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A percepção da família no tratamento e suporte de dependentes químicos

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Academic year: 2021

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(1)Encontro Revista de Psicologia Vol. 17, Nº. 26, Ano 2014. Maria Fátima Xavier Faculdades Integradas Einstein de Limeira - FIEL fat-xavier@hotmail.com. Priscila Helena Jorge Rodrigues Faculdades Integradas Einstein de Limeira - FIEL priscila_hjr@hotmail.com. Marjorie Cristina Rocha Silva Centro Universitário Fieo - Unifieo silvamarjorie@yahoo.com.br. A PERCEPÇÃO DA FAMÍLIA NO TRATAMENTO E SUPORTE DE DEPENDENTES QUÍMICOS. RESUMO O objetivo deste trabalho foi verificar a percepção dos membros da família em relação às formas de tratamento e de suporte na recuperação do dependente químico. Assim, investigou a função e medidas adotadas para identificar os fatores importantes na relação familiar que facilitam a recuperação deste. Para tanto, elaborou-se um questionário com questões abertas que foi aplicado em 12 pessoas, sendo todos parentes ou responsáveis pelo dependente químico, num total de 7 mulheres e 5 homens, com idade mínima de 28 anos e a máxima 71 anos. Todos os sujeitos da pesquisa frequentavam um Grupo de Apoio a dependentes químicos. A partir dos resultados constatou-se que quase todos os familiares participam efetivamente do tratamento dos dependentes, pois tem uma expectativa positiva em relação a sua recuperação. Além disso, apoiam o drogadicto em seu processo de recuperação, pois consideram seu papel importante ou fundamental para a recuperação do mesmo. Foi possível identificar fatores que são relevantes na recuperação do dependente químico e o suporte familiar foi identificado como primordial em todas as fases do processo de superação da dependência. Palavras-Chave: drogas; reabilitação; redes de apoio.. ABSTRACT. Anhanguera Educacional Ltda. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 4266 Valinhos, São Paulo CEP 13.278-181 rc.ipade@anhanguera.com. The aim of this study was to verifying the perceptions of family members about treatment options and support in the recovery of the chemical dependents. We investigated the function and measures adopted to identify the important factors in the family relationship that facilitate the recovery of this chemical dependent. For both, a questionnaire was drawn with open questions that was applied in 12 people, all parents or people that was close to these chemical dependents, with a total of 7 women and 5 men, with minimum age of 28 years-old and the maximum 71 years-old. All the participants were attending a Support Group of Chemical Dependents. From the results, it was found that almost all the families participate effectively in the treatment of the dependents, because they have a positive expectation about their recovery. In addition, they support the drug addict in their recovery process, because they believe it’s an important role or essential thing for the recovery of them. It was possible to identify factors that are relevant in the recovery of the Chemical dependents and the family support has been identified as primary in all stages of the chemical dependence and about the end of the dependency. Keywords: drugs; rehabilitation; support lace.. Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Artigo Original Recebido em: 19/12/2012 Avaliado em: 24/02/2014 Publicação: 10 de julho de 2014. 99.

(2) 100. A percepção da família no tratamento e suporte de dependentes químicos. 1.. INTRODUÇÃO A dependência química tem se multiplicado ao longo dos anos, principalmente entre os adolescentes, revelando um alto índice de transtornos e doenças relacionadas ao uso de drogas. Isso afeta as pessoas de diferentes maneiras, razões, contextos e circunstâncias (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). A questão da dependência se tornou um problema de saúde pública e de nível social, além de ocasionar graves consequências na vida do dependente químico e consequentemente na organização familiar. De acordo com Milby (1988 apud GONÇALVES; GONÇALVES; GUARANY, 2002), não existem razões comuns aos indivíduos que os façam abusar do uso das drogas, pois essas razões variam de acordo com seus interesses pessoais, formação, e motivações. Entretanto, para muitos, o abuso começa com a curiosidade e a excitação de estar fazendo algo ilegal. Murad (1987 apud GONÇALVES et al., 2002) destaca alguns dos principais motivos e razões que levam os jovens a utilização de drogas, como por exemplo, problemas familiares, curiosidade, imitação, pressão do grupo, revolta contra a autoridade, discriminação social, entre outros. As primeiras experiências com drogas ocorrem frequentemente na adolescência, pois é nessa fase que o indivíduo é particularmente vulnerável do ponto de vista psicológico e social (SOLDERA et al., 2004). Concordando e acrescentando Abadi (1991 apud RIBEIRO et al., 2008) pontua que na adolescência ocorre uma confusão entre dependência e independência, e diante disso o uso de drogas pode ser visto pelo adolescente como uma forma pela qual ele poderá tentar se rebelar contra a autoridade representada pela família, pelas leis e pela sociedade. Além disso, as drogas podem ser encaradas pelo adolescente como uma forma dele se socializar e permitir se integrar a um grupo e não ser excluído dele. Segundo Paiva (2002 apud GONÇALVES et al., 2002), quando os indivíduos aceitam e procuram tratamento, geralmente eles demoram a tomar essa decisão, e isto faz com que a recuperação seja mais difícil. Outro fator complicador é o nível de adesão ao tratamento ou a práticas preventivas e de promoção serem baixo, devido ao desinteresse dos consumidores de drogas em se manterem em abstinência total, seguindo as orientações dos profissionais envolvidos no tratamento do mesmo (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). O sucesso do tratamento depende muito da atitude do dependente em não manter relacionamento com os antigos companheiros de consumo, nem ir a bares ou ambientes que possam encontrá-los, uma vez que esse contato faz com que o indivíduo. Encontro: Revista de Psicologia  Vol. 17, Nº. 26, Ano 2014  p. 99-110.

(3) Maria Fátima Xavier, Marjorie Cristina Rocha Silva, Priscila Helena Jorge Rodrigues. 101. volte a sentir um desejo intenso em consumir a droga, e, muitas vezes, não consegue resistir e volta a consumir (BUCHER, 1988, apud GONÇALVES et al., 2002). Além disso, para Grynberg e Kalina (1999 apud GONÇALVES et al., 2002), para o sucesso do tratamento também é imprescindível a vontade positiva do paciente para enfrentar de forma voluntária o processo de tratamento. Ainda enfocando sobre o tratamento do dependente, Noto e Galduroz (1999) afirmam que é essencial o desenvolvimento de intervenções complementares, voltadas à prevenção, além de trabalhos direcionados também ao indivíduo e seu meio social. Segundo o Ministério da Saúde (2004), para que se possam implantar programas de prevenção, educação, tratamento, e promoção; é necessário conhecer os consumidores das drogas, suas características e necessidades, e buscar novas estratégias de contato e vínculo com ele e com seus familiares. Além disso, não se deve visar como único objetivo a abstinência, uma vez que a vida humana dispõe de singularidades e diversidades que devem ser levadas em conta, para encontrar formas de estimular a participação e o engajamento dos dependentes químicos. De acordo com um estudo realizado em estudantes de primeiro e segundo graus da cidade de Campinas, foi apontado que a droga ilícita mais utilizada foi a maconha (SOLDERA et al., 2004). Ainda, segundo Nappo e Carlini (1993 apud NOTO; GALDUROZ, 1999), existem diferenças no padrão de consumo entre homens e mulheres, uma vez que as drogas ilícitas são mais consumidas por homens, e os medicamentos psicotrópicos são os preferidos pelas mulheres. Por isso o conhecimento dessas peculiaridades, se torna essencial para subsidiar as políticas públicas, embora no Brasil ainda seja pouco conhecida a real dimensão do consumo. Segundo Büchelle e et al. (2004, p. 234) “a dependência química é um transtorno crônico e pela sua própria natureza apresenta tendências a episódios de recaída”. Porém se o indivíduo decidir participar de um tratamento de forma motivada e ativa, terá grandes chances de conseguir um controle ao longo do tempo ou, também, conseguir livrar-se do vício (BRAUN, 2008 apud SANTOS, 2008). A recaída é considerada um conjunto de sintomas da doença, que se manifesta pelo uso de substâncias, após certo período de abstinência. Porém, a mesma pode ter um lado positivo, quando o dependente percebe que é portador de uma doença crônica e desiste de achar que já está curado, se tornando então facilitador do processo de recuperação. Sendo então importante enfrentar e aprender com essas recaídas, para que se possa melhor compreender e entender a sua recuperação relata Knapp (1993 apud MAZUCA; SARDINHA, 2000).. Encontro: Revista de Psicologia  Vol. 17, Nº. 26, Ano 2014  p. 99-110.

(4) 102. A percepção da família no tratamento e suporte de dependentes químicos. Estudo realizado com 25 internos da Unidade Dependência Química do Instituto de Psiquiatria (IPQ) no município de São José – SC, objetivou verificar os fatores de risco para recaída do uso de drogas. Os resultados da pesquisa indicaram que apenas 8% não enfrentaram o processo de recaída, 60% já tiveram recaídas, no mínimo 1 e no máximo 4 vezes, 24% de 5 a 9 vezes, e 8% já tiveram recaída por mais de 10 vezes (BUCHELLE et al., 2004). No que diz respeito ao processo de recuperação e enfrentamento do problema a família tem um papel importante, podendo ser facilitadora ou complicadora. Isso depende do tipo de vínculo estabelecido. A família é a primeira sociedade da qual o indivíduo faz parte, e a única que tem laços indissolúveis. Além disso, é na família que o indivíduo vive a maior parte da sua existência. Dentro da família, “As ações de cada um de seus membros são orientadas pelas características intrínsecas ao próprio sistema familiar, mas podem mudar diante das necessidades e das preocupações externas” (SANTOS, 2008, p.65). Além de geralmente ser a primeira a detectar a dependência, é a família, que tem o dever de zelar, proteger, e buscar formas de tratamento para o dependente, bem como buscar auxílio e ajudar no processo de tratamento. O vínculo familiar existente, antes da doença aparecer, deve ser mantido e reforçado, pois uma vez que a doença se instala na família, esses laços devem se estreitar de maneira mais forte, fazendo com que esse vínculo não se rompa, para não prejudicar e aniquilar todo o processo de tratamento. Além disso, o dependente químico necessita reestruturar sua vida e resgatar os valores que foram desgastados com a dependência, e é através da participação ativa da família no processo, que o dependente pode reaver esses valores que foram perdidos (SANTOS, 2008). Segundo Laranjeira et al., (1998), Lopes e Seadi (2002 apud SEADI; OLIVEIRA, 2009), na maioria dos casos, os terapeutas e as instituições recebem o dependente químico com a incumbência de devolvê-lo “curado” a família. Além do que essa família não é percebida como parte integrante do problema, e nem do processo de mudança do dependente. Com o objetivo de esclarecer e orientar a família do dependente químico, um dos instrumentos é a terapia familiar ajuda a família a compreender melhor os comportamentos e atitudes do dependente, e a melhorar a qualidade das relações interpessoais entre os membros da mesma, facilitando com isso o seu processo de recuperação. É necessária a presença da família dando todo o apoio e importância necessária que o caso exige, pois qualquer outro tipo de intervenção por si só, não. Encontro: Revista de Psicologia  Vol. 17, Nº. 26, Ano 2014  p. 99-110.

(5) Maria Fátima Xavier, Marjorie Cristina Rocha Silva, Priscila Helena Jorge Rodrigues. 103. resolverá a situação. Por isso, é necessário que se reforce ainda mais o vínculo familiar, uma vez que a dependência química já esteja instalada, para que não prejudique e aniquile o processo de tratamento. Além disso, o dependente químico vai necessitar do apoio da família para reestruturar sua vida em todos os aspectos, sejam eles moral, social, familiar, ou emocional (SANTOS, 2008). Segundo Barcelos (2000 apud SILVA, 2003), a família pode influenciar na recuperação do dependente químico, pois se conseguir resgatar a autoridade e definir os comportamentos adequados para o bem-estar da família, o jovem poderá adotar os comportamentos que poderão ajudá-lo na escolha de interromper o uso de drogas, pois se ele fizer o contrário sofrerá com isso (CAMPOS, 1998 apud SILVA, 2003). Por fim, Scivoletto e Andrade (2001 apud SEADI; OLIVEIRA, 2009), destacam que a abordagem familiar é importante no tratamento do dependente químico em geral, sendo fundamental quando o paciente é adolescente. Para isso, a família deve ser percebida como parte integrante do problema, e, portanto, do processo de mudança (LARANJEIRA et al., 1998; LOPES; SEADI, 2002 apud SEADI; OLIVEIRA, 2009). Diante do exposto, o objetivo deste trabalho foi verificar a percepção dos membros da família em relação às formas de tratamento e de suporte na recuperação do dependente químico.. 2.. MÉTODO A amostra do estudo foi composta por 12 participantes, sendo 4 mães, 2 pais, 2 esposas, 1 irmão, 1 irmã e 1 sobrinha de dependentes químicos e 1 sujeito não respondeu essa questão, sendo um total de 7 mulheres e 5 homens. A idade mínima foi 28 anos e a máxima 71 anos (M=46,25; DP=13,43). Todos os participantes da pesquisa frequentavam um Grupo de Apoio a dependentes químicos em uma cidade do interior do Estado de São Paulo Para desenvolvimento da pesquisa foi utilizado um questionário com questões abertas relativas à percepção dos mesmos em relação a sua importância na recuperação do drogadicto. Além disso, continha questões sociodemográficas a fim de levantar o perfil dos participantes, como iniciais do nome, data de nascimento, idade, estado civil, profissão e grau de escolaridade; e também questões referentes a dados de conduta em relação ao dependente químico. Inicialmente contatou a pessoa responsável pelo Grupo de Apoio onde seria realizada a pesquisa. Depois de sua autorização, permitindo a realização da pesquisa,. Encontro: Revista de Psicologia  Vol. 17, Nº. 26, Ano 2014  p. 99-110.

(6) 104. A percepção da família no tratamento e suporte de dependentes químicos. encaminhou-se o projeto de estudo ao Comitê de Ética em Pesquisa, atendendo a Resolução 196/96, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde. Assim, solicitou-se anuência desta pesquisa a esse comitê. Após a aprovação do Projeto de Pesquisa pelo Comitê foi possível a realização da pesquisa de campo. Em seguida foi feito novamente o contato com a pessoa responsável pelo Grupo de Apoio para o agendamento do início da pesquisa. No dia agendado foi explicado o objetivo da pesquisa, apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e aqueles que concordaram em participar da pesquisa assinaram o TCLE e em seguida responderam o questionário. A coleta de dados foi realizada em um encontro. Após o término da coleta de dados iniciou-se a análise quantitativa e qualitativa das respostas obtidas nas entrevistas. Com base nos resultados levantados através do questionário aberto, realizou-se a análise de conteúdo para conseguir o agrupamento das respostas de acordo com a congruência e semelhança temática. Tais conteúdos foram transformados em variáveis e analisou-se a frequência das mesmas nas respostas dos sujeitos. O programa utilizado para essa análise foi o Statistical Package for Social Science – SPSS, Versão 15.0.. 3.. RESULTADOS E DISCUSSÃO Inicialmente serão expostos alguns dados de caracterização a respeito das formas de dependência citadas pelos familiares. Na sequência, os resultados relativos à percepção da família em relação às formas de tratamento e suporte mais adequado na recuperação do dependente químico. Assim sendo, a tabela a seguir trata sobre a idade de inicio do uso de drogas. Tabela 1. Idade do início do uso das drogas. Idade de início do uso. Número de participantes. %. 11 anos. 1. 8,3. 13 anos. 2. 16,7. 14 anos. 1. 8,3. 15 anos. 3. 25,0. 16 anos. 2. 16,7. 18 anos. 1. 8,3. 25 anos. 2. 16,7. Total. 12. 100,0. Encontro: Revista de Psicologia  Vol. 17, Nº. 26, Ano 2014  p. 99-110.

(7) Maria Fátima Xavier, Marjorie Cristina Rocha Silva, Priscila Helena Jorge Rodrigues. 105. Em relação à idade de início do uso das drogas, verificou-se que esta se deu entre 11 e 25 anos, com média de 16,33 anos (DP= 4,41). Constatou-se que 58,3% (N=7) iniciou o uso de drogas com até os 15 anos. Tais dados corroboram os apontamentos de Soldera e et al. (2004), que relataram que as primeiras experiências com drogas ocorrem frequentemente na adolescência, pois é nessa fase que o indivíduo é particularmente mais vulnerável psicológica e socialmente. Além disso, segundo Abadi (1991 apud RIBEIRO et al., 2008) na adolescência ocorre uma confusão entre dependência e independência, em que o uso de drogas pode ser sentido como uma forma de se rebelar contra a autoridade da família, leis e sociedade. Assim como, as drogas podem ser encaradas como um meio de socialização, permitindo se integrar a um grupo. No que se refere as substâncias mais utilizadas, os dados podem ser verificados na Tabela 2. Tabela 2. Substâncias psicoativas utilizadas. Substâncias psicoativas. Número de participantes. %. Álcool. 1. 8,3. Cocaína e álcool. 2. 16,7. Cocaína e crack. 1. 8,3. Maconha e crack. 1. 8,3. Maconha e cocaína. 2. 16,7. Maconha, cocaína e álcool. 2. 16,7. Maconha, cocaína e crack. 1. 8,3. Subtotal. 10. 100,0. Sem resposta. 2. Total. 12. Em relação às substâncias psicoativas utilizadas, verificou-se que a droga de maior consumo é a maconha, seguida da cocaína e do álcool. Observou-se, ainda, que o uso concomitante de cocaína e álcool, cocaína e maconha, e maconha com cocaína e álcool representam 16,7% respectivamente. Tais dados encontrados assemelham-se a pesquisa de Soldera e et al., (2004), que apontaram que a droga ilícita mais utilizada é a maconha. Em relação às recaídas dos dependentes, verificou-se que 80% (N=8) já tiveram recaídas, sendo que dois familiares não responderam. Em relação à quantidade de recaídas dos dependentes, constatou-se que 37,5% dos dependentes tiveram uma recaída, 12,5% quatro reincididas, e 50% tiveram várias incidências. Esses dados coincidem com os da pesquisa realizada por Büchelle et al., (2004) sobre a recaída do uso de drogas, foi relatado que apenas 8% não tiveram recaídas, já 60% apresentaram reincidências, no mínimo 1 e no máximo 4 vezes, 24% tiveram de 5 a 9 vezes e 8% reincidiram mais de 10 vezes. Os resultados desta pesquisa, assim como dos autores supracitados, corroboram. Encontro: Revista de Psicologia  Vol. 17, Nº. 26, Ano 2014  p. 99-110.

(8) 106. A percepção da família no tratamento e suporte de dependentes químicos. suas afirmações de que a dependência química é um transtorno crônico que apresenta tendências a episódios de recaídas. A seguir pode-se conferir o papel da família na recuperação do dependente químico. Tabela 3. Papel da família na recuperação do dependente químico. Papel da família. Número de participantes. %. Apoio. 3. 25,0. Importante. 3. 25,0. Fundamental. 3. 25,0. Buscar orientação. 2. 16,7. Atenção / carinho. 1. 8,3. Total. 12. 100,0. Em relação ao papel da família na recuperação do dependente, verificou-se que 25% disseram apoiar o mesmo, e a mesma porcentagem que seu papel é importante ou fundamental. Esses resultados condizem com os apontamentos de Santos (2008), quando afirma que o dependente químico necessita do apoio familiar para reestruturar sua vida em todos os aspectos, pois só com a ajuda da família que o mesmo poderá recuperar seus valores outrora perdidos. No que diz respeito às medidas adotadas em relação ao dependente, os dados estão na Tabela 4. Tabela 4. Medidas adotadas em relação ao dependente. Medidas tomadas. Número de participantes. %. Ajudar e apoiar. 2. 16,6. Buscar orientação. 1. 8,3. Frequentar grupos de apoio. 1. 8,3. Impor regras e limites. 2. 16,7. Internação e diálogo. 1. 8,3. Internação e impor regras e limites. 1. 8,3. Tratamento psicológico e psiquiátrico. 1. 8,3. Tratamento psicológico e grupo de apoio. 2. 16,6. Nenhuma. 1. 8,3. Total. 12. 100,0. Em relação às medidas adotadas pelos responsáveis para lidar com o dependente, verificou-se que 16,7% relataram impor regras e limites ao mesmo. Além disso, foi relatada uma diversidade de respostas, como por exemplo: ajudar, apoiar, internação, tratamento, terapia e grupo de apoio. Tais apontamentos se assemelham com os de Barcelos (2000 apud SILVA, 2003), de que os pais têm o dever de dar atenção,. Encontro: Revista de Psicologia  Vol. 17, Nº. 26, Ano 2014  p. 99-110.

(9) Maria Fátima Xavier, Marjorie Cristina Rocha Silva, Priscila Helena Jorge Rodrigues. 107. carinho, abrigo, alimentação, mas também estabelecer limites e diferenciar o que é certo do que é errado. Na Tabela 5 é possível verificar a participação do dependente em algum tipo de tratamento. Tabela 5. Participação do dependente em algum tipo de tratamento. Papel da família. Número de participantes. %. Frequentam grupos de apoio. 3. 25,0. Uso de medicação. 1. 8,3. Internação. 1. 8,3. Tratamento com Psiquiatra. 1. 8,3. Subtotal. 6. 100,0. Sem resposta. 6. Total. 12. No que se refere à participação do dependente em algum tipo de tratamento, verificou-se que 25% frequentam grupos de apoio. Já o uso de medicação, a internação e o tratamento com psiquiatra, obtiveram 8,3% cada. Para Grynberg e Kalina (1999 apud GONÇALVES, et al., 2002), para o sucesso do tratamento também é imprescindível a vontade positiva do paciente para enfrentar de forma voluntária o processo de tratamento. Noto e Galduroz (1999) afirmam ser essencial o desenvolvimento de intervenções complementares, voltadas à prevenção, além de trabalhos direcionados também ao indivíduo e seu meio social. No que diz respeito às expectativas da família na recuperação do dependente, verificou-se que 83,3% dos familiares (N=10) têm uma expectativa positiva, porém 16,7% (N=2) acham difícil que o dependente se recupere. Segundo Laranjeira e et al. (1998), Lopes e Seadi (2002 apud SEADI; OLIVEIRA, 2009), na maioria dos casos, os terapeutas e as instituições recebem o dependente químico com a incumbência de devolvê-lo “curado” a família, o que corrobora com os dados que revelam que a maioria dos familiares acredita em sua recuperação. Na Tabela 6 é possível verificar os fatores que ajudam o dependente na fase de abstinência e na prevenção de recaídas.. Encontro: Revista de Psicologia  Vol. 17, Nº. 26, Ano 2014  p. 99-110.

(10) 108. A percepção da família no tratamento e suporte de dependentes químicos. Tabela 6. Fatores de ajuda na fase de abstinência e na prevenção de recaídas. Papel da família. Número de participantes. %. Imposição. 3. 25,0. Suporte externo. 1. 8,3. Suporte familiar. 3. 25,0. Suporte familiar e externo. 2. 16,7. Vontade própria. 2. 16,7. Vontade própria e suporte familiar. 1. 8,3. Total. 12. 100,0. Quanto aos fatores apontados pelos sujeitos da pesquisa que podem auxiliar o dependente na fase de abstinência e na prevenção de recaídas, verificou-se que 25% acreditam no suporte familiar ou na imposição como forma de ajuda, 16% indicaram o suporte familiar e externo, e a vontade própria. Desses 8,3% relataram que o suporte externo, a vontade própria e suporte familiar ajudam o dependente a se manter afastado das drogas. Os sujeitos, também, relataram o diálogo, apoio, orientação, imposição de regras e a participação de grupos de apoio como medidas adotadas para ajudar o dependente. Por isso, o vínculo familiar deve ser mantido e reforçado, para não prejudicar e aniquilar todo o processo de tratamento. E a fim de que a família, que geralmente detecta primeiramente a dependência, possa zelar proteger, e buscar formas de tratamento para o dependente, bem como buscar auxílio e ajudar no processo de tratamento (SANTOS, 2008). Em geral, verificou-se o quanto a família fica fragilizada diante da problemática da dependência, mas ao mesmo tempo se dispõe a auxiliar no tratamento ao buscar ajuda nos grupos de apoio, internação do dependente, auxílio psicológico entre outros, porém sendo imprescindível o desejo do dependente. Também ficou evidenciado, pelos dados, que os participantes adotam alguns procedimentos na tentativa de conter ou controlar o uso de drogas, como, estabelecer regras e limites, dar carinho, oferecer apoio, e procurar dialogar.. 4.. CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo desta pesquisa foi verificar a percepção dos membros da família em relação a sua importância na recuperação do dependente químico. A partir dos resultados é possível afirmar que o objetivo desta pesquisa foi alcançado. Para tanto, verificou-se as formas de suporte familiar utilizadas na recuperação do dependente químico, investigando seu papel e suas ações relativas ao drogadicto.. Encontro: Revista de Psicologia  Vol. 17, Nº. 26, Ano 2014  p. 99-110.

(11) Maria Fátima Xavier, Marjorie Cristina Rocha Silva, Priscila Helena Jorge Rodrigues. 109. Vale destacar aqui que a dependência química é um problema que envolve muitos fatores e que tem se multiplicado ao longo dos anos (Ministério da Saúde, 2004), tornando-se um problema de saúde pública e social. Essa ocasiona graves consequências na vida do dependente químico e consequentemente na organização familiar. Os dados mostraram que a decepção é o principal sentimento dos familiares diante da descoberta do uso das drogas. Constatou-se ainda que quase todos os dependentes já foram internados pelo menos uma vez, sendo que a grande maioria, ou seja, 80% dos dependentes, já tiveram recaídas. Uma vez que a dependência química é um transtorno crônico, o dependente está propenso a uma recaída. A principal reação da família, diante das recaídas do dependente, foi à internação, além do acompanhamento psicológico, já os sentimentos foram de desespero e tristeza. Quase todos os familiares dos dependentes relataram apoiar o dependente em seu processo de recuperação, e, também, que consideram seu papel importante ou fundamental para a recuperação dos mesmos, afinal a família tem o dever de zelar, proteger e buscar formas de tratamento para o dependente, bem como buscar auxílio e ajudar no processo de tratamento, como descreve Santos (2008). Diante dos resultados encontrados é possível afirmar que as medidas adotadas pelos familiares como forma de auxiliarem na recuperação do dependente foram, principalmente, impor regras e limites, além de tratamento psicológico, frequentar grupos de apoio e buscar orientação para entender e ajudar o dependente químico nesse processo, muitas vezes, difícil e demorado. Quase todos os familiares participam efetivamente do tratamento dos drogadictos, pois tem uma expectativa positiva em relação a sua recuperação. Para ajudarem o dependente na abstinência, os familiares se utilizam de muito diálogo, suporte familiar, suporte externo, além de participarem de grupos de apoio, visando ajudar o mesmo na superação de sua dependência. Nesta pesquisa foi possível identificar fatores que são relevantes na recuperação dos dependentes químicos. A família foi apontada como parte principal do processo de recuperação, oferecendo ao dependente apoio e suporte para que o mesmo consiga superar todas as fases do processo. Assim, esta pesquisa contribuiu com dados que apontam o suporte familiar importante na recuperação do drogadicto. Vale destacar que a mesma deixa espaço para que pesquisas semelhantes ocorram, pois a dependência química é um problema de saúde pública e social. Desta forma, estudos pautados em instrumentos psicológicos válidos trariam uma grande contribuição, uma vez que possibilitariam discussões mais seguras sobre as dificuldades encontradas no processo de recuperação do dependente químico, e a importância do apoio familiar nesse processo.. Encontro: Revista de Psicologia  Vol. 17, Nº. 26, Ano 2014  p. 99-110.

(12) 110. A percepção da família no tratamento e suporte de dependentes químicos. REFERÊNCIAS BÜCHELLE, F. ; MARCATTI, M. ; RABELO, D. R.. Dependência química e prevenção a ”recaída”. Texto & Contexto Enfermagem, Universidade Federal de Santa Catarina, v.13, n. 2, p. 233-240, 2004. Disponível em: <http://redalyc.uaemex.mx/ pdf/ 714/71413206.pdf>. Acesso em: 28/03/2011. GONÇALVES, F. C. L.; GONÇALVES, M. J. L.; GUARANY, M. de A.. Dificuldades para abandonar as drogas: uma comparação de relatos de egressos de sistemas de tratamento fechado e aberto. Trabalho de Graduação. Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da UNAMA. Belém, 2002. Disponível em: <http://www.nead.unama.br/site/bibdigital/monografias/DIFICULDADES_ABANDONAR_DR OGAS.pdf>. Acesso em: 16/03/ 2011. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. SVS/CN-DST/AIDS. A política do Ministério da Saúde para atenção integral a usuários a usuários de álcool e outras drogas. 2a.ed. Vers. Ampl. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/A%20politica.pdf>. Acesso em: 17/03/2011. NOTO, A. R.; GALDUROZ, J. C. F. . O uso de drogas psicotrópicas e a prevenção no Brasil. Ciênc. saúde coletiva, v.4, n.1, p. 145 – 151, 1999. Disponível em: <http:www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141381231999000100012&1ng=en&nrm=isso>. Acesso em: 17/03/2011. RIBEIRO, T. W.; PERGHER, N. K.; TOROSSIAN, S. D.(1998). Drogas e adolescência: uma análise da ideologia presente na mídia escrita destinada ao grande público. Revista Psicol. Reflex. Crit., v.11, n.3, 1998. Disponível em: <http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/html/188/18811303/18811303.html>. Acesso em: 24/09/2011. SANTOS, C. S. dos. Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, os Portadores de Dependência Química e suas Famílias. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade do Vale de Itajaí (UNIVALI), Itajaí – SC, 2008. Disponível em: <http://siaibib01.univali.br/pdf/Cecilia%20Serapiao%20dos%20Santos.pdf>. Acesso em: 25/04/2011. SEADI, S. M. S.; OLIVEIRA, M. da S.. A terapia multifamiliar no tratamento da dependência química: um estudo retrospectivo de seis anos. Revista Psicologia Clínica, v. 21, n.2, 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010356652009000200008&script=sci_arttext>. Acesso em: 23/02/2011. SILVA, J. V.. A importância da família para a recuperação de adolescentes infratores, usuários de drogas: a experiência da justiça instantânea. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Luterana do Brasil – ULBRA, Gravataí, 2003. Disponível em: <http://www.mp.rs.gov.br/areas/infancia/arquivos/familiadrogas.pdf>. Acesso em: 03/03/2011. SOLDERA, M.; et al.. Uso de drogas psicotrópicas por estudantes: prevalência e fatores sociais associados. Rev. Saúde Pública, v.38, n.2, p. 277-283, 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rsp/v38n2/19789.pdf>. Acesso em: 24/09/2011.. Encontro: Revista de Psicologia  Vol. 17, Nº. 26, Ano 2014  p. 99-110.

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