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Crise e colapso: a polêmica sobre o futuro do capitalismo.

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Academic year: 2021

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José Álvaro de Lima Cardoso

CRISE E COLAPSO: A POLÉMICA SOBRE 0 FUTURO DO CAPITALISMO

D i s s e r t a ç ã o a p r e s e n t a d a a o c u r s o d e M e s t r a d o e m E c o n o m i a R u r a l d a U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d a P a r a í b a , C a m p u s I I , p a r a a o b t e n ç ã o d o t í t u l o d e M e s t r e e m E c o n o m i a

O r i e n t a d o r

1

P r o f . D r . Reinaldo A. Carcan ho lo

Campina Grande, 1992

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prá VERA, RAMON

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MEUS AGRADECIMENTOS

Em p r i m e i r o l u g a r a o R e i n a l d o , a m i g o e o r i e n t a d o r , p e l a s d i c a s f u n d a m e n t a i s q u e me t r a n s m i t i u n o momento c e r t o , a s s i m como p e l o sacrifício de t e r l i d o ( e c r i t i c a d o ) a l g u n s d o s meus terríveis

textos preli.mirta.res.

Ao P r o f . Célio Espíndola, e s t a g r a n d e f i g u r a , p e l a i n f i n i t a paciência e p e l o banha d e informações q u e me p a s s o u s o b r e t e o r i a de c r i s e . :

Ao P r o f . Sílvio C a r i o , p e l a s u a p e r m a n e n t e b o a - v o n t a d e e p e l a o b j e t i v i d a d e d e s u a s sugestões (às v e z e s , é t u d o q u e p r e c i s a m o s ) .

Ao a m i g o Antônio C h e d i d ( o g r a n d e tiriça) p e l a faxina ortográfica e p e l o s comentários i n t e r e s s a n t e s a r e s p e i t o do conteúdo d o t e x t o . Às c o m p a n h e i r a s da Federação do Comércio d e S a n t a C a t a r i n a , p o r t e r e m me c o n c e d i d o a h o n r a d e t e r s i d o , d u r a n t e vários m e s e s , o único usuário da b i b l i o t e c a da e n t i d a d e . À turma do DIEESE p e l o i n c e n t i v o q u e c o s t u m a d a r a . t o d a i n i c i a t i v a no campo d o e s t u d o e d a p e s q u i s a .

À tigrada do S i n d i c a t o d o s Bancários, em e s p e c i a l N e t o , Evilásio e D a n i e l , p e l o a p o i o e compreensão.

Ao Maurício e ao B e t o , o s d o i s únicos d i g i t a d o r e s q u e conheço que c o r r i g e m concordância v e r b a l e s e i n t e r e s s a m p o r t e o r i a d a c r i s e . Ao Olívio T e i x e i r a , a m i g o e c o l e g a de m e s t r a d o , p e l o i n c e n t i v o e a p o i o logístico. Ao p e s s o a l d o M e s t r a d o em E c o n o m i a , e s p e c i a l m e n t e Nelma e Glória, p e l a força q u e s e m p r e me d e r a m n e s t e s c i n c o a n o s ( i n t e r m i t e n t e s ) d e convivência.

Agradeço p o r f i m , à CAPES, p e l a viabilização f i n a n c e i r a d e s t e m o d e s t o t r a b a l h o .

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Ao l a d o da g r a v i d a d e da c r i s e do s i s t e m a , da acumulação de a r m a s de destruição m a s s i v a

e d a r e t o m a d a de tendências i r r a c i o n a i s , patológicas, de d e s p r e z o e de r a i v a c o n t r a o homem e n t r e a s c l a s s e s proprietárias e uma p a r t e d o s ideólogos e políticos a s e u serviço,

a c r i s e c o n f r o n t a a h u m a n i d a d e a uma versão apocalíptica do d i l e m a : " s o c i a l i s m o o u barbárie"

"sobrevivência o u a n i q u i l a m e n t o c o l e t i v o " . ( E r n e s t M a n d e l , A c r i s e do C a p i t a l . . . )

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SUMÁRIO

Buscamos n o p r e s e n t e e s t u d o fazer u m a r e v i s ã o b i b l i o g r á f i c a a r e s p e i t o d a p o l e m i c a t e ó r i c a sobre o p r o b l e m a d a s crises económicas c a p i t a l i s t a s e, a p a r t i r daí, avançar' na compreensão deste c o m p l e x o fenómeno sócio-econômico.

I n i c i a l m e n t e empreendemos u m l e v a n t a m e n t o d a s p r i n c i p a i s contribuições sobre c r i s e e c o l a p s o g e r a d a s n o i n t e r i o r d a II I n t e r n a c i o n a l C o m u n i s t a , p r o c u r a n d o e x t r a i r d o debate a l i r e a l i z a d o as questões f u n d a m e n t a i s q u e o m o t i v a r a m .

P o s t e r i o r m e n t e , com base nos e s c r i t o s de M a r x e de seus s e g u i d o r e s , p r o c u r a m o s e l a b o r a r u m esquema de análise q u e , a t r a v é s de u m a ótica m u l t i c a u s a l , i n t e r r e l a c i o n a s s e de f o r m a c o e r e n t e os elementos c e n t r a i s do p r o b l e m a das c r i s e s .

N u m t e r c e i r o momento, buscamos o r g a n i z a r o c e r n e d a s r e c e n t e s contribuições sobre c r i s e , m a i s e s p e c i f i c a m e n t e as T e o r i a s d a Regulação e as do " P r o f i t Squeeze", a n a l i s a n d o e c r i t i c a n d o seus p r i n c i p a i s c o n c e i t o s e hipóteses.

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A B S T R A C T O u r t a r g e t uUth t h i s u t o r k is t o d o a b i b l i o g r a p h i c r e v t e i u , c o n c e r n i n g t o t h c t h e o r e t i c polemics o n t h e p r o b l e m of c a p i t a h s t economic c r i s i s a n d , c o n s e q u e n t l y , t o go a h e a d o n u n d e r s t a n d i n g t h i s complex. s o c i a l a n d e c o n o m i c p h e n o m e n o n . I n i t i a l l y ute b u i l d a c o m p i l a t i o n o/ t h e m a i n c o n t r i b u t i o n s t o c r i s i s a n d c o l l a p s e ' s t h e o r y o n II C o m m u n i s t I n t e r n a t i o n a l , t r t j m g t o a b s t r a c t f r o m t h e debate t h e f u n d a m e n t a l q u e s t i o n s t h a t m o t i v a t e d i t . A / t e r i t , based o n M a r x ' s u t r i t i n g s - a n d o n h i s p a r t i s a n ' s - ate e l a b o r a t e a scheme of a n a l u s i s , t h r o u g h a m u l t i c a u s a l p o i n t of uieiu, t h a t i n t e r r e l a t e s c o h e r e n t l y t h e m a i n elements o n c r i s i s * p r o b l e m . A t l a s t , tue t r y t o o r g a n i z e t h e essence of r e c e n t c o n t r i b u t i o n s t o c r i s i s ' t h e o r y , m o r e s p e c i f i c a l l y t h e t h e o r i e s of " R e g u l a t i o n " a n d " P r o f i t squeeze", a n a l y z i n g a n d c r i t i c i z i n g t h e i r m a i n c o n c e p t s a n d h y p o t h e s i s . 2

(8)

ÍNDICE 1 - INTRODUÇÃO GERAL

1.1 - O o b j e t o d e e s t u d o e s u a problematização 2

1.2 - O b j e t i v o s 7 1.3 - Q u a d r o de r e f e r e n c i a teorico-metodológico 9

2 - A POLÉMICA DA CRISE E DO COLAPSO NO INTERIOR DA I I INTERNACIONAL

2.1 - Introdução à 17

2.2 - Rosa L u x e m b u r g : A reação sxibc onsurnis ta . 2 6

2.3 - Os e n g a n o s de Rosa L u x e m b u r g 2 9 2.4 - 0 esquema de O t t o B a u e r • 33 2.5 - Á visão d e L e n i n 37 2.6 - A contribuição d e B u k h a r i n 44 2 . 7 - 0 colapso s e g u n d o H e n r y k Grossmann 48 2.8 - A realização da produção e o p r o b l e m a d a m o n o c a u s a l i d a d e 54 2.8.1 - 0 p r o b l e m a da realização do p r o d u t o s o c i a l 54 2.8.2 - Os esquemas de reprodução e s e u s i g n i f i c a d o 56 2.8.3 - 0 p r o b l e m a da m o n o c a u s a 1 i d a d e n a s a b o r d a g e n s s o b r e c r i s e e c o l a p s o 59 3 - UMA VISÃO MARXISTA DA CRISE

3.1 - Introdução 65 3.2 - A n e c e s s i d a d e da c r i s e d e sobreprodução .-. 7 0 3.3 - 0 c a p i t a l bancário e o crédito 77 3.4 - A contradição e n t r e o caráter s o c i a l d a produção e a s u a apropriação p r i v a d a 8 3 3.5 - A l e i da q u e d a t e n d e n c i a l da t a x a de l u c r o 87 3.6 - Críticas à l e i t e n d e n c i a l : Sweezy e R o b i n s o n 106 3.7 - A q u e d a da t a x a de l u c r o e a c r i s e económica 1 1 5 4 - TEORIAS RECENTES DA CRISE

4.1 - Introdução ^ • 120 4.2 - As t e o r i a s do Pro/it Sq-ue-e-ze- 1 2 2 4.3 - As t e o r i a s da Regulação 128 4.4 - Críticas à s t e o r i a s da regulação 1 3 8 5 - OBSERVAÇÕES F I N A I S 146 ANEXO Í . 1 5 3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .' • 156

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C A P I T U L O I Introdução G e r a l

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1 . 1 . 'O OBJETO DE ESTUDO E SUA PROBLEMATIZAÇÃO

Desde o n a s c i m e n t o d a ciência económica, o f a t o de r e i t e r a d a m e n t e a s e c o n o m i a s c a p i t a l i s t a s s e v e r e m s u b m e r g i d a s em situações de c r i s e f o i a l v o d a atenção d o s p e n s a d o r e s l i g a d o s a e s t a área de c o n h e c i m e n t o . M u i t o s t r a t a r a m d o t e m a , f o r m u l a n d o explicações o u até n e g a n d o a existência do p r o b l e m a , mas f o r a m , no e n t a n t o , o s a u t o r e s m a r x i s t a s q u e r e a l i z a r a m o s m a i s i m p o r t a n t e s p r o g r e s s o s teóricos a r e s p e i t o d e s t a discussão. J u n t a m e n t e com a t e o r i a do v a l o r , p o d e - s e a f i r m a r q u e a t e o r i a d a s c r i s e s c o n s i s t e numa d a s m a i o r e s contribuições de Marx e de s e u s s e g u i d o r e s p a r a a

t e o r i a económica.

T o d a v i a , não vamos e n c o n t r a r n a o b r a de M a r x , de f o r m a s i s t e m a t i z a d a , uma t e o r i a s o b r e a s c r i s e s . E s t a , e n c o n t r a - s e e l a b o r a d a através de uma concepção g e r a l a p e n a s , e distribuída ao l o n g o de s u a o b r a , em e s p e c i a l em a l g u m a s p a s s a g e n s d o s Crxindisse, d a s Teorias da Mais—valia e de O Capital.

Marx p e r c e b e a p o s s i b i l i d a d e de s u r g i m e n t o d a s c r i s e s em função da própria dissociação e x i s t e n t e e n t r e a m e r c a d o r i a e o d i n h e i r o . Ao contrário d o s clássicos, q u e a c r e d i t a v a m q u e a produção c r i a a s u a própria p r o c u r a , e l e vê n a u n i d a d e f o r m a d a p e l o m o v i m e n t o de m e t a m o r f o s e d a m e r c a d o r i a ( c o m p r a e v e n d a ) a p o s s i b i l i d a d e d a c r i s e . A c o m p r a e a v e n d a , q u e p o r um l a d o f o r m a m

(11)

uma u n i d a d e , p o r o u t r o s i g n i f i c a m a "afirmação recíproca de independência" n a s p a l a v r a s de'Mar::.

P o r constituírem uma ' u n i d a d e , t a l afirmação de independência só pode o c o r r e r de f o r m a v i o l e n t a e d e s t r u t i v a :

É justamente na c r i s e que sua unidade se manifesta, a uni-dade de elementos opostos. A independência reciproca assu-mida pelas duas fases conjugadas e complementares destrói-se ã força. A c r i s e portanto revela a unidade de elementos que passaram a f i c a r independentes uns dos outros. Não ocorreria c r i s e se não e x i s t i s s e essa unidade interna de elementos que parecem comportar—se com recíproca indife-rença (Mar;;, Teorias da Mais-valia, v . I I , 9 3 6 ) .

M a r x c r i t i c a de f o r m a c o n t u n d e n t e o s c h a m a d o s e c o n o m i s t a s apologéticos, p o r e s t e s , ao t e n t a r e m n e g a r a p o s s i b i l i d a d e de

c r i s e s g e r a i s do c a p i t a l i s m o , a c a b a r e m n e g a n d o o próprio caráter f u n d a m e n t a l d e s s e modo de produção q u e é a produção de m e r c a d o r i a s . Ao q u a l i f i c a r e m e s t a s de produtos r e s s a l t a v a m a p e n a s o s e u v a l o r de u s o e e s c a m o t e a v a m a s s i m t o d a s a s contradições o r i u n d a s d a contradição e n c e r r a d a n a m e r c a d o r i a , e n t r e v a l o r e v a l o r de u s o .

A omissão do v a l o r l e v a à negação d o d i n h e i r o como uma f o r m a e s s e n c i a l de existência d a m e r c a d o r i a , já q u e e s t a t e m q u e a p r e s e n t a r - s e n a f o r m a de valor de troca trabalho social geral. P a r a M a r x , a bifurcação da m e r c a d o r i a em m e r c a d o r i a e d i n h e i r o e ,

com i s s o , a p o s s i b i l i d a d e d a dissociação e n t r e c o m p r a e v e n d a , é o f u n d a m e n t o d a produção c a p i t a l i s t a . Porém, e s t a separação não e x p l i c a a c r i s e mas a p e n a s a p o s s i b i l i d a d e d e s t a . A dissociação a p a r e c e n a c r i s e , c o n t u d o " e x p l i c a r a c r i s e p o r e s s a f o r m a e l e m e n

(12)

-t a r s i g n i f i c a e x p l i c a r a exis-tência d a c r i s e - , e x p r e s s a n d o - a na m a i s a b s t r a t a f o r m a de s u a existência, i s t o é, e x p l i c a r a c r i s e p e l a c r i s e " ( i d e m ) .

0 d i n h e i r o p o s s i b i l i t a a dissociação, a independização d o s d o i s momentos da t r o c a ( c o m p r a e v e n d a ) t a n t o no t e m p o , q u a n t o no espaço. Poderá h a v e r então a v e n d a sem c o m p r a e i s s o a t r a p a l h a a m e t a m o r f o s e d a s m e r c a d o r i a s à f o r m a d i n h e i r o , o q u e p o s s i b i l i t a Uflta superabundância g e r a l de m e r c a d o r i a s em d e t e r m i n a d o momento.

Com b a s e no m a t e r i a l i s m o histórico e dialético Marx c o n s e g u i u a p r o f u n d a r s u a s d e s c o b e r t a s a r e s p e i t o d a s c r i s e s , e x a t a m e n t e p o r q u e a s e s t u d o u em conexão com uma concepção g e r a l d a s

l e i s que movem a s o c i e d a d e c a p i t a l i s t a . Por- c o n s e g u i n t e , o e s t u d o da c r i s e em Marx d e v e s e r b u s c a d o na t o t a l i d a d e de s u a o b r a . Ao

l o n g o d e s t a , e l e l e v a às últimas consequências o e s t u d o do caráter anárquico e contraditório do modo de produção c a p i t a l i s t a e s u a análise p e r m i t e e n t e n d e r o m e c a n i s m o q u e l e v a ' a o s m o v i m e n t o s

cíclicos da produção.

De q u a l q u e r s o r t e , o f a t o d e s t e a u t o r não t e r r e a l i z a d o uma exposição sistemática e c o m p l e t a s o b r e a t e o r i a d a s c r i s e s

p o s s i b i l i t o u não a p e n a s a t a q u e s p o r p a r t e de s e u s críticos, como p r i n c i p a l m e n t e um a c i r r a d o d e b a t e e n t r e s e u s próprios s e g u i d o r e s . A l g u n s d e s t e s , p a r a e x p l i c a r a s c r i s e s , b a s e a r a m - s e e x c l u s i v a m e n t e n o s esquemas de reprodução do s e g u n d o v o l u m e de O Capital, o q u e o s

l e v o u a e n x e r g a r a c r i s e como mera r u p t u r a d a p r o p o r c i o n a l i d a d e e n t r e o s s e t o r e s . O u t r o s 1'imi t a r a m - s e ao e s t u d o d a q u e d a

(13)

t e n d e n c i a l da t a x a de l u c r o . Um o u t r o g r u p o a i n d a , s e d e t e v e no

p r o b l e m a do s u b c o n s u m o da população operária, o u d a i n c a p a c i d a d e do c a p i t a l i s m o d e d e s e n v o l v e r - s e sem m e r c a d o s l o c a l i z a d o s f o r a d e s t e modo de produção.

A. revisão do- d e b a t e c o n s i d e r a d o clássico s o b r e o p r o b l e m a d a s c r i s e s e do c o l a p s o do c a p i t a l i s m o - a s e r e m p r e e n d i d a no próximo capítulo - n o s fornecerá uma noção d a c o m p l e x i d a d e do tema e da p o l e m i c a q u e e s t e s e m p r e g e r o u no s e i o da t e o r i a económica. Ern e s p e c i a l d a q u e l a de tradição m a r x i s t a , q u e até p o r questões de estratégia política, f o i quem i n d u b i t a v e l m e n t e i n v e s t i u m a i s t e m p o e esforço na elucidação da problemática da c r i s e . Não f o i p o r a c a s o , a l i á s , q u e do r e f e r i d o d e b a t e p a r t i c i p a r a m t o d o s o s g r a n d e s d i r i g e n t e s partidários e teóricos m a r x i s t a s como E d u a r d B e r n s t e i n , Tugán-Baranovsky, H i l f e r d i n g , Rosa L u x e m b u r g , L e n i n , K a u s t s k y , e t c .

0 d e b a t e clássico, no e n t a n t o , a p e s a r de e x t r e m a m e n t e f e c u n d o , em função da própria e t a p a v i v i d a p e l o c a p i t a l i s m o no momento em q u e e l e o c o r r e , não e s g o t o u o u r e s o l v e u a questão. P o s t e r i o r m e n t e vários a u t o r e s s e i n s e r i r a m n a discussão, através da crítica a c e r t a s formulações t r a d i c i o n a i s - e d e n o v a s contribuições.

E s t a s últimas, a l i á s , p o s s i b i l i t a d a s p e l a própria evolução do modo de produção c a p i t a l i s t a , c u j a s f o r m a s a t u a i s , p o r

s e r e m m a i s c o m p l e x a s , c r i a m a s condições o b j e t i v a s p a r a a s análises i g u a l m e n t e m a i s c o m p l e x a s e m a i s r i c a s em determinações. Ou s e j a , a c r i s e a t u a l do c a p i t a l i s m o , q u e i n i c i o u - s e há vários a n o s e a t i n g e p r a t i c a m e n t e t o d o o mundo, não a p e n a s r e s g a t o u e n e r g i c a m e n t e

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o d e b a t e teórico s o b r e a c r i s e ( c u j o patrocíhio p r i n c i p a l d e v e - s e sem dúvida à tradição m a r x i s t a ) como c o l o c o u a implacável exigência deste? o b t e r avanços e f e t i v o s .

Ao contrário do q u e costumam a f i r m a r a l g u n s a n a l i s t a s p r e c i p i t a d o s , a d e r r o c a d a ' d o socialismo real não s i g n i f i c a o f i m da história. A d e v a s t a d o r a e s u r p r e e n d e n t e explosão v e r i f i c a d a no

l e s t e e u r o p e u n o s últimos três.anos não e n c o b r e a i n c a p a c i d a d e do modo de produção c a p i t a l i s t a de i n c o r p o r a r a s a m p l a s m a s s a s no m e r c a d o de consumo, nem t a m p o u c o a c a b o u com a s c r i s e s cíclicas d e s -t e s i s -t e m a .

Na época de Rosa L u x e m b u r g e L e n i n o móvel c o n c r e t o de impulsão d o d e b a t e e r a e s s e n c i a l m e n t e a consolidação da " e t a p a s u p e r i o r do c a p i t a l i s m o " e de t u d o q u e i s s o r e p r e s e n t a v a . H o j e e s t e móvel é a duração da c r i s e económica, s u a i n t e n s i d a d e e o f a t o de e s t a r mundializada,'envolvendo p r a t i c a m e n t e t o d o s o s países do g l o b o .

P o r t u d o i s s o , o r e s g a t e e a compreensão do d e b a t e clássico e contemporâneo s o b r e a t e o r i a m a r x i s t a d a s c r i s e s económicas, e a t e n t a t i v a de definição de. m a r c o s teóricos p a r a o e n f r e n t a m e n t o d e s s a discussão, n i s s o c o n s i s t e n o s s o o b j e t o de e s t u d o .

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1.2. OBJET IVOS

1 . 2 . 1 . O b j e t i v o G e r a l :

E s t u d a r a t e o r i a m a r x i s t a d a c r i s e económica c a p i t a l i s t a e, com b a s e n a s formulações de Mar;:, c o n s t r u i r um m o d e l o de análise q u e i n t e r - r e l a c i o n e o m a i s d i d a t i c a m e n t e possível o s p r i n c i p a i s e l e m e n t o s teóricos de explicação d a s c r i s e s cíclicas do c a p i t a l i s m o . Em o u t r a s p a l a v r a s , b u s c a r e l a b o r a r o s e l e m e n t o s teóricos q u e , a p a r t i r "de uma p e r s p e c t i v a m a r x i s t a , s e j a m o s m a i s a d e q u a d o s e e f i c a z e s no e s t u d o da c r i s e económica.

1.2.2. O b j e t i v o s Específicos

- F a z e r uma revisão crítica d o d e b a t e c o n s i d e r a d o clássico r e a l i z a d o no i n t e r i o r do m a r x i s m o s o b r e a c r i s e e o

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colapso do c a p i t a l i s m o , p r o c u r a n d o n o s p o s i c i o n a r em relação ao mesmo.

- C o n h e c e r e i n t e r - r e l a c i o n a r c o e r e n t e m e n t e o s d i v e r s o s e s c r i t o s de Marx s o b r e a c r i s e económica, q u e estão distribuídos ao

l o n g o de s u a o b r a , a s s i m como e n t e n d e r a s p r i n c i p a i s críticas r e f e r e n t e s ao t e m a , q u e d i r i g i u a o s e c o n o m i s t a s clássicos.

- E s t u d a r a s contribuições m a i s r e c e n t e s a r e s p e i t o do tema em questão, q u e sem dúvida s o f r e m um estímulo d i r e t o o c a s i o n a d o p e l a a t u a l c r i s e do c a p i t a l i s m o m u n d i a l , e p e r c e b e r até que p o n t o . t a i s contribuições . e f e t i v a m e n t e a g r e g a m e l e m e n t o s de análise de f a t o i m p o r t a n t e s p a r a o avanço d a discussão.

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1.3. QUADRO DE REFERÊNCIA TEORICO-METQDOLÓGICO

N e s t e p o n t o não d e s e j a m o s e s c r e v e r um f a t i g a n t e tratado s o b r e dialética, mas r e s g a t a r um c o n j u n t o de e l e m e n t o s metodológic o s q u e s e j a m i n t e g r a d o s e ofereçam uma visão m a i s metodológic o m p l e t a a r e s -p e i t o da s o c i e d a d e c a -p i t a l i s t a . E n t e n d e m o s como necessário, -p a r a o e s t u d o d a s c r i s e s , o r e s g a t e d e s t e s e l e m e n t o s . É óbvio q u e p a r a n o s s o s o b j e t i v o s devemos r e s g a t a r da o b r a de Marx a s contribuições s o b r e a s c r i s e s . E s t a s , n o e n t a n t o , não estão s i s t e m a t i z a d a s , e n c o r i t r a n d o - s e f r a g m e n t a d a s ao l o n g o de s e u s e s c r i t o s , o q u e tem p o s s i b i l i t a d o m u i t a s controvérsias e o a p a r e c i m e n t o de várias " t e o r i a s m a r x i s t a s " d a s c r i s e s .

P a r a s u p e r a r t a i s d i f i c u l d a d e s , d e v e m o s p a r t i r com o máximo de r i g o r d a s formulações de Marx a r e s p e i t o do t e m a , t e n d o s e m p r e como r e f e r e n c i a l o c e r n e de s e u p e n s a m e n t o : s u a visão m a t e r i a l i s t a e dialética da história. E s t a visão e l e r e s u m e da s e g u i n t e f o r m a :

Na produção social da sua vida, os homens contraem deter-minadas relações necessárias e independentes da sua von-tade, relações de produção que correspondem a uma deter-minada fase de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. O conjunto dessas relações de produção formam a estrutura económica da sociedade, a base real sobre a qual se levanta a superestrutura jurídica e política e d qual correspondem determinadas formas de consciência so-c i a l . O modo de produção da vida material so-condiso-ciona o processo da vida social, política e espiritual em geral.

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Não é a c onsc i Snc i a do homem, que de t errni na o seu. ser-, mas, pelo contrário, o seu ser social é que determina a sua consciência. Ao chegar a uma determinada fase de desenvolvimento, as forças produtivas materiais da socie-dade se chocam com as relações 'de produção exis tentes, ou, o que não é senão a sua expressão jurídica, com as relações de propriedade dentro das quais' se desenvolveram até a l i . De formas de desenvolvimento das forças

produ-tivas, estas relações se convertem em obstáculos a elas. E se abre, assim, uma época de revolxição social. Ao mu-dar a base económica, revolveiona—se, mais ou menos rapi-damente, toda a imensa superestrutura erigida sobre ela. Quando se estudam estas revoluções, é preciso distinguir sempre entre as mudanças materiais ocorridas nas

condi-ções económicas de produção e que podem ser apreciadas com a exatidão própria das ciências naturais, e as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou filosófi-cas, numa palavra, as formas ideológicas em que os homens adquirem consciência desse conflito e lutam para

resolvê-lo (Mar::, Prefácio d Contribuição d Crítica da Economia Política, I n Obras Escolhidas, 3 0 0 - 3 0 3 ) .

P a r a c h e g a r a e s t a concepção, Mar:: e s t u d o u com p r o f u n d i d a d e o p e n s a m e n t o filosófico a n t e r i o r , em e s p e c i a l H e g e l , com quem o p e n s a m e n t o burguês o c i d e n t a l a t i n g i u s e u p o n t o c u l m i n a n t e . M a i s t a r d e , rompe com H e g e l , através d a crítica da f i l o s o f i a do d i r e i t o e do E s t a d o d e s s e a u t o r q u e , p a r a Mar:;, i n v e r t e t o d a s a s c o i s a s t r a n s f o r m a n d o o s u j e i t o em p r e d i c a d o e v i c e - v e r s a . A crítica m a r x i a n a , q u e i n i c i a "com a crítica à concepção h e g e l i a n a de E s t a d o , q u e v i a n e s s e a encarnação da razão a b s o l u t a , o critério p a r a t o d a s a s c o i s a s , c o n t i n u a p o s t e r i o r m e n t e com a crítica ao c o n s e r v a d o r i s m o da concepção do saber absoluto de H e g e l , q u e r e d u z i a a r e a l i d a d e sensível do homem à mera determinação da consciência.

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d i r e c i o n a d a t o t a l m e n t e a e s t a consciência filosófica q u e i m p r e g n a v a a m a i o r i a d o s i n t e l e c t u a i s da época, p a r a o s q u a i s a s massas e r a mero e l e m e n t o p a s s i v o da h i s t o r i a i A p e s a r do r i g o r d a crítica, no e n t a n t o . Mar:-: r e c o n h e c e u a importância f u n d a m e n t a l do método h e g e l i a n o p a r a o p e n s a m e n t o e o m o v i m e n t o revolucionário. H e g e l h a v i a r o m p i d o com a s tradições m e c a n i c i s t a s , p o s i t i v i s t a s e v u l g a r e s d a metafísica e às concepções s u b s t a n t i v i s t a s de D e s c a r t e s e E s p i n o z a h a v i a c o n t r a p o s t o o p o n t o de v i s t a dialético. Marx c o m p r e e n d e u a importância da f i l o s o f i a h e g e l i a n a e p r o c u r o u e x t r a i r d e l a o s e u núcleo r a c i o n a l : "a dialética d a n e g a t i v i d a d e em ação" na expressão de J e a n - M a r i e Brohm ( 1 . 9 7 9 , 1 7 ) .

0 método dialético de Marx p o s s u i uma distinção f u n d a m e n t a l q u e e l e e x p l i c i t a no Posfácio d a s e g u n d a edição de O Capital:

É mister, sem dúvida, distinguir, formalmente, • o método de exposição do método de pesquisa. A investigação tem de apoderar-se da matéria em seus pormenores, de analisar suas diferentes formas de desenvolvimento, e de perquirir a conexão íntima que há entre elas. Só depois de

concluí-do esse trabalho, é que se pode descrever, adequadamente, o movimento real. Se i s t o se consegue, ficará espelhada, no plano ideal, a vida da real idade 'pesquisada, o que pode dar a impressão de uma construção d p r i o r i . ( 1 6 )

Em M a r x , p o r t a n t o , o a t o da investigação p a r t e do t o d o

caótico, c o n f u s o , v a i a p r o f u n d a n d o a análise até c h e g a r a níveis m a i s a b s t r a t o s . Já a exposição p e r c o r r e o c a m i n h o i n v e r s o : p a r t e d a s abstrações já e s t u d a d a s e a s expõe como a l g o c o n h e c i d o , d a d o .

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Ern Mar;;, a o r d e m histórica p o s s u i s e n t i d o i n v e r s o à o r d e m lógica da exposição, o u s e j a , e l e começa s u a exposição não p e l o q u e v e i o p r i m e i r o em t e r m o s cronológicos e s i m p e l o q u e é hegemónico. E n q u a n t o o método d e investigação c a m i n h a na mesma direção q u e a história, a c o m p a n h a n d o a o r d e m em q u e a p a r e c e r a m a s f o r m a s económicas, o método da exposição c a m i n h a com a o r d e m lógica da articulação d a s c a t e g o r i a s .

As c a t e g o r i a s da dialética s e d e s e n v o l v e m também em s e n t i d o o p o s t o ao da história. Daí a afirmação de Marx d e q u e "a a n a t o m i a d o homem é a c h a v e p a r a a a n a t o m i a d o m a c a c o " . I s s o s i g n i f i c a q u e à m e d i d a em q u e o ' r e a l s e e n c o n t r a m a i s d e s e n v o l v i d o e c o m p l e x o , m a i s fácil s e t o r n a e l a b o r a r c a t e g o r i a s m a i s g e r a i s , a b s t r a t a s .

O t r a b a l h o teórico, p o r t a n t o , é f u n d a m e n t a l m e n t e um t r a b a l h o d e regressão analítica. A análise d e v e i n i c i a r - s e p e l a s formações m a i s d e s e n v o l v i d a s p o i s e s t a s p e r m i t e m o u s o d e um nível de abstração também m a i s d e s e n v o l v i d o e c o m p l e x o . P o r i s s o Marx i n i c i a a construção de um s i s t e m a c a t e g o r i a l q u e p o s s i b i l i t a a compreensão do f u n c i o n a m e n t o de t o d a s a s s o c i e d a d e s p a s s a d a s .

Além d i s s o , a s c a t e g o r i a s dialéticas, como expressão teórica d a s relações de produção - q u e são transitórias - possuem

um caráter histórico e também transitório. Corno i n s t r u m e n t o de

compreensão de d e t e r m i n a d a r e a l i d a d e e l a s só e x i s t e m e n q u a n t o e x i s t i r e s s a r e a l i d a d e .

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t o t a l i d a d e . No s e u l i v r o A Miséria, da Filosofia, M a r x e s c r e v e q u e "as relações de produção de q u a l q u e r s o c i e d a d e f o r m a m um t o d o " ( p . 1 0 7 ) . P a r a a dialética m a r x i s t a no s e i o do t o d o c o a b i t a m vários a s p e c t o s q u e s e i n f l u e n c i a m m u t u a m e n t e e estão l i g a d o s p o r uma c o m p l e x a r e d e de relações. P o r e x e m p l o , a produção e a distribuição, a t r o c a e o consumo, não são t i d o s como c o i s a s idênticas e s i m momentos d i v e r s o s de uma mesma r e a l i d a d e o u a " d i v e r s i d a d e no s e i o da u n i d a d e " .

Brohm ( o p . c i t . ) d e f i n e a t o t a l i d a d e c o n c r e t a como uma u n i d a d e d i v e r s i f i c a d a de f a t o r e s c o n c r e t o s - a b s t r a t o s , em q u e há uma d u p l a mediação-reciproca d o s contrários... ( p . 7 9 ) . Lukács d e f i n e a t o t a l i d a d e da s e g u i n t e f o r m a :

Em primeiro lugar, a unidade concreta de contradições i n

-teratuantes; em segundo lugar, a relatividade sistemática de toda totalidade, tanto para cima quanto para baixo Co 'que quer dizer que toda totalidade é constituída por

to-talidades subordinadas a ela e também que, ao mesmo tem-po, ela é sobredeterminada por totalidades de maior com-plexidade. . . J>; e, em t e r c e i r o lugar, a relatividade

his-tórica de toda totalidade, ou seja, que o caráter-de-to-talidade de toda tocaráter-de-to-talidade é dinâmico, mutável, sendo . limitado a um período histórico concreto . (Lukács a p u d

M a r x , 1 9 8 5 , 3 2 ) .

P a r a a compreensão do método dialético, é também imprescindível o c o n h e c i m e n t o d a u n i d a d e aparência-essência e s u a utilização. 0 u s o d e s t a u n i d a d e é um d o s m a i s i m p o r t a n t e s m a r c o s de diferenciação do método dialético em relação ao empírico. E n q u a n t o e s t e s e c u r v a ao i m e d i a t o o u r e j e i t a o p r o c e s s o de

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abstração, a dialética p a r t e d e s t e mesmo i m e d i a t o , d o s fenómenos, mas não n e g a a abstração. Além d i s s o , e l a s u p e r a a o s fenómenos p o s s i b i l i t a n d o ao i n v e s t i g a d o r uma visão.distinta d a q u e possuía i n i c i a l m e n t e . P o r i s t o s e d i z q u e a visão dialética é uma visão m e d i a t a da r e a l i d a d e .

Como c o l o c a Campanário ( 1 9 8 3 ) , a b u s c a da essência, q u e l e v a o i n v e s t i g a d o r a a b a n d o n a r p r o v i s o r i a m e n t e c e r t a s relações empíricas, não s i g n i f i c a q u e e s s a s e s t e j a m d e f i n i t i v a m e n t e d e s c a r t a d a s . • p r o c e s s o d e b u s c a d a essência r e c i c l a o s d a d o s empíricos t r a n s f o r m a n d o em essência o q u e a n t e s e r a aparência. A superação da aparência s e dá g r a d a t i v a m e n t e , num p r o c e s s o de abstração. T a n t o o a b s t r a t o q u a n t o o c o n c r e t o são r e t r a t o s fiéis da r e a l i d a d e , com a única diferença q u e , e s t a n d o n o âmbito da essência, o p r i m e i r o l e v a em c o n t a menos determinações e q u a l i d a d e s que o s e g u n d o , a o c a r a c t e r i z a r e m d e t e r m i n a d a r e a l i d a d e . E n q u a n t o que p a r a o e m p i r i s m o o c o n c r e t o s e opõe a o a b s t r a t o , p a r a a dialética o c o n c r e t o é um estágio m a i s avançado d a análise, o n d e e n t r a um número m a i o r d e determinações, o c o r r e n d o a s s i m uma m a i o r aproxirriação do mundo r e a l .

A compreensão d o s vários níveis de abstração com q u e Marx

t r a b a l h a s u a s c a t e g o r i a s é e s s e n c i a l a o e s t u d o d a c r i s e económica c a p i t a l i s t a . A l e i t e n d e n c i a l d a q u e d a da t a x a d e l u c r o , p o r e x e m p l o , a q u a l i r e m o s a n a l i s a r m a i s â f r e n t e , f a z p a r t e d a s tendências m a i s g e r a i s d o modo d e produção c a p i t a l i s t a , o q u e f a z com q u e n o s capítulos o n d e é t r a t a d a a l e i , o s c o n c e i t o s s e

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e n c o n t r e m num razoável g r a u de abstração. I s t o f i c a e v i d e n t e , p o r e x e m p l o , q u a n d o o a u t o r , ao s e r e f e r i r à redução do salário a b a i x o do s e u v a l o r como c a u s a contra-árrestante, a f i r m a q u e e l a "não tem n a d a a v e r com a análise do c a p i t a l " .

O. p r o b l e m a é q u e , no t r a t o com o tema d a c r i s e , e s s e a s p e c t o não tem s i d o c o m p r e e n d i d o , l e v a n d o vários a u t o r e s a e l a b o r a r e m críticas m u i t a s v e z e s sem f u n d a m e n t o à r e f e r i d a l e i .

P o r t u d o i s s o , n o s s a p e s q u i s a p r o c u r o u s e g u i a r p e l o método e p e l o c o n j u n t o dc? d e s c o b e r t a s s o b r e o modo de produção c a p i t a l i s t a r e a l i z a d o s p o r Marx e s e u s s e g u i d o r e s . Como p r e t e n d e m o s e s t u d a r a c r i s e , n a t u r a l m e n t e devemos r e s g a t a r s u a s

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C A P Í T U L O II

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2 . 1 . INTRODUÇÃO

A discussão ern t o r n o da t e o r i a da c r i s e e d o c o l a p s o do s i s t e m a c a p i t a l i s t a vem s e d a n d o , no âmbito do m a r x i s m o , d e s d e o s últimos a n o s do século p a s s a d o , patrociní^da e s p e c i a l m e n t e p e l a s o c i a l - d e m o c r a c i a alemã e p e l o m a r x i s m o r u s s o . 0 momento é o de consolidação da e t a p a monopólica do c a p i t a l i s m o e d e gestação da P r i m e i r a G u e r r a M u n d i a l . A. frenética internacionalização do c a p i t a l , o c r e s c i m e n t o d o s monopólios e a ameaçadora militarização d o s E s t a d o s n a c i o n a i s impunham a o s p a r t i d o s r e p r e s e n t a n t e s d a s

forças p o p u l a r e s , urna c l a r a avaliação do p r o c e s s o em c u r s o no s e n t i d o de n o r t e a r a ação política. No a s p e c t o e s t r i t a m e n t e económico, d u a s são a s interrogações b á s i c a s1: p o r um l a d o , a questão dá n a t u r e z a d a s c r i s e s e, p o r t a n t o , a questão d o s m e r c a d o s , do s u b c o n s u m o , d a s desproporções e n t r e o s s e t o r e s , e t c . De o u t r o l a d o , a discussão s o b r e a caracterização do i m p e r i a l i s m o , q u e r e m e t e à investigação do crédito, do' c a p i t a l f i n a n c e i r o , do p r o c e s s o de internacionalização, e t c . T r a t a - s e , e v i d e n t e m e n t e , de d u a s questões i n t i m a m e n t e i n t e r r e l a c i o n a d a s , c u j a s d i s t i n t a s

interpretações l e v a r a m a d i f e r e n t e s posições políticas.

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S e g u n d o G i a c o m o M a r r a m a o , o d e b a t e a t r a v e s s o u três f a s e s d i s t i n t a s e bem d e f i n i d a s : a p r i m e i r a é a d a t e o r i a do c o l a p s o , c l a s s i f i c a d a p o r a l g u n s a u t o r e s como clássica, d e s e n v o l v i d a a p a r t i r d e 1 8 9 0 , n a q u a l , em r e g r a , s e o m i t e a distinção " e n t r e l a d o o b j e t i v o e l a d o s u b j e t i v o d a exposição m a r x i a n a d a c r i s e , p e l o q u a l não v a c i l a em a t r i b u i r a Marx o ingénuo c a t a s t r o f i s m o c r i t i c a d o p o r B e r n s t e i n " ( M a r r a m a o I n G r o s s m a n n , 1 9 7 9 , p . l l ) .

S e g u n d o e s t a concepção, a revolução s o c i a l i s t a a c a b a r i a a c o n t e c e n d o n a t u r a l m e n t e em função do d e s e n v o l v i m e n t o económico, e, até c e r t o p o n t o , i n d e p e n d e n t e m e n t e d a intervenção o r g a n i z a d a do p r o l e t a r i a d o . Um d o s s e u s p r i n c i p a i s r e p r e s e n t a n t e s é A n t o n P a n n e o k o e k , teórico do comunismo de esguérda, uma c o r r e n t e s u r g i d a no início do século, no i n t e r i o r da s o c i a l - d e m o c r a c i a alemã e h o l a n d e s a . Em um d o s e n s a i o s p u b l i c a d o s no começo d a década de 1 9 1 0 , P a n n e o k o e k c h e g a à conclusão q u e , em função d a s condições econômico-materiais já e s t a r e m p l e n a m e n t e a m a d u r e c i d a s p a r a o s o c i a l i s m o , t r a t a v a - s e a p e n a s de c r i a r a s condições p a r a o f o r t a l e c i m e n t o ideológico do p r o l e t a r i a d o p a r a a revolução. A ação i n d e p e n d e n t e do p r o l e t a r i a d o , através d a s ações de massa., c o n d u z i r i a à d e r r u b a d a da s o c i e d a d e b u r g u e s a . Toda a lógica do raciocínio do a u t o r l e v a n a t u r a l m e n t e à conclusão - p o r e l e l e v a d a a c a b o e v i d e n t e m e n t e - de q u e e r a m p l e n a m e n t e prescindíveis o p a r t i d o político o u o u t r a s f o r m a s de organização do p r o l e t a r i a d o . A s e g u n d a f a s e d o d e b a t e i n i c i a em 1 9 0 5 com a discussão a c e r c a do p a p e l q u e d e v e d e s e m p e n h a r a g r e v e de m a s s a s n a

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organização operária em relação à dinâmica d a c r i s e i m p e r i a l i s t a . É n e s s a ocasião q u e s u r g e a a l t e r n a t i v a " c o l a p s o o u revolução", i s t o é, a discussão a r e s p e i t o d a p o s s i b i l i d a d e de s e c o m p a t i b i l i z a r uma t e o r i a do c o l a p s o d o c a p i t a l i s m o com uma p e r s p e c t i v a de ação revolucionária. Em o u t r a s p a l a v r a s , começa a s u r g i r uma concepção q u e n e g a a p o s t u r a c o n t e m p l a t i v a de a g u a r d a r a auto-organização do p r o l e t a r i a d o p a r a f a z e r a revolução. E s t a Visão começa a e s t a b e l e c e r a conexão dialética e n t r e a o b j e t i v i d a . d e económica e a intervenção c o n s c i e n t e d a s m a s s a s .

A última f a s e , q u e c o i n c i d e com. o r e f l u x o do m o v i m e n t o operário e u r o p e u , i n i c i a em meados da década de 20 e d e s e m b o c a na discussão s o b r e c r i s e e s o b r e o C a p i t a l i s m o d e E s t a d o , q u e o c o r r e e n t r e o s a n o s 20 e 3 0 . E s t e período s e c a r a c t e r i z a p e l o e s c 1 e r o s a m e n t o da visão catastrófica na I n t e r n a c i o n a l C o m u n i s t a e, ao contrário da f a s e a n t e r i o r , é também m a r c a d o p e l a a u t o n o m i a e n t r e a análise científica d a s tendências do c a p i t a l i s m o e a tática i m e d i a t a do m o v i m e n t o operário. 0 q u e , sem dúvida, e n r i q u e c e u a discussão e p r o p i c i o u c a l o r o s o e frutífero e n f r e n t a m e n t o com o p e n s a m e n t o burguês, K e y n e s em e s p e c i a l , e com a problemática da intervenção do E s t a d o n a e c o n o m i a ( M a r r a m o , i d e m ) . 0 r e f e r e n c i a l de t o d o e s t e d e b a t e é a o b r a A Lei da Acumulação e a Derrocada do Sistema Capitalista, de H e n r y k G r o s s m a n n , s u r g i d a em 1 9 2 9 , o n d e o a u t o r , d e n t r e o u t r o s méritos, t e n t a r a d e q u a r o i n s t r u m e n t a l da análise m a r x i s t a às exigências a d v i n d a s d a c o m p l e x i d a d e do

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Quem i n i c i a a polémica da c r i s e e d o c o l a p s o , com o l i v r o

As Premissas do Socialismo e as Tarefas da Social-Democracia, p u b l i c a d o em 1 8 9 9 , é e x a t a m e n t e um d o s m a i o r e s críticos d a t e o r i a , do c o l a p s o , E d u a r d B e r n s t e i n . P a r a o d i r i g e n t e d a s o c i a l

-d e m o c r a c i a , ao contrário -do q u e p r e v i u Marx no Manifesto Comunista, não h o u v e a agudização d a s c r i s e s e t a m p o u c o p i o r o u a situação da

c l a s s e t r a b a l h a d o r a . P a r a e l e a t e o r i a d a s c r i s e s e x p o s t a em O Capital é i n c o m p l e t a e, i n c l u s i v e , contraditória, n a m e d i d a em que M a r x , a p e s a r de c o m b a t e r a t e o r i a s u b c o n s u m i s t a da c r i s e , a tèriét a d o t a d o em várias p a s s a g e n s d e s t a o b r a . P o r o u t r o l a d o , s e g u n d o B e r n s t e i n , e s t a r i a h a v e n d o um p r o g r e s s o p o r p a r t e d a s p e q u e n a s e médias e m p r e s a s , ao invés da tendência a uma c a d a v e z m a i o r concentração do c a p i t a l p r e v i s t a no Manifesto. E s s e s , d e n t r e o u t r o s , s e r i a m c l a r o s i n d i c a d o r e s de q u e e s t a r i a h a v e n d o m e l h o r i a s n a s condições s o c i a i s .

A v i r a d a do século e s t a r i a a d e m o n s t r a r um s a l t o q u a l i t a t i v o do s i s t e m a c a p i t a l i s t a , o b t i d o p e l o aperfeiçoamento do s i s t e m a de crédito e p e l a organização d o s empresários através d o s s i n d i c a t o s , t r u s t e s , cartéis. I s t o s i g n i f i c a r i a , p a r a o a u t o r , , o s u r g i m e n t o de m e c a n i s m o s q u e r e g u l a r i a m o s i s t e m a , a m e n i z a n d o a a n a r q u i a d a produção q u e l h e . é própria. P o r t a n t o , o próprio d e s e n v o l v i m e n t o do c a p i t a l i s m o e s t a r i a e n g e n d r a n d o o s m e c a n i s m o s q u e , s e não e l i m i n a r i a m o s s e u s m a l e s intrínsecos, i r i a m a t e n u a r a s consequências d o s mesmos. S e r i a necessário c o n s i d e r a r , a s s i m , " a l t a m e n t e improvável, ao menos d u r a n t e um período b a s t a n t e l a r g o ,

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a p o s s i b i 1 i d a d e de c r i s e s económicas g e r a i s do t i p o d a s p r e c e d e n t e s " ( B e r n s t e i n a p u d C o l l e t t i , 15.1).

..Mesmo a d m i t i n d o q u e no monopólio não é possível «um c o n t r o l e a b s o l u t o do m e r c a d o " e q u e a superprodução no c a p i t a l i s m o é inevitável, B e r n s t e i n n e g a , no e n t a n t o , que- i s s o s i g n i f i q u e uma c r i s e g e r a l . T o d a s u a exposição, a l i á s , é d i r e c i o n a d a n e s t e s e n t i d o .

P a r a H e n r i c h Cunow, a u t o r da formulação q u e m e l h o r e x p r e s s a a p r i m e i r a f a s e d a polémica da c r i s e , de q u e falávamos a c i m a , a s afirmações de B e r n s t e i n nem s e m p r e são i n c o r r e t a s . No s e u p o n t o de v i s t a , porém, e s t e a u t o r i n c o r r e u no mesmo e r r o de M a r x , q u a l s e j a , o "de a t r i b u i r v a l i d a d e " g e r a l a o s e f e i t o s específicos d a s tendências económicas (...) q u e s e m a n i f e s t a m em d e t e r m i n a d a f a s e do p r o c e s s o de d e s e n v o l v i m e n t o , e s u p o r q u e os mesmos permaneçam estáveis em t o d o s o s e s t á g i o s " . E s t e e r r o t e r i a

l e v a d o B e r n s t e i n a d e d u z i r , com b a s e no d e s e n v o l v i m e n t o i n d u s t r i a l v e r i f i c a d o n o s p r i n c i p a i s países da é p o c a , q u e o d e s e n v o l v i m e n t o económico c a p i t a l i s t a c o n t i n u a r i a i n f i n i t a m e n t e e à margem de c r i s e s . P a r a Cunow, t a l expansão do m e r c a d o i n d u s t r i a l , e em e s p e c i a l do m e r c a d o de c a p i t a i s , p o s s u i um caráter provisório e v i d e n t e , d e t e r m i n a d o p e l a limitação d o s m e r c a d o s d e v e n d a s d a s m e r c a d o r i a s . A i n e v i t a b i l i d a d e do c o l a p s o c a p i t a l i s t a d e p e n d e r i a d i r e t a m e n t e da diminuição de t a i s m e r c a d o s . "Somente p o d e s e r d u v i d o s o p o r q u a n t o t e m p o t o d a v i a a f o r m a de produção c a p i t a l i s t a s e manterá em c a d a país e em q u e circunstâncias terá l u g a r o

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c o l a p s o " (Cunow, i b i d e m , p p . 1 6 5 - 1 7 4 ) .

A s s i m , e n q u a n t o e x i s t i r e m m e r c a d o s , a acumulação c a p i t a l i s t a o c o r r e r i a sem m a i o r e s p r o b l e m a s , r e d u z i n d o - s e a p o s s i b i l i d a d e de existência d a s c r i s e s . C o n t u d o , com o e s g o t a m e n t o inevitável d o s mercados,- d e c o r r e n t e do a u m e n t o d a competição i n t e r n a c i o n a l , o c o l a p s o s e r i a também inevitável. 0 equívoco p r i n c i p a l de B e r n s t e i n t e r i a s i d o c o n f u n d i r o a u g e da e c o n o m i a i n g l e s a com o f u t u r o do c a p i t a l i s m o .

Como s e v ê , Cunow, no i n t e n t o de c o m b a t e r a s posições de B e r n s t e i n , q u e r p r o v a r q u e o c a p i t a l i s m o p a d e c e de uma i n c a p a c i d a d e intrínseca de c r i a r s e u s próprios m e r c a d o s . A demanda s u r g e como um e l e m e n t o e x t e r n o á acumulação, q u e c r e s c e a um r i t m o menor q u e o da produção. A c r i s e de realização não é f r u t o de um p r o c e s s o q u e

l e v a à q u e d a da t a x a de i n v e s t i m e n t o s e s i m o contrário: é a insuficiência de m e r c a d o s q u e l e v a à p o s s i b i l i d a d e de ruína do p r o c e s s o de acumulação c a p i t a l i s t a .

Mas, s e a s t e s e s de B e r n s t e i n acanharam d a n d o o r i g e m ao que v e i o a s e chamar revisionismo, o p r i n c i p a l teórico d e s t e m o v i m e n t o f o i , sem dúvida, Tugán B a r a n o v s k y . E s t e a u t o r , q u e e x e r c e u f o r t e influência s o b r e o p e n s a m e n t o sócia1-democrata

alemão, a d o t o u a t e o r i a do equilíbrio de Say - a o f e r t a c r i a a s u a própria demanda - e é com t a l concepção q u e i n t e r p r e t a o s esquemas de reprodução e l a b o r a d o s p o r Marx no l i v r o I I de O C a p i t a l . P a r a Tugán, a diminuição do consumo s o c i a l não l e v a r i a à superprodução de m e r c a d o r i a s p o i s a q u e l a s e r i a c o m p e n s a d a p e l a elevação do

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consumo p r o d u t i v o , d e c o r r e n t e da ampliação da produção. A acumulação de c a p i t a l , ao mesmo t e m p o em q u e e r a a c o m p a n h a d a p o r uma restrição da demanda d e m e i o s de c o n s u m o , a u m e n t a v a a demanda g l o b a l de m e r c a d o r i a s .

P a r a o autor.,, no q u e s e r e f e r e à criação d o v a l o r , não e x i s t e diferença e n t r e a força de t r a b a l h o humana e a força d a s máquinas e e q u i p a m e n t o s . Ambas p r o d u z i r i a m um s o b r e p r o d u t o e com o mesmo g r a u de importância. D e s t a f o r m a , a d e r r u b a d a d o c a p i t a l i s m o não t e r i a f u n d a m e n t o s de o r d e m económica, t e n d o - s e , p o r t a n t o , de d e s c a r t a r q u a l q u e r t e o r i a d o c o l a p s o d o c a p i t a l i s m o . C o n t u d o , p a r a Tugán o c a p i t a l i s m o não p o s s u i v i d a i l i m i t a d a , p o r e n c e r r a r uma contradição insolúvel: a de t o r n a r o homem um mero m e i o de produção, o q u e c o n t r a r i a r a d i c a l m e n t e o princípio ético k a n t i a n o , s e g u n d o o q u a l o homem e x i s t e ? como um f i m em s i mesmo. S e r i a , p o r t a n t o , a transgressão d e s t e princípio ético - e não a s contradições s o c i a i s - q u e l e v a r i a à d e r r u b a d a d o c a p i t a l i s m o p e l o p r o l e t a r i a d o .

A explicação de Tugán t e v e g r a n d e aceitação p o r p a r t e d o s m a r x i s t a s da I I i n t e r n a c i o n a l , . e s p e c i a l . m e n t e através de R u d o l f H i l f e r d i n g , q u e a a d o t o u em s u a o b r a O Capital Financeira. Não é difícil e n t e n d e r p o r q u e a s formulações do a u t o r s e r v i r a m de b a s e às concepções r e v i s i o n i s t a s . Ao n e g a r a l e i t e n d e n c i a l da q u e d a da t a x a de l u c r o , e l e a c a b a n e g a n d o o a s p e c t o f u n d a m e n t a l da questão: o d e q u e a s c r i s e s são i n e r e n t e s ao f u n c i o n a m e n t o da produção c a p i t a l i s t a e q u e t e n d e m a s e a g r a v a r com o d e c o r r e r d o t e m p o . Ao

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d e f e n d e r a i d e i a de q u e o s i s t e m a p o d i a d e s e h v o l v e r - s e e t e r n a m e n t e , d e s d e q u e f o s s e m m a n t i d a s a s proporções e n t r e o s r a m o s dai produção, Tugán s u g e r i a i n d i r e t a m e n t e a visão de q u e o d e s e n v o l v i m e n t o d o s t r u s t e s e do c o n t r o l e g o v e r n a m e n t a l s o b r e a e c o n o m i a , r e d u z i n d o a s s i m a a n a r q u i a da produção, p o d e r i a e l i m i n a r c o m p l e t a m e n t e o fenómeno dais c r i s e s . H i l f e r d i n g , q u e p u b l i c a em 1910 s u a s b r i l h a n t e s reflexões s o b r e o c a p i t a l f i n a n c e i r o , a e x e m p l o de t o d o s o s teóricos o f i c i a i s d a sócia 1 - d e m o c r a c i a , vê n o s e s q u e m a s de reprodução de Marx a comprovação de q u e a reprodução c a p i t a l i s t a p o s s u i v i d a i l i m i t a d a s e f o r e m g a r a n t i d a s a s proporções e n t r e o s s e t o r . e s I e I I . E s c r e v e u :

Do nenhuma maneira s e depreende que a c r i s e deva ter sua causa no subconsurno das massas, imanente a produção ca-p i t a l i s t a . Do mesmo modo não s e deca-preende dos esquemas em si a p o s s i b i l i d a d e de uma sobrepradução geral de mercadorias, sim que, pelo contrário, é possível mostrar como factível qualquer extensão da produção que possa produzir-se, em g e r a l , com as forças produtivas disponí-v e i s ( H i l f e r d i n g , 1 9 7 1 , 2 8 6 ) .

H i l f e r d i n g c o n c o r d a com Tugán q u a n t o à afirmação de q u e a produção d e p e n d e da valorização do c a p i t a l e não do c o n s u m o . Um fenómeno periódico como a c r i s e não p o d e r i a , no s e u e n t e n d e r , s e r e x p l i c a d o p o r a l g o contínuo como o s u b c o n s u r n o . V a i b u s c a r a

explicação d a c r i s e então n a s perturbações d a circulação, n a m e d i d a em q u e e s t a s i n t e r r o m p e m a s condições necessárias â reprodução. S e g u n d o H i l f e r d i n g não s e pode d e d u z i r d o s e s q u e m a s de Marx a

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p o s s i b i l i d a d e de sobreprodução g e r a l de m e r c a d o r i a s . É possível p r o d u z i r t a n t o q u a n t o as forças p r o d u t i v a s p e r m i t a m .

H i l f e r d i n g vê no d e s e n v o l v i m e n t o do c a p i t a l i s m o uma tendência à concentração, q u e l e v a r i a à criação de um c a r t e l g e r a l , a nível m u n d i a l , q u e r e g u l a r i a c o n s c i e n t e m e n t e a produção em t o d a s as s u a s e s f e r a s , f i x a r i a o s preços e f a r i a a distribuição d a s m e r c a d o r i a s . I s t o e l i m i n a r i a a a n a r q u i a da produção e a s c r i s e s d a r i a m l u g a r à produção r e g u l a d a , a i n d a que? b a s e a d a n o t r a b a l h o a s s a l a r i a d o . E s t a r i a então c o l o c a d a a p o s s i b i 1 i d a i d e de uma transição pacífica p a r a o s o c i a l i s m o . No c o n g r e s s o da s o c i a l - d e m o c r a c i a , r e a l i z a d o em m a i o de 1.927 em K i e l , H i l f e r d i n g d e f e n d e q u e a q u e d a do c a p i t a l i s m o não" ocorrerá de f o r m a

inevitável, a p a r t i r de s u a s contradições i n t e r n a s , mas p e l a intervenção c o n s c i e n t e da c l a s s e t r a b a l h a d o r a , p o i s " m a r x i s m o não é f a t a l i s m o , s i m p e l o contrário a t i v i s m o do m a i s i n t e n s o " ( c f T u l a , X V I , I n G r o s s m a n n , 1 9 7 9 ) .

D e s t a f o r m a , o a u t o r v i s l u m b r a a p o s s i b i l i d a d e de um c a p i t a l i s m o o r g a n i z a d o , sem c r i s e s , b a s e a d o no princípio s o c i a l i s t a de planificação, a i n d a q u e comandado p e l o s g r a n d e s proprietários de monopólios. A implantação do s o c i a l i s m o d e p e n d e r i a a p e n a s de q u e a direção do E s t a d o p a s s a s s e p a r a a s mãos d a c l a s s e operária ( v e r O t t o A l c i d e s , 1 9 8 5 , 1 6 4 ) .

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ROSA LUXEMBURG: A REAÇÁO SUBCONSUM1STA

F o i o c o m b a t e às posições de Tugán e H i l f e r d i n g q u e l e v a r a m Rosa L u x e m b u r g a e s t u d a r d e t i d a m e n t e o s e s q u e m a s de Marx e a c o n c l u i r q u e a i m p o s s i b i l i d a d e o b j e t i v a de realização da m a i s - v a l i a n o s m a r c o s do c a p i t a l i s m o , a d v i n h a d o p e r m a n e n t e desequilíbrio e n t r e a produção e o consumo, q u e t o r n a v a possível a realização de uma p a r t e da m a i s - v a l i a tão s o m e n t e f o r a d o s i s t e m a . Segundo R o s a , a d m i t i r q u e a acumulação c a p i t a l i s t a não p o s s u i

limitações o b j e t i v a s s i g n i f i c a r e t r o c e d e r à s concepções pré—marxistas, q u e c o n c e b i a m o s o c i a l i s m o como derivação s i m p l e s m e n t e da decisão do p r o l e t a r i a d o d e a c a b a r com a injustiça e a exploração.

Ern s e u l i v r o A Acumulação do C a p i t a l , p r o c u r o u , p o r um l a d o , d e m o n s t r a r o s l i m i t e s o b j e t i v o s d o d e s e n v o l v i m e n t o c a p i t a l i s t a e, p o r o u t r o , c r i t i c o u a t e o r i a d a acumulação d e M a r x .

A questão f u n d a m e n t a l p a r a a a u t o r a , em s u a análise do esquema d e reprodução a m p l i a d a , e r a a s e g u i n t e : o esquema d e reprodução a m p l i a d a e l a b o r a d o p o r Marx e x p l i c a a s condições o b j e t i v a s necessárias p a r a a acumulação mas p e c a p o r não d e m o n s t r a r a existência de uma demanda c r e s c e n t e q u e a b s o r v a a i g u a l m e n t e

c r e s c e n t e produção c a p i t a l i s t a . I n d a g a v a : "A q u e a t r i b u i r , então, e s s a demanda c r e s c e n t e e c o n s t a n t e , s o b r e a q u a l s e a p o i a a

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ampliação p r o g r e s s i v a d a produção no esquema- de Mar;:". ( L u x e m b u r g , 1 9 8 8 , v . I , 7 7 )

P a r a Rosa o consumo dos' c a p i t a l i s t a s não p o d e r i a s e r a saída p o i s , c o n f o r m e o esquema de reprodução a m p l i a d a , e s t e s usam uma p a r t e da m a i s - v a l i a em consumo e a o u t r a n a ampliação de c a p i t a l . A p a r t e de m a i s - v a l i a u t i l i z a d a p a r a consumo d o s c a p i t a 1 i s t e ^ s a u m e n t a em decorrência do a u m e n t o d a produção em g e r a l , porém, e s t e consumo não a b s o r v e t o d a a m a i s - v a l i a e s u a elevação não g a r a n t e a c o n t i n u i d a d e do p r o c e s s o de reprodução a m p l i a d a :

O consumo pessoal dos c a p i t a l i s t a s c r e s c e , de f a t o , com a acumulação, podendo c r e s c e r mesmo em termos de v a l o r con-sumido, mas, de qiualquer maneira, é sempre apenas uma parte da ) n a i s v a l i a que vai para o consumo dos c a p i t a l i s

-tas. Base da acumulação é precisamente o não consumo da mais-valia por parte dos c a p i t a l i s t a s ( i b i d e m ) .

Com relação à indagação de p a r a quem v a i e s s a o u t r a p a r c e l a da m a i s - v a l i a , e s c r e v e Rosa L u x e m b u r g :

Segundo o esquema de Marx, o movimento parte do Depar ta— mento I, da produção de meios de produção. Quem n e c e s s i

-ta de maior número desses meios de produção^ Respos-ta do esquema: o Departamento II n e c e s s i t a d e l e s para poder f a -b r i c a r maior número de meios de consumo pessoal. Mas quem p r e c i s a desses meios de subsistência a d i c i o n a i s ^ O e s -quema responde: o próprio Departamento I, por empregar

a-gora uma quantidade maior de trabalhadores. Obviamente nos encontramos em um círculo v i c i o s o . Elaborar mais

meios de consumo exclusivamente para s u s t e n t a r maior nú-mero de trabalhadores é algo absurdo do ponto de v i s t a do c a p i t a l i s t a ( i b i d e m ) .

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Rosa não vê s e n t i d o no f a t o d o s c a p i t a l i s t a s a c u m u l a r e m a p a r t e r e s t a n t e da m a i s - v a l i a , p o i s , em s u a opinião, i s t o a p e n a s a d i a r i a e a p r o f u n d a r i a o p r o b l e m a . A c a d a c i c l o p r o d u t i v o o m o n t a n t e d a m a i s - v a l i a não c o n s u m i d a s e r i a m a i o r , t o r n a n d o - s e c a d a v e z m a i s difícil a s u a realização. P o r t a n t o , p a r a q u e o p r o c e s s o de acumulação não s e j a i n t e r r o m p i d o , é necessário h a v e r uma demanda d a q u e l a p a r c e l a d a m a i s - v a l i a q u e não é c o n s u m i d a nem a c u m u l a d a p e l o s c a p i t a l i s t a s .

D e s t a f o r m a , a a u t o r a d i v i d e a m a i s - v a l i a em três p a r t e s : uma p a r t e é demandada p e l o s c a p i t a l i s t a s e n q u a n t o c o n s u m i d o r e s

i n d i v i d u a i s ; uma o u t r a é i n v e s t i d a n a produção; e uma t e r c e i r a p a r t e d e v e s e r c o n s u m i d a p o r o u t r a s pessoas.- E s t a t e r c e i r a p a r t e , s e g u n d o a a u t o r a , j u s t i f i c a r i a a acumulação de c a p i t a l , já q u e s i g n i f i c a r i a a razão f u n d a m e n t a l d o s c a p i t a l i s t a s a c u m u l a r e m .

Mas quem a d q u i r e a t e r c e i r a p a r t e d a m a i s — v a l i a q u e não é c o n s u m i d a nem a c u m u l a d a ? Ou, em o u t r a s p a l a v r a s ' , quem são a s t e r c e i r a s p e s s o a s de quem f a l a R o s a , q u e a d q u i r e m e s t a p a r t e da m a i s - v a l i a ? E s t a é a questão f u n d a m e n t a l a n a l i s a d a p e l a i a u t o r a .

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OS ENGANOS DE ROSA LUXEMBURG

A. crítica e l a b o r a d a p o r Rosa L u x e m b u r g a o s e s q u e m a s d e reprodução b a s e i a m - s e , em boa p a r t e , numa l e i t u r a e q u i v o c a d a d o s mesmos. T a i s críticas r e p o u s a m s o b r e d u a s questões d e o r d e m metodológica ( R o s d o l s k y , 1 9 8 6 ) : 1 ) Os p r o c e s s o s políticos e económicos devem s e r a n a l i s a d o s d o p o n t o d e v i s t a d o c a p i t a l

i n d i v i d u a l o u do c a p i t a l sócia 1.g1oba1? 2 ) E s t e último e n f o q u e pode? s e r compatível com uma s o c i e d a d e a b s t r a t a o n d e só e x i s t e m c a p i t a l i s t a s e t r a b a l h a d o r e s ?

No q u e s e r e f e r e à p r i m e i r a p e r g u n t a a posição d a a u t o r a é m u i t o c l a r a :

Na verdade, a existência a u t o — s u f i c i e n t e do c a p i t a l i n -d i v i -d u a l é apenas urna forma e x t e r i o r , a superfície -da vida económica, q>ue só os economistas v u l g a r e s u t i l i z a m como a única f o n t e de conhecimento. Subjacente a e s t a superfície, e dentro de todas as contradições da concorrência, mantémse o f a t o de que todos os c a p i t a i s i n d i -v i d u a i s na sociedade constituem um todo, cuja existência e movimento são regulados por l e i s s o c i a i s que, tendo em conta a natureza não p l a n i f i c a d a e a anarquia do

presen-te sispresen-tema, funcionam apenas por detrás do c a p i t a l i s t a como um todo, então as necessidades s o c i a i s surgem como uma quantidade mensurável, divisível em seções

( L u x e m b u r g , 1 9 7 2 , 7 0 ) .

P o r t a n t o , p a r a R o s a , q u a l q u e r t e o r i a económica, q u e a s s i m mereça s e r chamada, d e v e e n f o c a r o s p r o c e s s o s económicos a p a r t i r

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da ótica do c a p i t a l g l o b a l , p a r a e l a o único " c o r r e t o e d e c i s i v o " , em última instância. A a u t o r a a f i r m a q u e a t e o r i a económica de Marx n a o p o d e s e r s e p a r a d a d a i d e i a do c a p i t a l s o c i a l g l o b a l v i s t o como uma m a g n i t u d e r e a l e e f e t i v a e de c u j a dinâmica. invisível s e o r i g i n a m o s movimentos visíveis d o s c a p i t a i s i n d i v i d u a i s .

C o n t u d o - c o n t i n u a - Marx s e l i m i t a , não a p e n a s no p r i m e i r o l i v r o de O C a p i t a l , mas também n o s d e m a i s , à abstracáo teórica de uma s o c i e d a d e p u r a m e n t e c a p i t a l i s t a s ; p a r a a a u t o r a , Marx t e r i a e n f r e n t a d o o p r o b l e m a da "reprodução e circulação d o c a p i t a l s o c i a l g l o b a l " com um p r e s s u p o s t o q u e i m p o s s i b i l i t a v a d e antemão a resolução d o mesmo:

É neste ponto ove pensei que devia começar- a minha críti-ca. A hipótese teórica de uma sociedade constituída uni-camente por c a p i t a l i s t a s e trabalhadores - que é legítima para c e r t o s o b j e t i v o s de investigação Ccomo no primeiro volume de 0 C a p i t a l , na análise do c a p i t a l i n d i v i d u a l e da •sua prática de exploração na f a b r i c a i - não parece mais

adequada quando e l a representa o processo histórico r e a l de desenvolvimento c a p i t a l i s t a , parece—me impossível com-preendê-lo s e abstrairmos todas as condições da realidade histórica. A acumulação de c a p i t a l , enquanto processo histórico, desenvolve-se num meio de várias formações pré— c a p i t a l i s t a s , numa constante l u t a p o l i ti ca e através de relações económicas recíprocas. Como podemos captar e s t e processo a p a r t i r duma ficção teórica nada sangrenta, que declara que todo e s t e contexto, a l u t a , e as relações não existem? Aqui especialmente parece necessário, de acordo com o espírito da t e o r i a marxista, abandonar a premissa do primeiro volume e empreender uma investigação da acumula-ção enquanto processo t o t a l , envolvendo o metabolismo do c a p i t a l e o seu ambiente histórico. Se s e proceder assim, então a explicação do processo decorre naturalmente das

t e o r i a s fundamentais de Marx e é c o n s i s t e n t e com as outras p a r t e s de suas maiores obras económicas ( L u x e m b u r g , o p .

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L u x e m b u r g r e p u t a como f u n d a m e n t a l , do p o n t o de v i s t a metodológico, a diferença e x i s t e n t e na o b r a de M a r x e n t r e c a p i t a l i n d i v i d u a l e o c a p i t a l s o c i a l global. Sem dúvida são c a t e g o r i a s que demarcam n i t i d a m e n t e a posição de Marx em relação a o s a u t o r e s b u r g u e s e s . Mas o q u e devemos t e n t a r r e s p o n d e r é s e e s s a diferença c o n s e g u e c a p t a r o m a i s e s s e n c i a l do método de M a r x ; s e ela. n o s o f e r e c e a c h a v e da compreensão da o b r a de M a r x . O u ç a m o s , a e s t e r e s p e i t o , R o s d o l s k y , q u e f o r m u l o u m u i t o bem a questão:

[ . . . ] O que c a r a c t e r i z a metodologicamente aos d i v e r s o s volumes de 0 C a p i t a l não é Ccomo crê Rosa Luxemburgo que no primeiro d e l e s Marx s e l i m i t a á análise do c a p i t a l

i n d i v i d u a l , e só no segundo e t e r c e i r o tomos passa á consideração do c a p i t a l em suas vinculações s o c i a i s .

[ . . . ] Pelo contrário, a diferença p r i n c i p a l é a de que os d o i s primeiros tomos não vão além da análise do c a p i -t a l em g e r a l , enquan-to que no -t e r c e i r o -tomo sobrepassa o

l i m i t e , c o n s t i t u i n d o assim a passagem para a análise dos m u i t o s c a p i t a i s e as suas interrelações mútuas, v a l e d i -z e r do c a p i t a l em s u a r e a l i d a d e ( R o s d o l s k y , o p . c i t . , 9 4 - 9 5 ) .

Chegamos ao s e g u n d o p r o b l e m a metodológico s u s c i t a d o p o r R o s a , o de s e a análise d o s p r o c e s s o s económicos p e l a ótica do c a p i t a l g l o b a l pode s e r c o m p a t i b i l i z a d a com uma s o c i e d a d e a b s t r a t a o n d e só e x i s t a m c a p i t a l i s t a s e t r a b a l h a d o r e s . A l g o q u e f i c a c l a r o é q u e a s críticas f o r m u l a d a s - p e l a a u t o r a a o s e s q u e m a s d e reprodução e s q u e c e m o f a t o de q u e Marx não p r e t e n d e u através d e l e s d e s c r e v e r o p r o c e s s o de reprodução no s e u d e s e n v o l v i m e n t o histórico r e a l . Como a s s i n a l a R o s d o l s k y , é s a b i d o q u e não f o i e s t a a intenção de M a r x , que q u i s , através d o s d i t o s e s q u e m a s a p e n a s d e s c r e v e r o p r o c e s s o de

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reprodução em s u a f o r m a m a i s a b s t r a t a e g e r a l .

Em s u a Anticrí t i c a Rosa d e m o n s t r a opinião contrária, d e f e n d e n d o a t e s e de q u e a análise do c a p i t a l s o c i a l g l o b a l - em c o n t r a s t e com o c a p i t a l i n d i v i d u a l - d e v e s e r r e a l i z a d a não a p e n a s com a t o t a l i d a d e d o s p r o c e s s o s económicos, mas também com a r e a l i d a d e c o n c r e t a e i m e d i a t a do c a p i t a l i s m o . I n d o m a i s além, e l a a c u s a Mar;-: de t e r f e i t o , n e s t e a s p e c t o de s u a o b r a , uma abstração

"de t o d a s a s condições da r e a l i d a d e histórica". 0 c u r i o s o é q u e uma l e i t u r a m a i s a t e n t a da crítica d a a u t o r a n o s r e v e l a q u e q u a n d o e l a f a l a de " t o d a s a s condições da r e a l i d a d e " está p e n s a n d o numa única c o i s a : a s chamadas t e r c e i r a s pessoas.

Além d i s s o , q u a n d o a f i r m a q u e o p r o c e s s o de acumulação c a p i t a l i s t a pressupõe "como p r o c e s s o histórico" a interação com formações pré—capitalistas, L u x e m b u r g a c a b a p o r e s q u e c e r m u i t a s o u t r a s c o i s a s como a concorrência i n t e r c a p i t a 1 i s t a , a existência de uma t a x a média de l u c r o , o comércio e x t e r i o r , a exploração de países com menor p r o d u t i v i d a d e , e t c . P o r a b o r d a r , n o s e s q u e m a s , a reprodução num p l a n o a b s t r a t o , Marx não c o n s i d e r a t o d a s e s s a s c o i s a s q u e , o b v i a m e n t e , d e v e r i a m c o n s t a r duma análise c o n c r e t a da r e a l i d a d e c a p i t a l i s t a . R o s d o l s k y a t r i b u i , e s t e s equívocos da a u t o r a de A Acumulação C a p i t a l i s t a a d o i s a s p e c t o s p r i n c i p a i s : 1 ) À omissão p o r p a r t e de R o s a , da c a t e g o r i a m a r x i a n a c a p i t a l em. g e r a l ; 2 ) Ao s e u e s q u e c i m e n t o do p a p e l q u e c a b e à abstração de "uma s o c i e d a d e p u r a m e n t e c a p i t a l i s t a " no i n t e r i o r da m e t o d o l o g i a de M a r x .

Referências

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