• Nenhum resultado encontrado

Competências para a prática dos serviços farmacêuticos prestados na atenção primária nos municípios de Itaperuna e Campos dos Goytacazes do estado do Rio de Janeiro

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Competências para a prática dos serviços farmacêuticos prestados na atenção primária nos municípios de Itaperuna e Campos dos Goytacazes do estado do Rio de Janeiro"

Copied!
117
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

FACULDADE DE FARMÁCIA

PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO E GESTÃO DA ASSISTÊNCIA

FARMACÊUTICA

SABRINA PEREIRA CHIARELLO

COMPETÊNCIAS PARA A PRÁTICA DOS SERVIÇOS FARMACÊUTICOS

PRESTADOS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA NOS MUNICÍPIOS DE

ITAPERUNA E CAMPOS DOS GOYTACAZES DO ESTADO DO RIO DE

JANEIRO

NITERÓI 2015

(2)

SABRINA PEREIRA CHIARELLO

COMPETÊNCIAS PARA A PRÁTICA DOS SERVIÇOS FARMACÊUTICOS

PRESTADOS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA NOS MUNICÍPIOS DE

ITAPERUNA E CAMPOS DOS GOYTACAZES DO ESTADO DO RIO DE

JANEIRO

Dissertação apresentada ao curso de Pós-Graduação em Administração e Gestão da Assistência Farmacêutica da Faculdade de Farmácia, da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Administração e Gestão da Assistência Farmacêutica. Área de Concentração: Gestão da Assistência Farmacêutica.

Orientador: Prof. Dr. Benedito Carlos Cordeiro Co-orientadora: Prof.ª Drª Monique Araújo de Brito

NITERÓI 2015

(3)

SABRINA PEREIRA CHIARELLO

COMPETÊNCIAS PARA A PRÁTICA DOS SERVIÇOS FARMACÊUTICOS

PRESTADOS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA NOS MUNICÍPIOS DE

ITAPERUNA E CAMPOS DOS GOYTACAZES DO ESTADO DO RIO DE

JANEIRO

Dissertação apresentada ao curso de Pós-Graduação em Administração e Gestão da Assistência Farmacêutica da Faculdade de Farmácia, da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Administração e Gestão da Assistência Farmacêutica. Área de Concentração: Gestão da Assistência Farmacêutica.

Aprovada em de 2015.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________

Prof. Dr. Benedito Carlos Cordeiro Orientador

Prof.ª Drª Monique Araújo de Brito

___________________________________________________________________ Prof. Drª Vera Lúcia Luzia

NITERÓI 2015

(4)

Dedico esta dissertação de Mestrado à minha família, minha fortaleza de todos os dias. A todos os usuários de Sistema Único de Saúde (SUS), merecedores de todo o meu trabalho.

(5)

Agradecimento

Agradeço primeiramente a Deus pela realização desta grande conquista, permitindo-me chegar ao fim da jornada do curso de Mestrado

Ao meu querido pai pelo apoio, sempre torcendo por mim

À minha mãe pelo apoio incondicional, sempre me impulsionando com palavras de carinho e ânimo quando me sentia desanimada, muito obrigada pela força. Muito obrigada por fazer do

meu sonho o seu também

À minha querida irmã pelo apoio incondicional, sempre me ajudando quando eu mais precisava com toda a atenção e paciência. Muito obrigada pela força sem a qual não sei se

conseguiria concluir o curso

Aos amigos da turma de Mestrado, pelo apoio e por fazer esta trajetória mais leve Aos orientadores Benedito e Monique por sempre acreditar em mim e fazer possível a

conclusão do Mestrado

À Vera Lúcia Luzia pela ajuda dada neste percurso do curso de Mestrado, por me conceder a oportunidade de participar do projeto de pesquisa, enriquecendo a minha vida profissional

Aos participantes da pesquisa, meu imenso agradecimento

À Aline e Mônica, que me concederam a liberação do trabalho nos dias de aula, para que assim eu pudesse fazer o curso

Aos meus primos Marcos e Eliana pelo apoio dado na cidade de Niterói Aos meus amigos pela força nos momentos de desânimo

(6)

“Nunca deixe que lhe digam que não vale a pena acreditar no sonho que se tem ou que seus planos nunca vão dar certo...quem acredita sempre alcança” (Renato Russo).

(7)

Resumo

Introdução: O Sistema Único de Saúde desde a sua criação tem avançado de forma significativa. Dentro desse processo ressalta-se a importância da Atenção Primária à Saúde, que é considerada a principal porta de entrada do sistema de saúde no Brasil. Independente do nível de atenção, a maioria das ações em saúde resulta em intervenção medicamentosa. O medicamento é considerado um insumo importante na prestação dos serviços de saúde. Diante da necessidade de disponibilizar medicamentos e da utilização destes de forma racional, é fundamental a organização dos serviços farmacêuticos, bem como a capacitação dos recursos humanos. O trabalho aborda as competências para a prática dos serviços farmacêuticos na Atenção Primária. Objetivos: Analisar as competências para o desempenho dos serviços farmacêuticos ao nível de Atenção Primária, identificando o perfil dos profissionais e realizando uma avaliação dos seus conhecimentos. Metodologia: Estudo descritivo e transversal, baseado em entrevistas com profissionais que realizam dispensação de medicamentos na Atenção Primária. O estudo foi realizado nos municípios de Campos dos Goytacazes e Itaperuna do estado do Rio de Janeiro. Foi empregado um questionário do tipo estruturado com perguntas fechadas. No questionário aplicado foram solicitadas informações sobre os dados pessoais do entrevistado, como formação profissional, vínculo empregatício, carga horária, informações sobre as unidades de trabalho, faixa salarial, gênero e grau de satisfação em relação aos funcionários da farmácia e da unidade de saúde. Na segunda parte foram solicitadas para cada atividade citada o grau de importância na opinião do entrevistado, a frequência de realização das atividades e o grau de conhecimento. Resultados: Foram entrevistados 19 profissionais que fazem a dispensação de medicamentos na atenção primária. Dentre os entrevistados 12 eram farmacêuticos. Treze entrevistados possuíam mais de um vínculo empregatício. Sobre a renda mensal, 4 tinham faixa salarial de até 3 salários. Onze fizeram estágio em atenção primária. Dez entrevistados fizeram curso de atualização. Sobre as farmácias das unidades de saúde, Campos tem 8 farmácias com sistema informatizado. A média de funcionários nas farmácias foi de 2. Seis entrevistados trabalham 40 horas por semana. Doze relataram que a infra-estrutura da unidade de saúde é o seu maior desafio no trabalho. Sobre a análise das competências dos serviços farmacêuticos, o escore para a opinião do grau de importância para as atividades citadas foi alto. O escore de frequência de realização das atividades foi baixo, o farmacêutico foi o profissional que mais praticou as atividades citadas no questionário. O grau de conhecimento foi elevado entre os farmacêuticos. Conclusão: O resultado sugere a discrepância entre a opinião do grau de importância e a frequência da realização das atividades (indicadores de competência) referentes aos serviços farmacêuticos. A maioria dos participantes do estudo relatou que consideram as atividades referentes aos serviços farmacêuticos citadas no questionário importantes, porém na prática algumas atividades não são praticadas. O farmacêutico foi o profissional que obteve maiores escores para a frequência de realizações de atividades e do grau de conhecimento em relação aos demais profissionais, demonstrando assim a importância da sua participação no contexto da atenção primária.

(8)

Abstract

Introduction: The Health System since its inception has advanced significantly. Within this process highlights the importance of primary health care, which is considered the main health system gateway in Brazil. Regardless of the level of attention, most health actions results in drug intervention. The drug is considered an important input in the provision of health services. According to the need to provide medicines and the use of these rationally, the services organization is important, as well as the training of human resources. It considers the competence for the practice of pharmaceutical services in primary care. Objectives: To analyze the competences for the performance of pharmaceutical services at the level of primary care, identifying the profile of professionals and conducting a self-assessment of their knowledge. Methodology: Descriptive, cross-sectional study, based on interviews with professionals involved in dispensing drugs in primary care. The study was conducted in Campos dos Goytacazes and Itaperuna cities of the state of Rio de Janeiro. It was used a semi-structured questionnaire type with open and closed questions. In the questionnaire were asked about the respondent's personal data, such as vocational training, employment, working hours, information on units of work, salary range, gender and degree of satisfaction with pharmacy staff and health unit. In the second part were required for each activity mentioned how important the opinion of the respondent is, the frequency of the activities and the degree of knowledge. Results: We interviewed 19 professionals who are drugs dispensers in primary care. Among the respondents were 12 pharmacists. Thirteen respondents had more than one job. About the monthly income, 4 had salary range of up to 3. Eleven had training in primary care. Ten respondents did refresher course. About pharmacies of health facilities, Campos has 8 pharmacies with computerized system. The average number of employees in pharmacies was 2. Six respondents work 40 hours a week. Twelve reported that the health facility infrastructure is your biggest challenge at work. On the analysis of the competences of pharmaceutical services, the score for the opinion of the degree of importance for the mentioned activities was high. The frequency score of carrying out activities was low, the pharmacist was the professional who carried out most of the activities mentioned in the questionnaire. The degree of knowledge was high among pharmacists. Conclusion: The results suggest the discrepancy between the opinion of the degree of importance and frequency of performing activities (competence indicators) relating to pharmaceutical services. Most of the study participants reported that think the importance of the activities related to pharmaceutical services mentioned in the questionnaire, but in practice some activities are not practiced. The pharmacist was the professional who obtained higher scores for the frequency of activities and achievements of the degree of knowledge in relation to other professionals, thus demonstrating the importance of their participation in the context of primary care.

(9)

Sumário 1. INTRODUÇÃO ... 13 2. OBJETIVO ... 16 2.1. Objetivo Geral ... 16 2.2. Objetivos Específicos ... 16 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ... 17

3.1. Sistema Único de Saúde e Atenção Primária ... 17

3.2. Atenção Primária Saúde e Estratégia Saúde Família ... 17

3.3. Atributos da Atenção Primária à Saúde ... 18

3.4. Assistência Farmacêutica na Atenção Básica ... 21

3.5. Serviços Farmacêuticos e suas funções ... 23

3.6. Competência ... 25

3.6.1. CONTEXTO DA COMPETÊNCIA ... Erro! Indicador não definido. 3.6.2. CONCEITO DE COMPETÊNCIA ... 28

3.6.3. NÍVEIS DE COMPETÊNCIA ... 31

3.6.4. GESTÃO POR COMPETÊNCIAS ... 34

3.7. Formação por Competências ... 36

3.8. Competências e formação do farmacêutico ... 38

3.8.1. PAPEL DOS CURSOS DE FARMÁCIA NA FORMAÇÃO DE COMPETÊNCIAS DOS PROFISSIONAIS ... 38

3.8.2. COMPETÊNCIAS NECESSÁRIAS AO SERVIÇO FARMACÊUTICO ... 38

3.8.2.1 Conhecimentos requeridos ao farmacêutico ... 39

3.8.2.2. Habilidades requeridas ao farmacêutico ... 39

3.8.2.3. Atitudes requeridas ao farmacêutico ... 40

3.8.3. FARMACÊUTICO “SETE ESTRELAS” ... 41

3.9. Educação Permanente em Saúde ... 42

4. Metodologia...45 4.1 Desenho do estudo ... 45 4.2 Local do estudo ... 45 4.3 Amostra ... 46 4.4 Desenvolvimento do estudo ... 46 4.4.1 Oficina ... 47 4.4.2 Teste piloto ... 47

(10)

4.4.3 Treinamento dos colaboradores do projeto ... 47

4.5 Coleta dos dados ... 48

4.6 Análise dos dados ... 48

4.7. Considerações éticas ... 49

5. RESULTADOS ... 50

5.1. Contato com os municípios ... 50

5.1.1. ITAPERUNA ... 50

5.1.2. CAMPOS DOS GOYTACAZES ... 51

5.2. Perfil dos entrevistados que realizam a dispensação de medicamentos ao nível de Atenção Primária nos municípios de Campos dos Goytacazes e de Itaperuna... 52

5.3. Análise das competências necessárias aos serviços farmacêuticos de acordo com o grau de importância, frequência da realização das atividades e auto avaliação dos conhecimentos pelos entrevistados ... 63

5.3.1. Funções vinculadas à pesquisa e gestão do conhecimento ... 63

5.3.2. Funções vinculadas ao desempenho profissional ... 64

5.3.3. Funções vinculadas às políticas públicas ... 65

5.3.4. Funções vinculadas à organização e gestão dos serviços farmacêuticos ... 67

5.3.5. Funções vinculadas aos indivíduos, família e comunidade... 69

6. CONCLUSÃO ... 76

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 78

ANEXO 1: Parecer do CEP ... 93

ANEXO 2. Carta de Anuência apresentada aos secretários municipais de saúde ou gerentes da atenção primária. ... 96

ANEXO 3. Modelo de TCLE ... 97

ANEXO 4. Questionário aplicado aos farmacêuticos ou ao responsável pelos serviços farmacêuticos (dispensação de medicamentos) na unidade de saúde ... 98

(11)

Lista Ilustrações

Quadro 1: Funções e atividades para o desenvolvimento de serviços farmacêuticos baseados

na atenção primária em saúde ... 24

Figura 1: Conceito de Competências por Fleury ... 29

Tabela 1: Definição de saberes por Fleury ... 29

Figura 2: Cargo dos profissionais entrevistados ... 29Erro! Indicador não definido. Tabela 2: Municípios da região norte e noroeste para média e alta complexidade...46

Figura 3: Classificação dos profissionais quanto ao vínculo empregatício ... 55

Figura 4: Profissionais que fizeram estágio em Atenção Primária ... 56

Figura 5: Nível de Satisfação com o trabalho que exerce na unidade de saúde ... 57

Figura 6: Classificação da relação entre os profissionais ... 58

Figura 7: Dedicação a um outro emprego ... 58

Figura 8: Relação entre a faixa salarial e a formação profissional ... 59

Figura 9: Cursos de atualização realizados pelos entrevistados ... 60

Figura 10: Titulação dos profissionais de nível superior ... 60

Figura 11: Carga horária entre Unidades de Saúde e as Farmácias... 62

Figura 12: Carga horária de trabalho dos profissionais ... 63

Figura 13: Grau de importância, frequência de realização das atividades e autopercepção dos conhecimentos referentes a funções vinculadas a pesquisa e gestão do conhecimento. ... 63

Figura 14: Grau de importância, frequência de realização das atividades e autopercepção dos conhecimentos referentes a funções vinculadas ao desempenho profissional. ... 65

Figura 15: Grau de importância, frequência de realização das atividades e autopercepção dos conhecimentos referentes a funções vinculadas às políticas públicas. ... 67

Figura 16: Grau de importância, frequência de realização das atividades e autopercepção dos conhecimentos referentes a funções vinculadas à organização e gestão dos serviços farmacêuticos. ... 69

Figura 17: Grau de importância, frequência de realização das atividades e autopercepção dos conhecimentos referentes a funções vinculadas aos indivíduos, família e comunidade. ... 72

Figura 18: Grau de importância. ... 73

Figura 19: Frequência de realização das atividades. ... 74

(12)

Lista de Abreviaturas

APS Atenção Primária à Saúde SUS Sistema Único de Saúde UBS Unidade Básica de Saúde

NASF Núcleo de apoio à Saúde da Família ESF Estratégia de Saúde da Família RAS Rede de Atenção à Saúde CEME Central de Medicamentos

PNM Política Nacional de Medicamentos

PNAF Política Nacional de Assistência Farmacêutica RENAME Relação Nacional de Medicamentos

AF Assistência Farmacêutica SF Serviços Farmacêuticos

OMS Organização Mundial da Saúde CNE Conselho Nacional de Educação RAM Reação Adversa a Medicamento EPS Educação Permanente em Saúde

(13)

1. INTRODUÇÃO

O Sistema Único de Saúde desde sua criação tem avançado de forma significativa, principalmente nos últimos anos; dentro desse processo ressalta a importância da Atenção Primária à Saúde (APS) como a base do sistema de saúde no Brasil (BRASIL, 2007a). A APS é considerada a principal porta de entrada do sistema de saúde, baseada em um conjunto de ações de saúde que visam a promoção, proteção, diagnóstico, tratamento, prevenção de agravos, reabilitação, redução de danos e a manutenção da saúde no âmbito individual e coletivo (BRASIL, 2011).

Independente do nível de atenção à saúde, a maioria das ações em saúde resultam em intervenção medicamentosa. Sendo assim o medicamento é considerado um insumo importante na prestação dos serviços de saúde, devendo a estar disponível a população em termos adequados de quantidade e qualidade (BRASIL, 1990a). Diante da necessidade de disponibilizar medicamentos nos serviços de saúde e da utilização destes de forma racional, é fundamental a organização dos serviços farmacêuticos (MARQUES, 2009).

Nesse contexto é importante compreender a estrutura da assistência farmacêutica na Atenção Primária à Saúde, bem como as atribuições dos farmacêuticos que atuam neste nível de atenção. A assistência farmacêutica é definida como sendo um conjunto de ações voltadas à promoção, proteção e recuperação da saúde tanto individual como coletiva, tendo o medicamento como insumo essencial e visando ao acesso e ao seu uso racional. A assistência Farmacêutica também envolve a pesquisa, o desenvolvimento e a produção de medicamentos e insumos, bem como a sua seleção, programação, aquisição, distribuição, dispensação, garantia da qualidade dos produtos e serviços, acompanhamento e avaliação de sua utilização (BRASIL, 2004b). O desenvolvimento das atribuições pelo farmacêutico no nível da atenção primária, é de suma importância para a construção de uma assistência farmacêutica com o objetivo de fortalecer a Atenção Primária à Saúde (BARBOSA, 2009).

A evolução da assistência farmacêutica ocorre gradativamente, portanto é necessário que os profissionais estejam capacitados de novos saberes e habilidades, para o desempenho de uma assistência farmacêutica de qualidade (BRASIL, 2007a). Ao dotar o profissional de conhecimentos e habilidades, confere a este profissional as competências necessárias ao desempenho no trabalho, tornando-o competente na realização das suas atividades. A definição de competência é compreendida como o resultado de um conjunto de capacidades referidas aos conhecimentos, habilidades e atitudes que conferem ao profissional condições para desenvolver seu trabalho (SAUPE et al, 2006).

(14)

É importante que os profissionais de saúde desenvolvam as competências necessárias ao trabalho, uma vez que as ações em atenção à saúde e a terapêutica prestada ao indivíduo dependerá da mobilização dos seus conhecimentos, habilidades e atitudes interferindo assim nas condições de saúde da população, alcançando assim a melhora da qualidade de vida do paciente (CAMELO; ANGERAMI, 2013). Neste sentido a mobilização das competências pelos profissionais de saúde agregará valor à instituição de saúde com consequente aumento na qualidade dos serviços prestados.

O tema deste estudo foi escolhido pela importância do impacto da assistência farmacêutica na promoção da saúde, sendo assim é importante estudar as competências e o desenvolvimento destas nos profissionais que atuam nesta área. O desenvolvimento de competências é tão importante, quanto os recursos financeiros dentro dos serviços de saúde.

Os recursos humanos na área da saúde pública na maioria das vezes, são escassos e sem qualificação (OLIVEIRA,2010). Nos setores de saúde do estado e do município, é nítida a concepção desta realidade. A falta de capacitação pode estar embasada no fato de que as ocupações no setor público na maioria das vezes está relacionada à indicações de políticos, sendo assim muitos trabalhadores se acomodam e não procuram se capacitar. É necessário conscientizar o profissional da importância de sua qualificação, ética e do seu desempenho no trabalho.

Aos farmacêuticos, além dos conhecimentos técnicos, é necessário que tenham uma visão sobre gestão, uma vez que este profissional será englobado em atividades que envolvem seleção, programação, aquisição, armazenamento, distribuição e dispensação dos medicamentos, sendo estes insumos importantes nos serviços de saúde em todos os níveis de atenção à saúde, considerados insumos dispendiosos, com impacto econômico nos serviços de saúde pública. Além do conhecimento sobre gestão, também é necessário ao farmacêutico conhecimento sobre as atividades técnico-clínicas. É importante o farmacêutico saber orientar e ter condições de realizar atividades clínicas junto ao paciente, como por exemplo, acompanhamento farmacoterapêutico, conciliação da terapia e revisão da terapia. Para a realização destas atividades é necessário que o farmacêutico busque frequentemente conhecimentos através de livros, sites adequados e cursos de capacitação. As atribuições clínicas do farmacêutico proporcionam cuidado ao paciente de forma a promover o uso racional de medicamentos e otimizar a farmacoterapia, com o propósito de alcançar resultados definidos que melhorem a qualidade de vida do paciente (CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA, 2013).

(15)

Discute-se o desenvolvimento de competências desde a formação do profissional, com reformulação das diretrizes, com o objetivo de formar profissionais com perfil condizente a atuar no setor da saúde pública. É também necessário repensar nos profissionais que estão inseridos no mercado de trabalho, em como desenvolver as competências nestes profissionais. Diante de todo o contexto explicitado, o reconhecimento das competências nos profissionais que atuam na assistência farmacêutica se faz necessário, uma vez que estes profissionais conduzirão à prática da mesma.

Este trabalho consiste em uma subdivisão do projeto “Competências para a prática dos serviços farmacêuticos prestados na Atenção Primária do Estado do Rio de Janeiro”, componente do projeto “Competência profissional para a assistência farmacêutica no sistema único de saúde – pesquisa ATUAR”. O projeto tem o objetivo de analisar as competências necessárias para o desempenho da Assistência Farmacêutica nos serviços farmacêuticos prestados na atenção primária do Estado do Rio de Janeiro.

O estudo foi realizado no Estado do Rio de Janeiro que possui 92 municípios divididos em nove regiões de saúde, em cada região foram escolhidas duas cidades para a coleta de dados: a cidade polo da região e a cidade de menor IDH. As nove regiões de saúde do Estado do Rio de Janeiro, onde foram coletados os dados são: Baía da Ilha Grande, Baixada Litorânea, Centro Sul, Médio Paraíba, Metropolitana I, Metropolitana II, Noroeste, Norte e Serrana, além do município do Rio de Janeiro. Para esta dissertação de mestrado foram consideradas somente as regiões norte e noroeste do estado do Rio de Janeiro.

(16)

2. OBJETIVO 2.1. Objetivo Geral

Analisar as competências necessárias para o desempenho adequado dos serviços farmacêuticos prestados no nível da Atenção Primária à Saúde.

2.2. Objetivos Específicos

Identificar e descrever o perfil dos profissionais que realizam a dispensação de medicamentos ao nível da atenção primária à saúde.

Avaliar os conhecimentos e habilidades dos profissionais que atuam nos serviços farmacêuticos ao nível de Atenção Primária à Saúde.

(17)

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1. Sistema Único de Saúde e Atenção Primária

O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado pela Constituição Brasileira no ano de 1988 (BRASIL, 1988). Os princípios que regem o SUS são baseados na universalidade – considera que todos os indivíduos devem ter acesso aos serviços públicos de saúde em todos os níveis de assistência; integralidade – consiste em um conjunto articulado de ações e serviços exigidos para cada caso e equidade – igualdade da assistência à saúde, onde os indivíduos devem ser atendidos de forma igualitária (BRASIL, 1990a). As ações de saúde desenvolvidas pelo SUS consistem em uma estrutura descentralizada com direção única em cada esfera de governo, com ênfase na descentralização dos serviços para os municípios, onde os atendimentos serão realizados em uma região geográfica delimitada, com uma população definida e hierarquizada com atendimento em todos os níveis de complexidade (BRASIL, 2002a).

O acesso da população aos serviços de saúde do SUS ocorre através das Unidades Básicas de Saúde por meio da Atenção Primária. Estas Unidades Básicas de Saúde devem atender alguns requisitos para o seu funcionamento, deve ter como referência o manual de infra-estrutura do departamento de Atenção Básica/SAS/MS, dispondo de consultório médico/enfermagem, consultório odontológico, sala multiprofissional de acolhimento, sala de administração e gerência, sala de atividades para os profissionais da atenção básica, área de recepção, local para arquivos e registros, sala de procedimentos, sala de vacinas, área de dispensação de medicamentos e sala de armazenagem de medicamentos (quando há dispensação na UBS), sala de inalação coletiva, sala de procedimentos, sala de coleta, sala de curativos, sala de observação, sala de banheiro público e exclusivo para funcionários, cozinha, expurgo e depósito de material (BRASIL, 2006a).

Para os níveis secundários e terciários devem ser referenciados os problemas de saúde que não tiveram resolutividade na atenção primária (BRASIL, 2002b). Com a descentralização os municípios passaram a se tornar os responsáveis pela gerência administrativa e financeira da atenção primária à saúde, sendo responsáveis pelo cumprimento das ações de saúde em seu território (STARFIELD, 2002).

3.2. Atenção Primária Saúde e Estratégia Saúde Família

A Atenção Básica ou Atenção Primária à Saúde caracteriza-se por um conjunto de ações em saúde com abrangência na promoção, proteção da saúde, prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos e a manutenção da saúde no âmbito

(18)

coletivo ou individual. O trabalho desenvolvido na Atenção Básica ocorre sob a forma de equipes dirigidas a populações de territórios delimitados, sendo considerada a principal porta de entrada no sistema à saúde e com a missão de resolver a maioria dos problemas de saúde (BRASIL, 2011).

A Política Nacional de Atenção Básica tem na Saúde da Família sua estratégia prioritária para sua organização na atenção básica. A composição da Equipe de Saúde da Família é de caráter multiprofissional, sendo composta por, no mínimo, um médico, um enfermeiro, um auxiliar ou técnico de enfermagem e agentes comunitários de saúde. Pode também compor esta equipe os profissionais de saúde bucal, consistindo estes em cirurgião dentista, auxiliar e/ou técnico em saúde bucal. Cada equipe de saúde da Família é responsável pela atenção de no máximo quatro mil pessoas, sendo a média recomendada de três mil pessoas (BRASIL, 2011).

A Portaria GM nº 154, de 24 de janeiro de 2008 do Ministério da Saúde criou o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), com o objetivo de ampliar a abrangência e o escopo das ações da atenção básica, bem como sua resolubilidade (BRASIL, 2008). O NASF consiste em uma equipe multiprofissional, dentre eles o farmacêutico, para atuar em conjunto com os demais profissionais das Equipes de Saúde da Família, compartilhando as práticas em saúde nos territórios sob responsabilidade das Equipes de Saúde da Família no qual o NASF está cadastrado (BRASIL, 2014).

Conforme a portaria 3.124 de 2012, os NASF apresentam modalidades do tipo 1,2 e 3. O que diferencia cada modalidade são os números de equipes de saúde da família vinculadas ao NASF. Na modalidade 1, cada NASF está vinculado a no mínimo 5 e a no máximo 9 Equipes de Saúde da Família. Na modalidade 2, cada NASF está vinculado a no mínimo 3 e a no máximo 4 Equipes de Saúde da Família. Na modalidade 3, cada NASF está vinculado a no mínimo 1 e a no máximo 2 Equipes de Saúde da Família (BRASIL, 2012). A definição dos profissionais que irão compor o NASF é definida pelos gestores municipais, de acordo com as necessidades locais das equipes de saúde que serão apoiadas (BRASIL, 2014).

3.3. Atributos da Atenção Primária à Saúde

Diante da importância que a Atenção Primária em Saúde representa, é esperado que os serviços deste nível de atenção sejam acessíveis e resolutivos frente às necessidades de saúde da população (CHOMATAS et al, 2013).

A estratégia de organização da atenção primária no Brasil propõe que a atenção à saúde seja centrada na Família, sendo representadas pela Estratégia de Saúde da Família

(19)

(ESF), considerando que a família deve ser entendida a partir do contexto em que vive, o ambiente físico e social, levando os profissionais de saúde a compreender as condições de vida e saúde da população, permitindo assim a compreensão do processo saúde e doença (OLIVEIRA; BORGES, 2008). A Estratégia de Saúde da Família, tem a sua concepção para a reorganização e o fortalecimento da Atenção Primária à Saúde no primeiro nível de atenção à saúde no SUS (SOUZA; HAMANN, 2009).

A APS orienta-se por eixos estruturantes que são denominados de atributos essenciais que consistem no acesso, longitudinalidade, integralidade e coordenação do cuidado e atributos derivados compreendidos na orientação familiar e comunitária e competência cultural (STARFIELD, 2002). Resultados positivos nos serviços da atenção primária serão alcançados mediante o conhecimento e a operacionalização dos seus princípios ordenadores, incorporando valores e atributos da Atenção Primária à Saúde (MARQUES et al, 2014). Quando os serviços de saúde estão organizados dentro de uma APS estruturada em conformidade com os seus atributos ordenadores, estes são mais eficazes e possuem mais qualidade (ALENCAR et al, 2014).

O acesso implica na acessibilidade e o uso de serviços a cada novo problema de saúde (PIMENTA et al, 2008). Os termos acesso e acessibilidade frequentemente são usados como sinônimos, porém existe diferenças. A acessibilidade refere-se às características da oferta de serviços que permite que os indivíduos alcancem os serviços de saúde necessários e o acesso é a forma como os indivíduos percebem esta acessibilidade (OLIVEIRA; PEREIRA 2013). A acessibilidade deve ser considerada em relação aos aspectos geográficos, organizacionais, econômicos e socioculturais, estes fatores podem interferir no atendimento à saúde, tornando assim aspectos facilitadores ou não para que um indivíduo obtenha um determinado serviço de saúde (TRAVASSOS; MARTINS, 2004). A acessibilidade geográfica está relacionada com a distância do indivíduo para os recursos de saúde. A acessibilidade organizacional refere-se ao modo como os serviços de saúde estão organizados, facilitando ou dificultando a obtenção dos serviços de saúde necessários pelos indivíduos, como exemplo citamos o tempo para obter uma consulta, tempo para a realização de um exame, horário de funcionamento das unidades de saúde, continuidade no tratamento. Os aspectos econômicos e socioculturais refere-se à percepção pelos indivíduos do risco de gravidade, conhecimento sobre o corpo e a oferta de serviços de saúde, crenças, dificuldade de comunicação com os profissionais de saúde, grau de instrução, renda, estes fatores podem interferir na prestação de um atendimento de saúde ao indivíduo (TRAVASSOS; MARTINS, 2004).

(20)

A longitudinalidade está relacionada com a oferta continuada de serviços de saúde e utilização dos mesmos ao longo do tempo em um ambiente de relação mútua entre equipe de saúde, indivíduos e famílias. A longitudinalidade tende a produzir diagnósticos e tratamentos mais precisos, consequentemente reduzindo os encaminhamentos desnecessários (OLIVEIRA; PEREIRA 2013). Quando os profissionais de saúde não tem o conhecimento adequado das condições de vida e saúde da população, consequentemente resulta na falta de preparo para lidar com esses pacientes que possuem características socioculturais diferentes, constituindo assim um obstáculo ao alcance da longitudinalidade na ESF.

A integralidade consiste na prestação pela equipe de saúde de um conjunto de serviços que atendam a maioria dos problemas de saúde de uma determinada população adscrita, a responsabilização por outros pontos de atenção à saúde envolvendo ações de promoção, prevenção e recuperação (MARQUES et al, 2014). O princípio da integralidade pode ser contemplado nos modelos assistenciais e está organizado de forma hierarquizada e descentralizada, com sistemas formais de referência e contra-referência.

A ação integral depende de uma rede articulada, onde os problemas de saúde apresentados pelos indivíduos possam ser abordados em todos os níveis de assistência necessários para a sua resolução (BRASIL, 1990b).

A coordenação implica na garantia da continuidade da atenção dentro da rede de serviços (PIMENTA et al, 2008). Pode ser considerada como a articulação entre os diferentes níveis assistenciais dos diversos serviços e ações em saúde de forma sincronizada, objetivando a oferta ao indivíduo de um conjunto de serviços que atendam as suas necessidades de saúde de forma integrada (OLIVEIRA; PEREIRA 2013). Os quatro atributos essenciais articulados de forma adequada são primordiais para que a APS desenvolva a coordenação das redes de atenção à saúde (MENDES, 2011). Dentre os quatro atributos a coordenação tem importância relativa, uma vez que sua ausência comprometeria o acesso, a longitudinalidade e a integralidade. O Ministério da Saúde instituiu a portaria nº 4.279 de 30 de dezembro de 2010, onde estabelece as diretrizes para a organização da Rede de Atenção à Saúde – RAS- no âmbito do SUS, com o objetivo de assegurar ao usuário ações e serviços de forma efetiva, integral e humanizada (BRASIL, 2010). A sua operacionalização se dá através de uma população adscrita, uma estrutura operacional que inclui pontos de atenção e a conexão entre eles e um modelo de atenção à saúde. Os pontos de atenção compreendem as unidades de atenção primária a saúde atuando como centros de comunicação, os serviços de atenção secundário e terciário, de apoio e diagnóstico. A integração das unidades de saúde da

(21)

família é fundamental para assegurar uma oferta abrangente de serviços e para coordenar as diversas ações de saúde requeridas para a solução das necessidades de saúde (BRASIL, 2010).

Para a consolidação de uma APS de qualidade é importante desenvolver mecanismos de avaliação da organização, do desempenho e dos resultados dessa abordagem (FELISBERTO, 2004). A avaliação, a presença dos atributos da APS podem ser mensurados através de instrumentos validados para o serviço assistido (MARQUES et al, 2014).

A orientação comunitária, é a prática de reconhecimento das necessidades de saúde da população coberta pela APS através de dados epidemiológicos e do contato com a comunidade e a centralização familiar, considera a família como sujeito da atenção (PIMENTA et al, 2008).

3.4. Assistência Farmacêutica na Atenção Básica

A organização e estruturação da assistência farmacêutica é essencial nos diversos níveis de atenção à saúde, uma vez que a assistência farmacêutica visa assegurar a acessibilidade de medicamentos e farmacoterapia de qualidade, garantir o uso racional de medicamentos, oferecer serviços farmacêuticos e contribuir de forma eficaz na transformação do investimento em medicamentos em incremento à saúde (ARAÚJO; FREITAS, 2006).

Dentro do contexto histórico da assistência farmacêutica no Brasil, destaca-se a criação da CEME (Central de Medicamentos) em 25 de junho de 1971, através do decreto 68.806 (BRASIL, 1971). O seu objetivo era a promoção e organização das atividades da assistência farmacêutica no país, com uma gestão centralizadora, em que os estados e municípios, não participavam dos processos decisórios (BRASIL, 1971).

A década de 1990 foi marcada por uma crise na CEME, com escândalos de corrupção, problemas com escassez de medicamentos e excesso de outros, demonstrando a sua ineficiência. Em 1997, a CEME foi desativada através do decreto nº 2.283 (BRASIL, 1971).

A extinção da CEME gerou debates sobre os principais problemas relacionados à assistência farmacêutica, que consistiam em problemas na garantia do acesso da população aos medicamentos e uso irracional dos mesmos, desorganização dos serviços farmacêuticos e desarticulação da assistência farmacêutica. Esses fatores contribuíram para a formulação de novas diretrizes para a área de medicamentos, culminando assim na PNM (por extenso) publicada em 1998 (BRASIL, 2001b).

A PNM foi criada através da portaria GM/MS nº 3.916 de 30 de outubro de 1998 (BRASIL, 1998). Tinha a finalidade de promover a melhoria das condições de assistência à saúde da população, reconhecendo a importância que o medicamento concerne na

(22)

resolutividade das ações de saúde (BRASIL, 1998). As diretrizes da PNM consistiam na adoção da RENAME, reorientação da assistência farmacêutica, promoção da produção de medicamentos, desenvolvimento e capacitação de recursos humanos, promoção do uso racional de medicamentos, desenvolvimento científico e a regulamentação sanitária de medicamentos (BRASIL, 2001b).

A reorientação da Assistência Farmacêutica, uma das diretrizes da PNM, consiste em um modelo de assistência farmacêutica que não restringe apenas a aquisição e a distribuição de medicamentos, mas a realização de práticas de atividades relacionadas à promoção do acesso da população aos medicamentos essenciais (BRASIL, 1998). Essa reorientação da Assistência Farmacêutica está fundamentada na descentralização da gestão, promoção do uso racional de medicamentos e otimização do sistema de distribuição no setor público (BRASIL, 2001b). De acordo com as diretrizes da PNM percebe-se que todo o processo da assistência farmacêutica se relaciona com as ações desenvolvidas na APS, com destaque para a adoção da RENAME e a promoção do uso racional de medicamentos como ações mais desenvolvidas na APS (BARBOSA, 2009).

Em 2003, o Ministério da Saúde e o Conselho Nacional de Saúde realizam a primeira Conferência Nacional de Assistência Farmacêutica; desta conferência, algumas propostas foram aprovadas, como a garantia ao acesso aos medicamentos, a capacitação de profissionais, a educação do usuário, o desenvolvimento tecnológico, a elaboração de normas e diretrizes para a assistência farmacêutica e a organização e estruturação dos serviços de assistência farmacêutica em todos os municípios (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005).

Fundamentado nas propostas da primeira Conferência Nacional da Assistência Farmacêutica, o Conselho Nacional de Saúde, através da resolução nº 338 de 06 de maio de 2004 aprovou a Política Nacional de Assistência Farmacêutica-PNAF (BRASIL, 2004b). A PNAF é considerada uma política norteadora para a formulação de políticas de medicamentos, desenvolvimento industrial, formação de recursos humanos e ciência e tecnologia, garantindo a intersetorialidade do SUS (BRASIL, 2006b). Essa política fortalece a assistência farmacêutica através de eixos como a qualificação dos serviços da assistência farmacêutica existentes, nos diferentes níveis de atenção, bem como o aprimoramento dos recursos humanos, utilização da RENAME e promoção do uso racional de medicamentos (BRASIL, 2006b).

Tanto a Política Nacional de Medicamentos, quanto a Política Nacional de Assistência Farmacêutica trazem a assistência farmacêutica na atenção básica como a forma de garantir o acesso da população aos medicamentos essenciais, às segurança, eficácia e qualidade dos

(23)

medicamentos e a promoção ao uso racional de medicamentos. Entretanto para muitos gestores a assistência farmacêutica permanece centrada na aquisição e distribuição de medicamentos (BRASIL, 2007a).

Durante muitos anos, a organização e a estruturação da Assistência Farmacêutica, nos diferentes níveis de atenção, tem-se dado a partir de um ciclo logístico do medicamento, abrangendo as etapas de seleção, programação, aquisição, armazenamento, distribuição e dispensação do medicamento (MARIN et al, 2003). Entretanto, para a atenção primária, as ações de AF restritas à aquisição e à distribuição de medicamentos não conseguem atender a necessidade de atenção integral (ARAÚJO et al, 2005).

A presença do farmacêutico na Atenção Primária, ora vinculado à estrutura de NASF, ora em alguma outra conformação, faz parte de uma nova etapa de construção e consolidação dos serviços farmacêuticos no Brasil (ARAÚJO et al, 2008).

3.5. Serviços Farmacêuticos e suas funções

Os serviços farmacêuticos são atividades atreladas à assistência farmacêutica, com o objetivo de fornecer o acesso aos medicamentos essenciais que são disponibilizados na rede pública de saúde. Os serviços farmacêuticos compreendem atividades administrativas relacionada com a garantia da disponibilidade adequada dos medicamentos e as atividades assistenciais que estão relacionadas com a efetividade e segurança da terapêutica ao indivíduo (BRASIL, 2009).

A OPAS, 2013 define Serviços Farmacêuticos baseados na Atenção Primária como: “Conjunto de ações no sistema de saúde que buscam garantir a atenção integral, integrada e contínua das necessidades e problemas de saúde da população tanto individual como coletiva, tendo o medicamento como um dos elementos essenciais, contribuindo para seu acesso equitativo e uso racional. Estas ações, desenvolvidas por farmacêutico ou sob sua coordenação, incorporado a equipe de saúde com vistas a melhoria da qualidade de vida da população” (OPAS, 2013, p.57).

Por vezes os significados dos termos serviços farmacêuticos e assistência farmacêutica se confundem, a diferença entre os conceitos reside no fato da AF desenvolver ações que envolvem pesquisa e desenvolvimento e produção de novos medicamentos, bem como a execução do ciclo logístico com atividades relacionadas a seleção, programação, aquisição, armazenamento, distribuição e dispensação dos medicamentos, atividades que não são

(24)

aplicadas nos serviços farmacêuticos, sendo assim a assistência farmacêutica desenvolve ações bem mais abrangentes em relação aos serviços farmacêuticos (PEREIRA, 2013).

De acordo com a OMS os serviços farmacêuticos apresentam funções que, uma vez articuladas, conferem um adequado desenvolvimento dentro da APS. As funções são agrupadas em cinco domínios: funções vinculadas às políticas públicas, funções vinculadas à organização e gestão dos serviços farmacêuticos, funções diretamente vinculadas aos indivíduos, família e comunidade, funções vinculadas a pesquisa e gestão do conhecimento e funções vinculadas ao desempenho profissional (OPAS, 2013).

A operacionalização dessas funções dentro dos serviços farmacêuticos está de acordo com a execução de atividades relacionadas à função. As atividades relacionadas a cada função estão explicitadas no quadro 1.

Quadro 1: Funções e atividades para o desenvolvimento de serviços farmacêuticos baseados na atenção primária em saúde

Funções/ domínios Atividades 1. Funções vinculadas às

políticas públicas

a. Desenvolver políticas públicas b. Implementar políticas e programas

c. Definir e atualizar regulamentações e diretrizes técnicas

d. Contribuir para a proteção da saúde e segurança da população e do ambiente

2. Funções vinculadas à organização e gestão dos serviços

farmacêuticos

a. Planejar, gerir e avaliar os serviços farmacêuticos de forma integrada às Redes de Atenção em Saúde (RAS) e ao Sistema de Saúde

b. Selecionar os medicamentos e outros insumos c. Adquirir os medicamentos e outros insumos d. Abastecer medicamentos e insumos essenciais e. Desenvolver e implementar sistema de gestão da

qualidade dos produtos e serviços

f. Realizar o fracionamento de medicamentos g. Garantir a disponibilidade e o uso racional de

medicamentos e outros insumos essenciais em situações de mitigação e prevenção de desastres e emergências sanitárias

h. Realizar preparações magistrais e oficinais i. Realizar descarte de medicamentos

3. Funções diretamente vinculadas aos indivíduos, família e comunidade

a. Promover a saúde e avaliar a situação de saúde b. Entregar medicamentos e insumos

c. Documentar a informação do paciente, família e/ou comunidade

d. Prover assessorial ao paciente, família ou comunidade com respeito a sintomas menores e com referência a outros serviços

(25)

Funções/ domínios Atividades

f. Promover o uso racional de medicamentos g. Participar e realizar farmacovigilância 4. Funções vinculadas a

pesquisa e gestão do conhecimento

a. Promover ou participar de pesquisas em saúde b. Gerir e prover informação sobre medicamentos 5. Funções vinculadas

ao desempenho profissional

c. Cumprir a legislação vigente (incluindo aspectos éticos e bioéticos)

d. Promover educação permanente dos recursos humanos (dos serviços farmacêuticos e equipe de saúde)

e. Promover o desenvolvimento profissional contínuo Fonte: OPAS/OMS, 2013

As respostas obtidas dos questionários, serão agrupadas de acordo com as funções dos serviços farmacêuticos, correlacionando assim a as competências dos entrevistados às funções dos serviços farmacêuticos.

3.6. Competência

A origem do termo competência data da Idade Média e, inicialmente, estava relacionada à linguagem jurídica, indicando que determinado indivíduo estava apto para realizar julgamentos e apreciar pareceres (PICCHIAI, 2009).

No decorrer do tempo, novos sentidos foram atribuídos à competência, o termo competência passou a expressar o reconhecimento da capacidade de um indivíduo em realizar um determinado trabalho (ISAMBERT-JAMATI, 1997 apud BRANDÃO; GUIMARÃES 2001).

De acordo com a literatura acerca dos estudos sobre competência, nota-se que a noção de competência é inserida no ambiente organizacional de forma paralela nos Estados Unidos e na França.

Nos Estados Unidos, os primeiros estudos sobre competência datam da década de 70 e David McClenlland foi o pioneiro na disseminação do conceito de competência por meio de suas pesquisas e estudos sobre o assunto (MCCLENLLAND apud SARDENBERG, 2013). Ele publicou um artigo com o título “Testing for Competence Rhater Than Intelligente” em 1973 no qual defende o teste da competência no lugar da inteligência. Na época era comum aplicar testes de inteligência, por exemplo, os testes de Quociente de Inteligência (QI) para aferir o nível de qualificação de determinada pessoa. Porém, o autor julgava que esses tipos de testes não eram capazes de verificar os conhecimentos, habilidades e atitudes dos avaliados, não possuindo condições de predizer se o indivíduo obteria sucesso no desempenho das atividades solicitadas no trabalho (MCCLENLLAND, 1973 apud SARDENBERG, 2013).

(26)

Nesse sentido, McClenlland propõe métodos de avaliação com o intuito de identificar variáveis de competências, predizendo se a pessoa teria sucesso em suas atuações. Ele evidencia que o teste deveria ocorrer através da prova de critério, isto é, o indivíduo, sujeito à avaliação, deve ser submetido a atividades práticas para averiguar sua habilidade para a execução da tarefa. Assim, passamos a ter uma análise comportamental do avaliado.

Em 1990, de acordo com Soares, Andrade (2005), Prahalad & Hamel publicaram um artigo intitulado de “The Core Competences of Corporation” que preconizava a obtenção de vantagens competitivas pelas organizações que faziam uso de competências essenciais. Dessa forma, o assunto relativo a competência passou a ser amplamente divulgado e estudado.

Fleury; Fleury (2001) relatam que o conceito de competência é entendido pelos autores americanos, numa perspectiva geral, como um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes que promovem um alto desempenho. Embora a literatura americana tenha o indivíduo como foco, os autores ressaltam também a importância de alinhar as competências individuais às necessidades demandadas pelas funções do cargo.

O conceito de competência desenvolvido nos Estados Unidos até a década de 90 estava restrito ao conjunto de tarefas do cargo, ou seja, bastava o individuo apresentar as qualificações necessárias para a função. Porém, diversos autores argumentam que esse conceito não é capaz de responder as demandas das organizações modernas, uma vez que se encontram num mercado globalizado no qual as mudanças são constantes. Dessa forma, as organizações contemporâneas devem ter flexibilidade e disposição para inovar. (SARDENBERG, 2013)

Já na França, o conceito de competência foi introduzido pelo questionamento sobre o conceito de qualificação e o processo de formação profissional, tendo em vista o descompasso entre as necessidades das organizações, principalmente das indústrias, e o campo acadêmico. Nesse sentido, o objetivo era estreitar os laços entre o ensino e as necessidades das empresas de forma a aprimorar a capacitação dos trabalhadores e consequentemente, sua empregabilidade (FLEURY, 2001). Foi nesse contexto que surgiu o inventário de competências (Bilan de Compétences) com o objetivo de avaliar as qualificações necessárias ao posto de trabalho.

E diante desse novo debate sobre o conceito de qualificação, as empresas siderúrgicas francesas vivenciaram uma crise e foram obrigadas a reduzir significativamente o quadro de trabalhadores no período entre 1974 a 1985.

O resultado dessa crise foi um acordo estabelecido com os sindicatos dos trabalhadores com o intuito de reestruturar os planos de classificação de cargos. Tal acordo

(27)

preconizava que a qualificação é essencialmente um atributo da pessoa e não do cargo, trazendo uma nova forma de pensar a qualificação profissional (RANGEL, 2006). Conforme Zarifian (2001 apud RANGEL 2006), o acordo inova ao reconhecer que o colaborador pode adquirir competências e que o mesmo tem direito a uma vida profissional de aprendizagem, bem como estabelece que as competências devem se adaptar à organização.

No decorrer dos anos, a crescente competitividade num mercado globalizado e a complexidade das relações profissionais exigiu das organizações um envolvimento maior dos colaboradores, assim, tornando indispensável a valorização das competências individuais no ambiente organizacional (RANGEL, 2006).

Nesse sentido, nos anos 90, a literatura francesa busca aprimorar o conceito de competência, excedendo seus limites para além do conceito de qualificação. ZARIFIAN (1999 apud FLEURY; FLEURY 2001), propõe a existência de três mutações no mundo do trabalho.

Primeiramente, o autor insere a noção de incidente como:

“Aquilo que ocorre de forma imprevista, não programada, vindo a perturbar o desenrolar normal do sistema de produção, ultrapassando a capacidade rotineira de assegurar sua auto-regulação; isto implica que a competência não pode estar contida nas pré-definições da tarefa; a pessoa precisa estar sempre mobilizando recursos para resolver as novas situações de trabalho”. (FLEURY, 2001, p.184)

Outra mutação percebida pelo autor é a comunicação, enfatizando que o “comunicar implica conhecer o outro e a si mesmo; significa entrar em acordo sobre objetivos organizacionais, partilhar normas comuns para a sua gestão” (FLEURY; FLEURY 2001).

Por fim, a terceira mutação é o Serviço, que Zarifian considera da seguinte forma: “A noção de serviço, de atender a um cliente externo ou interno da organização precisa ser central e estar presente em todas as atividades; para tanto, a comunicação é fundamental. O trabalho não é mais o conjunto de tarefas associadas descritivamente ao cargo, mas se torna o prolongamento direto da competência que o indivíduo mobiliza em face de uma situação profissional cada vez mais mutável e complexa” (FLEURY; FLEURY 2001, p.186).

Tais mudanças no ambiente organizacional justificam a emergência do modelo de gestão por competências, tendo em vista que a atual complexidade do mundo globalizado faz com que o imprevisto esteja presente no dia-a-dia das organizações.

No caso brasileiro, tanto a visão americana quanto a francesa servem de base para os autores brasileiros, sendo assim, o conceito de competência engloba ambas as vertentes.

(28)

Nas décadas anteriores, a competência de um indivíduo estava baseada no conhecimento técnico específico, muito diferente das necessidades atuais de competência, em que, além do conhecimento, é necessário que o indivíduo desenvolva novas habilidades para mudanças e melhoria do trabalho. Atualmente o termo competências abrange novas formas de tratar as capacidades humanas e o seu processo de desenvolvimento (BARBOSA, 2009). 3.6.1. CONCEITO DE COMPETÊNCIA

Vários autores criaram definições próprias de competências, esse fato está baseado nos variados aspectos da competência. Apesar das diferentes definições, todas apresentam uma essência comum. Convergem para o princípio que a competência está baseada no conjunto de conhecimento, habilidade e atitude necessário ao desempenho no trabalho. Dessa forma, não é possível eleger somente uma definição, uma vez que as várias definições se complementam. GILBERT, (1978 apud CASSIS; OLIVEIRA 2009), enfatiza que a competência humana é expressa pelo desempenho de um indivíduo no trabalho, sendo este desempenho expresso através do comportamento que a pessoa manifesta no trabalho e pelas consequências desses comportamentos em termos de resultados. CARBONE et al 2005, em seus trabalhos colocam que as competências consistem em uma combinação sinérgica de conhecimento, habilidades e atitudes, expressa pelo desenvolvimento profissional de um indivíduo em um determinado contexto. Neste contexto o desempenho profissional representa então a expressão de suas competências.

DUTRA et al 2000 colocam a competência como a capacidade de uma pessoa fornecer resultados dentro dos objetivos de uma organização.

Para FLEURY; FLEURY 2001 p.188, a definição de competências compreende:

“Um saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos e habilidades, que agreguem valor econômico à organização e valor social ao indivíduo”.

(29)

Figura 1: Conceito de Competências por Fleury

Fonte: Fleury 2001 p.188.

A significação dos “Saberes” citado na definição de Fleury está sintetizada na Tabela 2.

Tabela 1: Definição de saberes por Fleury

Saber agir Saber o que e por que faz.

Saber julgar, escolher, decidir. Saber mobilizar recursos Criar sinergia e mobilizar recursos e

competências.

Saber comunicar Compreender, trabalhar, transmitir informações, conhecimentos.

Saber aprender Trabalhar o conhecimento e a experiência, rever modelos mentais, saber desenvolver-se.

Saber engajar-se e comprometer-se Saber empreender, assumir riscos. Comprometer-se.

Saber assumir responsabilidades Ser responsável assumindo os riscos e consequências de suas ações e sendo por isso reconhecido.

Ter visão estratégica Conhecer e entender o negócio da

organização, o seu ambiente, identificando oportunidades e alternativas.

Fonte: Fleury 2001

As dimensões da competência compreendem o conhecimento, habilidade e atitude. O conhecimento (o saber) significa todo o acervo de informações, conceitos, idéias, experiências, aprendizagem que possuímos. Como o conhecimento muda constantemente em função da mudança e da inovação, é imprescindível ao profissional atualizar-se

(30)

continuamente. O conhecimento é necessário e fundamental, mas não é o suficiente. A este precisam ser acrescentadas as habilidades e atitudes (CHIAVENATO, 2011).

Habilidade (saber fazer) é a capacidade de transformar o conhecimento em ação, resultando em um desempenho desejado. As habilidades podem se subdividir em três tipos: habilidades técnicas (envolvem o conhecimento especializado), humanas (relacionamento interpessoal e grupal) e conceituais (visão da organização como um todo) (CHIAVENATO, 2011).

Atitudes (saber agir) significa o comportamento pessoal do profissional diante das situações com que se defronta em seu trabalho, representando o saber ser e agir do profissional (CHIAVENATO, 2011). Deve-se saber agir para se poder empregar adequadamente os conhecimentos e habilidades (LAUDARES, 2003).

Essas dimensões saber, saber fazer e saber agir estão inter-relacionadas e às vezes se confundem. É fundamental para o desenvolvimento de competências a apropriação do conhecimento em ações no trabalho, se o conhecimento não for incorporado às atitudes, não trará benefícios à organização e nem promoverá o desenvolvimento nas pessoas (BARBOSA, 2009).

Alguns autores destacam a influência do ambiente de trabalho na mobilização das competências. BRANDÃO e GUIMARÃES (2001) colocam a competência como a capacidade de agir de forma eficaz em uma situação, apoiada em conhecimentos, porém, sem se limitar a eles, a competência seria adquirida pelas situações da prática diária e ultrapassa a qualificação definida para a ocupação de um determinado cargo. RUAS et al (2005) considera que a competência existirá quando as capacidades forem mobilizadas junto com determinados recursos de um determinado contexto.

Para alguns autores o fato de as pessoas possuírem conhecimentos, habilidades e atitudes, não garante benefícios diretamente para um determinado trabalho, é necessário levar em consideração a capacidade do indivíduo em se entregar ao trabalho (DUTRA, 2001). Os indivíduos entregam o que uma organização espera ou necessita sob diferentes formas, isso por que o conhecimento, habilidade e atitude se articulam de formas diferentes entre as pessoas. Teremos pessoas que se entregarão a uma organização dando ênfase a habilidades de comunicação e outras que se entregarão dando ênfase às suas habilidades técnicas. Essa diversidade de habilidades é fundamental para uma organização aprender diferentes formas de obter sucesso (DUTRA, 2001). Será definido se houve ou não uma determinada competência, quando a avaliação da entrega for comparada com o objetivo proposto (OLIVEIRA, 2008).

(31)

As competências são dinâmicas e a construção de novas competências depende da interação entre as pessoas e equipes dentro de uma organização (PICCHIAI, 2009). O desenvolvimento de competências possui uma importância significativa, contribuindo para a formação dos indivíduos e para a mudança de atitude em relação à prática de trabalho (BITENCOURT, 2001). O processo de mudança só ocorre quando muda a forma de pensar e agir dos membros da organização.

3.6.2. NÍVEIS DE COMPETÊNCIA

No contexto geral sobre Competências, podemos definir dois níveis principais de abrangência: competência organizacional e competência individual. Tais competências se influenciam mutuamente, por isso, as competências individuais devem estar articuladas com as competências organizacionais (BENETTI et al, 2007).

A definição de competência individual é apresentada de formas diferentes pelos autores, porém, a maioria dos conceitos considera as habilidades, as atitudes e os conhecimentos de um indivíduo como componentes da competência do mesmo. Em geral, define-se competência individual como o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes que o indivíduo possui, tornando-o único (SOARES; ANDRADE, 2005).

As competências organizacionais, conhecidas também como competências essenciais, constituem a competência corporativa e está “associada aos elementos da estratégia competitiva da organização: missão, visão e intenção estratégica” (RUAS et al 2005).

De acordo com a literatura, os primeiros autores a utilizarem o termo competências essenciais foram C.K.Prahalad e Gary Hamel no ano de 1990 (SOARES; ANDRADE, 2005). Conforme citado anteriormente, os autores publicaram o artigo “The Core Competences of Corporation” e afirmavam que quando uma organização utiliza suas competências essenciais, mesmo que em pequeno número, a mesma obtém vantagens competitivas no mercado, afetando seus produtos.

Uma consideração importante que os autores citados abordam sobre as competências organizacionais é que elas não se deterioram com o tempo, ao contrário, valorizam-se sempre mais quando compartilhadas e aplicadas (RANGEL, 2006).

Nesse sentido, pode-se concluir que as competências organizacionais são as competências essenciais para que a organização garanta sua sobrevivência (SOARES; ANDRADE, 2005).

(32)

A organização e seus colaboradores estão num processo contínuo de troca de competências. A organização transfere seus conhecimentos para as pessoas para que adquiram novas habilidades, bem como as pessoas repassam para as organizações o aprendizado construído ao longo de suas experiências. Dessa forma, concluímos que os responsáveis pelo desenvolvimento das competências organizacionais são os colaboradores.

Assim, percebe-se a gestão por competências como uma aliada da gestão de recursos humanos, uma vez que a identificação das competências organizacionais e individuais, necessárias para o desenvolvimento e sobrevivência da organização, direciona o conteúdo do treinamento a ser oferecido aos colaboradores, tornando-o eficaz. Dessa forma, os gestores evitam desperdício de tempo com treinamentos que não condizem com as reais necessidades da organização. Além disso, as competências podem integrar o sistema de avaliação e remuneração da empresa.

Dentro deste contexto, devemos destacar a importância das ditas competências cognitivas. A educação tradicional centrada no conteúdo das disciplinas, algumas vezes não privilegia o desenvolvimento de capacidades e habilidades cognitivas indispensáveis para o desenvolvimento de atitudes necessárias para o saber ser, como as capacidades de raciocínio, auto-aprendizagem, pensamento crítico, solução de problemas e criatividade (TORRES, 1992 apud PINTO et al, 2007). É importante valorizar e desenvolver estas capacidades para a formação de competências profissionais. TORRES (1992 apud PINTO et al, 2007) cita algumas capacidades consideradas primordiais para o desenvolvimento das competências cognitivas:

 Aprender a pensar – o desenvolvimento da habilidade de pensamento, não significa saber muitas coisas, mas aplicar esses conhecimentos com eficácia. “Aprender a pensar é uma necessidade básica da aprendizagem. Consiste em aprender a examinar as suposições buscando novas perspectivas, prever as mudanças e saber conduzi-las de tal forma que as pessoas possam construir o futuro e não se acomodar a ele”. (TORRES, 1992 apud Pinto et al, 2007, p.45).

 Resolução de problemas – Solucionar problemas é considerada uma tarefa de difícil execução, não existe uma fórmula e nem habilidade para resolver os problemas. Para obter a solução de um problema, depende do conhecimento de sua origem para que assim possam ser estabelecidas metas para a resolução do mesmo.

 Criatividade – Definida como um conjunto de capacidades e disposições que fazem com que uma pessoas produza com frequência novos produtos e serviços.

(33)

 Aprender a aprender – implica na concepção de educação, de ensino, de aprendizagem e de avaliação. É uma noção vinculada à “auto-aprendizagem”, referindo-se à capacidade de refletir sobre a própria aprendizagem, tomar consciência das estratégias e dos estilos cognitivos individuais, identificar as dificuldades encontradas, assim como os pontos de apoio que permitem avançar.

Le Boterf (2003), em suas publicações menciona as mudanças ocorridas nas concepções das competências ao longo dos anos, atreladas ao desenvolvimento das competências cognitivas (Le Boterf, 2003). O autor apresenta dois modelos de competências existentes. O primeiro relacionado com a concepção taylorista e fordista, em que a competência era limitada a um saber fazer, com um comportamento esperado e mecanizado. O segundo modelo está relacionado com a mudança na economia durante o século XX, período de transformações significativas para os trabalhadores no mundo. De acordo com estas mudanças, o profissional competente é então designado como aquele que sabe agir em diversas situações e tomar iniciativas quando necessário. Além de saber agir, são necessárias outras qualidades ao indivíduo competente, tais como saber combinar e mobilizar recursos em um contexto; saber transpor (capacidade de aprendizado e adaptação); saber aprender e aprender a aprender e saber envolver-se (Le Boterf, 2003).

O saber agir envolve atitudes além das esperadas e programadas, o profissional não deve saber executar somente o que lhe foi recomendado, deve ir além sabendo tomar iniciativas e decisões, negociar, fazer escolhas e assumir as consequências, assumindo os risos e a responsabilidade. As atividades do profissional não podem ser automatizadas, não envolvem somente a capacidade de saber fazer, mas de compreender as situações e trabalhar da melhor forma para a obtenção de resultados. Entretanto o saber agir envolve o saber fazer além do que lhe foi prescrito, saber escolher, negociar, decidir, saber desencadear ações para uma determinada finalidade (Le Boterf, 2003).

Saber combinar e mobilizar recursos em um contexto compreende a mobilização dos conhecimentos e habilidades pelo profissional. Não adianta possuir conhecimentos e não saber colocá-los em prática no momento oportuno. Além de ter o conhecimento necessário, é preciso saber colocá-los em prática num contexto de complexidade, sabendo selecionar os elementos necessários dentro do contexto dos recursos, organizá-los para a realização de uma determinada atividade (Le Boterf, 2003).

O saber transpor, saber transferir, depende da capacidade cognitiva do profissional, diante das situações ou problemas distintos, e envolve o saber memorizar múltiplas situações

Referências

Documentos relacionados

Nesta perspectiva, observamos que, após o ingresso dos novos professores inspetores escolares na rede da Secretaria de Estado de Educação, houve um movimento de

A proposta do Plano de Ação Educacional indicou ações que poderão ser executadas, no sentido de favorecer as escolas inseridas na referida região através de um treinamento que

O Processo Seletivo Interno (PSI) mostra-se como uma das várias ações e medidas que vêm sendo implementadas pela atual gestão da Secretaria de Estado.. Importante

aperfeiçoe sua prática docente. Nesse contexto, a implementação da política afeta os docentes na práxis do cotidiano escolar.. Os dados revelam que a Política de Bonificação

O fortalecimento da escola pública requer a criação de uma cultura de participação para todos os seus segmentos, e a melhoria das condições efetivas para

Ressalta-se que mesmo que haja uma padronização (determinada por lei) e unidades com estrutura física ideal (física, material e humana), com base nos resultados da

Neste capítulo foram descritas: a composição e a abrangência da Rede Estadual de Ensino do Estado do Rio de Janeiro; o Programa Estadual de Educação e em especial as

Por fim, na terceira parte, o artigo se propõe a apresentar uma perspectiva para o ensino de agroecologia, com aporte no marco teórico e epistemológico da abordagem