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EDUCAÇÃO PARA OS RECURSOS HÍDRICOS E A DEGRADAÇÃO DO RIO BOTAS

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Academic year: 2021

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Rev. Augustus | Rio de Janeiro | v.23 | n. 45 | p. 104-116 | jan./jun. 2018 104

EDUCAÇÃO PARA OS RECURSOS HÍDRICOS E A DEGRADAÇÃO DO RIO BOTAS

Rafael Reis Pereira Bandeira de Mello*

UNISUAM - OBEDUC/CAPES rafareis83@gmail.com

Danielle de Souza Reis**

Colégio Pedro II / UNISUAM daniellereis@cp2.g12.br

Silvia Conceição Reis Pereira Mello***

UNISUAM silviaqua@uol.com.br Reis Friede**** UNISUAM assessoriareisfriede@hotmail.com RESUMO

A educação ambiental busca alcançar um mundo mais sustentável por meio da mudança de comportamentos dos diversos segmentos da sociedade. Dentro dessa perspectiva, o projeto Implicações no ambiente no processo de ensino-aprendizagem1 atua em várias escolas buscando a conscientização dos jovens sobre o uso sustentável dos Recursos Hídricos por meio de oficinas que possam gerar consciência crítica nos alunos. Esse artigo discute o trabalho realizado por esse projeto em escola pública no município de nova Iguaçu com vistas à conscientização de alunos em relação ao Rio Botas.

* Mestre em História Social pela UERJ (2011). Graduado em História pela UVA (2006) e Pós-Graduado (Lacto-sensu) pela UFF (2008). Professor concursado do estado do Rio de Janeiro (SEEDUC) com carga horária de 16 horas.

** Professora convidada da Pós-Graduação em Língua Portuguesa da UNISUAM. Mestre em Desenvolvimento Local pela UNISUAM, com ênfase nos estudos sobre educação ambiental. Participa do Projeto Implicações do Ambiente no processo de Ensino-Aprendizagem: estudos sobre escolas Públicas do Complexo do Alemão, na Cidade do Rio de Janeiro, vinculado ao Programa Observatório da Educação da CAPES - OBEDUC/CAPES. Especialista pela UCM em Administração e Supervisão Escolar. Graduada em Letras Português /Espanhol, pela UERJ. Docente da Rede Municipal de Educação do Rio de Janeiro. Servidora do Colégio Pedro II.

***

Doutora (2009) e Mestre (2000) em Higiene veterinária e processamento tecnológico de produtos de origem animal pela UFF. Possui graduação em Zootecnia pela UFRRJ. Atua na área de ensino e pesquisa sendo pesquisadora da Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro e professora e orientadora do curso de Mestrado em Desenvolvimento Local e do curso de graduação em Ciências Biológicas da UNISUAM. Desenvolve projetos na área de educação ambiental com ênfase a preservação de recursos hídricos.

**** Desembargador Federal, Diretor do Centro Cultural da Justiça Federal (CCJF), Mestre e Doutor em Direito. Professor e Pesquisador do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Local do Centro Universitário Augusto Motta, UNISUAM, Rio de Janeiro.

1 Trata-se de Projeto, coordenado pela Professora Maria Geralda de Miranda, no período de 2012 a 2018, e apoiado pelo Programa Observatório da Educação da Coordenação de Aperfeiçoamento de pessoal de Nível Superior, OBEDUC/CAPES. O projeto além de produzir pesquisa acadêmica com vistas à melhoria da qualidade da Educação Básica, a partir de análise do ambiente e suas implicações no ensino aprendizagem, também fez várias intervenções em escola da Zona Norte do Rio de Janeiro e da Baixada Fluminense.

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Palavras-Chave: Meio ambiente. Recursos hídricos. Educação ambiental.

EDUCATION FOR WATER RESOURCES AND THE DEGRADATION OF RIO BOTAS

ABSTRACT

Environmental education seeks to achieve a more sustainable world by changing the behavior of different segments of society. Within this perspective, the project Implications in the environment in the teaching-learning process works in several schools seeking the awareness of young people about the sustainable use of Water Resources through workshops that can generate critical awareness in students. This article discusses the work carried out by this project in a public school in the municipality of Nova Iguaçu with a view to raising students' awareness of Rio Botas.

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1 INTRODUÇÃO

O CIEP São Teodoro (196), localizado no município de Nova Iguaçu, foi o local de aplicação das oficinas sobre a preservação dos recursos hídricos. Vale informar inicialmente que a comunidade na qual a escola foi implantada padece por falta de água há anos. Devido ao fato do curso de água, denominado rio Botas, cortar a comunidade, ele foi escolhido como o tema central das oficinas.

O CIEP São Teodoro (196), localizado em Nova Iguaçu, foi o local de desenvolvimento das oficinas sobre a preservação dos recursos hídricos, como forma de estimular a transformação da realidade, da falta de água, na comunidade que cerca a escola. Devido ao fato do curso de água, denominado rio Botas, cortar a comunidade, foi escolhido como o tema central das oficinas.

A ideia foi percorrer um caminho que fizesse o aluno compreender, sobretudo, que a perda de qualidade da água do rio Botas é fruto, em grande parte, da degradação decorrente de seu contato com a população.

O conceito de Pesquisa-ação serviu de suporte teórico para o estudo, pois a partir dele, os alunos não foram meros objetos de pesquisa. Sobre isso, destacou Singer (2011, p. 26) “(...) na Pesquisa-ação Comunitária, o observador passa a ter papel protagonista, que interfere e interage com o objeto de análise ou estudo, o aluno tendo a consciência desse papel, adquiri condições de exercer um papel atuante na transformação da sua realidade".

No que se refere à pesquisa-ação, Thiollent (2003, p. 14) considera uma pesquisa social com fundamentação empírica, concebida e realizada com íntima relação à determinada ação ou resolução de um problema coletivo, onde os pesquisadores e participantes da situação estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo.

2 RECURSOS HÍDRICOS E SUA IMPORTÂNCIA

À medida que aumenta o desenvolvimento econômico e a renda per capita, aumenta também a pressão sobre os recursos hídricos superficiais e subterrâneos. As estimativas e

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Rev. Augustus | Rio de Janeiro | v.23 | n. 45 | p. 104-116 | jan./jun. 2018 107 projeções sobre os usos futuros dos recursos hídricos variam bastante, em função de análises de tendências diversificadas. Desta forma, Rebouças (2002) acrescenta dizendo:

A água é considerada um bem público, na maioria dos países e no Brasil, a partir da Constituição Federal de 1988, o que significa que ela não poderá ser desperdiçada ou degradada de forma livre pelo usuário. Ao contrário, o seu uso deverá ser feito com base nos três E – Ética Ecologia e Economia – que formam o tripé do desenvolvimento sustentável (REBOUÇAS, 2002, p. 691).

Os fundamentos da Política Nacional dos Recursos Hídricos de 1997 já definiam a água como um recurso natural limitado, econômico e público, o uso prioritário para o consumo da população e dos animais, a necessidade de fortalecer o uso múltiplo da água, as bacias hidrográficas como unidade básica de gestão com participação do poder público, dos usuários e da comunidade.

O cumprimento desta política nacional para Bustos (2003, p. 12) se torna viável mediante a elaboração de planos diretores de bacias hidrográficas, compatíveis com o Estado e unificado para todo o país. Para alcançar tal meta, seria necessária a implantação de um sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos.

A água também é um elemento representativo de valores sociais e culturais que passam a ser pensados em escala local, regional e global, sendo considerada para alguns especialistas a base da sociedade moderna. A água é o gênero, descomprometido com qualquer uso ou utilização. Quando utilizada como bem econômico para consumo é recurso hídrico. Petrella (2002, p. 59) ressaltou que desde os primórdios, a água sempre foi um dos reguladores sociais mais importantes. As estruturas das sociedades camponesas e das comunidades aldeãs, onde as condições de vida estão intimamente ligadas ao solo, eram organizadas ao redor da água.

O debate sobre a escassez de água para Petrella (2002, p. 60) tem sido usado como fator de conflitos, ou para justificar tendências privatistas das multinacionais organizadas em instituições que buscam defender seus próprios interesses. Essas ideias geralmente são levantadas por países desenvolvidos, os mesmos que costumam abordar com mais frequência às questões ambientais. Nessa perspectiva, o autor entende que a água deve

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Rev. Augustus | Rio de Janeiro | v.23 | n. 45 | p. 104-116 | jan./jun. 2018 108 alcançar um preço cada vez maior e, multinacionais, governos aliados e Banco Mundial tramam a repartição das fontes e do mercado.

Os sistemas de regulamentação se cristalizam cada vez mais no nível não nacional de organizações globais multilaterais que são desestatizadas como, por exemplo, o Fundo Monetário Internacional (FMI). Petrella (2002, p. 24) afirma que podemos viver sem internet, petróleo, sem conta bancária. Porém, apesar de ser um argumento banal para alguns é sempre importante ressaltar que não nos é possível viver sem água. Por essa razão, o que ele chama de revolução de água tem uma importância fundamental, que supera outras revoluções ditas necessárias, ligadas à informação e às finanças. Para atingir a revolução fundamental a sociedade precisaria enfrentar os interesses dos senhores da água.

Petrella (2002, p. 60) explica que "(...) o senhor da água estabelece leis e acusa o mais fraco de erros que não cometeu, em um sistema baseado na lei do mais forte, em que os detentores do poder se opõem a qualquer tipo de divisão". A legitimidade de seu poder depende, na maioria das vezes, de sua capacidade de prover acesso a água (por mais desigual que seja) para a comunidade em que exerce sua autoridade por meio de sistemas de captação, bombeamento, canalização, dentre outros.

O senhor da água não tem interesse na solidariedade, logo não deseja uma distribuição igualitária de bens e serviços gerados pela água, pois assim afetaria sua riqueza. Petrella (2002, p. 61) aponta que para este "senhor" "(...) o ato de compartilhar é a origem dos riscos, já que pode permitir que outros acumulem o suficiente e lhe tirem seu poder". Em nossas próprias sociedades de alta tecnologia, as barragens desempenham um papel simbólico, pois expressam o poder do homem de controlar a água e de "alimentar" piscinas e reservatórios com elas.

Alguns especialistas estimam que a divisão das águas tenha permanecido praticamente constante nos últimos 500 milhões de anos (REBOUÇAS, 2002, p.1). Do total, cerca de 97,5% estão, sob forma de água salgada, nos mares e oceanos. Em torno de 68,9% da água doce encontra-se em geleiras e nas calotas polares.

De acordo com Rebouças (2002, p. 24), as características de qualidade das águas derivam dos ambientes naturais, e os problemas de escassez de água que ameaçam a sobrevivência da população, para alguns, são engendrados pelo crescimento desordenado

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Rev. Augustus | Rio de Janeiro | v.23 | n. 45 | p. 104-116 | jan./jun. 2018 109 em grandes níveis a partir da década de 1950 no Brasil. A grande desigualdade na distribuição de recursos hídricos envolve escassez local séria em determinadas regiões. É possível identificar no Brasil problemas com o abastecimento de água geralmente em regiões carentes.

É importante incentivar atitudes mais coletivas sobre o uso dos recursos hídricos. Para Petrella (2002, p. 20), os verdadeiros heróis serão os que lutam pelo bem comum, garantindo os direitos de todos, a vida e a cidadania. O mundo precisará mais desse tipo de atitude, e não de pessoas que simplesmente são mais bem sucedidas financeiramente, beneficiadas pelo uso das tecnologias ou de qualquer outra maneira.

3 RIO BOTAS

O Rio Botas tem uma extensão de 20 quilômetros e pertence à Macrorregião Ambiental 1, Bacia Hidrográfica da Baía de Guanabara: Sub-Bacia do Rio Iguaçu, que nasce no bairro de Adrianópolis em uma área de proteção ambiental e deságua no Rio Iguaçu na altura de Belford Roxo, no Estado do Rio de Janeiro. Ao longo do seu percurso o rio passa por áreas urbanas de ocupações irregulares responsáveis por grande parte de sua degradação.

Costa e Britto (2006, p. 3) destacam que a história da Bacia da Baia de Guanabara Noroeste, conhecida como Baixada Fluminense, está basicamente relacionada à historia do município de Nova Iguaçu, que, desde sua criação, em 1833, continha as terras que hoje formam os municípios de Belford Roxo, Duque de Caxias, Nilópolis e São João de Meriti. Apenas em 1943 houve a primeira divisão do território com a criação do município de Duque de Caxias.

A baixa eficácia das ações públicas voltadas para a melhoria dos sistemas de saneamento no território do rio Botas, assim como a intensificação do processo de ocupação irregular das margens do rio transformaram partes do rio em um esgoto à céu aberto. Parte da comunidade local se refere ao rio como “valão”.

Costa e Brito (2006, p. 6) ressaltam ainda, que pouco valorizado na paisagem local, o rio recebe grande quantidade de resíduos, tais como, entulhos e lixo e que as obras

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Rev. Augustus | Rio de Janeiro | v.23 | n. 45 | p. 104-116 | jan./jun. 2018 110 hidráulicas realizadas fizeram com que em partes do seu percurso, o rio ficasse confinado a um corredor estreito, formado pelas canalizações em concreto. Inundações ainda são recorrentes na época de chuvas intensas. Hoje a principal ação da prefeitura com relação ao rio Botas é a limpeza e a dragagem, para minimizar o problema das inundações.

BARBOSA analisou os processos de degradação dos recursos hídricos do rio Botas, localizado entre Belford Roxo e Nova Iguaçu, e em entrevista para a agência de notícias da UFRJ, disse (...) "acreditar que a implementação de uma gestão ambiental integrada entre os municípios salvaria o rio" (UFRJ, 2009).

O rio Botas foi inserido no Projeto Iguaçu – incluído no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do Governo Federal – com objetivo de controlar inundações e recuperar as bacias dos Rios Iguaçu, Botas e Sarapuí, na Baixada Fluminense. O projeto abrange os municípios de Duque de Caxias, São João de Meriti, Belford Roxo, Nilópolis, Mesquita, Nova Iguaçu e o bairro de Bangu na zona Oeste do Rio de Janeiro. As intervenções incluem melhorias da macro e mesodrenagem das bacias desses três rios. "A primeira parte das obras começou em junho de 2007, se prolongando até dezembro de 2011" (RIO DE JANEIRO, 2011).

O projeto visava, entre outras coisas, à recuperação das áreas marginais e instalação de parques de orla, reflorestamento de áreas de nascentes, desobstrução e substituição de pontes e travessias, realocação de moradias e outras medidas complementares, como o disciplinamento do uso do solo e coleta de lixo.

As metas principais foram a dragagem e limpeza dos rios, a desocupação das faixas marginais dos leitos e a realização do remanejamento de moradores, com o pagamento de indenizações. No entanto, esse projeto, na opinião de moradores próximos ao CIEP São Teodoro, não saiu do papel. Os esgotos domésticos são escoados pela rede de drenagem, implantada pela prefeitura em diferentes bairros e carreados para o rio, não existindo rede de coleta. Diversas casas foram construídas dentro da faixa marginal de proteção do rio e suas canalizações de esgotos voltadas diretamente para o rio. Em certos trechos, ainda existem valas de esgoto à céu aberto.

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4 AS OFICINAS DE RECURSOS HÍDRICOS NO CIEP SÃO TEODORO

O CIEP 196 (São Teodoro) fica localizado no bairro de Boa Esperança, em Nova Iguaçu, próximo à Estrada do Iguaçu. O rio Botas corta essa estrada em uma parte próxima ao CIEP, onde é possível identificar algumas ocupações irregulares nas margens do rio.

Durante o ano de 2016, principalmente no verão, a comunidade local foi atingida com a falta de água, fato que também prejudicou o CIEP, sendo solucionado no segundo semestre. Tal acontecimento, que por um lado foi sacrificante para os moradores, contribuiu para que os alunos sentissem os efeitos negativos da escassez de água.

O objetivo das oficinas, aplicadas na escola, foi despertar a consciência crítica dos alunos sobre os efeitos negativos da degradação do rio Botas para a comunidade local e gerar uma mudança comportamental da população, tendo como ponto de partida os jovens do CIEP.

O método de pesquisa-ação comunitária, segundo Singer (2011, p. 23) pode ser usado em qualquer contexto. Nesse método, educadores dos projetos que envolvem crianças e adolescentes os convidam a refletir sobre o bairro, a cidade e suas relações. É importante ressaltar que as metas a serem alcançadas se referem tanto à melhoria da comunidade quanto à aprendizagem dos participantes. Thiollent (1994, p. 7) analisa que a pesquisa-ação supõe uma forma de ação planejada de caráter social, educacional, técnica e baseia-se na participação, sendo uma alternativa ao padrão de pesquisa tradicional.

O primeiro passo das oficinas buscava fazer o aluno compreender em qual Bacia Hidrográfica o rio local estava inserido, de forma dinâmica. Para Possas (2000, p. 204), essa parte, que também defende como inicial, deve ser desenvolvida na própria escola, trazendo para o aluno, certa consciência ambiental.

As oficinas foram realizadas no contraturno, às 13h, e contou com um grupo de 15 alunos do oitavo ano, que fizeram mapeamento do ambiente casa/escola. Possas (2000, p. 205) ressalta que esse mapeamento é importante para trazer ao aluno uma concepção mais ampliada de ambiente construído historicamente nas relações cotidianas, permeadas por atividades econômicas, políticas e culturais. Para atingir tal compreensão, os alunos levaram questionários, que indagavam o conhecimento sobre o rio Botas e a necessidade de sua

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Rev. Augustus | Rio de Janeiro | v.23 | n. 45 | p. 104-116 | jan./jun. 2018 112 conservação, para serem respondidos pela família. Essas perguntas também foram respondidas pelos próprios alunos em uma das dinâmicas em sala de aula, dessa maneira tivemos um comparativo entre as opiniões dos alunos em relação aos familiares.

Outra preocupação foi fazer os alunos entenderem o percurso do rio Botas, ou seja, sua nascente, sua passagem pela área rural, seu primeiro contato com o urbano e as mudanças sofridas na água até o final de sua passagem pelo aglomerado urbano. A percepção de degradação humana sobre o rio fica muito mais nítida com essa compreensão. O programa Google Earth, por exemplo, é uma importante ferramenta para analisar os recursos hídricos da localidade e a estação de tratamento de água e esgoto. No entanto é necessário um aparato tecnológico na escola com computadores para todos os alunos. Isso foi um dos diversos motivos que determinou que as oficinas fossem aplicadas, em sua primeira etapa, para um grupo menor de alunos, quinze no total.

Sarante e Silva (2009, p. 2) acreditam que, no caso da água, a contextualização possibilitada pelas imagens disponibilizadas pelo Google Earth permite o surgimento de uma consciência crítica e ampliada em relação a este recurso natural, e que o professor tem o dever de estimular discussões sobre a abundância e a escassez desse recurso e os desdobramentos econômicos, sociais e culturais que essas duas situações trazem, nos âmbitos local, regional e global. As noções de uso, mau uso, desperdício e reúso da água devem ser apresentadas e discutidas com o intuito de despertar uma consciência social acerca do tema.

O recurso mostra as bacias hidrográficas nas diferentes escalas podendo retratar para Sarante e Silva (2009, p. 3) a realidade local com praticamente a mesma riqueza de detalhes dos livros didáticos, os quais tratam das principais bacias do Brasil. Nesse aspecto, ao invés de trabalhar com o aluno uma realidade quase sempre distante e abstrata, porque é diferente da sua, o professor pode abordar a realidade local a partir do cruzamento das imagens oferecidas pela internet.

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5 OPERACIONALIZAÇÃO DAS OFICINAS

Em uma dinâmica em sala de aula iniciada por intermédio de uma apresentação em Data show foi explicado como se dividem as Bacias hidrográficas do estado do Rio de Janeiro, após os alunos já terem tido contato por meio da ferramenta Google Earth. Em seguida, foi solicitado que cada aluno trouxesse uma tigela que representaria o formato de sua bacia. Além disso, cada aluno teve a liberdade de desenhar sua própria Bacia Hidrográfica em cartaz. Assim, além de entender que essas bacias não são uniformes, o aluno ganharia a percepção de que a ação do homem pode interferir em cada uma delas.

Os atores sociais que interferem nos rios que cortam uma bacia hidrográfica são diversificados; o poder público para abastecimento residencial, empresas privadas na indústria, os pescadores na pesca e o pequeno e grande produtor na agricultura. O grupo de alunos presente na oficina foi estimulado a simular como os diferentes atores sociais podem interferir positivamente ou negativamente nos rios. A necessidade de fazer a apresentação da situação visava fazer com que os alunos entendessem de forma mais dinâmica a ação desses atores, e o resultado nesse sentido foi bastante satisfatório. Os alunos mencionaram representantes do poder público e empresas privadas nas suas simulações.

Em outra atividade, os alunos responderam em forma de jogo perguntas sobre o uso correto dos recursos hídricos, e davam exemplos sobre o que foi perguntado. Essa atividade foi feita em dois dias diferentes, o primeiro no início das oficinas e depois próximo ao final. Alguns alunos apresentaram um bom conhecimento em ambas as fases e outros mostraram uma considerável melhora no segundo momento.

A pesquisa-ação não se propõe a ocupar o lugar da neutralidade científica. Ao contrário, ela assume que altera o que está sendo pesquisado e rompe com a noção de “verdade científica”. Nas oficinas, o objetivo da utilização da pesquisa-ação atrelada ao que defende Singer (2011, p.22) não foi de criar uma experiência que possa ser replicada, em uma situação totalmente controlada, como a de um laboratório, garantindo-se sempre os mesmos resultados, pelo contrário, os resultados dependem de todos os fatores que interferem na vida dos alunos.

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Rev. Augustus | Rio de Janeiro | v.23 | n. 45 | p. 104-116 | jan./jun. 2018 114 Em um trabalho interdisciplinar que marcou o último dia das atividades, foram realizadas várias dinâmicas com direito a brindes para os alunos participantes. Os alunos formaram frases e poemas com o objetivo de mostrar a importância da água nas suas vidas e para toda a sociedade e meio ambiente, não só no presente, mas para as futuras gerações. A exibição de vídeos com músicas sobre o tema serviu para inspirar ainda mais os alunos.

Os questionários levados pelos alunos, para serem respondidos pelos pais e membros da comunidade, apontaram para uma necessidade de maior conhecimento do rio Botas como um "corpo hídrico" que pode ser melhor aproveitado. A maioria das respostas focava na dificuldade de despoluir o rio, em alguns casos não se acreditava na possibilidade de recuperação. Os alunos no final das oficinas demonstraram uma perspectiva mais determinada em transformar a falta de motivação local, além de terem adquirido outra postura, comparando com a fase inicial, no tratamento do rio Botas.

O ano de 2016 foi marcado por uma greve dos professores devido, entre outros fatores, à crise financeira do estado do Rio de Janeiro, o que reduziu a perspectiva idealizada do cronograma das oficinas, que acabaram realizadas no segundo semestre após as Olimpíadas.

A ideia das oficinas era fazer o aluno se sentir integrante da pesquisa. Para Morin (2004) o propósito da pesquisa-ação é o envolvimento de diferentes participantes na criação de mecanismos de cooperação em todos os processos, do início ao fim. Outra categoria apresentada por Morin (2004) refere-se à mudança. Segundo o autor, esta é produzida em vários níveis e entre os sujeitos que realizam uma ação concreta que resulta em um saber prático. A pesquisa-ação promove a valorização necessária para produzir um engajamento coletivo e um senso de pertencimento, cujo potencial está direcionado à transformação e autotransformação. A partir do momento em que o sujeito se sente coprodutor do conhecimento, sua participação torna-se efetiva e engajada. Nesta categoria, parte-se da necessidade de valorização do conhecimento e experiência dos participantes para a promoção de novas mudanças.

O objetivo de tornar os alunos agentes transformadores da realidade local esteve presente em todas as oficinas. O debate sobre a falta de água que havia afetado não só a escola no verão, mas toda a comunidade local era sempre relembrada pelos alunos.

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Rev. Augustus | Rio de Janeiro | v.23 | n. 45 | p. 104-116 | jan./jun. 2018 115 Despertar o pensamento crítico desses alunos engajando a ação tanto na produção coletiva do conhecimento como na reivindicação de seus direitos foi uma constante nas atividades.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados alcançados pelas oficinas foram satisfatórios, dentro do contexto que caracterizou o ano de 2016, para as escolas do estado. Devido à crise financeira e à greve dos professores, que contou com a participação dos alunos, muitas escolas foram ocupadas e o ano letivo foi realmente normalizado após as olimpíadas.

Com esses acontecimentos, as atividades que haviam sido planejadas para o ano inteiro foram realizadas entre os meses de setembro e novembro. Nelas, os alunos demonstraram mais envolvimento que nas aulas cotidianas. Os alunos sentiram-se tão motivados que conseguiram envolver os seus familiares ou algum membro da comunidade local em seus levantamentos, ou simplesmente em conversas sobre os aprendizados que tiveram nas oficinas.

Acredita-se que alunos passarão a defender com mais veemência a importância de a população do bairro mudar os comportamentos que refletem diretamente na qualidade do rio Botas. Em um ano em que a falta de água voltou a afetar a localidade, a necessidade de conscientização ficou mais latente.

A experiência foi tida como válida no sentido de motivar um grupo a querer transformar a realidade local. A escola apoiou dentro de suas condições a atividade de pesquisa e espera-se que mais resultados positivos sejam alcançados.

REFERÊNCIAS

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BUSTOS, M. R. L. A educação ambiental sob a ótica da gestão de recursos hídricos. Tese, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 2003.

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Rev. Augustus | Rio de Janeiro | v.23 | n. 45 | p. 104-116 | jan./jun. 2018 116 COSTA, L. M. S. A.; BRITTO, A. L. Propostas para recuperação ambiental de rios urbanos:

uma análise visando a recuperação do Rio Botas na Baixada Fluminense no Rio de Janeiro.

Biblioteca la Fundación Nueva Cultura del Agua (FNCA), Rio de Janeiro, 2006.

BARBOSA, Paula Souza de Oliveira. Entrevista concedida a MONTE, A. P. Busca pela

preservação dos recursos hídricos do Rio Botas. Agência UFRJ de Notícias – Centro de

Tecnologia, out., 2009. Disponível em: <https://ufrj.br/noticia/2015/10/22/busca-pela-preserva-o-dos-recursos-h-dricos-do-rio-botas>. Acesso em: 24 Jan. 2017.

PETRELLA, R. O manifesto da água: argumentos para um contrato mundial. Tradução de Vera Lúcia Mello Joscelyne. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

POSSAS, H. P. Educação Ambiental e Recursos Hídricos: Proposta Metodológica. Portal de Periódicos UFGRS. 2000. Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/bgg/article/view/39711>. Acesso em: 20 Jan. 2017

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SARAIVA, A. L. e SILVA A. C. V. O mundo dentro da escola: refletindo sobre os recursos

hídricos com o uso do google earth. Pôster do 10° Encontro Nacional de Prática de Ensino

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SINGER, H. (org.) Pesquisa-Ação Comunitária (Coleção Tecnologias do Bairro-escola, v.1,). São Paulo: Cidade Escola Aprendiz, 2011.

Referências

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