 N/mm e

k50°C = 0,611 N/mm. From the results obtained it was possible to develop and test a SMA

actuator activated by temperature able to activate and deactivate a electronic device.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 Estrutura cristalina da (a) austenita, microestruturalmente ordenado e da (b) martensita, menos simétrico. ………... 18 Figura 1.2 Dois caminhos de transformação em ligas de NiTi: primeiro estágio de transformação B2 → B19’, segundo estágio de transformação B2 → fase-R → B19’, transformação reversa B19’ → B2, fase-R → B2 ... 19 Figura 1.3 Histerese térmica na transformação de fase de uma liga com memória de forma.20

Figura 1.4 Representação de dois cristais separados por um contorno de macla. ...21 Figura 1.5 Microestrutura da austenita e martensita em um plano bidimensional: (a) austenita, (b) martensita maclada, (c) martensita demaclada. ...22 Figura 1.6 Relação entre temperatura de transformação de fase e tensão aplicada. ...22 Figura 1.7 DSC de uma liga NiTi, mostrando seu comportamento durante o aquecimento e resfriamento. ...23 Figura 1.8 Gráfico Tensão-Deformação-Temperatura para SMA. Md é a temperatura de

transição entre a fase pseudoelástica e a austenítica que, para uma liga NiTi, é normalmente acima da temperatura Af. ...25

Figura 1.9 (a) único cristal na fase de origem, (b) auto reorganização atômica na martensita, (c) deformação na martensita (maclação e demaclação), (d) aquecimento até a temperatura acima de Af (transformação reversa). ...26

Figura 1.10 Efeito memória de forma mostrado microscópicamente; austenita é resfriada para formar a martensita maclada sem sofrer alteração em sua forma, quando é deformada pela movimentação dos contornos de maclas. A estrutura original austenítica e sua forma retornarão após o aquecimento da SMA. ...27 Figura 1.11 Macroscopicamente o mecanismo OWSME; (a) Martensita, (b) Carregamento e deformação na fase martensita (T < Mf), (c) Aquecimento acima da temperatura final da

austenita (T > Af), (d) Resfriamento até a fase martensita (T < Mf). ...28

Figura 1.12 Macroscopicamente o mecanismo TWSME; (a) Estado martensítico, (b) várias deformações irreversíveis, (c) aquecimento, (d) resfriamento. ...29 Figura 1.13 Curva tensão-deformação: comportamento SE de NiTi SMA, pode ser observado a grande deformação reversa, que pode chegar em alguns casos até 8%. ...30 Figura 2.1 Fixação do fio de NiTi no mandril cilíndrco na forma de uma mola helicoidal de seção retangular. ...32

(11)

Figura 2.2 Forno utilizado para o tratamento térmico da mola. ...32

Figura 2.3 Tratamento termomecânico para a produção da mola TWSME. ...34

Figura 2.4 Dispositivo usado na etapa de treinamento da mola helicoidal. ...34

Figura 2.5 Desenho esquemático do projeto do atuador linear. ...35

Figura 2.6 Atuador linear utilizado para a mola helicoidal SMA. ...35

Figura 2.7 Dispositivo de ensaios mecânicos instalado na máquina da EMIC para determinação da constante da mola. ...36

Figura 3.1 Análise de DSC para a liga NiTi. ...38

Figura 3.2 Comportamento elástico da mola durante 100 ciclos térmicos do treinamento. ...39

Figura 3.3 Comportamento da mola em compressão. ...40

Figura 3.4 Histerese da curva força x temperatura para determinação das temperaturas de transição de fases da mola SMA. ...41

(12)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1.1 Temperaturas de transição de fases para a mola SMA em função dos métodos aplicados. ... .42

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LISTA DE SIGLAS

SMA Shape Memory Alloy SME Shape Memory Effect CCC Cúbico de corpo centrado TTM Trabalho de graduação MTI DSC SE OWSME TWSME SATWSME DEMAR EEL USP

Transformação Termoelástica Martensítica Differencial Scanner Calorimeter

Superelastic Effect

One Way Shape Memory Alloy Two Way Shape Memory Alloy

Stress Assisted Two Way Shape Memory Effect Departamento de Engenharia de Materiais Escola de Engenharia de Lorena

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LISTA DE SÍMBOLOS B2 Estrutura ordenanda CCC

B19’ Estrutura monoclínica

Mi Temperatura de início da transformação martensítica Mf Temperatura de término da transformação martensítica Ai Temperatura de início da transformação austenítica Af Temperatura de término da transformação austenítica

Md Máxima temperatura em que a martensita é formada por tensão Derivada da tensão aplicada

dT Derivada da temperatura T Temperatura (°C)

ε Deformação (%)

σ Tensão (MPa)

τ Tensão de cisalhamento (MPa) η Recuperação elástica (%)

La Comprimento da mola na fase austenítica (mm) Lm Comprimento da mola na fase martensítica (mm)

F Força (N)

Fel Força elástica (N) ΔL k G D n d Deformação da mola (mm)

Constante elástica da mola (N/mm) Módulo de cisalhamento (GPa) Diâmetro da mola (mm)

Número de espiras da mola Diâmetro do fio (mm)

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SUMÁRIO

1 INDRODUÇÃO ... 17

1.1 Histórico de ligas com memória de forma ... 17

1.2 Transformação termoelástica martensítica ... 17

1.3 Propriedades mecânicas e funcionais de ligas NiTi ... 23

1.4 Efeito memória de forma (SME) ... 25

1.4.1 One Way Shape Memory Effect (OWSME) ... 27

1.4.2 Two Way Shape Memory Effect (TWSME) ... 28

1.4.3 Stress Assisted Two Way Shape Memory Effect (SATWSME) ... 29

1.4.4 Efeito Superelástico (SE)... 30

1.5 Objetivos e justificativas ... 31

2 MATERIAIS E MÉTODOS ... 31

2.1 Preparação da mola helicoidal ... 31

2.2 Análise de DSC (Differencial Scanner Calorimeter) ... 33

2.3 Treinamento da mola ... 33

2.4 Projeto do atuador linear termoativado ... 34

2.5 Ensaio para determinação da constante elástica da mola... 35

2.6 Ensaio para determinação das temperaturas de transição de fase da mola SMA através da histerese ... 37

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 37

3.1 Resultados da análise de DSC ... 37

3.2 Resultados do treinamento da mola ... 38

3.3 Resultados do ensaio para determinação da constante elástica da mola ... 39

3.3.1 Determinação do módulo de cisalhamento da mola ... 40

3.4 Resultados do ensaio para determinação das temperaturas de transição de fase da mola SMA através da histerese ... 41

3.5 Resultados do atuador linear termoativado ... 42

4 CONCLUSÕES ... 43

(16)
(17)

17

1 INDRODUÇÃO

1.1 Histórico de ligas com memória de forma

Ligas com memória de forma (SMA) são capazes de memorizar e recuperar a sua forma original depois de serem deformados, com seu aquecimento acima da temperatura de transformação de fase. Este efeito único de retornar a uma geometria original após uma grande deformação plástica (próximo de 10%) é conhecido como Efeito de Memória de forma (SME).

Os primeiros relatos para a descoberta do “efeito de memória de forma” foram relatados nos anos de 1930, quando A. Olander descobriu o comportamento pseudoelástico da liga Au-Cd em 1932 (OTSUKA, 1998). Em 1938, Greninger & Mooradian, observaram a formação e o desaparecimento de uma fase martensítica pela diminuição e aumento da temperatura em uma liga de Cu-Zn. O fenômeno básico do efeito de memória causado pelo comportamento termoelástico da fase martensita foi amplamente relatado uma década depois, em 1949 por Kurdjumov & Khandros e também em 1951 por Chang & Read.

No início de 1960, Buehler e seus colegas de trabalho da U.S. Naval Ordnance Laboratory descobriram o efeito de memória de forma em uma liga equiatômica de níquel e titânio, na qual pode ser considerado um grande avanço para os materiais com memória de forma (BUEHLER, 1967). Esta liga foi nomeada Nitinol (Níquel-Titânio Naval Ordnance Laboratory).

Desde então, as intensas investigações foram feitas para melhor entender o mecanismo do seu comportamento básico. O uso de NiTi é interessante devido ao seu comportamento funcional especial, o qual é completamente novo em comparação com as ligas de metais convencionais. Ligas de NiTi com memória de forma podem fornecer novas soluções em diversas áreas, para várias aplicações como, atuadores, sistemas de fixação, aplicação biomédica, por exemplo.

1.2 Transformação termoelástica martensítica

Ligas de memória de forma de NiTi podem existir em duas diferentes estruturas cristalinas em relação a temperatura, martensita (baixa temperatura) e austenita (alta temperatura ou também conhecida como fase de origem). Várias propriedades do NiTi

(18)

18

austenítico e NiTi martensítico, como módulo de Young, resistência elétrica entre outros são particularmente diferentes (OTSUKA, 2005; DUERING, 1990).

A austenita é caracterizada por uma estrutura cúbica de corpo centrado (CCC), onde o átomo de níquel está no centro da estrutura cristalográfica e o átomo de titânio está nos oito vértices do cubo. A fase austenítica é microestruturalmente simétrica, por isso pode ser considerada fase de origem. A estrutura ordenada CCC é do tipo B2. A fase martensítica do NiTi é menos simétrica e caracterizada por uma estrutura monoclínica B19’. A Figura 1.1 mostra dois cristais de NiTi nas fases austenítica e martensítica.

(a) (b)

Figura 1.1 Estrutura cristalina da (a) austenita, microestruturalmente ordenado e da (b) martensita, menos simétrico. (OTSUKA, 1998).

O comportamento único de NiTi é baseado na dependência da temperatura na transformação de fase da austenita para martensita em escala atômica, na qual é chamada de Transformação Termoelástica Martensítica (TTM). TTM gera propriedades funcionais como resultado da necessidade da estrutura cristalina em acomodar um estado mínimo de energia para uma dada temperatura (OTSUKA, 1998).

A TTM, e a sua reversão, é uma transformação de fase adifusional causada por tensões cisalhantes onde ocorre a nucleação e crescimento da fase martensítica a partir da fase de origem austenítica. A TTM pode ser ativada, de modo que as ligas de NiTi podem ser transformadas de austenita para martensita e vice-versa, através de uma redução da temperatura (Martensita Termicamente Induzida, MTI) ou pela aplicação de uma tensão

(19)

19 mecânica (Martensita Induzida por Tensão, MIT). Por outro lado, a martensita se transforma em austenita, ou pelo aumento da temperatura ou removendo a tensão aplicada. Isto mostra que o carregamento mecânico e térmico tem efeitos opostos em ligas de NiTi.

Entretanto, sob certas circunstâncias, como trabalho a frio, ciclos térmicos, tratamento térmico ou composição química, uma fase intermediária conhecida como romboédrica ou fase-R, pode aparecer entre a austenita e a martensita, causando um comportamento de transformação em dois estágios como é mostrado na Figura 1.2.

Figura 1.2 Dois caminhos de transformação em ligas de NiTi: primeiro estágio de transformação B2 → B19’, segundo estágio de transformação B2 → fase-R → B19’, transformação reversa B19’ → B2, fase-R → B2. (Adaptado de YANG, 2003).

Bataillard observou que a formação da fase-R ocorre em relação a campos de tensão gerados por precipitados coerentes de Ni4Ti3. Khalil-Allafi e seus colegas de trabalho

investigaram o efeito do envelhecimento como uma função do tempo e temperatura e sugeriram que a heterogeneidade química e microestrutural também desempenhavam um papel importante na sequência de transição de fase observada nas transições de multi-passos. Outra maneira de estabilizar a fase-R em ligas binárias de NiTi é introduzir discordâncias, geralmente por trabalho a frio. Somente em ligas ternárias como NiTiFe, NiTiAl ou NiTiCo, a fase-R é conhecida por ocorrer espontaneamente. Assim, a determinação da fase-R binários de NiTi é sempre um desafio devido a presença de outras fases, defeitos e até mesmo as texturas introduzidas (YANG, 2003; REN, 2005; AKDOGAN, 2008).

Quando a austenita é resfriada, começa a transformação para a martensita, na qual a temperatura deste fenômeno começa é chamado de temperatura de início da martensita (Mi),

enquanto a temperatura na qual a martensita é revertida completamente é chamado de temperatura final da martensita (Mf). Quando a martensita é aquecida, começa a

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20

transformação para austenita, a temperatura na qual este fenômeno começa é chamado de temperatura de início da austenita (Ai), enquanto a temperatura na qual este fenômeno é

completamente revertido é chamado de temperatura final da austenita (Af), (BUEHLER,

1967; DUERING, 1990) e Md é a máxima temperatura em que a martensita (martensita

superelástica) é formada por tensão, como é observado na Figura 1.3. A histerese ocorre devido ao atrito interno do movimento atômico.

Figura 1.3 Histerese térmica na transformação de fase de uma liga com memória de forma. (BUEHLER, 1967).

Devido as características da TTM, a tensão aplicada desempenha um papel muito importante. Durante o resfriamento da liga de NiTi abaixo da temperatura Mi e na ausência de

tensões aplicadas, as variantes da fase martensítica se ordenam de uma forma auto eficiente, com um total de 24 planos cristalográficos equivalentes, resultando em uma não observação da mudança de forma macroscópica. O mecanismo pelo qual as variantes da transformação da martensita em austenita por resfrimento é conhecido como maclação, na qual uma força de cisalhamento pode produzir deslocamentos atômicos de tal modo que em um dos lados de um plano (o contorno de macla) os átomos estejam localizados em posições de imagem em espelho dos átomos no outro lado (BUEHLER, 1967; CALLISTER Jr., 2000). A maclação em cristais ocorre quando dois cristais separados cisalham a mesma região em uma rede

(21)

21 cristalina de uma forma simétrica, resultando no crescimento de dois cristais, separados por um contorno de macla, como pode ser visto na Figura 1.4.

Figura 1.4 Representação de dois cristais separados por um contorno de macla. (Adaptado de OTSUKA, 1998).

Com a aplicação de tensões nas estruturas de contornos de maclas, estes irão se movimentar e durante esta deformação, produzirão uma forma para melhor acomodar estas tensões. Este mecanismo de reorientação é conhecido como demaclação. Maclação e demaclação são processos tipicamente usados em SMA, estes mecanismos são a base para explicar as propriedades macroscópicas das SMA (WAYMAN, 1998).

A transformação de fase martensítica também pode ser induzida por carregamento mecânico enquanto o material está na fase austenítica, neste caso a demaclação martensítica é produzida diretamente da austenita por uma tensão aplicada por uma temperatura acima da Mi

(Martensita Induzida por Tensão ou MIT). Isto significa que a energia necessária para a transformação martensítica pode ser proveniente, não só através de uma indução térmica mas também por uma indução mecânica (OTSUKA, 2005; DUERING, 1990). É importante ressaltar que a transformação MIT pode ser induzida no material num determinado nível de tensão, porém, existe um intervalo de temperatura a partir de Af que esse fenômeno pode

ocorrer. A temperatura máxima em que pode ocorrer a transformação MIT é definida como Md, conforme está representada na Figura 1.3.

A Figura 1.5 mostra a liga de NiTi nas formas austenítica e martensítica em uma visão bidimensional. Como mostrado na figura, a austenita é simétrica e por isso tem uma distribuição definida para os átomos, enquanto que a martensita pode ser encontrado em dois alinhamentos diferentes com base no nível de tensão aplicada na liga. Baseada na direção da

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22

tensão, a martensita pode ser maclada tanto para esquerda quanto direita. Assim, de um ponto de vista bidimensional, há duas variantes possíveis para a martensita (LIU, 2001).

(a) (b) (c)

Figura 1.5 Microestrutura da austenita e martensita em um plano bidimensional: (a) austenita, (b) martensita maclada, (c) martensita demaclada. (DUERING, 1990).

A Figura 1.6 resume as considerações anteriores mostrando a relação entre as

temperaturas de transformação de fase, a tensão aplicada e a estrutura cristalina de uma liga de NiTi.

A partir da figura, é possível observar que um aumento na tensão aplicada aumenta as quatro temperaturas de transformação de fases de modo linear. O efeito da tensão aplicada pode ser calculado de acordo com a regra de Clausius-Clapeyron, dσ/dT = constante (OTSUKA, 2005).

Figura 1.6 Relação entre temperatura de transformação de fase e tensão aplicada. (Adaptado de OTSUKA, 2005).

(23)

23

Na Figura 1.7, mostra uma análise de DSC (Differential Scanning Calorimeter) relacionada a uma liga de NiTi. Esta é a principal técnica utilizada para identificar as temperaturas de transição de fase de uma liga de NiTi. Como é mostrado na figura, o intervalo de temperatura para a transformação da martensita em austenita, decorrente do aquecimento, é um pouco maior em relação a transformação inversa no resfriamento. A diferença entre as temperaturas de transição no aquecimento e resfriamento formam uma histerese. Histereses são geralmente definidas como a diferença entre as temperaturas nas quais o material é transformado 50% em austenita no aquecimento e 50% transformado em martensita no resfriamento. Esta diferença pode ser até 30-40°C e está relacionado com a energia dissipada durante a transformação. (OTSUKA, 2005; BUEHLER, 1967).

Figura 1.7 DSC de uma liga NiTi, mostrando seu comportamento durante o aquecimento e resfriamento. (Adaptado de OTSUKA, 2005).

1.3 Propriedades mecânicas e funcionais de ligas NiTi

Uma vez que a relação tensão-deformação de ligas com memória de forma é dependente da temperatura, o módulo de elasticidade também depende da temperatura. O módulo de

(24)

24

elasticidade é a razão entre a tensão aplicada e a deformação resultante, portanto, o comportamento mecânico de uma liga NiTi é uma função da temperatura (OTSUKA, 2005; BRINSON, 2004; GALL, 2001; WADA, 2005).

Em baixa temperatura, fase martensítica, o comportamento mecânico do material é caracterizado pela grande deformação plástica após a retirada da tensão aplicada, na qual o material pode ser recuperado com o aquecimento da liga (SME). A medida que a fase martensítica é deformada, ocorre o processo conhecido como demaclação. O carregamento mecânico na fase martensítica induz uma reorientação de suas variantes na qual resulta em uma grande deformação plástica, que não é recuperada após o descarregamento mecânico. No final da deformação e depois do descarregamento mecânico, é possível que apenas uma variante martensítica permaneça se no final um patamar de tensão é alcançado, caso contrário, se a deformação é interrompida no meio do caminho, o material irá conter várias variantes diferentes (OTSUKA, 2005; SHAW, 2002).

Durante o descarregamento mecânico, a martensita demaclada se transforma em austenita devido a sua instabilidade na temperatura acima de Af, de modo que, um patamar de

menor tensão, relacionado com a transformação inversa, aparece na curva tensão-deformação-temperatura (Efeito Superelástico, SE), em geral, sem que haja deformação plástica (OLSON, COHEN, 1982), como pode ser observado na Figura 1.8.

A martensita é geralmente uma fase menos simétrica em relação a austenita, por isso existem várias maneiras pelas quais a martensita pode ser formada apartir da austenita. No entanto, existe apenas uma maneira na qual a fase martensita retornará para fase austenita. Com o resfriamento da austenita, uma auto organização das variantes martensíticas são formadas. Durante a aplicação de tensão, há a migração dos contornos de maclas, resultando em uma distribuição fora do equilíbrio das variantes martensíticas. Entretanto é importante ressaltar que não importa qual é a distribuição da martensita, pois existe somente uma estrutura austenítica possível nas quais estas variantes podem retornar. Portanto, as variantes martensíticas devem retornar para o estado sem deformação original, assim retornando ao estado austenítico. Com isso, a acomodação da sua forma é devido ao movimento dos contornos de maclas, devido a baixa simetria da estrutura martensítica e quando a estrutura austenítica mais simétrica é retornada, a deformação por maclação deve também desaparecer (OTSUKA, 2005; DUERING, 1990; SCHERNGELL, 1998).

(25)

25

Figura 1.8 Gráfico Tensão-Deformação-Temperatura para SMA. Md é a temperatura de

transição entre a fase pseudoelástica e a austenítica que, para uma liga NiTi, é normalmente acima da temperatura Af. Adaptado de OLSON, COHEN, 1982.

Com o diagrama de temperaturas de transição de fases, não há uma mudança na forma da amostra resfriada acima de Af até Mf, quando a amostra é deformada abaixo de Mf, este

continua deformado até ser aquecido. A recuperação de sua forma se inicia em Ai e é

completada em Af. Uma vez que a forma tenha sido recuperado em Af, não há alteração na

forma quando a amostra é resfriada abaixo de Mf e a memória de forma pode ser reativada

apenas deformando a martensita novamente (LIU, 2001).

1.4 Efeito memória de forma (SME)

O efeito memória de forma (SME) é a capacidade do material em memorizar uma forma pré determinada, mesmo depois de várias deformações. A mudança de forma com a variação de temperatura são principlamente atribuidos a transformação de fase martensítica. Efeito memória de forma é um fenômeno na qual um material mesmo deformado abaixo de Ai,

(26)

26

recupera sua forma original em virtude da transformação reversa por aquecimento acima de Af. Em particular, ligas de NiTi exibem SME quando suas amostras são deformadas abaixo de

Mf ou em uma temperatura entre Mf e Ai, acima na qual a martensita se torna instável.

Como mostrado esquematicamente na Figura 1.9, uma estrutura ordenada austenítica quando resfriada abaixo de Mf, em função das tensões de atrito cisalhantes, será formado uma

estrutura martensítica maclada. Com a aplicação de uma tensão externa suficiente, irá ocorrer uma reorganização atômica, formando uma estrutura martensítica demaclada que após o aumento da temperatura T > Af retornará a forma de origem, estrura ordenada austenítica.

Figura 1.9 (a) estrutura ordenada austenítica, (b) estrutura martensítica maclada, (c) estrutura martensítica demaclada, (d) estrutura ordenada austenítica. (Adaptado de OLSON, COHEN, 1982).

A transformação reversa induzida por aquecimento recupera a deformação plástica, desde que as variantes martensíticas tenham sido reorientadas por tensão, a reversão para austenita produz uma grande tensão de transformação com a mesma amplitude, porém com sentido oposto a deformação plástica, assim, a SMA retorna sua forma original da fase austenítica (d).

(27)

27

Figura 1.10 Efeito memória de forma mostrado microscópicamente; austenita é resfriada para formar a martensita maclada sem sofrer alteração em sua forma, quando é deformada pela movimentação dos contornos de maclas. A estrutura original austenítica e sua forma retornarão após o aquecimento da SMA. (OLSON, COHEN, 1982).

O fenômeno do efeito memória de forma (SME) pode ser observado basicamente em quatro modos de comportamento. Em particular, o fenômeno descrito acima é chamado de One Way Shape Memory Effect (OWSME).

1.4.1 One Way Shape Memory Effect (OWSME)

Ocorre quando a SMA é colocada a uma temperatura abaixo da transformação final da fase martensita (T < Mf), deformada plasticamente por um processo mecânico de

carregamento/descarregamento e aquecida acima da temperatura final da austenita (T > Af),

para recuperar a estrutura original da austenita na ausência de cargas externas. Se, posteriormente ao OWSME, a SMA for submetida a um outro ciclo térmico em condições livre de tensão, não ocorrerá transição de fase. Assim, para repetir um ciclo OWSME é sempre necessário uma deformação plástica da SMA. A Figura 1.11 representa uma sequência de etapas da ocorrência desse tipo de efeito.

(28)

28

Figura 1.11 Macroscopicamente o mecanismo OWSME; (a) Martensita, (b) Carregamento e deformação na fase martensita (T < Mf), (c) Aquecimento acima da temperatura final da

austenita (T > Af), (d) Resfriamento até a fase martensita (T < Mf). Adaptado de

TAKEZAWA, 1976.

1.4.2 Two Way Shape Memory Effect (TWSME)

No mecanismo OWSME descrito acima, somente a fase austenita é memorizada. Porém, é possível relembrar a forma da fase martensita sob certas condições, e obter um comportamento do tipo TWSME que é caracterizado por uma mudança de forma espontânea da SMA quando ela é aquecida e resfriada alternadamente, na ausência de carregamento mecânico. Este fenômeno demanda um tratamento termomecânico especial da SMA denominado treinamento (training).

Um dos procedimentos mais utilizados para realizar o treinamento está representado na Figura 1.12. A nível microscópico, a razão pela qual o material relembra sua forma é explicada a seguir. Na condição imposta de severa deformação da martensita, discordâncias são introduzidas para estabilizar a fase martensita. Essas discordâncias existem na fase de origem após reversão da fase martensita para austenita no aquecimento (TAKEZAWA, 1976; SCHROEDER, 1977; OSHIMA, 1975; NISHIDA, 1981; MIYAZAKI, 1982).

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29

Figura 1.12 Macroscopicamente o mecanismo TWSME; (a) Estado martensítico, (b) várias deformações irreversíveis, (c) aquecimento, (d) resfriamento. Adaptado de TAKEZAWA, 1976.

Uma vez que o material tenha aprendido este comportamento, após o treinamento, é possível modificar a forma do material de uma maneira reversível e sem tensão ou carga aplicada, apenas variando as temperaturas Af e Mf.

1.4.3 Stress Assisted Two Way Shape Memory Effect (SATWSME)

Neste caso, a SMA é deformada por uma carga mecânica que é mantida durante o processo de aquecimento – resfriamento (Mf > T > Af). Portanto, um deslocamento sob carga

(trabalho externo) pode ser obtido ou, se a SMA é deformada por uma transformação prevista, um esforço mecânico é gerado.

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30

1.4.4 Efeito Superelástico (SE)

Este comportamento pode ser considerado efeito memória de forma (SME) mecânico porque envolve a formação e reversão da fase martensítica por carregamento mecânico. Se a SMA está na temperatura final da austenita (T > Af) e é carregada, haverá a formação de uma

variante martensítica quando a tensão crítica é excedida e sua reversão ocorre quado SMA é descarregada. O termo superelasticidade é usado porque a deformação é não linear e reversível. Deformações da ordem de 10% podem ser facilmente obtidas.

NiTi superelástico são ligas usadas em aplicações na qual demandam excelente flexibilidade e torqueabilidade. O NiTi tem a habilidade de absorver largas quantidades de energia de deformação e devolvê-la quando a deformação é removida. A elasticidade do NiTi é aproximadamente dez vezes maior que do aço, além disso, são capazes de manter a força constante em uma ampla faixa de deformação. Tais características tem sido explorada no ramo da ortodontia, onde forças constantes são aplicadas na correção (movimento) dos dentes com maior conforto para os pacientes. A Figura 1.13 representa tipicamente uma curva tensão-deformação do comportamento superelástico sob condições de carregamento e descarregamento.

Figura 1.13 Curva tensão-deformação: comportamento SE de NiTi SMA, pode ser observado a grande deformação reversa, que pode chegar em alguns casos até 8%. (OTSUKA, 2005).

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31 1.5 Objetivos e justificativas

Neste trabalho, o objetivo foi construir e caracterizar uma mola helicoidal com memória de forma para aplicar em um atuador linear termoativado. Como as transformações de fases presentes na liga NiTi envolvem deformações na mola e indução de carga, associada a forma memorizada, é possível aplicar a mola SMA em algum dispositivo de acionamento por deslocamento. No presente trabalho, esse efeito foi usado para acionar um interruptor elétrico assim que as temperaturas de transformações forem atingidas. O atuador construído pode ser utilizado para acionar um sistema de refrigeração, circuito com alarmes, lâmpadas, etc., na faixa de trabalho das temperaturas de transições de fases presentes na liga.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Nesta seção serão descritos os materiais, equipamentos e procedimentos experimentais realizados para a obtenção e caracterização da mola helicoidal com memória de forma a ser aplicada em um atuador linear termoativado. Primeiramente, o material escolhido foi uma liga comercial de NiTi superelástica utilizada em arcos ortodônticos.

A partir do fio ortodôntico, foi realizado um tratamento termomecânico para a obtenção da mola helicoidal. Após o tratamento, uma pequena amostra foi retirada para análise de DSC (Differencial Scanner Calorimeter). Com a mola helicoidal foi realizado um treinamento (training), tratamento termomecânico para obter TWSME. Finalizada estas etapas, foi construído um atuador linear termoativado com essa mola helicoidal, capaz de acionar um circuitos elétricos para aplicações diversificadas tais como: alarme, luz de advertência, acionar um circuito de refrigeração, etc.

Todos os equipamentos utilizados, bem como a realização dos métodos descritos abaixo, foram realizados no DEMAR-EEL-USP.

2.1 Preparação da mola helicoidal

Para a preparação da mola helicoidal com características SMA foi utilizado um material de fácil aquisição no mercado. A idéia é tentar usar fios comerciais de NiTi superelástico usados em arcos ortodônticos. Optou-se por uma liga comercial de NiTi com diâmetro do fio d = 0,508 mm , comumente usada em arcos ortodônticos. O fio foi pré conformado em um

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mandril cilíndrico e fixado em suas extremidades para evitar o desenrolamento do mesmo, conforme mostra a Figura 2.1. O mandril escolhido apresenta um diâmetro externo próximo ao diâmetro interno da mola.

Figura 2.1 Fixação do fio de NiTi no mandril cilíndrico na forma de uma mola helicoidal de seção retangular.

A mola SMA produzida possui oito espiras, com diâmetro D = 6 mm. Depois de fixada no mandril o material foi submetido a um tratamento térmico adequado para estabilizar a geometria de mola e suas características de memória de forma. O tratamento foi feito em um forno com controlador de temperatura onde o termopar utilizado foi do tipo K. A temperatura foi aumentada gradativamente, a partir da temperatura ambiente, até a temperatura desejada de 500°C mantendo-se nestas condições por 15 minutos. O resfriamento subsequente foi lento realizado no próprio forno desligado. A Figura 2.2 mostra o forno e acessórios utilizados para a realização do tratamento térmico citado.

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33 Figura 2.2 Forno utilizado para o tratamento térmico da mola.

Após este tratamento térmico o fio foi removido com a forma definida como mola, e submetida a um teste de deformação na temperatura ambiente sendo posteriormente aquecida, demostrando sua capacidade de recuperação de memória de forma. Este teste foi um requisito básico para continuidade do trabalho para a sua aplicação prática.

2.2 Análise de DSC (Differencial Scanner Calorimeter)

O objetivo da utilização da análise de DCS é determinar as temperaturas de transição de fases da mola SMA. Para a análise de DSC (Differencial Scanner Calorimeter) foi retirado um pequeno pedaço da extremidade da mola. Nesta técnica mede-se a quantidade de calor absorvida ou liberada por uma amostra ao ser sujeita a um ciclo térmico de aquecimento e de resfriamento que atravesse o intervalo de temperatura de transformação, com isso foi possível avaliar as temperaturas de transformação de fase, ocorridas entre a martensita e a austenita.

O ciclo térmico utilizado para a análise de DSC teve o intervalo observado entre 10°C à 90°C, com taxa de aquecimento e taxa de resfriamento constante de 10°C/min.

2.3 Treinamento da mola

A mola de NiTi foi submetida a um tratamento termomecânico para memorizar, além da fase austenítica, a fase martensítica, este tratamento especial da SMA é denominado treinamento (training). Para este tratamento termomecânico foram realizados ciclos de aquecimento e resfriamento em diferentes estados de compressão para produzir a mola tipo TWSME, e esse tipo de tratamento termomecânico escolhido baseia-se na repetição de ciclos como ilustrado na Figura 2.3.

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34

Mola no estado inicial

Aquecer a mola em T > Af

Deformar e resfriar a mola em T < Mf

Mola no estado martensítico após retirada da tensão

Figura 2.3 Tratamento termomecânico para a produção da mola TWSME.

A partir do estado inicial da mola, o treinamento para a produção da mola TWSME foi iniciada com o aquecimento da SMA, até uma temperatura acima de Af, mantida nesta

temperatura durante 5 minutos. Em seguida a mola SMA foi comprimida e resfriada a uma temperatura abaixo de Mf, também mantida por 5 minutos nesta temperatura. Esta repetição

de aquecimento e resfriamento/carregamento foi realizada em um total de 100 ciclos, assim foi possível medir a taxa de recuperação da mola durantes os ciclos. A Figura 2.4 mostra o dispositivo utilizado na etapa do treinamento da mola helicoidal.

Figura 2.4 Dispositivo usado na etapa de treinamento da mola helicoidal.

2.4 Projeto do atuador linear termoativado

O projeto e construção do atuador linear foi desenvolvido para uma mola SMA, na qual com a variação da temperatura, ser capaz de acionar e desacionar um circuito elétrico devido a alteração de volume da fase martensítica e austenítica. Para a construção do atuador linear Mola helicoidal comprimida

(35)

35 foram utilizadas peças de ligas de alumínio, com exceção do parafuso de ajuste. O interruptor é acionado por uma força mínima de 0,8 N, e o parafuso de ajuste tem a finalidade de aplicar uma pré carga próxima desse valor.

A Figura 2.5 mostra um desenho esquemático com detalhes construtivos do atuador linear e a Figura 2.6, mostra o atuador linear construído e preparado para os testes finais.

Figura 2.5 Desenho esquemático do projeto do atuador linear.

Figura 2.6 Atuador linear utilizado para a mola helicoidal SMA.

2.5 Ensaio para determinação da constante elástica da mola

Os ensaios para determinação da constante elástica da mola foram realizados em duas temperaturas, temperatura ambiente (25°C) e uma temperatura acima de Af (50°C), com o

objetivo de comparar as constantes para a mola na fase martensítica e austenínita. Os testes foram realizados em um recipiente com água, na temperatura ambiente (25°C) para a determinação da constante elástica na fase martensítica e, com o auxílio de uma fonte externa

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36

de calor, até atingir uma temperatura acima de Af (50°C), para a determinação da constante

elástica na fase astenítica. Os ensaios foram realizados na máquina da EMIC modelo DL 3000, sob testes de compressão, com um extensômetro modelo EE050 do mesmo equipamento para medições de pequenas deformações. Para os testes de compressão, foi utilizado uma célula de carga de 20N e os ensaios foram realizados a uma velocidade de 4 mm/min. Para as medidas da temperatura, foi utilizado um termômetro digital da ALLA FRANCE com a faixa de medição entre -50°C a 200°C.

Todos os ensaios foram realizados em triplicata, sendo calculado uma média para as constantes em ambas temperaturas. Na Figura 2.7 é possível observar como os componentes do sistema de medidas estão montados na máquina EMIC para a realização dos ensaios.

Figura 2.7 Dispositivo de ensaios mecânicos instalado na máquina da EMIC para determinação da constante da mola.

(37)

37 2.6 Ensaio para determinação das temperaturas de transição de fase da mola SMA

através da histerese

O objetivo deste ensaio é confirmar e determinar as temperaturas de transição de fase da mola SMA através da histerese do gráfico Força x Temperatura. O ensaio consiste em manter uma extremidade da mola fixa e observar a força exercida na outra extremidade com a variação da temperatura. Os ensaios foram realizados na máquina da EMIC modelo DL 3000, onde mediu-se apenas a força exercida em uma das extremidades. Para as medidas da temperatura, foi utilizado o termômetro digital da ALLA FRANCE citado anteriormente.

O ensaio consistiu em realizar um ciclo térmico, variando a temperatura entre 28°C à 53°C e observando a força exercida na extremidade da mola. Com a histerese é possível observar uma grande variação de força em curtos intervalos de temperaturas, nas quais determinamos as temperaturas de transição de fase da mola SMA.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nesta seção, são apresentados os resultados obtidos na análise de DSC, no treinamento da mola, medidas da constante elástica e o módulo de cisalhamento para a mola SMA e a determinação das temperaturas de transição de fase através da histerese força x temperatura. Todos os dados são correlacionados, assim como são feitas todas as discussões pertinentes.

3.1 Resultados da análise de DSC

O objetivo da utilização da análise de DSC consistiu em se determinar as temperaturas de transição de fase da martensita e austenita. Esta técnica foi escolhida devido a sua simplicidade e rapidez.

A amostra foi submetida a um ciclo térmico de aquecimento e resfriamento variando a temperatura entre 10°C à 90°C, com taxas constantes durante o ciclo de 10°C/min. Com isso foi possível avaliar as temperaturas de transformação de fase, ocorridas entre a martensita e a austenita. Os resultados obtidos neste ensaio são mostrados na Figura 3.1 e suas temperaturas foram assim definidas: Mi = 38,42°C ; Mf = 28,2°C ; Ai = 33,61°C e Af = 43,7°C.

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Figura 3.1 Análise de DSC para a liga NiTi.

3.2 Resultados do treinamento da mola

O objetivo do treinamento é fazer com que a mola memorize, além da fase austenita a fase martensita, com um tratamento termomecânico obtendo assim uma mola TWSME. Após 100 ciclos térmicos pode-se calcular a recuperação elástica média final do material η, na qual pode ser definido como η = [ (La – Lm) / Lm ] x 100% , onde La e Lm representam o

comprimento da mola na fase austenita e martensita, respectivamente.

A Figura 3.2 mostra o comportamento elástico da mola durante 100 ciclos térmicos do treinamento, podendo ser calculado uma média para a recuperação elástica de η = 53,06%, após 50 ciclos térmicos.

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Figura 3.2 Comportamento elástico da mola durante 100 ciclos térmicos do treinamento.

Com o tratamento termomecânico de treinamento, após 100 ciclos realizados, foi possível obter TWSME e uma recuperação elástica de 53,06% para a mola.

3.3 Resultados do ensaio para determinação da constante elástica da mola

Os resultados da constante elástica da mola são critérios de seleção de materias para a escolha da aplicação do material, por isso a necessidade de se obter as constantes elásticas da mola na fase martensítica e na fase austenítica.

Estando a mola em seu estado relaxado e fixa em uma extremidade, ao se aplicar uma força (F) à sua extremidade livre se observará uma deformação na mola. Hooke, ao observar este fato estabeleceu uma lei relacionando força elástica (Fel), reação da força aplicada e a

deformação da mola (Δl), conhecida como Lei de Hooke. Matematicamente temos Fel = k. Δl ,

onde k é a constante elástica da mola na qual traduz a rigidez da mola, ou seja, representa uma medida de resistência. Quanto maior for a constante elástica da mola, maior será a sua resistência.

Para os ensaios realizados, foi utilizado um extensômetro eletrônico para medição de pequenas deformações no corpo de prova. Para os cálculos da constante elástica da mola, devemos considerar o extensômetro como uma mola, na qual possui uma constante elástica kext = 0,118 N/mm. Tais testes houve a necessidade de uma pré carga no sistema de

intensidade 0,1N, nas quais devem ser consideradas para o cálculo final da constante elástica da mola. Assim os dados obtidos experimentalmente da força resultante podem ser expressa

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40

por: FR = Fmola + Fext + 0,1 , nas quais podemos determinar a constante elástica para a mola

através da Lei de Hooke. Os ensaios foram realizados em triplicata e uma média da constante elástica para temperatura ambiente (25°C) e para uma temperatura acima de Af (50°C) foram

obtidas. A Figura 3.3 ilustra a melhor representação gráfica destas curvas para as temperaturas de 25°C e 50°C e suas constantes elásticas médias assim calculadas: k25°C = 0,395 N/mm e

k50°C = 0,611 N/mm. 0 1 2 3 4 5 6 7 8 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 K50°C = 0,611 N/mm K25°C = 0,395 N/mm SMA 50°C SMA 25°C F o rç a ( N ) Deslocamento (mm)

Figura 3.3 Comportamento da mola em compressão.

3.3.1 Determinação do módulo de cisalhamento da mola

As formulações referentes à teoria de molas helicoidais foram usadas para determinar o módulo de cisalhamento da mola. As seguintes equações foram usadas:

3 8 d D P K        2 D n d K         C C C K 0,615 ) 4 4 ( ) 1 4 (     

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41 d D C     G

Onde  é a tensão de cisalhamento,  é a deformação de cisalhamento, K é o fator de correção de tensão e G é o módulo de cisalhamento. Assim, para a mola helicoidal construída com D = 6 mm , n = 8 espiras e d = 0,508 mm, foi calculado o valor do módulo de cisalhamento da mola na fase austenita cujo valor foi aproximadamente GA = 23 GPa. Este

valor está de acordo com aquele encontrado por Otsuka e Wayman (1998) (OTSUKA, WAYMAN, 1998) que foi GA = 23 GPa.

3.4 Resultados do ensaio para determinação das temperaturas de transição de fase da mola SMA através da histerese

O objetivo deste ensaio é a determinação e comparação das temperaturas de transição de fase da mola SMA com a análise realizada pelo DSC. A Figura 3.4 mostra claramente a presença da histerese no ciclo de aquecimento/resfriamento, a qual foi possível obter as temperaturas de transição de fase. Tais temperaturas foram assim obtidas: Mi = 40°C; Mf =

32°C; Ai = 32°C e Af = 44°C. 25 30 35 40 45 50 55 -0,1 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 Resfriamento Aquecimento For ça (N) Temperatura (°C)

Figura 3.4 Histerese da curva força x temperatura para determinação das temperaturas de transição de fases da mola SMA.

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42

A Tabela 1.1 compara as temperaturas de transição de fases obtidas pelos métodos DSC e pela histerese. Ambos procedimentos se mostraram satisfatórios em relação sua praticidade e tempo de execução.

Tabela 1.1 Temperaturas de transição de fases para a mola SMA em função dos métodos aplicados. Método

DSC Mi = 38,42°C Mf = 28,2°C Ai = 33,61°C Af = 43,7°C

Histerese Mi = 40°C Mf = 32°C Ai = 32°C Af = 44°C

Temperaturas de transição de fases

3.5 Resultados do atuador linear termoativado

Com os resultados obtidos do treinamento da mola TWSMA e de suas constantes elásticas, foi possível construir um atuador capaz funcionar no intervalo de temperatura que envolve as transformações de fases martensíticas em austenítas e vice-versa, capaz de ligar e/ 0ou desligar um circuito elétrico com o atuador termoativado desenvolvido nesse trabalho.

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43

4 CONCLUSÕES

A partir de um estudo teórico, realizado em ligas NiTi com memória de forma, foi possível realizar o projeto e a construção de um atuador linear termoativado que aciona um interruptor elétrico capaz de ser usado num circuito elétrico que pode ser usado em diversas aplicações no intervalo de temperatura de transformação de fase avaliadas.

Os resultados apresentados neste trabalho foram válidos e atingiram os objetivos esperados. A mola SMA construída foi do tipo TWSME e montada no atuador foi capaz de acionar o interruptor quando T > Af e desacionar este mesmo dispositivo quando T < Mf. O

parafuso de ajuste permite uma pequena variação nas temperaturas de atuação devido a variação da pré-carga.

As temperaturas de transição de fase obtidas neste relatório, tanto por DSC quanto pela histerese, decorrentes dos tratamentos térmicos e termomecânicos realizados, foram encontrados em uma faixa de temperatura satisfatória, o que levou o sucesso da aplicação do atuador liear termoativado em acionar e desacionar o interruptor elétrico.

As constantes da mola nas fases martensítica e austenítica foram suficientes para exercer a força necessária de acionamento do atuador.

O módulo de cisalhamento encontrado para a fase austenítica está dentro do esperado e de acordo com outras pesquisas realizadas por outros autores para molas SMA cujo valor foi GA= 23 GPa.

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