Definição de obras e serviços de engenharia
para fins de escolha da modalidade licitatória.
A Lei de Licitações e Contratos, Lei nº
8.666, de 21 de junho de 1993, definiu,
expressamente, no artigo 6º, I e II
1o que se
entende por obras e serviços de engenharia.
No entanto, muitas são as dificuldades do
intérprete e aplicador da Lei, em fazer o
enquadramento do objeto na conceituação de
obra ou serviço de engenharia para definição da
modalidade de licitação ou mesmo para a
contratação direta.
Como aponta MARÇAL JUSTEN FILHO
2,
a “distinção legal entre obra e serviço, é
insuficiente
e
defeituosa.
Não
existe
propriamente definição de obra e serviço, mas
uma exemplificação daquilo que se enquadra
nas referidas categorias”.
Em
razão
dessa
dificuldade
de
interpretação no momento da aplicação da lei
tanto para efeitos de definir a modalidade de
licitação a ser aplicada, na forma do artigo 23, I,
quanto para determinar a possibilidade de
dispensa nos termos do art. 24, I, da Lei nº
8.666, de 1993, o IBRAOP – Instituto Brasileiro
de Auditoria de Obras Públicas, editou a
Orientação Técnica OT - IBR 002/2009
3, visando
uniformizar o entendimento da legislação e
práticas pertinentes à Auditoria de Obras
Públicas, tendo definido por:
Obra de engenharia: a ação de construir, reformar, fabricar, recuperar ou ampliar um bem, na qual seja necessária
1 Art. 6o Para os fins desta Lei, considera-se:
I - Obra - toda construção, reforma, fabricação, recuperação ou ampliação, realizada por execução direta ou indireta; II - Serviço - toda atividade destinada a obter determinada utilidade de interesse para a Administração, tais como: demolição, conserto, instalação, montagem, operação, conservação, reparação, adaptação, manutenção, transporte, locação de bens, publicidade, seguro ou trabalhos técnico-profissionais;
2
JUSTEN, Marçal Filho. Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos.. São Paulo : Dialética. 2008. 12ª ed., p. 118.
3
Disponível em:
http://www.ibraop.org.br/site/media/OT_IBR_002-2009_v_consulta.pdf, acesso em 16/08/2010.
a utilização de conhecimentos técnicos específicos envolvendo a participação de profissionais habilitados conforme o disposto na Lei Federal n
º
5.194/66.Para efeito desta Orientação Técnica,
conceitua-se:
Ampliar: produzir aumento na área construída de uma edificação ou de quaisquer dimensões de uma obra que já exista.
Construir: consiste no ato de executar ou edificar uma obra nova.
Fabricar: produzir ou transformar bens de consumo ou de produção através de processos industriais ou de manufatura. Recuperar: tem o sentido de restaurar, de fazer com que a obra retome suas características anteriores abrangendo um conjunto de serviços.
Reformar: consiste em alterar as características de partes de uma obra ou de seu todo, desde que mantendo as características de volume ou área sem acréscimos e a função de sua utilização atual.
Serviço de Engenharia: toda a atividade que necessite da participação e acompanhamento de profissional habilitado conforme o disposto na Lei Federal nº 5.194/66, tais como: consertar, instalar, montar, operar, conservar, reparar, adaptar, manter, transportar, ou ainda, demolir. Incluem-se nesta definição as atividades profissionais referentes aos serviços técnicos profissionais especializados de projetos e planejamentos, estudos técnicos, pareceres, perícias, avaliações, assessorias, consultorias, auditorias, fiscalização, supervisão ou gerenciamento.
Para efeito desta Orientação Técnica, conceitua-se:
Adaptar: transformar instalação, equipamento ou dispositivo para uso diferente daquele originalmente proposto. Quando se tratar de alterar visando adaptar obras, este conceito será designado de reforma.
Consertar: colocar em bom estado de uso ou funcionamento o objeto danificado.
Conservar: conjunto de operações visando preservar ou manter em bom estado, fazer durar, guardar adequadamente, permanecer ou continuar nas condições de conforto e segurança previsto no projeto.
Demolir: ato de por abaixo, desmanchar, destruir ou desfazer obra ou suas partes. Instalar: atividade de colocar ou dispor convenientemente peças, equipamentos, acessórios ou sistemas, em determinada obra ou serviço.
Manter: preservar aparelhos, máquinas, equipamentos e obras em bom estado de operação, assegurando sua plena funcionalidade.
Montar: arranjar ou dispor ordenadamente peças ou mecanismos, de modo a compor um todo a funcionar. Se a montagem for do todo, deve ser considerada fabricação.
Operar: fazer funcionar obras, equipamentos ou mecanismos para produzir certos efeitos ou produtos. Reparar: fazer que a peça, ou parte dela, retome suas características anteriores. Nas edificações define-se como um serviço em partes da mesma, diferenciando-se de recuperar.
Transportar: conduzir de um ponto a outro cargas cujas condições de manuseio ou segurança obriguem a adoção de técnicas ou conhecimentos de engenharia.
Quanto à definição do termo "obra",
pode-se dizer que a sua definição pela Lei de
Licitações não apresenta tanta dificuldade de
interpretação, mesmo não tendo conceituado o
exato significado do termo, a lei fornece um rol
extenso de exemplos de obras.
A problemática maior reside na definição
da
expressão
“serviço”
para
fins
de
enquadramento como “serviço de engenharia”.
A respeito da definição de “serviço de
engenharia”, leciona Marçal
4:
O serviço de engenharia consiste numa atuação voluntária do ser humano, consistente num fazer tendo por objeto edificações realizadas sobre imóveis, presente ou futuras, mas que não se traduz numa modificação significativa, autônoma e permanente no ambiente natural. Em termos gerais, pode-se afirmar que o serviço de engenharia tem natureza instrumental, complementar e acessória relativamente a uma obra ou a um bem imóvel.
Cabe referir que qualquer obra ou serviço
de engenharia envolve o exercício de profissão
regulamentada que só pode ser realizada por
profissional habilitado inscrito perante o CREA.
Em sendo a profissão de engenheiro
regulamentada pela Lei nº 5.194, de 24 de
dezembro de 1966,
nessa esteira, o CONFEA
(Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e
Agronomia, editou a Resolução CONFEA nº 218
5que elenca quais são os serviços de engenharia
a serem desenvolvidos por engenheiro, de modo
que vem sendo, sistematicamente, adotada no
serviço público como forma de se determinar o
enquadramento legal para licitar ou dispensar a
licitação nos termos da Lei de Licitações e
Contratos.
Nesse sentido, ensina Jorge Ulisses
Jacoby Fernandes
6:
Por vezes, o órgão busca enquadrar o serviço como de engenharia porque, em vista do maior limite de valor, terá mais flexibilidade nas contratações.
É bom lembrar que a Resolução n
º
218 do CONFEA é muito abrangente, permitindo amplamente as contratações. Por esse motivo, no desempenho de nossas funções institucionais temos entendido que os serviços de engenharia, objeto da aplicação do4 Obra citada, p. 121.
5 Disponível em: http://www.confea.org.br/normativos/. Acesso em 17 de agosto de 2010.
6
inciso I do art. 24 da Lei n
º
8.666/93 são todos aqueles que a lei exige sejam assinados por engenheiro, dentre aqueles declarados privativos da profissão pela legislação regulamentadora respectiva; além do que, sua execução deve estar voltada para bens imóveis, i.e., a execução e/ou instalação incorporáveis ou inerentes ao imóvel; e os outros serviços, objeto da aplicação do inciso II do art. 24 da Lei 8.666/93, são todos os serviços discriminados no próprio texto do dispositivo inquinado, com sua execução voltada precipuamente para os bens móveis, ainda que já instalados e incorporados a um bem imóvel, além de outros que, embora não descritos expressamente, possam suscitar alguma dúvida sobre seu efetivo enquadramento.Tecidas tais considerações, cumpre
agora, abordar a questão sob a ótica da
legislação previdenciária.
Isso é relevante pela obrigatoriedade, em
alguns casos, da abertura da matrícula CEI –
Cadastro Específico do INSS – perante a
Previdência Social e tem por finalidade a
administração dos recolhimentos do INSS
específicos por obra e a definição do
responsável pela matrícula e pelas contribuições
previdenciárias.
Nesse sentido dispõe o artigo 17 da
Instrução Normativa nº 971, de 2009:
Art. 17. Considera-se:
II - matrícula, a identificação dos sujeitos passivos perante a Previdência Social, podendo ser o número do:
b) Cadastro Específico do INSS (CEI) para equiparados à empresa desobrigados da inscrição no CNPJ, obra de construção civil, produtor rural contribuinte individual, segurado especial, consórcio de produtores rurais, titular de cartório, adquirente de produção rural e empregador doméstico, nos termos do art. 19;
Determina o artigo 19, inciso II, da IN nº
971:
Art. 19. A inscrição ou a matrícula serão efetuadas, conforme o caso:
(...)
II - no CEI, no prazo de 30 (trinta) dias contados do início de suas atividades, para o equiparado à empresa, quando for o caso, e obra de construção civil, sendo responsável pela matrícula: b) o proprietário do imóvel, o dono da obra ou o incorporador de construção civil, pessoa física ou pessoa jurídica;
Todavia, da mesma forma que a IN impõe
a obrigatoriedade da matrícula no CEI para as
“obras de construção civil”, o artigo 25 dispensa
o cadastro nas seguintes situações:
Art. 25. Estão dispensados de matrícula no CEI:
I - os serviços de construção civil, tais como os destacados no Anexo VII com a expressão "(SERVIÇO)" ou "(SERVIÇOS)", independentemente da forma de contratação;
II - a construção sem mão-de-obra remunerada, de acordo com o disposto no inciso I do art. 370;
III - a reforma de pequeno valor, assim conceituada no inciso V do art. 322. § 1
º
O responsável por obra deconstrução civil fica dispensado de efetuar a matrícula no CEI, caso tenha recebido comunicação da RFB informando o cadastramento automático de sua obra de construção civil, a partir das informações enviadas pelo órgão competente do Município de sua jurisdição.
§ 2
º
Os dados referentes ao responsávelou à obra matriculada na forma do § 1º, poderão ser alterados ou atualizados, se for o caso, pelo responsável, na ARF ou no CAC da jurisdição do endereço da obra, se a obra for de pessoa física, ou do estabelecimento matriz, se a obra for de pessoa jurídica.
O anexo VII a que se refere o inciso I, do
artigo 25, da IN, traz a discriminação de obras e
serviços de construção civil.
Ato contínuo, o diploma administrativo
tratou de conceituar "obra" e "serviço",
consoante consta de seu artigo 322, incisos I e II
que dispõe:
Art. 322. Considera-se:
I - obra de construção civil, a construção, a demolição, a reforma, a ampliação de edificação ou qualquer outra benfeitoria agregada ao solo ou ao subsolo, conforme discriminação no Anexo VII; (...)
X - serviço de construção civil, aquele prestado no ramo da construção civil, tais como os discriminados no Anexo VII;
No que diz respeito à responsabilidade
pela matrícula no CEI, preconiza o artigo 26 da
IN:
Art. 26. No ato do cadastramento da obra, no campo "nome" do cadastro, será inserida a denominação social ou o nome do proprietário do imóvel, do dono da obra ou do incorporador, devendo ser observado que:
I - na contratação de empreitada total a matrícula será de responsabilidade da contratada e no campo "nome" do cadastro, constará a denominação social da empresa construtora contratada, seguida da denominação social ou do nome do contratante proprietário do imóvel, dono da obra ou incorporador;
II - na contratação de empreitada parcial a matrícula será de responsabilidade da contratante e no campo "nome" do cadastro, constará a denominação social ou o nome do proprietário do imóvel, do dono da obra ou do incorporador;
III - nos contratos em que a empresa contratada não seja construtora, assim definida no inciso XIX do art. 322, ainda que execute toda a obra, a matrícula será de responsabilidade da contratante e, no campo "nome" do cadastro, constará a denominação social ou o nome do proprietário do imóvel, dono da obra ou incorporador;
IV - para a edificação de construção em condomínio, na forma da Lei n
º
4.591, de1964, no campo "nome" do cadastro constará a denominação social ou o nome de um dos condôminos, seguido da expressão "e outros" e a denominação atribuída ao condomínio; V - para a obra objeto de incorporação imobiliária, na forma da Lei n
º
4.591, de1964, no campo "nome" do cadastro, constará a denominação social ou o nome do incorporador, seguido da denominação atribuída ao condomínio; VI - para a construção em nome coletivo, no campo "nome" do cadastro, deverá constar a denominação social ou o nome de um dos proprietários ou dos donos da obra, seguido da expressão "e outros". § 1
º
No ato da matrícula todos oscoproprietários da obra deverão ser cadastrados.
§ 2
º
O campo "logradouro" do cadastrodeverá ser preenchido com o endereço da obra.
Não obstante as diversas definições de
obras e serviços de engenharia trazidas à tona,
até o momento, cumpre esclarecer que não se
exaure o assunto em tais conceitos.
Assim
pode-se
citar
a
Instrução
Normativa nº 23, de 2004, emitida pelo Tribunal
de Contas do Estado do Rio Grande do Sul, que
considera para fins de enquadramento como
obra ou serviço de engenharia o disposto no
artigo 6º , que dispõe:
I - Obra de engenharia: toda construção, reforma, fabricação, recuperação ou ampliação, realizada por regime de execução direta ou indireta;
II - Serviço de engenharia: os trabalhos profissionais, inclusive interdisciplinares, que fundamentam e assistem um empreendimento de engenharia e arquitetura ou deles decorrem, neles compreendidos, entre outros, o planejamento, estudo, projetos, assistência técnica, bem como vistorias, perícias, avaliações, inspeções, pareceres técnicos, controles de
execução, fiscalização e supervisão, técnica e administrativa.
Já sobre o aspecto contábil, a Portaria
Interministerial STN/SOF nº 163, de 2001 e
alterações, considera:
51 - Obras e Instalações
Despesas com estudos e projetos; início, prosseguimento e conclusão de obras; pagamento de pessoal temporário não pertencente ao quadro da entidade e necessário à realização das mesmas; pagamento de obras contratadas; instalações que sejam incorporáveis ou inerentes ao imóvel, tais como: elevadores, aparelhagem para ar condicionado central, etc.
E também o “Manual de Contabilidade
aplicada ao setor público – Volume I”, elaborado
pela Secretaria do Tesouro Nacional, de
aplicação obrigatória pelos Municípios, a partir
de 2010, também traz a conceituação de obras e
instalações no item 4.8.3, que dispõe:
4.8.3 OBRAS E INSTALAÇÕES X SERVIÇOS DE TERCEIROS
Serão considerados serviços de terceiros as despesas com:
Reparos, consertos, revisões, pinturas, reformas e adaptações de bens imóveis sem que ocorra a ampliação do imóvel; Reparos em instalações elétricas e hidráulicas;
Reparos, recuperações e adaptações de biombos, carpetes, divisórias e lambris; e Manutenção de elevadores, limpeza de fossa e afins.
Quando a despesa ocasionar a ampliação do imóvel, tal despesa deverá ser considerada como obras e instalações, portanto, despesas com investimento.