• Nenhum resultado encontrado

Método Fabiana Para criação de figurinos em produções audiovisuais

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Método Fabiana Para criação de figurinos em produções audiovisuais"

Copied!
79
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE ARTES CURSO DE BACHARELADO EM DESIGN

LUÍSA FONSECA CASTIM

MÉTODO FABIANA PARA CRIAÇÃO DE FIGURINOS EM PRODUÇÕES AUDIOVISUAIS

NATAL/RN 2019

(2)

LUÍSA FONSECA CASTIM

MÉTODO FABIANA PARA CRIAÇÃO DE FIGURINOS EM PRODUÇÕES AUDIOVISUAIS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Coordenação do curso de Design da Universidade Federal do Rio Grande d o Norte, como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Design.

Orientadora: Helena Rugai Bastos.

NATAL/RN 2019

(3)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE ARTES CURSO DE BACHARELADO EM DESIGN

MÉTODO FABIANA PARA CRIAÇÃO DE FIGURINOS EM PRODUÇÕES AUDIOVISUAIS

LUÍSA FONSECA CASTIM

Monografia apresentada ao Curso de Design da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, aprovada em __/__/__.

_______________________________________ Profa. Helena Rugai Bastos

Orientadora

_______________________________________ Profa. Elizabeth Romani

Membro

_______________________________________ Profa. Luiza Falcão Soares Cunha

(4)

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais, Fabiana Dias e Paulo Castim, pelo apoio e paciência durante o desenvolvimento deste trabalho. Também agradeço aos meus amigos, em especial meus companheiros de design, que me asseguraram constantemente de que "tudo está bem", apesar de bastante estressados, e que todos nós somos sobreviventes do mesmo barco que, mesmo flutuando tranquilamente no litoral, sempre parece estar afundando.

Agradeço mais uma vez aos meus pais, Fabiana e Paulo, por terem plantado em mim as sementes das paixões por moda e filmes, respectivamente. Obrigada mamãe por se arrumar tantas vezes a minha frente e papai por incontáveis viagens à locadoras durante toda minha infância, me mostrando os mais variados tipos de chick flicks desde que eu pude entender qualquer tipo de comunicação audiovisual.

Com isto em mente, preciso agradecer à precursora dos chick flicks adolescentes, Amy Hackerling, que em 1994 escreveu e dirigiu o filme "As Patricinhas de Beverly Hills" que serve como base para esta monografia e para sempre mudou a indústria. Agradeço também à figurinista da produção, Mona May, que fez todas aquelas personagens ganharem uma vida jamais vista por mim, cheia de feminilidade, cores e juventude. Sem elas, garotas adolescentes provavelmente jamais poderiam se espelhar em personagens fictícias para criar o próprio estilo pessoal - e não consigo pensar em nada pior que crescer sem estas inspirações multidimensionais, que faziam garotas em revistas parecerem tão pouco.

Obrigada Rosangela Dantas e Themis Suerda, figurinistas cuja experiência profissional me ajudou a conceber o método aqui apresentado.

Também agradeço à todas as bandas e artistas solo que, juntamente a incontáveis latas do energético Red Bull, me mantiveram acordada e agitada para continuar trabalhando. Em especial, One Direction, Russo e Miley Cyrus.

Meus mais sinceros agradecimentos à banca, formada por Luiza Falcão, Beth Romani e Helena Rugai, pela disponibilidade e por todo o feedback do TCC 1, realmente espero ter desenvolvido o trabalho de maneira pertinente e interessante.

Por fim, preciso mais uma vez agradecer imensamente à minha orientadora Helena Rugai, que tornou todo este trabalho possível e quem muito eu admiro. Obrigada por me impedir de enlouquecer no processo, me acalmar e acreditar em mim. Minha jornada neste curso não seria metade do que foi sem sua orientação.

(5)

RESUMO

Esta monografia apresenta o Método Fabiana, cujo objetivo é facilitar a montagem de figurinos em produções audiovisuais considerando a personalidade e humor das personagens em cena.

Para a construção deste Método, foram usadas como ferramentas de pesquisa de design os livros "Como Se Cria", de Ana Veronica Pazmino e "Graphic Design Thinking", de Ellen Lupton. Para a porção audiovisual, foi estudado o livro "A Estética do filme", de Jacques Aumont. Por fim, o filme "As Patricinhas de Beverly Hills", escrito e dirigido por Amy Hackerling, foi largamente analisado, tornando-se base para o desenvolvimento e efetiva aplicação do Fabiana.

Palavras-chave: Figurino, guarda-roupas, personagens, filme, cinema, patricinhas, as patricinhas de Beverly Hills, graphic design thinking, como se cria, Ellen Lupton, Ana Veronica Pazmino, método, Fabiana.

(6)

ABSTRACT

This Final Course Assignment presents the Fabian Method, which looks to facilitate the process of costume designing in audio-visual productions, taking into consideration the characters' personality and emotions in scene.

For the construction of this Method, the design works of Ana Veronica Pazmino and Ellen Lupton were researched, "Como Se Cria" (no English title found) and "Graphic Design Thinking", respectively. For de audio-visual related content, Jacques Aumont's "Aesthetics of Film" was taken into consideration. Lastly, the movie "Clueless", written and directed by Amy Hackerling, wes widely studied, becoming the basis for the development and effective application of the Fabiana.

Key words: Wardrobe, costume design, characters, movie, film, cinema, clueless, graphic design thinking, como se cria, Ellen Lupton, Ana Veronica Pazmino, method, Fabiana.

(7)

LISTA DE QUADRO

Quadro 1: Profissionais que trabalham num filme ... 21

Quadro 2: Resumo das onze etapas do Método Fabiana ... 26

Quadro 3: Análise Sincrônica entre Cher e Vivian, as protagonistas de "As Patricinhas de Beverly Hills" (1995) e "Uma Linda Mulher" (1990) ... 33

Quadro 4: Análise Sincrônica das personagens de "As Patricinhas de Beverly Hills" (1995) Cher Horowitz e Dionne Davenport ... 34

Quadro 5: Análise Diacrônica da personagem Tai Frasier, de "As Patricinhas de Beverly Hills" ... 36

Quadro 6: Persona de Cher Horowitz ... 38

Quadro 7: Resumo das onze etapas do Método Fabiana ... 50

(8)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Heróis de Tarantino - Mia Wallace e Jules Winnesfield, de "Pulp Fiction"

(1994) e "Mai Pei de Kill Bill: Volume 2" (2004) ... 13

Figura 2: Jim Carey em "Ace Ventura" (1994) e "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças" (2004) ... 14

Figura 3: Harrison Ford como Han Solo e Indiana Jones, nas franquias "Star Wars" (1977 - Presente) e "Indiana Jones" (1984 - Presente), respectivamente. ... 14

Figura 4: A Evolução de Estilo de Andy Sachs em "O Diabo Veste Prada" (2006) ... 15

Figura 5: Evolução de Estilo de Elle Woods em "Legalmente Loira" (2001) ... 16

Figura 6: Evolução de Estilo da Agente Hart, Miss Simpatia (2000) ... 16

Figura 7: Comparação entre os estilos dos personagens de Edward Norton e Brad Pitt em "Clube da Luta" (1999) ... 17

Figura 8: Evolução de Estilo de Tai Frasier, "As Patricinhas de Beverly Hills" (1995) ... 18

Figura 9: Tipos de planos ... 23

Figura 10: Canvas 1 do Método Fabiana ... 26

Figura 11: Canvas 2 do Método Fabiana ... 28

Figura 12: Briefing entre a diretora de "As Patricinhas de Beverly Hills" (1995), Amy Hackerling e a figurinista Mona May ... 29

Figura 13: Mapa mental da protagonista de "As Patricinhas de Beverly Hills" (1995), Cher Horowitz ... 30

Figura 14: Painel de Conceito do figurino de Cher Horowitz ... 31

Figura 15: Vivian Ward e Cher Horowitz ... 32

Figura 16: Imagens ilustrativas do quadro acima ... 35

Figura 17: Imagens ilustrativas do quadro acima ... 37

Figura 18: Imagens do figurino dos protagonistas e figurantes em "As Patricinhas de Beverly Hills" (1995) ... 47

Figura 19: Canvas 1 do Método Fabiana ... 52

Figura 20: Canvas 2 do Método Fabiana ... 54

Figura 21: Cher usando roupas de acordo com suas emoções, cores sóbrias nas duas primeiras imagens quando está confusa e frustrada, respectivamente, e trajando amarelo vivo na última, quando está bem. ... 56

Figura 22: Personagens vestidos com tons invernais ... 57

Figura 23: Personagens vestidos com tons primaveris ... 57

Figura 24: Figurino de Dionne ... 58

Figura 25: Figurino de Travis ... 59

Figura 26: Figurino de Josh ... 60

Figura 27: Figurino da Srta. Geist ... 61

Figura 28: Cher Horowitz usando o conjunto xadrez amarelo ... 65

Figura 29: Polaróides do elenco de "As Patricinhas de Beverly Hills" (1995) ... 67

Figura 30: Representação do Canvas 1 do Método Fabiana preenchido de acordo com Cher Horowitz. ... 68

(9)

Figura 31: Representação do Canvas 2 do Método Fabiana, preenchido de acordo com Cher Horowitz, para o primeiro exemplo. ... 69 Figura 32: Imagens do figurino escolhido para o primeiro exemplo do Canvas 2. .... 70 Figura 33: Representação do Canvas 2 do Método Fabiana, preenchido de acordo com Cher Horowitz, para o segundo exemplo... 71 Figura 34: Imagens do figurino escolhido para o segundo exemplo do Canvas 2. ... 72 Figura 35: Representação do Canvas 2 do Método Fabiana, preenchido de acordo com Cher Horowitz, para o terceiro exemplo. ... 73 Figura 36: Imagens do figurino escolhido para o terceiro exemplo do Canvas 2. ... 74

(10)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 11

2 REFERENCIAL TEÓRICO ... 20

2.1 TÉCNICAS PARA REPRODUÇÃO CINEMATOGRÁFICA ... 20

2.2 MONTAGEM: OS PLANOS ... 21

2.3 MONTAGEM DE FIGURINO ... 24

3 DESENVOLVIMENTO DE PROJETO ... 25

3.1 CONCEPÇÃO DO MÉTODO ... 25

3.1.1 Ferramentas De Design ... 29

3.1.2 Entrevistas com as figurinistas ... 39

3.2 O MÉTODO FABIANA ... 44

3.2.1 Canvas ... 50

4 ESTUDO DE CASO E APLICAÇÃO DO MÉTODO ... 55

4.1 ESTUDO DE CASO: AS PATRICINHAS DE BEVERLY HILLS ... 55

4.2 A CONSTRUÇÃO DE CHER HOROWITZ ... 62

4.3 APLICAÇÃO DO “FABIANA” A CHER ... 62

4.3.1 Aplicação das onze fases do Método Fabiana ... 63

4.3.2 Uso da Canvas 1 do Método Fabiana ... 68

4.3.3 Uso da Canvas 2 do Método Fabiana ... 69

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 75

(11)

1 INTRODUÇÃO

Roupas sempre foram produtos da cultura material humana repletos de significados, servindo para honrar tradições, representar símbolos em ritos de passagem e, mais recentemente, para nos distinguir e identificar. Com o tempo, esta última função, atrelada à moda, tornou-se o que nos caracteriza, une e separa: seja por grupos sociais, épocas, poder aquisitivo ou mesmo o ambiente em que transitamos. Nos filmes não é diferente: as roupas tornam possível a construção e distinção dos personagens, enriquecem a direção artística da película e, em alguns casos, até definem aspectos da trama.

O presente trabalho propõe a criação de um método que facilite a montagem de figurino de personagens, levando em conta sua personalidade e suas emoções em cena, enquanto junta o planejamento encontrado nos processos de design com os métodos já existentes na área audiovisual.

Como dito anteriormente, o figurino é parte importante da construção de produções, mas alguns exemplos se destacam, o tornando crucial para o enredo. Podemos vê-lo definindo a época em filmes como "Maria Antonieta” (2006), “Matrix” (1999) ou “O Lobo de Wall Street” (2013). Já filmes como “O Diabo Veste Prada” (2006) e “As Patricinhas de Beverly Hills” (1995) têm a moda quase como um protagonista não visto, pois o figurino destas produções não apenas retrata as personagens e suas respectivas evoluções, mas enriquece a construção destas personas.

De acordo com JC Flugel em A Psicologia das Roupas (1930) a função primária da vestimenta é decoração, e não pudor ou proteção, ao contrário da crença popular. Sendo assim, o indivíduo as usa para se diferir dos demais, para expressar-se:

Através de suas vestes, que nos diz, por exemplo, que a pessoa a quem ‘vemos' se aproximar é alguém que conhecemos; e é o movimento conferido às suas roupas pelos membros dentro delas, e não o movimento dos membros propriamente ditos, que nos capacita a julgar de um só golpe se nosso conhecido está zangado, assustado, curioso, apressado ou calmo." Além disso, também podemos classificar um indivíduo por meio de suas roupas de vários jeitos "as roupas que usa nos dizem imediatamente algo de seu sexo, ocupação, nacionalidade e posição social, capacitando-nos a fazer um (p. 11) ajuste preliminar de capacitando-nosso comportamento em relação a ele (p.12).

Para comprovar a eficiência do método apresentado, esta monografia conta com uma análise detalhada do figurino geral de “As Patricinhas de Beverly Hills”

(12)

(1995) e, em especial, de sua protagonista, Cher Horowitz. O figurino desta produção foi tomado como exemplo pois mostra com destreza quem as personagens são num nível pessoal: sua personalidade, poder aquisitivo, traços psicológicos e físicos são analisados. Além disso, também foi possível estudar particularidades próprias da produção, como orçamento e cenário, aspectos importantes para a concepção do método aqui apresentado, no qual produção executiva, encenação, roteiro técnico e outros elementos de uma obra audiovisual também são levados em conta

É importante pontuar também que este método busca atender todas as áreas de produção, do teatro aos games.

Este projeto é centrado no figurino como ferramenta de construção de uma personagem numa narrativa. Apesar do estudo da protagonista Cher, a importância do guarda-roupas é vista nas mais diversas produções: vemos isso nos heróis do diretor Quentin Tarantino ou nas diferentes roupagens que Jim Carey ganha a cada película, podendo torná-lo um personagem engraçado como em "Ace Ventura" (1994), ou um homem descuidado e de coração partido em “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças” (2004). Vemos o eu aventureiro de Harrison Ford ir e vir em personagens heróicos como Han Solo e Indiana Jones. Observamos, ainda, o crescimento através das roupas, como ocorre, por exemplo, com Andy Sachs, personagem de Anne Hathaway em “O Diabo Veste Prada” (2006) — no início do filme, vemos uma garota desleixada que prioriza o conforto sobre a beleza, mas que rapidamente precisa tornar-se antenada e arrumada o suficiente para adaptar-se ao novo ambiente de trabalho. Na terceira e última parte de “O Diabo”, porém, vemos uma Andy entre seus eus do primeiro e segundo ato, fiel a si mesma e ao seu característico conforto, mas agora preocupada com a aparência — traço que ganha após sua “transformação”, do primeiro para o segundo ato.

(13)

Figura 1: Heróis de Tarantino - Mia Wallace e Jules Winnesfield, de "Pulp Fiction" (1994) e "Mai Pei de Kill Bill: Volume 2" (2004)

(14)

Figura 2: Jim Carey em "Ace Ventura" (1994) e "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças" (2004)

Fonte: Imagens do filme "Ace Ventura" (1994) e dos bastidores de "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças" (2004)

Figura 3: Harrison Ford como Han Solo e Indiana Jones, nas franquias "Star Wars" (1977 - Presente) e "Indiana Jones" (1984 - Presente), respectivamente.

Fonte: Imagens do filme "Indiana Jones e A Última Cruzada" (1989) e foto promocional de "Star Wars" (1977)

(15)

Figura 4: A Evolução de Estilo de Andy Sachs em "O Diabo Veste Prada" (2006)

Fonte: Imagens do filme "O Diabo Veste Prada" (2006)

Esta transformação visual, por assim dizer, pode ser encontrada em diversos filmes. Em “Legalmente Loira” (2001), a protagonista Elle Woods evolui das roupas sensuais, chamativas e brilhantes do início do filme para uma versão mais composta de si mesma, ainda fiel a sua essência, com cores vivas e feminilidade divertida, apesar do tom mais profissional que os looks ganham com o passar das cenas. Em “Miss Simpatia” (2000), a agente Hart, interpretada por Sandra Bullock, precisa se transformar de agente durona para uma inofensiva participante de concurso de beleza.

(16)

Figura 5: Evolução de Estilo de Elle Woods em "Legalmente Loira" (2001)

Fonte: Imagens do filme "Legalmente Loira" (2001)

Figura 6: Evolução de Estilo da Agente Hart, Miss Simpatia (2000)

Fonte: Imagens da gravação e do filme "Miss Simpatia" (2000), respectivamente

Mas a importância do figurino não se restringe a filmes “femininos”, os famosos chick flicks. No clássico cult de David Fincher “Clube da Luta” (2000),

(17)

podemos observar personagens tornando-se opostos por meio do guarda-roupas: apesar dos protagonistas, interpretados por Edward Norton e Brad Pitt, serem completamente diferentes, enquanto há paz entre os dois existem semelhanças visíveis no que estão vestindo. Enquanto nos primeiros dois atos do filme ambos usam suas próprias versões de paletós e camisas, no terceiro seus figurinos passam a se distâncias mais e mais. Na última cena, por exemplo, Norton usa meias, cueca, camiseta e robe, demonstrando sua vulnerabilidade em comparação a Pitt, que possui um pomposo casaco de peles e regata, que revela a confiança da personagem em si mesma.

Figura 7: Comparação entre os estilos dos personagens de Edward Norton e Brad Pitt em "Clube da Luta" (1999)

Fonte: Imagens do filme "Clube da Luta" (1999)

Esta mesma comparação ocorre em “As Patricinhas de Beverly Hills” (1995), filme sobre qual esta análise é construída: Tai, personagem de Britanny Murphy, passa por uma transformação orquestrada pela dupla mais popular e bem vestida da escola, Cher e Dionne. Apesar do guarda-roupas de Tai tornar-se mais feminino, polido e próximo do figurino das outras duas garotas, ele é, pela diferença aquisitiva e social da personagem, decididamente menos sofisticado que o de suas colegas de turma, que lidam com moda de modo mais experiente e possuem mais dinheiro.

(18)

Figura 8: Evolução de Estilo de Tai Frasier, "As Patricinhas de Beverly Hills" (1995)

Fonte: Imagens do filme "As Patricinhas de Beverly Hills" (1995)

O presente trabalho apresenta conteúdos sobre cinema e vestes e como estes dois se encontram na montagem de figurinos. Para isto, a pesquisa foi feita assistindo e analisando a seguinte película:

AS PATRICINHAS de Beverly Hills. Direção: Amy Hackerling. Produção: Scott Rudin; Robert Lawrence. Intérpretes: Alicia Silverstone; Paul Rudd; Stacy Dash; Britany Murphy e outros. Roteiro: Amy Hackerling. Música: David Kitay. Estados Unidos: Paramount Pictures, 1995. Baseado no romance “Emma" de Jane Austen;

Além deste, foram consultados artigos online sobre os figurinos do filme em questão. Escritos por Julie Miller, Alice Vincent e Kerry Pieri, diferentes análises são feitas sobre as roupas utilizadas em “As Patricinhas de Beverly Hills” (1995), alguns delas com a participação da equipe do filme.

As obras de J.C. Flugel (1966) sobre vestuário, de Antonio Costa (1989) e Jacques Aumont (1983) sobre cinema, e de Ana Veronica Pazmino (2009) e Ellen Lupton (2011) sobre método de design também foram estudadas para comprovar os dados aqui apresentados.

Com o objetivo de facilitar a compreensão deste projeto, sua primeira parte, “Técnicas Para Produção Cinematográfica" destrincha as etapas de construção de um filme, cargos da equipe e outros aspectos de uma produção.

(19)

No segundo momento, em “Desenvolvimendo de Projeto”, são estudadas as ferramentas utilizadas para a criação do Método Fabiana, as entrevistas feitas com profissionais da área e, então, a apresentação das fases do método desenvolvido.

Por fim, na terceira parte do trabalho, é analisado o figurino de Cher Horowitz, protagonista de “As Patricinhas de Beverly Hills” (1995), aplicado a partir do método criado afim de mostrar sua eficiência e simplicidade.

(20)

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Apesar de o método apresentado neste projeto ter sido pensado e construído com o intuito de atender toda e qualquer produção audiovisual, seu principal exemplo, que será analisado no capítulo 4, está no cinema tradicional. Para melhor entendimento desta análise, foi necessário esclarecer algumas vertentes de uma produção cinematográfica, como segue.

2.1 TÉCNICAS PARA REPRODUÇÃO CINEMATOGRÁFICA

Para melhor compreensão do presente trabalho, é necessário discorrer sobre cinema técnico e como produções cinematográficas são feitas.

A priori, um filme precisa de um roteiro para que seja feito. O roteiro apresenta não apenas a história a ser contada e as trajetórias dos personagens em cena, mas inclui suas ações, algumas vezes trejeitos e até mesmo objetos de cena. O roteiro será o primeiro contato com as personagens, para qualquer profissional envolvido na produção.

Há diversos cargos que afetam o trabalho do figurinista num filme. No decorrer deste projeto, eles são citados e sua relação com o processo do guarda-roupas explicado. A seguir, apresenta-se um quadro explicativo destes profissionais.

(21)

Quadro 1: Profissionais que trabalham num filme

Fonte: Elaborado pela própria autora, 2018. 2.2 MONTAGEM: OS PLANOS

Pode-se dizer que um filme mobiliza certa quantidade de imagens, de sons e de inscrições gráficas em organizações e proporções variáveis (AUMONT, 1983, p. 53). Isto constitui uma montagem, considerada pelo autor Jacques Aumont uma "noção totalmente central em qualquer teorização do fílmico” (Aumont, A estética do filme, 1983).

Numa produção tradicional, a montagem é feita da seguinte forma: primeiro lê-se o roteiro, que é então dividido em unidades de ação; estas unidades de ação

(22)

são decompostas em planos, classificadas como unidades de filmagem. É importante pontuar que há planejamento na concepção dos planos, já que este está ligado às visões do diretor da película, diretor de fotografia, ao storyboard e outras fases da produção.

São estes planos que geram as tomadas. A partir das tomadas, é iniciada a montagem do filme propriamente dita (edição), na qual as imagens são selecionadas, agrupadas e, por fim, juntas.

A unidade da montagem é o plano. Para melhor compreensão das seguintes informações deste projeto. A seguir, são apresentados os tipos de plano.

(23)

Figura 9: Tipos de planos

Fonte: "A estética do filme" AUMONT, Jacques. São Paulo: Papirus, 1983.

(24)

2.3 MONTAGEM DE FIGURINO

A montagem de figurinos é feita por um figurinista, um profissional de moda responsável por criar os trajes usados por atores em produções audiovisuais. Para que ele execute este papel com destreza e praticidade, é necessário que sejam cumpridas uma série de fases que considera toda a produção em questão, incluindo os itens já mencionados neste capítulo, como equipe e planos.

No presente trabalho, a função do figurinista foi estudada para a criação do Método Fabiana, que apresenta onze etapas e dois canvas que facilitam e aprofundam o processo de montagem de figurinos. Isto pode ser verificado no capítulo 3.2 deste trabalho, no qual o método em questão é demonstrado.

(25)

3 DESENVOLVIMENTO DE PROJETO

O método proposto neste trabalho busca facilitar a montagem de figurinos considerando a personalidade, emoções, ações e desenvolvimento das personagens em cena. De forma secundária, o “Método Fabiana” também busca enriquecer a produção, levando em conta parâmetros e requisitos da produção audiovisual e, portanto, valorizar o processo do figurinista.

Como base para o projeto, foram usadas técnicas de design desenvolvidas por Ellen Lupton e Ana Veronica Pazmino, em Graphic Design Thinking (2011) e Como Se Cria (2009), respectivamente. E, para efetivamente fundamentar este projeto, foram analisadas diferentes entrevistas com membros do elenco e produção do filme "As Patricinhas de Beverly Hills" (1995), em especial com a figurinista, Mona May, e a diretora, Amy Hackerling. Diversos artigos escritos sobre a produção do figurino do filme também foram examinados, incluindo a peça de Julie Miller para o site da Vanity Fair, "The Unlikely Inspirations Behing Clueless's Costume Design", a de Kerry Pieri para Harper's Bazaar, "Exclusive: Clueless' Costume Designer On Creating a Fashion Phenom", e, por fim, o artigo de Alice Vincent na peça "Whatever, Forever: an oral story of Clueless", publicada online pelo Telegraph.

O método criado é prescritivo, linear, atemporal e processual com feedbacks.

3.1 CONCEPÇÃO DO MÉTODO

O Método Fabiana foi construído para ser prescritivo, pois descreve métodos e passos a serem seguidos para o desenvolvimento da escolha do figurino de determinado personagem; linear, pois é feito em passos sequenciais; é atemporal, pois apesar de sequencial é um método que requer flexibilidade em suas etapas dependendo de como é construída a produção em questão; é processual com feedbacks, pois possui avaliação contínua e que pode ser feita a qualquer momento do processo.

Com base nestas características metodológicas, em obras literárias e audiovisuais e em entrevistas feitas com as figurinistas Rosangela Dantas e Themis Suerda, o Fabiana foi contemplado. Além disso, foram estudadas e testadas diversas ferramentas de design com o intuito fundamentar o método concebido.

A eficácia destas ferramentas foi comprovada e elas foram incluídas no processo do Método, como o quadro 2 apresenta:

(26)

Quadro 2: Resumo das onze etapas do Método Fabiana

Fonte: Elaborado pela própria autora, 2019.

Dividido em onze fases e sendo efetivamente executado por meio de dois canvas que serão preenchidos com informações das personagens em questão, o método busca facilitar e organizar a função do stylist numa produção audiovisual. O que distingue o Método Fabiana dos demais é ter as características pessoais das personagens como pilar central da montagem de seus guarda-roupas.

Para isto, os canvas são construídos para serem preenchidos de acordo com tais particularidades das personagens: o primeiro constitui um apanhado geral de suas características psicológicas e físicas e suas possíveis escolhas de vestuário, enquanto o segundo analisa separadamente cada figurino montado para a personagem em questão, usando o primeiro canvas como base de pesquisa. Apresentados a seguir e, posteriormente analisados, no capítulo 4 do presente trabalho, eis os dois modelos de canvas que tornam prático o Método Fabiana.

(27)
(28)

Figura 11: Canvas 2 do Método Fabiana

(29)

3.1.1 Ferramentas De Design

Para a execução das onze fases dos métodos e o consequente preenchimento e uso dos canvas, diferentes ferramentas de design podem ser usadas de acordo com as preferências e necessidades do usuário.

Antes de apresentar o Método Fabiana propriamente dito, é importante citar estas ferramentas, pois elas estão presentes em diversas etapas do processo e contribuem para preenchimento dos canvas, além de ilustrar o projeto de modo simples e estimulante.

Briefing de Criação: “o processo de Design tem como início um problema ou uma necessidade do cliente que deve ser descrita no Briefing” (PAZMINO, 2009, p. 22), no Método Fabiana, as necessidades do projeto podem ser descritas numa primeira reunião com os criadores das personagens, geralmente roteiristas e diretores, antes mesmo do figurinista começar a trabalhar no projeto. Este briefing proverá as diretrizes das personagens e seus subsequentes guarda-roupas. “O briefing no Design é visto como um documento completo das necessidades e restrições no projeto — neste caso, da personagem” (PAZMINO, 2009, p. 22).

Esta ferramenta não possui formato específico, podendo ser descritivo ou estruturado em itens, tabelas ou de acordo com as necessidades do usuário. No Método Fabiana, esta ferramenta é encontrado na primeira etapa.

O exemplo a seguir, estruturado em forma de tabela, mostra um briefing do figurino de “As Patricinhas de Beverly Hills” (1995), no qual as intenções da diretora Amy Hackerling e ideias da figurinista Mona May sobre o figurino do projeto, são expostas.

É necessário pontuar que, para o desenvolvimento deste briefing, foram utilizadas informações coletadas em pesquisa e entrevistas com Heckerling e May.

Figura 12: Briefing entre a diretora de "As Patricinhas de Beverly Hills" (1995), Amy Hackerling e a figurinista Mona May

(30)

Mapa Mental: consiste numa “nuvem de ideias” que coloca um elemento no centro da página e o ramifica numa rede de associações. Neste caso, o elemento central é a personagem estudada e as ramificações são traços de sua personalidade, incluindo gostos, qualidades, defeitos, frases que o representem, desenhos e mesmo imagens que possam remeter a este personagem. Estes traços podem eventualmente ser ligados a peças de roupa e preferências de vestuário. (LUPTON, 2012, p.22) O Mapa Mental pode ser utilizado em algumas etapas do Método Fabiana, tais como a número três e sete, como pode ser visto no capítulo 3.2 deste trabalho.

Figura 13: Mapa mental da protagonista de "As Patricinhas de Beverly Hills" (1995), Cher Horowitz

Fonte: Elaborado pela própria autora, 2019.

Moodboard ou Painel de Conceito: originalmente, “ajuda na definição e visualização do significado do produto [neste caso, da personagem] para facilitar na geração de alternativas a criação de estilo do produto”. (PAZMINO, 2009, p. 162) É uma junção de imagens que criará uma ideia visual de quem é o personagem de um ponto de vista pessoal e estético. Esta ferramenta é citada nas etapas três e sete, mas pode ser utilizada em outros momentos do processo. Estas etapas são apresentadas no capítulo 3.2.

(31)

Figura 14: Painel de Conceito do figurino de Cher Horowitz

(32)

Análise Sincrônica: de acordo com Baxter (2000), uma análise sincrônica compara produtos em desenvolvimento com produtos já existentes (Pazmino, p.60 Como Se Cria 2009). No Método Fabiana, porém, esta ferramenta pode ser usada de duas formas e, mais uma vez, os produtos tornam-se as personagens.

Há dois jeitos de aplicar esta ferramenta. O primeiro modo de aplicar a Análise Sincrônica é estudando as personagens de outras produções, similares às que estão sendo desenvolvidas e enriquecendo a criação de seu figurino com base no que já foi feito.

Para exemplificar este modelo, o quadro abaixo compara as personagens Cher Horowitz, de “As Patricinhas de Beverly Hills” (1995) e Vivian Ward, protagonista de “Uma Linda Mulher” (1990). Abaixo, é ilustrado como seria a concepção do estilo de Cher baseado no de Ward, ambas residindo em Los Angeles e com estilos caros. A escolha de colocar Ward e Horowitz como paralelos, porém, transcende suas semelhanças: além de ter sido lançado cinco anos antes da comédia de 1995, “Uma Linda Mulher”, assim como “As Patricinhas”, ficou conhecido pelo icônico figurino de Vivian.

Figura 15: Vivian Ward e Cher Horowitz

(33)

Quadro 3: Análise Sincrônica entre Cher e Vivian, as protagonistas de "As Patricinhas de Beverly Hills" (1995) e "Uma Linda Mulher" (1990)

Fonte: Elaborado pela própria autora, 2019.

A segunda forma de utilizar esta análise é promover a comparação dos figurinos de diferentes personagens construídos num mesmo projeto audiovisual. Este estudo pode elevar o guarda-roupas de uma produção como um todo, entrelaçando os figurinos das demais personagens e acentuando diferenças e semelhanças entre elas.

(34)

Um bom exemplo disso, já citado no presente trabalho, são as amigas Cher e Dionne ("As Patricinhas de Beverly Hills", 1995), cujos figurinos similares são sutilmente diferenciados para atribuir personalidades distintas às personagens.

Esta análise pode ser útil nas fases três, quatro, sete e até mesmo ao fim do processo, ao comparar as fichas de duas personagens distintas. As fases citadas estão disponíveis no capítulo 3.2 desta monografia.

Quadro 4: Análise Sincrônica das personagens de "As Patricinhas de Beverly Hills" (1995) Cher Horowitz e Dionne Davenport

(35)

Figura 16: Imagens ilustrativas do quadro acima

Fonte: Imagens do filme "As Patricinhas de Beverly Hills" (1995)

Análise Diacrônica: consiste num “exame dos fenômenos culturais, sociais, tecnológicos, etc., observados quanto à evolução de um produto” (Pazmino, p.78 Como Se Cria 2009). Novamente, tomaremos o produto como a personagem em questão. De acordo com o roteiro, que efetivamente mostra o contexto em que a história é contada e a evolução destas personagens, é fundamental que a Análise Diacrônica seja feita, para que haja coesão no projeto audiovisual como um todo.

Este estudo pode ser feito a partir de anotações, cabeçalhos, estruturado num box ou por meio de imagens e está incluso de modo resumido nos canvas. Para exemplificar a ferramenta em questão, foi analisada a evolução de estilo de Tai Frasier, personagem secundária de “As Patricinhas de Beverly Hills” (1995).

(36)

Quadro 5: Análise Diacrônica da personagem Tai Frasier, de "As Patricinhas de Beverly Hills"

(37)

Figura 17: Imagens ilustrativas do quadro acima

Fonte: Imagens do filme "As Patricinhas de Beverly Hills" (1995)

No método, esta análise é vista claramente na etapa quatro, mas as fases um e dois também contribuem para sua construção deste estudo. Estas etapas podem ser vistas no capítulo 4.

(38)

Persona: no design, persona é uma ferramenta que busca descrever de forma eficiente o público-alvo de um produto. O termo, porém, representa uma pessoa com mente, corpo e sentimentos (PAZMINO, 2009, p.110). Convenientemente, as personagens a serem estudadas e vestidas tornam-se as personas deste método: pode-se definir seus gostos, preferências, desejos, pretensões e profissão, dados pessoais, traços psicológicos, características físicas e mesmo o cenário onde vive.

Estas informações podem ser organizadas num texto, cabeçalho, mapa mental, tabela ou melhor atender o projeto. No Método Fabiana, a criação da persona pode ser efetivamente usada nas etapas um, dois, três, quatro, sete e nove,

apresentados no capítulo 3.2.

Ao observar o quadro abaixo, nota-se que boa parte de seu conteúdo também está presente no Mapa Mental.

Quadro 6: Persona de Cher Horowitz

Fonte: Elaborado pela própria autora, 2019.

Pesquisa Etnográfica: é a prática de coleta de dados por meio de observações, entrevistas e questionários (p.26 Graphic Design Thinking 2012 Ellen Lupton). É importante citá-la pois, num processo que envolve tantas pessoas com tantos cargos, tantas visões sobre o projeto e um número ilimitado de feedbacks, as demais opinões são de suma importância para a aplicação do Método Fabiana. A

(39)

pesquisa etnográfica é encontrada no método presente neste trabalho nas etapas dois, cinco, seis, nove e dez, disponíveis no capítulo 3.2.

A Pesquisa Etnográfica feita para o filme estudado nesta monografia, “As Patricinhas de Beverly Hills”, consistiu em observação das adolescentes da época em escolas reais — o que vestiam, falavam, como se comportavam — e conversas frequentes, que podem ser interpretadas como entrevistas, entre Amy Hackerling e Mona May, a diretora e a figurinista do projeto, respectivamente.

3.1.2 Entrevistas com as figurinistas

Para a concepção e efetiva utilidade deste método foi necessário verificar os processos de profissionais atuantes da área, para que pudessem compartilhar suas perspectivas da função, as necessidades, dificuldades e facilidades encontradas enquanto figurinistas. Para isto, foram entrevistadas Rosangela Dantas e Themis Suerda, profissionais que atuam em diferentes áreas da produção audiovisual.

Rosangela trabalha primordialmente com séries, filmes e propagandas, o que faz com que seu processo técnico seja mais longo, enquanto seu processo criativo passa por diversas modificações e adequações referentes à visão de seus superiores. Já Themis tem seu trabalho focado em produções teatrais, cujas partes são construídas simultaneamente e em grupo, buscando atender ao coletivo, mas possuindo liderança quanto ao figurino das produções.

Por perceber tantas discrepâncias no modo como duas profissionais da mesma área atuam, e tendo em vista quantas outras centenas de métodos diferentes figurinistas do audiovisual podem aplicar, o Método Fabiana foi construído para atender às necessidades básicas de qualquer figurinista. Esta seção do trabalho expõe os processos de Rosangela e Themis com o objetivo de analisar seus processos e usá-los, portanto, como blocos de construção para o Fabiana.

3.1.2.1 Rosangela Dantas: séries, filmes e propagandas

Depois de conhecer o trabalho da figurinista Rosangela Dantas, de 41 anos, numa das poucas séries produzidas do estado do Rio Grande do Norte, Septo (2016 - Presente), cuja produção conta com diversos cargos do audiovisual e uma equipe essencialmente grande, foi inevitável investigar seu processo para a construção desta monografia.

(40)

Em entrevista realizada no dia primeiro de março de 2019, numa conversa que durou pouco mais de uma hora, num shopping ao ar livre na área nobre da cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte, a figurinista discorreu sobre seu trabalho. Rosangela ou “Rô”, como gosta de ser chamada, de 41 anos, é formada em Publicidade e Propaganda e tornou-se figurinista por acaso, depois de anos de experiência com produção de fotos.

Depois de fazer o figurino de dois curtas — o premiado “Vivi” (2016) e “A Caixa de Lázaro” (2018) — Rô, que assina como Rosangela Dantas, foi escalada para vestir a segunda temporada da websérie potiguar “Septo” (2016 — Presente), disposta a dar continuidade ao trabalho de Paula Vanina, figurinista e diretora de arte da primeira temporada do seriado. No mercado norte-rio-grandense, é comum que os diretores de arte também assumam a função de figurinista, mas isto está começando a mudar, de acordo com Dantas, que arcou com ambas as funções em “Em Reforma”, curta que está atualmente em pós-produção.

Apesar de “Septo” ser a primeira série em que trabalha, Rosangela tem como referências na mídia mainstream dois seriados, “The Walking Dead” (2010 — Presente) e “The Catch” (2016 — 2017). Quando indagada sobre suas criações favoritas, apontou “Vivi” (2016), e “A Caixa de Lázaro” (2018), neste último ela pôde criar peças especiais e mergulhar no processo criativo de forma mais intensa. Em contraponto, no figurino de “Septo” (em andamento), foi possível firmar parcerias com diversas marcas potiguares para compor o projeto, algo que anda de mãos dadas com o orçamento e, por conseguinte, com o processo de Dantas.

Na entrevista realizada, Rosangela expôs as etapas de seu processo de criação dos figurinos, mais especificamente em “Septo”:

1. O primeiro passo é ler o roteiro e estudar as personagens-chave, levando em conta sua trajetória e evolução na primeira temporada.

2. Após isso, há a primeira reunião com a Direção Geral, para discutir características das personagens.

3. Com tais características em mente, há uma pesquisa de moda feita com base no que Rosangela pensou para cada personagem: de inspirações gerais a peças-chave e paleta de cores — função vista também com o diretor de fotografia.

4. Numa segunda reunião, há a apresentação das ideias coletadas na pesquisa do item anterior. Depois de tê-las discutido com os demais setores da

(41)

produção, já com os estilos das personagens definidas, Rosangela pode ou não iniciar a busca pelas peças.

5. A figurinista acha de suma importância levar em conta o cenário e a opinião dos atores, pois eles já viveram as personagens e é necessário que sintam-se confortáveis nas vestes designadas. Estes pontos são discutidos em reuniões avulsas ou quando há a oportunidade, tendo em vista que seu processo é atemporal e os feedbacks podem ser dados a qualquer momento.

6. Rosangela também discute com o diretor como pode enriquecer a trama por meio do figurino, adicionando acessórios com que a personagem possa mexer em determinada cena, por exemplo, ou peças características para diferentes personagens.

7. Em seguida, há o garimpo de peças. Em “Septo”, a figurinista pôde firmar parcerias com diversas marcas locais, como Avohai, Fio-A-Fio, CB Esportes e Riachuelo. Estas alianças são de grande ajuda com projetos de orçamento limitado.

8. Com os figurinos montados, Dantas os apresenta por meio de fotos à direção para aprovação.

9. Gravação.

Para Rosangela, a parte mais importante de seu processo está na pré-produção, quando pode se planejar para as gravações. Em suma, suas etapas ocorrem de modo atemporal e com bastante feedback, que pode ocorrer a qualquer momento do processo. Apesar de sua ascensão no mercado, para Rosangela, ainda há uma espécie de luta pela seriedade do figurino no mercado audiovisual local.

Ao fazer a análise do Método Fabiana, que está disponível na página 42 do presente trabalho, Rosangela mostrou-se satisfeita e disse que “facilmente utilizaria” as fases recomendadas. É importante ressaltar que o método da figurinista é bastante similar ao apresentado.

3.1.2.2 Themis Suerda: teatro

Themis Suerda, de 39 anos, é conhecida pelo Departamento de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como estudante de Design, mas, especialmente, como figurinista de produções cênicas, área na qual trabalha há anos. Nos dias 26 de março e 22 de abril de 2019, no Departamento já citado,

(42)

Themis concedeu duas entrevistas de cerca de quarenta minutos cada sobre sua trajetória e método de trabalho.

Formada em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, com especialização em Ensino do Teatro, a figurinista e atriz sempre se interessou pela arte do figurino no teatro, um mercado carente em Natal. O principal foco de Themis, desde o início de sua carreira, é o teatro de grupo, no qual a formação de um ator passa por um grupo: “A minha experiência de construção de figurino também passa por isso, é um processo muito coletivo” (2019). Atualmente no Grupo Estandarte, Themis considera o coletivo um dos pilares para seu processo: “o figurino é parte da cena e deve ser construído concomitantemente a os outros processos, de cenário, às falas e a iluminação” (2019).

No início de sua carreira, tudo era feito dentro das possibilidades, buscando peças que poderiam ser reaproveitadas e, apesar de costurar pouco, Themis ganhava experiência conversando e observando o trabalho de outras pessoas que cumpriam a função.

Um exemplo da adaptabilidade em seu processo foi a montagem de “Sonhos de Uma Noite de Verão”, em 2000, sua primeira experiência como figurinista. No projeto, o esqueleto da montagem dos figurinos foi a adaptação e uso de peças usadas. Depois disso, Suerda acabou ficando conhecida como figurinista, apesar de continuar paralelamente com a carreira de atriz.

Em 2001, Themis Suerda conheceu, numa oficina, João Marcelino, figurinista de Macaíba que hoje é uma de suas principais referências profissionais. Foi a partir desta experiência que Suerda começou a desenhar os figurinos que imaginava e se aprofundar na função. Em 2003, ela entrou para o Grupo Estandarte de teatro, no qual havia a prática de montar os figurinos em conjunto. Este processo coletivo é o método favorito de Themis: apesar de ser regido por um líder, todos podem dar opiniões e produzir as peças juntos.

Em 2004, o grupo montou “Ensaio Sobre A Cegueira”, o primeiro grande projeto “solo” da figurinista. Com prazo de três meses e em parceria com o diretor da montagem, Themis fez sua proposta: desde tingimento de tecidos a seleção dos mesmos. Depois deste primeiro projeto, a figurinista tornou-se grande parte das montagens de figurino para as seguintes produções do grupo, às vezes trabalhando com colaboradores com o já citado João Marcelino, com costureiras e outros profissionais.

(43)

Em “Desaparecidos” (2017), último espetáculo apresentado pelo grupo, Themis trabalhou mais uma vez em parceria com João Marcelino, focando em ressignificar peças de roupas “[neste caso] João Marcelino assume mais profundamente o projeto, que ainda assim é conduzido pelo coletivo” (2019).

Com grande amor por figurinos de época, Themis tem dentre suas referências favoritas “Lisbela e O Prisioneiro” (2003) e a franquia “Piratas do Caribe” (2003 — Presente). No teatro, seu favorito é a montagem de “Alice Através do Espelho” do grupo carioca Amazém, apresentado em 2000.

Quando questionada sobre seu processo efetivo, pode-se observar que o processo de Themis não é linear, mas atemporal, processual e colaborativo, com feedback contínuo de todos os envolvidos no projeto. Ele pode ser descrito em seis etapas básicas:

1. De acordo com a figurinista, é difícil dizer como começa a concepção de um espetáculo. Em geral, a construção do mesmo é simultânea: o texto é construído ao mesmo tempo que a iluminação, cenário e figurino, por exemplo. Deste modo, o primeiro passo é que seja definido o tema do espetáculo a ser montado.

2. Com o tema escolhido, a profissional inicia uma pesquisa de imagem que envolve cor, espaço, cenário e figurino, em especial.

3. Essas referências são conversadas com o grupo para que passem adiante. 4. O passo seguinte é o “estranhamento” das peças, como chama a figurinista.

Este “estranhamento” consiste na coleta, modificação e uso de peças por membros do grupo. Eles são encorajados a pegar roupas que não usam mais e levá-las para este exercício, mas por vezes também pode ser necessário comprar uma nova peça para vestir personagens específicos.

5. Estas vestes são usadas pelos atores durante os ensaios do espetáculo, tornando possível um estudo de como a roupa interfere na cena. De acordo com a figurinista, isto ajuda na construção do personagem e torna a roupa mais pessoal.

6. Neste método, não há último passo ou fechamento. O figurino desenvolvido pela profissional pode ser mudado até mesmo enquanto a peça está em cartaz, pois o estudo do figurino em cena é contínuo e, portanto, adaptado quando necessário.

(44)

Discorrendo sobre seu método efetivo, Suerda salienta que, ser atriz e estar no processo de montagem das peças tem grande influência em como trabalha “Se eu não estiver dentro do processo, meu método acaba não funcionando” (2019), disse inicialmente, e por fim, ressalta a importância do trabalho em grupo no viés do tetro em que atua, como o coletivo é parte fundamental de seu processo.

Quando questionada sobre o Método Fabiana, disposto na página 42 deste trabalho, Themis concluiu que, apesar de diferir bastante de seu processo atual no Grupo Estandarte, para o teatro comercial, ele pode ser facilmente utilizado. A figurinista ressaltou, porém, que o contexto social, histórico e econômico no qual o figurino que está sendo montado é inserido também deve ser levado em conta de modo mais explícito.

Este feedback incluiu mais uma etapa no método desenvolvido.

3.2 O MÉTODO FABIANA

As onze etapas desenvolvidas para o Método Fabiana consistem em:

1 A priori, é necessário ler o roteiro. O roteiro dirá quem é cada personagem, suas ações ao longo da trama e outras especificidades de cena. Estas incluem informações como estações do ano, períodos o dia e local onde a cena acontece.

2 É fundamental que se conheça a personagem. É necessário que haja uma ideia clara dela de um ponto de vista psicológico, de sua personalidade: se é confiante, tímido, agitado, otimista, depressivo, quieto, feliz. É preciso que se pense no personagem como uma pessoa real, que possui um guarda-roupas real, que demonstre quem ela é. Para que isso seja feito, é importante que, se possível, haja uma conversa com o(s) criador(es) do personagem, sejam diretores ou roteiristas. Esta entrevista pode ser considerada uma espécie de briefing, na qual o figurinista busca o que exatamente os criadores esperam de suas criaturas.

3 Com base no roteiro estudado, e na discussão e concepção do item 2, o figurinista pode organizar estas características num texto, cabeçalho, mapa

(45)

mental, painel semântico ou mesmo num moodboard (página 29 deste trabalho) que relate quem é esta personagem de uma perspectiva pessoal e emocional.

a. Por exemplo: se é tímido, usa bastante mangas longas e calças compridas, cobrindo-se sempre que possível. Ou, caso se trate de um personagem mais atrevido, seu guarda-roupas pode ser composto de roupas mais vibrantes e reveladoras.

b. Este processo resultará no guarda-roupas base da personagem e no uso da primeiro canvas do Método Fabiana.

4 Após a criação de guarda-roupas base, em teoria, deve-se estudar duas coisas:

a. O contexto socioeconômico e cultural da personagem.

Para que a construção do personagem seja completa e verossímil, é necessário que se estude sua condição financeira e o contexto social em que está inserido — o contexto político também pode ser analisado, mas este pode ou não ser relevante, dependendo da personagem. Pessoas reais e suas roupas estão intrinsicamente ligadas a estes dois aspectos.

Por exemplo, se estamos tratando de um personagem de classe média baixa, que está sempre tentando se inserir em meios sociais mais abastado, podemos utilizar réplicas de artigos de luxo para simbolizar esta constante tentativa. Ou se tratamos de uma personagem que não possui boa condição financeira, mas precisa estar bem vestido para o ambiente de trabalho, o uso de ternos indevidamente cortados ou que são visivelmente do tamanho errado (fazendo alusão a um empréstimo, por exemplo) são boas escolhas.

b. A situação emocional em que o personagem se encontra em cena. Se está feliz, por exemplo, pode usar cores mais vivas ou um acessório impactante, ou óculos escuros caso queira esconder-se de algo ou alguém.

Claro, para isto também é necessário levar em conta a evolução do personagem durante a trama.

(46)

5 Esta fase é uma avaliação dos aspectos paralelos à criação do figurino numa produção.

a. É necessário, então, avaliar outros aspectos da produção: direção executiva, direção de fotografia, roteiro, storyboard, cenário, agentes, atores.

A direção executiva estabelece a mediação entre a direção criativa e a produção. O diretor executivo precisa estar a par das mediações legais e financeiras do projeto, para que este ocorra conforme o planejado. Ele precisa ter conhecimento sobre os aspectos artísticos da produção; deve-se manter atualizado sobre as tendências atuais e possibilidades de mercado. É necessário que o figurinista esteja em contato com este departamento pois é com a direção executiva que as possibilidades financeiras serão acertadas, qual o orçamento para guarda-roupas. É importante salientar que o diretor executivo ainda se comunicará com o restante da parte artística da produção.

O diretor de fotografia provém ao filme sua identidade visual, por assim dizer. Ele é quem define movimento de câmera, iluminação, planos e outros aspectos visuais da produção. É de suma importância que o figurinista compreenda a visão do diretor de fotografia, pois ao saber qual o trajeto da câmera, como o foco fechará, qual a iluminação usada em cena e o cenário será possível engrandecer o valor estético da produção por meio do guarda-roupas.

Por exemplo, se o ator será seguido pela câmera por três quarteirões num plano americano no qual cores amareladas predominam, mas o personagem não se sente especial em comparação ao cenário, ela pode estar vestida em tons similares aos do cenário e a luz natural, que não o façam se destacar. Ao mesmo tempo, porém, por se tratar, neste exemplo hipotético, de um plano americano (que vai da cabeça ao joelho), o personagem pode estar usando um terno extremamente bem cortado, que mostra seu poder aquisitivo e sua posição social favorecida, apesar de sua postura indiferente e desanimada.

(47)

O ator — às vezes em conjunto com seu agente — também deve ter sua opinião levada em conta: ele conhece a personagem melhor que ninguém e a viverá, assim, é necessário discutir suas impressões do mesmo. Além disso, é importante pontuar que alguns atores possuem determinadas peculiaridades quanto ao figurino: alguns não usam determinadas cores, outros se recusam a usar saltos altos, dentre outros.

Outras ferramentas da criação de um filme devem ser pontuadas para a concepção do figurino. Como já citado no item 1, o roteiro é crucial para o nascimento de qualquer produção: é ele que guarda as ações dos personagens, suas trajetórias, algumas vezes trejeitos, o que usam e outras singularidades específicas. Há ainda um storyboard desenvolvido pela produção, que junta o roteiro técnico com a direção de fotografia, facilitando, em parte, o trabalho do figurinista.

b. Por fim, é necessário levar em conta o visual de todas as personagens em cena, incluindo figurantes. Se é necessário que pareçam tão arrumados quanto a protagonista, por exemplo, ou que se misturem. Um caso que se destaca neste elemento é “As Patricinhas de Beverly Hills” (1995), no filme, todos os figurantes são sempre levados em conta. Por exemplo, na cena da aula de Educação Física, todas as garotas estão vestidas em preto e branco, como se as cores definissem o uniforme do colégio, ainda que não haja uniforme na escola. No filme, os figurantes também seguem a mesma paleta de cores que os atores principais, usando marrons e tons escuros no outono e cores pastéis e mais vibrantes na primavera (esta prática está retratada na página 55 e 56, figuras 19, 20 e 21deste trabalho, na qual o figurino do filme é analisado).

Figura 18: Imagens do figurino dos protagonistas e figurantes em "As Patricinhas de Beverly Hills" (1995)

(48)

Fonte: Imagens do filme "As Patricinhas de Beverly Hills" (1995).

É necessário que todos estes elementos se complementem para que haja a construção da narrativa perfeita, para que a produção atinja o telespectador como o diretor pretende que o faça.

6 Feedback: todos estes aspectos são discutidos por meio de reuniões que ajudarão o figurinista a delimitar de modo mais técnico o que cada personagem usa e em qual cena.

É através destes contatos que as especificidades mais se apresentam: o diretor pode precisar que o ator use uma só calça jeans durante todo o filme, por exemplo, mostrando que a personagem em questão não presta atenção ao próprio vestuário, ou que não tem dinheiro para ter mais de um par de jeans. São nessas reuniões que são discutidas as cores que aparecem numa cena, por exemplo, ou se tal personagem deve usar um anel que, sempre que está nervosa, o gira no dedo.

É importante lembrar que apesar de o presente método delimitar as etapas nas quais inclui-se feedback da produção, este ponto é extremamente flexível e está sujeito a diferentes reuniões e calendários.

(49)

7 Após esta reunião e com ciência das especificidades mais técnicas das personagens, é ideal incluí-las na pesquisa do item 3 e fazer as mudanças necessárias no que foi pensado previamente.

Assim, é possível criar o esqueleto visual das produções que serão filmadas antes de coletar as peças para o fitting.

8 Esta etapa consiste na coleta de peças, na qual é de suma importância considerar o orçamento do filme. Parcerias com lojas, acervo pessoal do figurinista, dos atores e até mesmo do estúdio são partes relevantes deste processo.

Há personagens que usam peças dos atores em cena, filmes com grande orçamento para o departamento de figurino e outros cujos guarda-roupas foi feito com pouquíssimo orçamento. Não há fórmula certa para como esta fase do processo se dá.

9 Também chamada de fitting, esta fase consiste basicamente na prova de figurino com os atores. Ela revela o que os favorece ou não, e neste ponto, com a ajuda deles, é possível contribuir ainda mais para a construção da personagem: como anda, gesticula, fala, se comporta dentro dos trajes escolhidos. O ator pode até mesmo ceder alguma peça de roupa de seu vestuário para a personagem que interpretará.

É possível ainda revisitar o quinto item deste método, pois nesta fase o figurinista conhece o personagem num nível ainda mais profundo, o que contribui para o desenvolvimento de novas perspectivas e ideias sobre o mesmo. Pode-se até mesmo refazer ou incrementar os moodboards, cabeçalhos ou qualquer que seja o método escolhido para representar visualmente o guarda roupas em questão.

10 Depois que os looks são montados, aprovados pelos atores e fotografados, chega o momento de os apresentar à equipe. Em reuniões, estas imagens são apresentadas e analisadas para a aprovação ou não do figurino.

Caso o figurino não seja aprovado ou hajam ressalvas por parte da equipe, é necessário que o figurinista tome nota ou até mesmo volte às

(50)

etapas anteriores do processo, fazendo as mudanças necessárias para que os looks finais atendam as expectativas da equipe.

11 Gravar cena (acompanhamento da gravação), utilizando o canvas 2 para cada respectiva cena, na qual é possível manter atualizações caso haja observações, mudanças no set que afetem o figurino e outros fatores externos.

Eis a estrutura básica do Método Fabiana, como apresentada anteriormente na página 32:

Quadro 7: Resumo das onze etapas do Método Fabiana

Fonte: Elaborado pela própria autora, 2019. 3.2.1 Canvas

Como explicado anteriormente, o Método Fabiana conta com onze etapas, vistas no item anterior, e dois modelos de canvas. Com base nas fases do método e nas ferramentas de design utilizadas para coleta de dados, estes canvas, feitas em forma de canvas, facilitam e organizam o trabalho do figurinista.

Apresento a seguir os dois modelos de canvas utilizados no método em questão.

(51)

3.2.1.1 CANVAS 1: Guarda-roupas Base

Consideravelmente mais simples, o primeira canvas utilizado neste método tem o intuito de montar um guarda-roupas base para a personagem em questão. Utilizando o roteiro, entrevistas e as ferramentas de design anteriormente citadas neste trabalho — briefing, mapa mental, cabeçalho, painel semântico etc. — foi possível designar as principais características da personagem e, baseado nestas, criar seu guarda-roupas base.

O canvas fornece um sistema de marcações que delineia as principais escolhas que este faria, de acordo com sua pessoa. Além disso, conta com uma lista de características emocionais, físicas e pessoais gerais da personagem, para auxiliar seu preenchimento.

Há também um espaço destinado a possíveis especificidades do figurino em questão, por exemplo, caso a personagem sempre use anéis ou um mesmo par de tênis durante toda a produção.

(52)

Figura 19: Canvas 1 do Método Fabiana

(53)

3.2.1.2 CANVAS 2: Cena Por Cena

O segundo modelo de canvas é utilizado diversas vezes durante a produção, idealmente a cada vez que uma personagem muda de roupas. Este canvas também é utilizado como guia de cena, incluindo espaço para notas a serem tomadas durante a gravação e atualizações das peças — quais estão sendo usadas, se existem reservas etc.

Este segundo canvas utiliza as informações estudadas na primeira como base para constituição de cada look usado, mas se aprofunda, com o objetivo de designar que figurino específico será usado e em que cena. Estações do ano, períodos do dia, local em que a cena é rodada, contexto social em que a produção se passa e a situação econômica da personagem são elementos a serem analisados para esta segunda parte da construção, além de incluir qualquer especificidade que a cena requeira.

(54)

Figura 20: Canvas 2 do Método Fabiana

(55)

4 ESTUDO DE CASO E APLICAÇÃO DO MÉTODO

Para ilustrar o método descrito anteriormente, foi escolhido para análise o filme “As Patricinhas de Beverly Hills” (1995) e sua protagonista, Cher Horowitz. Dirigido por Amy Hackerling, que também contribuiu para a criação dos figurinos da película, assinados por Mona May, “As Patricinhas” possui na moda um mecanismo a parte que efetivamente contribui para a construção e expressão de seus personagens.

4.1 ESTUDO DE CASO: AS PATRICINHAS DE BEVERLY HILLS

“As Patricinhas de Beverly Hills” é uma adaptação atual do romance de Jane Austen, “Emma”, de 1815. Nele, a protagonista título é uma garota linda, rica, espirituosa, superficial e inteligente, que superestima seu poder de manipular situações e engana-se facilmente com as intenções alheias. Em sua nova roupagem, a atual “Emma”, Cher Horowitz, não é diferente: de tentar fazer dois professores se apaixonarem até se confundir com as reais intenções do colega de classe Christian sobre si mesma, a intenção da psicoticamente otimista Cher é sempre “melhorar” a vida alheia.

Esta breve análise da protagonista de “As Patricinhas” serve como norte para este capítulo: num primeiro momento, examinaremos como os figurinos desta produção foram concebidos e quão ligado à moda está o filme. Depois, Cher Horowitz e seu guarda-roupas será o objeto de estudo e como o Método Fabiana será aplicado.

Como já dito anteriormente, na película em questão é possível perceber que o objetivo do figurino vai muito além de apenas vestir as personagens. Em “As Patricinhas”, as roupas usadas fazem com que as personalidades de seus “heróis” transpareçam, que estejam adequadamente vestidos para a estação do ano e ambiente em que se encontram, o que influencia seu estilo pessoal e podem até mesmo ser retratos de suas emoções.

É possível conectar, por exemplo, o uso de cores da protagonista a suas emoções em algumas cenas específicas, apesar de não ser uma prática explícita no filme em questão. Podemos tomar como exemplo a cena em que a protagonista fica confusa sobre a popularidade de Tai no refeitório ou quando fica frustrada ao ser reprovada em seu teste de direção, em ambas as cenas suas vestes são compostas

(56)

por cores sóbrias (figura 20). Em contrapartida, sua primeira roupa no filme, quando tudo parece promissor e perfeito, Cher traja um conjunto xadrez amarelo marcante e alegre (figura 21).

Figura 21: Cher usando roupas de acordo com suas emoções, cores sóbrias nas duas primeiras imagens quando está confusa e frustrada, respectivamente, e trajando amarelo vivo na última, quando está bem.

Fonte: Imagens do filme "As Patricinhas de Beverly Hills" (1995)

Outro diferencial do figurino de “As Patricinhas” para o dos filmes regulares é o fato de o figurino efetivamente acompanhar as estações do ano, como citado anteriormente. A obra se passa do início do ano letivo norte-americano, no outono, até a primavera seguinte. Mona May, brilhantemente, veste as personagens com roupas de tons mais escuros e outonais durante a primeira fase do filme, nas estações mais frias, e, na segunda metade da trama fez o uso de pastels e tonalidades mais vibrantes, fazendo alusão à primavera. A sutileza desta transformação é louvável, pois faz com que o espectador perceba esta mudança na linha do tempo, sem que precise que lhe seja dito de forma explícita.

(57)

Figura 22: Personagens vestidos com tons invernais

Fonte: Imagens do filme "As Patricinhas de Beverly Hills" (1995). Figura 23: Personagens vestidos com tons primaveris

Fonte: Imagens do filme "As Patricinhas de Beverly Hills" (1995).

Este esquema de cores não se restringe às personagens principais, pois afim de criar atmosferas diferentes e esteticamente agradáveis durante as cenas, May combinou o figurino das figurantes ao das protagonistas.

(58)

É interessante pontuar também que mesmo que os — mais de sessenta — looks de Cher sejam especialmente bem pensados, os personagens secundários da trama não ficam atrás, possuindo suas próprias identidades de estilo: dos garotos aos professores. Dionne, melhor amiga de Cher, usa estampas, cores ousadas, cumprimentos e acessórios de cabeça frequentemente, quase uma versão mais ousada da protagonista — o que bem reflete sua personalidade; Travis, o maconheiro skatista está sempre de moletons, modelagens largas e camisas xadrez, mostrando com clareza seu background na cultura skatista californiana dos anos 1990 e influências grunge que estavam em alta na época; Josh, o interesse amoroso de Cher, usa as roupas básicas do garoto universitário socialmente consciente da época: camisas xadrez, jeans e camisetas de ações sociais; a Srta. Geist, professora, é retratada com roupas conservadoras e desleixadas, chamando atenção para suas meias rasgadas e batom nos dentes, retratando o descaso da personagem com a própria aparência. Estes são apenas alguns exemplos que mostram a influência que o guarda-roupas de “As Patricinhas” tem.

Figura 24: Figurino de Dionne

(59)

Figura 25: Figurino de Travis

(60)

Figura 26: Figurino de Josh

Referências

Documentos relacionados

Para a nossa evolução precisamos refletir sobre as nossas ações, precisamos observar e refletir sobre a prática dos nossos pares, pois como afirma o autor, “a prática

Assim, ao longo deste relatório estão descritas as responsabilidades do farmacêutico hospitalar e mais precisamente a realidade do Hospital Privado da Boa Nova, tais como, a

For a better performance comparison, and due to the difficulty in categorizing ML approaches in a simple way, we began by characterizing them in agreement with Caret’s

b) Na Biblioteca da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto coexistiram no tempo preocupações com a gestão física dos documentos e com o processamento de dados;

Como cada município teve a APAA quantificada de forma absoluta (em hectares) e relativa (em porcentagem da área do município), para testar a adequação desta

Many more European associations, consortia and networks are operating at a transnational level: just to mention a few of them, the Association of European Correspondence