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(21) 21. INTRODUÇÃO. Apresentação do Tema O poder é um fenômeno social e psicológico que tem recebido considerável atenção nas últimas décadas em várias áreas de pesquisa e práxis. 1 As causas motivadoras históricas para a busca da compreensão deste fenômeno certamente se encontram nas duas guerras mundiais do século passado, nas tentativas de democratização dos governos em muitos países, nos confrontos experimentados através de ditaduras ainda no final do século XX, no estilo administrativo de mega -empresas de filosofia neoliberal e as conseqüentes carreiras profissionais de seus agentes, e outras mais. A guerra fria recém encerrada é substituída por outro conflito continental entre oriente e ocidente – representado especialmente pelos EUA e os países islâmicos que produzem petróleo – a guerra do Iraque. Guerrilhas de rua e de florestas foram substituídas por elaborados ataques terroristas (por exemplo: os ataques às Torres Gêmeas do World Trade Center por aviões comerciais civis em 11 de setembro de 2001). Ainda que implique em muitos outros fatores, os homens-bomba são expressão de poder, governamental e/ou religioso, cultural, econômico, político, etc. É difícil traçar as fronteiras entre um e outro sistema de poder. A natureza do poder está entranhada em todos os sistemas, inclusive os eclesiásticos. Os poucos fatos citados acima, indic am a amplitude e a complexidade do tema, além da necessidade de continuar debatendo e pesquisando o assunto. Esta pesquisa se aproxima do espaço da igreja cristã e de governo congregacional. 2 Com a expressão democrática da liberdade de imprensa, o século XX tem produzido críticas ao poder, inclusive das religiões de modo geral. Isso é possível porque as críticas não são mais individualizadas, mas sim, institucionalizadas (sistêmicas). As críticas vêm de 1. LEE-CHAI, Annette Y. & BARGH, John A. The use and abuse of power – multiple perspectives on the causes of corruption. Philadelphia, PA: Psychology Press, 2001, preface, p. xiii – xiv. 2 A diferenciação conceitual dos governos eclesiásticos pode ser encontrada no capítulo 3 desta tes e..

(22) 22 determinados jornais, revistas ou redes de televisão. Esta é uma das grandes mudanças sociais, não se questiona mais tanto “quem”, mas “o que” é criticado, não o sujeito, mas a instituição e sua ideologia e práxis. Nas últimas décadas o poder dos movimentos pentecostais, especialmente neopentecostais têm recebido observações quanto ao seu modo de conduzir suas instituições e como manejam as relações de poder. 3 As cisões nas igrejas evangélicas, a enxurrada de novas “igrejas” e “comunidades”, os movimentos de renovação na igreja católica, demonstram que algo diferente está acontecendo. Quem influencia/determina o que? Quem influencia/determina quem? Como se apresenta o fenômeno do poder neste emaranhado social religioso? É possível analisar e descrever este caldeirão social em constante movimento, incluindo a religião? Há de fato poder nas pequenas instâncias dos conselhos de igrejas que regem uma comunidade religiosa? Caso sim, que alcance têm? Também as igrejas menonitas no Brasil, originárias de áreas rurais ocidentais da Rússia, de tradições fechadas e extremamente restritas ao meio, temerosas e hostis ao “mundo”, depois de 78 anos de imigração passam por importantes transformações. 4 Em contato com o meio em ebulição religiosa, transformações se impõe, desencadeando sensações de insegurança e inquietude por parte dos líderes, de êxtase espiritual por parte de alguns fiéis ávidos de experiências espirituais aprofundadas, o que favorece conflito s, disputados através de recursos do poder típicos a qualquer comunidade tradicional e religiosa. Nos últimos 15 anos, as igrejas menonitas no Brasil vivenciaram importantes transformações: por não adesão às atividades eclesiástico-sociais dos próprios descendentes étnicos; por cisões; por evasões tanto a um estilo de vida não religioso quanto a movimentos renovados e inter-denominacionais; por igrejas missionárias (prosélitos não étnicos) que incorporaram a cultura autóctone sem perpetuar a cultura étnica ainda que sob o mesmo governo institucional; por inserção no entorno urbano; pela necessidade de formação acadêmica e profissional contextual com vistas à sobrevivência. Além desses movimentos sociais, os menonitas estão submetidos aos mesmos fenômenos sociais, 3. CAMPOS, Leonildo Silveira. Teatro, templo e Mercado – organização e marketing de um empreendimento neopentecostal. 2ª. edição. Petrópolis: Vozes; São Paulo: Simpósio Editora; São Bernardo do Campo: UMESP, 1997. A obra toda pode ser considerada, porém, refere -se especialmente às páginas 389 a 400. 4 KLASSEN, Peter P. Die russlanddeutschen Mennoniten in Brasilien . Vol. 1 e 2. Palmeira, Paraná: Coop. Mista Agropecuária Witmarsum; Paraguay: Imprenta ASCIM, 1995..

(23) 23 econômicos e políticos que qualquer brasileiro. Essas transformações radicais (comparadas ao estilo de vida nas estepes russas) e profundas implicam em árduos conflitos e doloridas crises familiares e sociais. Assim sendo, o fenômeno do poder e das relações de poder também tiveram e tem sua expressão no povo menonita brasileiro. Antes de tudo como grupo étnico de imigrantes e seus descendentes, e depois também ao nível de grupos eclesiásticos (entre os grupos das Igrejas Irmãos Menonitas e das Igrejas Menonitas; também internamente às mesmas igrejas). 5 Relações de poder não são exclusividade de macro-sistemas como governos de países e mega-empreendimentos do capital. Tal fenômeno se dá em qualquer situação relacional de no mínimo dois sujeitos, portanto, em micro-sistemas. Onde um ser vivo realiza comunicações para influenciar outro ser, ali se dão relações de poder. Igrejas e seus elementos são sistemas comunicacionais. 6 Comunicam-se valores, significados, símbolos, tradições, usos e costumes, modos de relacionamento inter-pessoais, crenças, direitos e deveres. A lista é tão extensa quanto de qualquer outro sistema social. Portanto, ao nível micro-social ocorrem relações de poder tanto quanto em níveis macrosociais. Esta tese se ocupa com as relações de poder no micro-espaço de igrejas, especificamente de seis igrejas menonitas em Curitiba, PR. Para ser mais exato, o campo de pesquisa se restringe aos subsistemas destas igrejas, isto é, seus conselhos pastorais (CIP) e conselhos administrativos (CIA).. a. CEP – Comitê de Ética em Pesquisa e TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Por a pesquisa de campo se aproximar de seres humanos, grupos sociais e seus significados tradicionais, sociais e religiosos, valores de cunho moral e último, esta pesquisa foi submetida em sua fase de projeto ao CEP – Comitê de Ética em Pesquisa da. 5. Os relatos e análises históricas de tais relações de poder não foram suficientemente elaboradas, pois, há integrantes dessas relações que ainda vivem. O trabalho mais amplo disponível, em alemão, é de Peter P. Klassen, citado em nota de rodapé acima. 6 Dizer que igrejas e seus elementos são sistemas comunicacionais é um e apenas um pressuposto teórico. O mesmo tem sua origem na Teoria dos Sistemas Sociais (TSS) de Niklas Luhmann, amplamente apresentado e utilizado como referencial teórico nesta tese..

(24) 24 UMESP – Universidade Metodista de São Paulo através do TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido segundo a legislação brasileira em sua Resolução CNS 196/96, IV. A pesquisa recebeu a autorização na forma apresentada no segundo semestre de 2007. O referido CEP, bem como as instruções do TCLE, recomendam que o material concreto (neste caso, gravações audiofônicas e de imagens de vídeo) seja guardado no mínimo por cinco anos em local seguro e sigiloso pelo pesquisador. Procede-se segundo as recomendações. O TCLE segue alguns passos que orientam pesquisas de campo que envolvem pessoas. Ao mesmo tempo esses passos descrevem a técnica no campo de pesquisa. Lembrando Lakatos e Marconi, a metodologia abrange o maior número de itens de uma pesquisa, constituindo pois, a epistemologia e o fundamento teórico; o método de abordagem à inspiração filosófica e ao grau de abstração de uma pesquisa; o método de procedimento (aqui denominado método e técnica) constitui etapas concretas de uma pesquisa de campo, portanto, é menos abstrato; as técnicas se referem ao conjunto de preceitos e processos de que se serve uma ciência, incluso a habilidade para a obtenção dos dados. Nesta pesquisa se utiliza da observação direta intensiva, chamada observação participante. 7 Procedeu-se os seguintes passos em função do TCLE: i. A liberação para a pesquisa de campo necessita do parecer do Comitê de Ética em Pesquisa da UMESP. Para tanto, o projeto de pesquisa é apresentado ao mesmo. ii. O parecer favorável do CEP autoriza a apresentação do TCLE aos respectivos responsáveis pelas igrejas e a deliberação da possibilidade da pesquisa com os respectivos conselhos de igrejas. iii. O projeto de pesquisa aprovado pelo CEP é cadastrado no SISNEP – Sistema Nacional de Ética em Pesquisa (que regulamente projetos que envolvem seres humanos). iv. Obtidos os respectivos documentos, que comprovam a anuência das pessoas a serem submetidas à pesquisa e o parecer favorável do CEP, o TCLE é anexado ao Projeto de pesquisa do Exame de Qualificação.. 7. LAKATOS, Eva Maria & MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Atlas, 1986, p. 105 – 107..

(25) 25 O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido é um procedimento que obedece à legislação brasileira. A forma e o conteúdo do mesmo foram construídos e redigidos sob orientação do Prof. Dr. James Reaves Farris e a seguir submetidos ao parecer do CEP – Comitê Ética de Pesquisa da UMESP. Os vários documentos do TCLE estão no “Anexo TCLE” deste relatório de pesquisa. Os seguintes formulários foram produzidos: folha de rosto do projeto de pesquisa; TCLE apresentado aos presidentes dos conselhos pastorais e administrativos das igrejas, bem como aos conselheiros; cronograma da pesquisa de campo; autorização do local/ instituição da pesquisa; declaração de identidade de conteúdo; declaração de responsabilidade do pesquisador; TCLE Individual.. b. A Pesquisa de Campo Desta maneira, dá-se o início ao processo que pretende ser científico através de várias questões: é possível estudar relações de poder em sistemas sociais tão complexos quanto às igrejas? Ainda que a metodologia de pesquisa e os métodos sejam apresentados adiante, convém pontuar o seguinte: não parece útil a este pesquisador, analisar o poder a partir da perspectiva simplista das ações dos mais fortes.8 Nem seria novidade analisar o fenômeno a partir das teorias da estratificação social, como Karl Marx9 e outros o fizeram. Ainda que uma aproximação sócio-cultural pudesse mostrar-se interessante, por a pesquisa se dirigir a um movimento etnológico típico em suas origens, diferenciado do contexto brasileiro, não parece vantajoso a este pesquisador despender tempo e esforço em torno de conceitos de classes sociais, de diferenças de grupos, de estratificação do social. As igrejas menonitas no Brasil se constituem basicamente de duas agremiações: as Igrejas Menonitas (sob registro civil a Associação das Igrejas Menonitas no Brasil – AIMB10 e a Associação Evangélica Menonita – AEM 11 ) e as Igrejas Irmãos Menonitas (sob 8. SCHRÖDER, Thomas. Theorie der Macht bei Niklas Luhmann. München; Ravensburg: GRIN Verlag, 2001, p. 6. 9 Karl Marx, “O rendimento e suas fontes”, Os Pensadores, 2ª. ed., São Paulo: Abril Cultural, 1978, p. 303ss, subtítulo: “Diferença essencial entre a economia clássica e a economia vulgar”. Evidentemente existem outras obras que enfatizam a estratificação social no processo econômico. 10 AIMB: 881 membros; 6 congregações; fonte: http://www.bing.com/search?q=%27Associa%C3%A7%C3%A3o+Evang%C3%A9lica+Menonita%27&go= &form=QBRE&filt=all; data: 06.09.2009. Infelizmente este documento na internet não apresenta a fonte instituição, o nome do pesquisador ou a fonte criadora, nem o ano do levantamento de dados. Pelos dados se deduz que são dados recentes, isto é, dados do novo milênio..

(26) 26 o registro civil da Convenção Brasileira das Igrejas Irmãos Menonitas – COBIM12 ). Existem mais dois grupos de menonitas no Brasil, mas estes não mantém contatos de governo com as igrejas desta pesquisa: Igreja de Deus em Cristo – Menonita 13 e Igrejas Menonitas Independentes e Não Filiadas. 14 Outra diferenciação das igrejas menonitas no Brasil é geográfica, de localização metropolitana e de localização rural. Esta pesquisa se aproxima de igrejas metropolitanas. Em Curitiba as igrejas menonitas iniciaram sua existência a partir de 1932 no bairro do Boqueirão, estendendo suas atividades e moradias aos bairros Xaxim e Vila Guaíra. A maioria dos menonitas ainda vive nesses bairros. Porém, já existem muitos menonitas que moram em qualquer local de Curitiba. Iniciativas em outras localidades metropolitanas como Guarituba e outros bairros foram abandonadas. As atividades profissionais que inicialmente eram agro-pastoris, atualmente não se diferenciam da população curitibana em geral. As igrejas podem ser diferenciadas entre étnicas e proselitistas. Aquelas ainda buscam preservar costumes e tradições, enquanto estas pouco se diferenciam de outras igrejas. As igrejas étnicas se esforçam por manter a língua alemã, porém, as pessoas até a faixa etária de 50 anos preferem expressar-se em português. As igrejas de Curitiba desenvolvem atividades educacionais ensino fundamental e médio através da Escola Erasto Gaertner e ensino teológico através da Faculdade Fidélis (credenciada pelo MEC). A escola de ensino fundamental e médio é freqüentada tanto por menonitas quanto por qualquer pessoa curitibana da vizinhança. Muitos menonitas buscam outras escolas para os seus filhos por razões diversas, como a Escola Suíça, o Colégio Bom Jesus e cursos preparatórios do vestibular.. c. Relações de Poder É preciso então, definir a perspectiva na qual se aborda o objeto. O poder envolve aspectos sociais e psicológicos. Esta pesquisa propõe-se a abordar o fenômeno das relações 11. AEM: 2.500 membros; 40 congregações ; op. cit., data: 06.09.2009. COBIM: 5.000 membros; 40 congregações; op. cit., data: 06.09.2009. 13 Igreja de Deus em Cristo – Menonita: 375 membros; 6 congregações; fonte: op. cit., data: 06.09.2009, localizados em Rio Verde, Goiás. 14 Igreja Menonita Independente e Não Filiadas: 1.100 membros; 6 congregações; fonte: op. cit., data: 06.09.2009. Estas igrejas são produtos de cisões e reavivamentos, contra-tradicionais, localizados em vários Estados do Brasil. 12.

(27) 27 de poder na perspectiva da teoria sistêmica, especialmente sociológica, interpretando alguns aspectos psicologicamente. Na visão sistêmica o poder não é unilateral, movimento em sentido único. Mesmo o mais fraco tem poder: a sua fraqueza. Assim, pode-se desenvolver uma nova perspectiva a respeito do poder, analisando e descrevendo as relações de poder. Igrejas de governo congregacional propõe que sua regência se dá através da assembléia, quer dizer, em princípio todos podem participar do processo de poder. Como é que funcionam estas relações de poder dentro do sistema chamado governo congregacional, especificamente as Igrejas Menonitas e Igrejas Irmãos Menonitas em Curitiba? Este é o foco desta pesquisa.. d. Governos Eclesiásticos Para compreender melhor, é necessário que se defina em termos sintéticos os vários governos eclesiásticos, especificamente o governo congregacional. A primeira forma conceitual é diferenciar um governo de outros governos. Carlos Ribeiro Caldas define os vários tipos de governos segundo sua administração eclesial como congrega cional, episcopal, presbiteral e modalidades mistas. 15 Já Jaziel Martins identifica com critérios e detalhes segundo governos eclesiásticos: monárquico, episcopal, eclesiástico, presbiterial e congregacional. 16 A definição de cada conceito é realizada no final do capítulo 3. Sobre a administração congregacional Caldas diz: “Todos governam para todos. Pretende ser o modelo democrático por excelência. A autoridade maior reside na própria comunidade local. Cada igreja local é autônoma...”. 17 Martins prefere a perspectiva de Pieper: “Propõe-se a autonomia da igreja local, que cada membro tem voz e voto, tanto que a congregação governa a si mesma”. 18 Por mais que nas definições se enfatize o governo das pessoas, da congregação e da assembléia, de fato tal processo se dá através de representação, isto é, através de conselhos, comitês ou seja lá como estes grupos de liderança são denominados. Como as relações de poder com mais alcance e expressão se encontram nos grupos de liderança, esta pesquisa propõe realizar a investigação a partir dos grupos de liderança oficial de algumas igrejas.. 15. CALDAS Filho, Carlos Ribeiro. Fundamentos da teologia. São Paulo: Mundo Cristão, 2007, p. 74 – 81. MARTINS, Jaziel Guerreiro. Manual do pastor e da Igreja . Curitiba: Editora A.D.Santos, 2002, p. 29ss. 17 CALDAS, op. cit., p. 74. 18 PIEPER, Franz. Christian dogmatics. Saint Louis: Concordia, 1953. Vol. 3, p. 475. 16.

(28) 28. Resumo do Projeto A pesquisa analisa as relações de poder que se desenvolvem em conselhos de igreja, com funções pastorais e funções administrativas. Esta pesquisa é realizada através de observação participante e análise documental, como atas de reuniões, regimentos internso e estatutos das igrejas. O recorte se concentra sobre conselhos que foram oficialmente eleitos pelas assembléias e exercem as funções conforme estatuto e regimento interno, portanto, formalmente. Um segundo recorte delimita a pesquisa a igrejas de governo congregacional, quer dizer, onde se considera a assembléia suprema e soberana. A abordagem ao tema proposto é realizado por meio dos construtos da teoria sistêmica, tanto a partir do seu viés da Teoria Geral dos Sistemas, quanto da Teoria dos Sistemas Sociais. A fundamentação teórica para a pesquisa na perspectiva da Teoria Geral dos Sistemas se dá a partir de Ludwig von Bertalanffy, Lynn Hoffman, Edwin Friedman e outros. Bertalanffy é considerado o fundador da teoria dos sistemas, embora tenha desenvolvido os primeiros insights no mesmo tempo histórico em que Norbert Wiener trabalhou os sistemas cibernéticos. Os princípios sistêmicos descritos pelos dois pesquisadores são muito similares. Lynn Hoffman escreveu uma síntese aplicada à prática da terapia familiar das conclusões sistêmicas para o Ackerman Institute em 1980. 19 Claro, muitas coisas evoluíram desde então. E por fim, ainda sob os princípios da Teoria Geral dos Sistemas, o trabalho de Edwin Friedman norteia em alguns aspectos a aproximação da pesquisa a grupos eclesiásticos como sistemas. Friedman abordou problemas de famílias pastorais e líderes eclesiásticos, os estudou na visão sistêmica, relacionando-os com os movimentos da comunidade eclesiástica, principalmente judaica. A fundamentação social se dá a partir da Teoria dos Sistemas Sociais de Niklas Luhmann, por três motivos: Este é o único autor encontrado que desenvolveu uma teoria do poder com perspectiva sistêmica; segundo, o conselho de igreja e a igreja são sistemas dentro do sistema social da relig ião; terceiro, o quadro referencial teórico é o funcionalismo, que parece adequado aos objetivos desta tese e à área de pesquisa em que. 19. HOFFMAN, Lynn. Fundamentos de la terapia familiar – un marco conceptual para el cambio de sistemas. México: Fondo de Cultura Económica, 1987..

(29) 29 ela está enquadrada. No contexto desta pesquisa, o funcionalismo atribui importância aos atos e movimentos de sistemas sociais, especificamente às relações de poder e seus resultados sistêmicos. Portanto, justifica-se este referencial teórico. Diretamente ou indiretamente, a pesquisa é fenomenológica, uma vez que ela enfoca o subjetivo de sistemas sociais e os dados analisados são frutos da observação de um pesquisador. Há um esforço para estudar os sistemas sociais e suas relações inerentes de poder assim como simplesmente são segundo a perspectiva do observador, que até pode buscar norteio em alguma teoria, neste caso, a teoria dos sistemas sociais.. Revisão Bibliográfica Este autor não encontrou obras, literatura e pesquisas brasileiras que tenham abordado o mesmo objeto de pesquisa em perspectiva sistêmica: igrejas evangélicas e poder. Assim, a revisão de literatura que precedeu esta pesquisa, enfocou especialmente dois temas: teoria sistêmica e poder. Na teoria sistêmica se revisou as obras decorrentes da Teoria Geral dos Sistemas (Ludwig von Bertalanffy; Norbert Wiener; Ilya Prigogine; Lynn Hoffman; Gregory Bateson; Humberto Maturana; Francisco Varela; Fritjof Capra; Jay Haley; Edgar Morin e outros epistemólogos); na teoria sistêmica com cunho social revisouse as pesquisas decorrentes da Teoria dos Sistemas Sociais de Niklas Luhmann ou relacionadas à sociologia (Walter Buckley; C. West Churchman; Detlef Horster; Baraldi, Corsi & Esposito; Kneer/Nassehi; Helmut Willke; Frank Becker & Elke Reinhardt- Becker e outros sociólogos). Apresenta-se a seguir os principais autores entre os citados e algumas de suas propostas fundamentais. Como cada um acrescenta ou modifica a teoria a partir de suas próprias pesquisas, cita-se também algumas diferenças entre as mesmas.. a. Teoria Geral dos Sistemas Ludwig von Bertalanffy critica a visão de mundo que é/era dividida pelos cientistas em física, biologia, psicologia, sociologia e outras áreas nitidamente delimitadas, dizendo que a natureza não está dividida, nem se apresenta em partes e áreas. Enquanto a ciência newtoniano-cartesiana busca princípios e co nclusões conceituais que podem ser válidas.

(30) 30 para todas as ciências, a Teoria Geral dos Sistemas busca criar condições de aplicação na realidade empírica.20 Sua idéia central é o desenvolvimento de uma teoria de caráter geral, de modo que possa ser aplicada a fenômenos bastante semelhantes que ocorrem em uma diversidade. de. campos. específicos. de. conhecimento.. Se. diversas. disciplinas. desenvolvessem conjuntamente seus esforços de pesquisa, seriam capazes de identificar leis e princípios que poderiam ser aplicados com vantagem em vários sistemas. Com uma moldura comum de conceitos os diversos campos científicos poderiam melhor comunicar seus desenvolvimentos, com ganhos mútuos, por minimizar-se a duplicação de esforços. 21 Uma nova era se apresenta na ciência a partir de meados do século XX. Se o ser humano quiser progredir criativamente na elaboração do conhecimento, ele precisa dialogar com a natureza. E a natureza é complexa, ela não é determinista, simplista, absolutamente previsível e nem reducionista. Em síntese, esta é a mensagem de Ilya Prigogine. 22 A complexidade do mundo pede visão holística, se quiser realmente ser compreendida. Nessa visão, a química, a física e as demais ciências, ditas instrumentais, estão mais próximas das ciências humanas do que se imagina. Essa proximidade, que era evidente na Grécia présocrática, torna -se novamente perceptível quando Henri Poincaré (1854-1912), 23 ainda no final do século XIX, inaugura a teoria do caos: as certezas, nas ciências exatas, são relativas ao grau de aprofundamento da investigação objetiva. A teoria de Poincaré torna-se a base da teoria de Prigogine. O que liga as coisas? Qual é o padrão que mantém unidas todas as coisas vivas e sociais? Gregory Bateson, um biólogo que estuda relações familiares, propõe que esse tema ocupe a epistemologia sistêmica. Todas as coisas podem ser observadas segundo a sua simetria, a homologia filogenética e a homologia seriada. São padrões de observação de várias ordens, mas, que no final evidenciam princípios que ligam, conectam as coisas. Assim, o autor propõe construir um meio de pensar as coisas: por meio de seus ligamentos, de suas conexões. Sua tese versa: “O padrão que liga é um meta-padrão. Ele é um padrão. 20. BERTALANFFY, Ludwig von. Teoria geral dos sistemas. Petrópolis: Vozes, 1975, p. 53. BERTALANFFY, op. cit., p. 36 e 122. 22 PRIGOGINE, Ilya. O fim das certezas. São Paulo: Unesp, 1996, contra-capa. 23 Henri Poincaré escreveu proficuamente. Uma de suas principais obras, editada em três volumes é “Os métodos da mecânica celeste”. Outras obras do epistemólogo em português: POINCARÉ, Henri. O valor da ciência. Rio de Janeiro: Contraponto, 1995. POINCARÉ, Henri. A ciência e a hipótese. Brasília: UnB, 1985. 21.

(31) 31 de padrões. Ele é aquele meta-padrão que define a vasta generalização que, aliás, são padrões que liga m”. 24 Os chilenos Humberto Maturana e Francisco Varela são considerados importantes propositores do pensamento sistêmico e complexo da atualidade. 25 Estes biólogos, que mais parecem epistemólogos, defendem algumas teses básicas a respeito da aprendizagem e do conhecimento que fogem às concepções clássicas, mesmo da mais moderna pedagogia e psicologia. Eles denominam sua abordagem de biologia da cognição; propõe bases biológicas para a aprendizagem e a compreensão humana. 26 A tese central é que vivendo no mundo, o ser humano compartilha com os outros seres o processo vital. E mesmo que ele não se dê conta, ele sempre é influenciado e modificado pelo que experiencia (uma relação a que alguns autores chamam de "acoplamento estrutural", 27 e que depende da rede de interações lingüísticas 28 ). O ser humano vive no mundo e por isso faz parte dele. Além disso, ele constrói o mundo em que vive ao longo de sua vida. Por sua vez, também este mundo constrói o ser humano no decorrer dessa viagem comum. Assim, se o ser humano vive e se comporta de maneira que torna satisfatória ou insatisfatória a sua qualidade de vida; a responsabilidade cabe ao próprio ser humano. Esta responsabilidade, por sua vez, torna o ser humano um ser social, e é a partir da perspectiva social29 que Matur ana e Varela constroem a biologia da cognição. O tema, conteúdo e assunto da Teoria Geral dos Sistemas atraiu vasta gama de pesquisadores. Porém, a título de apresentação, os citados devem ser suficientes para a finalidade da introdução desta tese.. b. Teoria dos Sistemas Sociais Houve inúmeras aplicações da Teoria Geral dos Sistemas, como a apresentada a seguir, que se utiliza da metodologia e epistemologia sistêmica para análises sociológicas.. 24. BATESON, Gregory. Mente e natureza . Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1986, p. 19. MATURANA, Humberto; VARELA, Francisco. A árvore do conhecimento. Campinas: Editorial Psy II, 1995, p. 124 – 126. 26 MATURANA; VARELA, op. cit., p. 70. 27 MATURANA; VARELA, op. cit., p. 206. LUHMANN, Niklas. Soziale Systeme – Grundriss einer allgemeinen Theorie. Frankfurt a. M.: Suhrkamp Taschenbuch, 1984, p. 62, 73ss,377ss. 28 MATURANA; VARELA, op. cit., p. 229. 29 MATURANA; VARELA, op. cit., p. 223. 25.

(32) 32 A obra principal da Teoria Social dos Sistemas certamente é a de Niklas Luhmann, com o título de Sistemas Sociais – aspectos básicos de uma teoria geral. 30 As muitas obras escritas posteriormente até 1997 pelo mesmo autor, serviram como complemento explicativo e/ou especificação do apresentado, pois, os escritos de Luhmann são inalcançáveis para muitos leitores não acadêmicos. Soziale Systeme31 tem como pretensão a renovação da sociologia, que até então, se atinha aos clássicos sem muitas inovações, acha Luhmann. 32 Outra pretensão é a universalização desta teoria. Aproveitando o novo paradigma nas ciências modernas, 33 Luhmann se aproxima do seu objeto, a sociedade, através da concepção de sistema. Estimulado pelas pesquisas em Harvard, em debate com seu orientador Talcott Parsons, em interação com o colega Jürgen Habermas, Luhmann desenvolve uma sociologia que enfoca a sociedade através do funcionalismo-estruturalismo. Professor de sociologia na University of New Hamsphire, Walter Buckley foi um dos primeiros pesquisadores a realizar aproximações da teoria geral dos sistemas com a sociologia. Embora não tenha se alinhado com exclusividade à referida teoria, também não o fez com a cibernética de Norbert Wiener. Tanto a teoria dos sistemas sociais auto-referenciados de Luhmann que consiste mais em comunicações do que em pessoas, quanto à teoria dos sistemas sócio-culturais de Buckley apresentam evidente atração pelos princípios sistêmicos na tentativa de abordar o objeto social. Esta metodologia tem lhes rendido seguidores devotos, bem como críticos ardentes. Buckley defe nde que a instrumentalidade da teoria sistêmica permite afastar-se do que ele chama de “misticismo das mudanças imanentes”34 e abriga as sementes que determinam a construção ou destruição de um próprio sistema. A teoria dos sistemas sócio-culturais se afasta das concepções das ciências físicas e biológicas; se distancia também do interesse pela substância, pelas qualidades e pelas propriedades inerentes ao social. Esta teoria realiza um esforço de aproximar-se dos 30. Ainda não traduzida para o português. LUHMANN, Niklas. Soziale Systeme. Grundriss einer allgemeinen Theorie. Frankfurt a. M.: Suhrkamp Taschenbuch Wissenschaft, 1987. 32 LUHMANN, Soziale Systeme, p. 7. 33 Thomas Kuhn; Fritjof Capra; Ludwig von Bertalanffy; Maturana e Varela; Norbert Wiener – cibernética; etc. 34 BUCKLEY, Walter. A sociologia e a moderna teoria dos sistemas. São Paulo : Cultrix, 1976. , p. 213. 31.

(33) 33 princípios de organização per se, como o fazem todas as outras teorias que se aplicam a estudar sistemas. 35 A partir destas bases conceituais se desenvolve a noção de que a sociedade é um sistema adaptativo complexo, em contraste com o modelo de sistema homeostático ou de equilíbrio. 36 Walter Buckley também traçou ousadamente uma das primeiras reflexões sistêmicas sobre o poder. Sob a preocupação temática do controle social, o autor analisa o comportamento denominado por ele de aberrante e o controle retro-alimentativo da busca social de metas. Ele compara os conceitos de poder, autoridade e legitimidade. Confronta poder e burocracia e por fim, apresenta subtipos do poder e da autoridade.37. c. Teoria do Poder Na teoria do poder também é necessário classificar as obras antes de apresentá- las. Por um lado estão as obras que pressupõe o poder de um agente sobre o outro, isto é, a relação de poder linear (Kenneth Galbraith; Jeffrey Pfeffer; Reinhold Niebuhr; Bertrand Russell; Isaak Epstein e outros). Por outro lado, revisou-se a literatura que pressupõe o poder como um fenômeno circular, quer dizer, todas as partes em relacionamento têm poder, interagindo uma sobre a outra, cada uma dentro de sua idiossincrasia e natureza específica (Michel Focault; Pierre Bourdieu; Steward R. Clegg; Niklas Luhmann; Thomas Schröder; Torben Bech Dyrberg e outros). Com certeza, a classificação das obras que tratam do poder também poderia seguir outra categoria de enfoques, isto é, a crítica e a dominação. O enfoque crítico enfatiza a dominação de uma parte sobre a outra, salientando o aspecto exploratório das relações de poder, utilizado, por exemplo, por Karl Marx e Max Weber. O enfoque funcionalista é pragmático e gerencialista, salientando o aspecto administrativo, político e empresarial, utilizado, por exemplo, por Kenneth Galbraith, Amitai Etzioni, Maria Teresa Leme Fleury e Maria Rosa Fischer e autores da área de administração de modo geral. Surpreendentemente, a concepção de poder na maioria das pesquisas é linear, isto é, a compreensão de um agente dominando outro, um grupo dominando outro, com a simples epistemologia de causa-efeito. As abordagens ao fenômeno do poder circular sucedem a 35. BUCKLEY, op. cit., p. 62. BUCKLEY, op. cit., p. 229. 37 BUCKELY, op. cit., p. 233 – 294. 36.

(34) 34 partir do que Luhmann chama de sistemas psíquicos, em outras palavras, de características pessoais dos agentes humanos do poder, da capacidade de atos conscientes (Bewusstseinsakte).38 Informações mais claras e detalhadas são elaboradas no capítulo 2. Também foram encontradas e revisadas obras que abordam seu objeto de estudos por meio dos dois enfoques: a teoria sistêmica e a teoria do poder. Dentre estas, algumas tratam inclusive do fenômeno eclesiástico (Maria Helene Arrochelas; Adolf GuggenbühlCraig; James Hillman; Annette Lee-Chai e John A. Bargh; Steven Lukes; Rosa R. Krausz). Nessa altura da apresentação da tese é necessário que se considere uma questão crucial. Alguns pesquisadores da sociologia questionarão a ausência de obras, autores e princípios teóricos clássicos como de Max Weber, Émile Durkheim, Pierre Bourdieu, Michel Foucault, Anthony Giddens e outros. O questionamento é justo! Portanto, torna-se necessária a defesa de tal opção. Primeiro, o teórico principal consultado como referencial nesta pesquisa, Niklas Luhmann, cita poucas vezes as obras sociológicas clássicas, embora dele mesmo ser sociólogo. Segundo, esta pesquisa tem como objeto os sistemas sociais, e não seus elementos, os indivíduos. As obras clássicas pressupõe os indivíduos da sociedade como foco. Mesmo o conceito de “campo social” de Pierre Bourdieu39 que poderia ser um homólogo de “sistema social”, refere-se aos indivíduos (atores sociais) que compõe o espaço (habitus), a dinâmica e a estrutura do mesmo. Portanto, foge à conceituação de sistema social. Igualmente a “microfísica do poder” de Michel Foucault 40 trata de um fenômeno diferente do que esta pesquisa, po is apresenta o poder através do discurso do(s) indivíduo(s). Ele enfoca as pequenas unidades na sociedade que fazem “feixes de relações de poder”41 , enquanto a teoria dos sistemas sociais percebe as relações de poder como movimentos autopoiéticos (auto-referenciados: manutenção, continuidade, reprodução) dos sistemas sociais. Terceiro, o conceito “sistema social” enfoca funções e estruturas. Ainda que alguns dos elementos pelos quais as mesmas se consumam sejam indivíduos, 38. LUHMANN, Soziale Systeme, p.63, 129, 299ss, 459ss. “Bourdieu compreende que os atores sociais estão inseridos espacialmente em determinados campos sociais, a posse de grandezas de certos capitais (cultural, social, econômico, político, artístico, esportivo etc.) e o habitus de cada ator social condiciona seu posicionamento espacial e, na luta social, identifica-se com sua classe social”. Fonte: Mário Luiz Neves de Azevedo, Professor da Universidade Estadual de Maringá, PR e doutor pela FEUSP; http://www.espacoacademico.com.br/024/24cneves.htm; data: 03.04.2009. 40 FOUCAULT , Michel. Microfísica do poder. 23ª. ed. São Paulo: Graal Editora, 2007. 41 Fonte: http://nocabide.wordpress.com/2007/03/19/microfisica-do-poder/; Data: 03.04.2009. (Nome do autor não é citado). 39.

(35) 35 pressupõe-se todos os outros elementos possíveis de um sistema. Em já sendo difícil diferenciar um sistema social composto por indivíduos e um sistema composto por todos os elementos além dos indivíduos, este autor compreende que se torna necessária uma delimitação para que a abordagem e as conclusões não se transformem num caos confuso sem nexo. Que os clássicos da sociologia perdoem, esta é apenas uma opção de aproximação e não uma rejeição aos significativos dados de suas contribuições científicas. Concluindo a revisão bibliográfica e algumas considerações para a tese a partir da mesma, requer ser enfatizado: nesta pesquisa se faz análise de sistemas e não análise de discursos. Ainda que na pesquisa de campo se observa e grava discursos de conselhos pastorais e administrativos, o enfoque é o sistema, não o discurso.. Justificativa O crescente efervescer da religiosidade atual e sua dinâmica de poder, com isso as relações de poder no aspecto institucional, têm gerado importante campo de conflito, com conseqüências sobre a comunidade evangélica brasileira em sua identidade, missão e expressão. O que e como se desenvolve a dinâmica do poder em igrejas evangélicas? É possível identificar as dinâmicas do poder? Existe a possibilidade de trabalhar conscientemente com o fenômeno, no sentido de prevenir e orientar conflitos? Estas perguntas merecem a atenção pela urgência com que se necessita de informações para manejar os citados conflitos. O poder tem expressão no nível administrativo, econômico, doutrinário, social, dogmático, educacional, etc., e requer ser compreendido para manejá-lo com critérios mais objetivos.. a. Estado atual da questão Não foram encontradas por este pesquisador investigações que se ocupam diretamente com a dinâmica das relações do poder na ótica sistêmica em igrejas evangélicas. A igreja católica já conta com algumas obras reflexivas, 42 mas não de cunho sistêmico. Existe um vazio no conhecimento deste fenômeno. Este é um nicho que ainda pode e deve ser pesquisado, desenvolvido, explorado. Como tal, parece ser uma abordagem original, justificando-se apenas por este fato. 42. ARROCHELAS, Maria Helena (org.). A igreja e o exercício do poder. Rio de Janeiro: ISER/CAAL, 1992..

(36) 36 Esta pesquisa também se justifica, pois, pretende não somente resultados interpretativos e descritivos, mas, que produzam resultados práxicos, 43 aplicáveis ao dia-adia de grupos de liderança em instituições eclesiá sticas. Propõe-se algo novo, que seja crítico, que demonstre a capacidade de reflexão e argumentação do autor, a interlocução com outros autores, com outras idéias, com os próprios dados levantados, com os professores e colegas.. b. Relevância científica A pesquisa pretende desenvolver recursos para estudar relações de poder na perspectiva sistêmica. Como tal, o desenvolvimento de uma metodologia de pesquisa a partir da referência teórica sistêmica deve ser uma contribuição à ciência social e psicológica. Esta é também uma das razões do capítulo 1, bem como a sua extensão. O sociólogo Niklas Luhmann não obteve visibilidade na comunidade científica do Brasil, exceto por uma obra editada pela UnB – Universidade de Brasília. 44 Por intermédio desta pesquisa, o autor deverá ser apresentado. Também se dispõe de uma obra no Brasil, pela similaridade da língua portuguesa com a espanhola, através da tradução Introducción a la teoria de sistemas.45 Luhmann é citado com mais freqüência em obras sociológicas, estas referências podem ser encontradas por intermédio de recursos da internet. No Brasil são duas as áreas em que Luhmann é citado: na educação e no direito.. c. Relevância social Pretende-se os seguintes resultados práticos: Aprimorar recursos de mediação de conflitos ecle siásticos; de mediação de indivíduos e indivíduos; de indivíduos e instituições eclesiásticas. Facilitar o desenvolvimento de instrumentos de avaliação de relações de poder com perspectiva sistêmica para lideranças eclesiásticas. Pretende-se também, que a partir da. 43. Práxis no sentido de: FLORISTAN, Casiano. Teología práctica: teoría e práxis de la acción pastoral. Salamanca: Sigueme, 1993, p. 179 – 180, em que se considera que ela é práxis religiosa criadora, libertadora, reflexiva e radical. 44 LUHMANN, Niklas. Poder. Pensamento político. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1985. 45 LUHMANN, Niklas. Introducción a la teoria de sistemas. Guadalajara: Universidade Iberoamericana, 1996, lecciones publicadas por Javier Torres Nafarrate..

(37) 37 pesquisa se torne possível desenvolver programas de treinamento de resolução de conflitos fundamentados em construtos da teoria sistêmica. Provavelmente seja mais fácil desenvolver modelos, testes, formulários ou questionários de avaliação de relacionamento de equipes de liderança em instituições eclesiásticas a partir da pesquisa desenvolvida.. Objetivos Gerais e Específicos Como provavelmente acontece em qualquer pesquisa, também nesta os objetivos formulados para o projeto de pesquisa foram se transformando à medida que a mesma progredia. O aprofundamento na teoria do poder, bem como o contato com o campo de pesquisa evidenciaram a superficialidade e a obviedade de alguns objetivos inicialmente propostos. Igualmente, a importânc ia de outros objetivos salientaram durante o trabalho. Assim sendo, a pesquisa construída à medida que se desenvolvia, produz outros objetivos. 1. Objetivo Geral Analisar as relações de poder a partir da teoria sistêmica em grupos de liderança oficial de igrejas menonitas. A pesquisa bibliográfica evidencia que o termo “relações de poder” é ut ilizada com relativa freqüência. Porém, os autores trabalham com o conceito como se este fosse do conhecimento geral, consideram- no como compreendido. De fato, encontrou-se apenas uma obra que se ocupa com a definição do termo, o Dicionário de Terapias Familiares: A relação de poder caracteriza uma relação de pertencimento a um sistema, e os níveis hierarquizados de regulação, de controle e de sujeição que tal relação supõe: estar em u ma relação de poder significa inscrever-se em uma hierarquização social na qual alguém faz fazer algo a alguém, ou o faz ser o que ele é: neste sentido, o poder funciona tanto da posição baixa para a posição alta quanto no sentido inverso.46. Esta definição parece útil para o tratamento de disfunções familiares. Porém, ela não parece ser adequada para análise sociológica. Entre sistemas sociais não existe hierarquia, exceto a cultural. Nas famílias a hierarquização das relações é orientada pelas faixas etárias, pelos papéis individualmente distribuídos e delegados, e pelo o que no ocidente se chama de disciplina, associado à educação dos menores. A definição acima trata de indivíduos, e a teoria dos sistemas sociais tem como prioritário tratar dos 46. MIERMONT, Jacques. Dicionário de terapias familiares: teoria e prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994, p. 435..

(38) 38 sistemas sociais e não dos psíquicos. Por hora, estes argumentos são suficientes, para justificar a não utilidade da definição acima para esta pesquisa.. 2. Objetivos Específicos relacionados às hipóteses: * Identificar os princípios da Teoria Geral dos Sistemas e Teoria dos Sistemas Sociais nos grupos de liderança oficial das igrejas menonitas pesquisadas. * Observar se os(as) conselheiros(as) mencionam verbalmente a questão do poder ou as relações de poder durante as reuniões, o relaciona ndo à função de seu cargo ou do conselho. * Apresentar sugestões de manejo do fenômeno a partir das conclusões. * Descrever as lideranças formais diferenciadas das informais e a sua dinâmica relacional. * Analisar a interação entre os sistemas formais e informais de liderança. * Correlacionar qualitativamente os sistemas decisórios (formais com formais; formais com informais) através da densidade de suas fronteiras (regras que regem as interações) e do horizonte de sentido (as funções que exercem ou deveriam exercer). * Verificar se é possível trabalhar com o conceito de relações de poder preventivamente e interventivamente para evitar ou sanar abusos de poder.. Hipóteses. a. Hipótese Geral As relações de poder em grupos de liderança oficial de igrejas menonitas funcionam segundo os princípios da Teoria Geral dos Sistemas e da Teoria dos Sistemas Sociais. Por meio de seus princípios, é possível realizar análise e descrição do fenômeno do poder em instituições religiosas, com aplicação efetiva em situações de conflito..

(39) 39 A princípio, a hipótese geral aparenta redundante. Porém, diante da possibilidade, ou até do fato, de nenhum pesquisador ter verificado a aplicabilidade dos teoremas sistêmicos em sistemas sociais eclesiásticos, a mesma se justifica.. b. Hipóteses Secundárias •. Os líderes e conselheiros não expressam verbalmente durante as reuniões a consciência de que seus cargos e funções lhes outorga poder e/ou constitui-se em alguma relação de poder.. •. Com freqüência importante, o grupo de liderança oficial (poder formal, constituído e instituído pela assembléia) não é constituído por pessoas que lideram de fato a igreja. Estas (poder informal) lideram a partir dos bastidores por meio de acoplamento estrutural47 entre sistemas sociais e sistemas psíquicos. 48. •. Subsistemas decisórios com “fronteiras rígidas”49 são regidos pela constituição da instituição (poder formal), enquanto subsistemas decisórios de “fronteiras difusas” são regidas por influências do poder pessoal (poder informal).50. •. É possível trabalhar preventivamente e interventivamente por meio do conceito de relações de poder.. 47. Luhmann defende que sistemas sociais não imp ortam elementos de outros sistemas sociais, nem trocam elementos com os mesmos. Pelo fato de cada sistema ter o seu próprio sentido (valores; significados; conteúdos; símbolos), o máximo que pode acontecer entre dois sistemas sociais é o acoplamento estrutural, quer dizer, aproximações que desencadeiam em cada qual reações que demandam reacomodações e novo funcionamento sistêmico, porém, cada qual segundo seus próprios princípios, leis e características. 48 A definição dos vários conceitos infelizmente não pode ser apresentada no espaço da Introdução. Portanto, o leitor deve dirigir-se aos respectivos capítulos, caso lhe pareça necessário neste espaço. 49 Na teoria familiar sistêmica, especialmente na abordagem estrutural (Salvador Minuchin, Jay Haley), utiliza -se do conceito de “fronteiras” para descrever a coesão, diferenciação e proteção que sistemas mantém e/ou concedem a outros elementos e/ou sistemas. As fronteiras são constituídas por regras (explícitas ou implícitas), por tradições, usos e costumes, acordos e/ou imposições por um elemento do sistema, por constituições naturais (por exemplo: idade), por mitos, pela fase do ciclo vital, pelo gênero, etc. Essas fronteiras podem facilitar ou dificultar o trânsito de informações e trocas entre os sistemas, tornando-se rígidas quando esse trânsito é dificultado (por exemplo: através de prescrições burocráticas) e difusas quando o trânsito recebe orientação mínima a partir do sistema (por exemplo: numa liderança laissez fair ou autoritária). A Terapia Familiar Sistêmica propõe que famílias funcionais são constituídas de fronteiras nítidas, isto é, que permitam a negociação em torno do trânsito de informações e trocas dos sistemas. 50 A Teoria dos Sistemas Sociais tem como termo homólogo de “fronteiras” o conceito de “horizontes de sentido”..

(40) 40 A Construção das Partes desta Pesquisa O Capítulo 1, de maneira diferente de muitas outras pesquisas de tese, foge à forma comum e discute primeiro a metodologia científica e epistemologia, para daí deduzir o método utilizado para a realização da pesquisa de campo e a análise de dados. A discussão mais aprofundada dos assuntos referidos deve-se à complexidade da teoria sistêmica, especialmente a Teoria dos Sistemas Sociais de Luhmann. Enquanto as epistemologias e suas conseqüentes metodologias cartesianas vigoraram por praticamente três séculos, e ainda estão muito arraigadas no modo de pensar e viver, a perspectiva sistêmica tem suas primeiras elaborações datadas a partir de 1930. Portanto, a teoria sistêmica é nova, e ainda distante da maioria dos pensadores e pesquisadores. Outra razão para a apresentação inicial da metodologia é a novidade do pensamento sistêmico e a dificuldade de ler Luhmann. Igualmente, estes dois argumentos justificam a extensão que se dá ao primeiro capítulo. Em outras palavras, o Capítulo 1 quer preparar o leitor para os dois capítulos seguintes. Estes não são inacessíveis, especialmente para quem já tem alguma familiaridade com a teoria sistêmica, mas, apresentam complexidade e densidade que justifica o procedimento de antecipar a discussão da metodologia e do método. A diferenciação de metodologia e método ocupa o pensar e o espaço de muitas discussões. Nesta pesquisa, a diferença deve ser simples: metodologia pressupõe a base epistemológica de um modo de proceder em busca de dados que possam ser verdadeiros segundo determinada epistemologia 51 (nesta pesquisa, a teoria sistêmica), e método é o modo de proceder no levantamento de dados e do manuseio desses dados para que possam ser analisados52 (nesta pesquisa, a observação participante). A metodologia fundamenta a abordagem intelectual da pesquisa e o método desenvolve e apresenta os dados a serem analisados a partir da abordagem intelectual. A metodologia é abstrata, o método é concreto. Para algum leitor pode ainda não estar clara a razão da discussão da metodologia logo no primeiro capítulo! Não bastaria apresentar o método? Acontece que a metodologia. 51. RICHARDSON, Roberto Jarry & cols. Pesquisa social – métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 2007, p. 40. LAKATOS, Eva Maria & MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia científica. São Paulo: Atlas, 1986, p. 40, considerando especialmente as definições de Hegenberg, 1976; Trujillo, 1974. 52.

(41) 41 sistêmica é fruto de uma revolução científica, segundo Thomas Kuhn. 53 E esta é recente, ainda representada por leituras às vezes controversas e aplicações equivocadas. Para que a visão do autor desta pesquisa esteja explícita, compreende o mesmo, que é necessário apresentar primeiramente a sua visão metodológica. Depois de traçada a linha epistemo lógica e sua metodologia científica, deduz-se um correspondente método de pesquisa: a observação participante. 54 Para que o leitor possa compreender e acompanhar com facilidade os procedimentos, tanto de levantamento de dados, quanto da correspondente análise, detalha -se com cuidado o procedimento técnico construído a partir dos quadros referenciais metodológicos.55 Ainda que o leitor possa estar ansioso pelo objeto de estudo, ou pelos resultados, é necessário apresentar a Teoria Geral dos Sistemas e a Teoria dos Sistemas Sociais no Capítulo 2, segundo a leitura do pesquisador desta tese. Enquanto a primeira é mais conhecida, a segunda é considerada de difícil compreensão. Como já dito, no Brasil Luhmann não é conhecido, existe apenas uma obra traduzida. O autor desta tese leu os originais em alemão, leu várias apresentações e interpretações alemãs de Luhmann e no referido capítulo apresenta a sua compreensão. Portanto, o Capítulo 2 se assemelha a uma pesquisa bibliográfica, que parece necessária em função da falta de modelos já elaborados de teoria(s) sistêmica(s) do poder. Para que a pesquisa de campo esteja bem fundamentada, parece ser necessário que a fundamentação teórica seja mais completa possível. Para deixar o Capítulo 2 menos árido, aproxima-se seu co nteúdo ao objeto de pesquisa através de exemplos concretos e as aplicações teóricas, referindo-se à igreja. São exemplos e pequenas histórias criadas pelo autor para deixar mais acessível o conteúdo teórico. No Capítulo 3 se apresenta a teoria do poder de Luhmann, aplicando-a também por meio de exemplos à igreja. Assim, já se dá um prenúncio de como o objeto de pesquisa será observado e analisado. Nesta altura da introdução, é necessário alertar ao leitor. Os capítulos 2 e 3 podem parecer complexos, densos ou até inacessíveis. No entanto, embora repetindo, convém. 53. KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 2007. RICHARDSON, op. cit. p. 261. 55 RICHARDSON, op. cit., p. 32; SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabal ho científico. São Paulo: Cortez, 2002, p. 162. 54.

(42) 42 insistir: Niklas Luhmann cria seu próprio vocabulário para poder dizer o que ele percebia e pensava. Estes termos novos requerem ser apreendidos e elaborados pelo leitor pela leitura dos textos orig inais, por meio da comparação com textos de outros autores que leram e apresentam os mesmos termos em sua versão. Os neologismos ainda requerem ser apreendidos através da aplicação a áreas de conhecimentos específicas para que representem imagens mentais e conceituais claras. Além disso, os termos criados requerem ser traduzidos ao português. Às vezes isso significa que se torna necessário criar termos novos para a tradução, como por exemplo, “diferenciação-guia”. Portanto, que o leitor não desanime. Os capítulos 2 e 3 foram escritos por alguém que passou por todo esse tormento e apresenta seu conteúdo como o compreendeu. O autor desta tese não se considera exímio em versos e letras, antes sim, um caipira que diz o que vê e toca, assim, a limitação pode tornar o texto agradável e acessível. A apresentação dos dados da pesquisa de campo é feita no Capítulo 4. Primeiramente se apresentam os menonitas num breve histórico. A seguir, sua trajetória no Brasil. Um panorama atual dos menonitas quer descrever o entorno do objeto de pesquisa. Então se chega ao próprio objeto, as igrejas, especificamente as igrejas de origem étnica. A partir daí, o processo da pesquisa de campo é apresentado. A vivência e suas impressões a partir do observador participante. Em terceiro lugar, segue a transcrição de blocos temáticos colhidos em reuniões de conselhos pastorais e administrativos. Esses blocos apresentam evidentemente o fenômeno das relações de poder e foram selecionados após o levantamento completo de dados. Não se transcreve as reuniões na íntegra, pois, isso requereria um livro à parte, pelo tamanho de seu conteúdo literal. Por fim, no Capítulo 5 são apresentadas as considerações finais, as aplicações e recomendações. Primeiramente cada um dos blocos temáticos é analisado para descobrir qual o seu conteúdo principal em relação à teoria dos sistemas sociais. A partir desta análise, o bloco recebe seu título. Depois todo o bloco é analisado segundo a mesma teoria, orientado pelo título. Finalmente, cada bloco é novamente colocado sob a lupa das hipóteses e dos objetivos desta tese, concluindo-se assim a aproximação ou o distanciamento dos mesmos em relação aos dados de campo. Em outras palavras, a última análise dos blocos temáticos de poder escolhidos são analisados para confirmar ou negar as hipóteses inicialmente propostas..

(43) 43 Desta maneira, as considerações finais podem propor, informar, questionar, afirmar ou negar, orientar, recomendar e aplicar práxis que seja útil e significativa para teóricos e práticos do exercício eclesiástico.. Finalizando Assim, todo o texto se constitui numa construção. Uma peça emendada à outra evidencia o óbvio: mesmo em igrejas cristãs os relacionamentos interpessoais de qualquer natureza pressupõe relações de poder. Como tal fenômeno existe, simp lesmente existe, pergunta-se sociologicamente a favor do que e de quem ele existe. Para que o fenômeno possa ser útil sociologicamente, é preciso responder como ele se apresenta, qual a sua dinâmica e como é possível elaborar conscientemente o mesmo em movimentos humanos e humanísticos como igrejas. O que vem a seguir, tem tal proposta. Convém informar que o pesquisador desta tese é menonita, especificamente da Igreja dos Irmãos Menonitas, nascido e criado na Colônia Witmarsum, Município Palmeira, PR. Sua formação fundamental sucedeu na Escola Fritz Kliewer, a formação teológica no então Instituto e Seminário Bíblico dos Irmãos Menonitas (ISBIM) em Curitiba, PR. Atuou como pastor na Igreja Evangélica Irmãos Menonitas de Campo Largo, PR, uma igreja missionária, durante cinco anos e meio. Este pesquisador também fez parte do CIP da Igreja Irmãos Menonitas da Vila Guaíra, bem como presidiu a equipe pastoral da Primeira Igreja Irmãos Menonitas do Boqueirão por quase um ano. Fundador do Núcleo de Ação Social Menno Simons (organização de saúde mental comunitária), passou a dedicar-se a atividades de gerenciamento, clínica psicológica e magistério de disciplinas psicológicas no ISBIM, atual Faculdade Fidélis. Pregador e palestrante, participou de todas as igrejas pesquisadas em eventos como retiros de casais, retiros de pastores, retiros de jovens e adolescentes, reuniões de senhoras, etc. Assim sendo, tem conhecimento e vivência prévia com cada uma das comunidades em vários níveis, bem como se considera culturalmente um menonita brasileiro. Estas considerações são fundamentais para a presente pesquisa, devendo o leitor ponderar as vantagens e desvantagens desse envolvimento social. As mesmas são apresentadas e criticamente tratadas no corpo de apresentação da tese. Desde 2000 este pesquisador não participa mais de nenhum dos conselhos objeto deste trabalho. E desde 2008 não é mais membro de nenhuma igreja menonita..

(44) 44. Capítulo 1 – A METODOLOGIA DE PESQUISA. Considerações Iniciais Toda ciência exige critérios de verificabilidade, falsificabilidade, quantificabilidade e repetibilidade para que possa ser considerada exata e objetiva. 56 Esta é a proposta das ciências naturais a partir do racionalismo e positivismo. Porém, correspondem estes critérios também às possib ilidades e aos objetos das ciências sociais? O alcance de precisão almejado pelos critérios de cientificidade citados permanece ao nível do ideal na pesquisa social empírica, bem como em vários níveis de pesquisa das ciências humanas. A dificuldade da objetividade positiva, no entanto, não está no nível intencional do pesquisador, nem na pesquisa em si, mas, em geral faz parte da natureza do próprio objeto de pesquisa, que dado a sua fluidez, subjetividade e volatilidade não pode ser simplesmente enquadrada nos critérios ideais da forma exata e em termos absolutos. Estas considerações iniciais se aplicam ao projeto de pesquisa desta tese. Assim sendo, para que se possa considerar um conhecimento como científico, é necessário identificar as operações mentais e técnicas que possibilitam a sua verificação, enfim, é preciso determinar a metodologia que possibilita chegar ao referido conhecimento. Provavelmente a definição mais comum de método é a de um caminho para chegar a um determinado fim; e metodologia, também denominado método científico, é “o conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos adotados para se atingir o conhecimento”. 57 No entanto, as ciências naturais, consideradas exatas, utilizam-se evidentemente de métodos e de metodologia de pesquisa muito diferentes das ciências humanas, consideradas subjetivas.. 56. SCHRADER, Achim. Introdução à pesquisa social empírica – um guia para o planejamento, a execução e a avaliação de projetos de pesquisa não-experimentais. Porto Alegre: Editora Globo, 1974, p. 3. 57 GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5a. ed. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2006, p. 26..

(45) 45 A este pesquisador, a definição de método de Gil acima citada parece mais adequada para a finalidade desta tese do que a de Schrader: “Método [...] a sistematização de processos de mensuração sob a consideração de situação de mensuração”. 58 Esta definição remete a pesquisa a instrumentos objetivos como a tabulação e estatística, restringindo a pesquisa em suas possibilidades metodológicas, espaço que parece essencial para que a abordagem de um tema e objeto social possa ser englobado de modo mais completamente possível. Parece até, que Schrader confunde método com metodologia. A presente pesquisa se volta para um objeto que, se for enquadrado em tabulações e estatísticas, permaneceria restrita a apenas alguns fatores e/ou variáveis. A pretensão é manter o foco aberto, para que haja amplitude (por meio da técnica da observação participante), mais do que para alcançar profundidade (métodos precisos de mensuração). Propõe-se que os objetivos desta pesquisa serão melhor e mais facilmente alcançados se a metodologia se ocupar em desenvolver procedimentos intelectuais e técnicos para atingir o conhecimento, sem exacerbação de controles de mensurabilidade. De fato, há uma variedade de métodos que por sua vez requerem de classificação para serem adequadamente compreendidos e aplicados. Ao aproximar-se da pesquisa social, Gil considera que os métodos podem ser classificados em dois grupos: “o dos que proporcionam as bases lógicas da investigação científica e o dos que esclarecem acerca dos procedimentos técnicos que poderão ser utilizados”. 59 Uma classificação similar é apresentada por Alfonso Trujillo Ferrari60 como de, a) métodos gerais e, b) métodos discretos; por Lakatos 61 é denominado de, a) métodos de abordage m e, b) métodos de procedimentos; por Demo 62 é definido como, a) base empírica da pesquisa social e, b) metodologia alternativa. Verifica-se o constante conflito dos autores a respeito dos conceitos de método e metodologia, o que não é diferente neste trabalho. Logo a seguir, em contexto apropriado, está apresentada a compreensão diferencial deste autor.. 58. SCHRADER, op. cit., p. 80. GIL, op. cit., p. 27. 60 FERRARI, Trujillo Alfonso. Metodologia da pesquisa científica. McGraw-Hill, 1982, p. 23. 61 LAKATOS, Eva Maria & MARCONI, Marina de Andrade. Procedimentos básicos, pesquisas bibliográficas. 4a. ed. São Paulo: Atlas, 1992, p. 81. 62 DEMO, Pedro. Metodologia científica em ciências sociais. 3a. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 1995, p. 133ss e 231ss. 59.

(46) 46 1.1. Considerações Epistemológicas – Ciências Naturais versus Ciências Sociais A Humanidade se ergueu das trevas da Idade Média, possibilitando o Iluminismo a partir do Racionalismo das ciências naturais. Este mérito é inconteste. Porém, pode-se recorrer à mesma metodologia na pesquisa de fenômenos sociais? Neste contexto, o autor desta tese propõe que surgem restrições à pesquisa do social, utilizando recursos metodológicos positivos e estatísticos. 63 A partir da constatação do ser humano como ente, devem ser consideradas as suas características essenciais: motivações, objetivos, valores64 , subjetividade, o fenômeno da emocionalidade versus racionalidade, e outros, próprios do ser humano. Sem a consideração destes componentes da ação e da volição não se poderia falar de sociedade, do ser humano psicológico, da religiosidade, de economia, de política e de sentido. Parece evidente que estes componentes, que constituem o próprio social, constituam uma ordem de realidade que foge às tentativas de objetivação das ciências naturais. Uma vez indicado que o social demanda uma abordagem científica diferenciada, surge a pergunta: Qual ou quais? Ladrière propõe que existem, em primeiro lugar, duas frentes de abordagem: pelo fenômeno humano e/ou pelo fenômeno social. Na última abordagem citada, ao invés de enfatizar os “entes”, pode-se utilizar a compreensão de “sistemas”. Assim, se evita as reduções ao biológico, ao psicológico, ao religioso, etc. Afirma o Ladrière: “Para que a análise em termos de sistemas seja utilizável, basta que se possa estabelecer uma analogia formal entre o funcionamento de uma entidade física complexa e o de uma unidade de comportamento, ou de uma unidade de interação social”. 65 Uma segunda possibilidade de abordagem científica ao fenômeno social poderia ser construída, desenvolvendo um instrumento original de análise, adaptado à própria natureza do objeto estudado, isto é, que pertence propriamente ao contexto da ação.66 Qual seria esse instrumento, ou melhor, esses instrumentos? Sem entrar no debate epistemológico detalhado da questão e de todas as suas implicações decorrentes, pode-se considerar o seguinte: qualquer metodologia deve gerar concepções concordantes. No entanto, como fundar uma metodologia de alcance 63. BRUYNE, Paul de; HERMAN, Jacques; SCHOUTHEETE, Marc de. Dinâmica da pesquisa em ciências sociais: os pólos da prática metodológica. Rio de Janeiro: Francisco Alves Editora S.A., 1997, p. 134. 64 Jean Ladrière (Professor da Universidade de Louvain), “Prefácio”, in: BRUYNE [et. al.], op. cit., p. 9. 65 Ladrière, in: BRUYNE [et. al.], loc. cit. 66 Ladrière, in: BRUYNE [et. al.], op. cit., p. 10..

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