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Rio Lima: aproveitamento hidroeléctrico de Touvedo (Salvador) : património hidráulico na área da Albufeira

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RIO LIMA

APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE TOUVEDO

(SALVADOR)

(2)

Edição: EDP -ELECTRICIDADE DE PORTUGAL, SA Direcção Operacional de Equipamento Hidráulico 1993

Reservados todos os direitos

Coordenação gráfico: Teixeira Leite Execução: Marca -Artes Gráficas Tiragem: 3.000 exemplares

(3)

Sumário

1. Preâmbulo

2. O Aproveitamento Hidroeléctrico de Touvedo (Salvador) 3. Rio Lima. Aspectos fisiográficos e hidrológicos

4. Rio Lima. Aspectos geológicos 5. Paisagem do Vale do Lima

6. O rio Lima na história, na lenda e na literatura 7. Património hidráulico construído

7.1. Inventário e tipos das estruturas hidráulicas 7.2. Pesqueiras

7.3. Açudes no rio Lima

7.4. Travessões e esporões com pesqueiras no rio Lima 7.5. Açudes em afluentes do Lima

7.6. Engenhos hidráulicos 7.6.1. Rodas hidráulicas 7.6.2. Azenhas 7.6.3. Moinhos 7.6.4. Serrações de madeira 7.6.5. Lagares de azeite 8. Aspectos etnográficos 8.1. Pesca

(4)

1. Preâmbulo

No trecho do rio Lima que viria a ser submerso pela albufeira do Aproveitamento Hidroeléctrico de Touvedo (Salvador) observava-se um número elevado de estrutu -ras hidráulicas de grande interesse arquitectónico, paisagístico e etnográfico.

Trata-se essencialmente de açudes, de pequena altura, construídos de grandes blocos de granito, que serpenteavam em ziguezague entre as margens do Lima, de forma a criar condições favoráveis ao estabelecimento de pesqueiras para a captura, em armadilhas, de espécies piscícolas. Estes açudes, na sua grande maioria, tinham como finalidade exclusiva a criação de pesqueiras, destinando-se quase todos os outros a obter simultaneamente o desnível de água necessário para o accionamento de engenhos hidráulicos.

O rio Lima, no trecho a ser submerso, era enquadrado por uma paisagem de beleza um tanto agreste, com os montes chegados ao rio, apresentando zonas agricultadas em pequenas veigas próximas do rio ou em socalcos e extensas áreas de tojo e urze ou de pinhais e alguns eucaliptais. O rio era ladeado, em geral, por formações ripícolas, principalmente por salgueiros e amieiros, que conferiam grande beleza aos tranquilos espelhos de água criados pelos açudes.

A pesca, por meio de armadilhas colocadas nos bocais das pesqueiras, visava, sobretudo, a lampreia, e era uma actividade tradicional, complementar da actividade agrícola.

Nos trechos dos afluentes submersos pela albufeira encontravam-se moinhos, um lagar de azeite e uma serração, a maior parte em ruínas, apresentando interesse mas tendo características análogas às de outras zonas do País.

Açudes em ziguezague, análogos aos do trecho da albufeira de Touvedo, encontram-se também no rio Lima para jusante daquele trecho, até Carregadouro (cerca de 8 km a jusante de Ponte da Barca), mas com uma distribuição muito menos concentrada. Conhecem-se ainda exemplos desses açudes no rio Cávado, mas em pequeno número e, em geral, com o traçado em ziguezague menos pronunciado.

Entendeu a Electricidade de Portugal dever inventariar e caracterizar o património hidráulico construído na área a ocupar pela albufeira e registar as características da paisagem envolvente, bem como os aspectos etnográficos associados ao referido património, apresentando os resultados nesta publicação.

Para a realização do trabalho, a EDP recorreu à colaboração da equipa que, no ãmbito do CEHIDRO (do Departamento de Engenharia Civil do Instituto Superior Técnico), se tem dedicado à investigação de arqueologia hidráulica: Professor Catedrático António de Carvalho Quintela (IST) e Professores Auxiliares João Luís Cardoso (Universidade Nova de Lisboa) e José Manuel Mascarenhas (Universidade de Évora). Tal equipa teve a seu cargo a orientação geral do trabalho e a redacção de grande parte do texto.

Por parte da Direcção de Equipamento Hidráulico da EDP, colaboraram, particularmente nos trabalhos de campo e na ilustração gráfica, o Engo. Agrónomo Timóteo Monteiro e os técnicos de desenho Albino Costa e Jorge Ribeiro, tendo estado a documentação fotográfica a cargo do técnico de cine-video António Fonte Rodrigues .•

(5)

2. O Aproveitamento

Hidroeléctrico de Touvedo (Salvador)

Se o escalão de Alto Lindoso, pelas

suas elevadas potência e prod utibili-dade, apresenta inegável interesse a

nível nacionaL já a importância do escalão de Touvedo (Salvador), localizado cerca de 17 km a jusante do primeiro, decorre de razões esse

n-cialmente locais e regionais: a

melhoria da qualidade do serviço de

fornecimento de energia eléctrica à região envolvente é uma delas; a

outra, efectivamente determinante e

porventura mais relevante, é de

ordem social e ambiental.

A razão da afirmação precedente

reside no facto de o Alto Lindoso,

quando em funcionamento, turbinar

elevados caudais (250 m3/s a plena carga), os quais, em termos médios,

correspondem a uma pequena

cheia nos troços a jusante. Se na estação chuvosa essa situação é

normal e até desejável, já na es-tação seca não se coadunaria com certas actividades ligadas ao rio, as quais poderiam ser perturbadas ou

até inviabilizadas. É o caso, por exemplo, do aproveitamento de carácter lúdico que é feito da praia

fluvial de Ponte da Barca e doutros areais a jusante.

É assim que o escalão de

Touvedo (Salvador), com a sua

albufeira de pequena dimensão mas capaz de encaixar, em funcio-namento normaL cerca de 4 milhões de metros cúbicos de água

prove-niente dos turbinamentos do Alto

Lindoso, desempenha a sua função

de modelador dos caudais que lança para jusante, bem abaixo dos

100 m3

/s quando tal seja necessário, assim evitando a erosão das

mar-gens do rio Lima e assegurando condições para a manutenção das tradicionais utilizações do rio.

o

Aproveitamento em SI e

cons-tituído por uma barragem de betão,

do tipo gravidade, com a altura máxima de 42,5 m e um

desen-volvimento de 133,5 m no coroamen-to. É assim criada uma albufeira

que, no nível de pleno

armazena-mento (cota 50.00) apresenta uma superfície de 172 ha e uma extensão

de 10 km. A central, na margem

esquerda, encontra-se equipada com um grupo gerador de 22 MW, turbinando um caudal máximo de 100 m3/s. A produtibilidade, em ano

médio, foi calculada em 60 milhões de kWh. Os órgãos de descarga consistem num descarregador de superfície, de três vãos, e numa des-carga de fundo, com uma

capaci-dade de vazão de 3 250 m3/s.

Também a questão da fauna pis-cícola migradora não foi esquecida. Mediante projecto executado por consultor internacional de re

conhe-cida competência nesta difícil maté-ria, foi incorporado neste A provei-tamento um elevador para tr anspo-sição de peixes (que funciona ainda como fornecedor de caudal ecol

ógi-co)' através do qual as espécies

migradoras anadrómicas presentes neste troço do rio - lampreia, sável e salmão - poderão continuar a ati n-gir zonas de estabulação, assim lhes

sejam recriadas condições para chegarem ao pé de jusante da

barragem. _

3. Rio Lima. Aspectos

Fisiográficos e Hidrológicos O rio Lima nasce em Espanha na serra de S. Mamede, a cerca de 950 m de altitude, e é alimentado pela lagoa de Antela. Percorre aproxi-madamen te 68 km em território espanhol, mais cerca de 3 km até à barragem de Alto Lindoso e

(6)

ESPANHA

Bacia hidrográfica do rio Lima e aproveitamentos hidroeléctricos

(Salvador), perfazendo o percurso total de 135 km ao atingir a foz, junto

de Viana do Castelo.

A bacia hidrográfica do rio Lima é nitidamente alongada; apresenta

o comprimento máximo de cerca de

150 km no sentido

nordeste-su-doeste, ao longo do qual se

desen-volve o rio, e largura decrescente

para jusante, com valor médio de 19 km.

A área da bacia hidrográfica

no Alto Lindoso é de 1 525 km2 (1 335 km2 em território espanhol), em Touvedo (Salvador), de 1 700 km2 e na foz, de 2 535 km2 .

O afluente mais importante do

Lima é o Vez, que com ele

con-flui pouco a jusante de Ponte da

Barca e cuja bacia hidrográfica, de

263 km2

, se situa inteiramente em território português.

No trecho abrangido pela albu-feira de Touvedo (Salvador), o rio Lima recebe pequenos afluentes, sendo os mais importantes os rios

Froufe, o de montante, e Tamente,

com áreas das bacias hidrográficas respectivamente de 31 e 41 km2

. As suas confluências com o Lima

localizam-se próximo de Entre

Ambos-os-Rios e distam somente

cerca de 600 m.

O rio Lima, que entra em

Portugal próximo de Lindoso, à

aI ti tu de aproximada de 260 m,

encontra-se enquadrado a norte

pela serra do Soajo e a sul pela

serra Amarela. Junto a Britelo, atinge a altitude de apenas 45 m,

ou seja, em apenas 12,5 km, o desnível é de 215 m. Este facto justificou a construção, nos anos

vinte, do Aproveitamento Hidro-eléctrico do Lindoso, utilizando urna queda de 180 m, mediante açude,

canal de derivação de 6,8 km,

condutas forçadas e central. O

velho Aproveitamento do Lindoso, embora se mantenha activo, viu a

sua importância fortemente

redu-zida pela construção do

Apro-veitamento Hidroeléctrico do Alto Lindoso, este com urna barragem

abóbada de 110m de altura, implan tada no local da antiga barragem, agora demolida, e

compreendendo um notável

con-junto de obras subterrâneas: ga-lerias e poços de carga, central e

(7)

câmaras anexas, chaminé de equi-líbrio e galeria de fuga com quase 5 km de extensão.

De Britelo até Touvedo, secção limite deste trabalho, a jusante, a

cota do leito do rio, num percurso de cerca de 7 km, diminui apenas

20 m, o que evidencia o nítido decréscimo do declive, em compa-ração com o do troço mais a mon-tante. Tal decréscimo tem

corres-pondência no aspecto do vale, com encostas progressivamente menos

abruptas e mais agricultadas.

No percurso de 47,5 km de Tou-vedo até à foz a diminuição da cota

do leito é de cerca de 20 m e o rio,

no trecho a jusante de Ponte de

Lima, em que o declive ainda se

atenua mais, atravessa uma vasta

planície aluvionar, inundável durante as cheias.

(8)

A bacia hidrográfica desenvo l-ve-se numa zona de alta prec ipita-ção: valor anual médio de cerca de

1 950 mm na bacia hidrográfica total e de cerca de 1800 mm na bacia hidrográfica entre o Lindoso e Touvedo (Salvador).

O valor do caudal médio em Touvedo (Salvador) é de cerca de

54 m3/s.

Em ano médio, os meses com

maior e menor caudal são

Feve-reiro e Agosto e os respectivos valores do caudal médio mensal

em Touvedo (Salvador) são 122 e 12 m3

/s.

Existem quatro aproveitamentos hidroeléctricos no rio Lima: Las Conchas e Salas em Espanha, com albufeiras de capacidade útil de 80 e 87 milhões de m3

, e Alto Lindoso e Touvedo (Salvador) com

albufeiras de capacidade útil de

350 e 6,5 milhões de m3

• Estas

capacidades, em face do escoa-mento anual médio do Lima O 329 milhões de m3 no Lindoso}, o

possibilitam apreciável reg

ula-rização do caudal do rio.

O caudal de ponta da cheia

milenária é estimado em 3 500 m3

/s no Lindoso e, devido ao amorteci-mento provocado nesta albufeira,

reduz-se a 3 200 m3/s em Touvedo

(Salvador).

O regime de caudais no Lima é, pois, relativamente irregular, se

bem que a irregularidade seja

uma das menores de entre as dos rios luso-espanhóis. Tal facto é devido a corresponder a respecti-va bacia hidrográfica a uma das

áreas de maior precipitação da

Península e, consequentemente, a um valor anormalmente alto do

escoamento anual médio expresso em altura uniforme sobre a bacia 0190 mm).

A elevada precipitação na zona

- média anual de cerca de 1 800 mm

na albufeira de Touvedo (Salvador) e atingindo cerca de 2 800 mm nas cabeceiras dos pequenos

aflue-tes do Lima que com ele confluem

na margem esquerda - associada à capacidade de

armazenamen-to de água assegurada pela

me-teorização profunda dos granitos, poss~bili ta a permanência de apreciáveis caudais nas linhas

de água. Este facto é patenteado pela abundância de engenhos

hidráulicos instalados em linhas de água com bacias hidrográficas

muito pequenas e pelas frequentes

levadas para a rega estival e de

lima . •

4. Rio Lima. Aspectos Geológicos O vale do rio Lima na área a que respeita este estudo tem orientação

geral nordeste-sudoeste, sendo provavelmente condicionada por falhas. Atravessa um substrato geológico que é constituído por rochas graníticas, de génese e ida -de diversas, por vezes porfirói -des, de textura variáveL de fina a grosseira.

Segundo a notícia explicativa

do respectivo levantamento geoló-gico (MOREIRA e SIMÕES 1988), trata-se essencialmente de

grani-tos sintectónicos formando aflora-mentos alongados e paralelos às estruturas regionais, sendo co

n-temporâneos da terceira fase de deformação hercínica. O vale do rio Lima atravessa uma destas

faixas, a faixa do Soajo, a quaL

juntamente com outra, situada a oeste, a faixa de Grade, "constitui

como que uma auréola de quase

todo o maciço de granito por-firóide de grão médio, do Mezio, o qual fica assim separado do granito da serra Amarela" (op. cit.,

(9)

Marmitas de gigante a jusante do açude da Curveira

Nalguns trechos do leito do Lima ocorrem marmitas de gigante

talhadas nos granitos.

Aluviões ocorrem nos trechos

terminais dos afluentes mais

importantes e no rio Lima, quer

junto das confluências com esses afluentes, quer em pequenos ban-cos e ínsuas. Trata-se de estruturas

sedimentares constituídas predo -minantemente por depósitos gros-seiros (cascalheiras), avultando elementos graníticos de grandes dimensões. Nas partes dos leitos mais abrigadas, acumulam-se

sedimentos mais finos, essencial

-mente arenosos.

É notável a importância da alte-ração dos granitos, bem eviden-ciada pela execução de socalcos

para fins agrícolas e pela exis-tência de veigas.

Os socalcos actualmente

apro-veitados ocupam, sobretudo, áreas

próximas das povoações de Entre

Ambos-os-Rios e Britelo, na mar

-gem esquerda.

As veigas mais importantes

situam-se nas áreas adjuntas

àquelas povoações, em relação

com os trechos terminais de

afluentes da margem esquerda

do Lima: rios Froufe e Tamente,

junto de Entre Ambos-os-Rios, e

ribeira de Cabaninhas junto de

Britelo . •

5. Paisagem do Vale do Lima

O rio Lima no seu trajecto por

terras portuguesas atravessa

duas grandes regiões de

carac-terísticas assaz contrastadas,

designadas, segundo a classi

-ficação e zonagem de

J.

Pina Manique e ALBUQUERQUE 1961, por Alto Portugal e Noroeste

(10)

Cismontano.

o

trajecto do rio através da primeira região, que

corresponde essencialmente à serra do Soajo e a Terras do

Lindoso, resume-se apenas a

pouco mais de 5 km. Na segunda

região e segundo o citado autor, o rio atravessa duas sub-regiões distintas: a de Anóbrega (até um ponto a sul da confluência do Vez)

e a de Ribeira-Lima (até à foz, junto de Viana do Castelo).

A paisagem idílica com que

numerosos autores caracterizam

o vale deste rio refere-se

particu-larmente à região de Ribeira-Lima.

Mesmo aqui, o troço Viana-Ponte

de Lima apresenta

caracterís-ticas diferentes do troço Ponte de Lima-Ponte da Barca. Enquanto no

Fotografia aérea vertical do Lima, a norte de Vila Chã, em 8 de Outubro de 1960. Socalcos agri-cultados na margem esquerda e incultos na margem direita. No leito observam-se, de jusante para montante, os açudes n.O 6. 7, 8. 9, 10 e 11. estando o açude n.0 9 submerso devido ao caudal elevado.

(11)

primeiro o rio se escoa plac ida-mente entre bancos de areia e

largas veigas, que contrastam com a suavidade das colinas

verde-jantes do vale, com os campos de milho e as vinhas de enforcado, no segundo o vale estreita-se, os mon-tes chegam-se ao rio e os campos agrícolas alcan tilam-se em so-calcos. Formam-se pequenos rá-pidos e multiplicam-se açudes com pesqueiras e engenhos hidráu -licos.

Mas é a montante de Ponte da Barca, e particularmente de Vila Nova de Muía, que o rio se t rans-figura. Rapidamente se impõe a grandeza serrana, adquirindo a paisagem características pro-gressivamente mais agrestes com predomínio, nas encostas alcan-tiladas, de extensas áreas de ma-tos de tojo e urze, principalmente, e de matas (pinhais e alguns euca -liptais), tornando-se os socalcos agrícolas cada vez mais raros e limitados às proximidades das aldeias, também elas de rustici-dade mais evidente à medida que se penetra na serra.

A montante do Ermelo e até à fronteira com Espanha, o Lima corre num vale muito apertado, com maior densidade de afloramentos roch o-sos, tendo praticamente desapare-cido os socalcos e existindo extensas áreas de matos espessos.

O troço do Lima objecto deste estudo situa-se precisamente a montante de Vila Nova de Muía, entre Touvedo (Salvador) e Ermelo, em terras do antigo julgado de Anóbrega. Analisando mais deti-damente a paisagem do vale fluvial neste sector, encontram-se especi -ficidades que importa realçar.

A margem direita apresenta-se muito mais agreste e menos huma-nizada que a margem esquerda. Naquela margem o mato domina

francamente as íngremes encostas, apenas se notando alguns socalcos com actividade agrícola em torno de Ermelo (única povoação nesta margem) e a nordeste de Touvedo. Muitos outros socalcos existem, em particular na margem direita, nos quais já se não faz agricultura, neles se instalando progressiva-mente matos e matas, principal-mente carvalhais.

A margem esquerda, ao con-trário, apresenta-se mais hum a-nizada se bem que denotando um ambiente pré-serrano. Nesta margem encontram-se três povoa-ções sobranceiras ao rio (Touvedo - S. Lourenço, Entre Ambos-os-Rios e Britelo) e os socalcos agrícolas ocupam uma área nitidamente mais importante, apresentando-se intercalados por manchas flo -restais de pinheiro, principalmente, e de eucalipto, nalguns locais. Neste troço, quer numa margem

(12)

Veiga ao longo da margem esquerda do Lima. próximo de Britelo. e contrafortes da serra Amarela

quer noutra, raras são as veigas e,

quando existem, resumem-se a

pequenas restingas no fundo

apertado do vale, excepto no caso da Veiga de Meães, junto de Entre

Ambos-os-Rios. Nestes campos

agrícolas, tal como nas leiras

socalcadas das encostas,

pratica--se uma sucessão cultural do

seguinte tipo: milho consociado com feijão (batata, menos frequente-mente), ferrã ou azevém.

A formação climácica vegetal era

o carvalhal (Quercetum roboris)

com espécies arbóreas, arbustivas e

herbáceas típicas do Quercion

occidentale. Esta formação vegetal era sulcada ao longo das linhas de água por formações ripícolas,

prin-cipalmente de amieiros e sal

guei-ros, e vegetação acompanhante (Alnion lusitanicum). Esta paisagem climácica foi profundamente alt e-rada pelo Homem e dela restam alguns raros carvalhais, refugiados em pregas de afloramentos e arribas não atingidas pela acção humana, e alguns corredores de extensão va-riável em que dominam o amieiro e o salgueiro (EGF 1981) . •

6. O Rio Lima na História, na Lenda e na Literatura

Vários a utores da Antiguidade Clássica se referem ao rio Lima: Estrabão designa-o por Belion e Sélico Itálico, Plínio, Tito Lívio e Pompónio Mela, por Letes e Límia.

(13)

É objecto de interesse de

autores portugueses como

Diogo Bernardes e Duarte Nu

-nes do Leão, nos séculos XVI e XVII, e Pedro Homem de Melo e Ruben Andersen Leitão, mais recentemente, mas de modo episódico.

Duarte Nunes do Leão,

autor de livros nas áreas da

história, da geografia e da

gramática, publicou em 1610 a "Descripção do Reino de Portugal, em que se trata da

sua origem, Produções, das

o

Lirn.a. rio do esquecimento. segundo a lenda

Plantas, Mineraes e Fructos ... ", de

que se transcreve na íntegra a

referência ao rio Lima.

"Ao rio Lima chamavam os

antigos de muitas maneiras: Estra -bão lhe chama Limia, e Belion, ou -tros lhes chamam pelo nome apela -tivo, flumen oblivionis, outros pela palavra grega; Letes: que queria dizer tan to como esquecimen to. A causa porque este rio houve no

-me de esquecimento não foi tirada

das fábulas dos Poetas, mas de história verdadeira, por esta razão.

(14)

Os Lusitanos Cé1ticos que habitavam as ribeiras do Guadiana e os Túrdu-los Velhos, que são os que habitavam entre o Tejo e o Douro, sendo amigos

e companheiros, como viessem a

aquelas partes de entre o Douro e o

Minho, e passado o Lima perderam

seu capitão em uma sedição que

houve entre eles, derramados por

aquela província, ficaram nela: pela qual causa se chamou aquele rio do

esquecimento. Porque esquecidos da

expedição que empreenderam, e da

sedição e discórdia que entre eles houvera, fizeram ali assento.

A verdade depois da gen te

vulgar e supersticiosa, que de tudo faz milagres, fez crer que as águas

daquele rio tinham eficácia e

virtude de fazer esquecer. Cresceu tanto esta fama e superstição, que como Júnio Bruto viesse a aquelas

partes com seu exército, e os

soldados não quisessem passar o

rio, por se não esquecerem de

tornar às suas casas, Júnio Bruto arrebatou a bandeira do alferes, e passou o rio, e assim os fez passar

como escreve Júlio Floro na

epítome a Tito Lívio. Pela qual

razão Plínio chama a este rio

fabuloso. Nasce este rio Lima de

uns lugares apau1ados entre a

cidade de Orense e a vila de Monte Rei, e toda aquela terra se chama Lima, e os povos dela Límicos."

Diogo Bernardes é considerado

em Portugal um dos maiores poetas

líricos e bucólicos do século XVI. A sua poesia é caracterizada por grande lirismo, fundado na intimi

-dade e na personificação da Natu

-reza. A evocação frequente do rio

Lima e das suas margens levou-o

a ser conhecido pelo "poeta do

Lima". Nasceu em Ponte da Barca, onde exerceu funções de tabelião. Ingressou depois nas cortes dos reis D. Sebastião e Filipe II; com a

incumbência de cantar a gesta africana, acompanhou o primeiro a Alcácer Quibir (1578), onde ficou

cativo até ao resgate. Publicou, em 1594, Várias Rimas ao Bom Jesus e,

em 1596, O Lima e Rimas Várias

- Flores do Lima. De O Lima

trans-creve-se um excerto da Écloga VII:

Junto do Lima claro, e fresco rio, Que Letes, se chamou antigamente, Num bosque d'aitos álamos sombrio

Cantava uma Ninfa alegremente,

Com voz suave, branda, e desusada Novo canto, do nosso diferente. Vindo já a branca Aurora rodeada

De nova luz, vestida d'a1egria,

De lírios, e de rosas coroada. O campo, o monte, o vale parecia

Que para festejar tão ledo canto,

De mais alegres flores se cobria. As cristalinas águas entretanto;

Do seu natural curso descuidavam, Tão cheias de prazer como d'espanto.

Bernardes descreve o "pátrio Lima, saudoso e brando" com

ri-queza pictórica e terno afecto,

como evidenciam os dois seguintes

trechos de poemas seus: O rio, que verás tão sossegado, Que te parecerá que se arrepende,

De levar água doce ao mar salgado. Um solitário vale, fresco e verde, Onde com veia doce, e vagarosa, O Vez, no Lima entrado, o nome perde.

7. Património Hidráulico

7.1. INVENTÁRIO E TIPOS DAS ESTRUTURAS HIDRÁULICAS

Na zona abrangida pela

albu-feira de Touvedo (Salvador) foram inventariadas e caracterizadas 35 estruturas hidráulicas (ou conjuntos de estruturas, como açudes, leva

(15)

-das, azenhas, moinhos e outros en-genhos), algumas das quais haviam sido recentemente demolidas.

Tal inventariação e caracterização tiveram como base a fotografia aérea

à escala aproximada de 1 :5000 e o

levantamento topográfico à escala

1: 1000, realizados em 1960 para a Electra deI Lima, bem como o levan-tamento cadastral de 1984 (apoiado na fotografia de 1960) e o reco

nhe-cimento de campo das estruturas

hidráulicas, de 1991, ambos exe -cutados pela EDP.

A fotografia aérea e o levantamento topográfico de 1960 foram de grande utilidade, nomeadamente para definir

o traçado em planta de açudes e de

levadas e a localização de bocais de

pesqueiras e de edifícios de moinhos,

azenhas, serrações de madeira e

lagares de azeite, alguns dos quais

foram entretanto demolidos ou entra-ram em acentuada degradação.

Situam-se 27 dessas estruturas no

rio Lima e oito em pequenos afluentes. A sua localização consta da figura das páginas 17 e 18 (verso) e a caract eriza-ção sumária dos Quadros 1 e 2.

Azenhas

RIO LIMA

1

l

AFLUENTES

Apresenta-se o estudo de síntese

das estruturas hidráulicas

inventa-riadas e a descrição das que são

mais relevantes, acompanhadas de

plantas topográficas e de fotografias. O estabelecimento de pesqueiras

terá sido motivo determinante ou

importante para a construção das estruturas inventariadas no rio Lima:

é o caso de 25 açudes (ou grupos de

açudes) e de dois conjuntos de traves-sões (muros transversais ocupando

parte da largura do leito). Sete desses

açudes (ou grupos de açudes) com

pesqueiras tinham ainda a finalidade

de permitir a produção de força

mo-triz, a ser utilizada em moagem de

ce-reais (azenhas e moinhos) e uma

serração de madeira, e um único

açude no Lima não tinha pesqueiras, destinando-se unicamente a accionar

uma azenha.

Dois açudes localizados em

afluentes destinam-se

exclusiva-mente a irrigação. Os engenhos

hidráulicos, em número de 17, para

produzir força motriz a utilizar com

diferentes finalidades,

distribuem--se do modo seguinte:

Moinhos Serrações de Madeira

I

T

I

_I

(16)

Número da estrutura 1 2 3 4' 5' 6' 7 8 9 lO' 11 12 13 14 IS' 16 17 18 19 20 21' 22 23 24 25' 26 27

Quadro I - Ârea da albufeira de Touvedo (Salvador) Estruturas hidráulicas inventariadas no rio LiDl.a

Estado de conservação

Descrição Outra informação

-1984 1991

-Açude em labirinto, 2 pesqueiras, 4 bocais Zona de implantação da obra Demolido

Açude em labirinto, 2 pesqueiras, 6 bocais Zona de implantação da obra Demolido

Açude múltiplo, 6 pesqueiras, II bocais. I Azenha Zona de implantação da obra Demolido

-Açude da Ramada, múltiplo, em labirinto, Desnivel da água 1,28 m Açude: razoável

2 pesqueiras, 17 bocais. Azenha Azenha: destruída Açude em labirinto, 2 pesqueiras, 8 bocais Desnível da água 0,63 m Razoável

-Açude do Gama, em labirinto, 2 pesqueiras, 6 bocais Desnível da água 0,50 m Razoável

Açude e travessões, 5 pesqueiras, 10 bocais Desnível da água 0,20 m Semiarruinado Semidestruído Açude em labirinto e travessões, I pesqueira, 4 bocais. Açude semiarruinado Açude: semidestruído Levada para o moinho a Jusante do açude n. ' 7 Desnível da água 0,80 m Moinho em ruínas Moinho: destruído Açude em labírinto, 2 pesqueiras, 6 bocais Em ruínas Destruído Açude da Várzea, em labirinto, 2 pesqueiras, 8 bocais Desnível da água 0,90 m Razoável

-Açude em labirinto, 3 pesqueiras, 8 bocais, Desnível da água 0,20 m Medíocre

(parece ter substituído o açude 30 m a jusante, em ruínas em 1984)

Açude e esporrões, 2 pesqueiras, 6 bocais Desnível da água 0,43 m Razoável

.~ Açude em labirinto e esporão. 2 pesqueiras, 4 bocais. Em ruínas Semidestruído

Levada para a serração junto ao açude n.' 12

Açude em labirinto, 2 esporões, travessão, 3 pesqueiras, Desnível da água 0,80 m Razoável

6 bocais. Levada para a serração junto ao açude n.' 12

Açude da Curveira, em labirinto, I pesqueira, Desnível da água 1,23 m Açude: razoável

5 bocais. Azenha Azenha: destruída

Açude em labirinto e esporões, 5 pesqueiras, 12 bocais Desnível da água 0,60 m Em ruínas Semidestruído Grupo de 2 açudes em labirinto, travessão Em ruínas Semidestruído e esporões, 7 pesqueiras, 18 bocais

Açude em labirinto e esporões. I pesqueira, 2 bocais. Azenha em ruínas Açude: semidestruído Levada para a azenha junto ao açude n.' 16.

-Açude em labirinto, I pesqueira, 3 bocais Desnível da água 0,20 m Em ruínas Semidestruído

Grupo de 4 açudes, 3 em labirinto e um oblíquo, Em redor de uma ínsua Azenha em ruínas Açudes: razoável o da I pesqueira, 3 bocais (l em cada açude em labirinto). margem esquerda,

Azenha junto do açude oblíquo destruídos os outros

Açude em labirinto, 3 pesqueiras, 8 bocais Desnível da água 0,43 m Semidestruído Açude em labirinto, 2 pesqueiras, 6 bocais Semidestruído

-Açude múltiplo, 2 pesqueiras, 3 bocais Em ruínas Semidestruído

Grupo de 2 açudes, I de cada lado de uma ínsua, Desnível da água 0,36 m Medíocre e travessão, 3 pesqueiras, 6 bocais (açude da margem direita)

Grupo de 2 travessões e 4 esporões na margem Em ruínas Semidestruído

esquerda, 3 pesqueiras, 12 bocais

Grupo de 2 açudes, I em labirinto com pesqueira. Semidestruído

Azenha

-Grupo de 2 travessões, 2 pesqueiras, 3 bocais Semidestruído , Incluem-se plantas topográficas e fotografias

(17)

Quadro 2 - Ârea da albufeira de Touvedo (Salvador)

Estruturas hidráulicas inventariadas nos afluentes do rio LilYla Número

da

estrutura Descrição

1 -28 Levada e serração de madeira, em pequeno

afluente da margem esquerda 1 -29 30 31' 32' 33' 34 33'

Levada e moinho da Tapada do Lobo, no no Tamente

r

-Açude no no Tamente, levada e 2 momhos Grupo de 2 açudes muito próximos no no Tamente e 2 levadas, I para Irrigação

e outra para o momho da Tábua

+

-Açude no no Tamente, levada,

momho do Coto da Ponte e lagar de azeite

Açude do Cabrão, no no Froufe, e levada para Irrigação

Açude no no Froufe, levada e momho Açude, amovível, no rIbeíro da Rebola, Junto da confluência com o Uma e momho do PICa

, Incluem-se plamas topográficas e fotografias

Outra informação

Zona de Implamação da obra Em ruínas

Em ruínas Zona de VIOdulo Estado de conservação 1984 1991 Demolido Em ruínas Demolido Levada de irrigação: abandonada; Momho: em funclonamemo Desnível da água no açude 2,80 m

Lagar de azeIte: em ruínas Medíocre

Desnivel da água no açude 2,40 m Zona de vladUio

Momho submersível pelas cheias do Lima

Bom

Momho: demolido

Bom

Água tranquila a montante e turbulenta a jusante de um açude em labirinto. construído de grande blocos graníticos justapostos

(18)
(19)

7.2. PESQUEIRAS

Pesqueiras são construções de alvenaria (seca ou argamassada) ou de madeira, executadas no leito

ou nas margens dos cursos de

água e destinadas à colocação de

aparelhos de pesca.

Muito escassa é a bibliografia

portuguesa sobre pesqueiras,

ha-vendo a assinalar os trabalhos de Baldaque da Silva 1891, de

J.

M.

Machado Cruz et a1 1987 e de

Roque Abrantes 1988.

A obra clássica de Baldaque da Silva tem um capítulo muito com-pleto sobre pesca fluvial em Portu

-gal e a publicação de R. Abrantes põe ênfase nos aparelhos de pesca, no transporte e venda de peixe e na evolução das capturas no rio Tâmega. Estes trabalhos quase nada mencionam sobre pesqueiras.

Machado Cruz e colaboradores referem-se explicitamente às pes-queiras do rio Lima, que mencio-nam encontrarem-se entre Ermelo e Carregadouro, cerca de 8 km a jusante de Ponte da Barca. Descre-vem ainda com pormenor uma pesqueira do rio Lima que compre-endia um açude e duas guaritas, cada uma com uma roda hidráu-lica com cestas para a recolha mecânica do peixe. Tal pesqueira, designada por "pesqueira

fabri-queira da Igreja de Touvedo (S.

Lourenço)", situa-se um pouco a

jusante da barragem de Touvedo (Salvador).

A roda hidráulica era constituída por quatro raios de aço solidaria-mente ligados a quatro cestas cúbi-cas, de rede metálica, abertas numa das faces. A roda era accio-nada pelo escoamento e o peixe,

Guarita para instalação do engenho de peixe da pesqueira fabrique ira da igreja de Touvedo

(20)

subindo em contra-corrente, pene-trava numa das cestas através da face aberta, sendo depois bal-deado para uma caleira que o

des-carregava num tanque, onde se

mantinha vivo. A água entrava na

guarita por uma abertura a

mon-tante, podendo o caudal ser regu

la-do por uma comporta tosca, de

madeira. Em 1987 os engenhos já

haviam sido retirados das guaritas, onde a captura passou a

realizar--se por armadilhas (CRUZ et a1

1987), situação que se mantém na actualidade.

Baldaque da SILVA 1891

classi-ficou os engenhos deste tipo como verdadeiramente notáveis, refe-rindo tê-los encontrado unicamente

nos rios Cávado e Neiva.

As pesqueiras estão, em geraL

inseridas em açudes ou são obtidas

por esporões e promontórios,

cons-tituídos por blocos de pedra, soltos

;,

4 - Caleira 5 -Tanque

ou argamassados, ou por estaca

-das de madeira.

Os promontórios, frequentes nos

rios Minho, Coura, Douro e Tejo

(Baldaque da SILVA 1891), são

estru turas ligadas à margem e

perpendiculares ou oblíquas a

esta, de modo a estreitar a secção

do rio e a aumentar a velocidade,

junto do seu extremo, favorecendo a passagem de peixe e permitindo

a captura, em geral, por meio de

nassas. Uma variedade deste tipo

de estruturas no rio Minho é

cons-tituída por uma série de postes ou poldras, dispostos transversalmente

ao rio, entre os quais se instalam

aparelhos de pesca com

arma-dilhas.

Os esporões são estruturas que

nascem junto das margens, dei

-xando, entre estas e o seu arranque,

espaço para a instalação de apa-relhos de pesca.

(21)

Açudes com pesqueiras são

frequentes nalguns rios do Norte

do País, nomeadamente nos rios

Coura, Lima, Cávado, Tâmega e

Ave, conhecendo-se ainda noutras zonas do País, nomeadamente no

Guadiana.

Aberturas nas paredes dos açu-des, com vãos de cerca de 0,70 m (por vezes prolongados por

ca-nais), ou os intervalos entre os

esporões e as margens, destinados

à instalação de aparelhos de

pes-ca, são designados por bocais ou

boqueiros .•

7.3. AÇUDES NO RIO LIMA

No trecho do Lima abrangido

pela albufeira e pelas obras

do Touvedo (Salvador) foram

inventariadas 25 estruturas que

incluem açudes (e grupos de

açudes) com pesqueiras,

per-fazendo 30 açudes, dos quais

23 têm traçado em planta em

ziguezague (ou em labirinto,

segundo terminologia hidráulica

utilizada em descarregadores).

Açudes em labirinto não são

frequentes nos rios portugueses,

com excepção do Cávado,

em-bora em muito menor número do

que no Lima.

Um único açude no trecho do

Lima abrangido pela albufeira

(do conjunto de açudes da

es-trutura nO 20) não tem pesqueiras

e cria um desnível, de cerca de

0,30 m, que era utilizado para

mover uma azenha. É de

cons-trução análoga à dos restantes

açudes daquele rio e tem planta

em labirinto.

Alguns açudes são múltiplos,

havendo-os com sucessão de três

muros, todos eles com pesqueiras,

como é o caso do Açude da

Ra-mada (Estr. n.o 4).

A altura dos açudes é pequena,

atingindo em vários casos 0,80 m

e, no máximo, cerca de 1,20 m.

Os açudes são constituídos por

blocos de granito de dimensões

apreciáveis, atingindo

frequen-temente o valor de 0,70 m, mais

ou menos arrumados, sem

arga-Roda com caixas cúbicas do engenho de

peixe, desmontada, da pesqueira da

Parede de Mia, a jusante de Ponte da Barca. A caixa cúbica, ao fundo, pertencia

à roda

massa. Os espaços entre grandes

blocos é preenchido por pedras

de menores dimensões e a

col-matação da parede do açude seria provocada pelos próprios

ma-teriais arrastados pelo

esco-amento.

Os açudes em labirinto

apre-sentam grande beleza, pelo seu

traçado caprichoso e pelos efeitos

da água, a escoar-se

tranquila-mente a montante e com acentua-da turbulência a jusante.

Nos açudes em labirinto, a

rela-ção entre o desenvolvimento do

(22)

extremos atinge um valor da

ordem de dois (açude da estrutura

n.o 10, Açude da Várzea).

Analisaram -se as condições do

escoamento para verificar em

que medida o traçado em

labi-rinto teria como objectivo

per-mitir, para iguais variações do

da estrutura n.o 10 que apresenta:

• desnível da água 0,90 m

• desenvolvimento 150 m

• distância entre os extremos 75 m

Para caudais de 200, 100, 50 e 25

m3/s (recorde-se ser o caudal médio

em Touvedo próximo dos 50 m3/s), os

Açude múltiplo da Rarn.ada. Vista geral de jusante

caudal do rio, menor variação

do nível de água a montante

do açude e, consequentemente,

menor variação da velocidade

à saída dos bocais das pesqueiras.

Tomou-se como exemplo o açude

Caudal Açude rectilíneo

(m'/5)

H(m) V (m/5)

~

200 1,31 3,53

100 0,83 3,13

I

525 0 0,52 0,33 2,2.46 68

valores da carga sobre o açude, H, e da velocidade à saída do bocal,

V (admitindo para a determinação de V que a aresta de saída do bocal

se situa 0,60 m abaixo do

coroa-mento do açude) são os seguintes:

Açude em labirinto

r

H(m) V (m/5) Ll5 3,38 0,66 2,86 0,38 2,53 0,24 2,34

(23)

Plantas de açudes em labirinto com localização dos bocais das pesqueiras. Existiam bocais em vértices do açude da estrutura n. ° 21, voltados para jusante

Bases: levantamento topográfico de 1960, levan-tamento cadastral de 1984 e correcções para os açudes das estruturas n.O 5, 6, 10 e 15 a partir da fotografia aérea de 1960 e do reconhecimento de campo de 1991

(24)

Açude da Curveira. em labirinto. Pormenor do bocal. junto da margem esquerda

A redução, quer da carga so-bre o coroamento do açude quer da velocidade à saída dos bocais das pesqueiras, não sendo muito significativa, não justifica o tra-çado em labirinto.

Os bocais das pesqueiras nos

açudes em labirinto

encontram--se quase exclusivamente l

oca-lizados nos vértices dirigidos para montante.

Este facto parece relacionado

com a maior atracção das

lam-preias para esses bocais. A

confi-guração dos açudes e a dispo

-sição dos bocais privilegiariam,

assim, a captura daquela

espé-cie, que era a de maior interesse económico.

De quatro açudes em labirinto

são apresentadas plantas

topo-gráficas e fotografias . •

(25)

Açude da Ramada (Estr. n. 4)

Açude do Gama (Estr. n. 6)

AÇUDE

De configuração labiríntico, era com -posto por vórios muros em pedra. Desnível: 1,28 m.

Finalidades: pesca e alimentação de azenha na margem direita.

Estado de conservação: razoóvel, embora danificado na zona central. PESQUEIRAS

Em número de duas, cada uma com oito e meio bocais de pesca. Ambas com a designação de "Ra-mada".

AZENHA

Dimensões em planta 8 x 5 m', com paredes em pedro.

Equipada com 1 casal de mós e sem

levada.Em avançado estado de ruína.

o 50 (m)

AÇUDE

Em pedra e com a configuração de um triângulo com cerca de 30 m de altura, mas desprovido de base. Desnível: 0,50 m.

Finalidades: pesca.

Estado de conservação: bom. PESQUEIRAS

Duas, a da margem direita com 3 bocais de pesca e a da margem esquerda com 4. Ambas com a designação de "Gama".

(26)

N.Á

AÇUDE

Um só muro em pedra, o qual

ziguezagueava quase

transversal-mente ao rio em toda a sua largura. Desnível: 0,90 m.

Finalidades: pesca.

Estado de conservação: bom.

PESQUEIRAS

Duas, com oito bocais de pesca

no total, ambas designadas por

"Várzea". Seis dos bocais de pesca

faziam parte da pesqueira da

margem direita e os restantes da da

margem esquerda.

o 50(m)

AÇUDE

Muro de pedra que se apoiava em afloramentos rochosos que emer-giam do leito do rio.

Desnível: 1,23 m.

Finalidades: pesca e alimentação de azenha na margem direita.

Estado de conservação: bom. PESQUEIRAS

Apenas uma, com cinco bocais de pesca e designada por "Curveira". AZENHA

Dimensões em planta 6,5 x 6 m',

com paredes em pedra.

Equipada com um casal de mós e

sem levada.

Já sem telhado e com paredes muito

degradadas.

o 50 (m)

(27)

Nassa instalada em bocal de pesqueira

(28)

Açude da Várzea. em labirinto. Bocal de pesqueira num vértice voltado para montante

7.4. TRAVESSÕES E ESPORÕES COM PESQUEIRAS NO RIO LIMA

Foram reconhecidos no trecho em estudo do rio Lima dois grupos de travessões (muros transversais ocupando parte da largura do lei-to) dotados de bocais de pesquei-ras (estruturas n.o 25 e 27). A mon-tante dos travessões da estrutura

n.o 25 existem também quatro

esporões, junto da margem

es-querda, inserindo-se bocais de

pesqueiras entre os esporões e a margem .•

7.5. AÇUDES EM AFLUENTES

Nos afluentes do Lima no trecho em estudo existem açudes para derivar água por meio de levadas para o accionamento de moinhos,

serração de madeira, lagar de

azeite e para irrigação.

Os açudes mais importantes

são os correspondentes à estrutura n.o 32, para o accionamento de um

moinho e de um lagar de azeite, e a estrutura n.o 33 (Açude do Cabrão), para irrigação; estes açudes têm alturas máximas, respectivamente, de 2,80 e 2,40 m. São de blocos de granito, arrumados em fiadas aproximadamente horizontais.

De todos os açudes estudados apenas o do Cabrão (estrutura n.o 33) se destinava exclusi vamen-te à alimentação de levadas de irri-gação. Situa-se próximo da povoa

-ção de Entre Ambos-os-Rios, no rio Froufe, afluente da margem es-querda do Lima. O açude é

cons-truído com blocos de granito e revestido de betão no coroamento e no paramento de montante. Junto da margem esquerda dispunha de um orifício de descarga, obturá-vel por uma adufa de madeira. Próximo do encontro da margem direita, partia uma levada, para irrigação, com cerca de 150 m .

Tratava-se de um canal escavado

em terra, empedrado e revestido de betão no troço inicial. Com este açude, que se encontra ainda em

(29)

bom estado de conservação, con-seguia-se um desnível de 2,40 m.

Dois outros açudes permitiam alimentar levadas de irrigação. Trata-se de um dos açudes do sistema da Tábua (estrutura n.o 31) e do açude de Entre Ambos-os-Rios (estrutura n.o 34), este que alimenta-va também um moinho.

Estrutura n.O 25

o

sistema da Tábua é constituído por dois açudes sobre o rio Tamen-tes, consistindo de dois muros inde-pendentes de blocos de granito, que se desenvolvem obliquamente à

corrente. O açude de montante

destinava-se a alimentar um canal de irrigação, permitindo um desní-vel da água de 0,50 m, e encontra-se em bom estado de conservação; o de jusante, provocando um desnível da água de 1,00 m, alimentava a levada de um moinho.

Quanto ao açude de Entre Am-bos-os-Rios, permitia não só a

con-dução da água através duma le-vada para um moinho localizado a cerca de 340 m, actualmente destruí-do devidestruí-do à construção de um via-duto, mas também a irrigação, com essa água, de campos agrícolas.

(30)

N.&

AÇUDE

Em pedra, embora reves-tida a betão no coroa -mento e no paramento de montante.

Possuía um orifício des

-carregador junto da

margem esquerda, obtu-rável por uma adufa de madeira.

Destinado a irrigação, pelo que apresentava uma levada.

Esta, arrancava junto do

encontro da margem direita e tinha cerca de 150 m de comprimento. Era feita em pedra e revestida a betão no troço inicial. o Desnível: 2,40 m. Estado de conservação: bom. 301m)

o

Moinho do Pica (estrutura n.o 35), ainda em funcionamento, localiza-se no Lima junto da

con-fl uência com o ribeiro da Rebola e é alimentado por uma levada. Reconhecem-se actualmente aber-turas na rocha do leito que serviam para apoio de uma estrutura de madeira, amovível, a funcionar como açude para derivar água para a respectiva levada .•

7.6. ENGENHOS HIDRÁULICOS

7.6.1. Rodas hidráulicas

Desde a Antiguidade têm sido utilizadas rodas hidráulicas para accionar mecanismos vários, como engenhos de moagem de cereais,

Açude do Cabrão (Estr. n. 33)

serrações de madeira, lagares de azeite e pisões. Os tipos básicos das rodas hidráulicas são:

• de rodízio de penas; Roda horizontal . de rodete submerso

(sistema das t urbi-nas de hélice). Roda vertical • de propulsão supe-rior, de copos; de propulsão inferior, de pás planas radiais. A roda horizontal de rodízio de penas é considerada a mais antiga. A primeira alusão a

es-te tipo de roda aparece no epi

(31)

Açude do Cabrão. Vista geral de jusante, com descarga por orifício junto da margem esquerda e levada na margem direita

cerca de 85 a.C. (OLIVEIRA et a1

1983, p. 69).

A roda vertical aparece d

es-Moinho da Tábua (Estr. n. 31)

crita, a primeira vez, por Vi trú-vio no seu tratado De

Archi-tectura, datado de 25 a .C.

AÇUDE

Dois muros em pedra, independen-tes e que se desenvolviam obliqua

-mente à corrente. Destinava-se à

irrigação (elemento de montante) e a alimentar a levada do moinho de Tábua (elemento a jusante). Desnível: 0,55 mel ,00 m respec -tivamente.

Estado de conservação: bom. MOINHO

Paredes em pedra seca e cober

-tura em telha lusa, que assenta-va em estrutura em madeira. Dimensões em planta de 3,5 x 4 m2 Equipado com um casal de mós,

possuía uma levada em terra com 34 m.

Estado de conservação: bom.

Estava apto a funcionar com pe'

quenas reparações, quando foi afectado.

(32)

A roda horizontal de rodízio de penas e a roda vertical de propulsão superior são adequadas a situações com baixo caudal, o que não

acontece com a roda vertical de

propulsão inferior (roda de rio),

impulsionada pela corrente de água acelerada por um pequeno desnível.

7.6.2. Azenhas

Foram identificadas no

tre-cho em estudo do rio Lima seis azenhas, em estado avançado de ruína. Todas teriam roda vertical de propulsão inferior, dispondo para tal de pás planas radiais.

Moinho do Coto da Ponte. Vista geral do sistema de accionamento hidráulico com rodízio de penas e seteira

As rodas verticais de propul-são superior, sendo actuadas

pelo peso da água contida nos

copos, implicam um maior

des-nível da água.

Consoante a roda seja

horizon-talou vertical, os engenhos de

moagem são designados por

moinhos ou azenhas . •

Cinco das azenhas situam-se

na margem, próximo de um dos

extremos dos açudes que cria-vam o desnível para aumento da

velocidade da corrente. Uma

úni-ca era alimentada por levada.

Os edifícios tinham paredes de

grani to aparelhadas e planta

(33)

excepção de um único (estrutura n.o 18), com a parede de montante em talha-mar.

As principais características das azenhas são as seguintes:

Número Dimensões Casais

da em planta Levada estrutura (mxm) de mós 3 7x5 1(7) Inexistente 4 8x5 I Inexistente IS 6,5 x 6 I Inexistente 18 8x5 I Levada com 230 m 20 9.5 x 9 I Inexistente 26 7.5 x 6.5 1(7) Inexistente 7.6.3. Moinhos

Os moinhos reconhecidos são em número de oito, tudo levando a crer tratar-se de moinhos com rodízios de penas (pás de ma-deira em forma de concha, dis-postas radialmente).

Desses moinhos apenas três se encontravam em bom ou ra

-zoável estado de conservação, estando dois em estado de funci o-namento.

Apenas um moinho (estrutura n.o 8) era alimentado por água proveniente do Lima, através de levada. Os restantes eram alimentados por água captada

em afluentes daquele rio, dos quais cinco se localizam no rio Tamente.

o

moinho do Pica (estrutura n.o 35) apresenta algumas parti-cularidades de realçar:

• Localizando-se no lei to de

Desnível água

Estado de conservação (m)

7 Demolida (implantação da obra)

1,28 Em avançado estado de ruína

1,23 Sem telhado, paredes muito degradadas

1,26 Só restam as fundações e uma mó

0.31 Em ruínas

0.55 Apenas se conservam as paredes :

cheia do rio Lima, foi

cons-truído de modo a resistir à

submersão, sem grandes da-nos. As paredes e a cobertu-ra são de blocos de granito, observando-se no exterior alguns gatos de ferro, para conferir maior resistência à

construção .

• A sua levada, localizada na margem esquerda do ribeiro da Rebola, era alimentada por açude, não de blocos graníticos, mas de estrutura de madeira, constituída por estacas instaladas em ori-fícios escavados na rocha do leito do ribeiro e destina-das a suportar pranchas de

madeira colocadas transver-salmente.

(34)

Apresentam-se de seguida, de modo sumário, as características

dos moinhos reconhecidos:

I

Núm: - ! Curso , - - - T Dimensões Casais da de Designação em planta de mós estrutura água (mxm) 8 Lima - 8,5 x 5,5 2 29 Tamente Tapada do 4 x 12,0 Lobo -Aquela que se encontrava mais a jusante (estrutura n.o 28) localizava-se próximo de Touvedo

Levada

Estado de conservação Construção Desenvolvimento (m)

Escavada em terra 108 Muito arruinado

- - Em ruínas em 1984 - -

- - -

- r- -30 (a) Tamente 30 (b) Tamente 31 Tamente 32 Tamente 34 Froufe 35 Rebola De cima Façamente debaixo Tábua Coto da Ponte PICO ? ? 3,5 x 4,0 r----4,5 x 4,5 7.6.4. Serrações de madeira I I I

o

reconhecimento efectuado

permi ti u identificar duas

ser-rações, em avançado estado de ruína, que utilizavam a força motriz da água.

Moinho do Pica. Vista do alçado poente

? ? Escavada em terra Escavada em terra e revestida de pedra na parte inicial Escavada em terra Escavada em rocha 39 (levada comum com 30 (b)) IDO 34 95 340 40 Demolido

(contrução de viaduto)

Demolido

(construção de viaduto)

-Razoável, com cobertura

de telha lusa

Razoável, com cobertura

de telha lusa

Demolido

(construção de viaduto)

Bom

(Salvador), tendo sido demoli-da por se encontrar na zona de

implantação do estaleiro da barragem.

Esta serração era alimentada através de levada, com 50 m de

(35)

Moinho do Pica. Vista de cima, notando-se duas aberturas: a da direita, correspondente à

levada e ao cubo: a da esquerda, correspondente ao acesso à moagem. No lado direito

observam-se duas mós

num pequeno afluente da mar-gem esquerda do Lima (ribeira da Veiga), numa secção em que a área da bacia hidrográfica era de

1,2 km2

É provável que o mecanismo da serração fosse accionado por uma roda hidráulica de rodízio de penas.

A segunda serração (estrutura n.o 13) localiza-se junto da margem

esquerda do rio Lima, um pouco a

jusante da confluência do Tamente. Era alimentada por água do Lima,

conduzida através de duas levadas: uma com mais de 200 m de

com-primento, alimentada pelo açude da estrutura n.o 14, outra, com cerca de 25 m, que partia dum pequeno açude (estrutura n.o 13).

Pelas dimensões do edifício (40 x 10 m2

), construído de blocos de granito e de que praticamente

só existem as fundações, depre-ende-se que deveria tratar-se

duma serração importante . •

7.6.5. Lagares de azeite

No decurso do reconhecimento efectuado foi possível identificar na área abrangida pela albufeira ruínas de um lagar de azeite com o sistema de moagem propulsionado por energia da água.

Encontrava-se junto do Moinho

do Coto da Ponte (estrutura n? 32) e era alimentado através da mesma

levada que este moinho que, como

atrás se referiu, captava a água do

rio Tamente a partir dum açude.

Este lagar, de dimensões em

planta de 12 x 7,5 m2

, encontra-se em avançado estado de ruína, só res-tando, praticamente, as fundações.

Desconhece-se o tipo de roda hidráulica utilizada neste engenho, mas admite-se que haja sido um rodízio de penas, à semelhança de um outro que se encontra, cer-ca de 300 m a leste da igreja de S. Lourenço (Touvedo), em estado razoável de conservação .•

(36)

Moinho do Coto da Ponte (Estr. n.O 32)

8. Aspectos etnográficos 8.1. PESCA

No trecho do rio Lima em estudo,

identificaram-se 29 açudes com

pesqueiras, alguns dos quais foram

também aproveitados para pro-dução de energia hídrica.

A espécie capturada nessas pesqueiras mais importante pelo seu valor económico é a lampreia,

com peso médio de 500 a 600 g,

ocorrendo a captura no período de 15 de Janeiro a 15 de Julho, durante

a noite e em alturas de cheia,

normalmente com os melhores

resultados entre Janeiro e Março.

Outras espécies migradoras com

in teresse económico na área em

estudo são o sável, a savelha, o salmão e a truta marisca, as quais encontravam entre Ponte da Barca e o Lindoso condições adequadas à desova; tal facto explica a exist ên-cia, até ao presente, de pesca-dores profissionais nesta zona.

"N

AÇUDE

Quase não foi afectado pelo regolfo da albufeira,

embora tenha perdido praticamente a sua utilidade. Em

pedra e de altura apreciável. Apresenta uma pequena

depressão no coroamento junto da margem esquerda que

actua como descarregador. Estado de conservação: bom.

MOINHO

Paredes em pedra seca, sendo coberto a telha lusa

que assentava sobre estrutura de madeira. Dimensões

em planta de 4,5 x 4,5 mO. Equipado com um casal de más e possuindo uma levada em terra com 95 m.

Trabalhava em regime de "maquia", ou seja, um décimo do cereal moído revertia a favor do proprietário, quando

este alugava o moinho a terceiros. Apresentava·se já

relativamente degradado a todos os níveis.

Nota: Junto do moinho era ainda possível reconhecer os

vestígios de um engenho de azeite que ali existia,

igualmente movido a água. Era alimentado pela mesma levada e possuía dimensões em planta de 1 2 x 7,5 mO.

o 50 {mi

A lampreia constituía, como se

re-feriu, o rendimento principal da

actividade piscatória e, ao mesmo

tempo, complemento da economia

agrícola da região.

Tal como noutros rios do Norte

de Portugal, a presença anual

desta espécie, que nasce no rio,

vive no mar e vem desovar nova

-mente no rio, é muito irregular: a

anos de penúria sucedem-se outros

de grande abundância.

As informações sobre a pesca no

trecho do rio Lima que interessa a

este estudo resultaram de con

-versas havidas, em Setembro de

1991 e 6 de Fevereiro de 1993, com o Sr. João Oliveira Meireles, ele

-mento da Família Adão, tradi

-cionalmente dedicada à pesca. Ele

e quatro irmãos dedicam-se àquela

actividade, actualmente apenas a

jusante da albufeira de Touvedo

(Salvador), até Carregadouro.

Antes do enchimento parcial desta

albufeira, a actividade piscatória também aí se exercia.

(37)

Aquele pescador declarou que, actualmente, as capturas são re-duzidas, consistindo em salmões (de que pescou cinco exemplares em

1992), lampreias, sáveis e savelhas

e, em maior quantidade, barbos,

bogas e escalos. De 15 de Janeiro de

1993 até à data da última conversa tinha capturado doze lampreias,

mas a melhor época corresponde

ao período desde o início de

Fe-vereiro até meados de Abril.

Segundo referiu, a principal causa para a redução das capturas deve-se à estacada feita no Lima a partir de 1 de Janeiro de cada ano,

a qual, presentemente, ocupa

ile-galmente toda a largura do leito, retendo, assim, quase todo o

pei-xe, à excepção de savelhas, que

passam através das malhas. Por

esse motivo, os pescadores

pre-tendem o rio aberto (sem estacada) três dias por semana.

A informação sobre a

quanti-dade das capturas de lampreia nas

pesqueiras dos açudes do Lima

é escassa (EGF-SAGE 1991). Assim,

foi complementada pela respeitante

às pesqueiras de Oleiros, no rio

Tâmega, prestada pelo proprietário em 1984 (ABRANTES 1988, p. 142):

"Foi há cinco anos, em 1979, a

última época das grandes

pes-carias. Fora um ano de seca, o

caudal ia fraco e entre Fevereiro e

Março apanharam-se umas 600 a

700 unidades. Há 7/1 O anos a média

de capturas, por temporada,

si-tuava-se à volta de 1000 lampreias

sendo este número mais elevado

em anos anteriores; há cerca

de 15/20 anos capturavam-se

fre-quentemente em certas noites

100/150/200 exemplares. A pescaria

mais abundante de que tem

memória (. .. ) deu-se há trinta anos pois numa só noite 800 lampreias ficaram nas pesqueiras de Oleiros".

A exploração de pesqueiras

efectuava-se directamente pelos

proprietários ou arrendatários que

pagavam em espécie ou dinheiro.

As pesqueiras estavam registadas

nas câmaras municipais e os

pro-prietários tinham obrigatoriamente

de possuir licença de pesca,

passa-da pelos Serviços Hidráulicos e,

mais tarde, pela Direcção-Geral de Florestas.

A existência de pesqueiras e

a concessão da sua exploração

em rios portugueses estão docu

-mentadas desde a Idade Média.

A exploração de pesqueiras no rio Tâmega está comprovada em per -gaminhos de 1 de Abril de 1429 e de 10 de Janeiro de 1430 (documen-tos 346 e 348, NEVES 1980). No mesmo sentido indica o documento

207 (NEVES 1980), correspondente à carta de coutada de quatro poços e pesqueiras no rio Panha, julgado

de Sanfins, onde se capturavam

bogas e trutas, concedida ao

mosteiro de S. João de

Alpen-durada, de 26 de Setembro de 1386.

Os documentos 346 e 348 nada

referem relativamente às

constru-ções para o estabelecimento das

pesqueiras no rio Tâmega; o do

-cumento 207 menciona que, no rio

de Panha, alguns lavradores «têm feito pesqueiras aparedadas de paredes em que lançam suas redes e armadilhas».

Para a captura da lampreia

utilizavam-se diversos aparelhos,

além de redes. As nassas são

armadilhas ainda hoje utilizadas a jusante de Touvedo. Tanto o arco

como as três tendilhas são de

madeira de castanho, sendo o

primeiro vergado ao fogo e even -tualmen te reforçado a chapa zincada.

A rede é constituída por dois sacos de fio de nylon, o exterior, denominado pano da rede, e o

(38)

-Nassas

damente amarrados à estrutura de madeira, sendo o saco exterior ar-mado interiormente pelos arqui-nhos, aros circulares em verguinha de ferro, forrados a mangueira plástica, ou de ramos flexíveis de

salgueiro. A forma geral corres-ponde a uma superfície fusiforme, com o vértice correspondente à intersecção das três tendilhas.

O saco interior, de forma a

funila-da, possuía uma boca pela qual as

lampreias, nele entradas, passa-vam para o saco exterior.

As nassas eram colocadas nos bocais de pesca, com as aberturas voltadas para jusante. Dessa for-ma, as lampreias, ao atingirem a parede do açude, acorriam aos respectivos bocais, sendo captura-das ao ultrapassarem a abertura do busso que dá entrada para o pano da rede. Em virtude da ten-dência que têm em progredir

contra a corrente e da forma afunilada do busso, não eram susceptíveis de voltar a sair da armadilha.

O Sr. João Meireles referiu na conversa havida que "a lampreia se orientava melhor" para os bocais localizados nos vértices dos açudes voltados para montante. Nos vérti-ces voltados para jusante coloca-vam-se nassas, mas só com o saco exterior, desprovidas, portanto, do busso, nas quais, por vezes, caíam sáveis e outros peixes empurrados pela corrente. Tais aparelhos designam-se, na região em estudo, por tesouras.

Tanto as nassas como as tesou-ras eram fixadas ao bocal das pes -queiras com a ajuda de um varão de ferro maciço, ou de vara de madeira, disposta transversal -mente ao bocal e na parte superior deste.

(39)

2 3

5 4 Constituição da nassa

As nassas utilizadas nas

pes-queiras de Oleiros, no rio Tâmega,

poderiam reter de 30 a 40 lampreias

(ABRANTES 1988).

Em virtude da malhagem ser

apertada, as nassas capturavam

também peixes pequenos, que na

altura estão no defeso, pelo que o seu

uso nem sempre foi autorizado. Tais

espécies, cujo interesse económico é

muito menor, são o barbo, o escalo, o

sável e a savelha. Para a captura

destas espécies utilizavam-se no

Lima, essencialmente, redes de dois

tipos: o tralho, arte de pesca para

peixes grandes e pequenos,

cons-tituída por três panos de rede

sobre-12 2 1 -Arco 2 -Tendilha 3 -Pano da rede 4 -Arquinho 5 -Busso

postos e com malhas de diferentes

dimensões, e a esgana, arte para

peixes de pequeno tamanho e

cons-tituída por um único pano de rede.

Em conclusão, a pesca no Lima

utilizando as pesqueiras está em

franco declínio, desaparecendo

a pouco e pouco, como já CRUZ et a1

1987 assinalaram. Além das causas

apontadas, a própria legislação em

vigor prevê a modificação e mesmo

a destruição destas estruturas

hidráulicas (Decreto-Lei n° 44623, de

10 de Outubro de 1962).

Actual-mente não se verificam concessões

de novas licenças, à medida que as

existentes vão caducando .•

3 -Travessa

4 - Pedra de apoio laleral

S -Soleira

Referências

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