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(1)UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE CIÊNCIAS MÉDICAS E DA SAÚDE. PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA DA SAÚDE. ADRIANA NAVARRO ROMAGNOLO. PERCEPÇÃO DE PUÉRPERAS A RESPEITO DA INFLUÊNCIA DO RELACIONAMENTO CONJUGAL NO CICLO GRAVÍDICO-PUERPERAL. São Bernardo do Campo 2018.

(2) Adriana Navarro Romagnolo. PERCEPÇÃO DE PUÉRPERAS A RESPEITO DA INFLUÊNCIA DO RELACIONAMENTO CONJUGAL NO CICLO GRAVÍDICO-PUERPERAL. Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Psicologia da Saúde da Universidade Metodista de São Paulo – UMESP, como requisição parcial a obtenção do título de Mestre em Psicologia da Saúde. Pesquisadora: Adriana Navarro Romagnolo Orientadora: Profa. Dra. Miria Benincasa Gomes. Área de concentração: Psicologia da Saúde Linha de Pesquisa: Saúde, Violência e Adaptação Humana. São Bernardo do Campo 2018.

(3) FICHA CATALOGRÁFICA R66p. Romagnolo, Adriana Navarro Percepção de puérperas a respeito da influência do relacionamento conjugal no ciclo gravídico-puerperal / Adriana Navarro Romagnolo. 2018. 126 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia da Saúde) –Escola de Ciências Médicas e da Saúde da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2018. Orientação de: Míria Benincasa Gomes. 1. Relacionamento conjugal 2. Ciclo gravídico-puerperal 3. Fatores de risco 4. Fatores de proteção I. Título CDD 157.9.

(4) A dissertação de mestrado sob o título PERCEPÇÃO DE PUÉRPERAS A RESPEITO DA INFLUÊNCIA DO RELACIONAMENTO CONJUGAL NO CICLO GRAVÍDICOPUERPERAL, elaborada por Adriana Navarro Romagnolo foi apresentada em 19 de fevereiro de 2018, perante banca examinadora composta por Profa. Dra.Miria Benincasa Gomes (Presidente/UMESP); Prof. Dra. Hilda Rosa Capelão Avoglia (Títular/UMESP) e Prof. Dra. Ana Cristina Araújo Nascimento (Títular/UNITAU).. ____________________________________________ Profª Draª. Miria Benincasa Gomes Orientadora e Presidente da Banca Examinadora. ____________________________________________ Profª Draª. Maria do Carmo Fernandes Martins Coordenadora do Programa de Pós-Graduação. Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Saúde Área de concentração: Psicologia da Saúde Linha de Pesquisa: Saúde, Violência e Adaptação Humana. São Bernardo do Campo, 19 de fevereiro de 2018..

(5) Dedico este trabalho à minha mãe, a qual me mostra diariamente a importância da maternidade realizada com amor e dedicação e às minhas avós, que me ensinaram que o amor materno se perpetua mesmo com a ausência física... Fica guardado para sempre em nossas memórias e em nosso coração..

(6) AGRADECIMENTOS. Agradeço aos meus pais Alice e Corrado, pelo apoio e incentivo que sempre me dão, pela confiança em mim e em meu trabalho, por incentivarem e auxiliarem em meus estudos. Meu irmão Rodrigo, pelos ensinamentos ao longo da vida e a minha prima-irmã Maiara, a primeira a despertar em mim o sentimento de amor e olhar materno. Minha orientadora Profª Dra. Miria Benincasa Gomes, pelo acolhimento, pela paciência, pela confiança. Minha eterna gratidão por todo seu apoio, incentivo e carinho. Fernando Godoy, pela parceria, pelas madrugadas sem dormir junto comigo, pelas caronas, almoços e por todo amor e carinho que sempre me dedica. Minha Psicóloga Sueli Moreira, por me auxiliar a despertar o melhor que há em mim e contribuir com meu desenvolvimento psíquico, emocional, pessoal e profissional. Às amigas Luciana Inham e Iara Guimarães, minha família mineira/portuguesa que compartilharam comigo as alegrias, viagens, angústias, conquistas e todos os momentos vividos em Lisboa e às amigas Debora Nadale e Nathália Chagas, parceiras de vida, por tantos anos de amizade e companheirismo. A todos que contribuíram e contribuem com a minha formação enquanto psicóloga, sendo em especial as colegas da Lázuli – Psicologia Obstétrica, Aline Costa, Neliane Lazarini e Damiana Angrimani, por tanta troca tanto em aspectos pessoais quanto profissionais. À Profa. Dra. Hilda Rosa Capelão Avoglia, por acompanhar minha trajetória acadêmica desde o início, pela disponilidade, carinho, atenção e pela participação compromissada na Banca Examinadora e de Qualificação. Á Profa. Dra Ana Cristina Araújo Nascimento, pela sensibilidade, respeito e pelas valiosíssimas contribuições, não apenas para este trabalho, mas para sua continuidade e pela disponibilidade em participar da Banca Examinadora e de Qualificação. À Elisangela Aparecida de Castro Souza, Assistente da Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde da UMESP, pelo atendimento sempre prestativo e carinhoso. A todas as mulheres que abriram as portas de suas casas e me receberam, compartilhando suas histórias de alegrias e dores, momentos íntimos e uma vivência única que é o momento do parto e do nascimento..

(7) EPÍGRAFE “Me espera” - Sandy Eu ainda estou aqui Perdido em mil versões Irreais de mim Estou aqui por trás de todo o caos Em que a vida se fez Tenta me reconhecer no temporal Me espera Tenta não se acostumar Eu volto já Me espera Eu que tanto me perdi Em sãs desilusões ideais de mim Não me esqueci De quem eu sou E o quanto devo a você Tenta me reconhecer no temporal Me espera Tenta não se acostumar Eu volto já Me espera Mesmo quando me descuido Me desloco Me deslumbro Perco o foco Perco o chão Eu perco o ar Me reconheço em teu olhar Que é o fio pra me guiar De volta De volta Tenta me reconhecer no temporal Espera No temporal Me espera Tenta não se acostumar Eu volto já Me espera Eu ainda estou aqui.

(8) RESUMO Entre as décadas de setenta e oitenta do século passado houve uma mobilização no sentido de avaliar a assistência ao parto em âmbito mundial. Os principais assuntos em pauta eram os elevados índices de cesárea e a excessiva medicalização do processo de parto, ambos sem evidências científicas, em vários lugares do mundo. O Ministério da Saúde preconiza diversas práticas acerca da saúde da mulher e procedimentos que favorecam o relacionamento conjugal. Assim, esse trabalho teve como objetivo verificar a percepção de mulheres sobre sua relação conjugal durante a gestação, parto e pós-parto, além de investigar a interferência da relação conjugal na representação da imagem de si, no modelo de assistência ao parto, no exercício da maternidade e na adaptação a esse novo papel, de acordo com as recomendações preconizadas pelo Ministério da Saúde e pela OMS. Participaram desse estudo três mulheres com diferentes vivências de parto, sendo eles cirurgia cesariana eletiva, parto com assistência humanizada e parto com violência obstetrica. Os instrumentos utilizados foram: Entrevista semi – aberta; Procedimento de Desenho - Estória com Tema (DE-T); Escala Fatorial de Satisfação com o Relacionamento de casal (EFS-RC); questionário sociodemográfico e Escala de Autoestima de Rosenberg. Os resultados mostraram que a forma como cada participante percebe o relacionamento conjugal possui influência considerável nos aspectos psíquicos analisados não só no pós-parto, mas durante todo o ciclo gravídico-puerperal. Na participante de Cesárea Eletiva, é possível notar vínculo conjulgal fragilizado, decisão médica pela via de parto, dificuldade acentuada no exercício da maternidade e autoimagem e autoestima comprometidas. Na participante de Parto com Assistência Humanizada, o vínculo é fortalecido, o parto aparece como decisão do casal, a participante encontra-se em processo de adaptação da função materna e a autoimagem comprometida, porém a autoestima é compensatória. No parto com Violência Obstétrica, o vínculo conjugal é ausente, o parto foi uma imposição médica, apresenta dificuldade no exercício da maternidade sozinha e a autoimagem e autoestima são compensatórias. Assim, entende-se a necessidade de ampliar o estudo com maior número de participantes e análises aprofundadas dos instrumentos quantitativos, bem como a importância de modelos de intervenção psicólogica durante a gestação como atuação preventiva, promoção de saúde e fortalecimento do vinculo do casal e o fortalecimento de políticas públicas que garantem os direitos da mulher.. Palavras-chave: Relacionamento conjugal; Ciclo Gravídico-Puerperal; Fator de risco; Fator de proteção..

(9) ABSTRACT Between the 1970s and 1980s there was a mobilization to evaluate childbirth care worldwide. The main subjects on the schedule were the high rates of cesarean section and the excessive medicalization on the labor process, both without scientific evidence, in several places of the world. The Ministry of Health defends various practices about women's health and procedures that benefits marital relationships. Therefore, this study aimed to verify the perception of women about their marital relationship during pregnancy, delivery and postpartum, as well as to investigate the interference of the conjugal relationship in the representation of the self image, in the delivery model, in the exercise maternity and adaptation to this new role, in accordance with the recommendations of the Ministry of Health and WHO. Three women with different birth experiences participated in this study, including elective cesarean surgery, delivery with humanized assistance and delivery with obstetric violence. The instruments used were: Semi open interview; Drawing Procedure - Theme Story (DE-T); Factorial Scale for Satisfaction with the Double Relationship (EFS-RC); sociodemographic questionnaire and Rosenberg's Selfesteem Scale. The results showed that the way each participant perceives the marital relationship has considerable influence on the psychic aspects analyzed not only in the postpartum period, but throughout the pregnancy-puerperal cycle. In the participant of Cesarean Elective, it is possible to notice a weakened conjugal bond, medical decision by the way of delivery, marked difficulty in the exercise of maternity, and self-image and compromised selfesteem. In the participant of Childbirth with Humanized Assistance, the bond is strengthened, the delivery appears as a decision of the couple, the participant is in the process of adapting the maternal function and the compromised self-image, but the self-esteem is compensatory. In childbirth with Obstetric Violence, marital bonding is absent, childbirth was a medical imposition, presents difficulty in the exercise of motherhood alone, and self-image and selfesteem are compensatory. Thus, it is understood the need to expand the study with a greater number of participants and in-depth analyzes of the quantitative instruments, as well as the importance of psychological intervention models during pregnancy such as preventive action, health promotion and strengthening of the couple's bond and strengthening of public policies that guarantee the rights of women.. Key words: Marital relationship; Pregnancy-Puerperal Cycle; Risk factor; Protection factor..

(10) Lista de figuras Figura 01. Desenho da Mulher – Maya – Cesárea Eletiva ....................................................... 81 Figura 02. Desenho da Mulher – Gaia – Parto com Assistência Humanizada ......................... 83 Figura 03. Desenho da Mulher – Iris – Parto com Violência Obstétrica ................................. 85 Figura 04. Desenho da Mãe – Maya – Cesárea Eletiva ............................................................ 87 Figura 05. Desenho da Mãe – Gaia – Parto com Assistência Humanizada.............................. 89 Figura 06. Desenho da Mãe – Iris – Parto com Violência Obstétrica ..................................... 93 Figura 07. Desenho da Família – Maya – Cesárea Eletiva ....................................................... 95 Figura 08. Desenho da Família – Gaia – Parto com Assistência Humanizada ........................ 96 Figura 09. Desenho da Família – Iris – Parto com Violência Obstétrica ................................ 99.

(11) Lista de tabelas Tabela 1. Caracterização sociodemográfica das mães............................................................. 43.

(12) Sumário 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................12 2 REVISÃO TEÓRICA ......................................................................................................... 15 2.1 A mulher no ciclo gravídico-puerperal ........................................................................... 15 2.1.1 Alterações físicas e corporais ............................................................................. 15 2.1.2 Alterações psicológicas ...................................................................................... 18 2.2 Maternidade e função materna: aspectos sociais e psicodinâmicos ............................. 21 2.3 Autoestima e autoimagem ................................................................................................ 25 2.4 Relação conjugal no ciclo gravídico puerperal ............................................................. 27 2.5 Assistência ao parto ......................................................................................................... 31 2.5.1 O parto normal ................................................................................................... 35 2.5.2 A cirurgia cesariana ........................................................................................... 36 2.5.3 Violência obstétrica (VO) ................................................................................... 36 2.5.4 Parto com assistência humanizada ..................................................................... 39 3 MÉTODO ............................................................................................................................ 42 3.1 Amostra ............................................................................................................................ 42 3.1.1 Caracterização da amostra ................................................................................. 43 3.2 Local .................................................................................................................................. 44 3.3 Instrumentos .................................................................................................................... 44 3.3.1 Entrevista semi – aberta ..................................................................................... 44 3.3.2 Procedimento de Desenho - Estória com Tema (DE-T) ..................................... 45 3.3.3 Escala Fatorial de Satisfação com o Relacionamento de casal (EFS-RC) ......... 45 3.3.4 Questionário sociodemográfico .......................................................................... 46 3.3.5 Escala de Autoestima de Rosenberg ................................................................... 46 3.4 Procedimento para a coleta de dados ............................................................................. 46 3.5 Procedimento para a análise dos dados ......................................................................... 47 3.5.1 Entrevista semi - aberta ...................................................................................... 47 3.5.2 Procedimento de Desenho - Estória com Tema (DE-T) ..................................... 47 3.5.3 Escala Fatorial de Satisfação com o Relacionamento de Casal (EFS-RC) ........ 47 3.5.4 Questionário sociodemográfico .......................................................................... 48 3.5.5 Escala de autoestima de Rosenberg .................................................................... 48 3.5.6 Integração dos resultados obtidos ....................................................................... 48 3.6 Objetivo ............................................................................................................................. 49 3.6.1 Objetivo geral ...................................................................................................... 49.

(13) 3.6.2 Objetivos específicos ........................................................................................... 49 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 50 4.1 Análise categorial das entrevistas ................................................................................... 50 4.1.1 Categoria 01 - Relacionamento Conjugal ........................................................... 50 4.1.2 Categoria 01 – Discussão - Relacionamento Conjugal ....................................... 55 4.1.3 Categoria 02 - Exercício da Maternidade ........................................................... 59 4.1.4 Categoria 02 – Discussão - Exercício da Maternidade ....................................... 65 4.1.5 Categoria 03 - Escolha da via de parto ............................................................... 68 4.1.6 Categoria 03 – Discussão - Escolha da Via de Parto ......................................... 73 4.1.7 Categoria 04 – Autoimagem ................................................................................ 77 4.1.8 Categoria 04 – Discussão - Autoimagem ............................................................. 80 4.2 Análise do Desenho-Estória com Tema .......................................................................... 81 4.2.1 Desenho da Mulher ............................................................................................. 81 4.2.2 Desenho da Mãe .................................................................................................. 87 4.2.3 Desenho da Família ............................................................................................. 95 5 Considerações finais .......................................................................................................... 101 6 Referências ......................................................................................................................... 106 ANEXOS ............................................................................................................................... 117.

(14) 12. Introdução Entre as décadas de setenta e oitenta do século passado, houve uma mobilização no sentido de avaliar a assistência ao parto em âmbito mundial. Os principais assuntos em pauta eram os elevados índices de cesárea e a excessiva medicalização do processo de parto, ambos sem evidências científicas, em vários lugares do mundo. Pontos importantes considerando que, há bem pouco tempo, o parto era um processo fisiológico normal (World Healt Organization [WHO], 2010). Em 1985, realizou-se a Conferência sobre Tecnologia Apropriada para o Parto, sob a coordenação da Organização Mundial de Saúde (WHO, 1985). Essa reunião foi considerada um marco tanto para a saúde pública quanto para a defesa dos direitos da mulher e do bebê. A partir de então, estudos vêm sendo realizados no sentido de desenvolver uma assistência obstétrica que envolva as melhores práticas, priorizando o bem-estar da mãe e do bebê de maneira integral (Patah & Malik, 2011). A Carta de Fortaleza, documento desenvolvido nesse mesmo encontro, preconiza a liberdade da mulher para escolher a melhor posição no trabalho de parto e no momento do nascimento; a opção de ter acompanhante durante o parto e todo o trabalho de parto; o fim de alguns procedimentos médicos que, além de não apresentarem benefícios, podem gerar prejuízos quando aplicados rotineiramente. Esta reunião configurou-se com o início de mudanças no cenário obstétrico daquele momento (Agência Nacional de Saúde Suplementar [ANS], 2008; Diniz, 2005). No que se refere à realidade brasileira, observa-se a reprodução do padrão mundial, ou seja, as mulheres com gestação de baixo risco são desnecessariamente expostas às situações adversas e iatrogênicas (complicação ou doença causada por medicamento ou tratamento médico) que o excesso de tecnologia impõe, independentemente de sua situação socioeconômica (Andreucci & Cecatti, 2011). Esta realidade gera impacto em outras áreas da vida que se estendem para além do momento do nascimento. Os autores mostram implicações da via de parto, por exemplo, na amamentação. As pesquisas indicam que a cesárea eletiva, em comparação com a cesárea de emergência ou o parto normal, gera um início tardio da amamentação e oferece pelo menos três vezes mais risco de interrupção da amamentação no primeiro mês de vida (Machuca, Quadros, Castro, Siqueira, & Venturi, 2011; Pereira, Fonseca, Oliveira, Souza, & Mello, 2013; Prior et al., 2012; Weiderpass, Barros, Victora, Tomasi, & Halpern, 1998; Zanardo et al., 2010). Se levarmos em consideração as políticas públicas do Ministério da Saúde sobre a amamentação, devido aos seus já conhecidos benefícios, verifica-se que há indicação, quase.

(15) 13. consensual, da amamentação como alimento exclusivo para o bebê durante os seis primeiros meses de vida e como complemento da alimentação até os 24 meses (Brasil, 2015). Ao se inserir nessa jornada de gestação e maternidade, a mulher é bombardeada por pressupostos de como ser uma boa mãe (Nunes, 2011), sendo que dentre os principais itens está a capacidade de amamentar. Nessa pesquisa considera-se que a dificuldade de nutrir seu bebê — a qual, segundo a literatura, é agravada pela cesárea eletiva — gera algum impacto na percepção de sua capacidade de ser mãe. Um movimento crescente observado no Brasil e também em vários outros países do mundo, tem defendido que os homens podem e devem ser envolvidos integralmente em tudo o que diz respeito à tomada de decisão reprodutiva, desde a escolha de ser pai até a participação solidária na gestação, no parto, no cuidado e na educação dos filhos. O argumento central trazido por esse debate é que, dessa forma, é possível romper e transformar, na prática, construções sociais de gênero que, por um lado, direcionam todas as responsabilidades relacionadas à reprodução e aos cuidados das crianças às mulheres e, por outro, afastam os homens tanto dos compromissos e dos deveres quanto dos prazeres e dos aprendizados que circundam esse universo (Benazzi, Lima, & Souza, 2012). O envolvimento consciente dos homens – independentemente de serem pais biológicos ou não – em todas as etapas do planejamento reprodutivo e da gestação, pode ser determinante para a criação e/ou fortalecimento de vínculos afetivos saudáveis entre eles, suas parceiras e filhos(as). Ressaltamos que isso pode ser positivo não apenas para as crianças e mulheres, mas especialmente para os homens, por aproximá-los definitivamente da arena do afeto e do cuidado. Oliveira et al. (2009) apontam que no momento que o pai se sente “grávido” e reconhece a gravidez como um evento familiar, passa a participar de forma mais ativa nas consultas de pré-natal, bem como nos exames e na preparação do parto. Além disso, adquire uma nova visão de cuidado e de ser cuidador, de forma a assegurar que o compartilhamento das responsabilidades pode ser mais favorável também aos cuidados de saúde da mulher. A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza que o cuidado no ciclo gravídicopuerperal deve ser centrado na família, sendo dirigido para as necessidades do casal e não mais voltado apenas para a mulher e o bebê; o que promove uma assistência global, respeitosa e de forma integral. Assim, apontam para a importância da inclusão do parceiro durante todo o processo de forma a proporcionar uma assistência adequada à família, fundamental para a obtenção de bons resultados na gestação e no puerpério (Brasil, 2008). O modelo tradicional de assistência, não inclusivo e não integral, impede a construção da parentalidade de forma conjunta, condenando os futuros pais à elaboração individual desse processo tão singular do.

(16) 14. ciclo vital. No Brasil, a política pública que prioriza a saúde masculina e intervém em suas necessidades é a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), que tem como objetivo qualificar os profissionais que atuam na atenção básica para que ofereçam uma assistência maior e mais acolhedora a esse grupo. As atuações propostas pelo Ministério da Saúde possibilitam que a atenção primária sirva como porta de entrada dos homens nos serviços, de forma a viabilizar a prevenção de doenças, promoção de saúde e intervenções quando necessário. Além disso, possibilitam uma integração transversal com outras políticas públicas de saúde (Brasil, 2005; 2016). Optando-se pela avaliação de mulheres que tiveram diferentes formas de assistência ao parto, podemos compreender esse processo a partir da perspectiva da mulher, ou seja, como se construiu para ela a maternidade e qual a contribuição do parceiro para essa imagem de si como mulher e mãe. Outro levatamento deste estudo é de que a assistência pré-natal e ao parto interferem na formação dessa imagem. Assim, ao ouvir a história pregressa dessas mulheres, pode-se inferir quais fatores foram protetivos e quais foram os de riscos na construção da imagem que têm de si, de mãe e na relação com o parceiro. Dessa forma, a pesquisa buscou como objetivo verificar a percepção de mulheres sobre sua relação conjugal durante a gestação, parto e pós-parto; além de investigar a interferência da relação conjugal na representação da imagem de si, no modelo de assistência ao parto, no exercício da maternidade e na adaptação a esse novo papel, de acordo com as recomendações preconizadas pelo Ministério da Saúde e pela OMS. Este trabalho se justifica por estudos anteriores que relatam as implicações dos diferentes modelos de parto na vida da gestante, tanto psíquicas quanto sociais. A relevância se mostra na possibilidade de aprimorar a discussão sobre o tema de forma a embasá-lo cientificamente, para que nós, psicólogos, possamos entender nosso papel dentro do contexto da humanização da assistência ao parto e ao nascimento. Após o levantamento do referencial teórico, foi realizada uma análise de conteúdo temático-categorial proposta por Oliveira (2008). A partir da análise elaborada, a revisão teórica foi dividida em alguns temas para facilitar a compreensão da temática em questão, sendo eles: a mulher no pós-parto (abordando as questões físicas, corporais e os aspectos emocionais); o relacionamento conjugal no ciclo gravídico-puerperal; modelos de assistência ao parto (abordando o parto normal, a cirurgia cesariana, violência obstétrica e o parto com assistência humanizada); maternidade e função materna e, por fim, autoimagem e autoestima..

(17) 15. 2 Revisão teórica 2.1 A mulher no ciclo gravídico-puerperal A gestação faz parte do ciclo vital feminino e pode ser compreendida como um conjunto de fenômenos fisiológicos que resultam na criação de um novo ser. Esse período pode ser considerado um dos mais ricos por algumas mulheres, um momento de mudanças físicas e psicológicas (Rezende, 2005). As alterações fisiológicas da gestação possivelmente são responsáveis por gerar medos, dúvidas, angústias, fantasias e/ou curiosidade com as transformações sofridas pelo corpo grávido. É de extrema importância que tais sentimentos sejam compartilhados com profissionais de saúde durante a assistência pré-natal e que tais profissionais estejam capacitados para realizar um acolhimento adequado auxiliando no manejo de tais demandas (Silva Costa et al., 2010). 2.1.1 Alterações físicas e corporais A gestação promove uma série de mudanças no organismo da mulher, tendo em vista que ele é o grande responsável por nutrir o bebê que cresce em seu ventre. Algumas dessas mudanças são visíveis e perceptíveis pela gestante: as alterações físicas, por exemplo. Já outras, como as questões hormonais, muitas vezes não são percebidas (Caldas, 2007). As transformações físicas e hormonais têm início nas primeiras semanas de gestação. A principal base de todas as alterações está na produção dos hormônios progesterona e estrógeno, por meio do ovário e da placenta. Conforme a gestação vai evoluindo, as mudanças vão sendo cada vez maiores (Caldas, 2007). Para facilitar a compreensão, muitos autores classificam as mudanças por meio de sistemas, sendo eles: locomotor, cardiovascular, imunológico, respiratório, urinário, digestivo, endócrino, nervoso, além do metabolismo e órgãos do sentido. Abaixo destacaremos algumas alterações mais significativas (Caldas, 2007): . Sistema locomotor: o centro de gravidade se altera devido ao aumento das mamas e do abdome, dessa forma há alteração da curvatura lombar e modificação no equilíbrio. Modificam-se os níveis de cálcio para que o bebê também o receba, e há um aumento do volume de água corporal em até 3,5 litros. Com essas mudanças a gestante pode apresentar maior ingestão de água e, consequentemente, maior frequência urinária. Tais alterações hídricas.

(18) 16. interferem na produção de sódio, fazendo com que o organismo precise se adaptar a esse novo ciclo (Gordon, 2002, p. 63-64). . Sistema cardiovascular: com o crescimento do feto, há mudança na posição do coração, aumento da frequência cardíaca e do trabalho cardíaco. O volume sanguíneo pode aumentar em 30% (aproximadamente 1,5 litro). Com essas alterações sanguíneas, algumas mulheres podem apresentar índices próximos aos de anemia, que são considerados normais na gestante. O aumento do volume sanguíneo também pode causar mudanças na pressão, que variam conforme cada período da gestação (Caldas, 2007).. . Sistema respiratório: há mudanças no diafragma e na circunferência do tórax, que aumentam de tamanho. A elevação dos níveis de progesterona provoca respiração mais profunda, causando um estado de hiperventilação que promove com mais facilidade a troca de gás carbônico e oxigênio entre mãe e bebê (Gordon, 2002, p. 71). . Sistema urinário: durante a gestação há dilatação das vias urinárias, pois a progesterona provoca relaxamento da musculatura lisa. No terceiro trimestre, devido ao peso da barriga sobre a bexiga, podem ocorrer micções frequentes com pequenos volumes ou até mesmo incontinência urinária. Há também alterações no funcionamento renal que podem sugerir indicativos de préeclâmpsia (Gordon, 2002, p. 77).. . Metabolismo: há alteração dos níveis de glicemia devido à glicose consumida pelo feto; aumento de triglicérides, ácidos graxos e colesterol materno. Os aminoácidos são utilizados pelo feto como fonte de energia e transportados ativamente através da placenta. Há também diversas alterações de sais minerais e vitaminas que contribuem para o desenvolvimento do bebê (Gordon, 2002, p. 84).. . Sistema digestivo: há aumento de apetite e, por vezes, mudanças nos hábitos alimentares com preferências ou aversões. Durante o primeiro trimestre é comum a gestante apresentar náuseas e vômitos. A progesterona inibe a musculatura lisa, reduzindo a capacidade de contração do duto gastrointestinal, podendo ocasionar refluxo, azia, regurgitação, hérnia de hiato, obstipação intestinal, dentre outros (Rezende & Coslovsky, 1998, p. 146). A mulher pode apresentar aumento da produção salivar e sangramento na gengiva. O fígado.

(19) 17. também tem aumento na atividade metabólica para a produção de energia e proteínas necessárias na gestação. Quanto ao intestino, há flatulências devido maior absorção de ferro e cálcio. Com o aumento da pressão na circulação entre intestino e fígado, podem ocorrer hemorroidas (Caldas, 2007). . Sistema endócrino: as alterações dos hormônios produzidos pela tireoide afetam diretamente o desenvolvimento do sistema nervoso do feto. A glândula adrenal é responsável pela regulação de sódio e potássio, controlando a pressão arterial; e do cortisol, que possui papel importante na imunologia. A hipófise aumenta na gestação, pois é responsável pela produção de prolactina, que prepara a mama para a lactação (Caldas, 2007).. . Sistema nervoso e órgãos do sentido: a progesterona deprime o sistema nervoso central causando sonolência, fadiga e embotamento psicomotor. Quanto às questões oftalmológicas, pode ocorrer espessamento de córnea e redução da pressão intraocular. Na região nasal há hipervascularização, podendo ocasionar obstrução nasal, rinite, hipersecreção e sangramento nasal (Caldas, 2007).. Devido às diversas alterações fisiológicas citadas acima, alguns autores apontam que as queixas mais comuns apresentadas por gestantes durante as consultas de pré-natal são náuseas e vômitos, pirose ou azia, tonturas ou vertigens, obstipação intestinal, dores sacrolombares, sangramento gengival, câimbras e palpitações (Matheus, 2007). Após o parto, a mulher passa por um período denominado puerpério, o qual ainda possui grandes mudanças fisiológicas. Cronologicamente, o puerpério inicia-se com a dequitação e expulsão da placenta e finaliza-se conforme a recuperação da genitália materna depois do parto, bem como com o retorno das funções ovarianas, sendo essa recuperação variável conforme o organismo de cada mulher. O fim do puerpério confunde-se também com o início da lactação, que traz uma nova fase biológica e endócrina da mãe. A maioria dos autores define como tempo esperado para o puerpério de 6 a 8 semanas após o parto. Essas semanas são divididas em três fases, cada uma com alterações fisiológicas específicas que serão definidas a seguir (Nakamura, Junior, & Rocha, 2007; Rezende & Kamnitzer, 1977). . Pós-parto imediato: 1º ao 10º dia após o parto. É marcado por um período de exaustão física que ocasiona sono, gerando muitas vezes alívio e tranquilidade quando o parto é fisiológico. Podem ocorrer tremores e calafrios seguidos de sudorese e a temperatura pode estar mais elevada, conforme a apojadura das mamas. O volume de sangue bombeado pelo coração aumenta de 10% a 13% (Nakamura et al., 2007; Rezende & Kamnitzer, 1977)..

(20) 18. Ocorre a involução da musculatura uterina e a regressão do epitélio vaginal. O fundo do útero começa a descer, a ferida da placenta e o colo do útero começam a fechar. Na lactante esse processo ocorre mais rápido devido à produção de ocitocina, bem como nas mulheres primíparas, pois o útero é menos volumoso (Nakamura et al., 2007). . Pós-parto tardio: 10º ao 45º dia após o parto. Começa a recuperação genital e ainda há redução do volume uterino, porém de forma mais lenta. O endométrio regenera-se completamente e, quando a mulher não amamenta, modifica-se de forma semelhante à fase proliferativa do ciclo menstrual (Nakamura et al., 2007). . Pós-parto remoto: 45º dia em diante.. Tem duração imprecisa e é mais rápido em mulheres que não amamentam. Fisiologicamente esse período termina quando o útero retoma o endométrio proliferativo do tipo menstrual (Nakamura et al., 2007). 2.1.2 Alterações psicológicas Estudos recentes apontam que o nascimento de um filho deve ser considerado um acontecimento normativo e previsível na vida de um casal e não um período de crise. É possivelmente um dos momentos mais importantes no desenvolvimento individual e familiar, mas que implica uma necessidade de reorganização e adaptação. Dessa forma, com a exigência de cuidados, a reorganização familiar, individual, conjugal e profissional pode ser uma fonte de estresse. Em contrapartida, tais mudanças podem promover uma fonte de satisfação, realização pessoal e ter um significado positivo atribuído à vida dos pais, de forma a proporcionar maior aproximação conjugal e familiar (Boss, Bryant, & Mancini, 2016; Canavarro, 2001; C. Cowan & Cowan, 2000; Moura-Ramos, 2006; Moura-Ramos & Canavarro, 2012; Oliveira, AraújoPedrosa, & Canavarro, 2005). Sabe-se que o nascimento de um filho ocorre de forma a envolver o casal, porém, ainda assim, pais e mães possuem adaptações distintas quanto às mudanças promovidas por este acontecimento. Essa adaptação ocorre conforme as características pessoais dos pais, do bebê e do contexto social e familiar que o casal está inserido, podendo ocorrer de forma positiva ou negativa. Ainda que o objetivo seja comum, em formar uma família, a transição para a parentalidade de homens e mulheres ocorre de forma distinta e com caminhos individuais, considerando diferentes características biológicas, personalidade, atitudes, prioridades e a forma como cada indivíduo se percebe em seus papéis sociais. Alguns autores apontam que a.

(21) 19. mulher possui mudanças mais significativas, podendo apresentar maior perturbação e dificuldade de adaptação frente aos novos papéis que ocupa, devido às alterações em relação ao sono, lazer, relacionamento sexual, relacionamentos sociais e tempo com o cônjuge, bem como as alterações físicas, que ocorrem de forma muito mais intensa do que no parceiro. Além disso, observa-se que há maior prevalência das tarefas e prestação de cuidados assumidas como a responsabilidade materna (Moura-Ramos, 2006; Moura-Ramos & Canavarro, 2012; SalmelaAro, Nurmi, Saisto, & Halmesmaki, 2000). Em geral, o nascimento de um bebê tende a ser recebido com alegria pela família e a comunidade que a cerca, porém, nem sempre esse sentimento se estende de forma positiva para a mãe. Há três grandes momentos de transformações psíquicas pelas quais uma mulher precisa passar no ciclo gravídico-puerperal, que exigem dela uma reestruturação emocional e ocorrem de formas diferentes para cada sujeito. São elas: a transformação de filha e mãe; a transformação da autoimagem corporal; e a relação entre a sexualidade e a maternidade. Frente a isso, a puérpera pode apresentar uma mudança de humor denominada “tristeza materna” (baby blues), que acomete 80% das mulheres, podendo ser um índice ainda maior devido ao tabu que existe acerca do tema (Brasil, 2006; Iaconelli, 2005). A “tristeza materna” pode ser definida como um estado de humor depressivo, coerente e esperado conforme a demanda psíquica exigida pelo período, que costuma ocorrer a partir da primeira semana após o parto. Aparecem sintomas como irritabilidade, mudanças de humor, tristeza, insegurança, baixa autoestima, sensação de incapacidade de cuidar do bebê, entre outros. A mulher perde o papel de filha sem ter clareza do seu papel de mãe; não reconhece o próprio corpo, pois não é mais gestante, porém não possui mais o corpo que tinha antes da gestação; agora há entre ela e o marido um terceiro elemento que traz uma nova configuração familiar. O bebê precisa encontrar um espaço dentro dessa nova configuração de forma que não interfira na sexualidade do casal. Forma-se um triângulo que remete os pais as suas próprias questões com as figuras materna e paterna. Este movimento é esperado e envolve uma quantidade considerável de sofrimento, que pode apresentar-se de forma benéfica conforme essas questões vão sendo elaboradas e compartilhadas com outras pessoas que compreendam essa condição como natural, proporcionando acolhimento e cuidado (Brasil, 2006; Iaconelli, 2005). Em determinadas fases da gestação é esperado que a mulher tenha a sensação de completude, o que ocorre de forma oposta com a mãe de um recém-nascido, que vive um momento de incompletude com o vazio da barriga e a separação, necessitando de tempo para que possa preencher esse espaço. A perda do status de gestante é muito rápida e dolorosa. O.

(22) 20. nascimento pode ser percebido como uma amputação, considerando que o filho muitas vezes é sentido pela mulher como parte do corpo materno. É após o parto que a mulher percebe o filho como outra pessoa e há a necessidade de elaborar a perda do bebê da fantasia para entrar em contato com o real. Assim, o parto proporciona à mulher a quebra da imagem do bebê idealizado e o filho passa a ser independente da mãe, recebendo toda a atenção que anteriormente era dedicada à gestante. A desconstrução da imagem idealizada, muitas vezes gera desapontamento, desânimo e a impressão de ser incapaz de enfrentar a nova realidade. Desse modo, o parto provoca intensas mudanças intra e interpessoais, podendo o nascimento do bebê ser considerado um período no qual a mulher encontra-se emocionalmente vulnerável, pois é o momento que a mãe atribuirá um significado novo à experiência da maternidade (Borsa & Dias, 2004; Iaconelli, 2005; Maldonado, 2002). Os primeiros dias após o nascimento são marcados por inúmeros sentimentos ambivalentes: é um período no qual a mulher está passando pela recuperação do parto e pode apresentar cansaço, fadiga e desconforto, porém, há também a excitação e ansiedade pela chegada do filho. As primeiras semanas são definidas por uma relação não-verbal e, por isso, pouco estruturada e intensamente emocional, pois a mãe conhece muito pouco sobre o filho: ainda não possuem um padrão de comunicação e não há distinção das necessidades do bebê. Assim, há margem para que as interpretações maternas sejam projetivas e que os sentimentos mais hostis sejam reprimidos por formações reativas estimuladas pelos familiares. Com isso, pode-se dizer que é um momento complexo, com emoções intensas e variadas, no qual a labilidade emocional encontra-se presente, pois a euforia e a depressão alternam-se rapidamente e com grande intensidade (Borsa & Dias, 2004; Klaus, Kennel, & Klaus 2000; Maldonado, 2002; Soifer, 1992). Frente a isso, é necessário apoio e compreensão para que a mãe recém-nascida saiba que não há nada de errado com ela. O suporte emocional é essencial, pois contribui para a saúde física e emocional da mulher, proporciona acolhimento, faz com que ela se sinta aceita em sua natureza materna, diminui o mal-estar de forma a encurtar o período de baby blues e influencia de forma direta na relação do casal e na construção do vínculo dos pais com o bebê. Assim, ainda que hajam diferenças entre homens e mulheres na construção da parentalidade e que, em alguns casos, haja dificuldade de adaptação às novas funções, podemos afirmar que, em geral, ambos podem apresentar capacidade de adaptação e ajustamento, de forma que o nascimento seja marcado como desafios e exigências que os casais conseguem superar, e que a chegada do filho possa se constituir como um momento importante e positivo na vida do casal (Iaconelli, 2005; Moura-Ramos & Canavarro, 2012)..

(23) 21. 2.2 Maternidade e função materna: aspectos sociais e psicodinâmicos A construção dos conceitos de família e da função materna possui uma trajetória social a ser levada em conta. Conforme afirmam Borsa & Feil (2008), a definição dos papéis de homens e mulheres se confunde no decorrer da história, bem como a trajetória da família e da sociedade brasileira. Por isso, muitos autores apontam o contexto histórico e cultural como fatores determinantes ao modelo que predomina nos dias de hoje. A mulher pode ser biologicamente pré-determinada a gestar. Nos tempos primitivos sua função era cuidar da prole, domesticar, cultivar a terra e cuidar dos filhos, enquanto os homens assumiam funções de caça e atividades que exigiam força e velocidade. Foi somente no século XIX, com a entrada da medicina higienista e o patriarcado, que houve uma mudança significativa no contexto social e cultural no que se refere a definição da função materna (Prehn, 1999; Costa, 1979; Almeida, 1999). A medicina higienista proporcionou um novo olhar à saúde, ampliando seu domínio para além do corpo, passando a considerar também os contextos sociais como relevantes, o que possibilitou novos enfoques como a alimentação, condições ambientais e o comportamento humano como soluções de problema para reduzir a taxa de mortalidade infantil. Dentro desse novo contexto, houve uma formulação de regras mais rígidas impostas a família, que impôs principalmente à mulher e mãe definir seu comportamento em favor da saúde da criança. Dessa maneira, a relação mãe-filho começou a ser uma das maiores preocupações dentro do olhar da medicina higienista, a mãe colocada com o papel de mediadora entre os filhos e o estado. Essa ação propiciou uma reconstrução da biologia feminina, com o resgate da maternidade e da amamentação enquanto instintos e fatores vitais para a sobrevivência dos filhos (Costa, 1979; Almeida, 1999). Historicamente o papel da maternidade foi construído como o ideal máximo da mulher, caminho de plenitude e realização da feminilidade. Durante o século XIX, devido ao movimento social da época, a mulher começou a aceitar o papel de boa mãe, dedicada em tempo integral e responsável pelo lar representado pela família. Nesse período, em conjunto com o modelo higienista, o patriarcado também contribuiu com o processo de subordinação feminina, pois aos poucos as mulheres passaram a assumir um status de bens. Com isso, não só a família, mas a estrutura social, nascia do poder do pai e com a necessidade masculina em dominar as mulheres, cujo desejo estaria em transcender sua privação dos meios de reprodução da espécie com o controle da sexualidade feminina (Petersen, 1999, p.15; Badinter, 1986, p.20; Braga & Amazonas, 2005)..

(24) 22. Considerando a instabilidade do conceito de família que se dá devido às alterações culturais e é definido principalmente pelo ocidente, o conceito nuclear ainda é o que predomina sobre o grupo familiar, por ser uma construção histórica. Dentro desse modelo nuclear, a mulher possui um lugar fundamental por meio da maternidade, torna-se um elemento agregador sem o qual a unidade familiar não sobrevive e é vista como sua identidade principal impulsionada por interesses políticos e sociais. Dentro desse contexto, o homem encontra dificuldade em separar sua individualidade das funções paternas, favorecendo que haja um silêncio comprometedor de toda possibilidade de diálogo com os filhos e a família (Duarte, 1995; Favaro 2007; Gomes & Resende, 2004). Por consequência, até meados do século XX a maternidade se configurou como a única função valorizada e reconhecida socialmente, de modo que ser mãe era pertencer a uma classe especial e de prestígio dentro da sociedade em questão (Borsa & Feil, 2008). Em contrapartida, no que diz respeito aos aspectos emocionais, Badinter (1985) aponta que a sacralização da figura de mãe se dá de forma a reprimir o poder e a autonomia da mulher, promovendo um sentimento de culpa caso não cumpra seu dever materno, dito até então, como natural e espontâneo. Ela afirma que uma mulher pode ser feliz sem ser mãe e que não existe por parte dela uma pulsão irresistível em se ocupar do filho. O amor materno é resultado de uma construção social e cultural e não instinto, fator sanguíneo ou determinismo da natureza como era afirmado, até então. A autora ainda aponta que o mecanismo de criação do “mito do amor materno” como algo natural e instintivo poderia ser classificado como mais uma tecnologia de gênero, de forma que a maternidade não seria um fenômeno inerente à condição feminina ou uma etapa onipresente em seu ciclo vital. À vista disso, apontaremos a seguir a definição do exercício da maternidade em uma abordagem psicanalítica, levando em consideração todos os aspectos sociais e culturais que permeiam a temática em questão. Tanto na teoria de Klein, quanto de Freud, há a relação da maternidade ao Complexo de Édipo. Para Klein (1928/1981), a maternidade será baseada nas fantasias da menina durante a fase feminina do complexo de Édipo; já para Freud (1924/1976), o lugar que o filho ocupará será resultado da resolução do Complexo de Édipo. Para ele a feminilidade normal surgiria do abandono da posição fálica e aceitação da castração materna, o que possibilita então o acesso ao pai e o desejo de ter o pênis do pai. Por conseguinte, o desejo de ter um filho será um desvio do desejo de ter um pênis, e, dessa forma, o bebê passará a ser o falo. A maternidade poderá ser então a resolução do complexo edípico. De acordo com Lebovici (1987), o desejo de ser mãe não se inicia quando a mulher decide engravidar, mas está presente desde a infância. Há três bebês na mente materna: em.

(25) 23. primeiro lugar, o bebê edípico, que surgirá da história da mãe com o seu Édipo e que guarda com ele todos os desejos infantis desta mãe, o bebê da fantasia, o bebê que ela queria ter com o pai e reprimiu; em segundo, o bebê imaginário, que será o bebê construído durante a gestação pelas expectativas e sonhos da mãe; e o terceiro bebê, que é o propriamente dito, o que ela segurara nos braços após o parto. O desejo de ter um filho pode ir além da demanda fálica da completude e ter um significado consciente, que é o de ser mãe e perpetuar a espécie; e o inconsciente, que é a elaboração da feminilidade. Uma mulher não pode ter um filho sem o ter querido conscientemente, pois o querer inconsciente da fecundidade estava nela sem que ela percebesse (Bydlowiski, 2002; Dolto, 1984). Nem sempre o desejo de ter um filho está clarificado para a mulher e para o parceiro, levando-os a questionamentos sobre se seria mesmo a hora de ter um filho ou, como irão lidar com a responsabilidade de ser mãe/pai. Há situações em que o desejo das mulheres de engravidar é tão intenso quanto o não desejo, deixando assim que aconteça sem que elas se dêem conta. Devido à mescla de sentimentos, a confirmação da gravidez aparece como um momento de ambivalência (Maldonado, Nahoum, & Dickstein 1981). Toda e qualquer gestação se inicia em uma ambivalência básica. Essa ambivalência não se refere a uma rejeição inerente ao filho, mas sim, para ela, trata-se de uma postura defensiva diante dos temores e fantasias de rejeição. Mesmo que a vinda de um bebê seja aceita e planejada, as ansiedades, apesar de minimizadas, aparecerão e estarão ligadas pelas fantasias de rejeição da gravidez (Soifer, 1976). Partindo do pressuposto de que gestar um filho é algo sério, que demanda responsabilidade e outra série de questões, os sentimentos ao descobrir que se está esperando um bebê pode variar de intensidade: ora aceitação, ora não aceitação, ora alegria, ora medo. Isso acontece porque gestar um filho é tão profundo e intenso, que o sentimento não aparece como sendo único, mas sim, com uma diversidade e intensidade de sentimentos. Ainda que esse filho seja desejado, a dúvida é presente (Maldonado, Nahoum, & Dickstein, 1981). A gravidez é considerada uma fase de grandes transformações no corpo e na vida emocional da grávida, além disso, é um processo natural envolvendo aspectos biológicos, psicológicos e sociais, em que o grau de adaptação a essas mudanças vai influenciar no seu nível de ansiedade. A mulher, ao sentir os primeiros sintomas da gravidez, já está em processo de mobilização da organização psíquica (Davim & Menezes, 2001; Fiori, 1981). A fase gestacional possui um mecanismo de defesa caracterizado pelo processo de regressão; processo este definido como uma recapitulação que o ego faz para visualizar.

(26) 24. situações semelhantes no seu passado, que poderiam queimar etapas para se chegar mais rapidamente ao que se está propondo nessa nova fase do desenvolvimento (Noronha 1997). Além disso, pode ser caracterizada como um dos três períodos críticos do ciclo vital da mulher e uma fase de tensão biológica, designada por mudanças metabólicas complexas que alteram temporariamente seu estado físico e psíquico, envolvendo a necessidade de reajustamento em algumas perspectivas (Maldonado 1981). A complexidade desse estado estende-se para além das variáveis psicológicas e bioquímicas. O aspecto socioeconômico também pode ser incluído como fundamental nesse momento, levando em consideração a rotina de trabalho e o orçamento familiar. Em seu discurso, Maldonado (1981) posiciona a família como um sistema peculiar no qual a gravidez é uma bagagem que pertence a todos; além disso, ressalta que não só a gravidez é tida como uma situação de mudança e readaptação, mas também o puerpério, que é um momento importante para o estabelecimento da relação materno-filial, mudança corporal e de rotina. Quanto ao processo de parto, a autora afirma que é visto como uma situação de passagem de um ponto a outro, cuja principal característica é a irreversibilidade, podendo gerar ansiedade e insegurança pelo fato de ele não poder ser controlado e/ou previsto. A gestação e o puerpério tornam-se momentos em que familiares e amigos irão disponibilizar uma maior condição em ajudar a mulher, porém, nem toda ajuda irá ser de valia, uma vez que a mulher se encontra em um momento introspectivo. A rede de apoio faz parte de um suporte para a mulher e o bebê nos primeiros momentos após o nascimento, podendo haver conflitos durante esse período, pelo fato da mulher estar passando por um processo de introspecção e introversão pós-parto (Felice, 2000). Os medos dos adultos podem ser de dois tipos: medo da dependência e medo da maternidade. O medo da dependência está relacionado ao receio de viver como submisso ao outro. Já o medo da maternidade está relacionado às experiências infantis vividas pela mãe. Toda mulher irá trazer com ela a avó, a mãe e a filha e, assim, a nova mãe irá trazer com ela as ansiedades que não só dizem respeito à forma como foi cuidada, mas também como ela se identifica com a mãe (Winnicott, 1982). Quanto maior a confiança em sua capacidade de ser mãe e seu amor próprio, maior a probabilidade de ultrapassar as dificuldades próprias do parto e pós-parto. Sentir-se segura, confiante e capaz para exercer seu papel de mãe, pode trazer benefícios no desenvolvimento pessoal e na relação com seu bebê. A figura materna é proposta como a presença de uma mulher estável, capaz de dar amor e que possa compreender, no nível qualitativo, as solicitações básicas feitas pelo bebê. Portanto, a figura materna não necessariamente é a mulher que gestou ou pariu.

(27) 25. a criança, além disso, ela tem de criar laços estáveis de amor e confiança na relação entre ela e o bebê. Dessa maneira, o leite em si não reafirma o papel de mãe e sim essa figura materna presente e solícita (Felice, 2006; Maçola et al. 2010; Rappaport, 1981). Durante a gestação e algumas semanas após o parto a mulher vivencia uma preocupação denominada de “Preocupação Materna Primária”. Nessa condição a mulher está com a sensibilidade mais aflorada para se adaptar às necessidades do bebê, deixando de lado temporariamente outros interesses. Como já foi dito, após o nascimento do filho a mulher passa por uma situação de isolamento e introversão. Esse processo está ligado à regressão do período gestacional e ao estado de “Preocupação Materna Primária”. Assim, faz parte desse estado uma certa dose de humor depressivo, pois é um momento introspectivo para a mulher, tendo como característica nesse período pós-parto uma dificuldade em lidar com os assuntos externos, denominada “retração narcísica”. Contudo, esse período é necessário e, caso fosse vivido fora da maternidade, seria considerado esquizoide; no entanto, é fundamental para a vinculação com a criança (Winnicott, 1999; Felice, 2000; Iaconelli, 2005). 2.3 Autoestima e autoimagem Ao interagir com os outros, o sujeito atribui valores diferentes a tudo que o cerca, às pessoas que fazem parte de sua vida e a si mesmo. Ser bem visto pelas pessoas faz com que o indivíduo tenha um bom valor próprio. Então, a ideia que um sujeito tem de si mesmo é determinada pelo que ele pensa que outros veem dele e do sentimento que ele tem sobre ele mesmo. A autoestima inclui dois aspectos básicos: o sentimento de autoeficácia e o sentimento de se ter valor. Ela seria a convicção de que se é competente e de que se tem valor para os outros. A autoapreciação abarca as emoções, os afetos, os valores e a conduta. Tem a ver tanto com ideias como com sentimentos, os quais vão se configurando na pessoa por meio da interação com outras do ambiente circundante (Branden, 1993). A autoestima é uma dimensão avaliativa de autoconceito. É o conhecimento que a pessoa tem sobre ela mesma e o que ela expressa sobre si mesma com a ajuda de autodescrições (Palacius & Hidalgo 1995). Delineada na infância, a autoestima faz parte de um conceito para si mesmo e para com os outros. Contudo, a relação da mãe com seu filho exerce efeito nas experiências emocionais vividas pela mãe na própria infância, ou seja, a relação de autoestima faz parte da formação de vínculo com seu filho. A tomada de ação de um sujeito condiz com seu estado emocional, este por sua vez está relacionado com a autoestima e autoconfiança (Maçola, Nogueira, & Carmona, 2010). Quando o indivíduo possui uma boa autoestima, torna-se criativo, aprende novas.

(28) 26. habilidades, torna-se mais produtivo. É formado por sentimentos de competência e de valor pessoal, somado ao sentimento de auto respeito e autoconfiança. O significado mais fundamental de autoestima é confiar na própria mente, nos próprios processos mentais, portanto, confiar na capacidade que você tem de aprender, julgar e decidir. A pessoa que, no mais fundo de si, não confia em sua própria mente, está em nítida e grave desvantagem em termos de enfrentar as escolhas e as opções que a vida lhe apresenta (Branden, 1993, p. 92). Quanto à autoimagem, este é um importante componente do mecanismo de identidade pessoal. Os autores a definem como a representação e a figuração que nossa mente forma em relação ao nosso corpo, bem como os sentimentos que estão relacionados à essas características (Gardner, 1996; Schilder, 1981). Barros (2006) propõe que existem sete afirmações que contemplam o conceito de imagem corporal, sendo elas: . A imagem corporal refere-se às percepções, aos pensamentos e aos sentimentos. sobre o corpo e suas experiências; . É uma experiência subjetiva;. . Imagens corporais são multifacetadas;. . As experiências da imagem corporal são permeadas por sentimentos sobre nós. mesmos; . Imagens corporais são determinadas socialmente;. . Imagens corporais são dinâmicas;. . Influenciam o processamento de informações, influenciando a percepção de. mundo; . Influenciam o comportamento, particularmente as relações interpessoais.. Desta forma, entende-se que a imagem corporal é um conceito amplo, pois abrange processos fisiológicos, psicológicos e sociais. É uma experiência que se modifica a todo instante conforme o indivíduo se relaciona com o mundo e simboliza todo o ser humano, mesmo sendo sempre incompleta (Barros, 2006). Quanto aos fatores sociais, pesquisas afirmam que o ambiente sociocultural é uma das condições determinantes para o desenvolvimento da satisfação ou de distúrbios da imagem corporal. Há o ideal de beleza prescrito pela sociedade atual e o padrão que corresponde à maioria da população. Tal ideal possui uma influência negativa, tendo em vista que promove conflito entre as expectativas e as experiências vividas por cada indivíduo. Vale ressaltar que a imagem corporal desempenha um papel importante na consciência de si, já que contempla tanto a imagem mental quanto a percepção do indivíduo. Assim, se a percepção do corpo é positiva,.

(29) 27. a autoimagem também será, promovendo satisfação com a imagem corporal e uma melhor autoestima (Gardner, 1981; Heinberg, 1996; Schilder, 1981) Será a partir da percepção do meio social e dos demais indivíduos que a pessoa irá obter informações sobre o mundo ao seu redor e relacioná-las com afetos positivos ou negativos (Bock et al., 2001). Estes afetos, sejam eles positivos ou negativos, irão determinar as nossas ações. Portanto, agiremos em função do que foi aprendido por nós e não em função de algo a priori, inato, no ser humano. A subjetividade será construída socialmente e se mostrará no plano individual. Para que haja essa construção, o sujeito participará como indivíduo singular, no entanto, receberá da sociedade valores, crenças e será inserido também numa determinada classe. Por esse motivo, esse sujeito será um ator na transformação social, o que mostra que a subjetividade é determinada pela vida social e pelo desenvolvimento desse sujeito (Furtado, 2001). 2.4 Relação conjugal no ciclo gravídico puerperal Durante a gravidez, a mulher vivencia experiências reprimidas ou até então, desconhecidas. Este período é entendido por Cruz (1990) como sendo um processo de desenvolvimento normal da mulher, que requer reestruturação interna, uma vez que a gravidez pode ser vista como uma experiência regressiva e também de reajustamento social, o qual a mulher precisará desempenhar um novo papel social – de mãe – e, com a chegada do bebê, haverá uma nova identidade familiar, o que, consequentemente, trará modificações emocionais e comportamentais ao casal. Além disso, a gestação provoca “fantasias, expectativas, sonhos, angústias, ansiedade e o conflito de sentimentos ambivalentes” (Arrais, 2014, p. 254). A volta para casa após o nascimento de um filho e todas as novas situações com as quais o casal vai deparar marcam uma situação transformadora, no que diz respeito à vida a dois. Essas questões são mais intensificadas em casos em que o casal está esperando seu primeiro filho (Carter & Goldrick, 1995). O primeiro filho marca uma transição importante na vida dos pais. Junto com o sentimento de emoção, admiração e espanto, a maioria dos novos pais experimenta alguma ansiedade em relação à responsabilidade de cuidar de uma criança, ao compromisso de tempo e energia que ela acarreta e ao sentimento de permanência que a paternidade e a maternidade impõem a um casamento. A gravidez e a recuperação do parto podem afetar o relacionamento de um casal, às vezes aumentando a intimidade e às vezes criando barreiras. Além disso, muitos casais veem seus relacionamentos tornarem-se mais “tradicionais” após o nascimento de um filho. Estudos sugerem que se o casal era feliz ou não.

(30) 28. antes da gravidez e se a gravidez foi ou não planejada, também parece afetar o pico de satisfação após o parto (Papalia; Olds & Feldman, 2012). A gravidez constitui-se como um evento normal no processo de desenvolvimento humano e engloba a necessidade e reestruturação e reajustamento em ao menos duas dimensões: as mudanças na identidade e na definição de papeis. O mesmo processo acontece com o homem: a paternidade também demarca uma transição no desenvolvimento emocional masculino. Em geral, quando a relação afetiva com o marido é satisfatória, o apoio que este fornecerá à esposa durante a gravidez e o puerpério será também satisfatório. No entanto, nestes períodos podem surgir conflitos no relacionamento conjugal, dando ensejo a situações de muita ansiedade para a mulher. O vínculo satisfatório e afetivo com o marido atua como um importante fator facilitador de experiências positivas neste período. Além da família, a equipe médica que assiste a mulher torna-se também importante, por fornecer a ela parte do suporte que ela necessita (Maldonado, 1991). O nascimento de um filho é um evento que modifica a vida do casal, especialmente a da mãe. A este respeito, Rapoport e Piccinini (2006) referem que o comportamento da mulher frente a essas mudanças é influenciado por fatores individuais e ambientais, destacando-se, como um dos fatores mais importantes que influencia o seu bem-estar, o apoio que ela recebe daqueles que a rodeiam, especialmente do pai do bebê. No que diz respeito à estrutura e relacionamento familiar, pode-se afirmar que estes sofrem modificações após o nascimento de um filho. Estas mudanças são muito significativas quando se trata do primeiro filho, pois de uma relação exclusivamente dualista, origina-se uma tríade amorosa, podendo o casal reviver antigos conflitos e fantasias edípicas com a chegada do bebê, e o temor na puérpera de que essa chegada provoque conflitos e desequilíbrios na relação conjugal. Por esse motivo, tem grande importância para a puérpera a existência de uma relação afetiva sólida e harmoniosa com o marido, ou companheiro, o que lhe representa em um nível mais profundo, a identificação com os pais “internalizados unidos e não destruídos”. Além disso, o apoio e a sustentação emocional fornecidos pelo companheiro e pelo ambiente em geral, são necessários para que a puérpera possa envolver-se profundamente na relação dual com seu bebê e para fornecer-lhe uma sustentação adequada (Klein & Riviére, 1975). A disponibilidade de apoio social estimula a maternagem responsiva, segundo Oliveira e Dessen (2008), especialmente sob condições estressantes. Ainda são pouco expressivos os estudos em torno da influência do apoio social às gestantes no Brasil. Ainda assim, Rapoport e Piccinini (2006) evidenciaram em seus trabalhos quanto a rede de apoio social se faz necessária na gestação, no período do pós-parto, puerpério e no retorno da mulher às atividades.

Referências

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