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Rodrigo de Moraes Dellamea

JORNAIS NOTICIOSOS E SUA POSTURA MODERNIZANTE NO RIO GRANDE DO SUL DO INÍCIO DO SÉCULO XX.

Santa Maria, RS.

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Rodrigo de Moraes Dellamea

JORNAIS NOTICIOSOS E SUA POSTURA MODERNIZANTE NO RIO GRANDE DO SUL DO INÍCIO DO SÉCULO XX.

Projeto de trabalho final de graduação (TFG) apresentado ao curso de História, Área das Ciências Sociais e Humanas, do Centro Universitário Franciscano – UNIFRA, como requisito parcial para aprovação na disciplina de Trabalho Final de Graduação II.

Orientadora:

Prof.ª. Ms.Paula Simone Bolzan Jardim

Santa Maria, RS.

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Rodrigo de Moraes Dellamea

JORNAIS NOTICIOSOS E SUA POSTURA MODERNIZANTE NO RIO GRANDE DO SUL DO INÍCIO DO SÉCULO XX.

Trabalho Final de Graduação apresentado ao Curso de História – Área de

Ciências Humanas, do Centro Universitário Franciscano, como requisito parcial

para obtenção do grau de Licenciado em História.

_________________________________________________ Profª. Ms. Paula Simone Bolzan Jardim – Orientadora (Unifra)

___________________________________________________ Profª. Dr. Leonardo Guedes Henn (Unifra)

____________________________________________________

Profª. Dra. Nikelen Acosta Witter (Unifra)

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RESUMO

O principal objetivo deste trabalho foi reconhecer os fundamentos intelectuais que tiveram destaque dentro da sociedade sulina no início do século XX, realizando desta forma, uma análise sobre alguns jornais de época. Dentro destes, se destacam, o Correio do Povo e o Diário de Notícias, que estabelecidos em uma das principais cidades do estado – Porto Alegre - tiveram relativa força de circulação dentro do estado do Rio Grande do Sul, levando mudanças na em posturas sócias e na circulação de informações. Estes jornais, graças ao contexto sócio-cultural desta época, buscaram se estabelecer como jornais ‘neutros e imparciais’ na transmissão da notícia. Diversos fatores influenciaram na concretização deste pressuposto, pode-se destacar que, os jornais político-partidários, estavam relativamente envolvidos em rixas internas e que utilizavam de seus veículos noticiosos como ferramenta partidária, e não em algo, que deveria levar a informação para a população. Estes utilizaram de uma escrita ‘inovadora’ de uma postura social, com detalhes de um ‘refinamento’ intelectual para esta sociedade. Estes fatores influenciaram diretamente no desenvolvimento de uma nova linha editorial e de postura jornalística, que estava começando a se estabelecer no período. Através da força conquistada por estes, acabaram circulando por diversas parte do estado do Rio Grande do Sul, modificando o modelo jornalístico fixado no estado no início e boa parte do século XX.

Palavras-chave: Jornais. Novas Ideias. Modernidade. Rio Grande do Sul. Postura. ABSTRACT

The main objective of this study was to recognize the intellectual foundations that have stood in the southern society in the early twentieth century, performing in this way, ananalysis of some newspapers of the period. Among these, stand out, the People's Postand Daily News, which established one of the main cities of the state - Porto Alegre - hadrelative strength of movement within the state of Rio Grande do Sul, leading to changes inattitudes and partners dissemination of information. These newspapers, thanks to the socio-cultural landscape of the time, newspapers sought to establish itself as' neutral and impartial "in news broadcasting. Several factors influenced the implementation of thisassumption, it may be noted that the political party newspapers, were relatively engaged in infighting and they used their partisan news outlets as a tool, not something that shouldtake the information to the population . They used to write a 'novel' of a social attitude, with details of a 'refinement' intellectual for society. These factors directly influenced the development of a new editorial and journalistic approach, which was beginning to settle in the period. Through the strength gained by them, just hanging out different parts of thestate of Rio Grande do Sul, modifying the model established in the state of journalism at the beginning and much of the twentieth century.

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SUMÁRIO

Resumo... 04

Abstract...04

Introdução...06

1.Heranças do Século XIX...08

1.2. Esperanças que moviam a transição do Séc. XIX para o XX...12

2. Jornais e suas posturas...15

2.1. Jornais, as fontes de conflitos e ‘respostas’...15

2.2. Pensamentos impositivos e duvidosos dentro dos jornais...19

3. Novos exemplos de jornalismo...25

3.1. O novo estilo de jornal de Caldas Júnior e o Correio do Povo...25

3.2. O Diário de Notícia...32

4. Os fatores modernos que estavam dentro destes jornais...35

5. As formas de comunicação com a população...42

6. Considerações Finais...58

7. Bibliografia...60

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INTRODUÇÃO

Este trabalho buscou apontar alguns elementos que demonstram as transformações sofridas no início do século XX dentro do contexto sulino até meados dos anos 20, sob a repercussão de novos paradigmas sociais. Período no qual os jornais da época se colocavam como os portadores de uma postura social ímpar, de portadores de um discurso de ‘neutralidade e imparcialidade’ jornalística. Esse novo posicionamento foi sendo construído em detrimento das posturas político-partidárias anteriormente utilizadas nos jornais. Os periódicos eram usados como máquina partidária e eleitoral. Foi estudado o caso de dois desses jornais que se constituíram como ‘diferentes’: o Correio do Povo e o Diário de Notícias.

Para buscar tal esclarecimento, este trabalho procurou se focar numa análise teórica e metodológica sobre os pontos relevantes da estrutura dos jornais. Se focando sobre uma análise dos métodos de escrita e, nos focos jornalísticos destes jornais. Destacando alguns pontos relevantes relacionados ao contexto histórico, conjuntamente com as histórias destes jornais. Assim, demonstrando como estes jornais desprenderam-se dos órgãos políticos e que, gradativamente procuraram desprenderam-se vincular ao desprenderam-seu público leitor ao tornarem-se empresas de notícias.

A escolha deste tema foi selecionada tendo em vista as inquietações do pesquisador com os elementos do passado que, de certa forma, estão em conexão com os dias atuais, abordando o surgimento de posturas jornalísticas e como estas foram introduzidas para a sociedade estadual em determinado período. O discurso sob aspectos modernizantes, conjuntamente com uma nova concepção de empresas jornalísticas, auxiliaram para o surgimento de certo relevo. Destacando uma nova possibilidade discursiva temporal, e como esta fora apresentada para população.

Os capítulos foram abordados de maneira gradativa e histórica. No primeiro capítulo foram explorados os elementos do contexto político e econômico da sociedade sulina na virada do século XIX par o século XX. O capitulo dois mostra ao leitor, pontos relevantes no cenário jornalístico da época e como esta esfera se desenvolvia gradativamente.

A partir do terceiro capítulo em diante, abordou-se como e quem eram estes novos jornais, e porque a sua postura começa a representar tanta disparidade dentro desta sociedade. Fazendo na sequência uma análise tanto teórica de alguns elementos constitutivos do Correio do Povo e o Diário de Notícias, como de interação com os

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leitores através da estrutura e conteúdo da folhas. Na abordagem mais teórica e metodológica irá analisar diversas partes dos jornais, como conjuntamente com a sua escrita para demonstrar os fatores apontados como diferenciadores dos demais jornais de sua época.

Por fim, apontando alguns pontos relevantes encontrados nestes jornais, pode-se reconhecer o que representava ser possuidor desta tal imparcialidade jornalística. E como isto poderia influenciar, e provavelmente influenciava, na sua manutenção como jornal diferenciado, que poderia circular ‘livremente’ por diversos grupos sociais e de forma ‘isenta’.

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1. HERANÇAS DO SÉCULO XIX

“O poder mágico das palavras [...] capaz de, por si só, provocarem mudanças na sociedade” (FÉLIX, 1993, p.52).

No final do Século XIX e no começo do XX, algumas modificações que estavam ocorrendo nos setores administrativos no contexto nacional auxiliaram o Rio Grande do Sul a embarcar num posicionamento republicano e pretensamente mais moderno na sua postura política, cultural e social. Dentre as lideranças que assumiram o poder estatal, estava sob a imagem de Júlio de Castilhos alguns aspectos que viriam a se tornar em pontos principais e responsáveis pela ascensão dos princípios positivistas, tanto os aspectos da moral como em fatores intelectuais. O positivismo era um sistema de ideias que nortearam a atuação política e cultural do Estado com vistas a melhorar o seu futuro através de conceitos de ordem e progresso.

O positivismo, que em interpretações de Castilhos, propôs na contraposição da ordem em relação ao caos, na busca por anular alguns problemas que poderiam dificultar a manutenção das ‘regras’ gerenciais e abalar as estruturas sociais – pois isso inviabilizaria o desejado progresso. Assim, o positivismo castilhista fundamentou as ações administrativas do estado, selecionando diretamente os pontos que deveriam ocorrer algum tipo de mudança interna. Dentre os setores atingidos, o polo econômico foi um dos que sofreram as maiores modificações, pois este estava estruturado sobre o tradicional latifúndio e na posse da terra como forma de poder e prestígio social. As pessoas da elite que mantinham seu poder desta forma, mantinham alguns laços antigos aos princípios imperiais, onde se priorizava tanto a produção de cereais, como a exportação agropecuária (produções bastante rurais – atrasadas). Este setor assegurava sua força na região localizada ao sudoeste do Estado do Rio Grande do Sul, na denominada “Região de Campanha”. Esta, por ser fronteiriça e afastada dos centros mais urbanizados (que consequentemente se tornaram nos centros administrativos), era, por sua vez, uma região produtora de derivados das atividades com a terra, como produção agrícola e a criação de animais (carne, sebo, couro também para a exportação). Também existiam outros tipos de proprietários, aqueles que criavam mulas e animais de tração, sendo que estes eram, frequentemente, necessários para o auxílio da

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Região Centro-Oeste brasileira, que estava focada na produção cafeeira e necessitavam de alimentação e transporte para seus produtos.

Esse ‘’novo olhar’’ sobre o estado, proposto a partir da República (pelo governo castilhista progressista), volta-se desta forma, para a tentativa de modificação da sua produção econômica, para algo mais moderno, na esperança de realizar algum progresso no seu setor produtivo, buscando se vincular aos princípios da industrialização (fábricas, indústrias, centros urbanos – que mantinham sob sua sombra, os ideários de modernidade). Assim, aquelas cidades que possuíam algum caráter mais urbanizado, como por exemplo: Porto Alegre, Pelotas, Rio Grande e as zonas de imigração mais produtivas, que estavam gerando algum tipo de destaque, graças ao seu desenvolvimento, começaram a receber mais visibilidade e, consequentemente, mais investimento advindo do centro administrativo estadual. Algumas ideias relacionadas com as concepções mais modernizantes estavam ganhando espaço e maior repercussão dentro de diferentes cidades e de variados grupos sociais, na tentativa de superar o passado visto como arcaico.

O Brasil entrou neste embalo conjuntamente com os países de ‘primeiro mundo’, mas se auto intitulou como época de ‘regeneração’, onde a esperança de harmonia e progresso andavam de mãos dadas. Com o passado recente ‘sujando’ a história nacional, onde a Monarquia e o escravismo eram péssimas lembranças deste incômodo próximo e indesejado. Foi somente na procura de novos ícones nacionais a possibilidade de encontrar os exemplos da futura sociedade idealizada nacionalmente... (COSTA, 2007)

Desta forma, o grupo que acabou sendo prejudicado por estas novas propostas sociais assumiram um posicionamento de oposição a coligação que exercia a administração do Estado. Os oposicionistas, que denominados de Federalistas, entraram em conflito (tanto político como militar) pela disputa do poder governamental do Estado. O projeto federalista buscava, de certa forma, uma postura econômica mais liberal em relação ao do governo atuante, com menos intervenção estatal nas questões locais no interior, o que deixava mais espaço para o jogo político dos ‘coronéis’ para usarem livremente sua influência, independente do poder central, na defesa dos seus interesses políticos e econômicos. Os federalistas estavam embasados em teorias econômicas e políticas estadunidenses. Além de constituírem um grupo de força na região da campanha sulina, – esta que fazia fronteira com o Uruguai e a Argentina - conseguiam alguns tipos de proteção, como saída do país para evitar perseguição ou outro tipo de represália. Esses indivíduos que eram grandes proprietários de terras,

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donos de estâncias de criação animal e/ou agricultores, mantinham sua força principal, baseada na extensão de seu território e nas suas exportações de carne e seus produtos agrícolas.

No entanto, o partido que acabou por ascender e manter-se no poder (por um longo período de tempo) – os Republicanos – procuraram minimizar a influência do seu grupo rival. Agindo no cenário sulino através de uma política de forte intervencionismo estatal na economia regional, determinando como e onde deveriam ser colocados os investimentos monetários, que seriam direcionados aos novos setores urbanos e de aspecto mais moderno. Desta forma, foi possível realizar também um contraponto econômico, que lhes auxiliaria na diminuição deste poder rural que estava principalmente localizado nesta região da campanha, criando novas forças econômicas no estado, para sair desta postura de economia polarizada, ruralizada e “atrasada”.

A principal base econômica sul rio-grandense era a exportação de produtos agrícolas da região da campanha e de seus derivados - mais os charques da região litorânea, como Pelotas e Rio Grande. Julio de Castilhos procurou fomentar o investimento em outras zonas que estavam começando a criar destaque comercial. Assim as regiões de imigração (italiana e alemã) receberam incentivos, graças à produção de ‘novos’ artigos, até então não eram manufaturados em escala representativa dentro do cenário rio-grandense (como vinhos, artesanatos, conservas, comércio, pequenos negócios, entre outros), que acabaram por ganhar alguma visibilidade. Estas novas zonas produtivas aumentaram sua força econômica graças ao investimento setorizado realizado pelo governo estadual, que buscava quebrar a força da elite campeira, na criação de um grupo que poderia fazer frente econômica a estes - como setores de classe média que freariam o unilateralismo do polo econômico agro-exportador sulino.

Os federalistas que procuravam disputar o controle do poder estadual, contra Castilhos, acabaram por sublevar-se no conflito armado de 1893, a Revolução Federalista, que acarretou em um confronto direto, com diversas mortes para ambos os lados, cuja vitória foi republicana. Esta guerra acabou por criar posteriormente traumas na população, pela tamanha agressividade utilizada por ambos os lados, e, assim, na demonstração da força que poderia ser usada pelos que estavam governando o estado.

Os setores urbanos estavam se constituindo como representantes da ideia de progresso que o Brasil buscava construir, na procura de suplantar a ideia de país

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atrasado, vinculado ainda com a imagem de sociedade rural e com fortes traços de escravismo. Os empreendimentos industriais e agroindustriais em núcleos urbanos gradativamente começaram a ganhar força e, consequentemente, mais peso social. Foram diretamente impulsionados pelo movimento modernizante dos líderes políticos republicanos e acabaram por gerar novos setores econômicos e alguns novos grupos sociais (os grupos de proletariados industriais, grupos de profissionais liberais que giravam em torno destes centros industriais, dentre outros trabalhos urbanos que surgiram neste contexto). Com o passar dos anos, estes visavam a algum tipo de estabilidade econômica e a alguns direitos mínimos. Com uma maior circulação de pessoas em algumas das cidades-chave, aumentava também a circulação de ideias mais modernas, que acabaram tendo uma maior aceitabilidade dentro destes novos setores, que, gradativamente, ajudaram na modificação de alguns aspectos culturais e sociais desta população urbana.

Os trabalhadores urbanos buscavam e utilizavam de algumas ferramentas para a sua introdução dentro do novo cenário que estava em pleno desenvolvimento dentro das cidades. Através da utilização dos jornais, é que estes auxiliam na sua ampliação e buscavam maior repercussão de aspirações sociais, criando algumas formas para que as suas ideias aumentassem a área de circulação e acabassem por encontrar outro nível de reverberação nestas cidades. Como no exemplo do jornalista e membro ativo de lutas intelectualizadas em prol da classe trabalhadora e operária, Antônio Guedes Coutinho (1868-1945). Um personagem que se utilizava do auxílio do jornal em que participava como editor, o Echo Operário, para a circulação de questionamentos e pensamentos diversos, como lutas sociais, reflexão sobre posturas socialistas, marxistas, darwinistas, positivistas, dentre outras, além de utilizar este jornal, como um veículo fomentador de movimentos sociais.

Além deste, existiam uma grande quantidade de jornais e, estes podiam ser: políticos, noticiosos, partidários, na forma de pasquins, panfletos e afins. Quando estes (jornais) conseguiam conquistar algum espaço, eles buscavam aumentar a importância e sua repercussão social. Alguns jornais, que tinham a finalidade de serem político-partidários e/ou reivindicatórios, eram utilizados para defender, tanto os seus princípios de fineza intelectuais, como para atacar os grupos que criticavam as suas ideias de conjunturas sociais e princípios intelectuais existentes.

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Setores da população, na procura de serem ouvidos e ouvirem, e de demonstrar auxílio aos seus ‘amigos’ próximos em diversos assuntos, utilizavam dos jornais que estavam a se estruturar nesta época como uma ferramenta de grande relevancia para a circulação de noticias, ideias, posturas sociais, fonte cultura.

Quando as pessoas que sentiam na pele a transição do século XIX para o XX, ficavam extremamente satisfeitas de terem participado e vivenciado o século XIX, que era denominadas de Século das Luzes, sendo as grandes invenções, inovações, conquistas, ideias, modificaram significamente tudo o que era certeza e poderiam construir novas e possíveis sociedades, mas o problema não era o passado nem o futuro, que alimentava e incomodava era o presente, cheio de problemas, vergonhas, defeitos, e estes eram atacados provocados e denunciados pelos capazes de arriscar-se e com alguma voz que possa ressonar. (COSTA, 2007)

Então as pessoas precisavam de veículos para a repercussão de suas opiniões e os jornais se constituíram, assim, nos vetores da circulação de informações, posturas, ideias, notícias, posicionamentos, críticas e fatos da realidade. Fazendo com que alguns termos existentes no interior do mundo intelectual, conseguissem alcançar a população ‘leiga’, transmitindo para estes, além das novas ideias, as principais informações que existiam no mundo moderno, tanto próximo (Estado e no Brasil) como distante (Europa e os EUA). Nesse sentido, a popularização do jornal foi bastante responsável pela disseminação de novas interpretações de mundo, de concepções de progresso, de avanço social, direitos, deveres, posturas, enfim, uma gama extremamente significativa de ideias. Constituindo em fontes fundamentais para o desenvolvimento do mundo urbano e a formação dos grupos que compunham este universo.

1.2 Esperanças que moviam a transição do Séc. XIX para o XX

Mas existia o novo século que se surgia à frente, onde as possibilidades estavam presentes, e o Brasil não ficaria de fora destas possibilidades de conquista das inovações e progressos sociais. (COSTA, 2007)

O Brasil, mesmo que tardiamente, conseguiu realizar grandes modificações na sua estrutura política, na procura de se aproximar no que existia tais países ‘desenvolvidos’. Já existia uma onda de mobilizações que vinham desde meados do século XIX, a respeito da imagem sobre a escravidão, e de como ela estaria vinculada a um fator determinante na manutenção da sociedade emperrada num atraso ‘evolutivo’. Seria

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graças ao poder político-econômico exercido por uma minoria latifundiária, que acabava limitando o progresso da realidade econômico-social brasileira, deixando com que o avanço tecnológico-industrial ficasse distante. Com a transição do momento abolicionista-republicano, a sociedade brasileira estava bastante esperançosa com o seu futuro, que possivelmente demonstraria uma maior igualdade entre os seus indivíduos, indiferentemente de sua cor e classe social, já que estes acabavam por ser o grosso da constituição da população nacional. Apesar de que... “Assim as camadas que estavam relacionadas com os populares, que possuíam um estilo de vida e cultura ‘diferentes’, acabaram por se transformaram em um obstáculo para o progresso” (COSTA 2007). Somente com uma tutela governamental e um embranquecimento da população, é que a sociedade brasileira poderia alcançar os países de primeiro mundo – os ditos desenvolvidos.

Nesse ínterim, os imigrantes acabaram recebendo uma possibilidade, tanto social como cultural, de participar da estruturação das próximas gerações desse Brasil moderno. Frequentemente, os imigrantes alemães e italianos, que entraram no Brasil com maior força que as outras (japonesa, russa, chinesa, dentre outras), foram setores que receberam maior atenção neste período transitório do Império para a época republicana.

Estes grupos minoritários (imigrantes, jovens empresários, pequenos proprietários, operários) não tinham muita força individualmente - foi sobre a responsabilidade dos líderes políticos, que ganhavam espaço neste ‘novo’ cenário brasileiro, que trouxeram para si o direcionamento da sociedade, deixando com que alguns setores ganhassem maiores relevâncias do que outros. Mas não foi somente na utilização da população estrangeira que devia estar colocada a responsabilidade deste progresso social. Assim, no Rio Grande do Sul, como vemos, buscou-se a utilização do pensamento positivista (de origem francesa), com intuito de pensar a população com seus deveres em relação ao todo social. A esperança em relação ao progresso era pregada pelo positivismo como uma das abordagens que merecia mais relevância dentro deste novo contexto emergente. Na busca de algo que poderia se apoiar para manter a sociedade numa constante sequência evolutiva, ficando assim, totalmente setorizadas dentro de uma vanguarda pensadora, as responsabilidades de informação e na redistribuição destes pensamentos. Contudo, como os líderes conversariam com a população?

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Através dos jornais, fazendo então com que estes assumissem, de certa forma, o papel de órgão responsável por levar diretamente a uma grande quantidade de pessoas, os fatos, os discurso, as ideias, para que, com isso, compreendessem e reconhecessem nesta realidade proposta pelas lideranças governamentais, um destino comum e natural de uma sociedade rumo a modernidade. Os jornais político-partidários tornaram-se espaços onde estes líderes, encontravam e refletiam sobre si mesmos e seus antagonistas, dentro deste amalgamado de grupos e indivíduos (RÜDIGER, 2003). Constituindo em ferramentas de suporte que lhes auxiliavam nas interpretações sobre a realidade, fontes de conhecimento e de repercussões culturais. Assim, os princípios de modernidade que estavam agindo diretamente sobre a população, como fontes de esperança visavam ao progresso social, tanto em parâmetros econômicos como culturais. Afirmando esse caminho como a forma racional de comunicação entre a população e seus líderes na construção do então futuro almejado.

Como afirma COSTA, (2007) “Estas novas ideias debruçavam-se sobre o século XX com uma grande face idílica e otimista”. Mesmo quando a liderança que se exercia no estado agisse de forma ditatorial, deixando boa parte da população à margem das decisões, numa aparente ‘falta’ de consciência social isso era apresentado como uma medida necessária: “Assim surgem-se os dois lados da moeda de do ‘processo civilizatório’ o medo e o custo do progresso, com seus ganhos; e de outro lado o autoritarismo e a exclusão como medidas disciplinares.” (COSTA, 2007)

A difusão do pensamento positivista no Rio Grande do Sul aumentou gradativamente com o surgimento do PRR (Partido Republicano Rio-Grandense), em 1882, criando um eixo de atuação bastante relevante que foi a fundação do jornal político-partidário, o A Federação, que funcionou como uma ferramenta na circulação de ideias e de contato com a população. Júlio de Castilhos se firmou como pensador e político, que, com relevância dentro do contexto brasileiro deste momento, assumiu a inteira responsabilidade por ‘tutelar’ o Rio Grande do Sul, de modo que fosse um estado em direção ao desenvolvimento, tanto cultural como econômico, fazendo com que o Estado desta forma se destacasse pelo seu responsável, que assumira a frente política e representativa do governo. Tanto na sua participação próxima ao centro do poder, como na fundamentação dos primeiros anos de República, onde a sua repercussão e a circulação de princípios dentro território nacional colocaram a sociedade sulina como um estado vanguardista no tema do positivismo.

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2. JORNAIS E SUAS POSTURAS

2.1. Jornais, as fontes de conflitos e ‘respostas’

Como o jornal foi uma herança deixada pela Família Real portuguesa, com a sua introdução dentro do cenário brasileiro, este tipo de documento acabou destacando-se por ser relacionado aos fatos do Estado. Com os passar dos anos, tanto os jornais como o contexto político, acabaram se mesclando dentro de uma abordagem que colocava neste primeiro momento, a responsabilidade pela disseminação dos conceitos políticos exercendo uma função pedagógica (LUSTOSA, 2003). Então aquelas pessoas que tinham alguma instrução nas letras, acabaram se tornando os principais responsáveis por receber e repassar as informações vindas tanto dos centros administrativos, como de fora do país. As informações políticas e sociais chegavam para os responsáveis pela reedição - os tipógrafos, de forma que estes deveriam selecioná-las e retransmitir para a população.

Assim, com a introdução dos jornais no Rio Grande do Sul, devido a alguns fatores já mostrados, recaíram sobre estes órgãos uma perspectiva vinculada a empresas jornalísticas com posturas político-partidárias. Estes ocuparam um papel relativamente importante como um dos principais meios responsáveis pela disseminação das ideias relacionadas com fatos que ocorriam dentro da sociedade sul rio-grandense, como fora do estado e do país num todo.

Assim, a estrutura jornalística acabou por destacar a imagem dos tipógrafos. E estes se afirmavam como personalidades que constituíam um grupo ímpar e de repercussão social, pois, eram estes indivíduos que estavam frequentemente conectados com as notícias e os pensamentos políticos. Então, os tipógrafos frequentemente recebiam algumas ameaças de retaliações e em certos casos, até ataques pessoais - chegando a alguns atentados armados contra suas vidas (RUDIGER, 2003). Existiam também alguns ataques aos centros que produziam esses jornais, que se colocavam como portadores do pensamento social, já que estes eram a principal ferramenta disseminadora das ideias e questionamentos contra ou a favor da elite político-administrativa. Estes atos repercutiam como um aviso ao pensamento crítico, diminuindo, em certa medida, os movimentos sociais contra os líderes governamentais. Então, havia jornais que assumiram o papel de meios responsáveis pela circulação de pensamentos críticos-políticos.

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Dentro de um curto período de tempo, era necessária uma postura crítica em relação aos fatos e as conjunturas políticas dentro do corpo produtivo destes jornais, fazendo assim, com que estes se colocassem como praticamente um meio ‘preparatório para a vida política’. O jornal tornou-se um veículo auxiliar no destaque de alguns nomes de jovens personalidades, frente a uma população leiga. Neste período, o analfabetismo era uma realidade que conseguia se colocar em uma grande porção da população, sendo uma realidade vigente até meados o século XX.

Os alfabetizados figuram como os que tinham conhecimento relativamente ‘superior’ e instruído, em relação aos fatos sociais que circulavam internamente dentro destas sociedades. Assim, os que tinham alguma capacidade discursiva e o conhecimento sobre os fatos, ficavam em uma posição superior à frente dos demais, realizando uma conexão entre estes e os líderes. Esse era o caso dos que trabalhavam nos periódicos: “Após a revolução, não foram poucos os tipógrafos que conquistaram cargos políticos, de modo que logo a propriedade de um jornal se tornou meio de ascensão política” (RÜDIGER, 2003, p.35).

Com a introdução dos tipógrafos dentro do cenário político urbano, o seu trajeto foi se constituindo como uma carreira política dentro da sociedade do sul rio-grandense onde o determinado reconhecimento social, conseguido através dos meios midiáticos, facilitava tanto a estes, como ao jornal, sua posição de representantes noticiosos. Gerava status e poder político para os que tivessem envolvidos com um discurso de não agressão aos governantes ou com a doutrina partidária dos representantes do estado.

A diversificação das regiões rio-grandenses se verifica na variedade de suas nuanças econômicas, políticas e culturais. Na região norte do Rio Grande do Sul, que foi tardiamente povoada por imigrantes alemães e italianos, houve certo desenvolvimento econômico e social tardio; o Sul, na área fronteiriça, que possuía um grande contato com o Uruguai e a Argentina nas relações comerciais e de subsistência; no Leste, zona litorânea, que se constituiu como região portuária - responsável pelo trânsito de produtos e com uma imagem de vanguarda da sociedade - pela sua recepção de conteúdos diversos, pela circulação de pessoas e pela disseminação das ideias que circulavam pelo exterior e como ponto de saída das mercadorias para o interior; no Oeste, a chamada campanha, mantinha uma força vinculada ao latifúndio e suas exportações de derivados de animais (todas as regiões apresentadas de modo bem simplificado), que representava a parte participativa tanto economicamente como

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politicamente do estado sulino. Assim, o estado era estruturado em comunidades socialmente e com bases econômicas bastante diversificadas. Formando grupos que se mantinham posicionados a projetos diferentes para liderar a sociedade colocando-se tanto como antagonistas ao poder governamental, como em favor destes na busca algum tipo de privilégios, interesses pessoais e/ou comunitários, que os favorecessem na busca pelo desenvolvimento regional. Fazendo assim com que a sua postura política e social acabasse por viabilizar benesses econômicas ou conflitos políticos em função dos seus contatos político-sociais.

Os jornais limitados as suas regiões de atuação, necessitavam atuar de forma bastante singular dentro das diversidades sociais sul rio-grandenses. Mas o aumento da sua repercussão diretamente vinculada às questões políticas só veio quando:

Os partidos encarregaram-se de montar suas próprias empresas e lançar periódicos pelos quais assumiam inteira responsabilidade. Nesse contexto, surgiram as redações, os jornais começaram a ter uma organização editorial e se consolidavam a racionalidade em seu funcionamento. Os políticos foram progressivamente tomando o lugar dos tipógrafos na função social de jornalista. (RÜDIGER, 2003, p.35)

Alguns jornais, assumindo a responsabilidade pela elaboração e manutenção de uma postura mais politizada, conseguiram se efetivar como órgãos compactuados com os partidos e como ferramentas para o auxilio para a disseminação de pensamentos políticos. Tornavam-se relevantes para a manutenção do poder frente aos diferentes grupos sociais, dentro deste contexto de diversos centros populacionais que existiam no interior do Rio Grande do Sul. Este foi um fato que ocorreu com certa frequência- existiram diversos jornais políticos, que se mantiveram por um curto período de tempo e em determinados centros sociais, especialmente em razão das eleições, para após este período, cancelarem a sua oficina e deixavam de existir (RÜDIGER, 2003).

Como sempre, dentro de um contexto comum, algumas cidades acabaram por conquistar uma maior relevância política frente às demais, e, com isso, estes órgãos midiáticos que estavam fazendo frente a determinados políticos ou compactuando com estes, tornaram-se os principais fomentadores de pensamentos relacionados com posicionamentos políticos. “De qualquer modo, o jornalismo ganhou, com a forma político-partidária, um conceito tornando-se meio de formação doutrinária de cada partido.” (RÜDIGER, 2003, p.36). Quando o PRR havia ampliado sua repercussão

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política, e, quando Júlio de Castilhos assumiu a direção do jornal ‘A Federação’, o estilo jornalístico-partidário, conseguiria voltar a se estabelecer como, principal ferramenta de comunicação ideológica com o restante da população estadual. Como já foi falado, o jornal, para este líder político, foi de grande relevância, pois ele utilizou deste para a disseminação de seu pensamento, que estava vinculado com o pensamento doutrinário positivista. Nesse veículo, as notícias estavam embasadas numa postura político-ideológica, e eram selecionadas as que tivessem de acordo com o discurso bem estruturados e de princípios dogmáticos. Deixando as notícias que acabaram sendo colocadas em segundo plano frente a esse tipo de discurso doutrinário.

Assim, os jornais assumiram uma postura de veículos que dinamizavam a circulação de informação vinculada a um pensamento partidário.

Na verdade, o jornalismo político-partidário desenvolveu a concepção de que o papel dos jornais é essencialmente opinativo, visa veicular organizadamente a doutrina e a opinião dos partidos na sociedade civil. Os jornalistas são os responsáveis pela tarefa de transmitir de forma criteriosa a doutrina dos partidos e dirigir a opinião pública. (RÜDIGER, 2003, p.37).

O jornalismo no Rio Grande do Sul acabou assumindo, desta forma, uma responsabilidade de ser um meio de disseminação do conhecimento frequentemente vinculado a alguma postura intelectual, de informar sobre os fatos, e de fator de representatividade política de relevância frente à sociedade. Mesmo dentro de um sistema com certa estratificação social, os responsáveis, tanto pela administração como pela escrita jornalística, acabaram se ‘autointitulando’ como frentes representativas da população, já que estes não possuíam voz ativa frente às lideranças governamentais.

As pessoas instruídas estariam ligadas à imagem dos que tinham algum conhecimento mais apurado, uma postura mais bem definida e participação embasada dentro desta sociedade. “Porém, o jornalismo continuou sendo uma atividade precária. Os leitores eram limitados pela falta de escolarização, pelo baixo poder aquisitivo e pelo próprio sistema escravista vigente até 1888.” (RÜDIGER, 2003, p.38).

Assim, essa elite jornalística acabou se colocando como a disseminadora de pensamentos para a coletividade, desta maneira, recaindo sobre estes, que eram os portadores e principais responsáveis pela imagem tanto apaixonada como odiada dentro dos setores políticos, e não mais somente vinculados as notícias. Com o tempo, os jornais doutrinários acabaram por perder força graças à falta de repercussão social, com a população e seus ideais, fazendo com que novos tipos de discursos acabassem por

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interessar a população, que estaria saturada de ideologias (graças a uma grande quantidade de jornais partidários, voltados para o questionamento e conflitos ideológicos) e carente de informação (que havia se tornado pontos relevantes para a construção factual dos jornais), graças a manutenção de disputas políticas e um jornalismo tendenciosos e crítico partidário.

Com o investimento e o desenvolvimento econômico do estado, outros grupos e setores começaram a interessar-se pelos meios midiáticos, mas não somente por motivos comunitários e sim financeiros, pois a sua intenção era de aumentar a sua participação dentro dos diversos setores econômicos, sociais e políticos.

Com o passar do tempo, começaram a circular reflexões sobre as posturas de jornais com ideias vinculadas com a liberdade ideológica, aos aspectos sobre uma neutralidade noticiosa, buscando se desvincular completamente da imagem de jornais voltados para ideais próprios, para a parte das notícias e acontecimentos de saliência social.

Na realidade, porém, problema não era o conteúdo dessas tendências, cujo padrão noticioso estava em ascensão, mas a forma de seu desenvolvimento, que só se viabilizou quando os jornais se tornaram verdadeiras empresas. Ou seja, quando os pequenos negócios entre tipógrafos, jornalistas e comerciantes, geralmente de caráter diletante para seus financiadores, transformaram-se em empreendimentos com finalidade lucrativa declarada e manifesta, cujos rendimentos eram reinvestidos capitalisticamente no próprio negócio. O Correio do Povo foi o primeiro jornal a realmente tomar esse rumo, que possibilitou à imprensa noticiosa vencer seus obstáculos e constituir um novo regime jornalístico no Rio Grande do Sul. (RÜDIGER, 2003, p.72)

2.2. Pensamentos impositivos e duvidosos dentro dos jornais

Desde 1856, os jornais no Rio Grande do Sul estavam vinculados com princípios intelectuais que circulavam externamente ao contexto sulino, como por exemplo, o jornal Guahyba, que publicava algumas novas ideias que estavam circulando na Europa. Onde, o Positivismo estava se constituindo como uma filosófia moderna de interpretação sobre a realidade social, para as pessoas lá estavam inseridas.

O papel do jornal era de fomentador e disseminador de notícias internas e externas, e consequentemente algumas exaltação de novas indagações, realizando assim, um primeiro contato com novos conhecimentos de alguma relevância.

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Nos momentos mais próximos ao da Proclamação da República, os jornais político-partidários constituem uma grande força representativa tanto na política como no campo intelectual existente no contexto do Rio Grande do Sul. Existiam aqueles partidos que lutavam pela administração do estado e pela conquista de mais espaço para a ampliação de sua força para a manutenção de forma “civilizada”, o que acabava exercendo influência direta sobre o voto.

Em 1884, o PRR (Partido Republicano Rio-Grandense) passou a editar o jornal A Federação, órgão de propaganda republicana que tinha como epígrafe o lema positivista “Ordem e Progresso” e no qual eram frequentemente as referências ao pensamento de Auguste Comte. Inicialmente dirigido por Venâncio Aires, logo o jornal passou às mãos de Júlio de Castilhos, que conferiu-lhe um perfil ideologicamente mais definido e utilizou-o como um suporte para conquistar crescentemente ascendência sobre a organização partidária. (PEZAT, 2007, p. 38).

Com a fundação do “A Federação” que direcionou os dogmas do pensamento positivista, para uma forma de postura mais intransigente sobre a sociedade sulina. Estimulando com que esta acabasse por incorporar diversos pontos deste pensamento positivismo ortodoxo e cientificista de corrente francesa, nas suas posturas e pensamentos corriqueiros. Assim, Júlio de Castilhos encarnou em si, a imagem do ‘personagem padrão’ e que deveria ser o exemplo de ‘homem ideal’ para o ambiente sulino. Todavia:

A gagueira de Júlio de Castilhos dificultava sua atividade de propagandista. Embora tenha conseguido contornar tal problema e se tornando um orador razoável, estava distante do brilho de Silveira Martins, principal liderança liberal do Rio Grande do Sul e o grande adversário do PRR, que notoriamente era um personagem carismático e grande orador. Tal aspecto não é destituído de importância, se considerarmos a enorme importância que o domínio da oratória tinha na sociedade brasileira do século XIX (CARVALHO, 2000, p.123). Desta forma, Castilho precisou compensar através da escrita as deficiências de oratória que possuía. Para tanto, foi fundamental sua posição de editor e de principal redator do jornal A Federação durante o período de propaganda republicana. (PEZAT, 2007, p. 40)

Mas não era somente a sua demonstração de seguidor duma linha de pensamento que o deixava vinculado a uma vertente racional de princípios progressista. O Positivismo conseguiu conquistar repercussão no Estado, graças tanto a sua disseminação pelos jornais, como pelos livros que ganharam espaço dentro da alta sociedade contemporânea (1850-1900), devido ao longo período de tempo em que estas

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ideias foram popularizadas, com intuito de que esse pensamento poderia (e deveria) nortear a sociedade, para novos dogmas e para o avanço de suas posturas sociais.

Mas dentro dos adeptos destes pensamentos, existiam entre eles algumas divergências internas entre sob as verdadeiras concepções do positivismo - grupos mais ortodoxos que se mantinham relação direta com a Igreja Positivista e se colocavam como representantes oficiais do pensamento de Comte e como verdadeiros representantes da Religião da Humanidade.

Entre janeiro e fevereiro de 1899, Miller e Dinarte (representantes da IPB – Igreja Positivista do Brasil) mantiveram uma intensa polêmica através das páginas da Gazeta da Tarde e do Correio do Povo, na qual Miller procurou defender a linha de interpretação do positivismo adotado pela IPB. (PEZAT, 2007, p. 50).

Esses conflitos intelectuais acabavam chegando à população e colocando algumas dúvidas sobre as posturas de seus líderes intelectuais, ocasionando em pensamentos como, por exemplo: de como deveria ser o seu posicionamento como cidadão que procurava ser politicamente correto e embasado, nas questões pessoais e governamentais. Mas de forma constante, esta população acabava recebendo informação dos líderes e intelectuais, que buscavam exemplificar como “realmente deveria” ser a sua postura, tanto política como intelectualmente e como esta deveria ser norteada. Mantendo a sobre estas personalidades a ‘tutela’ exercida por estes grupos elitizados.

Assim, entre os positivistas ficava confuso quais deveriam ser os aspectos de maior relevância a serem exaltados, dentre os pontos norteadores para o estado do Rio Grande do Sul: o idealizado e confeccionado por Julio de Castilhos (Positivismo Castilhista), ou a dos ‘verdadeiros’ pensamentos representantes das ideias de Auguste Comte no Brasil (vertente da IPB)? Alguns grupos de oposição dentro do contexto sulino utilizaram deste confronto ideológico, com uma possibilidade de aparecer e trazer novas ideias frente a sociedade, deixando com que estes confrontos se tornassem ‘armas’ ideológicas que possibilitassem o surgimento de algum tipo de destaque.

O apelo formulado pelos simpatizantes da religião da Humanidade em Porto Alegre não passou despercebido pelos oposicionistas, como revelam os artigos publicados durante o mês seguinte no jornal A Reforma. Desse modo, no dia 8 de março de 1899 foi publicado um artigo em que o “grupo de doutores comtistas” era acusado de promover uma seita feita matematicamente a partir da ciência e que utilizava de astúcia para captar a

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simpatia popular. Indo além, o articulista anônimo solicitava ao povo sul rio-grandense que não atendesse àquele apelo, sugerindo que este soasse ao Apostolado Positivista a casa que o governo do estado havia adquirido para ele quando de sua saída da presidência. (PEZZAT, 2007, p. 51)

Julio de Castilhos soube utilizar bem seus contatos para fomentar uma resistência contra o principal partido oposicionista, que se colocava como um forte antagonista ideológico. Assumindo uma postura de exemplo para a sociedade sulina, Castilhos incorporou em si, os aspectos mais relevantes da então ideologia Positivista, fazendo com que sua imagem estivesse diretamente vinculada com os pontos que a sociedade deveria assumir para a busca de uma simetria social ‘desenvolvida’.

Julio corporificou os pontos cruciais do ideário positivista se colocando como o representante personificado e exemplar de um estilo de indivíduo padrão para esta sociedade. Mas problemas pessoais (gagueira) fizeram com que ele utilizasse fortemente das fontes escritas (jornal) para demonstrar os seus pensamentos frente à sociedade, deixando com que seus antagonistas acabassem por ficar sempre vinculados como retrógrados e com os pensamentos mais voltados aos exemplos de ideologias fortemente monarquistas.

Desde a época Imperial, o Brasil era preocupado com a repercussão de sua imagem nos exterior, onde a imagem de bárbaro dos trópicos era intelectualmente e adjetivamente uma vergonha para os líderes nacionais. Mesmo mostrando inovações tecnológicas na produção do café, era a escravidão, os índios, as frutas os ‘’objetos’’ que chamavam mais a atenção nas antigas feiras internacionais em que o país era convidado. (COSTA, 2007)

Assim, Castilhos fez com que o jornal “A Federação” acabasse assumindo o ponto chave da introdução do pensamento de seu governante frente à população.

Após um confronto que acabou em batalha direta, ocasionando perdas para ambos os lados, na então Revolução Federalista, em 1893, o partido do PRR conseguiu se estabelecer como a mais forte (e única) corrente vinculada a ideias administrativas, capazes de se manter o governo de forma ‘segura’ e em constante crescimento.

Quando Castilhos indicou Borges de Medeiros para concorrer à presidência do Rio Grande do Sul, no final de 1897, estava claro que este se submeteria inteiramente às diretrizes traçadas por aquele, que continuaria com o comando do jornal, do partido e de sua bancada. (PEZZAT, 2007, p.55)

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Assim, como a parte destacada, a política administrativa estava passando por um momento que uma única corrente de pensamento estava se colocando como a principal responsável e única capaz (através da uma forte repressão) de direcionar a sociedade para o tão esperado progresso. Mas, com o passar do tempo, a população vai gradativamente se modificando e recebendo novas influências vindas do exterior, trazidas pelos jornais, revistas, livros, dentre outras fontes, que se mantinham como fontes culturais para essa sociedade. Essas influências acabaram modificando algumas de suas posturas e princípios pessoais. Diversos fatores fundamentaram estas mudanças, fazendo com que esta sociedade ‘livre e esperançosa’ buscasse no futuro, algumas possibilidades de mundo diferentes, dentro das novas vertentes vindas da Europa, para utilizarem como questionamentos e um comparativo as diferentes ideias elaboradas pelos intelectuais, governantes e lideranças nacionais desta época.

A sociedade civil estava começando a se complexificar nesta época; havia novas necessidades culturais e os rudimentos de uma camada intelectual na sociedade... As preocupações com a cultura, as ciências e as humanidades se encontravam em embrião, fomentando a procura por material de leitura e atualidade capaz de desenvolvê-lo... (RÜDIGER, 2003, 23S. 59-60)

Quando alguns jornais assumiram o papel de empresas jornalísticas, foram sendo forçadas a realizarem mudanças drásticas em sua postura jornalística, devido às dificuldades que existiam na circulação dos periódicos, tanto pela falta de compradores (analfabetismo), como pelo preço relativamente alto que essas empresas cobravam sobre as suas folhas (já que seu sustento não estava na venda diária, e sim nos blocos de vendas a longo prazo – assinaturas mensais, semestrais, etc). A fundamentação em empresas jornalísticas é que vai gerar estes ‘novos jornais’. Nesse sentido, o discurso do Jornal do Commercio, que se colocava com um órgão que buscava, se desvincular da ideia partidária, é um exemplo: “Nós nos contentamos de ser o órgão do público, que precisa e quer a verdade, tal qual ela é, e não o desabado de ódios sem significação, à palavra de paixões alheias e interesses individuais.” [(Jornal do Commercio, Porto Alegre, 22/1/1879] (RÜDIGER, 2003. Pg. 61)

O jornal Correio do Povo (que aqui será trabalhado mais profundamente nos próximos capítulos, com a sigla CP; conjuntamente com o Diário de Notícias, com a sigla de DN) foi o responsável por ocasionar mudanças mais drásticas dentro do

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contexto cultural jornalístico sulino, no momento de transição entre o séc. XIX e XX, fazendo com o jornal acabasse por receber uma nova carga de significância.

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3. NOVOS EXEMPLOS DE JORNALISMO.

3.1. O novo estilo de jornal de Caldas Júnior e o Correio do Povo.

A partir deste capítulo, iremos destacar a abordagem histórica e teórica dos momentos, e fatores relevantes para o selecionamento destes objetos que serão abordados neste trabalho. Dentro das teóricas, Verón que realizou a analise sistemática sobre a semiótica da enunciação – as formas de dizer, os termos do discurso; indagando, dentre outras questões, como o título do jornal, dentro de uma sequência determinada, e como este, poderia influenciar diretamente sobre o resultado da leitura em relação ao ‘restante’ do jornal.

Utilizaremos este princípio para fazermos uma análise da criação dos nomes dos jornais, buscando entender os significados de seus termos. Veremos então, que a palavra ‘Correio’, vem há bastante tempo sendo relacionada com notícias. Estas, por seu trânsito em círculos pessoais, com informações privadas e de contexto familiar, acabam diretamente ligadas à comunicação. Assim, todas as notícias importantes que chegavam para os indivíduos eram através do correio, e este se mantinha como órgão sério em sua função e responsabilidade. Tinha funções mais amplas que o simples transporte de notícias, deveria ter responsabilidade com a entrega na íntegra de informação – de caráter desagradável ou uma boa notícia.

“Do Povo”, é termo ligado com os aspectos de caráter comum. Fatores circulantes e de proximidade com o interesse da sociedade, sem ser algo voltado para um público específico, mas sim uma ideia de produção para uma população em geral. Assim sendo, o jornal se apresentava como um veículo com uma imagem de órgão noticioso e de instituição responsável pela circulação de notícias de interesses populares. Uma autoimagem popular (“Do povo”) frente a uma sociedade elitizada, que ia além dos interesses e dos ideais de seus governantes. Construindo uma proposta voltada para a circulação e informações de fácil análise, conjuntamente com uma escrita mais direta associada ao fato do interesse popular, com notícias de caráter mais ‘imparcial’ e menos personalista.

O CP (Correio do Povo) buscou se afirmar como um jornal sem vinculação política, demonstrando uma ação voltada para a ideia de bem público. Um jornal feito para a sociedade e não somente com a intenção de ficar limitado há uma fração da população.

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...Caldas Júnior para Mário Totta:... – quero fundar em Porto Alegre um jornal diferente de todos os que temos tido até aqui. Tenho para tanto, já os recursos – 20 contos de réis; já obtive a aquiescência do Azurenha para trabalhar comigo na redação, venho pedir a tua, que sei não me negarás. E vamos fazer um grande jornal no Estado. Sem partidarismo, um jornal para as massas, livre, independente, que não há de ser lido apenas por indivíduos desta ou aquela facção, mas por todo o mundo. Um jornal, enfim que não será escravo de políticos, nem politiqueiros. Um jornal no bom sentido. (Transcrito de entrevista de Mário Totta publicada no CP de 1º de outubro de 1929) (GALVANI, 1994, p.27-28).

Dentro deste modelo, houve a necessidade de se desvincular dos aspectos partidários que estavam presos a história de seu fundador Caldas Júnior, para então se colocar em nova posição de proprietário e jornalista responsável. Para Caldas Júnior, que já possuía herança jornalística partidarista e diretamente contra os órgãos governamentais, vindo do jornal de Gaspar da Silveira Martins – A Reforma –, existia o receio de que algumas ideias pudessem associar sua imagem a algum pensamento revolucionário, contrário ao governo e a favor de princípios monarquista (já que Silveira Martins, principal adversário de Júlio de Castilhos, sofreu repressão por publicar um jornal de oposição “A Federação”).

Graças ao seu histórico,

Francisco Antonio Vieira Caldas Júnior... Foi revisor e noticiarista de “A Reforma” de 1885 a 1888, funcionário da Assembléia Provincial do Rio Grande do Sul até 1889, depois diretor de “A Reforma” até que deixou esta de circular em 1891, passando então para o “Jornal do Comércio”, onde ficou até agosto de 1895. (GALVANI, 1994 p.26)

Com isso, a Caldas Júnior poderiam ser atribuídas algumas ideias partidárias, todavia com a criação do seu jornal buscou uma nova representatividade mais moderna no jornalismo, na afirmação de uma ‘neutralidade política’.

‘A Federação’ se colocou como um jornal opositor ao CP, pois acreditava-se que este seria mais um jornal que se colocaria como um veículo conflitante, fazendo frente ao governo castilhista. Todavia, Caldas Júnior procurou se colocar como um defensor de uma postura desvinculada ao partidarismo político, pois teve uma trajetória dolorosa com as forças de Estado, pois seu pai havia sido morto por forças governamentais em Florianópolis. O interventor militar daquela Província, coronel Antônio Moreira César,

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mandou fuzilar 41 presos políticos, incluindo Francisco Antônio Vieira Caldas (pai de Caldas Júnior), criando em Caldas Júnior uma descrença nos governos autoritários republicanos. (GALVANI, 1994. PG. 36)

Outro importante fator levado em conta foi um dos fundadores do CP, fora José Paulino de Azurenha, homem negro e que segundo algumas pessoas, poderia ser um elemento que poderia dificultar os investimentos e o progresso do jornal. No entanto, Caldas Júnior lutou a favor de seu amigo, advertindo que sua integridade não estava na cor da pele, mas sim na sua responsabilidade e na sua postura como pessoa.

Assim surge o CP que:

Fundado por Francisco Antônio Vieira Caldas Júnior em 1895 – época em que os jornais eram ligados ou pertenciam a agremiações político-partidárias -, já nasceu independente, tendo a divulgação da verdade como seu compromisso maior. (GONZALEZ, 1994)

Este compromisso acabaria norteando muitos anos da escrita jornalística do CP, pois, este se colocou como um princípio central tanto na postura de Caldas Júnior, bem como de seus funcionários e demais membros que participaram dos primeiros anos de circulação deste jornal.

Além disso, o cenário sulino estava recém-saído de um conflito político de grande repercussão e violência dentro da fronteira do Rio Grande do Sul. Sendo a “Revolução Federalista”, um confronto direto realizado por partidos com princípios antagônicos e por ideias político-governamentais, que acabou levando a política às ultimas consequências, deflagrando uma ação de violência que ocasionou um conflito armado.

“O correio deveria ser leve, deveria ser novo, deveria ser diferente dos outros; deveria ser uma página ressumante de graças para os olhos machucados na visão da guerra” (TOTTA, 1927. P.3). Em significativo exemplo que aconteceu um dia antes da publicação do primeiro exemplar, a revolta realizada pelos imigrantes e descendentes de italianos causou agitação na capital, andando pelas ruas realizaram ataques contra os órgãos jornalísticos, obrigando o CP a colocar sua postura frente a este movimento social.

“Sentimos ter logo hoje, em nosso primeiro número, de condenar com toda severidade um ato menos pensado da laboriosa colônia italiana. Essas exaltações excessivas, explodindo e irradiando-se com ataques à mão armada contra pessoas e coisas da imprensa, já não têm justificação aceitável e demonstram apenas, por parte de quem as pratica, simples obcecação de

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espírito e completo desvio da estrada da civilização, que trilhamos.” (GALVANI 1994. P. 35)

Este trecho acaba por representar a postura diretamente voltada para o ideal de progresso social e civilizatório e aparentemente apolítico. Um jornal para o povo, um órgão midiático voltado para o pensamento ‘neutro’ e ‘consciente’ para a população, assim o CP buscou se firmar e trazer alguns pensamentos vindos de fora do Brasil para a população sulina. Buscou na introdução de correntes teóricas de outros intelectuais e de outras raízes de pensamento, colocar pensadores como:

...Oscar Wilde... já havia publicado também, em maio de 1895, seu ensaio “A alma do homem sob o socialismo”. Lia-se Anatole France, Leon Tolstói, Gabrielle D’Annunzio, Rudyard Kipling e Emile Zola... Mas o Positivismo e o nome de Auguste Comte ainda andava de boca em boca. E os mais jovens falavam muito do socialismo... O Correio do Povo começou logo a ocupar-se de todos estes nomes e a intervir neste debate. (GALVANI, 1994. P. 42 e 43)

Demonstrando que tanto a sua postura social como a procura de apresentar pensamentos mais críticos para a população, fez dele um contraponto e uma forma de tentar abster-se de pensamentos com associações ideológico-partidárias. Mas como um jornal poderia se colocar como representante de algum pensamento ‘vanguardista’? Sendo que a sua postura poderia ocasionar uma disputa intelectual contra o governo positivista de Júlio de Castilhos?

Não adiantava somente colocar ideias frente à sociedade, sem alguma análise criteriosa ou reflexiva. Neste contexto o jornalismo se colocava como ferramenta diretamente relacionada com posturas intelectuais. Foi necessária uma abordagem em que se deveria conhecer, pensar e escolher o que teria mais relevância para a população urbana, que estava em pleno desenvolvendo dentro da cidade de Porto Alegre. Assim, o jornal buscava assegurar sua postura desde seu surgimento:

Com efeito, o Correio tem sido sempre o que prometeu ser: uma folha noticiosa, literária, científica e comercial, alheia às lutas partidárias e procurando trazer o público dia a dia informado de quanto lhe possa parecer interessante. (GALVANI, 1994. p.77)

Colocando-se como um meio que estava preocupado em ‘atender as necessidades’ populares, com a sua postura crítica em segunda instância. Além disso, foi necessário encontrar formas de se tornar um jornal de destaque tanto pelo seu conteúdo como na estrutura de paginação. “Determinou o primeiro título na imprensa gaúcha que extrapolaria o espaço de uma coluna, melhor: seriam utilizadas 5 colunas, das sete da

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primeira página.” (GALVANI,1994. P,75). Desta forma, seria possível produzir maior impacto e repercussão dos fatos, uma posição de destaque frente aos outros jornais que circulavam – sendo que, a leitura dos tópicos relevantes, poderia ser realizada a uma maior distância, chamando atenção com mais facilidade as notícias publicadas. Esta não foi à única modificação de relevância neste jornal.

Durante muito tempo, o CP realizou frequentes alterações, tanto no seu formato oficial - paginação, quantidade de páginas, alterando a quantidade de colunas, dentre outros ações estruturais. Na constante tentativa de diferenciação dos concorrentes, Caldas Júnior realizou a compra de uma grande quantidade de folhas de tonalidade rosada vindas da Europa, esta atitude se tornou constante e proporcionou uma aparência diferente dos demais jornais. Essa imagem gerou o apelido de ‘róseo’.

Além dessas questões estéticas, Caldas Júnior também era uma pessoa que buscava destaque na sociedade rio-grandense, uma das formas encontradas para tanto foi participar de vários grupos e atividades sociais externas ao jornal. Em 1903, Caldas Júnior conseguiu um cargo de grande prestígio frente ao grupo maçom: (...) “O desembargador Ribas concedeu a palavra ao nosso companheiro Caldas Júnior, que exerce, no Grande Oriente do Estado, o cargo de ministro das finanças”. (GALVANI, 1994. P. 108). Além deste, participou do grupo de Cezimbra Jacques, o “Grêmio Gaúcho”, onde, sua paixão por cavalgadas e memórias de seus tempos passados, o deixavam diretamente vinculado com o movimento tradicionalista gaúcho. “Os compromisso sociais e profissionais do jovem jornalista não se limitavam contudo à redação do jornal e às calvagadas patrióticas e tradicionalistas do Grêmio Gaúcho”. (GALVANI, 1994. P. 107).

O CP também abriu espaço para a literatura nacional e para a estrangeira em suas páginas, o que mostra a busca de variedade de difusão cultural ao publicar trechos de obras conceituadas. Mas não era somente através da cultura que o CP procurava se aproximar da sociedade. Buscou-se assumir como porta voz da população ao publicar questionamentos aos problemas sociais e a exigência de que estes fossem resolvidos e melhorados pelos órgãos responsáveis. Nesta época, como se estava em fase de constante melhoramento de algumas questões relacionadas com a higiene da cidade, as insatisfações com as mudanças vinham há um longo período sendo questões difíceis e atingindo a sociedade em geral. O CP acabou por se colocar como ‘defensor e representante’ do pensamento social, e assumindo uma postura de afronta às lideranças

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políticas da época ao afirmar que era uma “vergonha” que tais problemas não tivessem sido solucionados. Como essas críticas eram diretamente direcionadas aos governantes, o CP aparentava (e até poderia ser) um órgão que estava à procura de uma maneira de aumentar a sua representatividade social, dentro de uma ótica modernizante e progressista sendo perante a população, ao colocar os problemas sociais como resultado da falta de responsabilidade do governo.

Na ocasião da morte de Júlio de Castilhos, o CP tentou manter a sua ‘imparcialidade’ que vigorava como um preceito de independência aos demais jornais e partidos, na tentativa de se desvincular da imagem de empresa que estava contra a administração do PRR. A partir de 1910, o CP começa a deixar de usar adjetivos vinculados a pessoas e grupos, fazendo com que sua postura jornalística, acabasse por se desassociar de possíveis amizades, excluindo adjetivos inúteis, criando assim uma nova forma na sua escrita jornalística.

Outra das ‘leis’ que Caldas Júnior sempre procurou manter, era manutenção de um maquinário atualizado que recebia constante investimento sendo uma empresa à frente dos concorrentes. Assim, segundo ele, o jornal devia ter máquinas mais evoluídas, um grupo de jornalistas centrados e responsáveis para com a formatação do jornal e manter uma postura moderna. Essa iniciativa é reconhecia, em 1910, pelo seu concorrente o jornal “A Federação”, que fez um anúncio afirmando que o CP possuía as melhores instalações do estado e que isso era motivo de orgulho para o periódico e para Caldas Júnior.

Mas em 1913 aconteceu algo bastante inesperado: morreu Caldas Júnior. E a empresa jornalística fica ‘acéfala’ e em momento de pleno crescimento, o que causa dificuldade na substituição do seu dono. Seria muito difícil encontrar uma pessoa à ‘altura’ de Caldas Júnior, já que este sempre assumiu para si a imagem e a responsabilidade pelo jornal (próximo à postura de Júlio de Castilhos com o jornal ‘A Federação’). Assim, quem seria o responsável pela manutenção desta nova fase que estaria ocorrendo durante um bom tempo do CP, os anos de 1913 em diante?

Após a morte de Caldas Júnior, a administração passou para as mãos de seu cunhado Joaquim Alcaraz; Obino se manteve na atribuição econômica por um longo período de tempo. (GALVANI, 1994, pg. 187) Mas ainda existia uma grande dúvida, quem ficaria com a responsabilidade pela parte editorial? Emilio Kemp e Francisco Leonardo Truda dividiram a responsabilidade durante aproximadamente oito anos pelo

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setor editorial e se revezaram diariamente a responsabilidade pela formatação e manutenção do jornal.

Neste momento, entre os anos de 1914 a 1918, a Europa mergulhou na Primeira Guerra Mundial, fato que recebeu pouca visibilidade dentro dos jornais. Mas, a guerra acabou atingindo o CP por motivos diretamente conectados com a sua fonte de papéis rosados e maquinário contemporâneo – que deixaram de serem comprados.

A Primeira Guerra Mundial foi a guerra que poucas pessoas souberam exatamente o que estava acontecendo de forma íntegra, dificultando diretamente nas demais aquisições culturais que vinham do ‘velho continente’. Assim, o CP voltou-se quase que completamente para os fatos que aconteciam internamente no Brasil. Priorizando frequentemente, as necessidades citadinas de Porto Alegre, e graças a algumas alianças realizadas com alguns jornais da Capital e de São Paulo, conseguiam saber, com certa rapidez, alguns fatos mais relevantes que poderiam auxiliar na sua manutenção. (GALVANI, 1994)

Uns dos pontos sempre em destaque na pauta do jornal era a saúde. Vez que outra alarmando a sociedade sobre os fatores que poderiam facilitar a circulação de doenças e o alastramento destas. Uma nova doença acabou por alcançar Porto Alegre, a “Influenza Espanhola”, que começou a espalhar-se com facilidade, assim alcançado a população. O CP procurou noticiar os fatores que facilitavam a sua disseminação e de como esta doença estava chegando às pessoas. O governo acabou por assumir uma postura mais rígida e realizou seu primeiro tipo de censura direta contra um jornal - proibiu toda e qualquer informação para a sociedade sobre este fato. (GALVANI, 1994, Pg. 221)

Em 1920, Truda, um dos herdeiros jornalísticos de Caldas Júnior, assumiu a direção de redação do CP. Em 1922, o contexto sulino começou a ficar um pouco mais abalado em relação aos fatos políticos que estavam acontecendo. Borges de Medeiros vinha perdendo prestígio no seu papel de responsável único pelo direcionamento do estado. Crise que gerou, em 1923, o “Pacto de Pedras Altas”. Assim, o jornal acabou por ficar focado nas notícias de circulação interna no estado, colocando os fatos externos com menos relevância e com menor peso questionativo. Truda não conseguiu se manter por muito tempo após a sua subida ao ponto chave do jornal. Alexandre Alcaraz assumiu, em 1923, a diretoria do CP e se firmou como inovador no direcionamento do jornal, situação que tornou a permanência de Truda impossível pois ambos entraram em conflito.

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