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Significância e Conservação: um estudo sobre a percepção da significância cultural e a sua relação com a conservação do bem patrimonial: o caso do centro histórico de Marechal Deodoro, Alagoas

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO

DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO URBANO

ANA CAROLINA DE OLIVEIRA MAGALHÃES

SIGNIFICÂNCIA E CONSERVAÇÃO

Um estudo sobre a percepção da significância cultural e a sua relação

com a conservação do bem patrimonial: o caso do centro histórico

de Marechal Deodoro, Alagoas

Recife 2012

(2)

ANA CAROLINA DE OLIVEIRA MAGALHÃES

SIGNIFICÂNCIA E CONSERVAÇÃO

Um estudo sobre a percepção da significância cultural e a sua relação

com a conservação do bem patrimonial: o caso do centro histórico

de Marechal Deodoro, Alagoas

Dissertação de mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em

Desenvolvimento Urbano (MDU) da

Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) como um dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Urbano.

Orientador: Prof. Dr. Silvio Mendes Zancheti.

Recife 2012

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Catalogação na fonte Andréa Marinho, CRB4-1667

M188s Magalhães, Ana Carolina de Oliveira

Significância e Conservação: um estudo sobre a percepção da significância cultural e a sua relação com a conservação do bem patrimonial: o caso do centro histórico de Marechal Deodoro, Alagoas / Ana Carolina de Oliveira Magalhães. – Recife: O Autor, 2012.

136p.: Il.; fig., tab. e quadros; 30 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco, CAC. Desenvolvimento Urbano, 2014.

Inclui bibliografia e apêndices.

1. Patrimônio Cultural. 2. Patrimônio Histórico. 3. Conservação. 4. Percepção. I. Zancheti, Silvio Mendes (Orientador). II. Titulo.

711.4 CDD (22.ed.) UFPE (CAC2014-120)

(4)

...

Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano

Universidade Federal de Pernambuco

Ata de Defesa de dissertação em Desenvolvimento Urbano da mestranda Ana Carolina de Oliveira Magalhães.

Às 10.00 horas do dia 12 de setembro de 2012 reuniu-se na Sala de Aula do Programa, a Comissão Examinadora de dissertação, composta pelos seguintes professores: Tomás de Albuquerque Lapa (presidente da mesa), Lúcia Tone Ferreira Hidaka (examinadora externa), e André Magalhães (examinador externo), para julgar, em exame final, o trabalho intitulado: “SIGNIFICÂNCIA E CONSERVAÇÃO Um estudo sobre a percepção da significância cultural e a sua relação com a conservação do bem patrimonial: o caso do centro histórico de Marechal Deodoro-Alagoas”, requisito final para a obtenção do Grau de Mestre em Desenvolvimento Urbano. Abrindo a sessão, o Presidente da Comissão, Prof. Tomás de Albuquerque Lapa, após dar conhecer aos presentes o teor das Normas Regulamentares do Trabalho Final, passou a palavra à candidata, para apresentação de seu trabalho. Seguiu-se a argüição pelos examinadores, com a respectiva defesa da candidata. Logo após, a comissão se reuniu, sem a presença da candidata e do público, para julgamento e expedição do resultado final. Pelas indicações, a candidata foi considerada APROVADA. O resultado final foi comunicado publicamente a candidata pelo Presidente da Comissão. Nada mais havendo a tratar eu Rebeca Júlia Melo Tavares, lavrei a presente ata, que será assinada por mim, pelos membros participantes da Comissão Examinadora e pela candidata. Recife, 12 de setembro de 2012.

• Indicação da Banca para publicação ( )

Tomás de Albuquerque Lapa Lúcia Tone Ferreira Hidaka Presidente da Mesa Examinadora Externa/UFAL

André Magalhães

Examinador Externo/UFPE/Deptº de Economia

Rebeca Júlia Melo Tavares Ana Carolina de Oliveira Magalhães Secretaria do PPG/ MDU Candidata

Caixa Postal 7119 Cidade Universitária – CEP: 50780-970 Recife/PE/Brasil

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...

Aos que passaram, aos que permanecem e aos que ainda estão por vir à antiga Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul, atual Marechal Deodoro. Que cada vez mais tomem ciência que são peças essenciais à conservação dos valores e significados passados, presentes e futuros.

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... AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, Prof. Dr. Silvio Zancheti, por acreditar no meu potencial desde a primeira tentativa. E pelos estímulos e ensinamentos transmitidos ao longo desta pesquisa, minha sincera gratidão.

Aos docentes e funcionários do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano (MDU), pelo apoio, ajuda e convívio durante o período da pesquisa.

Ao Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada (CECI), pelo despertar para as questões da Conservação Integrada, em especial aos professores e alunos da turma do ITUC do ano de 2000.

À Virginia Pontual e Flaviana Lira, pelas valiosas contribuições realizadas no momento da qualificação do projeto da dissertação.

Aos colegas da minha turma do mestrado e doutorado, pela troca enriquecedora de conhecimento, pelo convívio nas salas de aula, pelo compartilhamento de ideias e discussões acaloradas, brincadeiras e aperreios. Um agradecimento especial à amiga Carol Brasileiro, que foi essencial nesta reta final.

Aos colegas Dirceu, Ana Claudia, Elena, Rosali e Ana Paula, pela enriquecedora discussão intelectual acerca das permanências e mudanças nas cidades históricas, como parte da disciplina do Prof. Dr. Silvio Zancheti.

Ao Governo do Estado de Pernambuco, na pessoa de Márcio Viana, pela compreensão da tarefa de conciliar trabalho e estudo. A toda a equipe da UT-PROMETRÓPOLE, pelo apoio e suporte disponibilizado e pela forma que me acolheram nesta família, meu obrigada.

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... À prof. Dra. Circe Monteiro, pelas preciosas orientações na fase de preparação dos instrumentos da pesquisa de campo.

Ao economista prof. Dr. André Magalhães, pelo suporte teórico e operacional na aplicação das técnicas de análises dos dados. Sua disponibilidade imediata foi crucial em uma fase crítica da pesquisa.

Ao engenheiro Jordelan Gabriel, pela presteza em me ajudar na operacionalização do sistema de tratamento dos dados do levantamento de uso e conservação dos imóveis. Aos moradores do Centro Histórico de Marechal Deodoro, pela receptividade com que me receberam e pela gentileza de participarem da pesquisa de campo.

À Josemary Ferrare, estudiosa e apaixonada pelo Centro Histórico de Marechal Deodoro, por me apresentá-lo com o seu olhar. E, também, pela disponibilização de seu precioso tempo e seus trabalhos acadêmicos de extrema valia para a investigação. Ao estudante Rafael Malafaia, da UFAL/AL, pela colaboração nas aplicações dos questionários com os moradores de Marechal Deodoro.

Ao técnico do Iphan/Alagoas, Sandro Gama, pelo imediato atendimento das minhas solicitações e pela bela aula de Restauro no Conjunto Franciscano.

À Prefeitura de Marechal Deodoro, em especial aos técnicos da Secretaria de Infraestrutura e Planejamento, pelo auxílio na coleta de informações sobre o município.

Aos técnicos do Arquivo Nacional do Iphan– Seção Rio de Janeiro, pela gentileza no atendimento e nas orientações.

À prof. Dra. Lúcia Hidaka, pelo suporte teórico e emocional desde os tempos alagoanos. Pela acolhida em Maceió, por tantas vezes. Obrigada pelas conversas, conselhos, incentivos e ensinamentos, e pelo muito que ainda virá.

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...

À mana Evelyne Labanca, pelo exemplo que é como pessoa e profissional, além de estudiosa do patrimônio cultural. E por me incentivar em todos os sentidos. Obrigada por me ensinar tanto e por me apresentar Marechal pela primeira vez, com seu olhar ThunderCats.

À querida Giselle e família, por disponibilizarem sua casa em Maceió, que se transformou em apoio durante os trabalhos de campo realizados em Marechal

À minha família espiritual do GETC, pelo exemplo de vida de cada um, que me faz enxergar o que há de melhor em mim. Ao querido amigo Dr. Marco, que me mostra o caminho correto, e ao amigo Lafon, sempre próximo. Agradeço também às amigas Vera, Milla, Tati, Pati e a todos que estiveram atentos e se preocuparam comigo nesses momentos de maior dedicação aos estudos.

À minha querida e amada “Grande família“, pelo amor, apoio e paciência, e por compreenderem que as ausências eram necessárias e passageiras, pois o mestrado um dia chegaria ao fim. E à Neide, por sempre cuidar de mim, com amor e carinho. Aos queridos amigos, de perto e de longe, e aos demais familiares que de algum modo contribuíram com esta pesquisa, que entenderam as minhas ausências ou que torceram pelo sucesso dessa trajetória, um muito obrigada especial.

E, por fim, um agradecimento essencial, à Deus e a espiritualidade amiga, que são os alicerces, que me sustentam em meu ideal e me direcionam ao aprendizado, hoje e sempre.

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...

“Sou a favor que se preserve essa cidade, porque vêm meus filhos, meus netos...”

Moradora do Centro histórico de Marechal Deodoro, outubro de 2012

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RESUMO

Esta dissertação propõe investigar a importância da percepção da significância cultural para a conservação urbana. Nesse contexto, analisou-se a valorização do bem patrimonial pelo morador e sua contribuição para a conservação desse bem. Também identificou-se outros condicionantes da conservação urbana, visto que a pesquisa parte do pressuposto de que, além da significância cultural, outros condicionantes interferem no processo de conservação. O caminho teórico deste trabalho se fundamentou em duas vertentes: (1) na Teoria contemporânea da conservação, calcada numa mudança de paradigma, a qual verifica que o valor do bem patrimonial não lhe é intrínseco, e que ele é reconhecido pelos diversos significados que lhe são atribuídos ao longo do tempo pelos atores envolvidos no processo de conservação. Sendo a significância cultural um dos conceitos fundamentais abordados na teoria, até hoje, amplamente discutido e revisado. (2) em uma revisão de literatura e análise de três experiências sobre revitalização de centros históricos, visando à identificação de aspectos que são determinantes para a conservação desses centros. A metodologia da pesquisa se estruturou de forma a investigar a importância da percepção do morador acerca da significância cultural relativa aos demais condicionantes da conservação. Esta metodologia foi aplicada no Centro Histórico de Marechal Deodoro (CHMD), em Alagoas. Então, com a aplicação de técnicas estatísticas multivariadas, estabeleceu-se associações entre a percepção do estado de conservação do CHMD e a percepção dos condicionantes da conservação, a fim de se avaliar a relação de importância entre eles. Desse modo, foi possível identificar o estado geral da conservação do CHMD, bem como a percepção da significância cultural e sua importância relativa à percepção do estado de conservação.

Palavra-chave: Conservação. Estado de conservação. Percepção. Significância cultural. Patrimônio construído. Condicionantes da conservação.

(11)

...

ABSTRACT

This dissertation aims to investigate the importance of the resident’s perception of cultural significance for urban conservation. For so, it analysed the valuation of cultural heritage by the resident and he’s contribution to heritage conservation; it also identified other conditionings of urban conservation. That was because the research was based in assumption that, beyond cultural significance, other determinants interfere in the conservation process. The theoretical background was set in two areas: (1) the contemporary Theory of conservation, based in the changing of paradigm which verifies that the value of cultural heritage is not intrinsical to it, but recognized by diverse meanings associated to it through time by diverse by the stakeholders involved in the conservation process. Being cultural significance one of the core concepts addressed through the theory, until today, widely discussed and revised. (2) through revision of all specialised literature and case study of three experiences of historical centre rehabilitation to identify aspects that could be determinant to the conservation of these centres. The methodology adopted was structured in order to investigate the importance of cultural significance perception, related to other conditionings of conservation, based on the perception of the city dweller. This methodology was applied in the Historical Centre of Marechal Deodoro (CHMD), state of Alagoas. With the use of multivariate statistics techniques it was able to establish links between perception of the CHMD state of conservation and the perception of conservation conditionings in order to assess the relation of importance between them. Thus, it was possible to identify the CHMD general state of conservation, as well as the perception of cultural significance and its importance in relation to the perception of the state of conservation.

Key words: Conservation. State of conservation. Perception. Cultural significance. Built heritage. Conditionings of conservation.

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... LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Vista aérea do Centro histórico de Bruges, Bélgica. Fonte:

<http://www.en.wikipedia.org/>. Autor: desconhecido. ... 32 Figura 2 - Vista aérea do Bairro do Recife. Fonte:

http://vaiqueemassa.blogspot.com.br/2012/04/recife-antigo-vai-que-e-massa.html Autor: autor desconhecido ... 35 Figura 3 - Vista da Grey Street, em Grainger Town, atualmente considerada uma das melhores ruas da Inglaterra. Fonte:

http://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.0/ Autor: Andrew Curtis ... 37 Figura 4 - Mapa do estado de Alagoas com as divisões das meso e micro regiões do estado, com destaque para o município de Marechal Deodoro em vermelho. Fonte: Anuário estatístico de Alagoas, 2010. ... 40 Figura 5 - Mapa do Complexo Estuarino-lagunar Mundaú-Manguaba. ... 42 Figura 6 - Vista aérea do CHMD, antes do tombamento federal, onde se vê à

esquerda a Lagoa Manguaba. Fonte: Processo de tombamento n°1397-T-97, Arquivo Nacional do IPHAN/Rio do Janeiro. Data: [Ca. 1998] ... 42 Figura 7 - Vista da lagoa Manguaba da Rua Fortaleza. Fonte: acervo da autora. Data: set/2011 ... 43 Figura 8 - Mapa da localização da 1ª e 2° ocupação do núcleo urbano inicial de

Marechal Deodoro. Fonte: FERRARE, 2005. ALAGOAL/SERVEAL/SEPLAN - PR.,1979. Adaptação: FERRARE, Pesquisa/Doutoramento, 2005. ... 49 Figura 9 - Gravura "Pagus Alagoae Australis". George Marcgrave, 1647. Com inscrições indicando os principais elementos conformadores do núcleo urbano, adaptados por Muniz e Machado (2011). Fonte: Muniz e Machado, 2011. Disponível em:

<https://www.ufmg.br/rededemuseus/crch/simposio/muniz

biancameoliveirroseline.pdf.>. Acesso em 05 de julho de 2012. ... 50 Figura 10 - Gravura "Alagoae ad Austrum”, BARLEUS, 1647 Estampa 15. Fonte: Reis Filho, 2001. ... 51

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... Figura 11 – Mapa da localização da expansão da 2° ocupação do núcleo urbano. Fonte: FERRARE, 2005. ALAGOAL/SERVEAL/SEPLAN - PR., 1979. Adaptação: FERRARE, Pesquisa/Doutoramento, 2005. ... 51 Figura 12 - Mapa da localização dos eixos de expansão - Carmo e Poeira. Fonte: FERRARE, 2005. ALAGOAL/SERVEAL/SEPLAN - PR.,1979. Adaptação: FERRARE, Pesquisa/Doutoramento, 2005. ... 52 Figura 13 - Foto aérea do CHMD, onde se percebe o trecho da segunda fase da

ocupação, que vai a partir das igrejas da Matriz e do Rosário em direção a lagoa. Data provável: 2011. Fonte: GOOGLE, 2012. ... 52 Figura 14 - Mapa com a localização das igrejas que formam o "polígono sacro". Fonte: FERRARE, 2005. ALAGOAL/SERVEAL/SEPLAN - PR.,1979. Adaptação: FERRARE, Pesquisa/Doutoramento, 2005. ... 53 Figura 15 - Detalhe do "polígono sacro" mostrando as ruas no contexto urbano no séc. XIX e as igrejas as datas respectivas de construção. Fonte: FERRARE, 2005. ALAGOAL/SERVEAL/SEPLAN - PR.,1979. Adaptação: FERRARE,

Pesquisa/Doutoramento, 2005. ... 53 Figura 16 – À esquerda, Igreja Matriz N. S. da Conceição. À direita, Igreja N. S. do Rosário. Fonte: acervo da autora. Data: set/2011. ... 54 Figura 17 - À esquerda, Igreja N. S. do Amparo. À direita, Conjunto de São Francisco. Fonte: acervo da autora. Data: set/2011. ... 54 Figura 18 - Exemplo de casario térreo ainda existente, que delimitam a rua, de acordo com a concepção urbanística portuguesa dos séculos XVII e XVIII. Fonte: acervo da autora. Data: set/2011. ... 55 Figura 19 - Exemplares de tipologia térrea. À esquerda, imóvel com beiral simples, e porta e janelas com arco abatido. À direita, imóvel com beiral adornado com cornija em massa e esquadrias com verga reta emolduradas com cercaduras em massa pintadas em tom contratantes. Fonte: acervo da autora. Data: set/2011. ... 56 Figura 20 - Exemplares de tipologia térrea. Os dois imóveis apresentam platibandas com detalhes em relevo e adornos. O da direita possui esquadrias em arco pleno. Fonte: acervo da autora. Data: set/2011. ... 56

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... Figura 21 - Exemplar de dois andares, tipo sobrado. O imóvel possui platibanda com adornos e esquadrias em arco abatido. Fonte: acervo da autora. Data: set/2011. ... 56 Figura 22 - Grupo escolar Deodoro da Fonseca, em estilo art déco. Fonte: Processo de tombamento n°1397-T-97, Arquivo Nacional do IPHAN/Rio do Janeiro. Data:

[ca.1998] ... 57 Figura 23 - Exemplos de imóveis que sofreram reformas introduzindo muros, jardins, novos revestimentos e esquadrias. Fonte: acervo da autora. Data: out/2012. ... 58 Figura 24 - Casa Natal de Marechal Deodoro da Fonseca, em obras. Fonte: acervo da autora. Data: nov/2011. ... 59 Figura 25 – Situação do Conjunto Franciscano anterior da reforma de restauro atual. Acima, vista externa das Igrejas das Ordens 3ª e 1ª com o cruzeiro em primeiro plano. E à direita, vista interna do claustro do antigo convento. Fonte: Processo de

tombamento n°1397-T-97, Arquivo Nacional do IPHAN/Rio do Janeiro. Data:

[ca.1998] ... 60 Figura 26 - Situação atual do Conjunto Franciscano. No alto, vista interna do claustro do antigo convento. À esquerda, vista interna da Igreja da Ordem 3ª, e à direita vista do interior da igreja da Ordem 1ª, com a restauração dos bens móveis paralisados. Fonte: acervo da autora. Data: nov/2011. ... 61 Figura 27 - Conjunto do Carmo, à esquerda, e Igreja N. S. do Rosário à direita, em precário estado de degradação antes de sofrerem reforma de restauro após o

tombamento federal em 2006. Fonte: Processo de tombamento n°1397-T-97, Arquivo Nacional do IPHAN/Rio do Janeiro. Data: [ca.1998]. ... 62 Figura 28 - Antiga Casa de Câmara e Cadeia. Futuramente Casa do Patrimônio e escritório técnico do IPHAN/AL. Fonte: Processo de tombamento n°1397-T-97, Arquivo Nacional do IPHAN/Rio do Janeiro. Data: [ca.1998]. ... 62 Figura 29 - Exemplares da arquitetura civil anterior ao tombamento federal. Fonte: Processo de tombamento n°1397-T-97, Arquivo Nacional do IPHAN/Rio do Janeiro. Data: 1969 ... 63 Figura 30 - Delimitação do perímetro de tombamento em três áreas descontínuas distintas- Centro, Carmo e Taperaguá. Fonte: IPHAN/ALAGOAS – 17°SR, 2006. .... 64

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... Figura 31 – Ao se caminhar, é usual encontrar jovens ensaiando, sejam nas ruas ou no interior de suas casas. Fonte: acervo da autora. Data: nov/2011. ... 66 Figura 32 - Chegada da procissão de N. S. da Conceição, padroeira da cidade.

Detalhe do hasteamento do mastro, quando se inicia oito dias de festas na cidade e celebrações religiosas. Fonte: acervo da autora. Data: nov/2011. ... 67 Figura 33 - vista da lagoa Manguaba a partir do mirante da rua José Tomé. Fonte: acervo da autora Data: set/2011. ... 68 Figura 34 – À esquerda, na saída da cidade, torre da Igreja do Carmo envolta na vegetação e à direita os diversos elementos que compõem a paisagem de Marechal. Fonte: acervo da autora. Data: out/2011. ... 68 Figura 35 - Praça Pedro Paulino. À esquerda se vê a praça de costas para o Conjunto de São Francisco, e a direita o Conjunto e o casario citado por José Luiz da Mota Menezes. Fonte: acervo da autora, Data: set/2011. ... 70 Figura 36 - Vista da Rua Ladislau Neto, podendo observar os arremates em pedras, atualmente com caiação na cor branca. Fonte: acervo da autora. Data: nov/2011. ... 72 Figura 37 -Vista da Orla lagunar revitalizada, inaugurada em setembro de 2011. Fonte: acervo da autora. Data: set/2011. ... 76 Figura 38 - Vista do fundo do Prédio da Prefeitura. Fonte: acervo da autora. Data: set/2011. ... 77 Figura 39 - Comparação da cobertura vegetal remanescente, no meio das quadras. Vista á esquerda percebesse ainda a vegetação bem preservada, robusta. Já na direita, clareiras se abrem e edificações aparecem. Fonte: imagem1-Processo de tombamento n°1397-T-97, Arquivo Nacional do IPHAN/Rio do Janeiro. Data: [ac.1998]. Imagem2 - Fonte: GOOGLE, 2012. ... 77

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... LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Dados sobre população, domicilio, escolaridade, e renda do município de

Marechal Deodoro, Alagoas. ... 41

Tabela 2 - IDHs médios e os seus subíndices de Alagoas e Marechal Deodoro do ano de 2000. ... 45

Tabela 3 - Proporção de domicílios permanentes particulares por tipo de saneamento (%) ... 79

Tabela 4 – Estado de conservação do imóvel - percepção do morador ... 95

Tabela 5 - Estado de conservação dos imóveis - levantamento do especialista ... 95

Tabela 6 – Teste de Nível de adequabilidade da amostra - KMO e Bartlett... 97

Tabela 7 - Composição dos fatores de estado de conservação ... 98

Tabela 8 - Resultados do Modelo 01 – variável dependente e fatores do estado de conservação e os resultados do Coeficiente estimado (Estimate) e do Nível de significância (Sig.) ... 102

Tabela 9 - Resultados do Modelo 02 – variável dependente, fatores do estado de conservação e índices condicionantes da conservação e o resultados do Coeficiente estimado (Estimate) e do Nível de significância (Sig.) ... 103

Tabela 10 - Resultados do Modelo 03 – variável dependente, fatores do estado de conservação, índices condicionantes da conservação, estado de conservação do imóvel e elementos do espaço público e dados socioeconômicos e os resultados do Coeficiente estimado (Estimate) e do Nível de significância (Sig.) ... 105

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... LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Categoria de análise do estado de conservação do centro histórico e seus elementos significantes...85 Quadro 2 – Categoria de análise do estado de conservação do imóvel e os elementos componentes do entorno... 86 Quadro 3 – Categoria de análise dos condicionantes da conservação e suas variáveis... 86

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... SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 19

1. A CONSERVAÇÃO CONTEMPORÂNEA URBANA ... 24

1.1. A importância da significância cultural na conservação contemporânea ... 24

1.2. A conservação urbana e os condicionantes da conservação ... 30

2. O CENTRO HISTÓRICO DE MARECHAL DEODORO ... 39

2.1. Localização e aspectos socioeconômicos do município ... 39

2.2. Formação histórica e evolução urbana ... 45

2.3. O reconhecimento como bem patrimonial ... 58

2.4. Sobre os valores patrimoniais ... 64

2.5. O Contexto atual da conservação ... 73

2.6. Os elementos significantes ... 79

3. A METODOLOGIA E OS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 82

3.1. Metodologia ... 82

3.2. Procedimentos Metodológicos ... 87

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS... 93

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 110

REFERÊNCIAS ... 117

(19)

...

19 INTRODUÇÃO

Esta investigação discute sobre a percepção da significância cultural1 e a sua

importância para a conservação urbana. O conceito de significância cultural tornou-se fundamental na teoria e prática da contornou-servação contemporânea. É a partir dele que podemos compreender os valores que um determinado bem carrega e que o tornam merecedor de ser preservado e repassado para as gerações futuras (ZANCHETI, et

al., 2011).

A significância cultural diz respeito aos valores de um bem patrimonial2 e seus

múltiplos significados, atribuídos por vários atores envolvidos3 no processo a partir

de julgamentos subjetivos. Valor, aqui, é entendido como um conjunto de características positivas ou qualidades percebidas em objetos ou lugares patrimoniais por certos indivíduos ou grupos (DE LA TORRE; MASON, 2002).

O primeiro documento doutrinário a reconhecer a importância da significância cultural na conservação dos bens patrimoniais foi a Carta de Burra (ICOMOS, 1999). No entanto, diante da sua complexidade e subjetividade, o conceito de significância cultural ainda está sendo debatido, à luz da teoria da conservação contemporânea (MUÑOZ VIÑAS, 2005). Há um esforço em aplicá-lo como base para política,

planejamento e tomada de decisão da conservação (MASON, 2004).

1 Neste documento Significância cultural ou apenas Significância.

2 De acordo com Fonseca (2005), o bem patrimonial é denominado deste modo através de normativas e meios jurídicos regulamentados de salvaguarda por compreenderem portadores de valores históricos, artísticos, e outros, que por seus atributos físico-material podem ser objetos de proteção e preservação patrimonial classificados por uma instituição autorizada que trate da proteção e preservação deste bem.

3 Para esta investigação, atores envolvidos são aqueles que “criam, geram e são impactados pelos resultados, tangíveis e intangíveis, de diferentes formas e grandeza, dependendo do grau de envolvimento com a significância cultural do bem e a conservação” (ZANCHETI, 2009a; HIDAKA, 2011). Eles podem ser: moradores, especialistas, visitantes, gestores e técnicos, grupos de referências culturais.

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...

20 A abordagem da conservação orientada pela significância cultural vem sendo adotada por instituições internacionais no âmbito da conservação patrimonial, do ponto de vista da sustentabilidade (HIDAKA, 2011). A “English Heritage” tem seu conceito de conservação calcado na sustentabilidade como “o processo de gestão de

mudanças de um sítio significativo e seus limites da melhor maneira para manutenção dos seus valores culturais, enquanto reconhece as oportunidades para revelar ou reforçar estes valores às gerações presentes e futuras”. (ENGLISH HERITAGE, 2008, p. 71).

A premissa básica dessa abordagem é que, para gerir e proteger um bem de valor patrimonial, deve-se, primeiramente, identificar-se por que um lugar é importante e como os diferentes elementos deste lugar contribuem para essa importância, e quais são eles. Desse modo, considera-se o por quê do lugar ser valorizado e o quê está incorporado a ele e representa esses valores (WORTHING; BONG, 2008).

Muñoz Viñas (2005) corrobora esse pensamento, afirmando que uma das

chaves para entender o futuro da conservação é a noção de sustentabilidade, para a qual a melhor operação é aquela que proporciona o máximo de satisfação para mais pessoas e na qual ocorra a mais perfeita combinação entre preservação e restauração. Staniforth (2000), por sua vez, destaca que a sustentabilidade na conservação é essencial para as ações contemporâneas que devem “passar o máximo da significância para as futuras gerações”. Manter as características físico/materiais, bem como os significados atribuídos ao sítio, são os objetivos da conservação, cujo sucesso permite passar o máximo da significância de uma época para as gerações futuras.

Esse tipo de conservação é entendida aqui como uma conservação sustentável, aquela que consegue sustentar a ligação entre as gerações passada, presente e futura, mantendo o registro dos significados e valores do passado, para que estes possam ser interpretados no presente; e transportando os significados e valores do presente, para que esses também possam ser interpretados no futuro. (ZANCHETI et al., 2011).

(21)

...

21 Entende-se que a significância cultural pode ser direcionada para a conservação de um bem patrimonial e não apenas para sua identificação (WORTHING; BONG, 2008), e que conservação é gerir mudanças (TIESDELL; OCHEATH, 1996). Estas mudanças devem ser consideradas em todos os seus aspectos, incluindo o planejamento urbano, compreendendo as áreas urbanas como sistemas complexos e dinâmicos que refletem os muitos processos de transição física, social, ambiental e econômica. Desse modo, nenhuma cidade está isenta das forças externas, que ditam para elas a necessidade de adaptação, ou das pressões internas, que estão presentes dentro das áreas centrais, as quais podem precipitar crescimento ou declínio (ROBERTS, 2005).

Assim, compreende-se que, além da significância cultural, outros aspectos são determinantes para a conservação dos centros históricos, como os aspectos sociais, as questões relacionadas à gestão urbana, à participação das comunidades, à reabilitação dos edifícios degradados e sem uso, às infraestruturas inadequadas, ao desenvolvimento de novos negócios e estímulos dos existentes, à regulamentação e fundos de investimentos (PICKARD; THYSE, 2001).

Entende-se que a percepção da significância cultural dos moradores é importante para a conservação, compreendendo que não só a significância cultural interfere nesta conservação, mas outros condicionantes da conservação também se relacionam entre si. Para tanto, esta pesquisa se propõe a analisar o quanto a valorização do bem patrimonial pelo morador contribui para a conservação do bem, como também pretende identificar outros condicionantes da conservação urbana.

Para a elaboração do modelo metodológico dessa investigação, foi utilizada a Dissertação de mestrado de Bernardo Capute (2011), que trata da análise de uma tentativa de construção de indicadores de sustentabilidade cultural dos centros históricos.

(22)

...

22 O exercício metodológico desta pesquisa foi investigar a importância relativa da percepção da significância cultural dos moradores frente a outros aspectos que influenciam o estado da conservação. Nesta investigação, esses aspectos foram nomeados de condicionantes da conservação, e identificados a partir de uma revisão bibliográfica e da análise de experiências de reabilitação de centros históricos. Posteriormente, esses condicionantes da conservação foram associados à percepção do estado de conservação do bem patrimonial, a fim de se estabelecer a relação de importância entre esses condicionantes e o estado de conservação dos bens.

O estudo de caso selecionado para a aplicação desse modelo metodológico elaborado foi o Centro Histórico de Marechal Deodoro (doravante CHMD), em Alagoas. A pesquisa de campo foi realizada a partir de um questionário aplicado aos moradores, para coleta dos dados sobre a percepção do estado de conservação do CHMD e a percepção dos condicionantes da conservação; além de um levantamento sobre o estado geral de conservação dos imóveis, realizado pela pesquisadora.

Com isso, foi possível identificar o estado geral da conservação do CHMD e de seus elementos constituintes, bem como os fatores da conservação e índices que a condicionaram, os quais auxiliaram na análise e discussão dos resultados.

O documento está dividido em cinco capítulos. No primeiro capítulo constam os conceitos teóricos que direcionaram a construção do modelo metodológico, primeiramente tratando-se da importância da significância cultural na conservação contemporânea e, em seguida, da conservação urbana e dos condicionantes da mesma.

No segundo capítulo, apresenta-se o estudo de caso, o Centro Histórico de Marechal Deodoro, com o objetivo de se identificar os elementos mais significantes do sítio histórico, os quais subsidiarão a pesquisa empírica. No terceiro capítulo é explicitada a metodologia e os procedimentos que foram elaborados para alcançar os resultados da pesquisa.

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23 No quarto capítulo, os resultados da investigação são analisados e demonstrados, os quais permitiram identificar a importância relativa da percepção da significância cultural do morador para a conservação. Encerra-se o documento com as considerações finais, apresentando as discussões sobre o processo da pesquisa desenvolvida. Também são apresentados, ao final, o apêndice e as referências.

Espera-se, com esta investigação, contribuir para uma maior compreensão da percepção da significância cultural e da sua importância para a conservação, bem como de quais são as relações exercidas com o morador do centro histórico.

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1. A CONSERVAÇÃO CONTEMPORÂNEA URBANA

1.1.A importância da significância cultural na conservação contemporânea

Nas últimas décadas do século passado, a mudança de paradigma na teoria da conservação passou a relacionar o bem patrimonial não apenas às suas características físico-materiais e à seus aspectos estéticos4, mas também aos significados e valores

que lhe são atribuídos pelos atores sociais envolvidos.

Com a ampliação dos objetivos da conservação, o debate deste tema passou a ser discutido nos documentos doutrinários5 que orientam a salvaguarda dos bens

patrimoniais. Nesse contexto, foi introduzido o termo significância cultural, que é ainda novo, estando seu conceito em construção.

Foi na Carta de Veneza (1964) que o termo significância cultural foi citado a primeira vez, quando se estendeu a noção de patrimônio também às obras modestas6. Entretanto, a Carta de Veneza não aprofundou o conceito nem definiu

como se identifica a significância cultural (ZANCHETI et al., 2009). Foi na Carta de Burra7 (ICOMOS, 1999) que o conceito foi apresentado, tomando maior expressão para o campo da conservação e passando a ser fundamental para a formulação de políticas de salvaguarda.

4 Os princípios da teoria clássica da conservação predominaram até fins da década de 1980, e balizavam a salvaguarda patrimonial, sendo seus principais estudiosos John Ruskin, Viollet-le-Duc e Cesare Brandi (TEIXEIRA, 2011).

5 Estes documentos representam “recomendações e cartas conclusivas das reuniões relativas à proteção do patrimônio cultural, ocorridas em diversas épocas e partes do mundo” (CURY,2000), que regem e orientam as instituições de proteção patrimonial no Brasil e no mundo.

6 “A noção de monumento histórico compreende a criação arquitetônica isolada, bem como o sítio urbano ou rural que dá testemunho de uma civilização particular, de uma evolução significativa ou de um acontecimento histórico. Estende-se não só às grandes criações, mas também às obras modestas, que tenham adquirido, com o tempo, uma significação cultural”. (ICOMOS, 1964).

7 A Carta de Burra foi elaborada pelo Austrália ICOMOS primeiramente em 1979. Passou por três revisões até a última versão de 1999 que é a reconhecida pela instituição. As anteriores são hoje documentos de arquivo.

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25 A Carta de Burra (1999) define a significância cultural como sendo o “conjunto de valores estéticos, históricos, científicos, sociais ou espirituais para as gerações passadas, presentes e futuras”. Afirma, também, que o objetivo da conservação do bem patrimonial é a manutenção da sua significância, estando ela incorporada ao sítio propriamente dito, na sua estrutura, no seu uso, no seu entorno, nos seus significados, nas suas associações, etc.

Nos dias de hoje, se reconhece a importância da contribuição da Carta de Burra, entretanto, a polivalência do bem não lhe é inerente (MASON, 2004) e “a designação de sua importância deve resultar de interações múltiplas entre os atores envolvidos por meio de uma construção social” (CLAVIR, 2009) (tradução livre da autora). Atualmente, se tem em mente que ao longo do tempo os valores e significados podem sofrer transformações fruto do contexto sociocultural do lugar (MASON, 2004; CLAVIR, 2009). Avrami et al. (2000) afirma que “hoje se reconhece que o

objetivo final da conservação não é conservar o material por si mesmo, e sim também manter e uniformizar os valores e significados contidos neste patrimônio” (tradução livre da autora).

Além de um conjunto de definições, a Carta de Burra (1999) reúne procedimentos para a construção da significância cultural de um bem patrimonial, o que resulta em uma declaração de significância. Desde a década de 1990, a declaração de significância adquiriu importância, quando a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) passou a exigi-la nos processos de pedido de inclusão de bens patrimoniais na Lista do Patrimônio Mundial, referendando a relevância do conceito da significância cultural na conservação (HIDAKA, 2011).

Zancheti et al. (2009), a partir da análise de um dos três estágios8 do processo

da Carta de Burra, sugere uma redefinição do conceito de significância cultural. Para

8 Na Carta de Burra, o processo para a conservação da significância estrutura-se em três estágios: (i) compreensão do significado, (ii) desenvolvimento da política e (iii) administração de acordo com a política. O primeiro estágio, que é a da construção da significância, compõe-se de quatro passos: 1) identificação do sítio e suas associações, resguardando-o e tornando-o seguro; 2) recolhimento e

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26 a proposta de redefinição do conceito de significância cultural, Zancheti et al. (2009) leva em conta dois aspectos: o conceito de significância e o processo que determina a declaração de significância, seguindo três linhas de análise: a abordagem filosófica, a perspectiva sociocultural e o planejamento da conservação. Devido a essas análises, foram incluídos o julgamento e a validação social, e também valores não citados como relevantes na Carta de Burra. Assim,

significância cultural é redefinida como um conjunto de valores identificáveis resultantes do contínuo julgamento (passado e presente) e da validação

social dos significados dos objetos. Desta definição, se deve observar que significância inclui os valores do passado e do presente, aqueles que estão em disputa entre os stakeholders, e aqueles com não mais significado no presente, mas que ainda estão na memória coletiva, ou recordados por instrumentos de memória reconhecidos pela sociedade” (ZANCHETI et al., 2009) (tradução livre da autora)(grifo da autora).

A introdução da validação social dos significados do bem patrimonial visa à ratificação, pelos atores envolvidos, dos valores que foram atribuídos ao bem. Dessa forma, esta tarefa passa a não mais se concentrar no especialista, que passa a assumir outro papel fundamental ao processo, o de negociação e comunicação com os demais atores envolvidos (MUÑOZ VIÑAS, 2005).

Até recentemente, o campo de estudo do patrimônio era relativamente isolado, composto por um pequeno grupo de especialistas que determinava “o que” constituía “patrimônio” e como deveria ser conservado. O “direito de decisão” desses especialistas era validado pelas autoridades que atuavam nessa temática. Com a expansão do conceito de patrimônio, novos grupos se juntaram aos especialistas, para identificarem esse patrimônio. Esses grupos de cidadãos, profissionais de outras áreas e representantes de áreas especiais, se incorporaram à temática da conservação com seus próprios critérios e opiniões - seus próprios valores –, dos quais,

registro das informações (documentais, físicas e orais) suficientes para a compreensão do significado do sítio; 3) avaliação do significado; 4) preparação da declaração de significância.

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27 frequentemente, diferiam dos valores dos especialistas em patrimônio (DE LA TORRE; MASON, 2002, p. 03). É relevante ressaltar que nem todos os atores contribuem num mesmo nível para avaliar esses valores. O poder representa um importante papel quando se trata de atribuir valores, entretanto, nesses casos, o significado dos objetos é determinado através de mecanismos subjetivos. O poder pode impor esses mecanismos no meio de pessoas menos poderosas, mas, nesses casos, o resultado é um acordo tácito entre os grupos com poder de ação: “Um aumento no número de pessoas que estão de acordo sobre os significados de conservação de um objeto pode resultar no aumento da importância deste objeto”9

(MUÑOZ VIÑAS, 2005, p. 160).

Mason (2004) reforça essa ideia quando afirma que a teoria da conservação centrada em valores dá prioridade à memória, ideias e outras motivações sociais que impulsionam a conservação física do bem patrimonial. E destaca que a avaliação de valores depende de quem o está avaliando e, também, dos momentos históricos e geográficos com que o bem patrimonial pode se relacionar, aos quais os valores são associados. Assim, diferentes atores podem ter diferentes visões dos significados de um bem patrimonial, que se transformam ao longo do tempo.

A responsabilidade do julgamento, se o bem patrimonial está bem ou mal conservado, é das pessoas cuja vida é afetada pelo patrimônio e seus significados (ZANCHETI, 2009a; HIDAKA, 2011). Segundo Hidaka (2011), dependendo do grau de envolvimento com o bem patrimonial, os atores envolvidos podem gerar impactos e serem impactados por efeitos materiais e imateriais, de diferentes formas e grandezas, assim, eles são os indivíduos com direitos sobre o que fazer com o patrimônio. Nos centros históricos, eles podem ser encontrados em quatros grupos: especialistas, residentes10, grupos de referência cultural e visitantes. No caso dos

residentes, especialmente os de longa data11, são atores envolvidos fundamentalmente

9 Tradução livre da autora.

10 Nesta pesquisa designados de “moradores”.

11 Considera-se como “longa data” o morador que mora há 15 anos ou mais no centro histórico. Fonte: HIDAKA,2011.

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28 para a conservação sustentável do centro histórico, e “tendem a manter as suas propriedades, lutam por melhores espaços urbanos, atraem outros usos urbanos, mantêm laços com a comunidade e as tradições culturais locais. Eles são os componentes essenciais do “espírito do lugar” dos sítios urbanos” (HIDAKA, 2011).

Mason (2002) afirma que a interação entre valores é complexa, e a melhor forma de tratá-la seria estruturando uma caracterização de diferentes tipos de valores patrimoniais de forma clara e neutra. Para o autor, o uso de tal tipologia daria condições de compreender e comparar os diferentes tipos de valores patrimoniais definidos pelos diversos atores, contribuindo para a negociação entre eles.

Esse autor apresenta uma tipologia de valores, no estudo “Assessing Values in

Convervation Planning: Methodological Issues and Choices”12, o qual tem referências nos

tipos de valores elaborados por algumas instituições e estudiosos especializados na temática da conservação. Nesse estudo, Mason conforma duas categorias: a dos valores socioculturais e a dos valores econômicos.

Por valores socioculturais compreende-se os “ligados a um objeto, edifício, ou lugar por que detém significados para as pessoas ou grupos sociais devido a sua idade, beleza, arte ou associação com uma pessoa ou evento significativo ou até mesmo contribuem para processos de afiliação cultural” (MASON, 2002) (tradução livre da autora), os quais englobam o valor histórico, o valor simbólico/cultural, o valor social, o valor religioso/espiritual e o valor estético. Já a categoria de valores econômicos corresponde àqueles que se baseiam em análises econômicas e dos quais se subentende um valor utilitário, seja vinculado ou não a um valor de mercado, o que torna o bem patrimonial passível de movimentar ou não o lugar que está inserido. Os valores econômicos dividem-se em duas subcategorias: o valor de uso

12 MANSON, Randall. Assessing Values in Conservation Planning: Methodological Issues and Choices. In: DE LA TORRE, Marta (ed.). Assessing the values of cultural heritage: research report. Los

Angeles: Getty Conservation Institute, 2002. Disponível em:

<http://www.getty.edu/conservation/publications_resources/pdf_publications/assessing.pdf>. Acesso em: 10 jun 2004.

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29 (ou de mercado) e o valor de não uso (ou de não mercado), sendo este, ainda, subdividido em três tipos, que são: valor de existência, de opção e de herança (ou de legado).

Entretanto, Mason (2002) previne que esses valores podem se sobrepor, isto é, pode ocorrer que em um objeto patrimonial sejam reconhecidos mais de um valor sociocultural pelos diversos grupos sociais envolvidos. Para amenizar essa dificuldade, o autor sugere que é imprescindível a participação dos sujeitos interessados na salvaguarda do bem patrimonial, como a comunidade, os especialistas e os gestores públicos. Dessa forma, eles colaboram possibilitando-se extrair as reais características do bem em questão e discutindo sobre os valores atribuídos e classificados ao bem.

Por outro lado, o entendimento da percepção resulta da sensação, como uma qualidade do reflexo, principalmente a visual. Na percepção do espaço, não pesam apenas as características visuais e táteis, mas toda uma complexidade, pois entram em ação os demais órgãos. O processo perceptivo se define por sua ligação estrutural à consciência e à memória, principalmente ao grau de desenvolvimento da inteligência dos indivíduos. A percepção do espaço físico se apoia na unidade entre sujeito e objeto (KOHLSDORF, 1996).

A percepção forma uma cadeia de ideias fornecidas pelos sentidos, cujo resultado constitui parte do processo da construção da percepção do lugar, o que implica na presença do sujeito no local focalizado. Nesse contexto, a percepção do lugar está repleta de lembrança e de ideologia, que se sedimentam na própria experiência de cada indivíduo ou grupo de indivíduos (SARMENTO, 2002).

Diante do exposto sobre percepção e significância cultural, pode-se compreender a percepção da significância cultural como as propriedades sensoriais percebidas pelo indivíduo ou grupo de indivíduos, a partir da interação com o bem patrimonial, da qual serão capazes de atribuir-lhe valores e significados.

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30 1.2.A conservação urbana e os condicionantes da conservação

Atualmente, o principal desafio dos centros históricos é conciliar a manutenção das suas características - que lhe concedem importância excepcional, garantindo mudanças - com as exigências cada vez mais crescentes das tecnologias e economias da vida contemporânea.

Até recentemente, essa abordagem não era tão evidente, (WORTHING; BONG, 2008) e, em busca da “integração entre preservação do patrimônio e o

planejamento urbano”13 (CASTRIOTA, 2005), surge um abordagem integrada para a

conservação, a qual procura incorporar em seus princípios, além de aspectos sociais, os aspectos econômicos, político-administrativos e culturais. O conceito de conservação integrada foi introduzido na Declaração de Amsterdã (1975), um resultado do Ano Europeu do Patrimônio Arquitetônico, comandado pelo Conselho da Europa em 1975. De forma concisa, Jokilehto aborda alguns aspectos discutidos no documento:

A conservação integrada é alcançada pela aplicação de técnicas de restauração sensíveis e pela escolha correta das funções apropriadas. No curso da história, os corações das cidades e algumas vezes de vilarejos foram deixados a se deteriorar e se tornaram áreas de habitações de baixo nível. Sua restauração precisa ser feita com um espírito de justiça social e sem levar à expulsão dos habitantes mais pobres. Por isso, a conservação deve ser uma das primeiras considerações em todos os planejamentos urbanos e regionais. Deve-se notar que a conservação integrada não elimina a introdução da arquitetura contemporânea em áreas contendo edificações antigas, uma vez que o contexto existente, proporções, tamanhos e escalas sejam completamente respeitados e sejam usados materiais tradicionais. (JOKILEHTO, 2002).

A aplicação dos princípios da conservação integrada envolve: “o conhecimento das autoridades locais das suas responsabilidades, a participação dos

13 O planejamento urbano visto aqui na sua forma mais ampla, tendo como elemento central de organização o ambiente, tanto o natural quanto o construído.

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31 cidadãos, reforma de legislação para assegurar a salvaguarda tanto de edifícios individuais quanto de estruturas urbanas complexas, medidas administrativas para planejar e coordenar ações, e mecanismos de apropriação de recursos financeiros para apoiar as ações”14 (PICKARD, 2001).

Neste contexto, o Conselho da Europa lançou uma campanha, “Europe: A

common Heritage”, e criou a Associação Europeia de Cidades Históricas, a qual considera que a “reabilitação de centros históricos é um fator de coesão social e desenvolvimento econômico” (PICKARD, 2001). Dentre essas cidades, existem pontos de concordância sobre o conteúdo das ações de reabilitação de áreas históricas. Assim, apresenta-se como fundamental recuperar o patrimônio, promover o repovoamento e buscar um equilíbrio entre funções econômicas, sociais e culturais.

É consenso o fato de que os projetos de revitalização devam reproduzir aspectos que contemplem a conservação de valores urbanos, como os que se relacionam com: a identidade e a diversidade; o fortalecimento de estruturas políticas e institucionais, tais como regulamentação e mecanismos de financiamento; bem como ferramentas de gestão e métodos de intervenção, a exemplo da ampliação da participação da sociedade nos processos de requalificação urbana e gestão ambiental (PICKARD; THYSE, 2001).

Roberts (2005) também contribui com esse pensamento, quando acrescenta que, para a revitalização e conservação de centros históricos, além das questões discutidas acima, deve-se abranger uma estratégia de gestão urbana que relacione os investimentos, a intervenção física e a ação social direcionada para a conservação urbana sustentável.

Com o objetivo de refletir acerca dos aspectos que interferem na reabilitação dos centros históricos e influenciam na sua conservação, três experiências de

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32 reabilitação de centros históricos serviram como dados para se identificar os condicionantes da conservação que foram utilizados na pesquisa.

O primeiro estudo de caso foi o centro histórico de Bruges15, localizado a 13

km da Costa Norte do Oeste da Bélgica, na Europa, patrimônio mundial da

humanidade desde 200016, e um dos integrantes da Associação Europeia de Cidades

Históricas. Um modelo excepcional de assentamento medieval que conservou seu tecido urbano histórico original ao longo dos séculos17, onde as suas construções

góticas iniciais fazem parte da identidade da cidade (ver Figura 1).

Atualmente, este é um caso exemplar de um centro histórico que se reinventou. Após passar por um longo período de estagnação e deterioração, ele conseguiu conciliar suas atividades turísticas, baseadas na autenticidade de uma cidade medieval e na vivacidade cultural, com uma certa qualidade de vida para seus moradores.

Figura 1 - Vista aérea do Centro histórico de Bruges, Bélgica. Fonte:

<http://www.en.wikipedia.org/>. Autor: desconhecido.

15 As informações acerca da revitalização de Bruges foram analisadas a partir do artigo: BEERNARERT, Brigitte; DESIMPELAERE, Werner. Bruges, Belgium. Cap.2. In: PICKARD, Robert (ed.) Management of historic centres. 1°ed. London and New York: Spon Press, 2001.

16 UNESCO, 2012: In: http://whc.unesco.org/en/list/996/ 17 Idem.

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33 Em 1971, a partir da iniciativa de uma organização privada e da população local, iniciou-se o processo de reestruturação da cidade, com a criação do

Departamento de Monumentos Históricos e Renovação Urbana. Um ano depois, deu-se a

adoção do Plano Diretor Estrutural, o qual ainda hoje é utilizado para monitoramento e acompanhamento, tendo sido revisado apenas uma vez, em 2001. O Plano tem um “sistema de planejamento orgânico” capaz de se adaptar às constantes mudanças da cidade e das situações econômicas; e estabeleceu uma integração de planejamento entre a cidade histórica, a região de seu entorno e os subúrbios18. Ele é focado no

desenvolvimento socioeconômico e cultural, tendo se tornado um modelo para cidades adjacentes.

Com a revisão do Plano, estabeleceu-se controle da expansão da população na parte interna da cidade histórica e uma maior concentração de comércio em ruas

principais, tipicamente comerciais. Foi criado também o “Triângulo de ouro”19, como

estímulo à uma concentração turística restrita, induzindo o turismo noturno para outras áreas. Além disso, delimitou-se áreas específicas para a expansão da cidade, na região da grande Bruges, melhorou-se o acesso restrito à cidade antiga medieval, expandiu-se as áreas de estacionamento, e criou-se uma política de transporte público.

Algumas iniciativas de gestão da conservação, voltadas para a manutenção preventiva e a regulação das edificações, foram bem sucedidas, tais como: o subsídio de pequenos recursos financeiros para a melhoria das habitações; a tributação para os edifícios vazios em períodos prolongados; as premiações que subsidiavam a manutenção das habitações; a exigência de relatório anual do proprietário sobre o estado de conservação da habitação; a fiscalização e monitoramento constantes nos estabelecimentos. E, ainda, a existência de comitês participativos sobre tomadas de decisões acerca das questões da conservação, a exemplo do grau de interferência nas

18 A grande Bruges é formada pela fusão da cidade antiga com sete distritos vizinhos (circundantes) que perfazem um total de 13.100 hectares, enquanto a cidade medieval tem apenas 410 hectares. 19 Região do entorno dos três principais monumentos de Bruges: Beguinage – Grote Market – Zang Square.

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34 construções, a fim de que se mantenha a qualidade estética dos edifícios, estendendo esse interesse para as áreas verdes.

Quanto à circulação e tráfego, foi implantado um plano de circulação de tráfego estruturado em fases. As principais iniciativas foram: a implantação de um sistema que criou uma área reduzida ao tráfego de pedestres, a “Zona 30”, a qual restringe a velocidade dos veículos na área histórica, facilitando a circulação dos pedestres e bicicletas, em grande número na cidade; a criação de estacionamentos subterrâneos e no entorno, ainda insuficientes; e os tipos de ônibus utilizados na área histórica, menores que os convencionais, mais manobráveis, adaptados para deficientes e ambientalmente amigáveis, se adequando bem melhor à cidade antiga.

Em 2002, a cidade teve o seu reconhecimento com a nomeação do centro histórico de Bruges como a “Capital Cultural da Europa” pela União Europeia, consolidando-a internacionalmente um atrativo cultural turístico. Assim, percebe-se que as iniciativas de controle do solo urbano - na circulação viária e em novas edificações -, a conservação preventiva, e a participação da iniciativa privada e da comunidade foram determinantes para conservação desse centro histórico.

O segundo caso analisado foi a revitalização do Bairro do Recife20, em

Pernambuco. A área mais antiga da cidade, que faz parte do seu centro histórico e ocupa toda a Ilha do Recife, foi reconhecida como patrimônio nacional pelo IPHAN, em 199821 (ver Figura 2, pag.35). Até o fim da década de 1980, essa área estava em

total decadência e abandono. A revitalização nasceu da questão central de aumentar a oferta de serviços turísticos na cidade do Recife, por iniciativa do Governo do estado e da Prefeitura municipal, e foi marcada pelo estabelecimento de parcerias com a iniciativa privada.

20 As informações acerca da revitalização do Bairro do Recife foram analisadas da publicação: ZANCHETI, Silvio Mendes. (org.). Revitalização do Bairro do Recife: plano, regulação e avaliação. Recife: Centro de conservação integrada urbana e territorial - CECI; MDU/UFPE, 2008.

21 Fonte: IPHAN. Arquivo Noronha Santos. Disponível em: <www.iphan.gov.br/ans/inicial.html>. Acesso em: 20 de agosto de 2012.

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35 A gestão do projeto era realizada pelo escritório técnico de revitalização do Bairro do Recife, aí localizado, que atuava no planejamento, gestão e controle urbano. O plano estava dividido em três Polos de revitalização: Polo do Bom Jesus, Polo Pilar e Polo da Moeda.

Figura 2 - Vista aérea do Bairro do Recife. Fonte:

http://vaiqueemassa.blogspot.com.br/2012/04/recife-antigo-vai-que-e-massa.html Autor: autor desconhecido

Os objetivos do plano incluíam: o provimento de infraestruturas, como a abertura do anel viário que interligou o Bairro do Recife às zonas norte e sul da cidade; a melhoria nos sistemas de abastecimento de água, esgoto, energia elétrica, iluminação pública, etc.; a preservação do patrimônio construído – o projeto cores da cidade estimulou os proprietários a restaurarem seus imóveis com isenção de impostos; a atração de novas atividades comerciais focadas na diversidade – inicialmente, o foco foi nas atividades de lazer e turismo e no comércio local, como farmácias, mercearias, lanchonetes, etc.; os estímulos à habitação – estava previsto o uso misto em um polo do plano, o que não ocorreu, atualmente estão construindo um conjunto habitacional para abrigar a comunidade do Pilar.

Estava previsto, também, a implantação de projetos estruturadores, uma estratégia de indução pública, com o intuito de orientar os agentes privados a

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36 investirem no Bairro. Desses projetos foram implantados: o centro de animação e lazer da Rua do Bom Jesus; o Terminal Marítimo de passageiros – hoje com outro uso; e o Shopping Cultural Alfândega.

O Plano de Revitalização do Bairro do Recife, diante das sucessivas mudanças de gestões municipais e estaduais, acabou sendo implementado até sua primeira etapa. Atualmente, a maioria dos seus edifícios abriga atividades tecnológicas e órgãos públicos, como também atividades turísticas e de lazer. Deste modo, a continuidade do processo se deu de forma desordenada comprometendo a autenticidade do patrimônio histórico, onde constatasse a prioridade ao transporte individual, que para abrigá-lo se apropria de certos espaços do Bairro (LACERDA, 2007).

O terceiro caso estudado foi o bairro histórico de Grainger Town22, localizado

na parte histórica medieval de Newcastle, na Inglaterra. O bairro possui uma área de 36 hectares, com mais de 500 edifícios (ver Figura 3, pg.37). No fim da década de 1990, ele foi uma das quatro áreas escolhidas para revitalização emergencial, pois estava bastante adensado e em processo de expansão para novas áreas, apresentando muitos edifícios em decadência, com andares superiores vazios.

22 As informações acerca da revitalização de Grainger Town foram analisadas a partir do artigo: LOVIE, David. Grainer Town upon tyne, United Kingdom. Cap.13. In: PICKARD, Robert (ed.). Management of historic centres. 1ªed. London and New York, 2001.

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Figura 3 - Vista da Grey Street, em Grainger Town, atualmente considerada uma das melhores ruas da Inglaterra. Fonte: http://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.0/ Autor: Andrew Curtis

O estudo para o bairro de Grainger Town buscou a integração do planejamento urbano com a conservação. O projeto contou com a parceria de instituições locais e nacionais, privadas e públicas, a partir da formação de um Conselho e da criação de um fundo de investimentos. Procurou, também, diminuir os problemas dos edifícios subutilizados e em decadência, a partir de campanhas com os comerciantes e novos investidores para renovarem seus edifícios (frentes de lojas), com disponibilização de guias informativos de como intervir, com o auxílio de profissionais de áreas afins, a instalação de escritório técnico, etc.

O programa buscou, ainda, o incremento dos negócios existentes na área e a promoção de novos; incentivou a ocupação dos andares vazios, com a renovação da população residencial, a partir da oferta de apartamentos para aluguel e venda após a revitalização dos edifícios; determinou uma gestão do transporte com oferta de estacionamento e melhoria dos espaços urbanos históricos, procurando diminuir a poluição atmosférica e de ruído, possibilitando melhores condições para o pedestre, ciclista e deficiente. Além disto, houve um estudo de hierarquização do trânsito, tendo sido criado um sistema circular de veículos, tanto individual quanto coletivo, com restrição do acesso de veículos em algumas vias, a fim de diminuir o impacto ambiental do transporte.

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38 O projeto continua sendo monitorado por meio do controle urbano e da regulamentação, obtendo uma diminuição em 40% do estoque de edifícios em estado de risco. Ele se preocupa em manter o bom estado de conservação dos edifícios, passando a diante a consciência da importância do patrimônio construído no bairro e a sua importância para a cidade.

De acordo com as experiências expostas, observa-se que se pode agrupar as ações de reabilitação de centros históricos em grupos. São eles: (1) infraestrutura, realizada nas três experiências apresentadas, para melhorias do sistema viário e dos sistemas de abastecimento, a exemplo do Bairro do Recife; (2) oferta de serviços, como as do Bairro do Recife, com o estímulo ao pequeno comércio local e de turismo; (3)

desenvolvimento econômico, ou seja, o estímulo ao turismo cultural, em Bruges, por exemplo, com as atividades de lazer, ou a geração de pequenos negócios de Grainger Town; (4) aspectos sociais e habitacionais, quer dizer, o estímulo à habitação, pensado no Bairro do Recife e em Bruges, com os projetos de melhoria das habitações e de convivência do morador com o turista; (5) gestão da conservação, presentes nas três experiências, com algumas ações que se estendem até os dias atuais; e (6) gestão

ambiental, como em Grainger Town, que se preocupou com os efeitos poluentes, tanto

do ar quanto do som, e diminuiu o volume do tráfego local.

Diante do exposto sobre a reabilitação e conservação dos centros históricos e as análises das experiências, percebe-se que esses grupos, denominados de condicionantes da conservação, relacionados entre si, juntamente com a significância cultural, são determinantes para a conservação dos centros históricos. Nessa linha de pensamento, os condicionantes da conservação que serão aplicados no modelo metodológico deste trabalho serão: infraestrutura, oferta de serviços e gestão da conservação, além da percepção da significância cultural. Esses três condicionantes foram escolhidos pela relação mais direta com o patrimônio construído, o Centro Histórico de Marechal Deodoro, objeto deste estudo.

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39 2. O CENTRO HISTÓRICO DE MARECHAL DEODORO

O objetivo desta segunda parte é apresentar os elementos significantes do

Centro Histórico de Marechal Deodoro (doravante CHMD)23, que serão úteis para a

aplicação da metodologia. O capítulo inicia-se com a apresentação da localização e dos aspectos socioeconômicos do município, item 2.1., passando pelo seu processo de reconhecimento como bem patrimonial, item 2.3., até a contextualização da situação da conservação urbana nos dias atuais, finalizando com a descrição dos elementos significativos do Centro Histórico de Marechal Deodoro. Leva-se em conta que a importância cultural de Marechal Deodoro não é restrita apenas ao seu acervo construído, sabe-se que o município é rico em práticas culturais de natureza imaterial. Entretanto, o objeto de estudo desta pesquisa é direcionado ao patrimônio construído do CHMD.

2.1.Localização e aspectos socioeconômicos do município

Alagoas é o 2º menor estado do Brasil, em área territorial, sendo composto de 102 municípios, apresentando população total de 3.120.494 habitantes, em 2010,

distribuídos em uma área de 27.779,343km² 24. Ao mesmo tempo, o estado possui a

4ª maior densidade demográfica brasileira, com 112,33hab/km², e um índice de

desenvolvimento humano médio (IDH-M) de 0,649 (2000), a menor média estadual do país25.

É nesse contexto que o município de Marechal Deodoro está inserido, fazendo parte da Mesorregião Leste do Estado, e ainda da Microrregião Maceió, além de integrar a Região Metropolitana de Maceió, atual capital do Estado, dela distando

23 Por falta de dados específicos oficiais sobre o polígono de tombamento do centro histórico (área onde foi aplicada a pesquisa empírica), serão apresentados dados do município de Marechal Deodoro e da área urbana. Segundo o Plano Diretor do Município (2006), a área urbana está dividida em três macroáreas: Francês, Santa Rita e Centro. É nesta última que o Centro Histórico está inserido.

24 Fonte: IBGE, 2010. Disponível em: <www.ibge.gov.br/estadosat/perfil.php?sigla=al> Acesso em: 20 de junho de 2010.

25 Fonte da Densidade demográfica extraída do CENSO/2010 no site do IBGE, e do IDH no site do PNUD. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/estadosat/perfil.php?sigla=al> e <http://www.pnud.org.br/Atlas.aspx?view=atlas>. Acesso em: 20 de junho de 2012

Referências

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