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Primavera periférica : discursos da periferia na Internet

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Academic year: 2021

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JULIANA BELLINI MEIRELES

PRIMAVERA PERIFÉRICA: Discursos da Periferia na Internet

CAMPINAS, 2015

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Estudos da Linguagem

Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor)

JULIANA BELLINI MEIRELES

PRIMAVERA PERIFÉRICA: Discursos da Periferia na Internet

Dissertação de Mestrado apresentada ao Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas para a obtenção de título de Mestre em Divulgação Científica e Cultural na área de Divulgação Científica e Cultural.

Orientadora: Profa. Dra. Mónica Graciela Zoppi Fontana

CAMPINAS, 2015

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RESUMO

Esta pesquisa visa entender o modo como o poeta Sérgio Vaz se constitui enquanto sujeito e autor nas redes sociais. Tal abordagem será discutida a partir de textos selecionados de autoria do poeta e disseminados por ele no Twitter e Facebook. A orientação teórica que guiará os estudos será a Análise do Discurso de perspectiva francesa e entre os aspectos observados estão os discursos sobre trajetória de vida, direitos fundamentais ao ser humano, tradições e crenças na literatura, a memória ressentida e o projeto pedagógico da literatura.

Palavras-chave: Literatura Marginal; Literatura e Internet; Análise do Discurso; Redes Sociais;

Sujeito

ABSTRACT

This research aims to understand how the poet Sergio Vaz is constituted as subject and author on social networks. Such approach is going to be discussed from selected texts by the poet that he disseminates on Twitter and Facebook. The theoretical orientation that guides the study is the Discourse Analysis from the French perspective. In addiction, the observed aspects are the discourses about life course, fundamental rights to human, traditions and beliefs in the literature, the resentful memory and the pedagogical project of the literature.

Key Words: Marginal literature; Literature and Internet; Discourse analysis; Social networks;

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...1

CAPÍTULO 1 – ANÁLISE DO DISCURSO...5

1.1. Sujeito, História e Linguagem...6

1.2. Dispositivo de Análise...9

CAPÍTULO 2 - NOVAS TECNOLOGIAS...17

2.1. Internet e as Reconfigurações do Espaço...20

2.2. A Internet Como Modificadora das Relações Sociais...22

2.2.1. Twitter...23 2.2.2. Facebook...27 2.3. Internet e Hipertexto...31 2.4. Internet e Política...33 2.4.1. Manifestações na Internet...35 2.5. Internet e Literatura...43

CAPÍTULO 3 - LITERATURA E MARGENS...49

3.1. Viagem pelas Margens...51

3.2. O Aparecimento da Periferia...58

3.3. Conexões...60

3.4. Literatura Marginal: Questões de Terminologia...61

3.5. Alguns Escritores em Cena...64

3.5.1. Ferréz...64

3.5.2. Alessandro Buzo...68

3.5.3. Sacolinha...71

3.5.4. Allan da Rosa...73

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3.6. Cooperifa...76 3.6.1. Ações Comunitárias...78 a) Várzea Poética...78 b) Cinema na Laje...79 c) Chuva de livros...80 d) Ajoelhaço...81 e) Poesia no Ar...82

f) Semana de Arte Moderna da Periferia...83

CAPÍTULO 4 - LITERATURA E VIDA...85

4.1. O Lugar do Artista e o Nome de Autor...86

4.2. O Público, Efeito-Leitor e Circulação de Sentidos...99

CONSIDERAÇÕES FINAIS...107

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Dedicatória

Aos meus pais Sérgio A. C. Meireles e Norma B. Meireles que me passaram valores, me ensinaram a importância de não parar de estudar e sempre estiveram comigo, ainda que distantes.

À minha avó paterna Wanda C. Meireles pelo importante apoio.

Aos meus tios Caetano de Souza e Edina E. C. M. Souza pelo suporte em momentos tão difíceis e por serem uma inspiração na minha carreira.

À minha tia Ana M. L. Bellini (in memorian).

Ao Ramon, por sempre acreditar, pelo companheirismo e pela incondicionalidade da alegria.

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Agradecimentos

Ao Ramon, pela sua paciência e amor no período em que terminava este trabalho, bem como, pela ajuda nesta dissertação, ideias nos momentos de crise e pela revisão final. Aos meus pais, Sérgio e Norma, que durante momentos tumultuados de nossa vida, se desdobraram para dar todo apoio que podiam nos meus estudos. À minha avó Wanda e meus tios Caetano, Edina, Amaury e Ana (in memorian) pela ajuda sempre pronta e inspiração. Aos amigos Carolina Teixeira e Paulo César, que sabendo da importância de nunca parar de estudar, flexibilizaram meu horário de trabalho, fator determinante para que eu pudesse chegar até aqui. Aos professores da graduação, Gilvan Procópio por me ensinar a gostar de literatura, Alexandre Faria pelas oportunidades, Terezinha Scher pelos conselhos. À minha orientadora Mónica Zoppi pela paciência em um momento decisivo de minha vida e pelo suporte. À professora Carolina Magaldi pela amizade, pelo amparo e pelas importantes contribuições e ajuda nos momentos de dúvida. À professora Cristiane Dias, pelas importantes considerações na qualificação, ao professor Rafael Evangelista por aceitar o convite inesperado. A todos do Labjor, representados na figura da professora Germana Barata, pelas oportunidades em momentos difíceis do primeiro ano de curso. Aos professores Helio Sôlha e Adilson Ruiz, que abriram as portas do PED para mim. Aos meus colegas do mestrado André, Graziele, Maysa, Carina e Marcos, pelo companheirismo e colaboração durante o curso do mestrado e nos momentos difíceis que enfrentei.

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“People think dreams aren't real just because they aren't made of matter, of particles. Dreams are real. But they are made of viewpoints, of images, of memories and puns and lost hopes.”

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INTRODUÇÃO

Segundo Deleuze (1997), a literatura é como um empreendimento de saúde num mundo que se apresenta como um conjunto de sintomas, cuja doença se confunde com o homem. Trata-se de uma medida de saúde quando invoca para abrir um sulco em si “uma raça bastarda” (Deleuze, 1997, p.15), oprimida, que não para de agitar-se sob dominações. A literatura é ainda a arte de criar histórias, provocar reações de amor, ódio, espanto ou curiosidade: há quem se identifique com uma frase no muro das travessas urbanas e, assim, o ato de ler aproxima o homem de uma nova realidade, criando um diálogo entre o leitor e o texto, abrindo as portas para um conhecimento infinito de possibilidades.

Atualmente estamos vivendo um dos períodos literários mais efervescentes das últimas décadas com o surgimento de vozes vindas das periferias das grandes cidades. Heloísa Buarque de Hollanda (2011) apresenta essa manifestação cultural como exemplo de resistência e produção de novos sentidos políticos nos países globalizados em desenvolvimento, porque propõe mudanças estruturais no sentido de sua criação e divulgação, principalmente via internet. Pretendemos dissertar acerca do Poeta Sérgio Vaz e da Cooperifa, como exemplos em que a própria noção de cultura, e por tabela a de literatura, é forçada a repensar seus parâmetros e até mesmo sua função social, possibilitando a produção de sentidos que fascinam, como afirma Foucault (2001), pelo que “se propõem a ser” (Foucault, 2001, p.234). Sérgio Vaz foi o poeta selecionado porque, além de estar a frente da Cooperifa, um projeto que pode ser considerado pioneiro e bem-sucedido no que se refere a ações de manifestação cultural na periferia de São Paulo, é também um dos escritores mais ativos nas redes sociais. Sua poesia também se destaca devido às mensagens de luta e felicidade, que são desenvolvidas de maneira peculiar em relação aos demais autores estudados.

O objetivo dessa pesquisa então é abordar como o autor escolhido para análise se constitui como sujeito ao englobar artes e letras, direitos fundamentais ao ser humano, modos de vida, tradições e crenças na literatura sendo também ator no espaço que retrata nos textos com sua trajetória de vida, a memória ressentida e o projeto pedagógico da literatura. Tal abordagem será verificada em textos divulgados nas redes sociais, visando entender as relações do poeta com a violência urbana, a carência de bens e equipamentos culturais, o cotidiano e as relações pessoais,

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tendo a internet como ferramenta de apoio à divulgação cultural promovida pelo poeta. A pesquisa será consituída por quatro capítulos.

No primeiro capítulo será apresentado o dispositivo metodológico a ser utilizado na dissertação: Análise do Discurso da perspectiva francesa. A escolha de tal teoria se baseia no objetivo de não somente compreender a mensagem do poeta Sérgio Vaz e da Cooperifa com os poemas divulgados nas redes sociais, mas reconhecer qual é o seu sentido, ou seja, o seu valor no contexto da periferia nos dias atuais. Sujeito, história e linguagem serão conceitualizados sob o embasamento de autores tais como Eni Orlandi (1983, 1995, 1996, 1997, 1998, 2005, 2007 e 2012) e Focault (1973, 1980, 1985, 1987, 1995, 2001), em diferentes obras, dentre outros.

O segundo capítulo pretende apresentar o suporte de divulgação mais popular da literatura produzida na periferia: a internet. Introduziremos a origem da rede mundial de computadores e diferenciaremos suas fases (estática, dinâmica e semântica), de modo a relacionar conceitos que nos fazem entender seu funcionamento nos dias atuais. Os conceitos utilizados se embasam em obras de autoes como Levy (1997, 1998), McLuhan (1972) e Prigogine (1996). Abordaremos temas para a discussão, tais como a modificação das noções de espaço por meio da rede e as reconfigurações das relações sociais, com enfoque nos sistemas que serão utilizados na análise da divulgação dos poemas escolhidos: as populares redes sociais Twitter e Facebook, além das relações entre internet e linguagem, permeando os conceitos hipertextuais. Também serão tratadas questões referentes às relações da internet com a política, a literatura e a periferia.

Em continuidade, no terceiro capítulo abordaremos a Literatura Brasileira. Inicialmente, traçaremos um breve histórico desde o final da década de 60, explicando as relações do povo com a literatura e a tomada da palavra poética como instrumento de poder. Passaremos então pelo Tropicalismo, movimento no qual a resistência se daria pela valorização dos aspectos marginais das minorias urbanas. Percorreremos o Pós-Tropicalismo, abordando a produção cultural como um modo de agressão ao sistema, no tenso cenário político repressivo que se seguiu até o final da década de 80. Enfim, apresentaremos a literatura marginal produzida na periferia, que se popularizou na década de 90, dando intensa visibilidade e força simbólica às periferias. Discutiremos os compromissos que alguns de seus autores pretendem na literatura enquanto agente de transformação social e como se articula no universo online das redes sociais, tomando como base as atividades do poeta Sérgio Vaz em nome da Cooperativa Cultural da Periferia.

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Finalmente, sucede o quarto capítulo, o qual abrangerá as relações entre literatura e vida, reunindo os conceitos até então abordados na aplicação da análise de publicações selecionadas das páginas no Twitter e Facebook da Cooperifa e do Poeta Sérgio Vaz. Esse estudo pretende ser desenvolvido considerando o alargamento do conceito de cultura, a qual passou a ser concebida como algo transversal, originando recortes temáticos dentro da própria definição do termo que, no Brasil, segundo perspectivas da Mondiacult1 e de Canclini (1998), pode ser caracterizada

como conjuntos de rasgos distintivos materiais e espirituais, intelectuais e afetivos, que caracterizam uma sociedade ou grupo social.

Portanto, esperamos com esta pesquisa concluir como se constituem, no contexto sócio-histórico da resistência e da poesia enquanto agente de transformação social, aspectos como o lugar de artista, nome de autor, público, efeito-leitor e circulação de sentidos nas obras produzidas e divulgadas pelo poeta Sérgio Vaz por meio de suas redes sociais e também dos perfis online da Cooperifa.

1 Conferência Mundial de Políticas Culturais, ocorrida em 1982, onde se discutiu a relação entre cultura e desenvolvimento, esboçando assim, pela primeira vez, o princípio de uma política cultural baseada no respeito à diversidade cultural. Ver: MONDIACULT: A CULTURA COMO DIMENSÃO DOS DIREITOS HUMANOS in:

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CAPÍTULO 1 - ANÁLISE DO DISCURSO

Para iniciar os estudos, apresentamos neste capítulo a Análise do Discurso da perspectiva francesa, doravante AD. Trata-se de uma orientação teórica que visa problematizar as maneiras de ler, levar o sujeito falante ou o leitor a se questionarem sobre o que produzem e o que lêem nas diferentes manifestações da linguagem. Estruturada principalmente por Michael Pêcheux, dos anos 1960 em diante, a AD situa suas reflexões nas relações da linguagem com a exterioridade, ou seja, como a condição de produção do discurso que intervém na textualidade e conseqüentemente como a memória afeta o discurso. Neste processo pensamos também o simbólico, pois seu comprometimento com o político é fundamental para compreender o movimento dos sentidos. Em suma, o discurso é palavra em movimento, prática de linguagem.

Tal orientação teórica entende o discurso como mediação necessária entre o homem e a realidade social, tornando sua transformação tão possível quanto a realidade em que vive. Considera ainda a história, os processos e as condições da produção de linguagem, analisando a relação estabelecida pela língua com os sujeitos. Por sua vez, o analista do discurso busca entender como um texto significa, de que maneira a linguagem está materializada na ideologia através do sujeito discursivo, uma vez que as palavras simples do cotidiano chegam carregadas de sentidos sem que saibamos como se constituíram e, mesmo assim, significam. Gregolin (2001a) afirma ao longo de sua pesquisa que os fundamentos teóricos da AD têm como conseqüência a forma material sócio-histórica do discurso e fazem com que a linguagem seja entendida como ação e transformação social incluindo, segundo Orlandi, “todas as suas implicações, conflitos, reconhecimentos, relações de poder, constituições de identidade, etc.” (Orlandi, 1998, p.17).

A linguagem então é vista como um acontecimento do significante num sujeito afetado pela historia através de complexos processos de produção de sentidos, envolvendo identificação de sujeito, argumentação, subjetivação, construção de realidade, entre outros. É importante observar que o sentido da linguagem se inscreve na história, sendo definido em relação a três regiões de conhecimento, segundo a Análise do Discurso: a primeira delas é a Teoria da Sintaxe e da Enunciação, noção mediadora que consiste na atividade dos sujeitos com e na língua; a segunda é a Teoria da Ideologia, formulada como uma representação da relação imaginária dos indivíduos com suas condições reais de existência; e a terceira, a Teoria do Discurso, que consiste

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na determinação histórica dos processos de significação. Tudo isso atravessado pela Teoria do Sujeito que desperta a noção da leitura e interpretação, problematizando a sua relação com o sentido – conseqüentemente, da língua com a história.

1.1. Sujeito, História e Linguagem

A leitura não é transparente, por isso a AD teoriza a interpretação, visando compreender como os objetos simbólicos produzem sentido, analisando assim os gestos de interpretação considerados como atos que intervêm no real. Ao tentar compreender o modo como um objeto simbólico produz sentidos, a AD visa explicitar como o texto organiza os gestos de interpretação, tentando entender e explicar como se constrói o sentido de um texto e como esse texto se articula com a história e a sociedade que o produziu, de tal modo que a enunciação passa a ser um fator relevante para a interpretação, que na noção de Pêcheux (1997) é um gesto no nível simbólico.

Enquanto a circunstância de enunciação é o contexto imediato, as condições de produção compreendem o contexto sócio-histórico e ideológico: os sujeitos, a situação, a memória que nessa perspectiva é tratada como interdiscurso. A memória discursiva segundo Orlandi (2012) é aquilo que já foi dito antes e transformou-se no saber que sustenta a tomada da palavra, representando o modo como o sujeito significa em uma situação discursiva. Quando uma palavra significa é porque ela deriva de um discurso que a sustenta, e nessa percepção podemos entender a relação do interdiscurso com os sentidos.

Courtine (1984) estabelece o interdiscurso como o conjunto de formulações já esquecidas e tem como efeito o esquecimento daquilo que foi dito por um sujeito específico, em um momento particular, para re-significar nas palavras de um novo sujeito. O esquecimento pode ocorrer de duas maneiras: a primeira é da ordem da enunciação e refere-se às escolhas dos dizeres, que estabelecem uma relação entre palavra e coisa; a segunda é da instância do inconsciente e resulta do modo pelo qual somos afetados pela ideologia. Inferimos dos estudos de Chauí (1981) que a ideologia é um conjunto de práticas usadas como mecanismo de mediação que define o que as pessoas pensam e as incorpora na sociedade, numa construção ligada a sistemas de poder através de discursos que podem ser vistos como regime organizado e convencionado de verdade. Tal regime, de acordo com Foucault (1980), é constituído por práticas

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discursivas e pressupõe relações com instituições, acontecimentos políticos, práticas e processos econômicos que são determinantes no funcionamento da linguagem. Estabelecer essas relações discursivas pode ser difícil, por isso há no discurso espaço para jogos entre paráfrase e polissemia, cuja tensão confirma o paralelo entre o simbólico e o político.

Segundo Orlandi (2012), os processos parafrásticos se referem à memória, aquilo que em todo dizer sempre se mantém. A paráfrase representa assim o retorno aos mesmos espaços do dizer, à origem do sentido, uma vez que conta sempre com a repetição e a sustentação no saber. Já a polissemia representa o deslocamento, a ruptura dos processos de significação, jogando com o equívoco. Para a autora, trata-se da fonte de linguagem porque trata da própria condição de existência dos discursos, pois se os sentidos – e os sujeitos. Assim, a polissemia é justamente a simultaneidade de movimentos distintos de sentido no mesmo objeto simbólico e o Analista de Discurso propõe compreender como o político e o linguístico se inter-relacionam na constituição dos sujeitos nesses jogos da linguagem.

Os sentidos resultam de relações: um discurso aponta para outros que o sustentam através de alguns mecanismos imaginários. O primeiro mecanismo é o da antecipação, no qual todo sujeito tem a capacidade de colocar-se no lugar de seu interlocutor, antecipando-o assim quanto ao sentido que suas palavras produzem. Esse mecanismo dirige o processo de argumentação, regulando o que o sujeito dirá de um modo ou de outro, segundo o efeito que visa produzir em seu ouvinte por meio de determinadas relações de forças. De acordo com essa noção, podemos dizer que o lugar a partir do qual fala o sujeito é constitutivo do que ele diz. Assim, suas palavras significam de um modo diferente a depender do lugar de onde fala, pois a sociedade é construída por relações hierarquizadas, relações de força sustentadas no poder desses diferentes lugares, que se fazem valer na comunicação.

As condições de produção implicam então o que é material (a língua), institucional (a formação social e sua ordem) e o mecanismo imaginário. Esse é o segundo mecanismo do qual falávamos, o que produz imagens dos sujeitos assim como do objeto do discurso associado a uma conjuntura sócio-histórica. Pensando as relações de forças, de sentidos e a antecipação, são perceptíveis diferentes possibilidades regidas pela maneira como a formação social está na história, permitindo que se formem imagens e as associe ao discurso de modo a contribuir para o processo de significação. Uma imagem se constitui no confronto do simbólico com o político em

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processos que ligam discursos e instituições, logo a análise é importante porque com ela torna-se possível atravessar o imaginário que condiciona os sujeitos em suas discursividades, explicitando o modo como os sentidos estão sendo produzidos, e consequentemente, compreendendo melhor o que está sendo dito.

Assim, é preciso referir o dizer às suas condições de produção, estabelecer as relações que ele mantém com sua memória e também remetê-lo a uma formação discursiva, onde os sentidos se encontram. Desse modo, o sentido é pensado pelas posições ideológicas colocadas em jogo no processo sócio-histórico no qual as palavras são produzidas, seguindo as posições daqueles que as empregam, se relacionando com as conjunturas ideológicas nas quais essas posições se inserem em uma relação sócio-histórica dada, e finalmente sugerindo o que pode e o que deve ser dito.

O trabalho da ideologia então é produzir evidências, colocando o homem numa relação imaginária com suas condições materiais de existência. M. Pêcheux (1983) afirma que a ideologia é a condição responsável para constituição do sujeito e dos sentidos, já que o indivíduo em sujeito para que produza o dizer. Trata-se da relação necessária entre linguagem e mundo, do efeito imaginário de um sobre o outro, e dissimula sua existência no interior do seu próprio funcionamento em conjunto com o inconsciente, deixando visíveis apenas algumas evidências que funcionam através dos esquecimentos, dando aos sujeitos a realidade como um sistema de significações experimentadas.

A linguagem, os sentidos e os sujeitos não são transparentes: eles têm sua materialidade e se constituem em processos nos quais a língua, a história e a ideologia concorrem conjuntamente. É preciso que a história intervenha para que a língua faça sentido, por isso os gestos de interpretação são regulados em suas possibilidades, em suas condições e a ideologia intercede seu modo de funcionamento imaginário. O gesto de interpretação do sujeito é garantido pela memória, segundo Orlandi (2012) sob dois aspectos: o primeiro é a memória institucionalizada (o arquivo), onde se separam quem tem e quem não tem direito a ela; o segundo é a memória constitutiva (o interdiscurso), ou seja, o trabalho histórico da constituição do sentido (o saber discursivo), sujeito à língua e a história, pois para se constituir, para produzir sentidos, o saber discursivo é afetado por elas.

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O sujeito discursivo é pensado como lugar. Segundo Foucault (1969), trata-se da posição que deve e pode ocupar todo individuo. Essa posição significa quando está sendo dita, e isso lhe dá identidade relativa a outras. Acrescentamos ainda a noção do sujeito-de-direito, definida por Orlandi (2012) como efeito de uma estrutura social bem determinada: a sociedade capitalista. Submetendo o sujeito, mas ao mesmo tempo apresentando-o como livre e responsável, o assujeitamento se realiza quando o discurso aparece como instrumento do pensamento e reflexo da realidade. A ideologia fornece as evidências que apagam o caráter material do sentido e do sujeito na transparência da linguagem, sustentando a noção de literariedade.

O sentido literal, na concepção linguística, é aquele que uma palavra tem independentemente de seu uso em qualquer contexto, seu caráter básico. A ilusão do sentido literal considera que as estratégias retóricas e as manobras estilísticas fazem o sujeito ter a impressão de transparência. É tarefa do analista do discurso expor o olhar do leitor à opacidade do texto, como diz M. Pêcheux (1983), para compreender como essa impressão é produzida e quais seus efeitos.

1.2. Dispositivo de Análise

Os conceitos apresentados no item anterior agora serão utilizados para a reflexão sobre o dispositivo da análise do discurso. Primeiramente, sobre o lugar da interpretação, que tem como proposta procurar o sentido em sua materialidade linguística e histórica. Segundo Pêcheux (1983), todo enunciado é descritível como uma série de pontos que oferecem lugar à interpretação, a qual consiste na manifestação do inconsciente e da ideologia na produção de sentidos e na constituição de sujeitos. A ligação que abre possibilidade à interpretação, também dá espaço a ligações históricas capazes de se organizar em memórias, e ordenar relações sociais em redes de significantes. As transferências presentes nos processos de identificação dos sujeitos constituem uma pluralidade de filiações históricas, uma vez que dependendo da posição do sujeito e da inscrição daquilo que diz, seus processos de identificação e suas filiações de sentido descrevem a relação do sujeito com a memória.

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Por definição de E. Orlandi (1998), todo discurso se estabelece na relação com um discurso anterior e aponta para outro, pois do processo discursivo é possível recortar e analisar estados diferentes. É importante considerar os fatos da linguagem e sua memória em relação à análise e à sua temática, por isso a pesquisadora considera que a melhor maneira de atender a constituição de corpus é construindo montagens discursivas que obedeçam a critérios os quais decorrem de princípios teóricos da AD para mostrar como o discurso funciona produzindo sentidos. Isso gera uma discussão acerca da diferença entre texto e discurso.

O texto é definido na obra de Orlandi como “uma unidade que o analista tem diante de si e da qual ele parte” (Orlandi, 2012, p. 63). O analista visa remeter o texto a um discurso que, por sua vez, se explicita em suas regularidades pela sua referencia a uma formação discursiva que, enfim, ganha sentido porque deriva de um jogo definido pela formação ideológica dominante na dada conjuntura. Todo discurso é parte de um processo discursivo mais amplo que o analista recorta de modo a determinar como a análise e o dispositivo teórico da interpretação é construído. Logo, o dispositivo analítico pode ser diferente nas diferentes abordagens que fazemos do corpus: é tudo uma questão de método.

Para analisarmos um discurso é necessário ir além da superfície do texto: verificamos quem diz, como diz e em quais circunstâncias isso é feito durante o processo de enunciação, no qual o sujeito se marca deixando pistas para compreendermos o modo como seu discurso se textualiza. Com isso procuramos enquanto analistas, dar conta do esquecimento enunciativo, analisando o que é dito num discurso, pois se em outras condições, são dizeres afetados por diferentes memórias discursivas. A análise visa justamente entrar no processo discursivo para deslocar o sujeito dos efeitos linguísticos e discursivos resultantes. Objetiva ainda compreender a partir dos vestígios como um objeto simbólico produz sentidos, através da observação do modo de construção e estruturação, o modo de circulação e os diferentes gestos de leitura que constituem os sentidos do texto submetido à análise.

E. Orlandi (2012) argumenta que “fatos vividos reclamam sentidos e os sujeitos se movem entre o real da língua e o da histórica, entre o acaso e a necessidade (...), produzindo gestos de interpretação.” (Orlandi, 2012, p. 68) Ora, é esperado do analista que encontre no texto as pistas dos gestos de interpretação, que se tecem na história, explicitando o modo de

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constituição de sujeitos e de produção de sentidos, o que resulta na revelação do trabalho da ideologia e das simbolizações de poder presentes no texto.

O texto se define na AD como uma unidade de sentido construído em relação a determinada situação, pois tem historicidade, a qual consiste no acontecimento do texto como discurso, incluindo o trabalho dos sentidos nele. O interessante nessa relação entre texto e discursividade é o modo como o texto organiza a relação da língua com a história no trabalho do significante do sujeito em sua relação com o mundo. Compreendendo como ele funciona e como produz sentidos, podemos compreendê-lo enquanto objeto linguístico-histórico.

Todo texto é heterogêneo quanto à natureza dos diferentes materiais simbólicos, das linguagens e das posições do sujeito, uma vez que o sujeito se subjetiva de maneiras diferentes em seu decorrer. Orlandi (2012) retoma Maingueneau (1969) para explicar que o discurso é uma dispersão de textos cujo modo de inscrição histórica permite definir-se como um espaço de regularidades enunciativas e discursivas, procurando remeter texto ao discurso e esclarecer as relações deste com as formações discursivas pensando, por sua vez, as relações destas com a ideologia.

Conforme afirmado, o texto é a unidade de análise afetada pelas condições de produção, o lugar da relação com a representação da linguagem e também espaço do significante (onde funciona a discursividade). Um texto é uma peça de linguagem de um processo discursivo bem mais abrangente e o produto de sua análise consiste na compreensão dos processos de produção de sentidos e de constituição dos sujeitos em suas posições. O processo discursivo, por sua vez, dá ao analista as indicações de que ele necessita para compreender a produção de sentidos.

Outra definição importante na explanação dos dispositivos de análise, diz respeito ao autor e o sujeito. Orlandi (2012) define o sujeito como aquele que “está para o discurso assim como o autor está para o texto” (Orlandi, 2012, p. 73), e também considera o sujeito como resultado da interpelação do indivíduo pela ideologia, enquanto o autor é a representação de unidade e delimita-se na prática social como uma função específica de sujeito. A especialista recorre a Vignaux (1979) ao afirmar que o discurso tem como função assegurar a permanência de certa representação, porque o autor é o lugar em que se constrói a unidade do sujeito.

Em termos do real do discurso, temos a descontinuidade, o equivoco, a contradição. Por outro lado, na instância do imaginário, encontramos a unidade, a coerência. Trata-se de

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considerar a unidade (imaginária) na dispersão (real): “de um lado a dispersão dos textos e do sujeito; de outro, a unidade do discurso e a identidade do autor” (Orlandi, 2012, p. 74). Assim, o discurso é regido pela força do imaginário da unidade, estabelecendo uma relação de dominância de uma formação discursiva com as outras, na sua constituição. Esse é mais um efeito discursivo regido pelo imaginário, o que lhe dá uma direção ideológica, uma ancoragem política, especialmente nas questões sobre autoria.

Podemos então dizer que a autoria é uma função do sujeito. A função-autor estabelece-se ao lado das funções locutor e enunciador. Orlandi (2012) recorre a Ducrot (1984) para explicar o locutor, como aquele que se representa como o “eu” do discurso, enquanto o enunciador é a perspectiva que esse “eu” constrói. A função-autor tal como a concebemos foi dada por Foucault (1973): o autor propõe que há no discurso processos internos de controle que se dão a princípio de ordenação, e tal controle pode ser observado em noções como a do autor, de modo que este seja considerado como princípio de agrupamento do discurso, como unidade e origem de suas significações. Orlandi (2012) evidencia que “um texto pode até não ter um autor específico, mas pela função-autor, sempre se imputa uma autoria a ele”(Orlandi, 2012, p.75). Ao imputar a função-autor a qualquer texto, a AD trata o conceito como um sinônimo de autor, que é utilizado como uma identidade autoral alternativa, um outro tipo de assinatura.

O princípio do autor limita o acaso do discurso pela identidade que tem forma na individualidade do “eu”. Ora, se o locutor se representa como “eu” no discurso e o enunciador é a perspectiva que esse “eu” assume, a função discursiva do autor é a função dele enquanto produtor de linguagem, produtor de texto. A dimensão de sujeito está mais determinada pela exterioridade (contexto sócio-histórico) e pelas exigências de coerência e responsabilidades frente ao texto, já que sua função é mais afetada pelo social e está submetida às regras das instituições. Essas exigências têm a finalidade de tornar o sujeito visível enquanto autor com suas intenções argumentativas e, como autor, o sujeito ao mesmo tempo em que reconhece uma exterioridade à qual ele deve se referir, também se reconhece em sua interioridade ao construir sua identidade. Trabalhando a articulação entre esses dois pontos, o sujeito passa a assumir o papel de autor e suas implicações. A esse processo, Orlandi (1998) deu o nome de assunção da autoria.

Segundo a pesquisadora, “o autor é o sujeito que, tendo o domínio de certos mecanismos discursivos, representa, pela linguagem, esse papel na ordem em que está inscrito, na posição em

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que se constitui, assumindo a responsabilidade pelo que diz e como diz.” (Orlandi, 2012, p.76). A assunção da autoria implica então uma inserção do sujeito na cultura, uma posição dele no contexto histórico-social. Orlandi (2012) determina ainda que aprender a se representar como autor é assumir, diante das instâncias institucionais, esse papel social na sua relação com a linguagem, logo, constituir-se e mostrar-se como autor. Podemos dizer que a função do sujeito tem seu pólo correspondente: o leitor, de quem se cobra um modo de leitura especificado pois ele está, como o autor, afetado pela sua inserção no social e na história. O leitor tem sua identidade configurada enquanto tal pelo lugar social no qual se define sua leitura, trabalhando aí diferentes formas do confronto do político com o simbólico.

As maneiras de ler quando se considera o discurso, indicam a relação entre o não-dizer e o dizer. O primeiro refere-se ao que está implícito, ou seja, o que fica subentendido quando o autor separa aquilo que deriva (o pressuposto) daquilo que se dá em contexto (subentendido). Já o segundo, traz consigo necessariamente esse pressuposto, que o complementa. Uma formação discursiva pressupõe outra e significa pela sua diferença e pela relação que se estabelece, ou seja, o dizer se sustenta na memória discursiva. Mas essa não é a única forma de trabalhar o não-dito na AD, há ainda o silêncio, pelo qual se entende o lugar de recuo necessário para que se possa significar. Existem algumas formas do silêncio: o silêncio fundador, por exemplo, indica que o sentido sempre pode ser outro. A política do silêncio assume duas formas, e são elas o silêncio constitutivo, que traz o apagamento de outras palavras quando uma é dita, e o silêncio local, que é a censura – aquilo que é proibido ser dito em certa conjuntura. Orlandi (2012, p.83) afirma que “as relações de poder em uma sociedade como a nossa produzem sempre a censura, de tal modo que há sempre silêncio acompanhando as palavras”.

Partimos das condições e relações do dizer com a memória para delinearmos as margens do não-dito, a fim de encontrar o que é relevante em dada situação, do contrário, não haveria limites para o processo de significação. As maneiras de estabelecer esses limites estão de certa forma articuladas e elas são três: a primeira trata das diferentes concepções de línguas enquanto sistema abstrato; enquanto isso, a segunda se relaciona às diferentes naturezas de exterioridade, tais como contexto, condição de produção, circunstâncias de enunciação; e enfim, as diferentes concepções do não-dito, com o silêncio e o implícito. Tudo isso sem que nos esqueçamos de que

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o discurso é efeito de sentido entre interlocutores, estabelecendo relações e construindo consequentemente tipologias.

São variados os critérios pelos quais se constituem tipologias na AD. Temos o discurso político, jurídico, religioso, jornalístico, pedagógico, médico, científico; há também suas variáveis, como por exemplo, didático ou terapêutico, e ainda as diferenças disciplinares que podem estar na base da tipologia, tais como o discurso sociológico, biológico; tem também as diferenças de estilo, gênero, as subdivisões e uma infinita série de ramificações que nos levam a crer que a tipologia pode até ser útil na análise, mas não é exatamente isso que caracteriza o discurso, mas resultam de funcionamentos cristalizados que adquiriram uma visibilidade. O foco está nas propriedades internas ao processo discursivo, dentre elas a remissão de formações discursivas, o modo de funcionamento, formações discursivas, modo de funcionamento, seu regime e validade.

Eni Orlandi (Orlandi, 1989, apud Orlandi, 2012, p. 86) procura estabelecer um critério para distinguir esses diferentes modos de funcionamento do discurso, cuja referência está nos elementos constitutivos de suas condições de produção e sua relação com o modo de produção de sentidos, com seus efeitos, como podemos ver a seguir:

a. Discurso autoritário: aquele em que a polissemia está contida [...] o locutor se coloca como agente exclusivo, apagando também sua relação com o interlocutor.

b. Discurso polêmico: aquele em que a polissemia é controlada, o referente é disputado pelos interlocutores [...], numa disputa tensa pelos sentidos

c. Discurso lúdico: aquele em que a polissemia está aberta [...] sendo que os interlocutores se expõem aos efeitos de sentido [...]

Logo, o que há são misturas do modo que podemos dizer que um discurso está em funcionamento com certa característica dominante, pois a materialidade discursiva, as pistas do processo de significação, trabalha com propriedades que referem a língua à história para ressignificar, reunindo forma e conteúdo, analisando seu funcionamento.

Os discursos a serem analisados neste trabalho circulam nas redes sociais, e para entender seu funcionamento, começaremos o próximo capítulo destrinchando a internet enquanto plataforma e explicitando algumas das consequências de seu desenvolvimento e uso na sociedade contemporânea. Para entender o modo como os processos que envolvem esse suporte afetam a

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sociedade, buscaremos uma visão crítica dos seus fundamentos e utilizações, desde sua criação até os dias atuais, por isso decidimos abordar no segundo capítulo um pouco da história da rede mundial de computadores, assim como a maneira que ela tem afetado sujeitos nas suas aspirações culturais e sociais.

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CAPÍTULO 2 - NOVAS TECNOLOGIAS

No capítulo anterior, foi feita uma apresentação inicial acerca do dispositivo teórico que será usado nas análises literárias conseguintes, atentando para a noção de que a linguagem é uma prática e intervém no real, podendo se situar em relação ao simbólico e o político, de tal maneira que possibilita a constituição do sujeito e a significação do mundo pela história e pela ideologia, a qual se materializa na linguagem como um lugar de descoberta. Um território fértil para estudar tal funcionamento da linguagem é a internet, consequentemente, veremos ao longo deste trabalho como a literatura, os escritores, a relação entre eles e o leitor está mudando desde a sua popularização.

O desenvolvimento da linguagem como meio de comunicação foi o primeiro sinal de mudança significativa na vida do ser humano, pois a linguagem permitiu que o homem transmitisse conhecimento, melhorando sua compreensão do mundo entre as primeiras comunidades. Com o passar do tempo, a linguagem teve seus sons codificados em símbolos e alfabetos, que se desenvolveram na mesma medida em que a civilização tal como conhecemos hoje originando a escrita e permitindo que o conhecimento fosse transmitido além do tempo e espaço. Aperfeiçoou ainda a organização do pensamento, desenvolvendo a inteligência, a cultura e a ciência, criando raízes que contribuíram para a evolução da civilização, tendo um impacto tão forte que sua invenção determinou a passagem da Pré-história para o início da História da humanidade.

Por sua vez, a Internet foi criada nos anos 60, durante a Guerra Fria, nos Estados Unidos, quando o Departamento de Defesa americano precisava criar uma rede de comunicação de computadores em pontos estratégicos com o objetivo de descentralizar informações valiosas. Em 1962, no MIT, falava-se em termos da criação de uma Rede Intergalática de Computadores2 e o

acesso à rede era restrito a militares e pesquisadores estatais. Apenas em 1991 a comunidade acadêmica brasileira conseguiu, através do Ministério da Ciência e Tecnologia, acesso a redes de pesquisas internacionais. Em 1995, a rede foi aberta para fins comerciais, ficando a cargo da iniciativa privada a exploração dos serviços.

2 Brief History of the Internet; Disponível em: http://www.internetsociety.org/internet/what-internet/history-internet/brief-history-internet#JCRL62 (acessado em: 18/06/2013);

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Nos anos 2000, a popularização do meio de comunicação provocou uma verdadeira revolução em nossa história. McLuhan (1969;1972) havia dissertado que as novas tecnologias eletrônicas encurtariam distâncias e que o progresso tecnológico reduziria todo o planeta à mesma situação que ocorre numa aldeia: um mundo em que todos estão interligados de alguma forma. Essa é a “Aldeia Global”, popularizada nas obras “A Galáxia de Gutenberg” (1972) e, posteriormente, em “Os Meios de Comunicação como Extensão do Homem” (1969). Ele foi o primeiro filósofo a tratar das transformações sociais provocadas pela revolução tecnológica do computador e das telecomunicações, e acreditava que os meios eletrônicos reconstituiriam uma tradição oral, colocando todos os nossos sentidos humanos em jogo – mas este conceito foi muito além do que o autor previa. Segundo Levy (1998), o global se faz e se refaz o tempo inteiro, colocando novos atores no cenário.

Em suma, a internet surgiu para informar e trocar informação, mas somente de maneira estática. A chamada web 1.0 implica apenas leitura, ao passo que na web 2.0, os sites oferecem interatividade e uma maneira de personalização da página como alterações de design, escolha de notícias relevantes, inserção e alteração de informação. A divisão entre web 1.0 e 2.0 é mais uma questão técnica, de interface: enquanto a programação da web 1.0 é estática, usando apenas HTML, de forma que o usuário somente buscava informações, na web 2.0 a programação é dinâmica, combinando vários recursos técnicos (tais como PHP, JavaScript, Flash, CSS, etc.) para possibilitar a interação do usuário com o conteúdo.

Por sua vez, a terceira geração da internet é considerada interativa, pois um site consegue ler as mensagens e utilizá-las de maneira mais complexa, como exemplo: inserindo publicidade relevante com o conteúdo divulgado, reunindo resultados em mecanismos de busca apenas com as palavras chaves ou ``lendo os pensamentos`` do internauta, como o site Akinator faz, conforme a figura 1:

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Figura 1 - Akinator3

Também conhecida como Websemântica, a web 3.0 surgiu por volta de 2007 e é caracterizada pela interatividade entre homem e máquina, melhorando as linguagens de programação de modo a organizar e utilizar de maneira mais interativa e complexa toda a informação já disponível na internet, funcionando como um banco de dados gigante e conectado. Atualmente utilizamos a web 3.0, apesar de ainda conviver com sites gerados na 1.0 e 2.0. Assim, a internet é formada por vias duplas nas quais podemos construir, dizer, escrever, falar e ser ouvidos, vistos, lidos, de modo a organizar o pensamento hipertextual sob a forma de associações complexas, e, consequentemente, tornando-o mais completo. O cyberespaço sugere uma reconfiguração dos espaços já conhecidos, das relações entre a estrutura de poder e as pessoas, porque a informação passou a constituir a matéria-prima de nossa sociedade, ganhando um papel central tanto em termos de instâncias de poder do discurso, quanto em termos de reconfiguração do espaço e das relações sociais.

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De acordo com McLuhan (1972), os meios de comunicação trabalham como extensões das capacidades naturais dos seres humanos: a televisão exibe o que não podemos ver fisicamente, como uma extensão de nossos olhos; o rádio seria uma extensão dos nossos ouvidos; o telefone leva a nossa voz para longe; a Internet, através da Comunicação Mediada por Computador (CMC), proporcionou a extensão de várias capacidades naturais, permitindo que possamos interagir de diversas formas e por isso foi uma revolução. Logan (1999) utiliza a teoria do caos, da linguagem e as idéias de McLuhan para definir a evolução da linguagem, afirmando que todo o desenvolvimento da humanidade ocorreu sobre as tentativas de organização do caos, assim como do raciocínio e da compreensão de mundo.

Sabendo que uma linguagem surge quando a anterior não era mais suficiente para explicar os fenômenos do mundo, abriram-se uma infinidade de possibilidades e incertezas. Quando Prigogine (1996) propõe a nova formulação das leis da natureza em termos de probabilidades e não de certezas, nos mostra que estamos vivenciando um momento privilegiado da história, decifrando a "atividade humana, criativa e inovadora [...] como uma amplificação de uma intensificação de traços já presentes no mundo" (Prigogine, 1996, p.74). Enfim, a internet é um exemplo de que a humanidade não está mais limitada a situações simplificadoras, idealizadas, mas enfrentando a complexidade do mundo real que permite a criatividade humana.

2.1. Internet e as Reconfigurações do Espaço

Recuero (2000) afirma que uma das características mais marcantes que influenciam um meio de comunicação nas sociedades é a reconfiguração dos espaços percebidos pela mesma, já que a comunicação reduz as distâncias e permite que as pessoas se aproximem numa perspectiva de percepção. Com a Internet essas distâncias são mínimas, pois é possível conversar com alguém que esteja há muitos de quilômetros, trocar arquivos, fotos, vídeos, tudo em questão de segundos ou até mesmo em tempo real, o que modifica a nossa noção de espaço, substituindo a idéia da aldeia global de McLuhan por uma comunidade global. Além disso, a organização da informação no ciberespaço faz com que a noção de território conhecida por séculos seja superada,

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visto que o movimento das informações acontece de modo quase instantâneo, proporcionando uma reconfiguração da noção de espaço geográfico, com base num novo espaço: o virtual.

A característica fundamental da internet é o fato de ser híbrida. O sujeito vive a possibilidade entre o local e o global, entre o lugar e o não-lugar, já que a internet é simultaneamente real e representacional, estruturada pelos laços e valores sociopolíticos, estéticos e éticos que a tornam um novo espaço, suportando processos cognitivos, sociais e afetivos, nos quais sujeitos reconfiguram suas identidades e laços sociais num novo contexto comunicativo, provocando novos valores que, por sua vez, reforçam novas sociabilidades. Por um lado, o internauta se encontra num lugar físico, a partir do qual produz e compartilha informações e, simultaneamente, está suspenso na pluralidade de lugares que a navegação na rede permite.

Ao abordar a geração de novos espaços públicos, a territorialidade entra em questão, tendo em vista que território é o ponto de ancoragem na construção de identidades, contudo, pensar a existência de territórios na internet só é possível porque conceitualmente esses resultam da construção de sistemas compostos por elementos simbólicos representativos. Se por um lado a internet tem nos conduzido a repensar as fronteiras geográficas e a própria territorialidade por causa da dimensão global do fluxo de informações e de comunicação, por outro, as interações sociais presenciais também são afetadas, porque a rede fez com que surgissem novos espaços e motivos de encontros presenciais, tais como os cibercafés, por exemplo.

O internauta concebe a rede como um espaço de pesquisa de informação, encontro e compartilhamento, ou seja, a internet gera uma espacialidade reforçadas pelas metáforas de

navegação e site, termo em inglês traduzido como lugar. A proximidade então é representativa e,

em sínteses às afirmações de Lídia Silva (2001), a questão da territorialidade pode ser pensada em três níveis:

I) A internet como um território abrangente, associado à globalização. II) A reconfiguração da noção territorial que a internet proporciona. III) A representação de territórios individuais na internet.

A observação desses três pontos faz com que a constituição de uma rede internacional global tenha promovido a oportunidade de afirmação de identidades locais por meio da presença do sujeito que ganha visibilidade global através da internet. Ainda segundo a autora, “as

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identidades locais afirmam-se pela especificidade simbólica, iconografia, ideologia, língua (apesar de o inglês ser a língua dominante), etc.” (Silva, 2001, p.6) e cabe a cada sujeito usufruir dessa nova dinâmica, a partir do modo como explora a informação e as teias que a internet permite.

2.2. A Internet Como Modificadora das Relações Sociais

Uma das características mais importantes da Internet é a reorganização dos hábitos de socialização. A rede tem sido um modificador das relações sociais que proporcionou uma mudança de paradigmas que resultou, inclusive, no surgimento de comunidades virtuais como conseqüência da interação entre o ser humano e o ciberespaço. Estas comunidades estruturam-se fundamentalmente sobre o interesse em comum de seus membros e, a partir desse princípio, as pessoas criam entre si relações sociais e com o tempo essas relações se tornam extremamente poderosas.

Essas comunidades surgiram através da interação comunicativa entre seus membros. Rheingold (1996), um dos primeiros a identificar este fenômeno, descreve que através das comunidades virtuais, a Internet atua como um mecanismo de formação de grupos sociais. Com o passar dos anos e o desenvolvimento das chamadas Redes Sociais, isso se tornou cada vez mais forte, porque elas atuam como ponto de encontro para pessoas de todos os tipos, todos os gostos e as mais diversas intenções. A vida cada vez mais atribulada nas metrópoles e o crescimento da violência contribuem para o desaparecimento de lugares fundamentais para as sociedades humanas: os lugares de prazer e lazer, onde surgem as relações sociais, e a internet seria uma oportunidade do renascimento desses lugares, porém virtuais, como uma reação ao individualismo. Essa modificação é muito importante, pois derruba a organização geográfica das comunidades, devido a reconfiguração do espaço gerada pelo ciberespaço.

Para entender como acontece a divulgação da literatura de periferia na internet, traçamos um panorama do locais na internet onde isso acontece de maneira mais efetiva: as redes sociais. As redes são conceitualmente dinâmicas, isto é, seus elementos estão sempre em ação, evoluindo, mudando com o tempo. Os estudos de Watts (2003) explicam um modelo de rede social muito

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próximo ao que conhecemos nos dias atuais: cada pessoa tem amigos, que por sua vez também tem amigos, e essas conexões mostram que o grau de separação entre as pessoas é menor do que imaginado. Barabási (2003) acrescentou que estas ligações seguem padrões, que estruturam grupos sociais que se conectam a outros grupos em quantidades variáveis. Por sua vez, as redes sociais na internet são sistemas que funcionam através da interação social, com o objetivo de conectar pessoas e proporcionar sua comunicação, forjando assim, laços sociais.

2.2.1. Twitter

Figura 2 - Twitter4

A figura 2 mostra a página inicial do Twitter. Criado em 2006 por Jack Dorsey, Evan Williams, Biz Stone e Noah Glass nos Estados Unidos com o objetivo inicial de desenvolver uma espécie de SMS (Short Message Service) pela internet. O nome em inglês significa “gorjear” e a ação de publicar uma mensagem é chamada de tweet (que originou ao verbo “tuitar” no Brasil), ou seja, “piar” em até 140 caracteres. Constituído como uma rede social e servidor, as atualizações são feitas e recebidas em tempo real, podendo ser lidas publicamente ou apenas por

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um grupo restrito pelo usuário – seus “seguidores”, aqueles que solicitam receber as atualizações de um usuário em seu próprio feed de notícias. Em 2010 o Twitter publicou em sua própria página o registro de 175 milhões de usuários, concentrados principalmente nos Estados Unidos, Japão e Brasil.

A rede conta com uma série de ferramentas:

● Retweet: Replicar uma determinada mensagem de um usuário para a lista de seguidores, dando crédito a seu autor original. Quando um texto é "retweetado", o termo "RT" aparece no início da mensagem.

● Twitter List: Permite ao usuário criar listas compartilháveis de usuários. O que dinamiza a leitura dos tweets já que se torna possível ler o conteúdo postado por grupos de seguidores.

● Trending Topics: Chamados de TTs, a lista de assuntos mais populares do momento. São incluídos nessa lista os marcadores, também conhecidos por hashtags (#) e nomes próprios, e a classificação pode ser feita segundo a popularidade a nível mundial ou nacional.

● API: Aplicações para o Twitter que proporcionam aos usuários maneiras e interfaces alternativas para a utilização do microblog. Voltados para sorteios, promoções, e até mesmo uma análise mais aprofundada da opinião dos usuários a respeito de uma marca ou serviço, atraindo muitas empresas preocupadas com feedback e desenvolvimento.

A possibilidade de intercambio de informações entre o twitter e outras redes sociais também chama a atenção. Há parcerias com o Facebook, de modo que as atualizações são publicadas em ambas as plataformas simultaneamente. Alguns exemplos são o Formspring (em que o usuário responde perguntas de outros usuários), Skoob (rede social brasileira colaborativa para leitores) e o Tumblr (plataforma de blogging), que dá a opção de que o usuário escolha a mensagem que será enviada para o Twitter. Além disso, com a criação do Twitter também surgiram diversas redes sociais dependentes dele que permitem o envio de fotos e vídeos, como o Twitpic e o Twitcam. Outros, como o TwitDraw, permitem que o usuário comece um desenho e seus seguidores o completem, e o LOLquiz, que hospeda testes cujo resultado é enviado diretamente para o Twitter. Muitas empresas também utilizam o Twitter para divulgação, devido à possibilidade de atualizações constantes e a proximidade ao consumidor. A rede tem se mostrado

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um ótimo instrumento para o fortalecimento das marcas porque as empresas interessadas na opinião dos clientes podem escutá-los diretamente e oferecer reações imediatas às reclamações.

O Twitter também enfrenta vários problemas. O slogan da empresa, “O que está acontecendo?”, deve ser respondido em até 140 caracteres, espaço considerado muito curto por diversas empresas que proibiram sua utilização por considerar uma forma de comunicação que deixaria a desejar em termos de qualidade de informação. Há também alguns casos de suicidas que tuitavam sobre seus sentimentos até momentos antes de cometerem tal ato, avisando seus seguidores; e ainda casos envolvendo preconceito, direitos autorais e invasões de crackers (hackers que roubam senhas de usuários). Apesar das divergências, a rede ainda é uma das mais populares do Brasil e do mundo, tendo se destacado com muitos benefícios, inclusive uma ferramenta produtiva, desde manifestações políticas até na comunicação de sobreviventes de desastres naturais.

Um termo de uso relativamente recente que tem atraído atenção é a “twitteratura”, que define as junções dos termos Twitter e literatura, caracterizando a hipótese de um gênero literário. O título tem sido usado para definir todo e qualquer tipo de manifestação literária dentro da plataforma em questão. O espaço de 140 caracteres permite a publicação de “microcontos” e adaptações de narrativas, dentre diversos outros gêneros derivados, sendo alguns deles já publicadas de forma impressa. Seguem identificadas as características particulares de alguns exemplos:

- Microcontos: Narrativas sem regras de conteúdo, tendo o limite de 140 caracteres. Um perfil é capaz de ter vários microcontos, desconectados um ao outro, como é o exemplo da figura 3.

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Figura 3 - Microconto no Twitter

https://twitter.com/jeniffersantos

- Adaptações: adaptações de obras publicadas em outros meios (como o impresso) através de vários posts de até 140 caracteres. Com um toque de personalidade, as obras são adaptadas, não são simplesmente copiados e colados, e costumam ser publicados com uma certa temporalidade definida.

A Twitteratura é um gênero relativamente fácil, tanto para escrever como para ler, pois é produzida numa ferramenta de fácil manuseio e acesso. O Twitter possibilita que qualquer usuário publique sua literatura, sem burocracia. Em adição, proporciona a aproximação entre escritores e leitores, misturando um pouco os papéis, porque a interação entre perfis literários faz com que surja cada vez mais Twitteratura.

A periferia também marca presença no Twitter. O poeta Sérgio Vaz, por exemplo, além de publicar sua agenda e da Cooperifa, tuita comentários do cotidiano, usa a rede para expressar suas opiniões e produzir literatura, com frases e poemas de sua autoria. Atualmente, as redes sociais têm a opção de serem interligadas por mecanismos de publicação: o que você publica no seu perfil do Twitter, também é mostrado na sua página do Facebook, e vice-versa. Por isso, boa parte do conteúdo da página do poeta é compartilhada em ambos os suportes, como verificamos na figura 4:

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Figura 4 - Twitter e Facebook do Poeta Sérgio Vaz5

2.2. Facebook

Figura 5 - Facebook6

5 www.twitter.com/poetasergiovaz e www.facebook.com/poetasergio.vaz2 6 https://www.facebook.com/zuck

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O Facebook, ilustrado na figura 5, é um site e rede social criado por Mark Zuckenberg e seus colegas de quarto, Eduardo Saverin, Dustin Moskovitz e Chris Hughes. A princípio a rede era fechada aos estudantes da Universidade de Harvard, onde os desenvolvedores estudavam, mas logo a plataforma foi ampliada para Stanford, Ivy League, até que qualquer pessoa com mais de 13 anos pudesse se cadastrar, embora em 2011 tenha sido registrado mais de 7,5 milhões de usuários com menos de 13 anos de idade. A rede mais usada no mundo registrou em 2012 mais de 1 bilhão de usuários ativos e gera receita através de publicidade

Ao cadastrar-se no Facebook, o usuário é guiado a encontrar amigos por meio de sincronização de contatos com seu e-mail e outras redes sociais, conectando-se e convidando essas pessoas a compartilharem conteúdo. O perfil do usuário na rede social deve ser o mais completo o possível para que receba sugestões de acordo com suas preferências e deve ser preenchido com informações verdadeiras, ao contrário do Orkut, que tolerava fakes (perfis com informações falsas). Os recursos do site são diversos, entre eles:

● Mural: um espaço na página de perfil do usuário que permite aos amigos postar mensagens para os outros verem. Ele é visível para qualquer pessoa com permissão para ver o perfil completo.

● Status: É o conteúdo compartilhado. Podem ser mensagens de texto, fotos, vídeos, além de marcar o nome de um amigo para que ele veja a publicação, fazer check-in (indicar a localização onde o evento postado ocorreu ou está ocorrendo), atualizar com informações que envolvem o humor do usuário, o que está assistindo, lendo, ouvindo ou jogando. ● Mensagens privadas: são enviadas à caixa de entrada do usuário e são visíveis apenas ao

remetente e ao destinatário, bem como num e-mail. Quando ambos os usuários estão online, funciona como um chat em tempo real.

● Botões: Curtir é um recurso através do qual os usuários demonstram ter gostado do status. Há ainda as opções Comentar e Compartilhar.

● Cutucar: em inglês Poke, é uma forma de interação entre amigos no Facebook, sem qualquer finalidade específica. A princípio, é usado para atrair a atenção de outro usuário, dizer “oi”.

● Eventos: Um recurso para que os membros informem seus amigos sobre os próximos eventos em sua comunidade, para organizar encontros sociais.

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● Aplicativos: O Facebook criou uma plataforma com framework para desenvolvedores criarem aplicações que interajam com os recursos internos do site, e a cada dia o número de aplicativos cresce, sejam eles jogos ou editores de imagens.

● Facebook Messenger: é uma plataforma independente para Android, IOS e BlackBerry que permite conversar por mensagens com seus contatos da rede. Também foi lançada uma versão para Windows.

O Estadão publicou em seu blog que o líder das redes sociais no Brasil, ao final de 2011, tinha 35,1 milhões de usuários. Um ano depois, o número chegou perto de dobrar e foi para 64,8 milhões. Isso significa que a abrangência do Facebook no Brasil se aproxima a um terço (32,4%) da população de 201,1 milhões de pessoas. Os dados são da Socialbakers, empresa de estatísticas sobre mídias sociais. Avaliando somente a população com acesso a internet, o estudo afirma que o Facebook abrange 82,32%. O maior grupo de brasileiros na rede tem entre 18 e 24 anos (20,8 milhões). Os perfis de mulheres são maioria (54%) do total. O número continua a aumentar, mais 962 mil brasileiros se cadastraram na rede no último mês de 2013.

O Facebook também se tornou um terreno fértil para a produção literária no Brasil. Existem milhares de páginas dedicadas à paixão pela leitura, onde são publicados trechos de livros, no formato de texto ou imagem, e compartilhados pelos usuários. Há ainda as páginas dedicadas a autores e suas obras, que vão desde os clássicos como Clarice Lispector até o poeta da periferia Sérgio Vaz. A propagação de citações é o modo mais utilizado para disseminar o texto literário na rede social.

O consumo de literatura nas redes sociais também vem alterando o comportamento dos escritores. Em seus perfis, os escritores, consagrados ou não, divulgam suas obras, e os mais populares passaram a revelar bastidores de seu processo de produção, fazendo de sua página uma espécie de diário, de modo que o público possa consumir não apenas a sua literatura, mas a sua vida. É uma situação de alta visibilidade em tempo real. A avidez por comunicação que caracteriza a sociedade atual cria uma geração de autores mais abertos em sua subjetividade literária, motivados por um público que deseja vislumbrar a produção. Além disso, o público não

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só busca maior compreensão da obra de seus autores favoritos, como também gosta de observar sua visão de mundo e suas posições políticas.

Outro aspecto interessante do consumo de literatura no Facebook é a disseminação de obra cujos autores que já faleceram, tais como Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Paulo Leminsky e Caio Fernando Abreu, que alavancam diferentes apropriações pelos usuários. As citações que têm algo de autoajuda quando tiradas do seu contexto fazem muito sucesso e em alguns casos, servem como indiretas ao serem compartilhadas. Paulo Leminski é um exemplo de autor que começou a ser consideravelmente citado no Facebook, especialmente na época em2013, quando as manifestações tomaram as ruas do país. Esse movimento nas redes sociais levou a antologia “Toda Poesia” de Leminski a aparecer diversas semanas na lista de mais vendidos.

As redes sociais têm contribuído consideravelmente para a popularização da poesia brasileira, e Sérgio Vaz é um exemplo de autores contemporâneos que ganham cada vez maior visibilidade. O autor da periferia e seus textos serão estudados adiante nesta pesquisa, porém vale mencionar que eles repercutem com sucesso no Facebook. Veja na Figura 6:

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Figura 6 – Poesia no Facebook7

No Facebook, o poeta também publica suas opiniões, divulga os trabalhos da Cooperifa, fotos, videos, entrevistas e uma infinidade de conteúdo curtido e compartilhado por todo tipo de usuário. Entretanto, o efeito de sentido que mais chama atenção em suas postagens é o discurso de autoajuda. Além de poeta, Sérgio Vaz passa a ser uma espécie de instância que detém respostas para a compreensão do mundo e do homem, conselheiro de como viver a vida sem as decepções do cotidiano.

2.3. Internet e Hipertexto

A linguagem escrita começou a conquistar seu próprio formato, com fontes, no caso dos sites, aliadas às cores e aos diferentes tipos e tamanhos, que criam diferentes diagramações para captar a atenção do leitor. Com a era tecnológica, como afirmou Prigogine (1996), não há mais certezas absolutas. Conceitos são frequentemente desconstruídos de modo a questionar valores, inclusive os estéticos e o espaço do hipertexto é um ambiente apropriado ao cruzamento destas manifestações fenomenológicas. A perspectiva teórica de Prigogine (1996) propõe que 7 https://www.facebook.com/poetasergio.vaz2?fref=ts

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determinadas ocorrências são acontecimentos complexos, que podem tanto significar o fim como originar um novo começo. Podem ainda gerar o fenômeno da bifurcação de caminhos, que se abrem em novas e intrincadas possibilidades. Sendo assim, a estrutura do hipertexto possibilita o acesso a todo tipo de informação, mas sua transformação em conhecimento e reconfiguração de repertório é opcional e intencional.

Ted Nelson (1992), citado por Landow (1992), define o termo hipertexto como “... escritas associadas não-sequenciais, conexões possíveis de se seguir, oportunidades de leituras em diferentes direções”. Assim, o texto hipertextual, quando se refere a um documento digital, que apresenta maiores possibilidades e diferentes “planos” – também conhecidos como “blocos” – que contêm informações as quais interagem por meio de ligações, links, que dialogam coordenadamente, para compor novas estruturas narrativas conforme a intencionalidade do leitor ou proposta do autor.

Segundo Landow (1992), o hipertexto desconstrói a rigidez, rompe com a linearidade em que há uma predefinição do começo e fim, e propõe uma estrutura processual e móvel, de acordo com as escolhas do leitor. Assim, rompe-se com a noção de unidade e surge o princípio da interatividade – participação do leitor na elaboração do texto através da escolha de caminhos que estruturam a narrativa. Os textos ficam disponíveis eletronicamente por meio de escanerização ou digitação, enquanto os links são palavras destacadas ou ainda ícones.

A reprodutibilidade é especialmente polêmica quando falamos sobre o meio digital, pois se volta à questão dos direitos autorais. Textos online dão maior abertura para que a lei seja burlada, pois em diversas circunstâncias não há controle sobre sua reprodução, fazendo com que o papel do autor muitas vezes seja questionado diante da intervenção de outro sujeito que se constitui em relações diversas. A sequência de relações estabelecidas pelo leitor é o que vai determinar o arranjo da narrativa ou poética. Assim, a estrutura da obra não é dada pelo autor, no entanto são abertas possibilidades que podem completadas pelo leitor e quando o sistema incorpora elementos das diversas mídias, tais como vídeo, música, fotografia etc, entra no campo da Hipermídia, no qual a proliferação de sentidos ocorre dentro de princípios discutidos por Pierre Levy (1997): Princípios de Metamorfose, Heterogeneidade, Multiplicidade e Encaixes de escala, Exterioridade, Topologia e Mobilidade de centros.

Referências

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