• Nenhum resultado encontrado

Experiência de requalificação urbana e preservação do patrimônio edificado de São Paulo

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Experiência de requalificação urbana e preservação do patrimônio edificado de São Paulo"

Copied!
145
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

EXPERIÊNCIA DE REQUALIFICAÇÃO URBANA E

PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO EDIFICADO DE

SÃO PAULO

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM CIÊNCIAS DA CULTURA

RENATA RODRIGUES BUENO DE OLIVEIRA

Orientador: Prof. Doutor Fernando Moreira

(2)
(3)

III

UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

EXPERIÊNCIA DE REQUALIFICAÇÃO URBANA E

PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO EDIFICADO DE

SÃO PAULO

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM CIÊNCIAS DA CULTURA

RENATA RODRIGUES BUENO DE OLIVEIRA

Orientador: Prof. Doutor Fernando Moreira

(4)
(5)

V

Este trabalho foi expressamente elaborado como dissertação original para efeito de obtenção do grau de Mestre em Ciências da Cultura na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

(6)
(7)

VII

RESUMO

O intuito deste trabalho é suprir a carência de investigação científica vinculada à aplicação projetual, através da união de três frentes: inicialmente especulações teóricas, posteriormente, exercício prático através de um redesenho de quadra, e por fim, descrição dos dados coletados referentes à área, no caso, o centro da megalópole São Paulo, no contexto contemporâneo. Assim, este trabalho propõe, através de um recorte da cidade de São Paulo, e levando-se em conta seu patrimônioedificado e sua preservação, que em muitos casos correm desconexos do desenvolvimento econômico, especular características presentes em geral na megalópole, como ausência de permanência, de convívio e identidade, em que se predomina a sensação de área de passagem, e de fluxo; permitindo apresentar, através de um amparo multidisciplinar, uma proposta de requalificação urbana atual e viável.

(8)
(9)

IX

ABSTRACT

The aim of this work is to supply the lack of scientific research linked to the application projetual through the union of three fronts: first, theoretical speculations, later, practical exercise through a redesign of the court, and finally, a description of the data collected regarding the area in this case, the center of the megalopolis São Paulo, in the contemporary context. Thus, this paper proposes, through a clipping of the city of São Paulo, and taking into account its built heritage and its preservation, which in many cases run unconnected economic development, speculate features present in general, in the megalopolis, as the absence of permanence, socializing and identity, in which the predominant feeling of crossing area, and flow, allowing present, through a multidisciplinary support a proposed urban renewal current and viable.

(10)
(11)

XI

ÍNDICE GERAL

RESUMO ... VII ABSTRACT ... IX ÍNDICE GERAL ... XI ÍNDICE DE TABELAS ... XV ÍNDICE DE FIGURAS ... XVII

1. ESPECULAÇÕES DO ESTUDO ... 1

1.1. INTRODUÇÃO... 3

1.2. APRESENTAÇÃO DE SÃO PAULO ... 5

1.3. “(ARQUITETURA) URBANISMO É UMA DISCIPLINA ESTÉTICA QUE AVANÇA PARA O CAMPO POLÍTICO” (GIULIO CARLO ARGAN) ... 7

1.4. FALTA DE INTIMIDADE COM A CIDADE ... 8

1.5. A QUESTÃO CENTRAL: O CENTRO EM QUESTÃO... 10

1.6. TOMBAR OU DERRUBAR? ... 13

1.7. AOS FLUXOS, MAIS FLUIDEZ ... 15

2. UMA IDEIA PARA SÃO PAULO ... 19

2.1. ESTUDO DE CASO ... 21

2.2. OBJETIVOS DO PROJETO ... 24

2.3. PROPOSTAS ... 24

2.3.1. INTERESSE VISUAL PELA AVENIDA PRESTES MAIA ... 24

2.3.2. ADENSAMENTO ... 25

2.3.3. PERMEABILIDADE ... 26

2.3.4. COMÉRCIO E CULTURA ... 27

2.3.5. HISTÓRIA E ARQUITETURA... 27

2.3.6. VIDA NOTURNA ... 28

(12)

XII

3.1. ÁREA DE INTERVENÇÃO - DELIMITAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ... 33

3.1.1. TOPOGRAFIA ... 33

3.1.2. RECURSOS HÍDRICOS ... 34

3.1.3. COBERTURA VEGETAL ... 34

3.1.4. USO E OCUPAÇÃO DO SOLO ... 35

3.1.5. SISTEMA VIÁRIO E DE TRANSPORTE ... 36

3.1.6. ZONEAMENTO ... 37

3.1.7. FLORA ... 38

3.1.8. INFRAESTRUTURA E SANEAMENTO ... 39

3.1.9. POPULAÇÃO ... 39

3.1.10. ANEXO COM DISPOSITIVOS LEGAIS ... 40

3.1.11. ÂMBITO ESTADUAL ... 41

3.1.12. ÂMBITO MUNICIPAL ... 44

3.2. O PROJETO ... 49

3.2.1. ZONA E CATEGORIA DE USO ... 49

3.2.3. ÁREA CONSTRUÍDA ... 49

3.2.4. ÁREA PERMEÁVEL ... 49

3.2.5. VAGAS PARA ESTACIONAMENTO ... 50

3.2.6. DESENVOLVIMENTO DA IMPLANTAÇÃO ... 50 3.2.7. ACESSOS E CIRCULAÇÃO ... 51 3.2.8. POPULAÇÃO USUÁRIA ... 51 3.3. ÁREA DE INFLUÊNCIA ... 52 3.3.1. GEOMORFOLOGIA ... 53 3.3.2. HIDROGRAFIA ... 55 3.3.3. GEOLOGIA E SOLOS ... 56 3.3.4. CLIMA ... 58

(13)

XIII

3.3.4.1. CARACTERIZAÇÃO CLIMÁTICA DA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO

PAULO ... 59

3.3.4.2. UNIDADES CLIMÁTICAS NATURAIS ... 60

3.3.4.3. COMPORTAMENTO DOS ELEMENTOS ATMOSFÉRICOS ... 63

3.3.4.4. CIRCULAÇÃO DOS VENTOS ... 63

3.3.4.5. CONDICIONANTES BIOCLIMÁTICAS ... 64

3.3.4.6. UNIDADES CLIMÁTICAS URBANAS ... 67

3.3.4.7. A UNIDADE CLIMÁTICA URBANA CENTRAL ... 69

3.3.5. QUALIDADE DO AR ... 71

3.3.6. RUÍDO DE FUNDO E VIBRAÇÕES ... 72

3.3.7. VEGETAÇÃO ... 73

3.3.7.1. VEGETAÇÃO NATIVA NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO ... 73

3.3.7.2. VEGETAÇÃO FLORESTAL ... 73

3.3.7.3. VEGETAÇÃO CAMPESTRE ... 73

3.3.7.4. SISTEMA DE ÁREAS VERDES ... 74

3.3.7.5. PLANO DIRETOR ESTRATÉGICO ... 75

3.3.8. INFORMAÇÕES ANTRÓPICAS ... 77

3.3.8.1. CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA DA ÁREA CENTRAL ... 77

3.3.8.2. DINÂMICA POPULACIONAL ... 78

3.3.8.3. HABITAÇÃO ... 81

3.3.8.4. EMPREGO E RENDA ... 85

3.3.8.5. ESCOLARIDADE ... 87

3.3.8.6. CARACTERIZAÇÃO DO SETOR EMPRESARIAL... 89

3.3.8.7. ANÁLISE COMPARATIVA DOS SETORES ... 89

3.3.8.8. O OUTRO LADO DA AVENIDA ... 90

3.3.8.9. COMÉRCIO INFORMAL ... 90

(14)

XIV

3.4.1. SÍNTESE DA FRAGILIDADE AMBIENTAL DA ÁREA ... 91

3.4.2. IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DOS IMPACTOS... 91

3.4.2.1. IMPACTOS DA FASE DE PLANEJAMENTO... 91

3.4.2.2. IMPACTOS DA FASE DE IMPLANTAÇÃO ... 92

3.4.2.3. IMPACTOS DE FASE DE PÓS-IMPLANTAÇÃO ... 93

3.5. PROPOSIÇÃO DE MEDIDAS MITIGADORAS ... 95

3.5.1. ORIENTAÇÕES PARA MINIMIZAR O IMPACTO NEGATIVO DAS OBRAS ... 95

3.5.1.1. MOBILIZAÇÃO DE MÃO DE OBRA ... 96

3.5.1.2. COLOCAÇÃO DE TAPUMES E SINALIZAÇÃO ... 96

3.5.1.3. CONTROLE DA POLUIÇÃO SONORA ... 97

3.5.1.4. CONTROLE DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA ... 97

3.5.1.5. CONTROLE DA CONTAMINAÇÃO DE SOLOS E ÁGUA ... 98

3.5.1.6. COLETA E DISPOSIÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS ... 98

3.5.1.7. PROTEÇÃO DOS SISTEMAS DE DRENAGEM ... 98

3.5.1.8. MINIMIZAÇÃO DE INTERFERÊNCIAS NO TRÁFEGO ... 99

3.5.2. DESAPROPRIAÇÕES, REMOÇÕES E REASSENTAMENTOS DE POPULAÇÃO ... 99

3.5.5. EDUCAÇÃO SOCIAL, SANITÁRIA E AMBIENTAL ... 102

3.5.6. GERAÇÃO DE TRABALHO E RENDA ... 103

3.6. PROGRAMA DE ACOMPANHAMENTO E MONITORAMENTO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS ... 103

3.6.1. PRINCÍPIOS E DIRETRIZES ... 104

3.6.2. ESTRUTURA DO PLANO DE GESTÃO AMBIENTAL URBANA ... 105

3.6.3. GESTÃO SOCIOAMBIENTAL URBANA ... 106

3.6.4. CRONOGRAMA FÍSICO-FINANCEIRO ... 107

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 109

(15)

XV

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 - Critério de Avaliação para ambientes externos, em dB(A) ... 72

Tabela 2 - Níveis de Ruídos para Conforto Acústico em dB(A) ... 72

Tabela 3 - População residente, por faixa etária - distrito da Sé ... 79

Tabela 4 - Evolução populacional por faixa etária ... 80

Tabela 5 - Distribuição da população por faixa etária e sexo na área ... 81

Tabela 6 - População residente por categoria de domicílio, por setor censitário ... 82

Tabela 7 - População residente por espécie de domicílio e tipo de domicílio particular permanente - DR-Sé ... 83

Tabela 8 - Domicílios particulares permanentes, por condição de ocupação do domicílio ... 83

Tabela 9 - Domicílios permanentes por forma de abastecimento de água ... 84

Tabela 10 - Domicílios permanentes por existência de banheiro ou sanitário e tipo de esgotamento sanitário ... 85

Tabela 11 - Domicílios particulares permanentes, por destinação do lixo ... 85

Tabela 12 - Número de moradores por classe de rendimento do chefe da família e número de domicílios ... 86

Tabela 13 - Índice de exclusão/inclusão em relação à renda média familiar ... 87

Tabela 14 - População alfabetizada por grupo de idades ... 88

(16)
(17)

XVII

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Referência aos “Fluxos Urbanos” citados acima, ilustração retirada de S, M, L, XL; de

Rem Koolhaas ... 4

Figura 2 - Referência aos “Fluxos Urbanos” citados acima; fotografia do filme Metrópolis, de Fritz Lang ... 5

Figura 3 - Referência a “Fragmentação e Descontinuidade” citadas acima; ilustração de Blue Poles: Number 11, obra de Jackson Pollock ... 6

Figura 4 - Referência ao ex-prefeito Prestes Maia, como curiosidade; ilustração do plano mirabolante de avenidas idealizado por Prestes Maia para São Paulo, extraído do livro São Paulo, de Raquel Rolnik ... 7

Figura 5 - Referência à “dificuldade de fluidez urbana” citada acima; ilustração sem nome extraída de S, M, L, XL, de Rem Koolhaas ... 10

Figura 6 - Ilustração do Museu Judaico, em Berlim, obra de Daniel Libeskind ... 14

Figura 7 - Referência aos “Fluxos Invisíveis” citados acima. Ilustração retirada de S,M,L,XL, de Rem Koolhaas ... 16

Figura 8 - Referência aos “Fluxos de Poder” citados acima. Ilustração retirada de S,M,L,XL, de Rem Koolhaas ... 16

Figura 9 - Referência aos “Fluxos Conturbados” citados acima.Ilustração da obra Number 32, de Jackson Pollock ... 17

Figura 10 - Ilustração da área de estudo no contexto urbano. S/esc... 22

Figura 11 - Ilustração da demarcação da área de estudo no corredor Prestes Maia ... 23

Figura 12 - Perspectiva ilustrando proposição para a Avenida Prestes Maia e interior da quadra... 25

Figura 13 - Perspectiva ilustrando proposição para a Avenida Prestes Maia, com as respectivas cores dos usos propostos ... 26

Figura 14 - Perspectiva ilustrando proposição para o interior da quadra, com as respectivas cores dos usos propostos ... 26

Figura 15 - Perspectiva ilustrando proposição para o interior da quadra e as passarelas dos edifícios vagões ... 27

Figura 16 - Perspectiva ilustrando proposição para a fachada tombada, visão pela Rua Florêncio de Abreu ... 28

(18)

XVIII

Figura 18 - Visão para a Avenida Prestes Maia pelo Viaduto Santa Ifigênia ... 33

Figura 19 - Visão da Rua Carlos de Sousa Nazaré vê-se a Rua Florêncio de Abreu ao alto, como passarela ... 34

Figura 20 - Ilustração do Vale do Anhangabaú já reformulado ... 35

Figura 21 - Uso e ocupação do solo. S/esc. ... 35

Figura 22 - Visão do trânsito da Avenida Prestes Maia e Rua Carlos de Sousa Nazaré ... 36

Figura 23 - Visão da Rua Florêncio de Abreu... 37

Figura 24 - Eixos Notáveis – Fluxos. S/esc... 37

Figura 25 - Gabarito de altura. S/esc. ... 38

Figura 26 - Visão aérea em que se vê os focos verdes, predominantemente no Mosteiro São Bento.. 38

Figura 27 - Visão dos Pedestres na calçada da Avenida Prestes Maia ... 39

Figura 28 - Ilustração da relação dos automóveis e pedestres na Rua Carlos de Sousa Nazaré ... 40

Figura 29 - Visão do Mosteiro São Bento ... 41

Figura 30 - Visão do Colégio e Mosteiro São Bento, Edifício Banespa, Edifício Martinelli, painéis de Tomie Ohtake na Praça São Bento ... 43

Figura 31 - Visão da Rua Florêncio de Abreu... 43

Figura 32 - Zoneamento e Uso do solo – Estado de conservação. S/esc. ... 45

Figura 33 - Visão da fachada tombada na Rua Florêncio de Abreu ... 46

Figura 34 - Valor histórico-arquitetônico - Tombamento. S/esc. ... 47

Figura 35 - Vista da Rua Florêncio de Abreu no final do século XIX. No fundo o Mosteiro São Bento ... 48

Figura 36 - Exemplo de piso em mosaico português para as praças e calçadas. Permeabilidade na junção das pedras... 49

Figura 37 - Proposta de implantação – Novo uso do solo. S/esc. ... 50

Figura 38 - Perspectiva ilustrando proposição para a Avenida Prestes Maia e interior da quadra... 51

Figura 39 - Visão da área e do entorno imediato. ... 52

Figura 40 - Ilustração dos compartimentos geomorfológicos originais da área central de São Paulo . 55 Figura 41 - Visão da área de projeto ... 58

(19)

XIX

Figura 43 - Ilustração da variação de temperaturas. Estimativa de Variação Horária de Temperatura e Umidade em São Paulo ... 65 Figura 44 - Ilustração das unidades climáticas urbanas ... 69

(20)
(21)

1. ESPECULAÇÕES DO ESTUDO

EXPERIÊNCIA DE REQUALIFICAÇÃO URBANA E PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO EDIFICADO DE SÃO PAULO

(22)
(23)

1. ESPECULAÇÕES DO ESTUDO

3

1. ESPECULAÇÕES DO ESTUDO

1.1. INTRODUÇÃO

As cidades atuais têm sido matéria de diversas especulações. Nunca antes se havia imaginado megacidades como São Paulo com 19 milhões de habitantes. Em um momento em que pairam as incertezas conceituais sobre o papel da arquitetura com o colapso do Movimento Moderno e de seu derivativo Pós-moderno1, há quem pregue até mesmo o fim do desenho

urbano, como se vê, por exemplo, em Urbanismo em Fim de Linha (1998) de Otília Arantes. Porém, mesmo frente a essa oscilação, nota-se que há em várias cidades do mundo concepções urbanas positivas, como aponta Carlos Leite de Souza:

(...) Constata-se a presença crescente de uma certa “arquitetura urbana”, em várias cidades do planeta, sob uma abordagem pragmática frente às diversas demandas urbanas atuais. Arquitetos contemporâneos têm realizado projetos urbanos em várias metrópoles: de Renzo Piano e Jean Nouvel à Rem Koolhaas e Daniel Libeskind. Urbanistas, como Nuno Portas, Jordi Borja ou Joan Busquets, têm apresentado suas idéias de como pensar e intervir nas cidades globais. (Souza 2002: 15)

Portanto, constata-se que profissionais da atualidade lançam mão de conceitos e têm apresentado planos e gestões estratégicos, estruturação do território, ações locais etc que possam viabilizar a reestruturação do espaço urbano. Vários têm também colocado em prática tal ideário - de Barcelona a Puerto Madero, através da recuperação de áreas portuárias e centrais deterioradas em metrópoles europeias e americanas. Berlim é o caso de maior porte e o Projeto Eixo Tamanduateí, em Santo André, por enquanto única experiência nesta escala em São Paulo; Curitiba e Rio de Janeiro também têm realizado nas últimas décadas um trabalho contínuo de recuperação dos espaços públicos bastante precioso.

Desenvolvidos para reconstruir a cidade contemporânea fragmentada, os projetos têm procurado dar respostas concretas às áreas residuais e às novas demandas atuais: a cidade polinucleada, as áreas periféricas, a anticidade, os novos fluxos urbanos, os grandes

1 Movimento Moderno foi o nome atribuído a um conjunto de manifestações culturais que dominaram o cenário das artes

durante as décadas de 10 a 50 do século passado. Movimento Pós-moderno foi a resposta vinda a seguir, e cujas características predominantes são pluralismo, simbolismo e ironia, em contrapartida ao estilo mais racionalista resultado do processo industrial e do período de guerras das décadas anteriores.

(24)

1. ESPECULAÇÕES DO ESTUDO

4

catalizadores urbanos, as “deseconomias urbanas”. Enfim, realiza-se o desenho da cidade contemporânea.

Figura 1 - Referência aos “Fluxos Urbanos” citados acima, ilustração retirada de S, M, L, XL; de Rem Koolhaas

Portanto, dentro desse contexto deve-se, ainda e urgentemente, contribuir através de mais estudos de caso sobre nossa metrópole São Paulo, única megacidade brasileira, para que esta não seja suprimida dos desenhos urbanos da atualidade, como aponta Souza:

(...) Estamos presenciando a realização teórica e prática da “arquitetura metropolitana”. Em um momento onde as informações são fragmentadas e efêmeras, parece-nos urgente fazer a discussão dessas abordagens e fazer a análise reflexiva desses estudos de caso, sob o risco de vermo-nos, no Brasil, novamente, à margem da arquitetura global. (Souza

(25)

1. ESPECULAÇÕES DO ESTUDO

5

Figura 2 - Referência aos “Fluxos Urbanos” citados acima; fotografia do filme Metrópolis, de Fritz Lang

1.2. APRESENTAÇÃO DE SÃO PAULO

São Paulo é uma metrópole impregnada de resíduos urbanos em sua área central, em que o abandono de funções e usos conduziu a um declínio cujo limite parece ser o desaparecimento dos atributos urbanos e dos espaços públicos.

Neste quadro de anticidade, qual a abordagem possível para a São Paulo de início de milênio? Milton Santos (1994: 15-20) aponta para um território fragmentado construído por vazios urbanos historicamente deixados para uma população sem qualquer infraestrutura urbana - de água, luz e asfalto a equipamentos culturais, educacionais e artísticos.

Segundo Raquel Rolnik (2001: 48-52) São Paulo é uma cidade cujo território de 70% da mancha urbana é, na verdade, a cidade nunca legalmente traçada ou mapeada na geografia oficial, uma cidade irregular, clandestina, e cujo restante, 30%, foi construído em áreas geograficamente privilegiadas, com a máxima preocupação urbanística, sempre sob administrações políticas que, desde o nascer da metrópole, foram regidas por interesses restritos, e voltadas à troca de favores e oportunidades.

O centro de São Paulo, assim como o centro de qualquer cidade, carrega a trajetória histórica da cidade, as raízes de desenvolvimento e ele próprio. Nos anos 30 do século passado, a preocupação era criar tramas viárias que organizassem e estruturassem o centro, para atender o crescimento industrial e a crescente circulação de pessoas por essa condição. Nos anos 60, a

(26)

1. ESPECULAÇÕES DO ESTUDO

6

ideia era fazer projetos urbanos de grande escala e incorporações de praças nas travessias estratégicas.

Com a vinda do automóvel ao país nas décadas anteriores, juntamente com sua supervalorização pela elite, e pela implantação de transporte de ônibus no centro metropolitano, houve um abandono de investimentos na área central pelo setor público devido à crescente diminuição de interesse da elite, que se deslocava por transporte individual para outras regiões da cidade. Para o motorista, São Paulo nesse momento era um espaço contínuo e inteligível, para o pedestre, um espaço fragmentado e de descontinuidade.

Figura 3 - Referência a “Fragmentação e Descontinuidade” citadas acima; ilustração de Blue Poles: Number 11, obra de Jackson Pollock

São Paulo aos poucos era transformada na trama abstrata e sem clareza espacial que é hoje. Dos anos 50 até os 80, o crescimento metropolitano foi acelerado; de um lado planejamento liberal, predatório em relação ao sistema viário e tecido urbano e, de outro, um planejamento centrífugo territorialmente. O resultado é a cidade que se sente hoje: da segregação física, da injustiça social, economicamente anárquica, culturalmente miserável, e quase ingovernável. Dificilmente se vê qualidade, intercâmbio e diversidade. O ideal seria a dialética entre centralidade e mobilidade, na qual estariam inclusos oportunidades, integração, acessibilidade, referências e símbolos, multifuncionalidade, identidade e orgulho.

(27)

1. ESPECULAÇÕES DO ESTUDO

7

1.3. “(ARQUITETURA) URBANISMO É UMA DISCIPLINA ESTÉTICA QUE AVANÇA PARA O CAMPO POLÍTICO” (GIULIO CARLO ARGAN)

A Arquitetura sempre foi caracterizada por mobilizações conceituais e influenciada fortemente pela participação e gestão política. Arquitetura greco-romana, arquitetura medieval, arquitetura moderna, arquitetura contemporânea são alguns exemplos. Hoje se vê claramente a expansão dos chamados “discursos-obras”, por exemplo, mas para os quais alguns críticos apontam como um erro, já que o que importa não é a especulação teórica sem fim, mas o espaço caracterizado como ferramenta, e acusam a construção que, de tão teórica, intimida o principal objetivo, o usuário comum.

Figura 4 - Referência ao ex-prefeito Prestes Maia, como curiosidade; ilustração do plano mirabolante de avenidas idealizado por Prestes Maia para São Paulo, extraído do livro São Paulo, de Raquel Rolnik

É a sociedade que elege o sucesso da boa arquitetura, a sociedade inserida no contexto urbano onde, às vezes, da noite para o dia, pela especulação teórica e interesses de um grupo ou pessoa, nasce uma nova construção ou redesenho de quadra que modifica, inevitavelmente, todo seu modo de vida. Um exemplo próximo, alinhado à área de projeto, é o Vale do Anhangabaú2, caso típico de idealização não compatível com o bom resultado.

2 Espaço público no centro de São Paulo caracterizado como praça, onde há frequentemente apresentações populares,

(28)

1. ESPECULAÇÕES DO ESTUDO

8

Para um projeto que veio de concurso público, com a participação de 155 equipes, esta região não deveria continuar com problemas.

Apesar do nivelamento topográfico do Vale, as transposições através dos Viadutos do Chá e Santa Ifigênia continuam sendo comparativamente mais utilizadas, mantendo a mesma situação que tinha na época das plantações de chá, quando carregava o fardo de ser uma forte barreira geográfica entre o centro velho e o novo. Apesar também do grande gasto e investimentos, continua ainda hoje no Vale do Anhangabaú a alta incidência de enchentes pela falta de áreas verdes para drenagem, além da configuração produzida por seu desenho arquitetônico que compromete sobremaneira a ligação axial interessante que havia com a Rua São João.

Na mesma região, a Avenida Prestes Maia, como no passado em relação ao rio existente no local, constitui-se em uma barreira geográfica que a torna desinteressante aos investimentos, pois as construções são executadas com as “costas” voltadas para esta via. Conclui-se que não houve pensamento de um todo, pois realizou-se um espaço ineficiente, composto de uma grande laje que tão somente atende a um corredor de veículos, separando-os dos pedestres, mas que, felizmente, resultou em um forte instrumento motivacional relacionado a projetos urbanos como a Operação Urbana Centro e o Programa Monumenta, que estão, inevitavelmente, dentro do âmbito político.

1.4. FALTA DE INTIMIDADE COM A CIDADE

Atualmente, as cidades carregam vários problemas como o péssimo meio ambiente, o gigantismo das construções e bairros, privatização da vida coletiva, a exemplo do carro particular, fragmentação centrífuga (veja-se, como exemplo, a região de Alphaville), destruição dos patrimônios históricos pelo turismo predatório e superexploração, lugares mal conhecidos pelos próprios cidadãos além da injustiça social, observada através da disparidade de oportunidades.

Como herança das tentativas do CIAM - Congresso Internacional de Arquitetura Moderna - as cidades, pela falta de disposição variada e inter-relacionada entre os edifícios, configuraram-se sem os elementos que mexem com os sentidos do homem, como: curiosidade, surpresa, intimidade, mistério e proteção.

reconfiguração da área cujo projeto vencedor propôs a criação de uma grande laje sobre as avenidas existentes no local com a capacidade de ligar os dois lados do Vale, e remodelando áreas verdes entre os viadutos do Chá e Santa Ifigênia.

(29)

1. ESPECULAÇÕES DO ESTUDO

9

Os poucos e grandiosos edifícios públicos, e entre eles os vazios urbanos onde, muitas vezes, estátuas substituem as pessoas, como no MUBE3 ou no Memorial da América Latina, ou

as praças encarregadas de servir como terminais de ônibus e/ou embarque-desembarque de passageiros, como Largo Paissandu ou Praça Patriarca, produzem um vazio físico, uma total ausência de espaço agradável ao ser humano, escasso de áreas verdes e de convivência, fundamentais para que a cidade respire.

A cidade deveria ser desenvolvida segundo uma adequada ordenação, priorizando os espaços coletivos, as praças, as ruas com seus cochichos, conversas, bate-papos, passeios, ficando em segundo plano os edifícios propriamente ditos, com o caráter de abrigo e intercâmbio.

As ruas hoje mais parecem vias expressas, estradas, que promovem guetos, aumentam distâncias e multiplicam congestionamentos. Segundo Jordi Borja4, é possível dizer que o

grande desafio da cidade é justamente lidar com o tráfego e a segurança, já que o aumento desenfreado da segurança privada faz crescer a insegurança pública e a desconfiança generalizada.

Um caso típico que ilustra bem tal situação, é a Rua Florêncio de Abreu pois possui superlotação de veículos durante o dia e vazio à noite, que diferentemente do vazio das praças secas dos grandes edifícios, não é entediante mas, sim, ameaçador. Por outro lado, a Avenida Prestes Maia é um exemplo de dinamismo diurno e total desinteresse noturno. Esses antagonismos ocorrem devido ao uso dos espaços: verifica-se que o que interessa nestes casos são os fluxos viáveis, os fluxos das vias (!).

3 Museu Brasileiro da Escultura. Projeto em concreto aparente do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, e inaugurado em 1995,

foi fruto da mobilização de uma associação de moradores do bairro nobre Jardim Europa, com o intuito de impedir a construção de um shopping center no local.

(30)

1. ESPECULAÇÕES DO ESTUDO

10

Figura 5 - Referência à “dificuldade de fluidez urbana” citada acima; ilustração sem nome extraída de S, M, L, XL, de Rem Koolhaas

Nas cidades latino-americanas têm-se agorafobia, nas cidades europeias assepsia de tédio, onde não se vê liberdades possíveis e transgressões saudáveis, ou trocas e encontros, que permitem sensações relacionadas às curiosidades e descobertas, que costumam aflorar quando existe segurança e afeto, e se resumem no sentido de intimidade, seja esta física ou emocional, com a cidade.

1.5. A QUESTÃO CENTRAL: O CENTRO EM QUESTÃO

A potencialidade da área central paulista é evidente. Em nenhuma outra região encontram-se tantas oportunidades: lazer, comércio, serviços, cultura, transporte, praças, instituições variadas. Território cuja expansão propiciou o crescimento de toda a metrópole, o centro é o lugar onde tudo pode acontecer; lugar da espontaneidade, é o território das raízes, centro de referência e símbolo de qualquer cidade, das identidades e curiosidades históricas, da diversidade, e do orgulho, por ser apto àquelas oportunidades, apto a ser acessível e integrador. Nunca houve tanta preocupação quanto à recuperação da área central, para torná-la motivo de orgulho presente. Quanto mais bonito, atraente e funcional é o espaço, maior o orgulho, maior a preservação. O orgulho deve existir pelo que se é, não ao que pode potencialmente vir a ser.

(31)

1. ESPECULAÇÕES DO ESTUDO

11

Assim, vários projetos valiosos foram iniciados como a Operação Urbana Centro, promovida pela associação Viva o Centro e Procentro, e o Programa Monumenta, promovido pelo Ministério da Cultura, este desenvolvendo projetos na região da Luz5. Órgãos como

IPHAN6, CONDEPHAAT7, CONPRESP8 nunca foram tão requisitados, assim como a

mobilização de diversas ONGs, sindicatos e participação de empresas privadas especializadas em patrimônio e revitalizações urbanas.

Além das propostas para o centro como um todo, alguns projetos pontuais já foram finalizados, como é o caso de alguns edifícios que foram recuperados ou tiveram seus usos originais modificados: o antigo DOPS9, a antiga Escola Caetano de Campos e a Estação Júlio

Prestes, transformados em Museu de Música, Secretaria da Educação e Sala São Paulo de Concertos, são exemplos disso, sem análise quanto ao sucesso das alterações. Outros estão em processo final de recuperação, como é o caso da Estação da Luz.

Todos estes projetos têm o propósito de motivar os agentes privados para investir na área central, já que ela ainda é, evidentemente, desvalorizada. Um interessante instrumento de medida dessa desvalorização é o aspecto imobiliário. A metragem quadrada da área central, embora tenha várias infraestruturas urbanas - 14 estações de metrô e 300 linhas de ônibus, por exemplo -, corresponde financeiramente a 1/4 da região da Paulista, 1/5 da Avenida Faria Lima e 1/6 da região da nova Avenida Faria Lima e Berrini, esta uma região absolutamente desprovida de transporte público significativo.

Porém, dentro desse contexto, como pensar a questão de centralidade para uma megacidade como São Paulo? Existe um centro ou vários centros interligados, conectados em

5 Região de São Paulo pertencente a um dos bairros mais antigos e importantes da área central da capital paulista. O nome se

deve à capela erguida no local cujo nome é em homenagem à Nossa Senhora da Luz. No bairro da Luz estão situados a Estação da Luz, a estação de metrô Luz, o Jardim da Luz, o Mosteiro da Luz, Estação Pinacoteca (antigo Dops), a Estação Júlio Prestes (Sala São Paulo), o Museu de Arte Sacra de São Paulo e a Pinacoteca de São Paulo, o Museu da Língua Portuguesa, e a Rua São Caetano, chamada de "rua das noivas", famosa por abrigar roupas para casamentos.

6 Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Órgão federal criado em 1937, e vinculado ao Ministério da Cultura,

tem a função de preservar o acervo patrimonial, material e/ou imaterial, do Brasil.

7 Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo. Órgão municipal

criado em 1985, e vinculado à Secretaria Municipal de Cultura, é apoiado pelo corpo técnico do DPH (Departamento do Patrimônio Histórico) com o intuito de exercer funções relacionadas a tombamentos totais ou parciais de bens móveis ou imóveis, sejam eles públicos ou privados.

8Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico. Órgão estadual criado em 1985, e

subordinado à Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, tem a função de identificar, preservar e capacidade de tombar bens móveis ou imóveis, sejam eles públicos ou particulares.

9 Departamento de Ordem Política e Social. Órgão criado em 1924 utilizado principalmente durante a ditadura brasileira para

(32)

1. ESPECULAÇÕES DO ESTUDO

12

rede? São Paulo, tão complexa historicamente, cheia de influências e referências, não tem uma origem definida. Não há como “pensar” a metrópole criando divisões, privilégios ou guetos.

Pela ausência de uma origem bem delimitada, é forçoso concluir que São Paulo surgiu no “triângulo central” e carrega fortemente o sotaque italiano. Mas São Paulo é múltipla desde seu surgimento, e esta complexidade foi aumentando, configurando a metrópole que se sente hoje: confusa, heterogênea e cheia de surpresas.

Cada parte de São Paulo possui características únicas e peculiares, aptas a serem exploradas. São núcleos, nichos, cada qual com suas características próprias, inter-relacionados com suas vias arteriais. Sua área central, traçada pela Regional Sé, sendo um desses núcleos, tem a característica das variações de usos, interesse de monumentos e possibilidades de acesso, mas deficiência de equipamentos públicos adequados, como banheiros, bancos, limpeza e segurança. Na região da Berrini, exemplo já citado, ocorre o inverso. Ambas as áreas têm suas potencialidades e carecem, por parte dos órgãos públicos de adequado tratamento, valorizando-as sem perder sua identidade.

É possível dizer, agora, que o discurso inicial de potencialidade, diz respeito à megacidade São Paulo, e é aplicável a ela como um todo. É a metrópole que carrega, dentro de todos os seus nichos - Brás, Mooca, Barra Funda, Pinheiros, Vila Mariana, etc. - inúmeras oportunidades, inúmeras possibilidades, e deve ser tratada com continuidade física e simbólica, com as múltiplas referências culturais, as vias e eixos articuladores, a infraestrutura adequada sem diferenciação entre centro e periferia, a não ser pelo único objetivo do centro de atender o vazio da origem.

Assim, São Paulo possui, sim, seu centro, porque deseja e é carente de orientação histórica definida, diferentemente das cidades europeias ou até do Rio de Janeiro, marcado pela época imperial. E, no caso, nada melhor do que assumir um “ponto central” para tanto (!).

Um exemplo, em contraposição ao anteriormente exposto, é a cidade do Rio de Janeiro, que tentou adotar um plano amplo para requalificação urbanística, recuperação comercial e recuperação da imagem da cidade, através de projetos como o Corredor Cultural, o Favela Bairro e principalmente o Rio-Cidade.

O projeto Rio-Cidade tentou promover requalificação dos espaços públicos como forma de recuperar a identidade e a imagem dos núcleos, de aumentar o conforto dos usuários e fomentar investimentos complementares por parte do setor privado. Essa tendência de ampla

(33)

1. ESPECULAÇÕES DO ESTUDO

13

reciclagem das cidades, observada em várias partes do mundo, deverá ser também aplicada na cidade de São Paulo. A melhor imagem que ilustra o pensamento exposto seria um desenho em trama irregular de toda a cidade, configurando continuidade entre as variadas potencialidades que compõe a mesma.

1.6. TOMBAR OU DERRUBAR?

Como reação ao funcionalismo, padronização e reprimido desejo de consumo da era moderna, o Pós-modernismo trouxe maior conscientização da existência de fantasias particulares, preocupação com a identidade, raízes pessoais e coletivas, aumento das possibilidades de escolha e um certo ecletismo assumido. A adaptação aos diferentes gostos e a internacionalização, no entanto, trouxe, muitas vezes, uma miscelânea de estilos, uma queda pelo efêmero e pela teatralidade, quase arquitetura do espetáculo, como se verifica em Baltimore, EUA10, cuja cidade poderia ser apelidada como “de pão e circo”.

São Paulo, dentro desse contexto, sempre foi aberta às novas experiências justamente por já ter em sua trajetória múltiplas influências e ter incorporado, em seu tecido urbano, estilos de tão diferentes culturas e períodos históricos. Pela sua heterogeneidade, é um laboratório para demonstração de suas diversas memórias. A variedade de culturas e etnias fez com que a cidade não desenvolvesse preconceitos quanto à implantação de novas construções, mas muitas vezes, carregasse modismos importados.

Mas, como perceber o real valor de uma construção a partir das tantas influências e repertórios pessoais? Quais critérios relacionados a patrimônio histórico devem ser considerados para lidar com as intervenções urbanas de tão diferentes raízes? Segundo Daniel Libeskind11, deve-se tomar cuidado para não cair na armadilha de deslocar a realidade presente

da erudição histórica. Pode-se demolir edifícios sem lamentar a história, resgatando-a através da lembrança dos acontecimentos, pela memória das influências, não dos monumentos.

Libeskind, a partir do momento em que defende não existirem relíquias intocáveis, sugere o uso de simbolismos, não de camuflagens. É o caso do Museu Judaico idealizado por ele em que, através de um corpo tortuoso e descontínuo, possibilita tensão e impossibilidades

10 Sobre a arquitetura de Baltimore como cenográfica: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/04.046/601.

11 Conceitos utilizados para elaboração do Museu Judaico, em Berlim. Acesso em:

(34)

1. ESPECULAÇÕES DO ESTUDO

14

espaciais, insinuações da cultura amputada, vazada por lacunas e ausências, trazendo aos visitantes tentativas de experiências e sensações particulares à memória da comunidade.

Figura 6 - Ilustração do Museu Judaico, em Berlim, obra de Daniel Libeskind

Porém, São Paulo, por carregar um repertório cultural tão múltiplo, parece ser carente de monumentos que efetivamente auxiliem a delinear sua história, diferentemente das cidades europeias, por exemplo. Evidentemente, falar em tombamento parece ser uma questão urgente para o caso paulistano, já que é um espaço cheio de arquiteturas anônimas e vernaculares. Em São Paulo, tombar transformou-se sinônimo de conservar em absoluto, inventar relíquias intocáveis.

Hoje, bairros inteiros, como é a situação do Sumaré, reivindicam serem tombados, a fim de não perderem seus traçados e disposições atuais e impedirem ações discordantes relacionadas a zoneamento. Proprietários de casas ou edifícios particulares pedem tombamento a órgãos como CONPRESP ou CONDEPHAAT com o propósito de impedirem alterações das características originais de suas construções por futuros locatários, por exemplo, ou para receberem benefícios financeiros relacionados à manutenção e conservação.

No entanto, qual é o verdadeiro processo de conservação? Para que haja conservação é necessário restauração? De acordo com John Ruskin (apud Oliveira 2008: 2-3), não. Para ele, ao contrário de Viollet Le Duc, restauração significa fim da história, das marcas do tempo, da memória e do pitoresco, é a mentira do começo ao fim. Ninguém tem o direito de intervir em

(35)

1. ESPECULAÇÕES DO ESTUDO

15

algo que não criou, nenhum homem possui capacidade técnica de superar ou igualar o trabalho do tempo ou da natureza.

Para Ruskin (apud Oliveira 2008: 2-3), um leigo percebe as marcas do tempo a partir das rugas da construção, seria uma vergonha enganar nossos contemporâneos, maior vergonha enganar as futuras gerações. Então, preservar, conservar, seria equivalente a levar uma vida saudável, com cuidados ao corpo dia após dia. A restauração seria equivalente a uma cirurgia plástica, intervenção última e radical para reparar os esqueletos e as marcas de expressão quase totalmente degradados.

Porém, no caso de São Paulo, não parece lógico esperar que os monumentos se transformem em ruínas para realizar restauro. Nessa mesma linha de pensamento, a formação de uma trajetória histórica melhor delineada, significa urgenciar a recuperação de edifícios notórios e seu entorno de forma sustentável. É o caso das intervenções na área da Luz através do Programa Monumenta, uma das regiões de São Paulo que mais concentra monumentos de indiscutível valor histórico, já assumidos como pertencentes à memória coletiva da cidade.

Portanto, o respeito pela história deve acontecer por ações como neste exemplo, mas em toda a cidade. Com adequado diagnóstico e bom senso, tentar respeitar o habitat das pessoas, o cotidiano e a memória coletiva, manter os pontos focais, as referências de cada núcleo, lidar com as potencialidades alimentando as esperanças, oferecendo novas possibilidades, atividades, participação e sensações, sem cair na tentação de lamentar o passado através de edifícios ausentes de significado, interpretações, metáforas ou poesia, simplesmente como relíquias intocáveis.

1.7. AOS FLUXOS, MAIS FLUIDEZ

O mundo é dos fluxos. Deve-se acompanhá-los para não se ser dominado por eles, pois são invisíveis e contínuos. Fluxos de informações, mídias, câmbios e capitais, das vias, de luzes, do corpo e da natureza, tudo é corrente, tudo passa.

(36)

1. ESPECULAÇÕES DO ESTUDO

16

Figura 7 - Referência aos “Fluxos Invisíveis” citados acima. Ilustração retirada de S,M,L,XL, de Rem Koolhaas

Dentro dessa corrida e do caos, estão a Arquitetura e o Urbanismo, que lidam com a necessidade essencial do homem: fixar elementos, preservar o abrigo, o palpável, conservar identidades e valores, verificando-se que, curiosamente, os fluxos percorrem dentro das fronteiras inventadas e delimitadas pelo homem.

Assim, o modo de lidar com os fluxos é territorial, de acordo com a cultura de cada “Cidade-Estado”, com o grau de protecionismo estabelecido, com as regras internas. É o caso da França em relação à cultura inglesa, dos países islâmicos com sua tendência fundamentalista, ou do “totalitarismo dos porcos”, em Revolução dos Bichos (1964), de George Orwell.

(37)

1. ESPECULAÇÕES DO ESTUDO

17

Então, o que se observa é a identidade nacional versus a identidade mundial; a flexibilidade entre as duas acontece por intermédio dos governos, que interferem através de suas gestões, mudanças econômicas, políticas e culturais, e através das aplicações urbanas, o que leva a crer que os fluxos de poder geram o poder dos fluxos.

Em São Paulo, observa-se que os fluxos acontecem de forma contraditória. Quanto mais invisível o fluxo, mais fluente ele é. Isso quer dizer que a fluência com que os investimentos, conhecimento e tecnologia correm, é grande, mas não é compatível com os lentos e conturbados fluxos relacionados à infraestrutura urbana de transportes, por exemplo.

Figura 9 - Referência aos “Fluxos Conturbados” citados acima.Ilustração da obra Number 32, de Jackson Pollock

Um exemplo próximo desta incongruência é o entorno do Metrô São Bento. Em um só lugar encontram-se a eficiência e rapidez do metrô, a fluidez de veículos da Avenida Prestes Maia, o rio Anhangabaú correndo canalizado no subsolo, os veículos particulares nos congestionamentos da Rua Florêncio de Abreu, os pedestres correndo após saírem do metrô, ou competindo espaço com os automóveis da Rua Florêncio de Abreu, ou sem espaço para atravessar a Avenida Prestes Maia.

Verificam-se, neste caso e em toda a cidade, relações turbulentas de trânsito, em que algumas passagens são truncadas, e casos de fluidez bem sucedidos de continuidades espaciais e visuais. Deste modo, conclui-se que a atenção política dada aos fluxos mais invisíveis, mais internacionalizados, tais como fluxos econômicos e culturais não deve ser maior do que aos fluxos mais palpáveis, relacionados à Arquitetura e ao Urbanismo.

(38)
(39)

2. UMA IDEIA PARA SÃO PAULO

EXPERIÊNCIA DE REQUALIFICAÇÃO URBANA E PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO EDIFICADO DE SÃO PAULO

(40)
(41)

2. UMA IDEIA PARA SÃO PAULO

21

2. UMA IDEIA PARA SÃO PAULO

2.1. ESTUDO DE CASO

A área em foco deste estudo é a parte central do eixo que liga a Praça da Bandeira à Estação da Luz e tem como referências mais próximas o Viaduto Santa Ifigênia e a Estação e Mosteiro São Bento.

Seu contorno é definido pela Avenida Prestes Maia - definidora do eixo e com fluxo ininterrupto de veículos, Rua Florêncio de Abreu - com sua importância histórica, certa homogeneidade arquitetônica, e turbulenta relação entre pessoas e automóveis, e Rua Carlos de Souza Nazaré - que segue o caminho do rio Anhangabaú, hoje canalizado.

Os trechos do contorno têm características bem particulares e diferenciadas, conservadas pela falta de diálogo entre eles, e sobrevivem quase que independentemente uns dos outros. A ausência de habitação e vida noturna é sentida a partir do Viaduto Santa Ifigênia em sentido à Luz, levando à desertificação e violência.

Também é notável, em toda a área, a ausência de espaço para o pedestre, seja pela falta de circulação facilitada, seja pela falta de clareza visual, assim como, também é notável, a característica de falta de permanência, de convívio e identidade, predominando a sensação de área de passagem, de fluxo.

(42)

2. UMA IDEIA PARA SÃO PAULO

22

Figura 10 - Ilustração da área de estudo no contexto urbano. S/esc Fonte: Gegran

O exercício projetual, no centro da metrópole, pretende servir de “discurso-obra”, com os devidos cuidados com sua aplicação prática, no qual entrará muito das referências arquitetônicas e conceitos citados, mas, principalmente, das abordagens críticas de Jane Jacobs que, desde 1961, são atuais: o impacto dos automóveis, a pobreza da separação de funções, a crítica à exaltação das vias expressas, pontes e viadutos, e à arquitetura burocratizada e monumental que desumaniza a paisagem urbana; e a ideia de riqueza do cotidiano, microcosmos de bairros bem vivenciados pela população, de vitalidade e recantos e até do caos urbano, em que se vê a cidade como um organismo vivo, alimentado pela dinâmica e diversidade.

(43)

2. UMA IDEIA PARA SÃO PAULO

23

Além disso, a metodologia deste trabalho como um todo percorre pesquisas in loco, pesquisas sobre teorias sobre restauração, legislação, obras arquitetônicas contemporâneas correlatas a monumentos históricos, e seus autores, pesquisas em internet, pesquisas em órgãos públicos como IBGE, CONDEPHAAT, CONPRESP e IPHAN, e utilização de obras de artes plásticas visuais como referências para ilustrar e justificar tanto o embasamento teórico como reflexões particulares que fundamentam a proposta de projeto.

Trata-se, deste modo, e como resultado, de um projeto envolvido no crescente e atual interesse de recuperação de centros urbanos, portanto, um redesenho de quadra preocupado principalmente na preservação histórico-cultural e em soluções de gestão social e de desenvolvimento.

Rua Mauá / Estação da Luz

Estação Metrô Luz

Avenida Senador Queirós

Praça Pedro Lessa Largo São Bento

Centro Cultural Correios Avenida São João Teatro Municipal Praça Ramos de Azevedo

Shopping Light Praça do Patriarca

Est. Metrô Anhangabaú Ladeira da Memória Praça da Bandeira

Figura 11 - Ilustração da demarcação da área de estudo no corredor Prestes Maia Fonte: Gegran

(44)

2. UMA IDEIA PARA SÃO PAULO

24 2.2. OBJETIVOS DO PROJETO

 Estimular o interesse visual da Avenida Prestes Maia para a área;  Promover maior transposição do eixo;

 Implantar adensamento, áreas para encontro e convívio, e comércios vicinais;  Estabelecer áreas permeáveis, também visualmente, entre Avenida Prestes Maia

e R. Florêncio de Abreu;

 Estimular os setores comerciais e culturais na margem com a Avenida Prestes Maia;

 Resgatar o interesse histórico-arquitetônico das construções, desenho viário, rio Anhangabaú;

 Estimular a vida noturna da área. 2.3. PROPOSTAS

2.3.1. INTERESSE VISUAL PELA AVENIDA PRESTES MAIA

Como proposta inicial de projeto, pretende-se realizar quatro “edifícios-vagões” que, lado a lado, formarão um desenho unitário. A ideia é remeter às características do entorno (grandes fluxos de veículos e de pessoas, rio Anhangabaú, linhas metropolitanas) e pertencer à escala do veículo, principal usuário do eixo. A disposição dos edifícios remeterá à existente ambiguidade analisada em relação aos fluxos, formando um desenho no limiar da continuidade e descontinuidade, entre a fluidez e o desconexo.

(45)

2. UMA IDEIA PARA SÃO PAULO

25

Figura 12 - Perspectiva ilustrando proposição para a Avenida Prestes Maia e interior da quadra Fonte: Autoria da mestranda para este trabalho

2.3.2. ADENSAMENTO

Outro ponto importante é a criação de edifícios especiais para habitação, com vários tipos de plantas para atender públicos diferenciados. Pretende-se com isso motivar o convívio, o cotidiano e o encontro de bairro através de praças e áreas de descanso, e integração através comércios e comércios vicinais. Os edifícios residenciais estarão articulados neste contexto, fazendo parte do conjunto de edifícios-vagões, na escala do pedestre, pelo interior da quadra.

(46)

2. UMA IDEIA PARA SÃO PAULO

26

Figura 13 - Perspectiva ilustrando proposição para a Avenida Prestes Maia, com as respectivas cores dos usos propostos Fonte: Autoria da mestranda para este trabalho

Figura 14 - Perspectiva ilustrando proposição para o interior da quadra, com as respectivas cores dos usos propostos Fonte: Autoria da mestranda para este trabalho

2.3.3. PERMEABILIDADE

Outra proposta considerada no projeto é o aumento da acessibilidade entre a Avenida Prestes Maia e a Rua Florêncio de Abreu com a criação de três passarelas que articularão o centro de convivência aos edifícios que margeiam a avenida. A permeabilidade visual será atendida com o distanciamento, de aproximadamente 10 m, entre os edifícios-vagões. Nestes

(47)

2. UMA IDEIA PARA SÃO PAULO

27

intervalos serão colocadas outras passarelas, garantindo o acesso entre os prédios e mantendo toda a articulação e continuidade.

Figura 15 - Perspectiva ilustrando proposição para o interior da quadra e as passarelas dos edifícios vagões Fonte: Autoria da mestranda para este trabalho

2.3.4. COMÉRCIO E CULTURA

Também foi considerada como proposição utilizar o eixo e a facilidade de acesso, inclusive do metrô, para fortalecer a diversificação de usos, característica latente dos centros urbanos. Os edifícios-vagões abrigarão comércio, galerias para cultura, e escritórios, além das residências, garantindo o uso contínuo da área, promovendo oportunidades e multifuncionalidade.

2.3.5. HISTÓRIA E ARQUITETURA

Outra concepção de projeto é auxiliar para o resgate do caráter referencial do centro, marcando a existência histórico-arquitetônica da área. Dentro desse contexto, observa-se que os edifícios-vagões adquirem o simbolismo de fluxo existente na área, tanto da linha de metrô

(48)

2. UMA IDEIA PARA SÃO PAULO

28

e das vias, como do fluxo de pessoas e do rio Anhangabaú que rasgava a superfície da região. As passarelas são conexões entre pessoas, as possibilidades que a região oferece, as ligações entre pontos, acessibilidade e referências aos viadutos do Chá e Santa Ifigênia. As novas construções serão de vidro transparente, metal não brilhante e cores fortes, opondo-se às construções antigas, para valorizar e ressaltar ambas.

Figura 16 - Perspectiva ilustrando proposição para a fachada tombada, visão pela Rua Florêncio de Abreu Fonte: Conferência In loco. Ilustração elaborada pela mestranda para este trabalho

2.3.6. VIDA NOTURNA

Também é previsto em projeto o estímulo à convivência noturna e proveito da acessibilidade e diversidade12 cultural do centro. Os comércios vicinais, habitações, as galerias

12 O conceito de ‘diversidade’ foi colocado em pauta através de Jacobs na década de 1960, quando ela afirmou que ocorre

(49)

2. UMA IDEIA PARA SÃO PAULO

29

e uma iluminação interessante terão a função de incorporar esta área no aspecto de centralidade, levando mobilidade e segurança.

Figura 17 - Perspectiva ilustrando proposição para o interior da quadra Fonte: Autoria da mestranda para este trabalho

(50)
(51)

3. ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA

-RIVI

EXPERIÊNCIA DE REQUALIFICAÇÃO URBANA E PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO EDIFICADO DE SÃO PAULO

(52)
(53)

3. ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA - RIVI

33

3. ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA - RIVI

3.1. ÁREA DE INTERVENÇÃO - DELIMITAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

Representada pela área efetiva do projeto, ou seja, a área de redesenho da quadra, compreendendo o perímetro dentro do qual se restringirão os investimentos do programa. A área de Intervenção é definida pela parte central do eixo que liga a Praça da Bandeira à Estação da Luz e tem como referências mais próximas o Viaduto Santa Ifigênia e a Estação e Mosteiro São Bento. Suas margens são definidas basicamente pela Avenida Prestes Maia, Rua Florêncio de Abreu e Rua Carlos de Souza Nazaré.

3.1.1. TOPOGRAFIA

O terreno possui grande e interessante desnível. No plano da Avenida Prestes Maia tem-se o nível 729, e no Largo São Bento tem-tem-se o nível 740. A área escolhida possui uma particularidade: um grande muro que atravessa a quadra, configurado como se fosse um grande talude totalmente vertical. Este "talude" foi um dos fatores relevantes para a escolha da área de estudo pois serviria como um interessante desafio projetual, assim como a bruta diferença topográfica Prestes Maia - Florêncio de Abreu.

Figura 18 - Visão para a Avenida Prestes Maia pelo Viaduto Santa Ifigênia

(54)

3. ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA - RIVI

34

Figura 19 - Visão da Rua Carlos de Sousa Nazaré vê-se a Rua Florêncio de Abreu ao alto, como passarela Fonte: Foto do acervo pessoal de Renata R. B. de Oliveira

3.1.2. RECURSOS HÍDRICOS

A área do projeto não possui recursos hídricos naturais, não fosse a canalização do antigo rio Anhangabaú. O abastecimento de água é feito através da rede municipal.

3.1.3. COBERTURA VEGETAL

A região enfrenta grandes problemas com enchentes, principalmente no período de verão, já que está localizada em vale e há escassez de cobertura vegetal suficiente. A área não possui áreas permeáveis para a drenagem necessária, principalmente na região do Vale do Anhangabaú.

(55)

3. ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA - RIVI

35

Figura 20 - Ilustração do Vale do Anhangabaú já reformulado Fonte: Acervo pessoal de Renata R. B. de Oliveira

3.1.4. USO E OCUPAÇÃO DO SOLO

O uso e a ocupação do solo são bem variados na área de estudo: comércios, escritórios, instituições, estacionamentos, comércios informais, ares verdes, vazios urbanos, edifícios em reformas e sem uso, mas sendo quase escasso o uso habitacional.

Institucional Habitação Comércio Verde Escritório Estacionamento Vazio Comércio informal

Figura 21 - Uso e ocupação do solo. S/esc.

(56)

3. ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA - RIVI

36 3.1.5. SISTEMA VIÁRIO E DE TRANSPORTE

O sistema viário da área possui várias características, dependendo do trecho em que se analisa. A Avenida Prestes Maia possui fluxo ininterrupto de automóveis e ônibus, nos dois sentidos da via. A Rua Florêncio de Abreu possui sentido único, apenas atende automóveis, estando em quase todos os horários e dias úteis congestionada, assim como a Rua Carlos de Souza Nazaré, que além de automóveis, também possui ônibus circulando.

O metrô São Bento, bem próximo à quadra, auxilia para descongestionar a área, embora não seja tão frequentado quanto o metrô Anhangabaú, vizinho a este. Verifica-se que as vias da área atendem diferentemente ao transporte existente, dependendo de suas localizações e origens.

Figura 22 - Visão do trânsito da Avenida Prestes Maia e Rua Carlos de Sousa Nazaré Fonte: Foto do acervo pessoal de Renata R. B. de Oliveira

(57)

3. ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA - RIVI

37

Figura 23 - Visão da Rua Florêncio de Abreu

Fonte: Foto do acervo pessoal de Renata R. B. de Oliveira

Pedestres Autos

Linha Metropolitana

Rio Anhangabaú Canalizado

Figura 24 - Eixos Notáveis – Fluxos. S/esc.

Fonte: Conferência in loco. Ilustração elaborada pela mestranda para este trabalho

3.1.6. ZONEAMENTO

Como a área localiza-se na área central, pertence à Zona 8, caracterizada por ser de uso especial.

(58)

3. ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA - RIVI 38 Até 3 pavimentos De 4 a 10 pavimentos De 11 a 15 pavimentos Acima de 15 pavimentos

Figura 25 - Gabarito de altura. S/esc.

Fonte: Conferência in loco. Ilustração elaborada pela mestranda para este trabalho

3.1.7. FLORA

Na área há dois focos de áreas verdes, no meio da quadra, não existindo dispersão vegetal. É possível dizer que, apenas com estas duas concentrações vegetais, a área é carente de verde, já que se sabe da importância de uma distribuição equilibrada.

Figura 26 - Visão aérea em que se vê os focos verdes, predominantemente no Mosteiro São Bento Fonte: Fotos do acervo pessoal de Renata R. B. de Oliveira e fotomontagem elaborada pela mestranda

Essa carência de áreas verdes reflete nas enchentes no Vale do Anhangabaú, decorrentes das chuvas de verão, e na poluição auditiva e olfativa, principalmente na Avenida Prestes Maia.

(59)

3. ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA - RIVI

39 3.1.8. INFRAESTRUTURA E SANEAMENTO

A área possui a infraestrutura e o saneamento básico da área central de São Paulo. É atendida pela rede de esgoto, de água, de luz; a limpeza pública é realizada igualmente como em outras partes do centro.

3.1.9. POPULAÇÃO

A região tem basicamente população flutuante, ou seja, pessoas que vão à área para trabalhar, prestar serviços ou utilizar os serviços oferecidos. É praticamente nula a população permanente, há forte escassez de pessoas que habitam a área.

O deslocamento se dá no sentido da Rua 25 de Março, área da Luz, Anhangabaú, Viaduto Santa Ifigênia, passarela de pedestres, e a própria Rua Florêncio de Abreu, com seu comércio específico de maquinarias e ferramentas. A utilização frequente para de acontecer somente no domingo, em que o setor comercial e de serviços descansa.

Figura 27 - Visão dos Pedestres na calçada da Avenida Prestes Maia Fonte: Foto do acervo pessoal de Renata R. B. de Oliveira

(60)

3. ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA - RIVI

40

Figura 28 - Ilustração da relação dos automóveis e pedestres na Rua Carlos de Sousa Nazaré Fonte: Foto do acervo pessoal de Renata R. B. de Oliveira

3.1.10. ANEXO COM DISPOSITIVOS LEGAIS

Apresenta-se, a seguir, a identificação dos principais diplomas legais incidentes sobre a área do projeto em pauta, destacando aqueles referentes à proteção do patrimônio histórico. A avaliação da legislação incidente é apresentada de acordo com os níveis de competência relacionados à matéria de meio ambiente, nos âmbitos federal, estadual e municipal.

No âmbito estadual e municipal, estão caracterizados os principais dispositivos legais relacionados ao planejamento urbano e patrimônio histórico-cultural, alguns relacionados ao conjunto histórico da região da Luz, área vizinha atualmente com recuperação incentivada com o Programa-Luz, pertencente ao Programa Monumenta.

Todo o perímetro urbano central está sofrendo importantes intervenções de estudo por órgãos como Viva o Centro e Procentro, pertencentes à SEHAB, Secretaria de Habitação de São Paulo. São apresentados os dispositivos relacionados ao patrimônio histórico e ao processo que determina o tombamento dos monumentos históricos integrantes da região em questão.

(61)

3. ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA - RIVI

41

Estes projetos pertencem à Operação Urbana Centro, em que tanto o diagnóstico como propostas de recuperação para o centro estão em desenvolvimento. O trabalho em questão, embora ainda não incorporado a este projeto, pode integrar-se como a solução adequada e a ser adotada para a área em estudo, dentro desse contexto de ideias de recuperação da área central, lembrando que o conjunto histórico da região central contém bens tombados nas esferas estadual e municipal.

Figura 29 - Visão do Mosteiro São Bento

Fonte: Foto do acervo pessoal de Renata R. B. de Oliveira

3.1.11. ÂMBITO ESTADUAL

Merecem destaque os aspectos previstos na própria Constituição Estadual e na Política Estadual de Meio Ambiente. Embora a Constituição Estadual de São Paulo nas versões de 1935 e de 1967 seja omissa em relação à necessidade de preservação do patrimônio histórico, a Constituição Estadual de 198913, seguiu os passos da Constituição Federal, abrangendo a

importância deste patrimônio, em seu Artigo 180, que determina:

No estabelecimento de diretrizes e normas relativas ao desenvolvimento urbano, Estado e os Municípios assegurarão:

I - o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e a garantia do bem- estar de seus habitantes;

II- (...);

III - a preservação, proteção e recuperação do meio ambiente urbano e cultural;

IV - a criação e manutenção de áreas de especial interesse histórico, urbanístico, ambiental, turístico e de utilização pública;

V - a observância das normas urbanísticas, de segurança, higiene e qualidade de vida;

(62)

3. ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA - RIVI

42 Em seu Artigo 260:

Constituem patrimônio cultural estadual os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referências à identidade, à ação e à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade nos quais se incluem:

III - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;

IV - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

Em seu Artigo 263 prescreve:

A lei estimulará, mediante mecanismos específicos, os empreendimentos privados que se voltem à preservação e à restauração do patrimônio cultural do Estado, bem como incentivará os proprietários de bens culturais tombados, que atendam às recomendações de preservação do patrimônio cultural.

A Constituição Estadual de 196714, apesar de sua fraca abordagem em relação ao tema,

em seu artigo 128 já havia criado o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Turístico do Estado - CONDEPHAAT, subordinado à Secretaria de Cultura, também criada em 1967. O CONDEPHAAT é citado novamente na Constituição Estadual de 1989, em seu artigo 261: “O Poder Público pesquisará, identificará, protegerá e valorizará o patrimônio cultural paulista, através do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo, CONDEPHAAT, na forma que a lei estabelecer.”

A Lei 10.247, de 196815, estabelece que é de competência do CONDEPHAAT a adoção

de medidas para a defesa do patrimônio histórico, artístico e turístico do Estado; e o Decreto-Lei 149, de 196916, estabelece que é também de sua competência a promoção do tombamento

de bens, móveis ou imóveis.

Com relação à aplicação da legislação ambiental, compete à Secretaria de Meio Ambiente - SMA, criada pelo Decreto 24.932, de 198617, e à Companhia de Tecnologia de

Saneamento Ambiental - CETESB, agência criada pelo Decreto 50.079, de 24 de julho de

14 Acesso ao documento na íntegra em:

http://www.al.sp.gov.br/leis/constituicoes/constituicoes-anteriores/constituicao-estadual-1967/.

15 Acesso ao documento na íntegra em: http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/1968/lei-10247-22.10.1968.html. 16 Acesso ao documento na íntegra em:

http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto.lei/1969/decreto.lei-149-15.08.1969.html.

17 Acesso ao documento na íntegra em:

(63)

3. ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA - RIVI

43

196818, coordenar e executar a política estadual de Meio Ambiente, analisar projetos, licenciar

atividades que causam impacto ambiental e a fiscalização ambiental.

O Estado, porém, deve ouvir o Município de São Paulo, que poderá apor exigências, adicionais supletivas e específicas, para garantir a inserção do empreendimento aos programas de preservação do patrimônio e controle ambiental em andamento.

Figura 30 - Visão do Colégio e Mosteiro São Bento, Edifício Banespa, Edifício Martinelli, painéis de Tomie Ohtake na Praça São Bento

Fonte: Foto do acervo pessoal de Renata R. B. de Oliveira

Figura 31 - Visão da Rua Florêncio de Abreu

Fonte: Foto do acervo pessoal de Renata R. B. de Oliveira

18 Acesso ao documento na íntegra em:

(64)

3. ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA - RIVI

44 3.1.12. ÂMBITO MUNICIPAL

Segundo a Lei Orgânica do Município de São Paulo19, o município deve ter, dentre

outros, como princípios e diretrizes, a preservação dos valores históricos e culturais da população. Em seu Artigo 7, a Lei Orgânica estabelece que é dever do Poder Municipal, em cooperação com os demais poderes, assegurar: “proteção e acesso ao patrimônio histórico, cultural, turístico, artístico, arquitetônico e paisagístico; (...) VIII - acesso a equipamentos culturais, de recreação e lazer.” Em seu Artigo 192: “O Município adotará medidas de preservação das manifestações e dos bens de valor histórico, artístico e cultural, bem como das paisagens naturais e construídas, notáveis e dos sítios arqueológicos.”

E em seu Artigo 193, estabelece que o poder público deve promover através dos órgãos competentes:

I - a criação, manutenção, conservação e abertura de sistemas de teatros, bibliotecas, arquivos, museus, casas de cultura, centros de documentação, centros técnico-científicos, centros comunitários, de novas tecnologias de difusão e bancos de dados, como instituições básicas, detentoras da ação permanente, na integração da coletividade com os bens culturais;

II - (...);

III - a integração de programas culturais com os demais municípios;

IV - programas populares de acesso a espetáculos artístico-culturais e acervos das bibliotecas, museus, arquivos e congêneres;

V - promoção do aperfeiçoamento e valorização dos profissionais que atuam na área de cultura; VI - a participação e gestão da comunidade nas pesquisas, identificação, proteção e promoção do patrimônio histórico e no processo cultural do Município.

E, finalmente, em seu Artigo 194, estipula que:

O Poder Municipal deve providenciar, na forma da lei, a proteção do patrimônio histórico, cultural, paisagístico e arquitetônico, através de:

I - preservação dos bens imóveis, de valor histórico, sob a perspectiva de seu conjunto; II - custódia dos documentos públicos;

III - sinalização das informações sobre a vida cultural e histórica da cidade; IV - desapropriações;

V - identificação e inventário dos bens culturais e ambientais.

Prevendo este artigo, sanções para os atos relativos à evasão, destruição e descaracterização de bens de interesse histórico, artístico, cultural, arquitetônico ou ambiental, sendo exigido a recuperação, restauração ou reposição do bem extraviado ou danificado.

Imagem

Figura 2 - Referência aos “Fluxos Urbanos” citados acima; fotografia do filme Metrópolis, de Fritz Lang
Figura 3  - Referência a “Fragmentação e Descontinuidade” citadas acima; ilustração de Blue Poles: Number 11, obra de  Jackson Pollock
Figura 5 - Referência à “dificuldade de fluidez urbana” citada acima; ilustração sem nome extraída de S, M, L, XL, de Rem  Koolhaas
Figura 7 - Referência aos “Fluxos Invisíveis” citados acima. Ilustração retirada de S,M,L,XL, de Rem Koolhaas
+7

Referências

Documentos relacionados

O número de desalentados no 4° trimestre de 2020, pessoas que desistiram de procurar emprego por não acreditarem que vão encontrar uma vaga, alcançou 5,8 milhões

•   O  material  a  seguir  consiste  de  adaptações  e  extensões  dos  originais  gentilmente  cedidos  pelo 

O objetivo deste trabalho foi avaliar épocas de colheita na produção de biomassa e no rendimento de óleo essencial de Piper aduncum L.. em Manaus

Para o desenvolvimento do protótipo, tínhamos o requisito de Sistema Distribuído pois o aplicativo móvel teria que se comunicar com o servidor através da rede

Açúmulo de matéria seca e nutrientes nas folhas que irão formar a serapilheira (íeaf-fall) e nas depositadas sobre o solo (Jeaf-litterl de Eucalyptus saljgna e

The main objectives of this data analysis are divided into two classes: i) General Statistics: give an overview of structured information on Wikipedia as a whole, showing raw numbers

A solução, inicialmente vermelha tornou-se gradativamente marrom, e o sólido marrom escuro obtido foi filtrado, lavado várias vezes com etanol, éter etílico anidro e

Os interessados em adquirir quaisquer dos animais inscritos nos páreos de claiming deverão comparecer à sala da Diretoria Geral de Turfe, localizada no 4º andar da Arquibancada