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Narração a Partir de Novas Experiências: a Importância de Apurar o Olhar Sobre o Evento Esportivo

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Academic year: 2021

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NARRATIVE FROM NEW ExPERIENCES: THE IMPORTANCE OF LOOKINg INTO THE SPORTINg EVENT

Clayton Oliveira CARVALHO1

claytonolicarvalho@gmail.com Briefing

The text was born from the challenges and transmission concepts of a sporting event. The aim is to show the transition and the differences of locution between radio and television. It includes the backstage and the re-sults of the Olympic sports narration, Reporting the personal experience of participating in two great moments: the Olympic and Paralympic Games. Introdução

Minha inclinação para a locução esportiva teve início ainda na infância. Sempre fui apaixonado por futebol. Meu pai e meu avô con-tribuíram para introduzir o vírus do esporte mais popular do Brasil nas minhas veias. Assistia transmissões sempre aos sábados à tarde na TV aberta e me lembro de estar em uma sala com meu avô vendo partidas do campeonato paulista. Eu tentava tecer alguns comentários, aos quais ele antipatizava, pois queria ouvir o narrador. Sábia decisão dele. Ali estava sendo plantada a semente da narração, pois acabava ouvindo junto.

Aos 10 anos, o vírus se alastrou quando ganhei um rádio reló-gio. No começo dos anos 1990, as estações em AM eram bem mais acessíveis e tinham mais popularidade. Ficava procurando resenhas esportivas e ouvia até 22h. Afinal, não podia dormir tarde. Exceto aos finais de semana, quando conseguia ter acesso aos jogos do campe-onato carioca.

1 Jornalista formado na Universidade Federal Fluminense (UFF), com passagens em jornais, assessorias de imprensa, rádio e tv. Atuação como locutor e repórter esportivo nas rádios Transamérica, Brasil e Manchete. Desde 2010, narrador dos canais Sportv.

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Cinco anos depois, surgiu minha primeira experiência com um veículo de comunicação. Comecei em uma rádio comunitária, numa área de terra batida e localizada aos fundos de um local, no subúrbio do Rio de Janeiro, após uma enorme subida. Participei e colaborei em um programa de Rock and Roll, comandado por dois amigos. Meses depois, elaborei o que seria meu primeiro “projeto”: mesclar esporte com música, em um programa de uma hora, as sextas, durante horário vago na programação.

A aventura funcionou bem, pois fui convidado, após dois meses, a ficar com o horário. Mas, ainda estudante, tive que interromper a passagem, por motivos de falta de renda. Porém, serviu para esclare-cer qualquer tipo de dúvida. Realmente, estava determinado a seguir a carreira de locutor.

A semente plantada em 1995 germinou 10 anos depois, quando me formei jornalista e retornei ao rádio, com foco inicial na reportagem. Aos poucos, fui crescendo e ganhando espaço, até a minha primeira narração, em 2006. Transmiti um jogo válido pelo campeonato carioca, entre América e Madureira. Depois de ter percorrido algumas rádios do Rio de Janeiro, ter trabalhado como freelancer em outras de fora do RJ, ingressei nos canais Sportv, em 2010. Desde então, a versatili-dade passou a ser a palavra-chave, na busca incessante em transmitir a emoção própria de cada esporte. Sentimento ainda mais latente nos períodos de Jogos Olímpicos e Paraolímpicos, onde as competições se misturam e os recordes são batidos a todo instante.

Desenvolvimento

A função de narrador existe desde o século passado. Em 1931, Nicolau Tuma, locutor da Rádio Sociedade Educadora Paulista (primei-ra emisso(primei-ra de São Paulo, fundada em 1923), foi precursor do futebol no rádio. O ponto de partida esteve na primeira transmissão na íntegra de uma partida de futebol entre as seleções paulista e paranaense, no campo da Chácara da Floresta, no bairro de Ponta Grande, em São Paulo. (SOARES, 1994).

Seu pioneirismo ajudou a construir uma grande escola para locu-tores consagrados como Jorge Curi, Waldir Amaral e Fiori Gigliotti. O

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rádio, apesar da crise econômica, ainda hoje mexe com o imaginário de quem ouve as vozes de José Carlos Araújo, Edson Mauro, Oscar Ulisses, José Silvério e tantos outros.

Tuma trouxe uma nova paixão aos torcedores. A de poder ouvir cada detalhe, cada som e cada peculiaridade do andamento de um jogo de futebol. De colocar o imaginário a serviço de uma jogada de habilidade ou de gol de placa. A narração no rádio contribuiu para o iní-cio do trabalho dos locutores na televisão. Na telinha, eles tiveram que se adaptar ao veículo e passaram a descrever as jogadas e os momen-tos de cada esporte de acordo com a leitura e descrição das imagens. Estive no rádio durante grande parte da minha trajetória. Quando narrava no rádio, minha voz estava em formação e bem diferente de hoje. Você se preocupa em ser mais detalhista, em situar onde está a bola (na defesa, no meio ou no ataque), em trazer maior riqueza de detalhes nas jogadas, em passar detalhes do entorno do estádio e, o mais importante, levar as emoções do jogo transmitido.

Nas transmissões radiofônicas, abre-se o microfone e você pas-sa a ser “os olhos” de quem ouve. Com fala constante, interrompida apenas quando surge alguma informação a ser passada por um repór-ter ou quando o comentarista se manifesta a transmissão radiofônica também passou a ter uma grande interatividade, com um responsável em ler as mensagens imediatas deixadas pelos ouvintes.

Para contar os detalhes de uma partida, é necessário ter um ar-senal de frases e, se possível, de alguns bordões necessários para prender a atenção. Existe uma grande liberdade para condução de um evento (com dose alta de responsabilidade) e a obrigação de falar a cartela de anunciantes.

Com a mudança para a televisão, as diferenças começam pela descrição das imagens, o que traz uma procura incessante em buscar as palavras certas durante a movimentação delas. Existe uma equipe muito maior envolvida e uma direção dada por coordenadores para o bom andamento. As responsabilidades estão também com textos – fo-guetes (em geral, com anúncios), com intervalos recheados de atrações e valorização do ambiente (torcida, família e situações captadas no local do evento).

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Transmissão esportiva

A transição do rádio para a televisão foi bastante difícil. Primeiro, na questão da fala. Sempre tive o costume de pronunciar as palavras de uma maneira rápida. Isso ajudou na transmissão radiofônica, que requer uma velocidade e um ritmo intensos. Falar de forma mais arti-culada e pronunciar frases curtas e claras foram os maiores desafios, tudo para facilitar o entendimento dos interessados em ouvir jogos.

Na telinha, é necessária uma dosagem bem grande no ritmo. Afi-nal, não é recomendável tentar adivinhar a próxima cena sem ela ter acontecido, pois sua margem de erro desafia a matemática, ficando bem acima dos 50%. A adaptação para algo mais pausado precisou ser feita de maneira drástica, para evitar qualquer tipo de atropelo. O refino nos termos se torna bem mais veemente e ajuda a pontuar os acontecimentos.

A tentativa de prender os ouvintes no rádio está sempre nos cha-mados altos e baixos da narração. Quando existe um momento de pe-rigo, a voz sobe e conta a história com a emoção própria do veículo. Nos dias atuais, o humor vem sendo muito empregado e contribui para entreter os interessados nas partidas.

Na TV, não apenas a emoção serve para fixar os telespectado-res. Os estudos e informações devem ser profundos e precisos. Uma apuração voraz sobre o evento transmitido desperta curiosidades e enriquece a transmissão, deixando o clima atraente e propício a pren-der a atenção.

O período de transição foi bastante complicado. Sair de um ve-ículo que preza o detalhismo de uma imagem para outro que com a imagem em destaque levou tempo. Exercício enorme de paciência, repetição, continuidade e ajustes a ser feitos a todo instante. E que são realizados até hoje. Eterna guerra pela perfeição. Algo praticamente impossível, mas que não impede a evolução constante.

O maior desafio foi realizar mudanças na velocidade de dizer as palavras durante o dia a dia. Passar a conversar de forma mais pausada ajudou na hora de descrever os detalhes do andamento de uma transmissão. Luta difícil, mas, com o tempo, gerou um progres-so significativo.

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Também tive que aumentar o grau de leitura. O improviso é fun-damental dentro da vida de um locutor e ler sobre os mais variados assuntos cria um “banco” de dados importante na hora de uma trans-missão ao vivo e uma grande arma contra imprevistos.

E o que parece óbvio, mas é fundamental ao decorrer do anda-mento de uma competição mostrada pela TV: saber a regra. Esclareci-mentos sobre o que acontece no momento de uma competição, ditos de maneira objetiva contribuem para o entendimento das situações de jogo. Explicações sobre o próximo passo após a fase que se acom-panhada e qual o valor do que se está transmitindo (se vale medalha ou somente classificação) é indispensável para o bom andamento da relação narrador/telespectador.

Na abertura de uma transmissão, deve-se explicar a importância do que será transmitido. A partir dela, entram os detalhes: saber a re-gra, descrever os detalhes, emitir curiosidades, informar as classifica-ções e o desenrolar das imagens se somam para o bom andamento da partida de futebol, da competição de ginástica ou do jogo de basquete. Interações com comentaristas trazem fluidez e naturalidade para uma transmissão e aproximam os que estão assistindo ao ambiente. E a tendência, como no rádio, será também de maior interatividade com os telespectadores via redes sociais.

Jogos Olímpicos

A transmissão de uma competição do quilate da Olimpíada é ex-tremamente diferente. Muitos eventos ocorrem ao mesmo tempo e a adaptação do narrador ao ritmo de cada modalidade é testada a todo o momento.

Tive a oportunidade de transmitir duas olimpíadas: Londres (2012) e Rio de Janeiro (2016). Na minha primeira, tinha pouco tempo de adap-tação para a televisão. A versatilidade e a importância de apresentar al-guns esportes pouco conhecidos do público se aliaram para um trabalho engrandecedor e trouxeram aprendizados guardados com carinho.

Fiz jogos de tênis, competições de remo, canoagem, polo aquático e hóquei. Partidas de vôlei e basquete. Confrontos de judô. Verdadeiros suspenses no levantamento de peso. Mas, o ponto alto foi a final

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olím-pica do Handebol Masculino, que coroou a vitoriosa geração francesa. No Rio, com mais bagagem, fui premiado com a honraria de ser o narrador das três medalhas do Brasil na canoagem. Todas foram al-cançadas com Isaquias Queiroz na canoa: C1 (Individual) 1000m, C1 2000m e C2 (canoa dupla) 1000m, em parceria com Erlon de Souza.

A preparação foi mais intensa. Houve um zelo maior com o que se estava para relatar. Ele aumentou depois que ele fez o melhor tem-po nas classificatórias. Nessa hora, tive a certeza de que a medalha inédita viria. O local de transmissão estava próximo à chegada e foquei especialmente na largada, ao qual ele abriu boa vantagem, na prova de 1000m. Apesar do ritmo intenso não ter sido sustentado até o final, quando Isaquias foi ultrapassado pelo alemão Sebastian Brendel, o valor da conquista da prata em um esporte pouco praticado no Brasil foi digno de um ouro.

O foco passou longe do brilho da medalha, mas foi direciona-do para a superação das dificuldades da vida de um brasileiro repre-sentante de uma maioria desfavorecida, que deposita no esporte, as chances de uma vida melhor. Confesso que me lembrei das horas em que subia as escadas de terra para a rádio comunitária e agradeci ao estar presente em um momento tão marcante para o Brasil. Foi difícil conter a emoção particular, mas a prova conseguiu ser contada. Ela me rendeu uma honraria enorme ao poder acompanhar de perto não só a primeira medalha no C1 1000m, como as outras duas alcançadas pelo canoísta.

Paralimpíada

No esporte paralímpico, o enfoque foi diferente. O evento ocorre de quatro em quatro anos e atrai todo tipo de pessoas com deficiência. Mostrar as dificuldades que as pessoas tiveram durante a vida e a história particular de cada uma delas é fundamental para que o público tome ciência do grau de deficiência. Mas a competitividade deve estar em primeiro plano. Afinal, estão presentes os maiores nomes do alto rendimento, que buscam sempre um lugar no pódio.

O maior desafio em uma transmissão de paralimpíadas está na incorporação de elementos, traços da transmissão de rádio dentro da

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narração televisiva. Uma narração mais descritiva se torna obrigatória em função do número maior de deficientes visuais. As explicações de cada classificação funcional (responsável por integrar atletas com a mesma deficiência) situa o telespectador para que ele possa entender com maior facilidade o grupo envolvido na disputa.

O estudo de cada modalidade se torna essencial. Existem es-portes - como Goalball e Bocha – que estão presentes somente na pa-ralimpíada e exigem conhecimentos específicos. Eles requerem uma atenção especial no momento de passar a informação precisa sobre o andamento da disputa.

Como já citado, saber a regra e estar munido de informações fazem parte para um bom andamento da competição. Essa preparação ajuda na prevenção para inesperados. Um exemplo está em uma me-dalha de ouro ganha pelo brasileiro Alan Fonteles, na prova dos 200m rasos, classes T43/44 (para atletas com amputação e com auxílio de próteses) na edição dos jogos de 2012.

Uma prova rápida requer atenção especial aos principais nomes da prova, que aspiram a uma vaga no pódio. Nesse caso, o favorito sul--africano Oscar Pistorius buscava o bicampeonato diante de um Alan Fonteles com possibilidades grandes de pódio. A história foi contada a partir do momento em que o corte da imagem passou a focalizar o bra-sileiro disparando na raia oito. Ele surpreendeu Pistorius ao ficar com a medalha de ouro. E me rendeu umas maiores transmissões da minha carreira e um dos grandes momentos do Brasil nesta edição dos Jogos. Conclusão

Desde o início da trajetória, ainda no rádio, o foco da minha car-reira sempre esteve em buscar nos esportes boas histórias cercadas de emoção. No rádio, veículo eficiente na arte de mexer com a criativi-dade das pessoas, onde o desafio de prender os ouvintes estava nos bordões, nas palavras e nas frases bem-humoradas, tive a oportunida-de oportunida-de contar acontecimentos oportunida-de futebol.

Na TV, onde a transição foi árdua e cuja imagem facilita o enten-dimento dos fatos ocorridos, o objetivo está em transmitir o que se vê, procurando seguir fielmente o que se é mostrado e colocando cargas

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emotivas no exato instante em que a história se constrói. A preparação e o estudo sobre o que se narra, contribui de forma importante para o bom andamento do evento.

A partir da preparação, que envolve saber da regra e acompa-nhar o desenrolar dos acontecimentos mostrados ao vivo, consegui realizar boas participações em inúmeros eventos, tendo como pontos altos as narrações nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos.

Referências

SOARES, Edileuza. A bola no ar – O rádio esportivo em São Paulo – Summus editorial.

Referências

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