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Projeto Reforço Escolar: representações sobre o processo de alfabetização

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(1)Revista de Educação Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009. PROJETO REFORÇO ESCOLAR: REPRESENTAÇÕES SOBRE O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO. Andréia Osti Faculdade Anhanguera de Valinhos andreia.osti@gmail.com. RESUMO Esta pesquisa buscou explorar as representações de alunas do curso de Pedagogia sobre o processo de alfabetização. O interesse pelo tema surgiu em decorrência das dúvidas e questionamentos sobre as dificuldades apresentadas pelas crianças atendidas. Foi possível observar, nas alunas participantes do projeto, uma melhora de desempenho em relação às intervenções a serem planejadas e uma visão mais adequada dos fatores que influenciam o processo de alfabetização. Os resultados possibilitaram destacar os seguintes aspectos: a alfabetização implica na aquisição de códigos e na aplicação desse conhecimento em diversas situações que não apenas na escola; o método utilizado para alfabetizar pode se relacionar com o desempenho da criança; um ambiente privado de estímulos é o fator principal para desencadear uma dificuldade na alfabetização. Espera-se contribuir para uma melhor compreensão das representações acerca dos processos de aprendizagem bem como estimular novas pesquisas que ampliem o panorama deste trabalho. Acredita-se que a participação em projetos de aplicação prática, como é o caso do reforço escolar, possibilita às alunas não apenas vivenciar a realidade da sala de aula, mas coordenar a teoria e a prática aprendidas no decorrer do curso superior. Palavras-Chave: representações; aprendizagem; alfabetização.. ABSTRACT. Anhanguera Educacional Ltda. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP 13.278-181 rc.ipade@aesapar.com Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE. This research sought to explore the representations of female students of the Faculty of Education about the process of literacy. Interest in the subject arose as a result of the doubts and questions about the difficulties presented by the children they serve. It’s possible to observe in the students participating in the project, a performance improvement for interventions to be planned and a more appropriate of the factors that influence the acquisition of literacy. The results highlight the following aspects: literacy implies the acquisition of codes and application of that knowledge in different situations not only in school, the method used to teach literacy can relate to the child’s performance, an environment devoid of stimuli is major factor to trigger a difficulty in literacy. Expected to contribute to a better understanding of representations about the learning processes as well as stimulate further research to broaden the outlook of this work. It’s believed that participation in practical projects, such as strengthening school allows students to not only experience the reality of the classroom, but to coordinate theory and practice learned in the course of college. Keywords: representations; learning; literacy.. Informe Técnico Recebido em: 6/9/2009 Avaliado em: 3/4/2011 Publicação: 18 de agosto de 2011. 117.

(2) 118. Projeto Reforço Escolar: representações sobre o processo de alfabetização. 1.. O PROCESSO DE APRENDIZAGEM E A ALFABETIZAÇÃO O ato de aprender envolve um amplo processo que é, por um lado individual e particular a cada indivíduo, e por outro, implica o meio social e cultural em que este está inserido. O processo de aprendizagem escolar envolve desde a habilidade motora para segurar um lápis, até os conhecimentos prévios da criança, incluindo sua história de vida, sua linguagem e expressão verbal, a motivação e o interesse para aprender, assim como a interação com seus pares. De acordo com Sisto (1996) alguns teóricos têm afirmado que a aprendizagem produz. desenvolvimento,. outros. concebem. aprendizagem. como. um. processo. necessariamente desequilibrante, produto de conflitos cognitivos que o ser cognoscente vivencia e procura resolver. A teoria de Piaget (1974) é partidária desta última concepção e é nesse contexto que a aprendizagem se interliga ao desenvolvimento, porque faz com que o sistema cognitivo encontre novas formas de interpretar a realidade enquanto aprende. Vale lembrar que os trabalhos e pesquisas de Piaget (1974) mostraram que o conhecimento é construído pelo sujeito em interação com o meio, e que o ser humano não nasce com um sistema cognitivo pronto, mas que este se constrói na interação com o meio físico e social, através da própria atividade do sujeito. “As crianças se desenvolvem por suas próprias iniciativas e também por meio das experiências que a elas proporcionamos” (Castro, 1996: 30) Para Weisz e Sanchez (2002), a aprendizagem escolar além de lidar com o cognitivo e com o emocional, lida também com relações interpessoais vivenciadas em grupos sociais específicos. Define aprendizagem como uma inter-relação que compreende aspectos externos (pertinentes à escola enquanto ensinante) e aspectos internos (pertinentes ao aluno enquanto aprendente), sendo os dois aspectos permeados pelo social. É indubitável que no contexto da sala de aula, sobretudo nas salas de alfabetização, o aluno traz consigo conhecimentos anteriores à escola, ao mesmo tempo em que o professor trabalha conteúdos (pré) determinados pela instituição. É nesse encontro de experiências – aquilo que o aluno traz, sua vivência & os conhecimentos a serem trabalhados pelo professor, que gradativamente o processo de aprendizagem será construído. Para Piaget (1980), a criança é agente de seu próprio desenvolvimento e este será construído a partir de quatro determinantes básicos; a maturação do sistema nervoso Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 117-129.

(3) Andréia Osti. 119. central, a estimulação do ambiente físico, aprendizagem social e tendência ao equilíbrio. Todas as crianças passam por este processo, e seu desenvolvimento seguirá determinadas fases. Como a maturação é um dos elementos básicos de desenvolvimento, crianças de uma dada cultura amadurecem seus processos biológicos e psicológicos em faixas etárias aproximadas, por isso suas estruturas mentais e seus mecanismos funcionais acabam sendo comuns a uma grande maioria de crianças de uma mesma idade cronológica. Entende-se por estimulação todas as oportunidades que o ambiente proporciona à criança, as interações e contatos com os mais diversos objetos. A aprendizagem social engloba os conteúdos que são ensinados enquanto o equilíbrio implica em como o sujeito se auto regula mediante todos esses fatores. Portanto, o desenvolvimento cognitivo consiste num processo contínuo que obedece a uma ordem invariável e seqüencial de estágios. Cada estágio ou período é definido por uma estrutura de conjunto que determina todos os novos comportamentos característicos desta etapa. Mediante o exposto podemos considerar que a aprendizagem é provocada por situações externas e depende do desenvolvimento das estruturas cognitivas do indivíduo. É nesse sentido que o papel do outro torna-se fundamental pois ele fará a mediação entre o indivíduo e o objeto de conhecimento. O professor nessa concepção é figura central para a aprendizagem, sobretudo no processo de alfabetização por ser seu principal mediador. Mediar a aprendizagem implica em ajudar, orientar e direcionar o aluno na construção do conhecimento. Através da observação e da convivência em sala de aula, o professor pode identificar os processos cognitivos de seus alunos auxiliando-os no processo de alfabetização. Vale lembrar que a descoberta da escrita pela criança ocorre antes de seu ingresso na escola, por isso, é necessário que o professor ao alfabetizar crianças, considere sua história de vida e os aspectos culturais, sociais e políticos envolvidos. Para Nucci (2001), aos 3 anos de idade, a criança adquiriu as regras básicas de sua língua e pode ser considerada um falante competente da comunidade lingüística na qual está inserida. Ao entrar na escola, ela é capaz de entender e falar a língua materna (linguagem falada ou escrita usada pela sociedade na qual está inserida) com desembaraço e precisão, nas diferentes situações da vida, isto porque, falantes que convivem com alfabetizados acabam incorporando características da escrita em sua fala mesmo antes de serem alfabetizados. Ao ingressar na escola, a criança já desenvolveu hipóteses e construiu um conhecimento sobre o mundo, seus conhecimentos foram assimilados espontaneamente através de sua experiência cotidiana, com sua família, amigos, vizinhos, dos meios de Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 117-129.

(4) 120. Projeto Reforço Escolar: representações sobre o processo de alfabetização. comunicação. Até mesmo quando a criança entra pela primeira vez numa sala de alfabetização, ela traz consigo uma concepção de escrita, uma idéia da representação gráfica. Nesse sentido, voltamos a afirmar que o papel do professor é essencial, pois sua intervenção será fundamental durante a alfabetização, uma vez que ele é o agente deste processo. De acordo com Leite (2001), é principalmente através da mediação do adulto que a criança irá gradualmente identificar a natureza e as funções da escrita, num processo cujo ritmo é determinado pela quantidade e qualidade das interações do sujeito com a escrita. É função, portanto, da escola, dar continuidade, agora de forma sistematizada, a esse processo que vem se realizando naturalmente, por meio do qual a criança vem tomando contato com a escrita, pelas diversas práticas sociais que participa. Sabe-se que a criança traz marcas da escrita a partir de sua história de interações cotidianas. Essas marcas constituem-se em conhecimentos sobre a linguagem escrita, tendo a oralidade como referencial. A oralidade e a interação com o adulto parecem ser os fatores mais influentes na construção da escrita pela criança. (NUCCI, 2001, p.63). Através do exercício cotidiano de sua oralidade, a criança irá tornar-se cada vez mais fluente, desenvolvendo uma linguagem (falada) mais rica, tornando assim a sua relação com o adulto mais próxima, e desejando compreender a escrita, o mundo letrado, uma vez que a fala está desenvolvida. No que tange a alfabetização, existem alguns pré-requisitos, do ponto de vista psicomotor, para que uma criança aprenda a ler e escrever. Segundo Oliveira (1996) é necessário que como condição mínima, ela possua um domínio do gesto e do instrumento, tenha definida sua lateralidade, discriminação visual e auditiva, pois não há a possibilidade de se alfabetizar uma criança que ainda não possui o controle de seu gesto, que não está preparada nem capacitada, por exemplo, para segurar um lápis. No processo de alfabetização é necessário que o professor estabeleça uma relação de confiança centrada no respeito pelo que a criança sabe e é. De acordo com Tassoni (2001), o modo como o professor lida com o erro reflete diretamente na disposição do aluno em arriscar-se, melhorando sua autoconfiança. Nesse sentido é importante que o professor demonstre carinho e aceitação integral ao aluno para que este passe a confiar mais em si mesmo. A pesquisa de Gontijo (2001) aponta três aspectos para os quais os professores que atuam com alfabetização devem estar atentos, a saber: avaliar a sua atuação e didática na sala de aula; observar e valorizar os esforços das crianças na busca da apropriação escrita; ter consciência acerca da qualidade das relações que são construídas em sala de aula. Em relação a este último aspecto pode-se enfatizar o quanto é importante à relação. Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 117-129.

(5) Andréia Osti. 121. estabelecida entre o professor e o aluno. Se esta relação for pautada na confiança e respeito, a criança certamente não temerá o erro, e se a relação for oposta, baseada no medo, na punição, a criança poderá não conseguir progredir no desenvolvimento de sua aprendizagem, pois terá medo, se sentirá insegura ao fazer perguntas ao professor ou em tirar dúvidas. Assim, ao adotar a concepção psicogenética da linguagem escrita podemos afirmar que a teoria piagetiana contribui para explicar os processos de aprendizagem ao considerar a relação de interdependência entre cognição e afetividade, ou seja, o indivíduo constrói seu conhecimento, mas essa construção depende das interações, experiências e das oportunidades a que teve acesso. Essa concepção traz à tona a importância da relação dialógica e afetiva em sala de aula. Acredita-se que a afetividade está presente em todas as relações sociais. Não há como negar que o vínculo afetivo entre professor e aluno influencia as relações em sala, tornando o ato de aprender e de ensinar um processo harmonioso ou desastroso, dependendo da qualidade das interações vivenciadas entre professores e alunos no espaço da sala de aula. Segundo Piaget (1980) os aspectos afetivos e cognitivos da ação são “indissociáveis, irredutíveis e complementares”. Esclarece ainda que todo comportamento humano envolve inteligência e afetividade. A aprendizagem é um processo que ocorre quando a pessoa, em virtude de determinadas experiências, que incluem necessariamente inter-relações com o contexto, produz respostas novas, modifica as existentes, ou seja, quando o indivíduo estabelece novas relações entre sua atividade e o ambiente do qual faz parte. A análise de pesquisas piagetianas indica a necessidade de serem considerados os diferentes níveis do desenvolvimento do aluno e as possibilidades de priorizar situações que signifiquem melhores experiências para esses, assim como tornar a experiência escolar um fator significativo para o desenvolvimento cognitivo, sobretudo no processo de alfabetização. Sendo a sala de aula o local e o espaço onde se desenvolvem as aprendizagens e se constrói as relações que irão influenciar alunos e professores, concentra-se nesse espaço a dualidade aprender e ensinar, que estabelecem a relação professor (aquele que ensina) e aluno (aquele que aprende). Estabelecida esta relação, inicia-se o processo de ensinoaprendizagem. No entanto esses papéis não são imutáveis, uma vez que professores e alunos, aprendem e ensinam um ao outro, constantemente, em todo o processo cognitivo.. Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 117-129.

(6) 122. Projeto Reforço Escolar: representações sobre o processo de alfabetização. O rendimento e desempenho escolar podem ser influenciados tanto por problemas afetivos, cognitivos como por problemas relacionados à escola. O aluno pode estar apresentando dificuldades na alfabetização como conseqüência de não estar se adaptando a metodologia usada, ou por dificuldades na relação com o professor e com os colegas. Consideramos essencial identificar as interações que favoreçam a construção do conhecimento e seu acesso, para facilitar a vida do escolar. Por isso se faz importante a análise da postura e conduta do professor, uma vez que ele pode influenciar no desenvolvimento da criança. Este trabalho procurou compreender quais são as representações de um grupo de alunas que ainda não atua profissionalmente sendo o único contato com a prática da sala de aula a participação no Projeto Reforço Escolar da Rede Anhanguera - Unidade Valinhos.. 2.. ALGUNS REFERENCIAIS SOBRE O CONCEITO DE REPRESENTAÇÃO SOCIAL E O PAPEL DO PROFESSOR De acordo com Moscovici (2005), a função da representação social é a elaboração de comportamentos e a comunicação entre as pessoas na vida cotidiana, uma vez que as elaborações mentais terminam por construir o pensamento no ambiente onde se desenvolve o cotidiano do indivíduo. A representação é construída dentro do cotidiano, ou seja, é uma forma de conhecimento elaborada e partilhada. O modelo de representação social, segundo Moscovici (2005) está baseado no pressuposto de que a imagem mental não se distancia da opinião do indivíduo, isto é, a informação recebida é filtrada através de cognições e de valores próximos à percepção da realidade externa; essa percepção ocorre a partir dos valores e das crenças presentes no contexto em que o indivíduo está inserido. Nesse sentido, o desenvolvimento cognitivo se constrói a partir da influência direta do coletivo, considerando o espaço individual dentro do grupo social. Na interação que professor e aluno estabelecem na escola, os fatores afetivos e cognitivos influenciam esta relação, pois através das imagens construídas por alunos e professores a respeito um do outro, cria-se uma rede de expectativas recíprocas entre esses, que pode ou não ser harmoniosa.. Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 117-129.

(7) Andréia Osti. 123. Acredita-se que a relação professor – aluno, mais do que ser pautada pelas ações que um dirige ao outro é afetada pelas idéias que um tem do outro, ou seja, pelas representações mútuas entre docente e discente. De acordo com Osti (2004) para que a interação professor & aluno possa levar à construção do conhecimento, a interpretação que o professor faz do comportamento do aluno é fundamental. É necessário observar o comportamento assumido por seus alunos, pois este pode ter muitas significações. Além disso, o professor precisa compreender que aspectos de sua própria personalidade (desejos, valores, preocupações, frustrações) influem em seu comportamento ao longo das interações que ele mantém com a classe. Também esclarece que os comportamentos do professor e dos alunos estão dispostos em uma rede de interações envolvendo comunicação e complementação de papéis, em que expectativas recíprocas são colocadas. Nessas interações é importante que o professor procure colocar-se no lugar dos alunos para compreendê-los, ao mesmo tempo que os alunos podem, com a ajuda do professor, conhecer as opiniões, os propósitos e as regras que este busca estabelecer para a classe. A partir do momento que o docente está familiarizado com os modos através dos quais seus alunos raciocinam, conhecendo como eles pensam, estará em posição de organizar a situação de aprendizagem, interagir com seus alunos e contribuir para um bom relacionamento com a classe. Em relação ao seu trabalho, o professor precisa estar atento a algumas condições para que ocorra a aprendizagem. Em primeiro lugar, ele deve ter claro seus objetivos ao ensinar, levar em conta as características do aluno e da classe, seu domínio e suas habilidades. Deve se questionar sobre o porque determinados alunos apresentam dificuldades, observando o desempenho deste e analisando sua produção continuamente, para se assegurar se há (ou não) uma dificuldade ou se o aluno não domina apenas determinado conteúdo. Também precisa reavaliar sua prática e atuação, tentando identificar falhas e superá-las, uma vez que ele é co-responsável por aqueles alunos que apresentam dificuldades e que não aprendem determinados conteúdos. Para ensinar não basta ter conhecimento duma série de metodologias de ensino optando por esta ou aquela. É preciso compreender o próprio aluno, as características de sua personalidade, a etapa de desenvolvimento motor, emocional, cognitivo e social na qual ele se encontra, bem como a maneira que aprende. (LIMA, 2000, p.149). É de extrema importância que o professor conheça seu aluno, para que possa analisar, compreender e saber lidar quando surgir uma dificuldade no processo de alfabetização. Também é importante que ele consiga distinguir entre uma dificuldade de. Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 117-129.

(8) 124. Projeto Reforço Escolar: representações sobre o processo de alfabetização. aprendizagem real e um problema ou dificuldade momentânea de seu aluno, relacionado ao conteúdo ou ao método. Segundo Rubinstein (2003), quem ensina precisa incentivar os alunos a relacionarem o que foi aprendido na escola com outras experiências fora dela e a propor outros temas e problemas que considerem relevantes. Aceitar como ponto de partida as preferências, rejeições, estado de ânimo dos alunos, possibilita ao professor criar condições para uma melhor compreensão de tais sentimentos e buscar solução aos obstáculos à construção dos conhecimentos. O processo de alfabetização, assim como todo o processo de aprendizagem é pautado numa relação de confiança e de interdependência entre professores e alunos. Esta condição é indispensável para que o aluno se sinta apto a participar das reflexões propostas em sala de aula. Quando o professor reconhece seu aluno como capaz e inteligente e se percebe como participante desse diálogo, trazendo seu conhecimento de mundo para a troca, possibilita um ambiente acolhedor e de qualidade, que favorece a aprendizagem. Quanto mais o aluno confiar, se sentir apoiado e respeitado pelo professor, mais ele demonstrará suas dúvidas e dificuldades, não se negando ou escondendo seus problemas. E o professor, poderá sentir-se mais confiante e capaz no desenvolvimento de seu trabalho, contando com a verdade e transparência no relacionamento com seus alunos, pois esses terão a liberdade de não apenas expor suas dúvidas, mas demonstrarem quando o método ou atividade utilizada pelo professor não estiver atingindo o objetivo proposto por ele.. 3.. A PESQUISA – PROCEDIMENTO METODOLÓGICO Esse trabalho buscou conhecer as representações das alunas do curso de Pedagogia da Rede Anhanguera, unidade Valinhos, que participam do Projeto Reforço Escolar. O interesse surgiu ao observar os constantes questionamentos das alunas sobre como se alfabetiza uma criança. Cabe destacar que as crianças atendidas no projeto, apresentam, em sua maioria, queixa de dificuldade na alfabetização. Os participantes desta pesquisa foram 20 alunas do sexo feminino, com idade variando entre 22 e 40 anos. Atuam como voluntárias no Projeto Reforço Escolar e não tem experiência com alfabetização nem com a prática da sala de aula. Foi utilizado como instrumento para a coleta de dados um questionário com duas questões abertas (dissertativas) referentes à concepção de aprendizagem e. Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 117-129.

(9) Andréia Osti. 125. alfabetização. O questionário foi entregue e aplicado individualmente durante o horário de orientação do projeto reforço escolar, que acontece semanalmente. As questões foram as seguintes: Para você, o que significa estar alfabetizado? O que você entende por aprendizagem? Acredita-se que ao conhecer como as alunas representam o processo de aprendizagem bem como compreendem a alfabetização, esse conhecimento possa nortear futuras orientações em sua formação. Todas as respostas foram divididas em argumentos e esses foram agrupados em categorias específicas seguindo a perspectiva de Bardin (1979) de análise de conteúdo. As categorias foram analisadas de acordo com a freqüência de aparecimento dos argumentos e descritas em porcentagem (%).. 4.. RESULTADOS Em relação à representação das alunas sobre o processo de alfabetização, 60% afirmaram que alfabetização significa decodificar, ou seja, implica em converter letras em sons e sons em letras. Ler e escrever são, portanto uma atividade que requer treinamento específico. O texto deve ser introduzido de modo gradual e com crescente nível de dificuldade e complexidade, sendo fundamental que o professor crie um ambiente alfabetizador e planeje suas ações visando desenvolver práticas de leitura e escrita. Essa resposta se insere dentro da teoria do método fônico. Segundo Capovilla (2002) esse método se baseia na decodificação, isto é, a criança aprende a pronunciar a palavra na presença da escrita, convertendo assim grafemas em fonemas, ou seja, implica na habilidade de converter sons em escrita e vice versa. Retomando os dados, 40% afirmaram que alfabetização significa compreender, ler e interpretar diversos tipos de textos, numa perspectiva construtivista. Segundo Ferreiro (1999) a criança aprende a partir de objetos escritos do cotidiano, os quais devem ter um significado para ela, para assim, aprender a escrita de modo funcional. A escrita é um sistema de representação, tem uma estrutura lógica. Para a criança construir o conhecimento sobre a escrita é necessário que estabeleça relações e construa hipóteses. Nessa concepção o professor precisa incentivar o contato com diferentes materiais escritos, em efetivas situações de uso da língua. Dentre as contribuições fundamentais trazidas por Ferreiro (2005) podemos destacar o estímulo à construção do saber, a prática pedagógica tecida no dia a dia da sala de aula, a flexibilidade capaz de respeitar o tempo do aluno, valorizando os seu ritmo. Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 117-129.

(10) 126. Projeto Reforço Escolar: representações sobre o processo de alfabetização. Essa abordagem conduz a uma ressignificação das práticas educativas, pois para promover o efetivo diálogo entre o ensino e a aprendizagem o professor precisa conhecer a quem ensina (seus saberes e pontos de desequilíbrio cognitivo) e o que ensina (a natureza da linguagem e o papel social por ela atribuído) na busca de um enfoque cada vez mais ajustado aos alunos. Portanto, cabe ao professor propor atividades dirigidas à formalização da alfabetização da criança. Nesse contexto, a didática desempenha papel de destaque na alfabetização da criança, pois está relacionada com a atuação do professor, que direciona as atividades propostas de acordo com uma prática que deve ser coerente com o método. A análise dos dados permite inferir que as alunas do curso de Pedagogia estão conseguindo ter uma concepção mais atual sobre o processo de alfabetização, isso porque enfatizam a mediação do professor como elemento fundamental e consideram a relação dialógica vinculando seu uso social. Também embasam suas respostas dentro de uma perspectiva teórica (60% método fônico e 40% construtivista) revelando assim a importância de se conhecer as teorias que orientam as práticas pedagógicas. Fica evidente que as representações das alunas sobre alfabetização são coerentes com as teorias estudadas na graduação e que de certa forma o projeto oportuniza à elas atuar junto à crianças que não estão alfabetizadas, podendo assim definir estratégias que contribuam para a aprendizagem dessas crianças. O professor que trabalha com a alfabetização deve buscar sempre novos conhecimentos e práticas para transformar o ensino em um momento prazeroso, dando a possibilidade para seus alunos demonstrarem seus conhecimentos em diversas situações. Sobre o que as alunas entendem por aprendizagem, 50% afirmam ser um processo contínuo e gradativo, em que a criança adquire e constrói seu próprio conhecimento a partir de sua vivência e atividade, e não necessariamente na escola, portanto, a criança é agente de seu próprio conhecimento. Para 40% aprender implica obter conhecimento através da educação formal, ou seja, a criança aprende a partir do contato com o mundo e pelas experiências que a ela são proporcionadas pela escola. Para 10% a aprendizagem depende de determinadas habilidades, ou seja, a criança deve estar preparada em termos de maturação neurológica. Essas três concepções apesar de parecerem dicotômicas se aproximam, pois ambas entendem que a aprendizagem acontece de dentro para fora, ou seja, a criança precisa estar cognitivamente e maturacionalmente pronta, necessita das experiências e estímulo do meio, ao mesmo tempo em que constrói seu próprio conhecimento. Isso nos. Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 117-129.

(11) Andréia Osti. 127. remete aos fatores citados por Piaget (1974) e que já foram apresentados nesse texto: maturação, estimulação, aprendizagem social e equilíbrio. Um ingrediente básico da teoria piagetiana consiste em compreender que nem tudo é ensinado em qualquer época ou circunstância, por maiores que sejam os esforços e por mais excelentes que sejam os recursos empregados. Isso porque o êxito pedagógico – a aprendizagem – depende também da aquisição de certas estruturas cognitivas pela criança. Pode-se inferir que a criança precisa estar preparada maturacionalmente, pois se não tiver, por exemplo, a habilidade para segurar um lápis, ou ainda não souber diferenciar letras de números, não poderá aprender a ler e escrever. Estando biologicamente preparada, respeitando a fase de desenvolvimento em que se encontra, ela construirá sua aprendizagem através do contato com o outro, através de sua própria experiência com o mundo físico e social, mas principalmente pelas experiências proporcionadas a ela por um interlocutor, um mediador. No que diz respeito à alfabetização, a criança construirá seu conhecimento através da estimulação e mediação do professor, pois ele é fundamental no auxílio ao desenvolvimento da aprendizagem. Portanto, a aprendizagem não está restrita ao biológico, a ter determinadas habilidades ou a estimulação que foi proporcionada ao indivíduo. Ela é a soma de todos esses fatores, é um processo global, amplo, que envolve o indivíduo, as pessoas relacionadas a ele, a mediação entre eles, o meio físico e social. A análise das representações desse grupo de alunas possibilitou compreender a aprendizagem como um processo que depende do desenvolvimento cognitivo e que é provocado por situações externas, ou seja, refere-se aos conteúdos adquiridos em função da experiência proporcionada pelos objetos de ação, pelo meio e pelo próprio indivíduo. Essa forma de conceber o processo de ensino e aprendizagem direciona o ensino no sentido de favorecer a construção do conhecimento adequando os conteúdos às competências dos alunos, assim como propiciar a interação entre professores, alunos e seus pares. Os resultados indicam que as alunas conseguiram, de certa forma, articular os conteúdos aprendidos na faculdade com a realidade da prática de sala de aula.. 5.. CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta pesquisa buscou iniciar uma investigação que permitisse conhecer a representação das alunas participantes do projeto reforço escolar acerca do processo de alfabetização.. Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 117-129.

(12) 128. Projeto Reforço Escolar: representações sobre o processo de alfabetização. Esse grupo considerou que as atividades oferecidas em sala de aula, o método e a postura do professor, podem contribuir para o desenvolvimento geral da criança, mas podem também agravar ou estimular o desenvolvimento de uma dificuldade. Considerando-se a importância do professor em sala, a sua mediação e intervenção como elementos fundamentais no processo de aprendizagem, sobretudo na alfabetização, esse grupo mostrou-se preocupado e focado nos diversos fatores que participam da aprendizagem. Sabe-se que crianças com dificuldades escolares, tendem a se esforçar mais quando incentivadas e acreditadas por seu professor. Por outro lado, podem desistir ou ter cada vez mais dificuldades se a sua relação com o professor for baseada na insegurança e no medo de ser criticada ou julgada. Vale ressaltar que a concepção de aprendizagem das alunas reflete a idéia de que a criança, quando tem dificuldade em sua escolarização, essa pode ser conseqüência tanto da falta de estimulação e de problemas no relacionamento com os pais quanto resultado de um método ou uma didática inadequada. A questão da conscientização dos professores em relação à influência de sua prática sobre os alunos é um aspecto que deve ser trabalhado nos cursos de formação. O Projeto Reforço Escolar possibilita as alunas entrar em contato direto com o ensino, buscando fornecer apoio pedagógico, auxiliando as alunas tanto na pesquisa e elaboração de material a ser usado nas aulas quanto a refletir sobre a importância de sua postura e de sua prática. É de extrema importância a conscientização dos alunos - professores em formação - quanto ao reflexo de suas crenças e opiniões sobre o desempenho das crianças. A fim de um estudo mais aprofundado destacamos a necessidade de maiores pesquisas que busquem compreender como os alunos de graduação pensam as práticas pedagógicas. Acredita-se que uma investigação mais detalhada contribua para futuras pesquisas no sentido de ampliar a discussão sobre a formação dos alunos e sobre os conteúdos que mereçam maior destaque na universidade, visando sempre à melhoria do ensino e a atualização do profissional.. REFERÊNCIAS BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: 1979. CAPOVILLA, A.; CAPOVILLA, F. Alfabetização: método fônico. São Paulo: Mennon, 2002. FERREIRO, E. Alfabetização, representação e diferença. Revista Viver Mente e Cérebro – coleção memória da Pedagogia. São Paulo: Duetto, 2005. FERREIRO, E.; TEBEROSKY, A. A psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artmed, 1999.. Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 117-129.

(13) Andréia Osti. 129. GONTIJO, C.M.M. A apropriação da linguagem escrita. In: LEITE, S.A.S. Alfabetização e letramento: contribuições para a prática pedagógica. São Paulo: Komedi, 2001. LEITE, S.A.S. Alfabetização e letramento: contribuições para a prática pedagógica. São Paulo: Komedi: 2001. LIMA, L.M.S. Motivação em sala de aula: a mola propulsora da aprendizagem. In: SISTO, F.F. Leituras de psicologia para formação de professores. Rio de Janeiro: Vozes, 2001. MOSCOVICI, S. Representações sociais: investigações em psicologia social. Rio de Janeiro: Vozes, 2005. NUCCI, E.P. Alfabetizar letrando... um desafio para o professor! In: LEITE, S.A.S. Alfabetização e letramento: contribuições para a prática pedagógica. São Paulo: Komedi: 2001. OLIVEIRA, G.C. Dificuldades subjacentes ao não aprender. In: SISTO, F.F. Dificuldades de aprendizagem no contexto psicopedagógico. Rio de Janeiro: Vozes, 2001. OSTI, A. As dificuldades de aprendizagem na concepção do professor. 2004. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas - Unicamp, Campinas. PIAGET, J. Para onde vai à educação? José Olympio Editora, 1980. PIAGET, J.; GRECO, P. Aprendizagem e conhecimento. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1974. RUBINSTEIN, E. O estilo de aprendizagem e a queixa escolar: entre o saber e o conhecer. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003. SISTO, F.F. Atuação psicopedagógica e aprendizagem escolar. Rio de Janeiro: Vozes, 1996. TASSONI, E.C.M. Dimensões afetivas na relação professor – aluno. In: LEITE, S.A.S. Afetividade e práticas pedagógicas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2006. Andréia Osti Professora no curso de Pedagogia e nos cursos de especialização em Psicopedagogia, Educação Infantil e Educação Especial. Doutora em Psicologia da Educação pela Unicamp.. Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 117-129.

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