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Educação infantil e os direitos da criança: por uma infância com dignidade

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RS PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO-SENSU

MESTRADO EM EDUCAÇÃO NAS CIÊNCIAS

ANA PAULA DE MORAES

EDUCAÇÃO INFANTIL E OS DIREITOS DA CRIANÇA:

POR UMA INFÂNCIA COM DIGNIDADE

Ijuí (RS) 2018

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ANA PAULA DE MORAES

EDUCAÇÃO INFANTIL E OS DIREITOS DA CRIANÇA:

POR UMA INFÂNCIA COM DIGNIDADE

Dissertação apresentada ao curso de Pós-Graduação Stricto Sensu – Mestrado em Educação nas Ciências da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí), requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação nas Ciências.

Orientadora: Profa. Doutora Maristela Borin Busnello

Ijuí (RS), 2018

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M827e

Moraes, Ana Paula de.

Educação infantil e os direitos da criança: por uma infância com dignidade /Ana Paula de Moraes. – Ijuí, 2018.

96f.: il.; 30 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Educação nas Ciências.

“Orientadora: Maristela Borin Busnello”.

1.Conhecimento.2. Direitos da criança.3. Educação Infantil. I.Busnello, Maristela Borin. II. Título.

CDU: 372: 342.7

Catalogação na Publicação

Eunice Passos Flores Schwaste CRB10/2276

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AGRADECIMENTOS

A Deus, primeiramente, pela Sua infinita bondade, por ter me dado saúde, sabedoria, força, coragem e a oportunidade de concluir mais esta etapa da minha formação acadêmica.

Aos meus pais, Orlando e Nadir, e a minha irmã, Ana Cláudia, por fazerem parte da minha vida, me auxiliando e abdicando de algumas coisas para me ajudar.

À Marlene, minha segunda mãe, que sempre me incentivou e acreditou no meu potencial, me ajudando em todos os momentos.

Ao Evandro, meu namorado, companheiro e amigo, que sempre esteve comigo nos momentos bons e ruins, me amparando quando necessitei.

À professora Dra. Noeli V. Weschenfelder, pelas aprendizagens e carinho, por vivenciar comigo este sonho de ser mestre, acreditando na infância e na minha pesquisa.

À Maristela, pelo acolhimento, carinho e determinação. À Bruna, minha colega e amiga, por sua amizade e cumplicidade. Juntas desde a graduação em Pedagogia, enfrentamos todos os obstáculos e, de mãos dadas, conquistamos mais um sonho.

Aos pais e crianças que fizeram parte desta pesquisa, pois sem a sua contribuição esta pesquisa não teria sentido.

À escola, que permitiu o desenvolvimento deste estudo, pelo carinho e pela recepção.

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RESUMO

Esta dissertação, intitulada “Educação Infantil e os direitos da criança: por uma

infância com dignidade”, tem como objetivo interpretar os discursos das crianças

sobre os seus direitos, aqueles que elas acreditam existir, escutando e observando as ações e representações sobre si e sobre outras crianças. Apesar de haver inúmeras legislações que asseguram os direitos das crianças, na maioria das vezes elas não são conhecidas e nem consolidadas. A infância é uma etapa decisiva, em que as crianças se apropriam dos elementos da realidade, dando-lhes novos significados. O espaço escolar deve atender os princípios da formação de qualidade pedagógica e não apenas ser um lugar em que os pais deixam seus filhos para irem trabalhar. A criança, ao entrar em contato com determinado objeto, por meio de experiências cultivadas nas brincadeiras, desenvolve conhecimentos, sobretudo, na sua formação como sujeito social, cujos direitos estão assegurados nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2010). O brincar e as interações são direitos da criança assegurados em lei. Desde o nascimento, as crianças trazem consigo conhecimentos que são aperfeiçoados ao longo do tempo, como sua capacidade de pensar, agir e interagir, que vão além da imaginação. Sua leitura de mundo remete ao brincar, pois traz para a brincadeira aquilo que está vivenciando, demonstrando suas capacidades, habilidades, medos, anseios e desejos que precisam de um olhar atento para que seja significativo e venha gerar novas aprendizagens. A metodologia utilizou os diálogos e a observação participante com viés etnográfico. As crianças, com idade entre quatro e cinco anos, eram alunos de uma Escola Estadual de Educação Infantil e de Ensino Fundamental, localizada em um município do interior do Estado do Rio Grande do Sul. O desenvolvimento da pesquisa ocorreu na parte da manhã, durante um período de sete dias consecutivos. A opção pelo reduzido número de crianças se deu em função da disponibilidade de apenas cinco pais ou responsáveis assinarem a autorização para a participação na pesquisa, sendo que os demais se recusaram a assinar, sem justificativas. Realizou-se o registro em Diário de Campo a partir das falas e ações das crianças, explicitadas oralmente, bem como por meio de seus desenhos. Além disso, foram utilizados vídeos, literaturas infantis, brincadeiras referentes aos direitos da criança, bem como rodas de conversa. A análise apoiou-se em autores que debatem e refletem a infância e os direitos da criança, tais como: Manuel Jacinto Sarmento (2001), Catarina Almeida Tomás e Natália Fernandes Soares (2009), as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2010), Jucirema Quinteiro (2002) e outros que surgiram no decorrer da pesquisa. O estudo revelou que a Educação Infantil ainda sofre com o descaso de seus direitos. As práticas pedagógicas docentes não englobam alguns dos direitos das crianças. Todo o ambiente da escola é pedagógico, assim, é dever e função da escola e do docente oferecer condições para que seja explorado pelas crianças. A escuta das vozes infantis mostra o quanto os direitos das crianças ainda estão sendo ocultados. As crianças mostraram com movimentos, atitudes e comportamentos e desenvolvimento de tarefas, alguns dos direitos sendo assegurados, mas elas não sabem que essas interpretações são seus direitos. Acreditar na capacidade das crianças e nas possibilidades que podem trazer para as pesquisas é contribuir para a sua socialização. A prática docente foi enriquecida, trazendo a voz e as necessidades infantis para o contexto educacional.

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ABSTRACT

This dissertation, entitled "Child Education and the Rights of the Child: for a Child with Dignity", aims to interpret children's discourses about their rights, those they believe exist, listening to and observing actions and representations about themselves and about other children. Although there are many laws that ensure the rights of children, they are often not known or consolidated. Childhood is a decisive stage, in which children take ownership of the elements of reality, giving them new meanings. The school space must meet the principles of pedagogical quality training and not only be a place where parents leave their children to go to work. The child, when coming into contact with an object, through experiences cultivated in the games, develops knowledge, above all, in its formation as a social subject, whose rights are assured in the National Curricular Guidelines for Early Childhood Education (BRASIL, 2010). Play and interactions are the rights of the child ensured by law. From birth, children bring with them knowledge that is perfected over time, such as their ability to think, act and interact, that go beyond imagination. His reading of the world refers to play, because he brings to play what he is experiencing, demonstrating his abilities, abilities, fears, longings and desires that need a close look so that it is meaningful and generates new learning. The methodology used the dialogues and participant observation with ethnographic bias. The children, aged between four and five years, were students of a State School of Early Childhood Education and Elementary Education, located in a municipality in the interior of the State of Rio Grande do Sul. The development of the research occurred in the morning during a period of seven consecutive days. The option for the small number of children was due to the availability of only five parents or guardians to sign the authorization for participation in the research, and the others refused to sign, without justification. Registration was made in Diário de Campo from the speeches and actions of the children, explicited orally, as well as through their drawings. In addition, videos, children's literatures, games about children's rights, as well as talk wheels were used. The analysis was based on authors who debate and reflect on childhood and children's rights, such as: Manuel Jacinto Sarmento (2001), Catarina Almeida Tomás and Natália Fernandes Soares (2009), the National Curriculum Guidelines for Early Childhood Education (BRAZIL , 2010), Jucirema Quinteiro (2002) and others that appeared in the course of the research. The study revealed that Early Childhood Education still suffers from the neglect of its rights. Teaching pedagogical practices do not include some of the rights of children. The whole environment of the school is pedagogical, so it is the duty and function of the school and the teacher to offer the conditions to be explored by the children. Listening to children's voices shows how much the rights of children are still being hidden. The children showed with movements, attitudes and behaviors and development of tasks, some of the rights being assured, but they do not know that these interpretations are their rights. Believing in the capacity of children and the possibilities they can bring to research is to contribute to their socialization. The teaching practice was enriched, bringing the voice and children's needs to the educational context.

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LISTA DAS ILUSTRAÇÕES

Figura 1. Mapa do Estado do Rio Grande do Sul ... 16

Figura 2. Menina desenhando e pintando ... 36

Figura 3. Menina brincando com o quebra-cabeça ... 38

Figura 4. Menina brincando com cesto... 40

Figura 5. Menina na tenda... 44

Figura 6. Criança produzindo com massinha de modelar ... 47

Figura 7. Menino jogando o jogo da trilha ... 49

Figura 8. Menino brincando com massa de modelar ... 52

Figura 9. Menino desenhando e colorindo a família ... 53

Figura 10. Panqueca integral feita por mãe de aluna ... 56

Figura 11. Meninos interagindo com objetos ... 61

Figura 12. Menino usando a sua imaginação ... 63

Figura 13. Carimbo com tinta ... 64

Figura 14. Menina interagindo com objetos... 65

Figura 15. Meninos interagindo ... 66

Figura 16. Menina brincando com tinta ... 69

Figura 17. Menino desenhando e colorindo sua moradia ... 73

Figura 18. Menina e sua família ... 73

Quadro 1. Busca das pesquisas para compor o estudo ... 20

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SUMÁRIO

PARA INÍCIO DE CONVERSA... ... 8

1 CAMINHOS PERCORRIDOS: O DESENROLAR DO PERCURSO ... 11

2 A EDUCAÇÃO INFANTIL E SUAS TRAJETÓRIAS: PERCEPÇÕES ACERCA DA INFÂNCIA ... 24

3 EXPERIÊNCIAS VIVENCIADAS: MOMENTOS QUE CONSTITUEM A BUSCA DE NOVAS APRENDIZAGENS ... 33

3.1 EXERCITANDO CATEGORIAS DE ANÁLISE ... 61

3.1.1 Interação ... 61

3.2 LUDICIDADE ... 64

3.3 DIREITOS DAS CRIANÇAS ... 67

3.4 DIGNIDADE ... 70

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 75

REFERÊNCIAS ... 78

APÊNDICES ... 82

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PARA INÍCIO DE CONVERSA...

Todo conhecimento começa com um sonho. O sonho nada mais é do que a aventura pelo mar desconhecido, em busca da terra sonhada. Mas sonhar é coisa que não se ensina, brota das profundezas do corpo, como a alegria brota das profundezas da terra. Como mestre, só posso então lhe dizer uma coisa. Conte-me os seus sonhos para que sonhemos juntos (Rubem Alves).

Nas palavras de Rubem Alves sinto-me encorajada a revelar o meu sonho mais profundo, que dia após dia me move em busca daquilo que tanto almejei. Trilhar o caminho da Educação sempre foi o meu maior sonho, empecilhos cruzaram meu caminho, me desviando por algum tempo para outros lugares, contudo, o ardente desejo permaneceu aceso dentro de mim, e mesmo nos momentos difíceis não perdi a esperança e a fé. Novos caminhos trilhei. Durante o curso de Pedagogia, área da minha formação inicial, muitas dúvidas e incertezas tomaram conta de mim, pois meu sonho já estava tomando maior proporção.

No final do ano de 2016, ainda cursando Pedagogia, o desejo de pesquisar os direitos da criança tomou conta de mim. O tema me trazia inquietação e, por isso, decidi colocar no papel, em formato de projeto, o início do meu estudo com crianças. Estava apenas começando o esboço de um trabalho com riqueza inigualável, o sonho se tornando realidade. Juntamente com a aprovação do projeto de Mestrado em Educação nas Ciências pelo Comitê da Banca Seletiva iniciaram as buscas que nortearam a minha pesquisa.

Durante o curso de Pedagogia, minha orientadora ministrava aulas e, inclusive, foi minha professora em algumas disciplinas. Com sua dedicação e influência, ajudou-me com o empréstimo de livros, dissertações e teses.

Ao ler a tese de doutorado da portuguesa Catarina Tomás(2006), socióloga e pesquisadora da Sociologia da Infância, orientada pelo português doutor Manuel Jacinto Sarmento, também sociólogo, intitulada “Há muitos mundos no mundo”, tive

a plena convicção da importância da pesquisa com crianças, seja para o

pesquisador, para as crianças e também para a sociedade. As vozes infantis são ricas em conhecimento. Catarina Tomás, em sua tese, propõe a escuta das vozes das crianças de Portugal e do Brasil, no sentido de interpretar os discursos delas, sua visão de mundo, sobre si e sobre outras crianças.

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A proposta da pesquisa de Tomás (2006) foi ao encontro do reconhecimento das crianças como atores sociais, tornar suas experiências em presença, contrariando a ideia de criança marginalizada e deslocada. A criança é um ser social, histórico em constante construção, buscando por meio de suas manifestações e ações, as condições para a escuta de suas vozes. Isto se deve à Sociologia da Infância, campo de pesquisa que tem a intencionalidade de debater o lugar e o espaço que as crianças ocupam no campo sociológico.

Desta forma, a pesquisa também está voltada à escuta das vozes infantis, no sentido de interpretar suas falas, ações e manifestações sobre os seus direitos. A investigação, porém, contempla crianças menores do que as do estudo de Catarina e são pertencentes somente a uma escola do município de Ijuí/RS. Já a tese da Catarina Tomás abrange o estudo com crianças de duas regiões (Barcelos, Portugal e Florianópolis, Brasil), e considerou, também, crianças de movimentos sociais, como: o Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua (MNMMR).

Assim, organizei a dissertação em três capítulos, assim dispostos. O primeiro capítulo, intitulado “Caminhos percorridos, o desenrolar do percurso”, traz os primeiros passos da pesquisa, a escolha do tema e as motivações, a metodologia usada, o processo investigativo teórico-metodológico, bem como os autores que sustentaram o desenvolvimento do estudo. Situo, também, a escola na qual realizei a pesquisa, seus espaços, em especial o espaço da sala de aula e os sujeitos da pesquisa, localização geográfica da escola e do município em que se localiza.

No segundo capítulo, “A Educação Infantil, suas trajetórias, desafios e conquistas: percepções acerca da infância”, me proponho a refletir brevemente acerca da trajetória da Educação Infantil desde o início de seu surgimento no Brasil, e as legislações que sustentam, as conquistas nas escolas, para a Educação Infantil.

Já no terceiro capítulo “Experiências vivenciadas: momentos que se constituem em busca de novas aprendizagens”, a prática da pesquisa se faz presente. O capítulo é composto pelas falas das crianças que participaram da investigação, ilustrações das próprias crianças, e reflexões a partir da pronúncia de autores que buscam compreender o ser criança, a infância e seu lugar na sociedade. O subtítulo “Exercitando Categorias de Analise”, está dividido em quatro eixos que são: Interação, Ludicidade, Direitos das Crianças e Dignidade, nos quais

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estão explicitadas as categorias de análise fornecidas pela investigação, compondo assim, a pesquisa.

Nas considerações finais constam reflexões, aprendizagens e contribuições que emanaram das reflexões realizadas durante o processo da pesquisa. Assim, para mostrar os subsídios e os resultados da pesquisa, passa-se a apresentar o primeiro capítulo da investigação, pois os direitos da criança respeitados constituem a base de uma vida adulta com mais dignidade.

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1 CAMINHOS PERCORRIDOS: O DESENROLAR DO PERCURSO

Estamos na situação de uma criancinha que entra em uma imensa biblioteca, repleta de livros em muitas línguas. A criança sabe que alguém deve ter escrito aqueles livros, mas não sabe como. Não compreende as línguas em que foram escritos. Tem uma pálida suspeita de que a disposição dos livros obedece a uma ordem misteriosa, mas não sabe qual ela é. (Albert Einstein).

Assim como nas palavras de Einstein, no decorrer da minha pesquisa, muitas falas ouvi, muita imaginação contemplei. Mas o que instiga e alimenta a minha curiosidade, foi que dessas falas e contribuições da infância, muito aprendi, mesmo não sabendo onde iria chegar.

Trago, inicialmente, considerações relativas ao início da pesquisa, situando os sujeitos, os espaços da escola e da sala de aula. Com formação em Pedagogia, realizei diversos estágios na Educação Infantil em diferentes escolas, inclusive públicas e privadas, que me possibilitaram o contato com a didática usada pelos educadores em sala de aula e com os documentos nos quais se baseavam as suas metodologias.

Escolhi o curso de Pedagogia inspirada em minha primeira professora, que me deixou marcas profundas. Com ela aprendi o verdadeiro sentido de ser criança e de ser docente. Muitos anos se passaram e até hoje ainda me recordo como ela foi importante para o meu conhecimento e desenvolvimento. Suas palavras doces e ao mesmo tempo provocativas, fizeram de mim uma Pedagoga pesquisadora, que busca nesta investigação compreender as vozes infantis, inseridas em suas falas e ações. Nessas palavras me proponho a discutir e refletir a importância do reconhecimento da criança como sujeito de direitos, protagonista e ator social, caracterizando as suas potencialidades.

Os estudos e as reflexões com base nos documentos, como o Regimento Escolar e o Projeto Político-Pedagógico das escolas, me permitiram verificar que todos os escritos estavam de acordo com as leis vigentes e visavam atender as necessidades das crianças. Em sala de aula, ao observar o cotidiano escolar de crianças da Educação Infantil, e analisando os documentos da escola, comparando o plano do professor com aquilo que estava sendo trabalhado em sala de aula,

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surgiram algumas inquietações que me incomodaram e que alimentaram o meu desejo de pesquisar e refletir se as crianças da Educação Infantil, com idade entre quatro e cinco anos, sabem que têm direitos garantidos por lei e se já ouviram falar sobre tais direitos, ou seja, descobrir a sua visão sobre os mesmos.

O objetivo principal deste estudo, portanto, foi analisar concepções das crianças evidenciadas em suas falas e ações, no sentido de interpretar os seus discursos sobre os seus direitos, aqueles que as crianças acreditam existir. Esta pesquisa refere-se à uma pesquisa de campo e documental, à medida que os estudos são subsidiados em documentos, observações, coleta e análise de dados gerados pela pesquisa.

O presente estudo se justifica à medida que busca nos direitos das crianças uma possibilidade de integrá-las às práticas pedagógicas, possibilitando o seu desenvolvimento num contexto que valorize a aprendizagem a partir do lúdico e da valorização de suas próprias experiências e necessidades.

Em um país como o Brasil, com retrocessos que refletem diretamente na educação, é inevitável e imprescindível pensar em alternativas que contribuam para o reconhecimento dos sujeitos como seres de direitos, principalmente na Educação Infantil, que sofre com as superlotações em creches, sem atendimento adequado, e com profissionais formados inadequadamente, em desacordo com o que determinam as legislações da Educação Infantil.

As questões que nortearam esta pesquisa e que problematizaram o estudo foram as seguintes: Os direitos das crianças da Educação Infantil são reconhecidos e trabalhados nesta escola? Qual o lugar dos direitos das crianças no currículo da Educação Infantil e como isso está presente no seu dia a dia? Quais as concepções das crianças sobre seus direitos? Como estes direitos refletem na prática docente?

Para a realização desta pesquisa tomei como base os objetivos específicos que me guiaram para tecer a rede da pesquisa, e que são os seguintes: a) analisar se as experiências das crianças que frequentam a Educação Infantil estão sendo valorizadas; b) instigar as crianças por meio de brincadeiras, rodas de conversas e literatura infantil sobre os seus direitos para, assim, fazer registros a partir de seus desenhos e brincadeiras; c) investigar os direitos percebidos pelas próprias crianças e o que isso revela. A partir da definição desses objetivos passei a observar o cotidiano das crianças com idade entre quatro e cinco anos para, assim, descrever e registrar os direitos que elas acreditavam existir num diário de campo.

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Dentre os eixos das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil destacam-se as interações, o conhecimento de mundo, de si e do outro, bem como as brincadeiras, que são importantes elementos na vida das crianças. É assim que a criança vai conhecendo a si mesma e o mundo e, ao mesmo tempo, construindo conhecimentos que são levados para a vida toda.

Para que a criança possa experimentar, vivenciar, apropriar-se de conhecimentos e torná-los aprendizagens significativas é preciso que os seus direitos sejam reconhecidos. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2010) surgiram para garantir os direitos de aprendizagem e bem-estar integral das crianças, garantindo que diversas experiências sejam vivenciadas por todos. Tais diretrizes propõem novos caminhos e concepções a fim de que as crianças da Educação Infantil possam ser reconhecidas como sujeitos de direitos, construtores de sua própria história.

Para a realização desta pesquisa fez-se necessário, primeiramente, conhecer o ambiente a ser explorado e os sujeitos da pesquisa. Em contato com a coordenação da escola iniciei a primeira conversa, levando em consideração os trâmites burocráticos necessários para a realização do estudo. Após explanar o projeto da pesquisa à coordenação, o próximo passo foi falar com a professora regente da turma da pré-escola, que proporcionou o conhecimento da turma e da sala da aula.

Em alguns minutos de conversa com a professora regente expliquei qual seria o objetivo da pesquisa e os procedimentos para o desenvolvimento do estudo. Para obtenção dos dados da pesquisa obtive a permissão dos pais e responsáveis, assim como a assinatura das crianças. A pesquisa ocorreu na sala, pois foram dias chuvosos e frios. Todas as crianças da turma participaram da proposta da pesquisa, porém, fiz os registros e realizei as observações somente das selecionadas. No segundo encontro com a turma, em uma roda de conversa, foram realizadas as apresentações. As crianças expuseram seus nomes e idades, enquanto como pesquisadora expus o motivo pelo qual estava ali, falando um pouco sobre o projeto da minha pesquisa.

Durante a conversa surgiram muitos questionamentos por parte das crianças, pois falar de uma pesquisa de mestrado para crianças com idade entre quatro e cinco anos, em uma linguagem acessível para elas parecia ser desafiador, mas para minha surpresa as crianças se mostraram curiosas e disseram que os

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pais/responsáveis haviam assinado a autorização para a participação na pesquisa e que elas gostariam de fazer parte do estudo. Chamou-me a atenção o fato de as crianças dizerem que os pais tinham lido o protocolo de autorização, e destacarem alguns pontos da metodologia a ser desenvolvida na pesquisa. Isso confirma o papel fundamental da família na vida das crianças, principalmente na vida escolar.

É nas relações do cotidiano que as crianças são influenciadas e a partir dos valores e dispositivos sociais vão desenvolvendo seus papeis na sociedade. Ao participarem do cotidiano das rotinas familiares e domésticas são inseridas socioculturalmente, alargando o conhecimento sobre si e sobre a comunidade em que estão inseridas.

A criança é um ser em construção que precisa desde muito pequena significar e concretizar as suas experiências. Isso é possível perceber ao interagir com outra criança ou até mesmo com um adulto, quando desencadeia um processo de imaginação e de fantasia, narrando assim a sua própria história.

Os pais da maioria das crianças que frequentam a escola possuem Ensino Superior completo. Algumas das famílias residem na área central do município de Ijuí, outras são de diferentes bairros da cidade. A escola está situada no centro do município, possui um prédio antigo, porém, em bom estado de conservação e passa por constantes melhorias e adaptações. Atualmente conta com:

– 15 salas de aulas – 61 funcionários – Sala de diretoria – Sala de professores – Laboratório de Informática – Laboratório de Ciências

– Sala com recursos multifuncionais para Atendimento Educacional Especializado (AEE)

– Quadra de esportes coberta – Quadra de esportes descoberta – Cozinha

– Biblioteca – Parque infantil

– Banheiro dentro do prédio

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– Banheiro adequado a alunos com deficiência ou mobilidade reduzida – Sala de secretaria

– Banheiro com chuveiro – Almoxarifado

– Auditório – Pátio coberto – Pátio descoberto – Área verde

A escola possui duas turmas de pré-escola, e atende uma turma na parte da manhã e a outra na parte da tarde, pois as duas turmas ocupam o mesmo espaço de sala de aula. A sala é adaptada às crianças, é ampla, bem ventilada, com três janelas grandes e duas portas, uma de acesso à entrada da sala de aula e outra ao pátio da escola. As paredes são pintadas de branco, têm o alfabeto colado em uma das paredes, o qual fica disposto a uma altura em que as crianças conseguem ver e consultar, quando necessário. Todas as crianças sabem escrever seu nome, alguns com auxílio da chamada, que também está exposta na parede com o nome e a foto de cada criança. As mochilas ficam penduradas ao lado da chamada em ganchos de metal, são as próprias crianças que ao chegar na sala de aula, acomodam suas mochilas.

Ainda no teto da sala tem um guarda-chuva aberto e ao redor desenhos feitos pelas crianças. Tem um tapete grande do fundo na cor bege para contação de histórias, rodas de conversa e brincadeiras. As mesas e cadeiras são conforme a idade, na cor bege, com bordas vermelhas, as cadeiras na cor vermelha, duas prateleiras, nas quais são guardados os brinquedos, objetos não estruturados, dois armários em que são guardados os materiais como lápis de cor, giz de cera, cola, gliter, lápis, borracha, tinta guache, folhas de ofício, em outra parte do armário dentro de caixas trazidas pelas crianças, com o nome de cada uma, estão as produções em sala de aula, os desenhos, as colagens, introdução aos números e as letras.

Com relação à autonomia das crianças, essas usam o banheiro que fica dentro da própria sala, e contém um vaso sanitário e uma pia na cor branca, disponíveis na altura das crianças. Todas vão ao banheiro sozinhas e têm o hábito de puxar a descarga e lavar as mãos. Há uma pia no interior da sala para lavagem de materiais utilizados durante atividades desenvolvidas nas aulas. Na sala há uma

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geladeira para que as crianças possam manter conservado o seu lanche trazido de casa. Ainda, na sala são encontrados diferentes materiais pedagógicos, como jogos de quebra-cabeça, bonecas, ursos, animais, fantasias que as crianças adoram, vestidos, chapéus, echarpes, teclados de computador, bolsas, celulares que não são mais utilizados.

A turma escolhida para a pesquisa conta com um total de 21 alunos, sendo sete do sexo masculino e 14 do sexo feminino. A professora trabalha em duas escolas públicas, sendo uma da rede estadual e outra da rede municipal. É concursada nas duas escolas, possui formação em Pedagogia, Pós-Graduação em Educação Infantil e Psicopedagogia Clínica e Hospitalar.

A Figura 1, a seguir, apresenta o mapa do Estado do Rio Grande do Sul, com seus respectivos municípios, com destaque para o município de Ijuí.

Figura 1. Mapa do Estado do Rio Grande do Sul

Fonte: Guia Geográfico (2018)1.

1

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O município de Ijuí é o mais populoso da região Noroeste do Estado do RS: 83.330 habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2018). Comparando esses dados com os do Censo realizado pelo IBGE em 2010, percebe-se que a cidade recebeu 4.415 novos habitantes em sete anos. A maioria da população do município de Ijuí encontra-se localizada na zona urbana e trabalha no comércio local

Minha intencionalidade ao trazer para a pesquisa o mapa do Estado do Rio Grande do Sul é mostrar o lugar onde o município, a escola e os sujeitos envolvidos estão situados geograficamente.

Para haver uma Educação de qualidade, especialmente na Educação Infantil, os estudos realizados dizem que há que se considerar as vozes infantis. Para isso, há necessidade de conhecer e reconhecer as crianças como sujeitos de direitos. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2010, p. 17) afirmam que sua estrutura deve: “Oferecer condições e recursos para que as crianças usufruam seus direitos civis, humanos e sociais.”

Pensar em possibilidades para a concretização desses aspectos é propor o reconhecimento dos direitos da criança pela sociedade, a ruptura de alguns conceitos gerados pelos indivíduos, considerando a criança como ser atuante e com voz, que necessita ser ouvida.

A escola em que realizei a pesquisa é uma instituição pública de Ensino Fundamental que possui Educação Infantil. Localizada no município de Ijuí/RS, interior do Estado do Rio Grande do Sul, atende crianças com idade entre quatro e cinco anos. O desenvolvimento desta pesquisa ocorreu na parte da manhã, durante um período de sete dias consecutivos. O grupo selecionado foi composto por cinco crianças da turma da pré-escola, as quais compuseram o universo deste estudo. A opção pelo reduzido número de crianças se deu em função da disponibilidade de apenas cinco pais ou responsáveis assinarem a autorização para a participação na pesquisa, sendo que os demais se recusaram a assinar, sem justificativas. A proposta da pesquisa foi enviada para todos os pais e responsáveis, mas somente após alguns dias as documentações retornaram com cinco assinaturas.

Como instrumentos utilizei a observação e os diálogos, registrados em um diário de campo. Trata-se, portanto, de uma observação participante com viés etnográfico, com base em registros fotográficos e também com gravações das falas das crianças e desenhos que explicitaram suas percepções no que se refere aos

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seus direitos. Inicialmente, fez-se uma aproximação com o campo de pesquisa, em que conversei com as crianças e após, a partir de uma roda de conversa sobre os direitos, utilizei estratégias que revelaram, por meio da oralidade, desenhos e brincadeiras, bem como concepções e entendimento sobre os seus direitos. A escolha da escola deu-se em função da localização geográfica, por ser uma Escola Estadual com Educação Infantil, e pela proximidade da minha residência.

A pesquisa bibliográfica se fez presente e, além de buscar contribuições de autores sobre o tema da infância, teve e tem o apoio das legislações vigentes, as quais contemplam a Educação Infantil, relacionando-a com a realidade da pesquisa. Desse modo, busquei compreender como as crianças percebem os seus direitos no cotidiano da Escola Infantil e quais as suas percepções a respeito. A pesquisa permitiu ampliar a compreensão da realidade, a capacidade de explicar e dar significados. Procurei fazer relações entre a teoria e a realidade pesquisada, refletindo a partir de autores como Manuel Jacinto Sarmento (2001), Catarina Almeida Tomás e Natália Fernandes Soares (2009), as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2010), Jucirema Quinteiro (2002) e outros que surgiram no decorrer do processo da pesquisa, abordando conceitos sobre os direitos das crianças. O texto de Catarina Almeida Tomás e Natália Fernandes Soares (2016), da Universidade do Minho, de Portugal, “Ética na

pesquisa com crianças: ausências e desafios”, foi tomado como referência para a

pesquisa com crianças.

Como toda pesquisa necessita de critérios, surgiram alguns de exclusão, como a recusa das crianças em participar ativamente da pesquisa, ou seja, de participar nas atividades por mim propostas, mesmo assim elas participaram de maneira espontânea e prazerosa. Um dos critérios seria o constrangimento ou o aborrecimento em revelar a sua opinião ou posição sobre os seus direitos e sua visão de mundo, desconforto durante as gravações, realização das brincadeiras e ao tirar as fotos, ter menos ou mais idade do que a estabelecida ou não ser da turma escolhida, pois outras crianças poderiam surgir em função de se tratar de uma escola de Educação Infantil e de atividades lúdicas. Durante o desenvolvimento da pesquisa realmente surgiram mais crianças, além das cinco escolhidas para o estudo, mas todas da mesma turma. O foco da pesquisa, no entanto, manteve-se naquelas que foram contempladas para a realização da investigação.

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Nos critérios de inclusão observei para que os envolvidos no estudo se sentissem acolhidos e, assim, a pesquisa se tornasse completa e prazerosa. Também, para que todas as crianças participassem ativamente das brincadeiras, e que os vídeos e literaturas fossem de acordo com a sua idade, pois as crianças escolhidas para o estudo estavam dispostas na mesma turma. Ao desenvolver as atividades propostas na pesquisa cuidei para que todas pertencessem à turma escolhida e tivessem entre quatro e cinco anos de idade.

Ao realizar uma pesquisa espera-se deixar um legado que possa orientar discussões futuras em prol da sociedade. Acredito que pesquisar sobre os direitos da criança e sua visão de mundo engrandece o conhecimento de todos, não somente os envolvidos na pesquisa, no caso as crianças, mas também a escola, os pais e familiares que, na maioria das vezes, desconhecem os direitos das crianças e, assim, emudecem suas vozes e necessidades. Todos os segmentos da sociedade, portanto, principalmente as crianças, obtiveram benefícios ao conhecer os seus direitos, além daqueles que acreditam já existir. O respeito e a contribuição para que os direitos das crianças sejam conhecidos e reconhecidos deve começar desde cedo, a fim de que possam lutar por seus direitos estabelecidos por lei.

O desejo de compreender as vozes infantis e o que elas revelam sobre os seus direitos, bem como desenvolver uma pesquisa de qualidade e com relevância para contribuir significativamente com os estudos voltados aos direitos das crianças, incentivou a busca por referenciais que permitissem mergulhar nesse amplo e pouco divulgado tema da infância, a fim de ampliar conhecimentos e refinar olhares a partir de escritos que já foram consolidados. A pesquisa visa, portanto, contribuir para que as crianças da Educação Infantil conheçam os seus direitos para conviver e atuar na sociedade como sujeitos de direitos, com autonomia, provocando o pensamento e a reflexão sobre os direitos na infância, seja nas relações entre si, em grupo ou no corpo social em geral.

Primeiramente, busquei bibliografias relacionadas ao tema do estudo – os direitos das crianças na Educação Infantil – cujos textos tratassem dos direitos das crianças (SARMENTO, 2001; TOMÁS; SOARES, 2009). Esses autores e bibliografias possibilitaram delimitar a pesquisa e reforçar as ideias a fim de contribuir na significação e ressignificação do conhecimento e reconhecimento dos direitos da Educação Infantil.

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Busquei junto ao banco de dados do Google Acadêmico e do Banco de Teses e Dissertações da Capes, pesquisas realizadas desde o ano de 2013, cujos ensinamentos e elementos pudessem constituir o teor aqui abordado. As palavras-chave selecionadas foram: etnografia, direitos na infância e infância (Quadro 1). Quadro 1. Busca das pesquisas para compor o estudo

Palavras-chave Período específico Fonte de pesquisa Resultados encontrados Etnografia

2013

Google Acadêmico Estudos voltados para a Pedagogia, Psicologia e Psiquiatria

Direitos na infância Banco de Teses e

Dissertações da Capes Infância

Fonte: elaboração própria da pesquisadora (2018).

Como resultado dessa pesquisa encontrei diversos escritos relacionados a diferentes áreas e, embora as discussões acerca dos direitos das crianças tenham conquistado espaço e notoriedade, ainda havia muito a buscar, compreender, interrogar, refletir e discutir acerca do tema.

Para aprimorar a minha busca, necessitei refinar a investigação e realizei a procura em teses e dissertações no Banco de Teses e Dissertações da Capes, onde encontrei inúmeros artigos e dissertações. A partir da leitura do resumo de tais referenciais selecionei o que iria ao encontro do que eu procurava, salvando os estudos em pastas de arquivos.

No Quadro 2, a seguir constam os nomes dos autores, de alguns dos seus trabalhos e o ano em que foram publicados os artigos e dissertações.

Quadro 2. Artigos e dissertações selecionadas

Nome do trabalho Autor Ano

Direitos das Crianças para as Crianças: o livro didático em questão

Patrícia Guarany Cunha Santos 2015 Pré-Escola na Escola de Ensino

Fundamental: Os Direitos das Crianças Desafios e Contradições

Lorena Borges Almeida 2016

Crianças Refugiadas: Um olhar para a Infância e seus Direitos

Esther Deborah Grajzer 2018

Participação Infantil: A sua Visibilidade a partir da Análise de Teses e

Dissertações em Sociologia da Infância

Andréa Carla Campos Pereira Cunha e Natália Fernandes

2014

Infâncias, Tempos e Espaços: Um Diálogo com Manuel Jacinto Sarmento

Ana Cristina Coll Delgado e Fernanda Muller

2006 A Criança como Sujeito de Direitos:

Limites e Possibilidades

Gisele Gonçalves 2016

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Santos (2015), em sua pesquisa intitulada “Direitos das Crianças para as Crianças: o livro didático em questão”, aborda a questão dos direitos da criança, no sentido de priorizar as brincadeiras ao invés de usar somente o livro didático como forma de aprendizagem, dar liberdade para a criança se desenvolver e produzir além dos livros.A pesquisa indica que os livros didáticos têm se apresentado como uma arena de disputa de sentidos, no mais das vezes contraditórios acerca dos direitos da criança, ora afirmando sua condição de sujeito social de direitos, ora colocando-a em condição de subjugo decorrentes de uma série de fatores relacionados a poderes hegemônicos, dentre eles, o fato de a sociedade ser baseada em valores centrados no adulto, caracterizando uma espécie de “adultocentrismo”.

O trabalho de dissertação intitulado “Pré-Escola na Escola de Ensino Fundamental: Os Direitos das Crianças Desafios e Contradições” da autoria de Lorena Almeida (2016), traz o desafio das crianças e dos professores da pré-escola em uma escola de Ensino Fundamental, a escolarização e as contradições que se estabelecem, deixando de lado os direitos das crianças. O trabalho teve como objetivo conhecer as determinações que permeiam a pré-escola na escola de Ensino Fundamental e, ainda, as concepções das crianças e dos professores sobre as pré-escolas inseridas em escola, uma realidade vivenciada por elas.

A dissertação “Crianças refugiadas: um olhar para a infância e seus direitos”, da autora Esther Deborah Grajzer (2018), contempla o estudo com crianças refugiadas, que tiveram seus direitos marginalizados, sem direito a uma vida digna e humana. O texto problematiza a investigação por intermédio das condições de vida das crianças refugiadas e dos seus direitos, garantidos ou não, a partir da legislação internacional e nacional. Busca possibilidades para um novo recomeço, por meio do reconhecimento de seus direitos.

Na concepção de Andréa Carla Campos Pereira Cunha e Natália Fernandes, na escrita do artigo “Participação Infantil: a sua visibilidade a partir da análise de teses e dissertações em sociologia da infância”, a criança é um sujeito e ator social, que pode participar ativamente das decisões das suas falas e ações e, sobretudo, um sujeito de direito que vem se destacando em pesquisas.

O texto apresenta um mapeamento da produção acadêmica sobre a participação infantil baseado na análise das teses e dissertações defendidas na área da Sociologia da Infância, nomeadamente a partir do Mestrado em Sociologia da Infância e do Doutoramento em Estudos da Criança, na Universidade do Minho,

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Portugal, que discutem as questões da participação das crianças em diferentes contextos de vida.

Ana Cristina Coll Delgado e Fernanda Muller (2006), também trazem a questão da Sociologia da Infância no texto em formato de entrevista, ou seja, fala e escuta no artigo intitulado “Infâncias, tempos e espaços: um diálogo com Manuel Jacinto Sarmento”, no qual Manuel Jacinto Sarmento é entrevistado por Ana Cristina e Fernanda, sobre a condição, o lugar da criança na Sociologia da Infância, que aos poucos vai contribuindo para a visibilidade dos direitos das crianças e seu lugar na sociedade como cidadã.

A autora Gisele Gonçalves (2016) na sua escrita da dissertação “A Criança como Sujeito de Direitos: Limites e Possibilidades” contribui na reflexão e conscientização dos direitos das crianças. Trata-se de uma pesquisa em nível de mestrado (dissertação), que teve como objetivo identificar e analisar as representações de criança como sujeito de direitos na pesquisa educacional brasileira, pautada em uma abordagem sociológica e histórica, que entende a criança como um sujeito humano de pouca idade e a infância como uma construção histórica e cultural, no período de 1987 a 2013. A história dos direitos das crianças se encontra vinculada à história dos direitos do homem. Sua origem está pautada nos princípios de liberdade, igualdade e fraternidade.

Todas essas pesquisas, bem como dissertações e artigos, possibilitaram uma melhor compreensão sobre os direitos das crianças e me auxiliaram nos estudos ao trazer a criança como cidadã, construtora de narrativas, sujeito histórico e cultural, protagonista e ator social. Assim, me identifico com esses autores à medida que suas pesquisas consideram a criança como única, protagonista e, sobretudo, com direitos. Também, serviram como apoiadores na seleção e definição do referencial teórico, colaborando na escrita desta dissertação.

As buscas ainda me moveram além do que esperava, possibilitando encontrar autores comprometidos com a infância e com os seus direitos, dentre os quais se destacam Sarmento (2001) e Tomás e Soares (2009).

O professor doutor Manuel Jacinto Sarmento possui vasta compreensão na área da Sociologia, com ênfase na Sociologia da Infância, atuando principalmente nos seguintes temas: infância, exclusão social, trabalho, educação e escola.

Já Catarina Tomás (2006) foi orientanda de doutorado de Manuel Jacinto Sarmento. Sua tese “Há muitos mundos no mundo”, trata dos direitos das crianças a

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partir de suas falas e manifestações, criando oportunidades para a participação ativa das crianças em seu estudo de tese. A autora atua, também, na área da Sociologia da Infância e movimentos sociais das crianças.

Natália Fernandes Soares (2007) também foi orientanda de Manuel Jacinto Sarmento em sua tese de doutorado “Infância e direitos: Participação das Crianças nos Contextos de Vida - Representações, Práticas e Poderes”, com estudos voltados à criança e à Sociologia da Infância, trazendo dados e compreensões construtivas no que se refere à Educação Infantil.

Jucirema Quinteiro (2002) possui trajetória no campo da Educação e Sociologia da Infância, coordenando estudos relacionados aos direitos das crianças, como o direito à infância na escola.

Leni Vieira Dornelles é Pedagoga, com atuação nos temas da Educação Infantil, especialmente em pesquisa com crianças. A autora, juntamente com Natalia Fernandes (2015), escreveu “Estudos da criança e pesquisa com crianças: nuances luso-brasileiras acerca dos desafios éticos e metodológicos”, ressaltando a importância da pesquisa com crianças, principalmente as formas do ser criança e das infâncias. Para as autoras, é por intermédio de pesquisas que se confirma a visibilidade e o reconhecimento da criança como ser social. Os direitos e a voz da criança tem maior visibilidade quando se aprende a ouvir as vozes infantis, tornando possível a construção de uma imagem significativa e respeitosa da criança.

Esses autores também sensibilizaram a minha busca para compreender o que de fato as crianças sabem sobre seus direitos, se aquilo que está posto nos documentos realmente faz parte do cotidiano infantil, e se o fazer docente está contribuindo positivamente no sentido de as crianças conhecerem seus direitos para, assim, participar ativamente e com autonomia no convívio social.

Assim, no segundo capítulo exponho brevemente as trajetórias, os desafios e as conquistas na infância.

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2 A EDUCAÇÃO INFANTIL E SUAS TRAJETÓRIAS: PERCEPÇÕES ACERCA DA INFÂNCIA NA CULTURA

Toda criança no mundo Deve ser bem protegida Contra os rigores do tempo Contra os rigores da vida Criança tem que ter nome Criança tem que ter lar Ter saúde e não ter fome Ter segurança e estudar Não é questão de querer Nem questão de concordar Os direitos das crianças

Todos têm de respeitar (Ruth Rocha).

Respeitar os direitos das crianças dignifica o sujeito enquanto ser humano e o desafia a compreender uma fase da vida tão “doce”, inocente, que um dia todos experienciaram, com lembranças boas, outras talvez não tão boas. Segue-se em busca de uma sociedade justa, digna, compreensiva, na qual muitas crianças se encontram em extrema pobreza, maltratadas, abusadas, sem condições de defesa. Que haja justiça, e que se lute por uma infância com dignidade, com o direito de ir e vir, protegidas de toda maldade.

Este capítulo visa abordar percepções históricas acerca da infância e do surgimento das Escolas de Educação Infantil. Elas surgiram no Brasil após um longo processo de transformações sociais e políticas, desencadeando uma história que permite explanar considerações a seu respeito. A partir das considerações de Kuhlmann Jr. (1998) são descritos alguns trechos que permitem expressar concepções e manifestações marcantes na história da infância.

No Brasil, por volta do século XIX, o indivíduo não tinha direito à Educação desde o nascimento. Somente com a migração dos moradores do campo para a zona urbana é que se tornou necessário pensar em uma educação longe de seu país. O habitual eram as crianças serem cuidadas e educadas em suas próprias casas, por seus pais ou pessoas da família.

Com o surgimento da tecnologia e maior demanda de trabalho, as crianças pequenas necessitavam de um ambiente acolhedor e instigador da educação, que contemplasse os diferentes grupos raciais e sociais.

Na Europa surgiram as primeiras ideias de Jardins de Infância mapeadas por influência política. Neste mesmo período, o preconceito em relação à pobreza

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prevalecia até mesmo no Poder Público, que tentava combater os movimentos de proteção à infância. Assim, a sustentabilidade dos Jardins de Infância era debatida pelo Legislativo, com uma visão centralizada no capitalismo, pois se eram destinadas a famílias pobres não seriam mantidas pelo Legislativo e sim pelas famílias que possuíam bens materiais.

Por volta de 1875, no Rio de Janeiro, e em 1877, em São Paulo, foram criados os primeiros Jardins de Infância para as crianças de famílias abastadas, sob os cuidados de entidades privadas. Apenas tempos mais tarde surgiram os Jardins de Infância públicos.

O conceito de criança ativa e com direitos tem provocado muitas discussões, apesar de haver um processo de evolução da compreensão do que e como são as crianças. Esse conceito na Educação Infantil evoluiu no Brasil paralelamente a outros países, todavia, desde o início percebe-se a falta de organização e estrutura e a pouca preocupação com o seu desenvolvimento cognitivo e intelectual, focando simplesmente no ato do cuidar.

Desse modo, a maneira de vislumbrar as crianças é importante para compreender o que se pretende dizer ao se referir a esse grupo etário. Entende-se, assim, nesta pesquisa, que a criança como sujeito protagonista da sua própria cultura, produz relações, vivências, aprendizagens, imaginação, questionamentos, sentimentos, construindo, assim, sua identidade e autonomia.

Essas mudanças na percepção da criança contribuem para que os legisladores voltem os olhos para esta faixa etária e passem a tratar a infância de modo mais significativo. Após a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, as crianças foram incluídas na Carta Magna, que foi reforçada por outras leis infraconstitucionais. A seguir, de forma simplificada, constam os principais documentos que regulamentam a Educação Infantil e que asseguram os direitos das crianças:

– Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948); – Constituição Federal (1988);

– Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n° 8.069, de 13 de julho de (1990); – Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, Resolução n° 5, de 17

de dezembro de (2009).

A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) definiu, de forma clara, que todo sujeito tem direitos desde seu nascimento e deve ser considerado cidadão,

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garantindo a sua dignidade. A educação oferecida deve ser de qualidade para suprir as necessidades de cada indivíduo. Assim, no art. 26, da Declaração dos Direitos Humanos (1948) é possível compreender que:

1. Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao Ensino Elementar Fundamental. O Ensino Elementar é obrigatório. O Ensino Técnico e Profissional deve ser generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu mérito.

2. A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos do homem e das liberdades fundamentais, bem como favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, além do desenvolvimento das atividades das Nações Unidas para a manutenção da paz.

3. Aos pais pertence à prioridade do direito de escolher o gênero de educação a dar aos filhos.

Conhecer e compreender as legislações que amparam os direitos das pessoas traz esclarecimentos que ajudam a lutar por uma vida digna e uma educação de qualidade, especialmente, na Educação Infantil. Muitos documentos que regem os direitos são, muitas vezes, desconhecidos, pois, geralmente, se procura saber somente aquilo que interessa ou quando um grande acontecimento chega ao nosso conhecimento.

O pouco conhecimento da população a respeito das legislações pode impedir um olhar mais analítico sobre a realidade que perpassa a sociedade. Conhecer todos os documentos que garantem os direitos possibilita lutar por aquilo que é do povo e é garantido por lei. Ele quer direitos, mas muitas vezes não conhece todas as garantias que estão expostas nas documentações, o que o mantém vulnerável diante das diferentes situações a que é exposto. Na Educação Infantil não é diferente, pois as leis existem, mas em determinados momentos não são reconhecidas, talvez até mesmo por não se conhecer os documentos que garantem a integridade dos sujeitos, esses não são efetivados nas escolas.

A Constituição da República Federativa do Brasil – CF/88 (BRASIL, 1988) prevê que a educação é um direito da criança, que compreende o seu modo de ser criança e lhe assegura a criação dos espaços denominados “creches” e “casas da criança”. Há alguns anos esses lugares destinavam-se apenas ao cuidado das

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crianças para que suas mães pudessem trabalhar, e não tinham o objetivo e a preocupação com o desenvolvimento intelectual e cognitivo da criança. Além disso, os profissionais eram incumbidos do cuidado e não consistiam em educadores com formação específica.

Em 2006, a CF/88 incluiu em sua redação que a Educação Infantil deveria ser ofertada pelo Estado em instituições como creches (etapa destinada às crianças de zero a três anos) e pré-escolas (para crianças de quatro e cinco anos), como consta nos excertos legais a seguir:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: [...]

[...] IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) (BRASIL, 1988).

Vale ressaltar que no capítulo que trata da Educação, a CF/88 previu que as crianças com até cinco anos de idade passem a ser vistas como integrantes da formação educacional.

A partir da década de 1990 houve mudanças nos ambientes que recebiam as crianças, tanto na forma de ver como compreender a criança, que passou a ser considerada um sujeito histórico e de direitos, com uma cultura, fazendo parte de uma sociedade em constante transformação.

Alicerçada no Estatuto da Criança e do Adolescente, lei nº 8069 (BRASIL, 1990) foram implantados novos regulamentos de funcionamento. Mas foi somente em 1996, com a Lei de Diretrizes e Bases n° 9.394/96, que a Educação Infantil passou a fazer parte da Educação Básica, passando aos municípios a incumbência de manter e organizar as instituições desse nível de ensino:

III - DO DIREITO À EDUCAÇÃO E DO DEVER DE EDUCAR

Art. 4º. O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de:

IV - atendimento gratuito em creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos de idade; [...]

[...] TÍTULO V - DOS NÍVEIS E DAS MODALIDADES DE EDUCAÇÃO E ENSINO - CAPÍTULO I - DA COMPOSIÇÃO DOS NÍVEIS ESCOLARES

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Art. 21. A educação escolar compõe-se de:

I - educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio;

II - educação superior (BRASIL, 1996).

Apesar da garantia de direitos na infância, vêm surgindo novos desafios e preocupações com a Educação Infantil no que refere ao cuidado e às aprendizagens. Nos dias atuais existe uma legislação específica, que considera a Educação Infantil primeira etapa da Educação Básica oferecida gratuitamente e com qualidade.

Depois de muitas discussões, em 2010, a Educação Infantil conquistou as suas próprias Diretrizes, chamadas de Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Essas Diretrizes asseguram os direitos das crianças e propõem orientar o trabalho realizado nas creches junto às crianças com até três anos de idade. Da mesma forma, visa assegurar práticas junto às crianças de quatro e cinco anos a fim de garantir a continuidade no seu processo de aprendizagem e desenvolvimento, sem antecipação de conteúdos a serem trabalhados no Ensino Fundamental (BRASIL, 2010, p. 7).

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil servem para orientar e compreender, principalmente como base teórica, o contexto em que as crianças estão inseridas, além do papel da Educação na infância, mediando as aprendizagens e o desenvolvimento infantil. Segundo orientações descritas neste documento, na sessão Currículo, a proposta para a Educação Infantil é norteada pelos eixos “brincadeiras” e “interações”, compreendendo que:

– promovam o conhecimento de si e do mundo por meio da ampliação de experiências sensoriais, expressivas, corporais que possibilitem movimentação ampla, expressão da individualidade e respeito pelos ritmos e desejos da criança;

– favoreçam a imersão das crianças nas diferentes linguagens e o progressivo domínio por elas de vários gêneros e formas de expressão: gestual, verbal, plástica, dramática e musical;

– possibilitem às crianças experiências de narrativas, de apreciação e interação com a linguagem oral e escrita, e convívio com diferentes suportes e gêneros textuais orais e escritos;

– recriem, em contextos significativos para as crianças, relações quantitativas, medidas, formas e orientações espaço temporais;

– ampliem a confiança e a participação das crianças nas atividades individuais e coletivas;

– possibilitem situações de aprendizagem mediadas para a elaboração da autonomia das crianças nas ações de cuidado pessoal, auto-organização, saúde e bem-estar. (BRASIL, 2010, pp. 25-26).

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A infância tem sido um tema bastante debatido no âmbito da educação, ela não é recente, mas os campos que se dedicam a estudar a infância estão em construção, assim como o lugar e a condição que a criança ocupa na investigação científica. Muito se tem ouvido a respeito das situações que acontecem no cotidiano da Educação Infantil. Por este, e outros motivos, estudiosos estão observando e analisando a conjuntura da infância a fim de trazê-la para o contexto infantil e possibilitar a sua implantação nas escolas de Educação Infantil. Para tanto, cabe pensar novos caminhos que possam emancipar os sujeitos, reconhecendo seus direitos e possibilitando seu contato com o mundo da realidade, partindo do contexto em que cada criança está inserida.

Muitas hipóteses surgem no decorrer do processo do conhecimento e da busca por soluções e novas alternativas, o que acaba por desafiar os profissionais da Educação e os colaboradores que estão sempre em busca de novos conhecimentos, sanando frequentes dúvidas que surgem nas escolas de Educação Infantil.

Compreender a infância e suas manifestações é um passo importante para o reconhecimento da Educação Infantil como espaço de aprendizagens, novas descobertas e conhecimento de mundo. Para isso, é indispensável conhecer o contexto e a cultura de cada criança para que se possa valorizar os seus conhecimentos e as suas experiências.

Percebe-se, portanto, que apesar de existirem diversas leis que assegurem uma educação de qualidade, a maioria não cumpre com aquilo que está nos documentos, faltando conhecimento a seu respeito. Alguns educadores e gestores desconhecem, por exemplo, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, as quais são utilizadas na elaboração de planos de aula. A fragmentação, portanto, é evidente, e as aulas vão se tornando cada vez menos proveitosas.

Falar de infância é falar de alegria, descobertas, amor, aconchego, dúvidas, incertezas, relações e diversidade. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2010), garantem todas essas questões, mas em alguns cenários encontram-se somente registradas nos documentos que, muitas vezes, os educadores de Educação Infantil desconhecem, e que são a base para um currículo e documentações pedagógicas. Os professores necessitam de uma boa formação, deixando bons exemplos e conhecimentos significativos para que as crianças possam levar durante a vida.

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Os direitos das crianças precisam ser conhecidos e reconhecidos por todos para que possam sair do papel e assumir o seu caráter de significação e emancipação na vida das crianças, construindo aprendizagens e deixando marcas edificantes.

O documento Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2010, p.17) expressa que “promover a igualdade de oportunidades educacionais entre as crianças de diferentes classes sociais no que se refere ao acesso a bens culturais e às possibilidades de vivência da infância.”

Esse documento deixa claro que a criança é um ser cultural e produtor de cultura, pois cada uma traz de berço uma cultura diferente. Existem, portanto, várias culturas que precisam ser reconhecidas e dialogadas em meio à sociedade e, por isso, as manifestações na infância são culturais. A infância vai além do simples fato de inventar uma brincadeira ou manusear um objeto diferente. Ela cria vínculos e situações que potencializam e viabilizam a criatividade, o conhecimento de si e do mundo. Ao brincar, por exemplo, a criança interpreta aquilo que ela está vivenciando, tanto desejos, como medos e angústias. Por essa razão, é indispensável ter um olhar atento voltado àquilo que a criança está a transmitir.

De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2010), as crianças são sujeitos históricos com direitos. Este documento ressalta que por intermédio das relações, das interações e das práticas cotidianas elas constroem a sua identidade, tanto pessoal quanto coletiva, pois brincam, fantasiam, imaginam, observam, aprendem, questionam, desejam, experimentam e constroem sentidos sobre a sociedade e sobre a natureza, produzindo a cultura.

Reconhecer e promover os direitos da criança é função da sociedade e do Estado, pois toda criança, desde o seu nascimento, possui direitos de liberdade, que asseguram o seu bem-estar. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2010, p. 16), apresentam em sua estrutura os princípios éticos, políticos e estéticos que consolidam os direitos da criança como ser integral, respeitando as diferentes culturas, sua singularidade, a formação da sua identidade, a liberdade de expressão, a criatividade e também a ludicidade.

A participação de todos é importante para o sucesso e reconhecimento da Educação Infantil. Para tanto, não basta envolver apenas a escola e os alunos, mas também os pais e a comunidade, a fim de construir uma pedagogia participativa, com novos conceitos e meios. Assim, a Educação Infantil, torna-se direito das

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crianças, podendo oferecer uma educação digna, pensando sempre no bem-estar e na qualidade do ensino, priorizando a infância como primeira etapa de conhecimento.

Não é possível apenas conhecer mas, sim, se integrar à realidade dos direitos para poder lutar por uma educação e sociedade mais acolhedoras. Desde pequenas, as crianças necessitam ser instigadas a conhecer a realidade que as rodeia. Não se pode tratar a Educação Infantil como lugar de assistencialismo. O reconhecimento da Educação Infantil é uma conquista para as crianças e também para a sociedade.

Assim, importa romper com o silêncio das crianças, confrontar as barreiras, escutar o que elas têm a dizer, ir ao encontro daquilo que têm para mostrar. O ser humano possui capacidade de criar e recriar e, nesse contexto, a criança necessita apenas de possibilidades para vivenciar diferentes experiências.

No documentário “Território do brincar” (MEIRELLES, 2015) é possível observar um pouco da diversidade encontrada nos diferentes contextos e como é importante desafiar a criança, acreditar que ela é potente para construir o seu próprio conhecimento, pois ao interagir com as demais crianças ela compreende o sentido de muitas coisas. A diversidade que se encontra neste documentário revela as mais variadas brincadeiras em diferentes regiões do Brasil, os diferentes povos, os hábitos e costumes, a diferença de classes sociais, o urbano e o rural que, por vezes, se desconhece ou se ignora. Simples objetos como latas, restos de madeira ou arame se tornam carrinhos, instrumentos musicais, casinhas e até mesmo num banho de riacho as brincadeiras vão surgindo, a alegria e sorriso sendo esbanjada em cada rosto.

As crianças, enquanto sujeitos sociais, pertencem a uma determinada cultura e comunidade que abrange diferenciadas maneiras de viver. Elas são sujeitos em construção que precisam, desde muito pequenas, estar em contato com algo concreto para significar as suas experiências. Ao tocar determinado objeto, elas criam novas maneiras de evidenciar aquilo que estão presenciando, ou seja, transferem para a vida real aquilo que vivem em seu cotidiano. Percebe-se que quando uma criança interage com outra ou até mesmo com um adulto, ela desencadeia um processo de imaginação e fantasia, narrando assim a sua própria história.

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O período da infância pode ser respeitado e estimulado da melhor maneira possível, visto que cada criança possui o seu próprio tempo. Há, também, um tempo que é considerado adequado para o seu desenvolvimento. Além do tempo da criança e da infância existe ainda o tempo pedagógico, que organiza a rotina das crianças, considerando os seus ritmos, bem-estar e aprendizagens em um espírito de participação na organização do trabalho e do jogo.

Esse tempo considera os ritmos de atividades individuais em pequenos grupos e no grande grupo, com diferentes propósitos e experiências. Todo momento é tempo pedagógico, desde o acolhimento até o tempo de partida. O tempo pode proporcionar reflexão, tanto ao professor quanto às crianças, para que possam escutar, opinar e realizar ações a partir das experiências das crianças e da maneira como estão ocorrendo as suas aprendizagens.

A reflexão do professor sobre o processo da constituição da criança e os modos de aprendizagem são de fundamental importância. São muitos os fragmentos que compõem essas ações, sendo necessário estar presente nas observações para aliar as propostas pedagógicas. É na participação e na interação que as mais diferentes imagens e linguagens aparecem. O tempo e o espaço são primordiais no desenvolvimento e na construção de situações de aprendizagens da criança, pois espaços que permitem liberdade à criança promovem o encantamento e experiências, a partir das possibilidades que lhes são alcançadas. As crianças demonstram que são potentes e na interação com os demais e com os objetos em tempos distintos, constroem, criam regras próprias delas, resolvem seus próprios conflitos, ampliando seus conhecimentos.

O tempo na Educação Infantil, contudo, é sinônimo de reflexão e compreensão. E, quando refletido pelos professores, antepõe o que está dando certo e o que não está, a fim de que novas estratégias e metodologias possam ser adotadas, conforme a necessidade de cada criança, sem deixar de lado aquilo que ela já traz consigo, como suas experiências, linguagens e culturas. Cada criança tem dentro de si diferentes saberes que particularizam a valorização e reconhecimento.

A qualidade na Educação Infantil, portanto, requer que seja pensada de forma conjunta, com práticas pedagógicas voltadas às crianças, ao seu desenvolvimento e bem-estar. O capítulo 3, a seguir, mostra o desenvolvimento da pesquisa, bem como situações de aprendizagem e reflexões a partir de bases teóricas que acompanham o estudo.

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