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Modelos de Formação de Animadores de Nível III em Portugal

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Modelos de Formação de Animadores de Nível

III em Portugal

Dissertação de Mestrado apresentada por

Teresa Joaquina Cardoso Barroso

Sob orientação do Prof. Doutor Marcelino Sousa Lopes

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Escola de Ciências Humanas e Sociais

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2 “Aprender a aprender não se circunscreve a uma etapa da vida…

aprende-se vivendo e vive-se aprendendo”

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3 Dissertação apresentada por Teresa Joaquina Cardoso Barroso à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Ciências de Educação – Especialização em Animação Sociocultural, sob orientação do prof. Doutor Marcelino de Sousa Lopes, Professor Auxiliar do Departamento de Educação e Psicologia da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

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Agradecimentos

Quero deixar aqui expresso os meus sinceros agradecimentos a todos aqueles que fizeram possível a realização deste trabalho.

Ao meu orientador, professor Dr. Marcelino de Sousa Lopes pelo seu profissionalismo e amizade;

À Drª Maria João Lino, Técnica Superior do IEFP de Chaves por todos os esclarecimentos prestados;

Aos membros da Direcção da Escola Profissional de Chaves por disponibilizarem o horário necessário para a realização do Mestrado;

À minha família pela paciência e o amor demonstrado;

Aos meus amigos, por serem meus amigos;

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Resumo

A animação sociocultural nasce em Portugal na década de setenta graças à implementação do regime democrático. Surgem a partir de então inúmeros modelos de formação específica quer ao nível da animação sociocultural quer ao nível da formação de animadores socioculturais. Assiste-se a um incremento significativo destes cursos que vão marcar alguma da história da animação sociocultural no nosso país. Todavia, com o intuito de ajustar os inúmeros modelos de formação em Portugal, realiza-se em 2006 uma importante revisão curricular que vem reduzir significativamente o número de cursos de animadores socioculturais de nível três. A reestruturação efectuada leva ao desaparecimento de dezoito cursos de carácter específico para dar lugar a três cursos de carácter generalista. Tomando como ponto de partida esta contextualização, o presente estudo servirá para compreender a formação de animadores de nível III na actualidade, quais as suas características, e quais as instituições em Portugal que têm a função e responsabilidade de ministrar tais cursos.

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Abstract

The sociocultural animation began in Portugal in the seventies thanks to the implementations of the democratic regime. Several models of specific formation appeared associated with sociocultural animation and sociocultural animateurs’ formation. There was a significant development of theses courses which marked the history of sociocultural animation in our country. However, in order to adjust the several models of formation in Portugal, an important curricular revision was made in 2006 to reduce significantly the number of sociocultural animateurs’ courses -level III. The restructuration led to the disappearance of eighteen specific courses and to the implementation of the generic courses. According to this contex, this study will be useful to understand the actual animateurs’ formation- level III, its characteristics and which institutions are responsible for supplying these courses.

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Índice

Agradecimentos ---4 Resumo ---5 Abstract ---6 Índice ---7 Tábua de Abreviaturas ---11 Índice de Quadros ---12 Introdução ---13 I Capítulo A Metodologia ---18

1.1) - A Importância do Uso de Metodologia ---18

1.2) - Os Paradigmas do Conhecimento e a Hermenêutica ---19

1.2.1) – O Conceito de Hermeneutica ---21

1.3) – A Importância do Pluralismo Metodológico ---22

1.4)- O Método de Investigação Qualitativa ---23

1.5)- Os Objectivos do Trabalho de Investigação ---25

1.6)- As Técnicas Utilizadas na Investigação e as Perguntas de Partida ---25

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1.7.1)- Os Métodos e as Técnicas: Confusão Conceptual ---30

1.7.2)- A Metodologia e as Técnicas utilizadas: Dificuldades Sentidas ---37

II Capítulo A Animação Sociocultural e o Técnico Animador Sociocultural: Conceptualização ---39

2.1)-A Animação Sociocultural e o Animador: Problemática ---39

2.2.)- A Génese da Animação Sociocultural: Anima/Animus ---41

2.3)- O Conceito de Animação Sociocultural ---43

2.4)- O Conceito de Animador Sociocultural ---59

2.4.1)- O Animador, Tipologias e Funções ---64

2.5)- A Animação Sociocultural e o Animador: Identidade e Profissionalismo ---71

III Capítulo A Origem da Animação Sociocultural e a Evolução do Perfil do Técnico Animador Sociocultural---76

3.1)- As Origens da Animação e a Formação de Animadores: Percurso Histórico ---76

3.2)- Caracterização da Formação ---78

3.3)- A Formação de Animadores. Que características? ---78

3.3.1)- A Perspectiva Bi-direccional da Formação de Animadores---86

3.4)- O Estatuto do Animador Sociocultural ---87

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IV Capítulo A Formação Profissional e as Instituições Formativas em Portugal -92

4.1)- Os Primeiros Sinais da Formação Profissional em Portugal ---92

4.2)-A Importância da Formação Profissional ---93

4.3)- As Instituições Responsáveis pela Formação em Portugal ---96

4.4)- Tipologias de Formação de Nível III das Escolas Profissionais, do IEFP e das Escolas Oficiais de Nível Secundário ---96

4.5)- As Escolas Profissionais ---97

4.6)- O Instituto de Emprego e Formação Profissional ---98

4.7)- As Escolas Oficiais de Nível Secundário ---98

V Capítulo Modelos de Formação de Animadores de Nível III em Portugal ---100

5.1) Escolas Profissionais e as Modalidades de Formação de Animadores de Nível III ---100

5.2)- O Instituto de Emprego e Formação Profissional e as Modalidades de Formação de Animadores de Nível III ---108

5.3)- As Escolas Oficiais de Nível Secundário e as Modalidades de Formação de Animadores de Nível III ---114

VI Capítulo O Futuro do Técnico Animador de Nível III ---117

6.1)- O Animador e a Realidade ---117

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Considerações Finais ---144

Bibliografia ---152

Anexos ---162

AnexoA: Quadro dos Cursos Extintos e Cursos criados em 2006 e Respectivas Portarias ---163

Anexo B: Quadro Comparativo sobre os Tipos de Formação de Animadores na Europa

e Quadro sobre os Diferentes Tipos de Estatutos de Animadores Na História da Animação em Portugal ---165

Anexo C: Decreto Regulamentar nº 66/94, de 19 Novembro e Decreto Regulamentar nº

26/97, de 18 de Junho. ---169

Anexo D: Decreto-Lei 4/98 de 08 de Janeiro e Decreto-Lei nº 519-A2/79, de 29 de

Dezembro ---176

Anexo E: Quadro Acerca da Dimensão Temporal, Formativa e Tipológica na Formação

de Animadores em Portugal. ---188

Anexo F: Quadro dos Cursos de Formação de Animadores de Nível Intermédio e

Quadro Sobre a Análise Comparativa dos Diferentes Cursos de Animação ao Nível Superior. ---190

Anexo G: Quadro Modalidades Próprias das Entidades Formativas de nível III em

Portugal ---193

Anexo H: Plano Curricular do Curso Técnico Animador Sociocultural e Portaria

1280/06 de 21 de Novembro e Portaria 531/95 de 02 de Junho ---194

Anexo I: Quadro das Diferentes Tipologias na Formação de Animadores em Portugal ---197

Anexo J: Plano Curricular do Curso Profissional Técnico de Animador Sociocultural e

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Tábua de Abreviaturas

ANSC- Associação Nacional de Animadores Socioculturais.

APDASC- Associação Portuguesa para o Desenvolvimento da Animação Sociocultural.

ANQ- Agencia Nacional para as Qualificações.

CESE- Curso de Estudos Superiores Especializados.

CCC- Conselho de Cooperação Cultural do Conselho da Europa.

DESE- Diploma de Estudos Superiores Especializados.

DFT- Divisão de Formação Técnica.

EFA- Educação e Formação para Adultos.

FAOJ- Fundo de Apoio aos Organismos Juvenis.

IEFP- Instituto de Emprego e Formação Profissional.

INEP- Institut National D’éducation Populaire.

MFA- Movimento das forças Armadas.

OCDE- Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico.

RVCC- Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências.

UNESCO- Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura.

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Índice de Quadros

Quadro 1-Quadro Revisão Curricular dos Cursos Profissionais de Nível Secundário.---100

Quadro 2 – Plano Curricular do Curso Animador Sociocultural (Portaria em Vigor)---102

Quadro 3- Plano Curricular do Curso Animador Sociocultural (Portaria Anterior)---104

Quadro 4- Quadro Comparativo dos dois Planos Curriculares ---105

Quadro 5- Diferentes Modelos de Formação no IEFP ---108

Quadro 6- Curso de Aprendizagem: Plano Curricular do Curso de Animador (a)

Sociocultural ---109

Quadro 7- Curso RVCC (EFA Nível III)- Plano Curricular do Curso Animador(a)

Sociocultural ---111

Quadro 8- Quadro Complementar do Curso RVCC (EFA nível III) Plano Curricular do Curso Animador(a) Sociocultural ---112

Quadro 9- Quadro Comparativo sobre os Cursos Profissionais e as Modalidades de

Formação próprias do IEFP---113

Quadro 10- Quadro dos Diferentes Cursos de Nível III no IEPP, Escolas Profissionais e

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Introdução

A humanidade sempre se relacionou com o lúdico e o recreativo. Desde sempre se perceberam sinais destas manifestações que, mais ou menos arcaicas, marcaram os tempos e as tendências. As manifestações sociais e de índole cultural são prova disso mesmo. “As festas, jogos, a interpretação, crenças e símbolos, os valores e formas de pensar, de estar e de trabalhar”(Oliveira, 1995:13) justificam esta necessidade de intercâmbio entre todos os Homens. Assim, em todos os tempos a animação, como processo difuso, “esteve e está presente no quotidiano dos povos de todo o mundo ao serviço das suas identidades culturais, sociais e políticas” (Bento, 2006:22). A animação como prática difusa, surge então ligada a necessidades de ordem social e cultural, podendo-se afirmar que ela faz parte da estrutura e do crescimento intelectual e emocional do Homem. Ela acompanha-o na sua evolução. Ela caminha lado a lado com ele, fazendo parte dele. Ela é, portanto, inerente ao Homem, permitindo-lhe não só o desenvolvimento da sua criatividade, como também o reforço da sua integridade pessoal e integração social. Falamos, pois, de uma animação cuja manisfestação se perde no tempo, ligada fundamentalmente à festa, ao recreio e como refere Lopes, ao tempo do “não trabalho” (2008c:135). Autores como Ventosa, Ucar, Garcia e Lopes, conceituados estudiosos, afirmam que, como prática difusa, não é possível identificar de uma forma precisa a origem, e muito menos atribuir uma cronologia à animação. Todavia, a animação sociocultural aqui entendida como técnica de intervenção social e cultural pode, ao contrário da animação, ser determinada temporalmente.

Assim, sabemos que em Portugal ela nasce nos anos setenta como resposta aos “problemas derivados da identidade cultural, integração, participação, comunicação, socialização, relação e educação” da sociedade em geral. (Garcia in Lopes, 2008c:135) Sabemos também que todo o seu percurso foi determinado quer pela evolução social quer pela evolução política vigente. Na verdade, e como refere Lopes“a origem da animação sociocultural em Portugal pode ser cabalmente explicada à luz da evolução social ocorrida a partir dos anos setenta, com o fim do regime totalitário” (2008c:135).

É importante compreender os processos e evolução política que condicionaram ou permitiram o desenvolvimento e intervenção da animação sociocultural no nosso país. Recorde-se, a título de exemplo, o regime totalitário a que Portugal esteve sujeito e que compreendeu o período de 1926 a 1974. Durante os quarenta e oito anos de ditadura foram substancialmente reduzidas a liberdade de opinião e expressão, bem como o direito à reunião e associação, facto este que, como refere claramente Lopes “colocou

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14 em questão a própria evolução natural da animação”. (2008c:135) Como sugestão recorde-se também a contextualização política e social dos anos sessenta, o período do 25 de Abril, caracterizado pela mobilização popular, bem como o período do pós- 25 de Abril, excelente reflexo do desenvolvimento da liberdade da expressão e associação em Portugal.

Observando detalhadamente estes factos, não há dúvida de que a evolução da animação sociocultural sempre dependeu do contexto histórico.

Assim, e cronologicamente, podemos encontrar três fases distintas que marcaram a evolução da animação sociocultural em Portugal e que importa agora recordar sob a perspectiva de Lopes e em jeito se síntese.

A primeira fase, a fase intemporal, entende a animação como um processo difuso e, como tal, ela advém das práticas comunitárias realizadas. Esta animação liga-se à necessidade do Homem estabelecer relações sociais, culturais, políticas e económicas com outros homens. Segue-se a segunda fase, que compreende o período de 1960 a 1974 em que a animação se encontra ao serviço de uma estratégia política. Trata-se de uma animação que Trata-se encontra acima de tudo na história dos movimentos oposicionistas em Portugal. Por fim, a terceira fase, é a fase da institucionalização, que decorre a partir do 25 de Abril de 1974 até aos dias de hoje e que se caracteriza pela instauração das liberdades democráticas em Portugal. É nesta altura que a animação sociocultural se expressa mais livremente como um processo que visa a consciencialização participante e criadora das populações. Neste âmbito, ela é reconhecida como um processo destinado a estimular as pessoas e os grupos para o seu auto-desenvolvimento. Essa é a época do despertar, da descoberta e desenvolvimento das potencialidades e capacidades de cada comunidade. Afirmações da DFT1 reforçam esta ideia: “a animação sociocultural é a aquisição de competência necessária para que os grupos ou comunidades sejam agentes de mudança e não meros espectadores passivos”. (DFT in Lopes, 2008:144).

A animação sociocultural conquista, pois, um espaço na sociedade que, outrora, não lhe era permitido pelo regime totalitário. A animação sociocultural tem vindo a aprofundar os seus conhecimentos, procurando beber dos diferentes saberes académicos, de tal modo que conseguiu já consolidar-se social, educativa e culturalmente. Deste modo, e graças a esta consolidação, Portugal apresenta uma pluralidade formativa nos domínios da animação sociocultural. Se estivermos atentos e

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15 realizarmos uma simples observação da realidade formativa neste âmbito, podemos constatar que existe um incremento significativo dos cursos de formação ao nível da animação sociocultural e animadores socioculturais de nível inicial e intermédio. Verificamos de facto, um importante crescimento de cursos de animação sociocultural e de animadores socioculturais no ensino superior privado, bem como, uma importante proliferação de cursos de formação profissional. Do que se trata agora não é de conquistar o reconhecimento social, mas de compreender em que medida estes cursos respondem às expectativas e necessidades sociais da actualidade.

Por outro lado, é importante não esquecer que esta proliferação de cursos de animação sociocultural pode levar a médio ou longo prazo a uma saturação de animadores socioculturais no mercado de trabalho.

A este propósito Ventosa é perentório quando diz que é preciso reflectir, debater e procurar “una vía integradora de los diferentes niveles y titulaciones proprias de la Animación sociocultural”(1997: 171). A preocupação reside, pois, na necessidade de ajustar os inúmeros modelos de formação de modo a que este facto possa vir a constituir uma verdadeira referência para a harmonia, homologação e regulação deste sector. O grande problema reside, portanto, nos inúmeros modelos ou tipologias de formação existentes que conferem ao sector da animação sociocultural, não só em Portugal como em toda a Europa, características de verdadeira heterogeneidade. Está claro que, para que a animação sociocultural se estabeleça ainda com mais força entre os diferentes universos do saber e a sociedade em geral, é necessário que os seus especialistas tracem modelos comuns de formação e de actuação no que toca às políticas de formação de animadores socioculturais.

Em Portugal esta proliferação de cursos de animação sociocultural foi atenuada a partir do momento em que se efectuou em 2006 uma importante Revisão Curricular dos Cursos Profissionais de nível III, que afectou de forma significativa os modelos e tipologias de formação de animadores. O mais significativo desta revisão curricular é, sem dúvida, o desaparecimento de dezoito cursos de animação sociocultural específicos, para dar lugar apenas a um curso de carácter genérico. Ora, é precisamente sobre estas questões que recai o presente estudo. O que se pretende é compreender quais as características que apresenta este novo curso. Para além disto, procurarei identificar as instituições em Portugal que têm a função e responsabilidade de ministrar cursos de animação sociocultural e de animadores socioculturais. O importante é, pois, saber quais os modelos de formação de animadores de nível III existentes em Portugal.

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16 Na verdade, trata-se de um tema muito pouco explorado que, certamente, exigirá muitas horas de investigação no terreno e uma séria reflexão da documentação recolhida. A ideia será efectuar um levantamento desses cursos e realizar um estudo comparativo acerca do seu referencial de competências mobilizáveis, isto é, compreender os seus “saber-fazer” técnicos, os seus “saberes” e os seus “saberes-fazer” sociais e relacionais.

Por outro lado, pretende-se de igual forma, realizar uma abordagem acerca do plano de estudos dos diferentes modelos, analisando não só a sua componente de formação sociocultural, e científica, bem como a sua componente de formação técnica, sem esquecer as diferentes cargas horárias atribuídas a cada uma destas componentes. Importante será também abordar o tema da empregabilidade e das saídas profissionais dos indivíduos com formação nesta área, pois é um tema que, apesar de polémico, suscita verdadeiro interesse por parte dos seus especialistas.

Por outro lado, não deve esquecer-se de maneira nenhuma as questões relacionadas com o perfil do próprio formador. Esta será, portanto, uma questão igualmente polémica, mas que deve ser debatida e desmistificada.

Tendo em conta estes objectivos gerais, apresentam-se de seguida, e de forma sucinta, alguns tópicos que farão parte deste trabalho.

No Primeiro Capítulo será esclarecida qual a metodologia e quais as técnicas utilizadas para a investigação em causa. Neste mesmo capítulo, irá fazer-se uma análise acerca das inúmeras metodologias e técnicas existentes, demonstrando como essa diversidade poderá constituir um verdadeiro problema de indefinição para o investigador.

No Segundo Capítulo serão abordadas questões relacionadas com a conceptualização acerca da animação e do animador sociocultural. Aqui serão apresentadas muitas das perspectivas sobre o que é a animação sociocultural e o animador sociocultural.

No Terceiro Capítulo, procurar-se-á fazer uma abordagem acerca da origem e trajectos do animador sociocultural em Portugal, debatendo também questões relacionadas com a tipologia e perfil dos formadores existentes.

No Quarto Capítulo será efectuada uma dissertação acerca dos primeiros sinais da formação Profissional em Portugal. Irá debater-se a importância da formação profissional e as Instituições responsáveis pela formação profissional de nível III em Portugal.

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17 No quinto Capítulo serão apresentados os Modelos de Formação de Animadores de Nível III no nosso país.

Já no Sexto Capítulo irão ser debatidas questões que dizem respeito ao futuro do animador sociocultural de Nível III. Neste capítulo, e “sem sermos futuristas” (Lopes, 2008c:48) apresentar-se-á uma perspectiva sobre qual o perfil do animador sociocultural do futuro, que tipo de mercado terá que enfrentar e que tipo de trabalhos virá a desenvolver.

Por fim, seguem-se as Considerações Finais onde se pretende realizar um apanhado geral das ideias mais importantes desta investigação.

Segue-se a Bibliografia que definirá quais as fontes utilizadas, e os Anexos, que, por sua vez, constituirão prova documental de toda a informação abordada ao longo deste trabalho de investigação.

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I Capítulo A Metodologia

1.1) A Importância do Uso de Metodologia

Etimologicamente método significa “caminho para”. Em investigação científica esta expressão diz respeito aos “processos a empregar para, de maneira ordenada e sistemática, se atingir o objectivo pretendido”.(Cristóvão, 2001:31) Trata-se pois de saber como percorrer “um caminho de passos calculados e programados”. (Op.cit, 2001:31)

A investigação em animação sociocultural também deverá prosseguir este caminho pois como campo de estudo, e inscrevendo-se dentro das ciências sociais ela também deverá “requerer gran atención y finura de análisis propria de los métodos cientificos”. (Quintana in Badesa, 1995:9). Do que se trata é de, ao iniciarmos o processo de busca, ser capazes de realizar aquilo que alguns autores determinam de “aplicación del pensamiento racional”. (Pérez, 2004:22) O uso do método implica pois “ânsia de saber e de descubrir elemento importante para generar entusiasmo y persistir en actitud de busqueda” (Op.cit, 2004: 22).

A este propósito há quem defenda que, “no basta examinar: hay que contemplar” (Ramón y Cajal in Pérez, 2004:22). O método joga portanto um papel de singular importância no processo de investigação pois mostra o caminho a seguir. O seu esclarecimento é fundamental, pois através dele todo o investigador “tiene la oportunidad de conocer lo que deben hacer e lo que no debe hacerse” em investigação. (Op.cit, 2004:12)

Como refere Ortega e Gasset “talentos medianos trabajando com método pueden producir maravilhas, sin método se pierde mucho tiempo...la imensa maioria de los que fracasan en sus trabajos intelectuales es por falta de método, no por falta de talento”. (in Pérez, 2004:23) A definição, uso e aplicação de um método é tão importante que “ela constitui disciplina instrumental para o cientista social, isto é, alguns dedicam-se a ela especificamente e fazem dela o próprio campo de pesquisa”. (Demo in Badesa, 1995:59)

Todavia, apesar de instrumental, o autor insiste em que ela não deixa de ser “condição necessária para a competência científica, porque poucas coisas cristalizam incompetência mais gritante do que despreocupação metodológica” (Op.cit, 1995:59). Assim sendo, qualquer trabalho de escrita que pretenda fazer avançar, completar,

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19 corrigir ou descobrir novos conhecimentos necessita portanto de observar certas normas metodológicas. O presente trabalho procurará também desta forma alicerçar-se num método que permita alcançar os objectivos inicialmente propostos.

1.2)- Os Paradigmas do Conhecimento e a Hermenêutica

Quando se trata de investigar no campo das ciências sociais e humanas ou das disciplinas afins, como é o caso da animação sociocultural, a escolha do método ou métodos de investigação a utilizar não é fácil. Muitas das vezes esta dificuldade na escolha do método prende-se com a existência de inúmeros métodos que, estando ao dispor do investigador, podem orientá-lo ou tornar a sua escolha morosa. Cabe aqui referir Glória Pérez Serrano, (2004) verdadeira mentora do Pluralismo Metodológico.

O Pluralismo Metodológico, permite ao investigador o uso não apenas de um, mas de vários métodos ou técnicas em simultâneo. O investigador em animação sociocultural pode fazer uso de diferentes metodologias de conhecimento e de acção. Neste sentido, poderá ainda dispor de uma visão triangular do conhecimento através de diferentes paradigmas: o paradigma tecnológico, o paradigma interpretativo e o paradigma dialéctico. Tratando-se de uma prática extremamente diversificada, só é possível compreender a animação sociocultural sob esta “pluralidade de enfoques disciplinares, requerendo para isso o uso de diferentes metodologias, de diversas linguagens que não se configuram de maneira nenhuma numa teoria unificada”. (Lopes, 2008c:69)

Assim sendo, apoiando-se nas teorias de autores como Habermas, Caride, reconhece três correntes como modelos que orientam o fazer teorico-metodológico da animação sociocultural. A primeira, e cito: “ pretende conservar a sociedade tal como ela é: o sistema de animação que desenvolve é naturalmente estruturado e hierarquizado”; a segunda “considera a transformação da sociedade mediante o fomento das relações sociais onde a animação se centra nas comunicações inter-individuais” e a terceira “é a corrente que deseja a transformação das estruturas económicas e sociais através do desenvolvimento da tomada de consciência e responsabilidade”.(Caride in Lopes, 2008c:69)

Tal como Serrano, Lopes enfatiza a importância do método de investigação não apenas pela acção, mas também pelo conhecimento, pela reflexão desse conhecimento e

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20 pela forma organizada e partilhada como se transmite. Paulo Freire é um dos maiores defensores desta metodologia do conhecimento onde a participação comprometida é a sua essência fundamental.

Falamos obviamente do paradigma dialéctico que considera a animação sociocultural como uma verdadeira forma de democracia cultural ao serviço das transformações e mudanças sociais. Este paradigma assenta portanto numa metodologia que permite às pessoas adquirirem consciência dos seus actos, lutem por valores e partilhem saberes, promovendo a qualificação das relações interpessoais e o diálogo comunitário.

É caso para dizer que neste paradigma do conhecimento e acção social, a teoria tem por fim “a aquisição da consciência político-social e a sua intenção final é a realização da democracia participativa (…) onde se pretende um bem-estar social para todos” (Lopes, 2008c:72). Dentro desta perspectiva e compreendendo cada um desses paradigmas, entendeu-se que o paradigma que mais se adequa à investigação em causa será o paradigma interpretativo uma vez que, do que se trata, é de interpretar os recursos bibliográficos existentes.

O paradigma interpretativo sendo uma técnica “interpretativa de textos“ (Caride, in Lopes, 2008c:70) permitir-me-á interpretar e dar sentido aos conhecimentos conferindo a esta investigação uma dimensão in-formativa. Assim sendo, a opção pelo paradigma interpretativo hermenêutico nesta investigação advém do facto de ela se centar fundamentalmente na interpretação dos textos e nas observações realizadas enquanto formadora de animadores de nível III em Portugal.

Na verdade, o que se pretende é compreender e interpretar toda a informação recolhida o que nos remete para um dos paradigmas metodológicos do conhecimento em animação sociocultural mais relevante: a hermenêutica.

A hermenêutica aqui entendida, “é o conjunto de conhecimentos e de técnicas que permitem fazer falar os signos e descobrir o seu sentido (...) é decifrar (…) conhecer (…) interpretar” (Foucault, in Lopes, 2008c:74) A hermenêutica é pois uma corrente do pensamento e etimologicamente significa “a arte de interpretar”.

Significa isto, que ela é um excelente instrumento de trabalho através da qual nos será possível, escolher e aplicar as técnicas mais adequadas e, estando perante os dados recolhidos, permitirá saber interpretá-los e acima de tudo, dá-los a conhecer.

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1.2.1)- O Conceito de Hermenêutica

Como costuma ocorrer com as palavras derevidas do grego a palavra hermenêutica abarca diversos níveis de reflexão. Um desses níveis remete-nos para o termo praxis- a praxis relacionada com a arte do “anúncio, da tradução, da explicação e interpretação e naturalmente da compreensão de algo que se ache obscuto ou duvidoso” (Gadamer, 2002f:112). Por outro lado, o termo hermenêutica e de acordo com o seu uso mais antigo, é um conceito que servia para transmitir as mensagens dos Deuses aos Homens. Era a Hermes, o mensageiro divino que cabia a difícil tarefa de transmitir através de uma linguagem acessível, os desígnios dos Deuses.

Ora, tanto de uma forma como de outra a hermenêutica serviria pois para compreender ou explicar o que a priori não seria entendível. Sabemos no entanto que hoje este conceito superou a simples interpretação ou tradução de mensagens de natureza divina. Actualmente na hermenêutica “aparece sempre implícita uma espécie de consciência metodológica. Isto é, não apenas possuímos a arte da interpretação como também podemos justificá-la teoricamente”. (Op.cit, 2002f:113) Quer isto dizer que no acto de compreender ou interpretar, não está apenas implícito o objecto estudado, mas está implícito o seu todo.

A teoria hermenêutica, serve-se portanto do recurso metodológico “através da interpretação recíproca de um todo e dos seus elementos constituintes” (Bleicher, in Gadamer, 1992f:355). Isto significa que, não são apenas foco de análise os textos que se podem interpretar ou traduzir para compreensão de todos, mas é preciso antes de mais ter em conta a compreensão não só do contexto e história de onde são originários como também a própria natureza de quem os analiza. Deverá portanto ter-se em consideração a “relação entre o todo e as partes pois é desta relação que reside o âmago da interpretação do sentido” (Op.cit, 1992f:354).

Eis que estamos perante o ciclo hermenêutico. Este ciclo, parte do princípio que a compreensão só é possível a partir da apreeensão do todo, mas inversamente, este só é realizável a partir da apreenção das partes. Ora, tomando como ponto de partida estas considerações não há dúvida o quanto é importante compreender o contexto de onde surgiu e se desenvolveu não só a animação sociocultural como a formação dos primeiros animadores socioculturais em Portugal.

O uso da hermenêutica interpretativa neste contexto parece pois fazer todo o sentido. Para se compreender a amplitude desta disciplina no contexto português será

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22 portanto necessário compreender todo o seu percurso, quer político quer social e cultural. A sua análise e compreensão depende portanto da compreensão de todos os fenómenos que a influenciaram, fenómenos estes que lhe permitiram avanços e recuos próprios das épocas e contextos vividos.

Para se compreender a animação sociocultural no seu todo deverá portanto ter-se conhecimento de toda as contextualizações que não são mais do que as partes que a aconstituem e justificam. Compreender todas as partes, nomeadamente, a história, o contexto político, o contexto social e cultural, o espírito que se vivia nas últimas décadas permite-nos compreender o todo, ou seja o tipo de formação que ocorreu e que se tem vindo a fomentar em Portugal.

1.3)- A Importância do Pluralismo Metodológico

Faz todo o sentido falar-se em pluralismo da investigação ou pluralismo metodológico pois crê-se que este é um dos métodos em ciências sociais mais indicado no que diz respeito à observação e compreensão da realidade. Este pluralismo metodológico defendido por vários autores permite contemplar em simultâneo vários problemas e inlusivé várias soluções para que seja possível ao investigador “la compreención en profundidad de los fenómenos”.(Pérez, 2004:26)

A investigação em animação sociocultural é orientada para a resolução de problemas daí que, para esta autora, seja tão importante o pluralismo metodológico, uma vez que os problemas são muito diversificados e susceptíveis de diferentes interpretações.

Ao contrário desta perspectiva, Keeves e Husén defendem a “unidad de la investigación educativa” (in Pérez, 2004:27)ou seja, não se trata aqui de utilizar ou ter ao dispor vários paradigmas metodológicos, mas trata-se antes de perspectivar a realidade de várias formas. Demo apresenta também numa das suas obras2 algumas críticas a esta metodologia fazendo referência às dificuldades e perigos que o pluralismo metodológico pode acarretar. Seja como for, Pérez defende esta metodologia como sendo a ideal para a compreensão dos fenómenos sociais.

Fazendo parte deste Pluralismo Metodológico encontra-se a metodologia qualitativa que permite por sua vez que a investigação e conhecimento em animação

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23 sociocultural seja capaz de transformar “de cambiar la realidad, objecto que caracteriza, constituye e justifica su razón de ser”.(Op.cit, 2004:27) Não se pense todavia que esta metodologia qualitativa não apresenta dificuldades.

A autora é bem clara quando afirma que esta investigação “encierra una série de dificultades desde la perspectiva metodológica, porque los datos deben ofrecer la necesaria consistencia y emerger de una descripción y registro cuidadosos” (Op.cit, 2004:29). O processo investigação implica acima de tudo “un cuestionamiento constante, unas perguntas que suelen llevarnos a otras nuevas, sin embargo no debemos perder el horizonte, ni el eje central del estudio, peligro bastante frecuente en la investigación de carácter cualitativo, dado que una questión nos lleva a otra, muchas vezes sin darnos cuenta” (Op.cit,2004:45).

Seja como for, a abordagem qualitativa é fundamental porque acima de tudo permite compreender, penetrar e captar as reflexões dos próprios actores, suas motivações, problemas e interpretações. A metodologia qualitativa será portanto a metodologia a aplicar neste trabalho de investigação. Na animação dá-se primazia aos intervenientes, às pessoas envolvidas, às suas motivações, problemas e interpretações sobre a realidade por isso, faz todo o sentido o uso deste método de investigação. Não se trata aqui de quantificar, mas sim de interpretar.

1.4)- O Método de Investigação Qualitativa

A investigação qualitativa é a meu ver a mais importante e a mais adequada para a acção da animação sociocultural uma vez que se afasta da simples recolha de informação. Com ela as pessoas abordadas não são de maneira nenhuma alvo de quantificação estatística.

Trata-se de uma investigação que, possui um carácter indutivo onde “a acção das pessoas nas suas manifestações são analisadas numa perspectiva holística e não submetidas a uma lógica de quantificação distribuída por variáveis”. (Lopes, 2008c:75).

Neste prisma, este tipo de investigação é feita a partir do mundo real, onde os processos sociais são estudados de modo flexível “construindo, reconstruíndo e adaptando o modelo de análise rejeitando posturas predefinidas, onde as pessoas têm rosto pois o investigador interage com elas (...) Na investigação qualitativa, o valor da

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24 informação não é ditado pelo seu prestígio social e ideológico, antes se procura atender ao seu pluralismo o que faz com que todas as perspectivas sejam consideradas valiosas”. (Op.cit, 2008c:75)

Recolhemos algumas considerações importantes que se deverão ter em conta aquando da aplicação do método qualitativo e que a seguinte citação ilustra perfeitamente: “definir muito bem o tema a investigar; colocar-se problemas ou perguntas de partida; definir a importância e relevância do estudo; considerar a viabilidade do projecto de investigação; proceder a uma pesquisa bibliográfica; fundamentar a escolha do paradigma qualitativo para responder às perguntas; definir o paradigma definir as características dos participantes; definir procedimentos para a obtenção de informação; proceder à análise dos dados e por fim, definir a forma de organizar e analisar a informação e elaborar a informação final”. (Gayou, in Lopes, 2008c:74)

Assim, procuramos fazer um estudo empírico, “porque observa la realidad”, comparativo, “porque analiza las semejanzas y diferencias entre los aspectos que merecen ser comparados”, e uma análise de conteúdo que, como técnica permitirá identificar “rasgos y valores” da realidade a estudar. (Badesa, 2004:14). Será ainda descritivo porque implica transcrições de “dados recolhidos em forma de textos e documentos” (Biklen, s/d:48) tal como se prevê que ocorra no decorrer desta investigação.

Assim, do que se trata é de fazer uso de Método Qualitativo onde o Pluralismo Metodológico, faz todo o sentido. Deste modo, a utilização deste pluralismo metodológico permite-me definir os diferentes métodos de trabalho a utilizar nesta investigação:

 Um estudo ou método Interpretativo (porque interpreta e procura o sentido da realidade a estudar);

 Um estudo ou método Descritivo (porque descreve as características do fenómeno a ser estudado);

 E por fim, um estudo ou método Comparativo (porque compara os vários fenómenos entre si).

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25

1.5)- Os Objectivos do Trabalho de Investigação

Identificado o processo metodológico, esta investigação pretende atingir os seguintes objectivos:

 Efectuar uma retrospectiva histórica sobre o aparecimento dos primeiros animadores em Portugal até à actualidade;

 Identificar todos os cursos de animação ou animadores de nível três em Portugal;

 Apresentar o Referencial de Formação de cada um dos cursos;

 Identificar as respectivas portarias;

 Esclarecer sobre o Referencial de Emprego (a missão do animador sociocultural, local de exercício da actividade, condições de exercício da actividade, a área funcional, as actividades) sobre o referencial de competências mobilizáveis (saberes- fazer técnicos, saberes, saberes-fazer sociais e relacionais) e por fim esclarecer sobre a formação e experiência profissional;

 Problematizar acerca da(s) tipologia(s) de formadores de Animadores de Nível III em Portugal;

 Dissertar sobre o futuro da animação e do técnico animador de nível III, debatendo o problema da empregabilidade e saídas profissionais.

1.6)- As Técnicas Utilizadas na Investigação e as Perguntas de Partida

Como a animação sociocultural é uma acção ou intervenção social que procura trabalhar para as pessoas e acima de tudo com as pessoas, irá utilizar-se como técnicas de

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26 pesquisa, para além da recolha de informação bibliográfica, a análise de conteúdo. Tudo para conseguir responder às seguintes questões de partida:

1. A revisão curricular em vigor a partir de 2006, constituiu uma forma de uniformizar a tipologia de formação de animadores de nível III em Portugal?

2. Apresentam os formadores do Curso Profissional Animador Sociocultural de nível III um perfil adequado para o exercício dessa função?

3. A revisão curricular dos Cursos Profissionais de Nível Secundário promoveu ou não melhoria na qualidade da formação Profissional de Nível III em Portugal?

4. Extintos dezoito cursos da área de animação sociocultural específica surge apenas um curso de carácter genérico: Técnico Profissional Animador Sociocultural. Constituirá esta revisão curricular carácter redutor ou limitador à prática da animação?

Estas premissas de valor, ideias, ou perguntas de partida constituem tema de reflexão de muitos investigadores que estão de acordo em afirmar que elas “devem ser não só, definidas explicitamente, devem ser específicas e concretas, devem ser seleccionadas em função dos objectivos como devem também ter um carácter hipotético”. (Myrdal, 1976:63).

Quanto à técnica de análise de conteúdo, importa, para compreender o seu sentido, contextualizar sobre as suas origens por forma a compreender o porque da sua aplicação neste contexto. Na sequência da obra de Lasswell e dos trabalhos de Berelson e Lazarsfeld, a análise de conteúdo, “foi durante bastante tempo apresentada como uma técnica predominantemente útil no estudo da comunicação social e programação política sendo ainda associada a objectivos programáticos e de intervenção”. (Vala, in Silva e Pinto, 2007:102)

Em 1955, refere o mesmo autor, o Congresso de Allerton House rompeu com esta tradição pois não eram apenas as ciências políticas, mas também os psicólogos, os sociólogos e linguistas que discutiam para além dos problemas da eficácia, os problemas teóricos e metodológicos. Apesar deste percurso, a análise de conteúdo é

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27 hoje uma das técnicas mais comuns na investigação empírica realizada pelas ciências sociais e humanas. “Técnica de investigação que permite a descrição objectiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto da comunicação.” (Op.cit, 2007:103)

Cartwright alarga o âmbito da análise de conteúdo uma vez que propõe a sua extensão “a todo o comportamento simbólico” ou seja, as vivências mais humanas e sentidas podem ser estudadas sempre e quando se tiver em conta as regras cientificas da investigação.

Krippendorf por sua vez, define a análise de conteúdo como “uma técnica de investigação que permite fazer inferências, válidas e replicáveis, dos dados para o seu contexto”. (in Silva e Pinto, 2007:103) Vala alerta para o facto da análise de conteúdo não servir apenas a descrição.Na análise de conteúdo o mais importante não é o discurso, mas as condições em que ele decorre.

O autor fala também dos níveis de investigação empírica que dependem dos objectivos do trabalho de investigação. Assim, ele distingue o “nível descritivo” descreve fenómenos; o “nível correlacional”, associação entre os fenómenos e o “nível causal”, (Vala, 2007:105) relações de causa efeito entre os fenómenos.

No primeiro caso, visa-se a descrição tão exaustiva quanto possível de um assunto, onde normalmente não se dispõe de hipóteses de partida, tratando-se mais de reunir dados de forma controlada e sistemática que depois se classifica e organiza. É pois neste sentido que o presente trabalho se insere. A análise de conteúdo é a técnica privilegiada para tratar de material recolhido e por isso, a sua aplicação no presente projecto de investigação faz todo o sentido.

1.7)- A Diversidade Metodológica: Conceptualizações e Perigos

Da investigação realizada acerca do melhor método ou das técnicas mais indicadas para este trabalho, muitas foram as obras abordadas. Na verdade, se um trabalho pode efectivamente correr sérios riscos com falta de informação, o perigo não é menor quando estamos perante uma imensidão de dados que a dado momento não conseguimos tratar. Não há dúvida de que, fazer a aplicação de um método numa investigação mais do que fundamental é imprescindível, todavia, a imensidão de métodos e técnicas de que dispomos, obriga-nos a uma séria reflexão acerca desta diversidade metodológica.

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28 Esta é pois uma questão que se apresenta pertinente para um debate. Seja como for, sabe-se que a diversidade metodológica é fundamental. A utilização de diferentes métodos em simultâneo implica maior rigor no trabalho realizado.”En la medida de lo posible que se lleve a cabo la triangulación de datos, métodos etc. En algunos casos la triangulación es una necessidad insoslayable para que la investigación sea séria y rigurosa” (Ander-Egg, 2003:7).

O uso do pluralismo metodológico na investigação social pode efectivamente permitir uma compreensão mais ampla e eficaz do objecto de estudo todavia, sabe-se também que esta multiplicidade de métodos e técnicas ao dispor da ciência pode acarretar problemas de escolha e definição. Por esta razão, os investigadores devem ter muito claro qual será o seu objecto de estudo e acima de tudo, delinear de forma clara quais os objectivos que pretendem alcançar.

Tal como referem Quivy e Caypenhoudt “os métodos devem ser escolhidos e utilizados com flexibilidade em função dos seus objectivos proprios, do seu modelo de análise e das suas hipóteses. Por conseguinte, não existe um modelo ideal que seja em si mesmo, superior a todos os outros”(1992: 231).

Ander-Egg reforça esta ideia ideia quando refere que a recolha de informação no processo de investigação deve ter em conta as exigências do método científico, devendo ser “sistemática y organizada, ser clara y com explicitación de sus propósitos asegurando garantias suficientes de la fiabilidad y validez” e por fim, “escoger aquellas técnicas o procedimientos más pertinentes” (2003:17). Não se deve crer na “panaceia do método” (Deshaies, 1992:108) ou seja, no uso de um só método. O real é muito mais complexo e implica várias ideias por isso, o uso de vários métodos tem de ser considerado.

Por outro lado, boa parte das técnicas existentes sendo as mesmas são denominadas de forma distinta o que pode acarretar sérios perigos na hora da escolha. É necessário esclarecer a amplitude dos métodos e técnicas existentes em ciências sociais e humanas e acima de tudo, provar como as diferentes denominações desses métodos e dessas técnicas podem confundir o investigador.

Não se confunda todavia, a importância do pluralismo metodológico, com a dificuldade que o investigador pode sentir na hora de escolher a metodologia a seguir. É imperativo o uso da diversidade metodológica, no entanto, o que pode ser perigoso e difícil é escolher essa metodologia sabendo que existe uma panóplia de escolhas. São várias as técnicas e procedimentos que podem utilizar-se com o propósito de investigar

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29 e conhecer. Cada uma das técnicas possui peculiaridades interessantes, “pêro cada una de las técnicas tienem sus debilidades”. (Ander-Egg, 2003:7)

Sabemos que a animação sociocultural bebe dos saberes das ciências e como tal, usa das mesmas técnicas e métodos de investigação. Neste sentido, um animador ao iniciar a sua investigação deverá ter cuidado com a escolha dos métodos e das técnicas a utilizar devendo ter presente as diferentes perspectivas e denominações dos autores especialistas destas áreas para não cair facilmente no desespero de não saber o que escolher e como se orientar. Um método deve servir para orientar, muitos métodos deverão servir para reforçar ainda mais essa orientação.

Ao reconhecer existirem numerosos métodos e técnicas, alguns autores crêem que este facto permitirá ao investigador e “a partir deles, procedimentos de trabalho correctamente adaptados ao seu próprio projecto”. (Quivy e Campenhoudt, 1992:15). Por isso é que a maior parte dos investigadores reconhecendo o crescimento progressivo das ciências, admitem uma diversidade de métodos em investigação social e por isso, afirmam que “hoy existen no uno, sino muchos métodos científicos” (Jurgenson, 2003:15). O método científico, como refere “es la suma de los principios teóricos, las reglas de conducta y las operaciones mentales y manuales que se usaron en el passado y siguen usando los hombres de ciencia, para generar nuevos conocimientos científicos.” (Tamayo in Jurgenson, 2003:13).

Noutros tempos era possível falar de um método científico, actualmente o campo total da ciência é tão complexo e heterogéneo que já não é possível identificar um método comum. Por isso é que muitos investigadores defendem um novo paradigma: o da investigação qualitativa aliado ao paradigma quantitativo. Para Jurgenson este novo paradigma é simplesmente “una visión diferente que aborda otra realidad, y muchas veces ambos paradigmas, pueden ser complementários” (2003: 30). Para ele, quem constrói a ciência são os homens, sendo que toda a verdade objectiva resulta da perspectiva “de que los humanos construimos nuestro conocimiento” (Op.cit, 2003:43).

Este exercício não se apresenta nada fácil. Trabalhar com pessoas é trabalhar com emoções e sentimentos que em muitos casos constituem obstáculos ao conhecimento. Como encontrar a objectividade num mundo de subjectivismos? Como é que a animação sociocultural poderá, sendo ela uma técnica de intervenção social por excelência, contribuir para o conhecimento? E de que forma esse conhecimento conseguirá transformar o mundo e a sociedade tornando-a mais justa, tolerante e pacífica. Grande tarefa esta a da animação sociocultural.

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1.7.1)- Os Métodos e as Técnicas: Confusão Conceptual

Na verdade, são tantas as técnicas e os métodos que a investigação social dispõe que, por vezes, até se pode tornar difícil a escolha das mais adequadas. Como afirma Pérez “la metodología es una dimensión esencial para realizar trabajos con calidad científica para aprender a pensar” (2004:11).

Todavia, coloca-se a questão de saber quando existe uma panóplia de métodos e técnicas ao dispor do investigador, como é que ele saberá que esses métodos e essas técnicas são as mais indicadas para o seu objecto de estudo? Quando iniciamos uma investigação começamos com um processo de busca e de indagação de questões e por isso é que é importante e necessário que, em qualquer investigação esteja presente a “la necesidad y exigencia de trabajar de forma rigurosa y sistemática (Op.cit, 2004:12). Por esta razão, é que o método é tão importante.“El método juega pues un papel de singular importancia en el proceso e investigación de tal modo que puede llegar a condicionar los resultados” (Op.cit, 2004:22).

Para além desta problematização acerca do excesso de métodos e técnicas a utilizar, para além dos inconvenientes que isto pode trazer ao investigador na hora da escolha, também pode trazer mais-valias uma vez que, dispondo ele de muitos instrumentos de investigação mais fácil será a sua tarefa de investigar. Isto porque, cada método e cada técnica utilizada darão o seu contributo para o desfasamento e conhecimento da realidade. Por isso é que, de todas as obras aqui analisadas o que as torna próximas e com características comuns é o facto de todos os autores defenderem a pluralidade metodológica ou triangulação.

Seja como for, tanto na educação social como na animação sociocultural a investigação é escassa, pois aqueles que se dedicam a trabalhar nestes âmbitos “suelen priorizar la acción”(Op.cit, 2004:21). A investigação em animação sociocultural é orientada para a resolução de problemas daí que seja tão importante o pluralismo metodológico, uma vez que os problemas são muito diversificados e susceptíveis de diferentes interpretações e resoluções. Apesar de assim ser, a verdade é que aquando da revisão da literatura acerca da metodologia, damos conta de um sem fim de métodos e técnicas que podem, senão forem bem escolhidas, comprometer todo o trabalho de investigação.

Por esta razão, entendeu-se mesmo que de forma muito breve efectuar um levantamento acerca dos métodos e técnicas utilizadas em investigação social e a forma

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31 como cada investigador utiliza ou denomina esses métodos e essas técnicas. A confusão pode residir efectivamente nas diferentes terminologias utilizadas face aos mesmos métodos e técnicas. Por esta razão, todo aquele que pretender investigar deve saber muito bem em que consiste cada um deles e acima de tudo, ter consciência das suas vantagens e desvantagens. Vejamos então a vastíssima variedade de procedimentos metodológicos e acima de tudo, como estes podem ser denominados diferencialmente.

A maioria dos autores reconhecem que na investigação qualitativa a observação é a pedra angular do conhecimento seja ele científico ou não. A diferença entre a observação quotidiana e a observação para fins científicos radica “en que esta última es sistemática y propositiva” (Jurgenson, 2003:104) Este autor, destaca da observação a observação participante, a não participante e a auto observação.

Ora, mas se Jurgenson reconhece a observação como método outros reconhecem-na como “técnica de investigação qualitativa”(Hébert, Goyette e Boutin in Lopes, 2008c:85)

Não há dúvida de que a entrevista é uma técnica fundamental na investigação. Aos diferentes tipos de entrevista alguns pensadores chamam de “continuum de formalidade” (Grebenik e Moser in Bell, 2008:139). Num extremo está a entrevista completamente formalizada (a entrevista estruturada) e noutro está a entrevista completa e informal (a entrevista livre ou não estruturada) Distinguem ainda as entrevistas preliminares e as entrevistas guiadas ou focalizadas.

Lopes reconhece a entrevista estruturada semi-estruturada e não estruturada. Outra das contradições é o facto de Jurgenson referir que para compreender a realidade não são necessários técnicos, mas sim “marcos teóricos ou interpretativos” (2003:42).

Por sua vez, Quivy e Caypenhoudt, destacam vários métodos nomeadamente “a entrevista de grupo, o inquérito por questionário e a análise de conteúdo”. (1992: 188) As entrevistas por sua vez podem ser semidirectivas ou semidirigidas, pode ser centrada e longa em forma de História de vida. Os mesmos autores reconhecem ainda o método da observação directa, análise de documentos ou observação indirecta e ainda a observação participante e a não participante, reconhecem ainda o método de recolha de dados preexistentes, sejam eles dados secundários ou dados documentais. Defendem o método de análise de conteúdo onde destacam os métodos quantitativos e qualitativos e para tornar a escolha do método ainda mais complexa os autores distinguem na análise de conteúdo, as análises temáticas, as formais e as estruturais.

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32 Dentro da primeira distingue-se a análise categorial e a análise de avaliação, na segunda distingue-se a análise da expressão e a análise da anunciação, na terceira distingue-se a análise co-ocorrência e a análise estrutural propriamente dita. A análise de conteúdo tem portanto segundo a perspectiva destes autores um campo de aplicação muito vasto.

Fortin fala também de diferentes métodos referenciando o método qualitativo de onde destaca “a abordagem fenomenológica, a teoria fundamentada e a abordagem etnográfica”. (2000:147) Apesar destes métodos partilharem características não perseguem os mesmos objectivos.

Por outro lado, apesar de serem os mais frequentes a autora não descura outras correntes tais como a investigação acção, a investigação feminista, a investigação histórica e as histórias de vida. Como principais métodos de recolha de dados na investigação qualitativa ela reconhece a entrevista, a observação participante, o diário, a gravação, o vídeo, os questionários e as escalas fisiológicas. Reconhece ainda como métodos, a entrevista não estruturada ou semiestruturada, o material de registo, escalas de medida e fontes normalizadas. Os principais métodos de colheita são por um lado, as “medidas objectivas (anatómicas fisiológicas e mecânicas) e por outro lado, as medidas subjectivas (observações entrevistas, questionários as escalas normalizadas, a classificação Q, o método Delphi, os métodos projectivos e as vinhetas” (Fortin, 2000:240). Distingue ainda consoante o grau de profundidade da investigação dois tipos de entrevista a “estruturada ou uniformizada e a não estruturada ou não unifromizada”. (Op.cit, 2000:246)

A metodologia quantitativa também se pode denominar de “metodologia empírico-analítica” (Pérez in Trilla, 1998:104). Esta metodologia envolve métodos como os da investigação acção, a investigação cooperativa a investigação participativa e a avaliativa e a metodologia qualitativa que também denomina de “metodologia Humanístico-Interpretativas y orientadas al cambio”. (Op.cit, 1998:107).

Entende a autora que na animação sociocultural as metodologias com maior incidência são a investigação etnográfica, a investigação acção, e a investigação participativa. Reconhece métodos como o descritivo e o método comparado muito importantes para a animação sociocultural uma vez que, o primeiro ajuda a definir o problema, a tomar consciência dos dados acerca da realidade em estudo, a analisar registar e interpretar a informação sobre o estado actual da animação sociocultural e o segundo contribui para descobrir as semelhanças e diferenças na análise dos conceitos

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33 da animação sociocultural e das tarefas do animador bem como dos diferentes tipos de cursos de formação de animadores de nível III em Portugal.

Para outros é clara a importância da metodologia qualitativa que implica “indução analítica modificada, método comparativo constante e um plano de investigação” (Biklen, s/d:98). A autora reconhece ainda a “entrevista estruturada, não estruturada, semiestruturada e a entrevista muito aberta” (Op.cit s/d:135).

Ander-Egg preocupado por debater também esta questão recomenda o uso das diferentes técnicas de modo a contrastar a informação obtida através de diferentes procedimentos. Reconhece como técnicas de investigação da realidade a “observação, a utilização de dados e informação disponível, entrevista, o questionário enviado por correio, as escalas de medição de atitudes e opiniões, os testes, a sociometria, a análise conteúdo, o diferencial semântico e as histórias de vida” (Ander-Egg, 2003:58).

As entrevistas podem adoptar grande variedade de tipos e modalidades: estruturada, semiestruturada ou entrevista baseada num guião, entrevistas livres ou não estruturada e entrevista extensiva. Integrada ainda na entrevista não estruturada ou parcialmente estruturada, o autor define ainda a entrevista clínica, a entrevista não dirigida, a entrevista focalizada e a entrevista em profundidade. Fora da recolha de dados ele reconhece ainda outra variedade de entrevistas como as entrevistas profissionais, de onde se destacam as “entrevistas de acessoramento, a entrevista de selecção a entrevista de admissão a entrevista terapeeutica e a entrevista de avaliação e promoção laboral” (Op.cit, 2003:96). O autor distingue ainda o inquérito, a análise de conteúdo e o questionário de onde destaca “el cuestionário enviado por correo y cuestionario para grupos o de redacción colectiva.” (Op.cit, 2003:120). Das técnicas de investigação e recolha de dados que fazem parte do questionário Ander-Egg reconhece as entrevistas estruturadas, inquéritos realizados através de questionários enviados pelo correio, inquéritos administrados directamente pelo inquiridor, as escalas de medição de atitudes e opinião, os questionários e os testes.

O questionário poder ser feito por perguntas abertas perguntas fechadas ou dicotómicas perguntas categorizadas que por sua vez, podem ser perguntas “com respuesta en abanico” ou de “estimación” (Op.cit, 2003:325). As perguntas abertas podem ser livres ou não limitadas as perguntas fechadas podem ser limitadas ou alternativas fixas. Reconhece ainda as “perguntas de identificação, de facto, de acção de opinião, perguntas índice ou perguntas-test, perguntas tamiz, perguntas de controlo, perguntas introdutórias ou “rompehielos” (Op cit, 2003:338).

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34 Na técnica de investigação qualitativa destaca-se “a observação com diferentes nuances onde o investigador pode ser observador completo, observador como participante, participante como observador e participante completo”. (Junker in Jurgenson, 2003:104) Por sua vez, Gomes reconhece quatro tipos de observação aos quais chama de “sistemas de observación; sistemas categoriales; los sistemas, descriptivos, narrativos e tecnológicos”. (in Jurgenson, 2003:105)

Ceballos reconhece diferentes modos de observação: “a observação ordinária e a observação por participação” (s/d:91). No questionário distingue as perguntas por várias categorias: as perguntas dicotómicas, as perguntas múltiplas, as perguntas abertas. Distingue ainda as diferentes formas de entrevista: “directivas, não directivas, suscitadas ou colectivas e entrevistas repetidas” (Ceballos, s/d:97).

Ander Egg reconhece como técnicas de investigação, a “observação a utilização de dados e de informação disponíveis, a entrevista, o questionário enviado por correio, as escalas de medida de atitudes de opinião, os testes, a sociometria, a análise de conteúdo, o diferencial semântico, as histórias de vida, a técnica delphi e o estudo de caso”. (2003:7) O autor defende a triangulação reconhecendo que todas as técnicas e métodos de investigação social têm as suas potencialidades e as suas debilidades.

A questão prática que se coloca na investigação social é como contrabalançar as potencialidades e as debilidades que apresenta cada técnica. O segredo em implementar as vantagens e reduzir as limitações está precisamente em combinar as diferentes técnicas aplicadas a um mesmo objecto de estudo: a isto ele chama “triangulación”.(Ander-Egg, 2003:379) A triangulação é uma forma de convergência metodológica que se baseia no uso de diferentes técnicas e tem como objectivo assegurar que os dados empíricos sejam mais fiáveis que os que se obtém com o uso de uma só técnica.Cada método ou técnica é contrabalançada com outras. A triangulação é definida como a “combinación de metodologias en el estúdio de un mismo fenómeno”. (Denzin in Ander-Egg, 2003:379)

Ander-Egg reconhece diferentes tipos de triangulação: triangulação de métodos, de dados, de investigadores, triangulação teórica e triangulação múltiple. Qualquer que ela seja, o importante e substancial deste procedimento é o controlo cruzado ou “cross-checking que permite uma validação convergente ou uma compreensão mais global de um fenómeno”. (Ander-Egg, 2003:381).

A panóplia de métodos e técnicas mencionadas são apenas uma ínfima parcela das que existem na totalidade. Perante este facto, o investigador não é, nem nunca

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35 poderá ser, aquele que domina minuciosamente todas as técnicas de investigação. O que importa é que ele seja capaz de conceber e por em prática “um dispositivo para a elucidação do real” (Quivy e Raumond, 1992:14).

O conhecimento adquire-se de muitas maneiras. E a importância da triangulação é um facto. Nesta é possível “a articulação entre as teorias e as técnicas de recolha e tratamento de informação” (Pinto, 1997:35) As “opções de método” como chama o autor levanta problemas metodológicos. Por isso, o autor fala na necessidade de libertar a “imaginação metódica”(Op.cit, 1997:37). Para realizar ou proceder correctamente a uma metodologia é preciso antes de mais saber o que se procura, ou seja, trata-se de delimitar o objecto de pesquisa. A isto chama-se “formulação do problema”. (Deshaies, 1992:47). Este autor reconhece pois a diversidade de métodos-qualitativos e quantitativos, bem como a diversidade de técnicas que lhe estão subjacentes reforçando que numa investigação não devem separar-se necessariamente uma da outra.

A estas técnicas de observação quantitativa ou qualitativa outros chamam de “técnicas “humanistas (Op.cit, 1992:301) Reconhece ainda a técnica da observação, as técnicas documentais, técnicas vivas, a técnica do esquema experimental, as técnicas do meio e a técnica de avaliação de situações.

Uma boa parte dos pensadores defendem também a ideia de que “podemos utilizar vários métodos para adquirir conhecimento” (DencKer, 2007:22). O mesmo autor defende de igual forma os paradigmas que podem orientar qualquer investigação como sendo o paradigma qualitativo e quantitativo da investigação. “É importante que fique claro que as metodologias qualitativas não subtituem as quantitativas ambas são importantes e se complementam”(Op.cit, 2007:47) Para além da entrevista como técnica de recolha de dados, o autor defende também, a importância do questionário e da colecta de dados.

Vala menciona da análise de conteúdo referindo que é hoje uma das técnicas mais comuns na investigação empírica realizada pelas diferentes ciências sociais e humanas. É a recolha de informação de materiais bibliográficos, autobiográficos por forma a compreender a realidade que se quer estudar. Para Berelson é uma técnica de investigação que permite “a descrição objectiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto da comunicação”. (Vala in Silva e Pinto, 2007:103)

Para Henri e Moscovici e Krippendorf a análise de conteúdo é uma técnica de tratamento de informação e não um método. Vala defende a existência de três métodos “o método experimental, o método de medida (ou análise extensiva) e o método de

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