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"Estado da arte" e coletivos de pensamento da pesquisa sobre o livro didático no Brasil

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

MESTRADO EM EDUCAÇÃO NAS CIÊNCIAS

“ESTADO DA ARTE” E COLETIVOS DE PENSAMENTO DA

PESQUISA SOBRE O LIVRO DIDÁTICO NO BRASIL

RÚBIA EMMEL

Ijuí/RS 2011

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RÚBIA EMMEL

“ESTADO DA ARTE” E COLETIVOS DE PENSAMENTO DA

PESQUISA SOBRE O LIVRO DIDÁTICO NO BRASIL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação nas Ciências da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Educação nas Ciências.

Orientadora: Drª. Maria Cristina Pansera-de-Araújo

Ijuí/RS 2011

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Escrever (e ler) é como submergir num abismo em que acreditamos ter descoberto objetos maravilhosos. Quando voltamos à superfície, só trazemos pedras comuns e pedaços de e pedaços de vidro e algo assim como uma inquietude nova no olhar. O escrito (e o lido) não é senão um traço visível e sempre decepcionante de uma aventura que, enfim, se revelou impossível. E, no entanto, voltamos transformados. Nossos olhos aprenderam uma nova insatisfação e não se acostumam mais à falta de brilho e mistério...

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AGRADECIMENTOS

A Deus, Senhor de todas as horas;

A minha orientadora, Professora Doutora Maria Cristina Pansera-de-Araújo, a qual, mais que orientadora da Dissertação, foi orientadora de caminhos, abrindo-me as portas da pesquisa e do mundo, contribuindo para meu crescimento intelectual;

Às Professoras Dr. Cátia Maria Nehring, Dra. Ana Rosa Fontella Santiago, Dra. Ione Slong, e ao Professor Doutorando Roque Ismael da Costa Güllich, pelas sugestões e orientações preciosas na “tecitura” desse trabalho;

À equipe de professores/as do Curso de Mestrado em Educação nas Ciências, por nossas constantes trocas de ideias acerca da temática do livro didático e, como não poderia deixar de ser, sobre a vida;

Ao Alexandre, que mais que meu namorado, professor, colega, amigo de todas as horas, pela compreensão, pelas leituras, pelos diálogos, por estar sempre ao meu lado, trocando ideias;

A minha família, minha mãe e meu irmão, pelos incentivos a auxílios recebidos no decorrer de minha formação, e acima de tudo, por acreditarem em mim, pelo amor e apoio incondicional e constante;

Ao Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências, através de sua coordenação;

Ao curso de Especialização, através de sua coordenação; À Capes, pela taxa concedida de março de 2010 a março de 2011, para a realização deste trabalho.

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RESUMO

O trabalho analisou as pesquisas sobre o livro didático, em artigos publicados na base de dados de revistas indexadas no Scielo e de eventos: ENDIPE, ENPEC e ANPED, de 1999 a 2010. Apoiando-se nas categorias da epistemologia de Fleck (1986), para compreender as contribuições dos autores das publicações sobre Livro Didático, apresentadas em eventos e periódicos, na constituição dos estilos e coletivos de pensamento que caracterizam a pesquisa do tema. Com base na leitura dos artigos, através da Análise Textual Discursiva (MORAES e GALIAZZI, 2007) foram identificadas 20 temáticas de pesquisa. O estudo possibilitou a análise e a identificação de um grande grupo de autores dos artigos que também estão referenciados nestes, constituindo eixos centrais. Os autores referenciais utilizados nos trabalhos analisados formaram 4 coletivos de pensamento: conceitos, currículo, pesquisa em/sobre livro didático e metodologia; merecendo destaque um grupo de referências, que são os próprios livros didáticos analisados nas pesquisas. A construção de categorias temáticas acerca do livro didático, apresentada neste estudo, se fez a partir da vontade de fortalecer as pesquisas acerca do livro didático na perspectiva de melhor compreender a formação de professores, suas teorizações e seus conhecimentos, possibilitando rever conceitos e estabelecer outros vários. Após a análise, o que se percebe é que os artigos demonstram que há preocupação de se estabelecer conceitos, conteúdos e diferentes olhares que contribuam para a construção de novos estudos, que apontem novas perspectivas, vislumbrando a formação de professores capazes de ressignificar o livro didático, fomentando os saberes e os fazeres dos sujeitos que fazem uso deste recurso. Assim, percebe-se a necessidade de novas pesquisas de cunho epistemológico sobre o livro didático, para que seja possível estabelecer consciência das complicações no estilo de pensamento dos pesquisadores sobre este tema e as consequentes transformações.

Palavras-chave: Livro didático, coletivo e estilo de pensamento, Formação de professores,

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ABSTRACT

The paper reviews the research on the textbook, published articles in the database of journals indexed in SCIELO and events: ENDIPE, ENPEC ANPED and, from 1999 to 2010. Relying on the categories of epistemology Fleck (1986), to understand the contributions of authors of publications on Textbooks, journals and presented at events in the constitution of styles and thought collectives that characterize the research topic. Based on reading the articles by Discourse Textual Analysis (GALIAZZI and MORAES, 2007) identified 20 topics of research. The study allowed the analysis and identification of a large group of authors of articles are also referenced in these, constituting the central axes. The authors analyzed references used in the work formed four groups of thought: concepts, curriculum, research in / on the textbook and methodology; a special focus group of references, which are their own textbooks examined in the polls. Building on the themes of the textbook, presented in this study was done from a desire to strengthen the research on the textbook from the perspective of better understanding the formation of teachers, their theories and knowledge, enabling review concepts and establish other several. After analysis, we can see is that the articles show that there is concern to establish concepts, contents and different perspectives that contribute to the construction of new studies suggest that new perspectives, seeing the training of teachers able to reframe the textbook by promoting knowledge and the making of subjects who use this feature. Thus, we see the need for further research on the epistemological textbook, to be able to establish awareness of the complications in the style of thinking of the researchers on this topic and the following changes.

Keywords: Textbook, and the collective style of thinking, teacher education, Research in

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LISTA DE SIGLAS

Agência Internacional de Desenvolvimento – AID

Agência de Garantia de Investimentos Multilaterais – MIGA

Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional – USAID Análise Textual Discursiva – ATD

Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências – ABRAPEC Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Educação – ANPED Banco Mundial – BM

Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento – BIRD Centro Federal Tecnológico – CEFET

Corporação Financeira Internacional – CFI Conselho Nacional do Livro Didático – CNLD Comissão do Livro Técnico e Didático – COLTED

Departamento de Estudos e Pesquisas em Educação – DEPE Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino – ENDIPE Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – ENPEC Fundação de Assistência ao Estudante – FAE

Fundação Nacional do Material Escolar – FENAME Fundo Monetário Internacional – FMI

Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE Fundação Joaquim Nabuco – FJN

Grupo de Trabalho – GT

Grupo Interdepartamental de Pesquisa sobre Educação em Ciências – GIPEC Guia de Livros Didáticos – GLD

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Instituições de Ensino Superior – IES

Instituto Federal Universitário de São Paulo – IFUSP

Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas em Educação – INEP Instituto Nacional do Livro – INL

Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS Livro Didático – LD

Lei de Diretrizes e Bases – LDB

Ministério da Educação e Cultura – MEC Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs Programa de Incentivo à Pesquisa Setrem – PIPS Programa do Livro Didático – PLID

Programa do Livro Didático para o Ensino Fundamental – PLIDEF Programa Nacional do Livro Didático – PNLD

Programa Nacional do Livro Didático na Alfabetização de Jovens e Adultos – PNLA Programa Nacional do Livro Didático no Ensino Médio – PNLEM

Pontifica Universidade Católica – PUC Scientific electronic library online – SCIELO Secretaria Municipal de Educação – SMEC Sindicato Nacional de Editores de Livros – SNEL

Sociedade Educacional Municipal de Tecnologia – SEMTEC Sociedade Educacional Três de Maio – SETREM

Universidade Bandeirante de São Paulo – UNIBAN Universidade do Contestado – UNC

Universidade do Leste de Minas Gerais – UNILESTE Universidade Estadual da Bahia – UEB

Universidade Estadual de Campinas – UEC

Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS Universidade Estadual de Goiás – UEG

Universidade Estadual de Maringá – UEM Universidade Estadual Paulista – UNESP Universidade Estadual do Pará – UEPA

Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB Universidade do Estado da Bahia – UNEB

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Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC Universidade Federal do Alagoas – UFAL

Universidade Federal da Bahia – UFBA Universdade Federal do Ceará – UFC

Universidade Federal do Espírito Santo – UFES

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO Universidade Federal Fluminense – UFF

Universidade Federal de Goias – UFG

Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF Universidade Federal do Mato Grosso – UFMT Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG Universidade Federal do Pará – UFPA

Universidade Federal do Paraná – UFPR Universidade Federal de Pernambuco – UFPE Universidade Federal de Pelotas – UFPEL

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN Universidade Federal do Rio Grande – FURG

Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC Universidade Federal de São Carlos – UFSCAR Universidade Federal de Santa Maria – UFSM Universidade Federal do Sergipe – UFS Universidade Federal do Tocantins – UFTO Universidade Federal de Uberlândia – UFU Universidade Federal de Viçosa – UFV Universidade de Brasília – UNB

Universidade do Contestado – UNC Universidade de Campinas – UNICAMP Centro Universitário de Brasília – UNICEUB Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP

Centro Universitário Fundação Instituto de Ensino para Osasco – UNIFIEO Universidade Luterana no Brasil – ULBRA

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Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP Universidade Paulista – UP

Universidade Regional de Blumenau – FURB

Universidade Regional Integrada do Rio Grande do Sul – URI

Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ Universidade de São Paulo – USP

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Base de Dados e Eventos Utilizados na Pesquisa ... 53 Tabela 2: Distribuição das Autorias dos Artigos, sobre Livro Didático, por Instituição Relacionada à Base de Dados ou Eventos ... 54 Tabela 3: Grupos de Trabalho da Anped com Pesquisas sobre o Livro Didático ... 57 Tabela 4: Revistas Brasileiras Indexadas no Scielo ... 58 Tabela 5: Pesquisadores com Dois ou Mais Trabalhos sobre o Livro Didático, no ENPEC, ENDIPE e ANPED Nacional ou em Revistas Indexadas no Scielo, no Período de 1999 a 2008 ... 59 Tabela 6: Área do Conhecimento das Pesquisas sobre Livro Didático Publicadas nos Eventos (ANPED Nacional; ENDIPE e ENPEC) e nos Periódicos Brasileiros Indexados no Scielo ... 63 Tabela 7: Níveis de Ensino Pesquisados nos Artigos sobre o Livro Didático Selecionados no Estudo ... 64 Tabela 8: Temáticas de Pesquisa sobre o Livro Didático ... 70 Tabela 9: Autores dos Artigos (Indexados no Scielo ou Apresentados nos Eventos) e também Utilizados como Referência noutros Artigos Selecionados no Estudo ... 75 Tabela 10: Coletivos de Pensamentos Formados pelos Autores Referenciados nas Pesquisas sobre o Livro Didático Publicadas na ANPED, ENDIPE, ENPEC e Periódicos Brasileiros Indexadas no SCIELO ... 81

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Decretos sobre o Livro Didático ... 19 Quadro 2: Evolução Histórica dos Estudos sobre Livro Didático ... 26 Quadro 3: Livros Didáticos Referenciados nas Pesquisas Publicadas na ANPED, ENDIPE, ENPEC e Periódicos Brasileiros Indexadas no SCIELO ... 68 Quadro 4: Exemplo de Coleta das Referências na Base de Dados ou Eventos ... 79 Quadro 5: Constituição dos Coletivos de Pensamento das Referências ... 80

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 15

CAPÍTULO 1 – ELABORANDO ALICERCES PARA A CONSTITUIÇÃO DA PESQUISA: INTERFACES DA TRAJETÓRIA HISTÓRICA E DA PESQUISA SOBRE O LIVRO DIDÁTICO ... 18

1.1 HISTÓRIA DO LIVRO DIDÁTICO NO BRASIL ... 18

1.2 A PESQUISA SOBRE LIVRO DIDÁTICO NO BRASIL ... 25

1.3 CONTRIBUIÇÕES DA EPISTEMOLOGIA DE FLECK PARA A ANÁLISE DAS PESQUISAS SOBRE O LIVRO DIDÁTICO NO BRASIL ... 40

1.3.1 Apresentando as Categorias Epistemológicas de Ludwik Fleck ... 43

1.3.2 Em Busca de um Diálogo: Aproximando a Teoria de Fleck das Pesquisas sobre o Livro Didático no Brasil ... 46

CAPÍTULO 2 – A PESQUISA SOBRE O LIVRO DIDÁTICO: CONTEXTO, CARACTERIZAÇÃO E REFERENCIAIS DE ANÁLISE ... 48

2.1 UMA PESQUISA, UMA METODOLOGIA... ... 48

2.2 (RE)CONHECENDO AS PESQUISAS BRASILEIRAS ACERCA DO LIVRO DIDÁTICO COMO CAMPO EMPÍRICO ... 52

CAPÍTULO 3 – COMPREENDENDO O PAPEL DAS PESQUISAS SOBRE LIVRO DIDÁTICO NA EDUCAÇÃO A PARTIR DOS COLETIVOS DE PENSAMENTO . 67 3.1 IDENTIFICAÇÃO DOS ESTILOS DE PENSAMENTO NA PRODUÇÃO DAS PESQUISAS SOBRE O LIVRO DIDÁTICO NO BRASIL A PARTIR DE FLECK . 67 3.2 A EPISTEMOLOGIA FLECKIANA COMO PERSPECTIVA DE RECONHECIMENTO DE COLETIVOS DE PENSAMENTO NO CONTEXTO DAS PESQUISAS SOBRE O LIVRO DIDÁTICO ... 73

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 89

REFERÊNCIAS ... 92

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INTRODUÇÃO

Ao reconhecer e estudar o papel da pesquisa focada no livro didático, observa-se um aumento significativo e constante de pesquisas e publicações, no Brasil, desde a década de 1980 (FARIA, 1984; FREITAG, MOTTA, COSTA, 1987; GERALDI, 1993; SILVA, 2000; FRACALANZA 2006; LOPES, 2007). Logo, são muitas as interfaces de pesquisa acerca do tema livro didático, independentemente dos vários caminhos escolhidos.

Durante o meu curso de Graduação em Pedagogia, na Sociedade Educacional Três de Maio (SETREM), participei do Programa de Incentivo à Pesquisa SETREM (PIPS) e desenvolvi um estudo sobre o livro didático. Esse assunto me inquietava desde o início do Curso de Magistério (nível médio). Uma vez que as professoras do Curso falavam sobre o quanto os livros didáticos são imprescindíveis para a constituição do currículo dos anos iniciais, para a prática e planejamento docente.

A pesquisa realizada durante o PIPS proporcionou-me novos conhecimentos acerca da temática do livro didático, sua crítica, seus limites e seu uso. Em leituras e orientações, percebi a existência de três linhas de estudo acerca do livro didático: a crítica, a crítica sobre a crítica e as perspectivas do uso. No PIPS, constituí estudos acerca da crítica e, na monografia da graduação, acerca da crítica e da crítica sobre a crítica do livro didático. Este trajeto permitiu constituir um breve estudo da arte sobre o tema, o qual me fez perceber a importância das perspectivas do uso e de sua ressignificação pelo professor e pelos estudantes, como possibilidades que me fizeram ampliar compreensões.

Destas compreensões novas, surgiram minhas questões de pesquisa que me trouxeram ao Curso de Mestrado. Essas inquietações e as novas leituras de ordem epistemológica me permitiram vislumbrar em Fleck certa possibilidade de melhor compreender a problemática que envolve a produção científica em torno do livro e suas implicações na formação docente.

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O livro didático é um veículo de informações a serviço do professor e dos estudantes, que se constitui muitas vezes num método/guia de ensino. Diversas pesquisas em Educação têm propiciado a construção de uma visão crítica de docentes e alunos, no processo de formação profissional, sobre a qualidade dos livros didáticos, bem como seus limites e possibilidades de uso. Logo, uma análise dessa produção é fundamental, para que a investigação e caracterização das concepções e práticas descritas evidenciem as concepções epistemológicas e as condições históricas de produção das mesmas. Por isto, esta dissertação, que amplia os estudos sobre livros didáticos, apoia-se nas categorias da epistemologia de Fleck (1986), para compreender as contribuições dos autores das publicações sobre LD, apresentadas em eventos e periódicos, na constituição dos estilos e coletivos de pensamento que caracterizam a pesquisa do tema. Fleck identifica três fases da estruturação de um estilo de pensamento: instauração, extensão e transformação. Um estilo de pensamento instaura-se quando um problema é encarado como tal por mais de uma pessoa, por um coletivo de pensamento. O critério para reconhecer um estilo de pensamento é histórico e exige uma análise sócio-histórico-cultural do fato em estudo.

A partir destes pressupostos, pude (re)elaborar, ponderar e propor os seguintes questionamentos: Quais eixos teóricos estão refletidos nas pesquisas sobre o livro didático? Que estilos e coletivos de pensamento constituem estas pesquisas? É possível reconhecer os autores das pesquisas sobre o livro didático, bem como suas contribuições, à luz da Epistemologia de Fleck (1986)?

Estes questionamentos geraram o objetivo geral: compreender as contribuições dos autores das publicações sobre LD, apresentadas em eventos e periódicos, na constituição dos estilos e coletivos de pensamento que caracterizam a pesquisa do tema.

E os específicos:

- identificar o estilo e o coletivo de pensamento e a circulação de ideias dos autores selecionados, que também foram referenciados nos artigos analisados;

- categorizar, através da análise textual discursiva, as linhas teóricas e diferentes concepções acerca do livro didático, presentes na base de dados analisada;

- analisar os autores que se preocupam com o tema livro didático e as relações estabelecidas entre eles nas publicações das pesquisas realizadas.

Na busca de caminhos metodológicos, esta investigação apresenta elementos da abordagem qualitativa, pesquisa documental (LÜDKE; ANDRÉ, 1986), através da análise textual discursiva (MORAES; GALIAZZI, 2007), possibilitando a realização de uma investigação epistemológica das publicações sobre o livro didático no Brasil, na base de dados

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SCIELO e nos eventos: ANPED, ENDIPE e ENPEC. Este percurso permitiu compreender e ressignificar o problema de pesquisa.

Organizei a dissertação inicialmente em três capítulos, que são:

- O capítulo um apresenta o contexto da pesquisa e os referenciais teóricos, e reforça as bases para a constituição da pesquisa. Delineia a história da produção e da pesquisa sobre o livro didático, constituindo como fundamento teórico o conhecimento do Estado da Arte. Traz as contribuições da epistemologia de Fleck para a análise das pesquisas sobre o livro didático no Brasil.

- O capítulo dois aborda o campo empírico, revelado pelos dados em forma de tabelas, quadros e análises gerais descritivas. Os artigos selecionados sobre o livro didático, na base de dados (SCIELO) e nos eventos (ANPED, ENDIPE e ENPEC) vão mostrar quem são os seus autores e os níveis de ensino focados. Além disso, destaca as instituições de ensino de onde provêm os autores e as referências.

- O capítulo três apresenta os resultados empíricos essenciais à compreensão e proposição da problemática de pesquisa e os discute teoricamente a partir da epistemologia de Fleck. Discorre sobre as temáticas de pesquisa, bem como as referências mais citadas e encontradas nos textos selecionados são analisadas na perspectiva da identificação de coletivos e estilos de pensamento. Tudo isso para apontar os coletivos de pesquisadores referenciados e a constituição de estilos de pensamento capazes de caracterizá-los e expressar o viés formativo induzido pela circulação de ideias. Discute os dados da pesquisa com a literatura pertinente, para compreender melhor como os coletivos de pesquisadores sobre o livro didático se constituíram, dialogam, articulam os referenciais e permitem aprofundar as temáticas analisadas na pesquisa.

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CAPÍTULO 1 – ELABORANDO ALICERCES PARA A CONSTITUIÇÃO DA PESQUISA: INTERFACES DA TRAJETÓRIA HISTÓRICA E DA PESQUISA SOBRE O LIVRO DIDÁTICO

Este capítulo buscou constituir um apanhado teórico, que respaldasse e fundamentasse o estudo, na perspectiva de melhor compreender o livro didático, sua trajetória de produção, e relações estabelecidas com o professor e a escola, em cada período histórico. Deste modo, foi permitido (re)conhecer os modos de produção, o status teórico e as abordagens no campo da educação brasileira, criando um embasamento empírico, balizado em documentos oficiais. Apresenta a epistemologia de Fleck (1986) e como se caracterizam os estilos e os coletivos de pensamento.

A história da produção e da pesquisa sobre livro didático (LD) é apresentada, como fundamento do Estado da Arte e da análise posterior.

1.1 HISTÓRIA DO LIVRO DIDÁTICO NO BRASIL

A busca da história do livro didático, no Brasil, remete à pesquisa de inúmeras publicações: monografias, dissertações, teses, artigos, bem como a documentos oficiais do governo, que registram a criação do Instituto Nacional do Livro (INL), em 1929 (BRASIL, 2011), que contribui para dar maior legitimação ao livro didático nacional e, consequentemente, auxilia no aumento de sua produção. O Quadro 1 mostra os decretos e leis sobre o tema promulgados desde 1938 até os dias atuais, que contribuem para compreender o contexto histórico, político e social, em que se insere o livro didático e como se tornou uma política pública.

A escolha dos livros didáticos pelo professor foi decretada no ano de 1945; em apoio e formação do professor para a escolha do livro didático, não existe qualquer decreto. Assim, os decretos demonstram o quanto a formação do professor e o livro didático estão distantes.

Até 2004, não existiam livros didáticos para todas as áreas do conhecimento, em todas as regiões do País. Freitag, Motta, Costa (1987, p. 9) apontam que “o livro didático não tem uma história própria no Brasil, o que é comprovado ao consultarmos o endereço eletrônico do MEC, em que são encontradas apenas leis e decretos, desde 1930”. Neste sentido, é essencial interpretar essas leis à luz das mudanças estruturais como um todo, ocorridas na sociedade

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brasileira, desde o Estado Novo até hoje, para construirmos uma história reflexiva sobre o tema.

Decreto* Síntese

Lei nº 1.006, 30/12/38 Comissão Nacional do Livro Didático (CNLD), estabelecendo sua primeira política de legislação e controle de produção e circulação do livro didático no País. Composta inicialmente por 7 membros, designados pelo presidente da república. Decreta que os livros são “detentores das verdades”, e neles, o currículo oficial de ensino é

encontrado. Define o que são livros didáticos: "Art. 29, § 19 — Compêndios são livros que exponham total ou parcialmente a matéria das disciplinas constantes dos

programas escolares; 29 - Livros de leitura de classe são os livros usados para leitura dos alunos em aula; tais livros também são chamados de livros de texto, livro-texto, compêndio escolar, livro escolar, livro de classe, manual, livro didático . "

Lei nº 91.177,

29/03/1939 Aumenta de 7 para 12 o número dos membros da CNLD e regulamenta sua organização e seu funcionamento até os menores detalhes. 0 controle que essa comissão tinha sobre a produção e circulação do livro didático estava na proporção direta do controle que o próprio ministro exercia sobre a comissão.

Lei nª 8.460, de

26/12/1945 Consolida a legislação sobre as condições de produção, importação e utilização do livro didático, restringindo ao professor a escolha do livro a ser utilizado pelos alunos, conforme definido no art. 5º.

Convênio, em 06/01/67

Convênio firmado entre o MEC/SNEL/USAID (Ministério da Educação/Sindicato Nacional de Editores de Livros e a Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional) tinha como objetivo tornar disponíveis cerca de 51 milhões de livros para os estudantes brasileiros no período de três anos. Essa distribuição seria gratuita. Portaria nº 35, de

11/3/1970

O Ministério da Educação implementa o sistema de coedição de livros com as editoras nacionais, com recursos do Instituto Nacional do Livro (INL).

Lei nº 68.728, de

08/06/71 A COLTED foi extinta em 1971, quando foi criado o Programa do Livro Didático (PLID). Decreto nº 77.107, de

4/2/76

O governo assume a compra de boa parcela dos livros para distribuí-los a parte das escolas e das unidades federadas. Com a extinção do INL, a Fundação Nacional do Material Escolar (FENAME) torna-se responsável pela execução do programa do livro didático. Os recursos provêm do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e das contrapartidas mínimas estabelecidas para participação das Unidades da Federação. Devido à insuficiência de recursos para atender todos os alunos do ensino fundamental da rede pública, a grande maioria das escolas municipais é excluída do programa.

Lei nº 91.542, de

1º/08/85 A nova legislação procura corrigir algumas das anomalias apontadas e busca a descentralização administrativa do Programa Nacional do Livro Didático, sugerindo que a escolha do livro seja feita pelo professor que o utiliza em sala de aula. Resolução FNDE nº6,

01/07/1993 Vincula recursos para a aquisição dos livros didáticos destinados aos alunos das redes públicas de ensino, estabelecendo-se, assim, um fluxo regular de verbas para a aquisição e distribuição do livro didático.

Resolução nº 38, 2004 Implantado em 2004, pela Resolução nº 38 do FNDE, o Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio (PNLEM) prevê a universalização de livros didáticos para os alunos do ensino médio público de todo o país. Inicialmente, atendeu 1,3 milhão de alunos da primeira série do ensino médio de 5.392 escolas das regiões Norte e Nordeste, que receberam, até o início de 2005, 2,7 milhões de livros das disciplinas de português e de matemática. Em 2005, as demais séries e regiões brasileiras também foram atendidas com livros de português e matemática.

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Decreto* Síntese

Resolução nº 40, de

24/8/2004 Ficou instituído o atendimento também aos estudantes portadores de necessidades especiais das escolas de educação especial públicas, comunitárias e filantrópicas, definidas no censo escolar, com livros didáticos de língua portuguesa, matemática, ciências, história, geografia e dicionários.

Resolução nº 30, de

4/8/2006 Dispõe sobre a execução do PNLD, prover as escolas do ensino fundamental das redes federal, estadual, do Distrito Federal e municipal, e as escolas de educação especial públicas, comunitárias e filantrópicas, mantidas por sindicatos de trabalhadores, patronais, associação, organização não-governamental, nacional e internacionais, Apae e Pestalozzi, definidas no Censo Escolar, que prestem atendimento aos alunos

portadores de necessidades especiais, com livros didáticos de qualidade, abrangendo os componentes curriculares de Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, História, Geografia.

Resolução nº 18,

24/04/2007 O Programa Nacional do Livro Didático para a Alfabetização de Jovens e Adultos (PNLA) foi criado para distribuição, a título de doação, de obras didáticas às entidades parceiras, com vistas à alfabetização e à escolarização de pessoas com idade de 15 anos ou mais. Entidades parceiras são os estados, Distrito Federal, municípios, que estabelecem parceria com o Ministério da Educação, por intermédio da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad), na execução das ações do Programa Brasil Alfabetizado.

Resolução nº 27,

16/6/2008 Altera a Resolução CD/FNDE nº 18, de 24/04/2007, que dispõe sobre o Programa Nacional do Livro Didático para a Alfabetização de Jovens e Adultos (PNLA) 2008. Considera a necessidade de adequação nos critérios para manter a eficácia nos processos de escolha das obras didáticas a serem distribuídas pelo Programa do Livro Didático para Alfabetização de Jovens e Adultos.

Resolução nº60,

20/11/2009 Dispõe sobre o PNLD para a Educação Básica, visa prover as escolas públicas de ensino fundamental e médio com livros didáticos, dicionários e obras complementares, no âmbito do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD).

Decreto nº 7.084, 27/1/2010

Dispõe sobre os programas de materiais didáticos e sua distribuição nas escolas, seus objetivos, suas diretrizes. Sendo os programas dispostos neste Decreto: Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE). No Capítulo IV dispõe sobre o procedimento para avaliação, seleção e aquisição de obras.

Resolução nº10,

10/03/2011 Altera a Resolução nº 60, de 20 de novembro de 2009, que dispõe sobre o PNLD para a Educação Básica, considera a necessidade de adaptação do material didático utilizado na fase de alfabetização, que passa a englobar o período do 1º ao 3º ano do ensino fundamental, conforme diretriz curricular do Conselho Nacional de Educação; considera a importância de reforçar a responsabilidade compartilhada com estados, Distrito Federal e municípios, com vistas aos ajustes na distribuição dos materiais às escolas participantes.

Fonte: EMMEL, 2011. Notas: 1 Adaptado parcialmente de FREITAG; MOTTA; COSTA, 1987 (O estado da arte do livro didático). 2 Dados extraídos do site: http://www.fnde.gov.br/index.php/pnld-legislacao.

Quadro 1: Decretos sobre o Livro Didático

O ano de 1930 pode ser considerado um marco, pois o livro didático é elaborado também pela busca por embasamento científico; “neste período desenvolve-se no Brasil uma política educacional consciente, progressista” (FREITAG; MOTTA; COSTA, 1987, p. 5).

“Os autores brasileiros, especializados na questão educacional, estavam pouco preocupados com a dimensão do livro didático, tanto que os poucos estudos existentes trataram o tema de modo parcial e fragmentário até 1980” (FREITAG; MOTTA; COSTA,

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1987, p. 10). O silenciamento de estudos sobre o livro didático também pode estar ligado a outros dilemas, como descrevem os próximos parágrafos.

“Parece não haver memória das políticas públicas desenvolvidas em relação ao livro didático” (FREITAG; MOTTA; COSTA, 1987, p. 10). Para os autores a importância dada pelo governo ao livro didático decorre da percepção de que é necessário compensar as desigualdades criadas por um sistema econômico e social injusto, com enormes discrepâncias socieconômicas entre ricos e pobres.

Cabe trazer Munakata (2000), que pesquisou as ideias de Anísio Teixeira sobre o livro didático. Segundo este autor, a ideia de treinamento para o trabalho, aliada à extensão do ensino a todos (ideais do Período da Escola Nova no Brasil), resultou, na prática, em um programa de menos educação a maior número de alunos. Como consequência disso, temos as lacunas na formação de professores, uma vez que, para Munakata (2000), quando surgiu o funcionamento da escola em vários turnos, tivemos a redução do dia escolar, como decorrência temos a redução do período de formação dos professores. Esta redução implicou na redução de componentes curriculares, ao passo que não temos disciplinas específicas e nem mesmo tempo de refletir durante a nossa formação sobre o livro didático.

Neste mesmo período histórico (escola-novista, no Brasil), nos países economicamente avançados a pesquisa científica e a crítica do livro didático já se encontravam perfeitamente institucionalizadas, redirecionando periodicamente o conteúdo e o uso do livro didático. Para Freitag; Motta; Costa (1987), no Brasil, a pesquisa sobre o livro didático e sua crítica limitaram-se por longas décadas; só muito recentemente (década de 1980) essa tendência vem sendo revertida, pela institucionalização e atuação decidida de algumas equipes de pesquisa.

Para Silva (2000), historicamente o livro didático apresenta teor ideológico, consequentemente reproduz o discurso oficial, com o aval das editoras que, com essa prática, desde as primeiras publicações, aliavam interesse comercial ao poder político. Com isso, conquistavam “os espaços abertos pela burocracia e pela incompetência do poder político” (SILVA, 2000, p. 25). Isso tudo permaneceu até 1945, quando uma nova ordem política impõe nova relação entre governo e governados; nesse mesmo ano o decreto nº 8.460 redimensiona as funções e hierarquias da Comissão Nacional do Livro Didático (CNLD).

Em 1966, um acordo entre o Ministério da Educação (MEC) e a Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID) permite a criação da Comissão do Livro Técnico e Livro Didático (COLTED), com o objetivo de coordenar as ações referentes à produção, edição e distribuição do livro didático (FREITAG; MOTTA; COSTA, 1987).

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Conforme os autores, o acordo assegurou ao MEC recursos suficientes para a distribuição gratuita de 51 milhões de livros no período de três anos. Ao garantir o financiamento do governo a partir de verbas públicas, o programa revestiu-se de caráter de continuidade (BRASIL, 2011).

Este convênio, envolvendo órgão internacional USAID, no Brasil de 1964 e 1968 (SILVA, 2000), evidencia que o país se sujeitou às determinações internacionais, principalmente norte-americanas, não tendo uma política educacional com raízes na sua realidade, favorecendo, de certa forma, o capital e os interesses estrangeiros. E, conforme Góes (1986) apud Silva (2000, p. 26), “essa interferência norte-americana na educação brasileira aparece camuflada de assistência técnica”. Outra análise possível é que, ao firmar convênio com editores de livros e assumindo compromisso de dar continuidade ao programa, estava favorecendo o lucro dessas editoras, deixando de lado e em segundo plano a preocupação maior, que é a qualidade dos livros e sua importância no processo educativo.

Este programa de implementação e distribuição de livros didáticos para as escolas brasileiras, criado pela COLTED, também teve critérios e princípios estabelecidos, que deviam ser seguidos nacionalmente, como se fosse possível universalizar a educação no Brasil desconsiderando as diferenças regionais (BALDISSERA, 1993).

Conforme Silva (2000), os programas da COLTED tiveram falhas operacionais, pelas quais uma rede de serviços privados se beneficiou do desvio de verbas destinados à elaboração, produção e distribuição de livros didáticos. A denúncia de corrupção envolvendo a COLTED resultou, em junho de 1971, na revogação do decreto que a criara. A partir daí, o livro didático passa a ser responsabilidade do Instituto Nacional do Livro Didático (INL) e da Fundação Nacional de Material Escolar (FENAME), até 1983, porém esta não conseguiu acabar com o desvio de verbas, por isso, também foi extinta. O INL passou a desenvolver o Programa do Livro Didático para o Ensino Fundamental (PLIDEF), que veio a se responsabilizar pelas atribuições da COLTED.

Xavier (1999) destaca, no Estado do Rio Grande do Sul, o Departamento de Estudos e Pesquisa Educacionais (DEPE), que realizou pesquisas em 1958 sobre a análise de material didático corrente, a publicação de manuais didáticos e a revisão de guias de ensino; ano este, em que o Estado de São Paulo também realizou pesquisas com a finalidade de investigar os conteúdos dos livros didáticos.

Uma década, que marca de forma expressiva a história do livro didático, é a década de 1970, com grande influência norte-americana em nosso país. É uma era tecnicista, com novos conceitos: imput, output, feedback, administração por objetivos, ensino por competências,

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entre outros, que obriga a uma revisão no modelo do livro didático; algumas mudanças, em face disso, começam a aparecer (SILVA, 2000). Os livros precisavam acompanhar os novos tempos da vida nacional, “mais precisamente adequar-se à nova estrutura técnica pedagógica e administrativa (por assim dizer) do currículo” (BALDISSERA, 1993, p. 18).

O Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) vem sendo financiado continuamente pelo Banco Mundial, que teve sua estruturação após a Segunda Guerra Mundial. Conforme Silva (2000), a razão de criação deste banco não foi apenas a hegemonia militar e econômica dos Estados Unidos, mas também a importância de este país imprimir sua direção política. O Banco Mundial, conforme o autor, é composto de três instituições vinculadas entre si: Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), Agência de Garantia de Investimentos Multilaterais (MIGA) e o Centro Internacional para Resolução de Disputas sobre Investimentos (ICSID).

O BIRD foi criado em 1944 para a reconstrução e desenvolvimento da Europa, destruída pela Segunda Guerra Mundial, levou recursos de países exportadores de petróleo aplicando a estes juros altos. A Agência Internacional de Desenvolvimento (AID) foi criada em 1960 para promover empréstimos a países pobres com isenção de impostos e tempo estimado de pagamento de 35 a 49 anos. A Corporação Financeira Internacional (CFI) foi um órgão criado em 1956 para respaldar empresas privadas em países em desenvolvimento assim como legalizar as manobras do BIRD. A MIGA é uma agência que ajuda os países que tem alto risco para atraírem mais investidores, e o ICSID atua sobre os investimentos com o controle e mecanismo de conciliação a países em desenvolvimento (FREITAG; MOTTA; COSTA, 1987, p. 20).

Segundo Silva (2000), a primeira intervenção do Banco Mundial sobre o Brasil na área da educação aconteceu no período de mandato do Presidente da República Eurico Gaspar Dutra (1946-1951), que amparou um acordo sobre a construção da Escola Técnica de Curitiba, no Estado do Paraná. A partir dos anos sessenta, o Banco Mundial transferiu da União Europeia seus interesses para a América Latina e África. Os primeiros momentos, restringiram-se a investimentos na área da infraestrutura e economia de base agrícola e de base industrial. Na década de 1970, voltou seus investimentos para a área social. Neste mesmo momento, ocorreu a criação do Fundo Monetário Internacional (FMI), que juntamente com o Banco Mundial arbitravam os investimentos e acordos ocorridos entre os países devedores e os bancos privados.

Silva (2000) traz que, em 1975, o Banco Mundial redefiniu sua política setorial educacional para as regiões em que pudesse legitimar-se sobre a pobreza, como uma instituição que combateria a miseria e reduziria o analfabetismo. Isto trouxe um princípio de que a educação é rentável, mas reconhece sempre que os recursos são escassos. Acrescentou,

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ainda, que a educação é um investimento a longo prazo e tem efeitos positivos na dimensão econômica, e, neste contexto, inseriu o Brasil na nova Política Educacional.

Para Silva (2000), nas décadas de oitenta e noventa, o Banco Mundial reformulou as estratégias sobre a educação primária pública, revigorando a privatização do ensino médio e superior no país, discutindo que o meio primário traria mais retornos. Nestes anos, houve uma política de enfoque setorial: educação básica, educação tecnológica, descentralização administrativa e financeira, redução de recursos financeiros, estreitamento do vínculo de emprego e educação. O principal acontecimento da década de 1990 mostra a verdadeira intenção de se sobrepor ao sistema educacional em todo o território, com o lançamento de um documento com políticas de sistema para a Educação Básica.

Passado o momento, o governo federal assume a política intervencionista do Banco Mundial, que, conforme Silva (2000), incluiu o próprio livro didático, com marketing e propaganda oficial. A visibilidade deste modo de agir ocorre pela subordinação do governo federal e dos estaduais às irredutíveis cláusulas contratuais, e na anuência desses governos em relação às contenções de investimentos públicos.

Em 1983, já havia sido criada a Fundação de Assistência ao Estudante (FAE), que passa a incorporar o Programa do Livro Didático do Ensino Fundamental (PLIDEF) (BRASIL, 2011). Em 1985, o PLIDEF dá lugar ao PNLD, que traz diversas mudanças, quanto à regulamentação da produção, distribuição e uso do livro didático. Em 1996, é iniciado o processo de avaliação pedagógica dos livros inscritos para o PNLD-1997. Esse procedimento foi aperfeiçoado, e continua sendo aplicado até hoje. Os livros que apresentam erros conceituais, indução a erros, desatualização, preconceito ou discriminação de qualquer tipo são excluídos do Guia de Escolha do Livro Didático (BRASIL, 2011).

Conforme Brasil (2011), no ano de 1996 é feita a publicação deste documento, que cria critérios de avaliação do livro didático (PNLD-1997). Em 1997, é extinta a FAE e é feita a transferência do PNLD para o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Em meados de 2007, é realizada a primeira avaliação dos dicionários distribuídos aos alunos do Ensino Fundamental, e em 2002 o MEC realiza a avaliação do livro didático em parceria com as universidades. Também neste ano o PNLD começou a atender de forma gradativa os alunos da 1ª à 8ª série, portadores de necessidades especiais, deficiência visual, com o livro no sistema Braile; já em 2006 são adquiridos dicionários enciclopédicos ilustrados trilíngues: língua brasileira de sinais/língua portuguesa/língua inglesa, aos alunos com deficiência auditiva que utilizam a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS).

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Em 2008 a distribuição de livros didáticos é para todos os componentes curriculares: alfabetização, matemática, língua portuguesa, geografia, história e ciências de 1ª, 5ª a 8ª séries e reposição e complementação aos alunos de 2ª a 4ª séries (BRASIL, 2011). Conforme Brasil (2011), em 2009 houve a aquisição de 114,8 milhões de livros didáticos para 36,6 milhões de alunos da educação básica pública, a partir de 2010, representando um investimento de R$ 622,3 milhões, ainda foram investidos R$ 18,8 milhões na compra de 2,8 milhões de obras do PNLD para a Alfabetização de Jovens e Adultos.

1.2 A PESQUISA SOBRE LIVRO DIDÁTICO NO BRASIL

A pesquisa sobre o livro didático no Brasil assume muitas interfaces, que por sua vez, podem ser tematizadas, com ênfase na “crítica ao livro didático, na crítica à crítica do livro didático e o que fazer com o livro didático” (GÜLLICH; PANSERA-DE-ARAÚJO; EMMEL, 2010), caminhos delineados neste item. Para reconhecer estas aproximações, foram necessárias pesquisas nos bancos de teses e dissertações em Educação de universidades brasileiras, nos estudos acerca do livro didático, bem como acessar bibliografias que apresentam estas três visões.

O Quadro 2 traz alguns dos autores e suas contribuições de referência para análise da história da pesquisa sobre o livro didático no Brasil. Saliento que a constituição desta deu-se após leituras e pesquisas em livros, bancos de dissertações e teses de universidades. Sei que existem inúmeros estudos e pesquisas, livros e periódicos; portanto, o quadro que segue não visa dados quantitativos, embora traga à tona a diversidade e história da pesquisa do livro didático.

Saliento que as produções descritas no quadro que segue podem delinear as interfaces da pesquisa sobre o livro didático. A apresentação destas em caráter descritivo da trajetória evolutiva permite delinear um caráter epistemológico para a pesquisa sobre o livro didático. Uma vez que as autorias presentes no quadro fazem interconexões de ideias.

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Ano/Autor/Produção Descrição/ideias e pesquisa

1981/Marisa

BONAZZI; Umberto ECO/Livro

Trazem, em suas análises e estudos sobre o livro didático, que estes livros contam

mentiras, educam os jovens para uma falsa realidade, são manuais para pequenos consumidores acríticos, para membros de uma maioria silenciosa, para seres indefinidos em miniaturas. Incita a crítica do livro didático, livro que, por usa

vez, reproduz um único modelo conservador e se enforma na fidelidade a seu desejo secreto: conservar o mesmo discurso, circulando sempre os eternos mitos. O/a professor/a mediante o livro torna-se submisso à ideologia curricular. Trata-se de um desejo paradoxal, porque a linha pedagógica mais sensata que parece prevalecer, junto aos mestres mais sensatos, é a de que não se façam mais livros

de texto.

1981/Maria de Lourdes Chagas Deiró

NOSELLA/Livro

Traz, em sua obra, um estudo empírico que contribui para uma análise acerca das ideologias presentes nos livros didáticos. Livros didáticos das quatro primeiras séries transmitem uma ideologia imposta pela classe dominante, como sendo a

única e verdadeira visão do mundo (NOSELLA, 1981, p. 13). O livro didático é

introduzido nas escolas com a função precípua de veicular a ideologia dominante, como sendo a única e verdadeira. Realiza análise dos conteúdos manifestos nos textos de leitura. A ação pedagógica desenvolvida na escola obriga os alunos a interiorizarem ensinamentos e princípios de maneira contínua e metódica, formando neles um habitus que permanece, mesmo quando cessa essa ação pedagógica.

1984/Ana Lúcia Goulart FARIA/Livro

Seu estudo evidencia o quanto o livro didático ignora a “classe operária”, traz ideias acerca da necessidade de um novo professor que conheça o conteúdo do livro didático, que perceba que o conteúdo apresentado é diferente da realidade de seus alunos. O livro didático é feito para a pequena burguesia assumir a ideologia burguesa, para que depois, continuando seus estudos, ela possa adquirir mais conhecimentos (FARIA, 1984, p. 76). Os livros didáticos atuam como difusores de preconceitos, onde o índio é visto como selvagem; concebem o trabalho de forma extra-histórica. A autora fundamenta seu estudo em Karl Marx, nos conceitos de ideologia, luta de classes e alienação.

1987/Freitag; Motta; Costa/Livro

O livro didático não tem uma história própria no Brasil, o que é comprovado ao consultarmos o endereço eletrônico do MEC, em que são encontradas apenas leis e decretos, desde 1930. Nesse sentido, é essencial interpretar essas leis à luz das mudanças estruturais como um todo, ocorridas na sociedade brasileira, desde o Estado Novo até hoje, para construirmos uma história reflexiva sobre o tema (p. 9). 1987/Olga

MOLINA/Livro.

Os professores não devem se deixar ser conduzidos pelos livros didáticos, por outros materiais didáticos e, em suma, pela tecnologia dos meios de comunicação. Quem conduz o curso é o professor, que deve estar estimulado a buscar suas próprias respostas. Quer ajudar a compreender o que está por trás do mercantilismo e da penetração fácil dos livros didáticos em nossas escolas. O professor é

praticamente empurrado ao uso inocente do LD. 1987/Myriam

KRASILCHIK/Livro.

Em seu estudo menciona a má qualidade dos livros didáticos, como constituidora de grande parte das deficiências no ensino de Ciências nas escolas. Há relações

estreitas entre os vários fatores analisados, na medida em que os livros são

elaborados de forma a atender às necessidades dos professores, procurando suprir

suas deficiências de formação e atenuar as difíceis condições de trabalho. Em

sua estrutura, servem muito mais a interesses comerciais do que a objetivos

educacionais de alto nível.

1990/CONSOLO, Douglas

Altamiro/Dissertação.

Com o tema: “O livro didático como insumo na aula de língua estrangeira (inglês) na escola pública”, faz uma análise dos livros didáticos de Língua Estrangeira, a

partir da teoria e das verificações junto à prática pedagógica existente nas escolas e com parâmetros de avaliação do processo de construção e fornecimento de insumo favorável à aprendizagem e, eventualmente à aquisição de uma Língua Estrangeira em cenário de ensino informal (CONSOLO, 1990, p. 5).

1992/Hilário

FRACALANZA/Tese. Este autor evidencia, em seu estudo, que a maior produção de trabalhos sobre o livro didático no Brasil se deu na primeira metade da década de 80, sendo que a maioria das produções tem origem nas instituições de Ensino Superior, nos programas de pós-graduação e pesquisadores a estes vinculados. Em sua tese de doutoramento, fez um estudo detalhado acerca das produções sobre o livro

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Ano/Autor/Produção Descrição/ideias e pesquisa

empiria do livro didático e, também, o número de produções por disciplinas e

ano de produção.

1993/José Alberto

BALDISSERA/Livro. Os livros didáticos devem ser analisados sob a perspectiva crítica, e não como repositórios de verdades únicas e incontestáveis. Os livros didáticos trazem

informações que, muitas vezes, o professor desconhece, mas tem a segurança do

pronto e sistematizado, um material que pode se valer para acalmar a

indisciplina da turma (o tradicional questionário “para nota”). O/a professor/a é

influenciado pelo livro didático e precisa fazer uma leitura crítica deste, de seus aspectos metodológicos e de seu conteúdo. Tais obras são insatisfatórias. 1993/Corinta Maria

Grisolia

GERALDI/Tese.

Analisa um processo de articulação ensino/pesquisa, desenvolvido no período de 1981 a 1992, com alunos do Curso de Pedagogia da Unicamp, em que se constitui a escola como objeto de estudo, configurando o processo analisado com um

trabalho coletivo de produção de saberes e conhecimentos construídos no tempo. Em suas análises no grupo de alunos, evidencia que o livro didático imprime direção ao processo pedagógico, baseada nestes dados é que Geraldi

(1993, p. 226) arrisca afirmar que o livro didático adota o professor e não o inverso. Para Geraldi (1993) os livros didáticos comandam o processo

pedagógico: o conteúdo e a forma de trabalhá-lo. Esta analise é relevante, uma

vez que vai além do conhecimento para atribuir significado à expropriação do

controle do processo pedagógico catalizado pela presença e uso do livro didático

1997/ BRITTO, Luiz

Percival Leme/Tese Sobre o tema: “A sombra do caos: ensino de língua x tradição gramatical”, mostra um enfoque ao livro didático, enquanto formador de opinião na sustentação de concepção de língua e do conceito de correção predominantes.

1997/REZENDE, Maria Aparecida da Silva/Dissertação.

Com o tema: “A prática de interação na escola: uma abordagem discursiva”, reflete sobre a interação dos textos na escola de Ensino Fundamental e modo como se configura, no campo do discurso do livro didático, o lugar do aluno-leitor, o sujeito interpretante da escola.

1999/FRAGA, Maria Cecília dos

Santos/Dissertação.

Evidenciou a relevância das instruções para as atividades didáticas da aula de língua estrangeira, sendo que o estudo também delineou traços do livro didático, dos alunos e dos/as professores/as que se configuram durante a construção da interação.

1999/CARMO, Sérgio Carnevale

do/Dissertação.

Com o tema: “O livro como recurso didático do futebol”, elaborou um protótipo de livro didático voltado para o ensino de futebol. Por ser pioneira na área de

educação física possibilita o aprofundamento das teorias apresentadas, sendo um trabalho que tem como objetivo o incentivo a produção literária voltada para o futebol (CARMO, 1999, p. 8).

2000/LOPES, Jairo de

Araújo/Tese. Estudo do livro didático de matemática, tendo em vista sua expressiva presença nas diversas manifestações da prática escolar, destacando e analisando algumas pesquisas sobre o livro didático de matemática, na ótica de pesquisadores, de alunos e professores. Analisa a possibilidade de o livro didático incorporar

indicadores de análise e abordagens metodológicas que nortearam o processo de seleção Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) 1999 (LOPES, 2000, p. 8).

2000/Rafael Moreira da

SILVA/Livro. É necessária a utilização de metodologias e recursos didáticos além dos limites do LD, que estimulem a capacidade criadora e o senso crítico dos professores.

Nem sempre a boa vontade do professor é suficiente para que ele possa prescindir o uso do LD, pois é a realidade social e educacional do país que praticamente o obriga a utilizar o LD em suas aulas. Questiona o livro didático e sua utilidade, seus perigos, sua ausência, ou mesmo a existência do livro didático como único

recurso didático para o aluno e para o professor. Um texto crítico que busca a verdade pedagógica, que quer ela venha à tona, requer materiais didáticos adequados.

2000/SANTOS, Wilton James Bernardo dos/Dissertação.

Realizou uma análise da relação sujeito/língua em documentos do ensino do português no Brasil, das posições construídas na linguagem da proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) e em livros didáticos.

2001/BARROS, Adelma das Neves Nunes/Dissertação.

Com o tema: “O silenciamento nas avaliações dos livros didáticos”, traz à tona a questão do “crivo” editorial pelo qual os autores passam, com pouca autonomia, para dizer e defender verdadeiramente sua posição. Parece que a censura do MEC

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Ano/Autor/Produção Descrição/ideias e pesquisa

dizeres que poderiam vir a ser alvo de interpretações preconceituosas (BARROS,

2001, p.118). 2002/DELIZOICOV, Demétrio; PERNAMBUCO, Marta Maria; ANGOTTI, José André/Livro.

Refere-se ao livro da seguinte forma: a questão do livro didático. Traz que a

avaliação que atualmente vem sendo feita dos livros didáticos caracteriza-se como

parte de um movimento histórico. Os estudos contribuem de maneira significativa

para a formação do professor e o uso crítico deste recurso, afirmam que a

produção que tem como objeto de pesquisa o livro didático é bastante intensa. 2003/BUENO, João

Batista

Gonçalves/Dissertação.

Análise das diferentes práticas de leitura iconográfica indicadas pelos livros didáticos de História, que buscam propor, a professores e alunos, formas de leituras de imagens como documento histórico e que podem ser aplicadas no meio escolar. 2003/ LEÃO, Flávia de

Barros

Ferreira/Dissertação.

Discute os Documentos de Avaliação de Livros Didáticos de Ciências de 1ª a 4ª séries do ensino fundamental produzidos no Plano Nacional de Livro Didático (PNLD), buscando identificar que elementos do ensino de Ciências e características do livro didático foram considerados com maior relevância nestes programas. A autora observou também que poucos são os livros avaliados positivamente pelos Guias do MEC, o que denota a má qualidade do livro didático de Ciências no Brasil, ao mesmo tempo em que restringe substancialmente a escolha dos professores do ensino.

2004/Sandra Escovedo SELLES; Marcia Serra FERREIRA/Artigo.

No trabalho cotidiano, os professores descobrem nos livros não somente os

conteúdos a serem ensinados, mas também uma proposta pedagógica que passa a

influenciar de modo decisivo a ação professor (SELLES; FERREIRA, 2004, p.

4). Por fim, na dimensão que se relaciona à formação docente, as mesmas autoras percebem que os livros didáticos interpõem-se em um caminho que vai da

universidade à escola, sendo tacitamente aceitos como substitutivos de uma

formação mais sólida. Como consequência desse processo, tais materiais tornam-se “acriticamente recomendados” (SELLES; FERREIRA, 2004). É significativa a

investigação do livro didático como objeto histórico, trazendo conclusões

importantes para a construção do livro como objeto cultural didático e como

produtor de cultura escolar. A necessidade de novos estudos que pretendam

constituir caminhos formativos que problematizem tanto a seleção e organização dos diversos conteúdos quanto a utilização e reflexão acerca do enredo apresentado nos diversos materiais curriculares (SELLES; FERREIRA, 2004).

2004/ RODRIGUES, Telma

Rubiane/Dissertação.

Pretendeu, a partir do cruzamento da análise dos livros didáticos, defender a hipótese de que o discurso escolar, representado pelo livro didático, está tão imbricado aos outros discursos que circulam na sociedade, que se faz

inevitavelmente presente nos discursos de escolarizados e de não-escolarizados. 2004/DIAS,

Mariângela

Floriano/Dissertação.

Investigou a respeito do funcionamento do discurso da globalização no interior do livro didático de Espanhol como Língua Estrangeira. Por mais que o discurso

pedagógico tente negar o discurso da globalização, esse já está lá, embora mascarado por meio de estratégias lingüístico-discursivas (DIAS, 2004, p. 152).

2004/OLIVEIRA, Paulo Roberto Vieira/Dissertação.

Identifica como a cidadania se apresenta nos livros didáticos de Matemática. Seus resultados sugerem que alguns temas relevantes para a sociedade são passíveis de discussão no âmbito da Educação Matemática, mas não estão no livro didático de Matemática.

2005/COÊLHO, Marciele

Nazaré/Dissertação.

Estudou acerca da inserção de crianças negras e angolanas em uma escola pública, nas quatro primeiras séries do Ensino Fundamental, a partir de atividades dos livros didáticos.

2005/SOBREIRA, Paulo Henrique Azevedo/Tese.

Analisou a presença da cosmografia geográfica na Geografia brasileira, para se estabelecer um conjunto mínimo inovador de temas cosmográficos para se ensinar Geografia, de acordo com o que se pode examinar em livros didáticos nacionais e estrangeiros de cosmografia entre 1845-1971, em livros didáticos brasileiros de Geografia nos Ensinos Fundamental e Médio, aprovados no PNLD 2002 e dos Programas de Astronomia ou Cosmografia dos Cursos Superiores de Geografia no Brasil.

2005/BRANCO, Raynette

Castello/Dissertação.

Desenvolveu seu estudo com base na análise de conteúdo dos livros didáticos de História do Brasil para o Ensino Fundamental, indicados pelo MEC para serem adotados em escola da rede pública estadual de ensino, na cidade do Recife, Pernambuco. Em alguns livros analisados a história da África e dos africanos,

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Ano/Autor/Produção Descrição/ideias e pesquisa

deverá ser substituída por novos autores comprometidos com uma grande responsabilidade: a de colocar o negro como construtor da nação e da sociedade brasileira, tirando-o de uma exclusão cruel e discriminatória.

2005/BUNZEN JÚNIOR, Clecio dos Santos/Dissertação.

Discute a possibilidade de estudar, no campo da Linguística Aplicada, o livro didático de Língua Portuguesa, como um gênero do discurso. Com o enfoque na produção de texto, procurou compreender como tais práticas e objetos de ensino, construídos sócio-historicamente e legitimados culturalmente, estão interligados discursivamente para formar um objeto cultural complexo.

2005/FARICELLI, Marilu de

Freitas/Dissertação.

Analisa os livros didáticos de História dirigidos às quatro últimas séries do Ensino Fundamental, buscando desnaturalizar os métodos de aprendizagem ao longo da História, relacionando-os a escolhas feitas a partir de necessidades e finalidades consideradas prioritárias na formação dos estudantes. A análise realizada pela autora demonstrou que vivemos num momento em que métodos sugeridos para a aprendizagem de História estão sendo modificados.

2005/MENDES, Adelma das Neves Nunes Barros/Tese.

Analisa o discurso apresentado nos livros didáticos de Língua Portuguesa quanto à linguagem oral, que se embasa no novo lugar dado à linguagem oral no ensino-aprendizagem de língua materna. O trabalho verifica que os livros didáticos de Língua Portuguesa não apresentam um discurso monológico, de seus autores, mas estão dialogando com os novos paradigmas de ensino da Língua Portuguesa, com os documentos oficiais Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e com as orientações sucessivas do PNLD.

2006/COSTA, Débora Amorin Gomes da/Dissertação.

Analisa as propostas didáticas para o ensino da linguagem oral em duas coleções de livros didáticos recomendados pelo PNLD 2004, realizando uma análise temática de conteúdo. Em seu estudo, Costa (2006) considera que ainda há um percurso a ser construído no sentido de efetivar o trabalho com a oralidade em sala de aula como eixo do ensino de língua portuguesa, sobretudo no que concerne ao livro didático de Língua Portuguesa.

2006/FERNANDES,

Gizelle/Tese. Pesquisa histórica em torno do ensino de textos na escola brasileira, tem como objeto central de análise um livro escolar publicado no Rio de Janeiro em 1983. Seu estudo vai à busca de entendimento sobre a tradição do método de ensino seguido pela ordem dos jesuítas e que representa algo do que seria o ensino de escrita nos séculos XVI e XVII; posteriormente a autora faz considerações sobre a orientação pombalina para o ensino de retórica e de Língua Portuguesa.

2006/GALATTI, Larissa

Rafaela/Dissertação.

Propõe a elaboração de um livro didático que contribua para a aprendizagem em Jogos Esportivos Coletivos (JECs), em teoria e prática. Sendo que em sua dissertação de mestrado, realiza um estudo na perspectiva de que o livro didático seja um recurso agregado à prática docente e não um determinante da mesma. 2006/Hilário

FRACALANZA; Jorge MEGID-NETO/Livro.

Refletem acerca dos caminhos do livro didático, remetendo-se a diversas pesquisas feitas com grupos de professores acerca do uso do livro didático e buscando a reflexão de alternativas para o uso do livro didático “a partir: da realidade das escolas onde atua; da sua experiência profissional; das vivências e do contexto sociocultural de seus alunos; e das ocorrências do processo de ensino-aprendizagem que permitam avaliar os resultados parciais de seu trabalho docente e implementar as mudanças necessárias e adequadas” (p. 167).

2006/SILVA (a), Wagner

Rodrigues/Tese.

Permitiram identificar categorias na função de exercícios de práticas escolares de linguagem (leitura, produção textual e análise linguística) nos livros didáticos, na construção de alunos como aprendizes de leitura e de escrita.

2006/SILVA (b), Vitória

Rodrigues/Tese.

Tendo os livros didáticos como fonte de investigação e a História das disciplinas como perspectiva de análise, analisa as concepções de História e de seu ensino presentes nos livros didáticos destinados ao Ensino Médio, líderes de venda no Brasil, Argentina e México no inicio do ano 2000. Com seu estudo demonstrou que os livros didáticos mexicanos, brasileiros e argentinos analisados denotam práticas bastante distintas no ensino de História.

2006/TURINI, Leide Divina Alvarenga Turini/Tese.

Fez um balanço historiográfico da pesquisa que elegeu o tempo histórico no ensino

de História como objeto de investigação na década passada. Suas pesquisas

revelaram que o objeto tempo histórico se constitui com base em diferentes possibilidades de investigação, seja na perspectiva de se apreender como os alunos compreendem, desenvolvem e/ou representam noções temporais, seja na

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Ano/Autor/Produção Descrição/ideias e pesquisa

nas propostas curriculares, na formação e nas representações dos professores, bem como no livro didático de História.

2006/MARTINS, Isabel/Artigo em Revista

Aponta para a necessidade de considerar o livro didático como artefato cultural, cujos textos, híbridos, genéricos e semióticos, são atravessados por diversas formações discursivas, materializando o discurso sobre ciência na escola e mediando interações entre sujeitos, autores e leitores, implícitos e empíricos. Um novo olhar para o livro didático permite avançar para além da constatação de erros conceituais, elaborar reflexões que relacionam diferentes dimensões relevantes do ensino das ciências, tais como linguagem e ensino de ciências, currículos,

avaliação, objetivos para o ensino de ciências, formação de professores etc. Aponta questões que podem se constituir numa agenda para futuras pesquisas na área, entre elas a necessidade de estudos sobre a história cultural do livro didático de ciências, seus formatos de apresentação gráfica e suas práticas de leitura.

2007/ANDRADE FILHO, Dari Alberto de/Dissertação.

Analisa livros didáticos de História escritos entre os anos de 1990 a 2004, que versem a respeito dos Estados Unidos. O autor buscou compreender de que forma os livros didáticos escritos no contexto tratado sofreram influências das políticas públicas nos anos 90.

2007/FRANZOLIN,

Fernanda/Dissertação. Analisa os livros didáticos de Ciências no Ensino Fundamental e livros de Biologia no Ensino Médio, verificando a distância que mantêm do conhecimento de referência. Para análise de conteúdo, foram usadas duas categorias: o

distanciamento vertical e o horizontal. 2007/Alice Casimiro

LOPES/Livro. Repensar o lugar do livro didático nas políticas de currículo a partir da retirada de sua característica de didático, tornando a incluí-lo no conjunto de todos os demais livros. Didáticas, curriculares e, portanto, pedagógicas devem ser as ações e as práticas desenvolvidas com os livros por professores e alunos. Nessa perspectiva, os livros poderão ser pensados como produções culturais que façam sentido para além dos limites da ação pedagógica: se são importantes, são textos para a vida inteira, mesmo que seu conteúdo deva ser questionado na produção intersubjetiva feita através dele. É pertinente entender o livro como um texto curricular que reinterpreta sentidos e significados de múltiplos contextos e que constitui uma produção cultural a se efetivar nas diferentes leituras realizadas no espaço escolar (LOPES, 2007, p. 215).

2007/NEMI NETO,

João/Dissertação. Traz discussões a respeito dos gêneros narrativos ficcionais nas escolas hoje, dos livros didáticos, aprovados pelo PNLD 2005. Busca em seu estudo conceituar gêneros do discurso e tipos de textos.

2007/PAGLIARINI, Cassiano

Rezende/Dissertação.

Pesquisa a presença da formação científica humanística, nos livros didáticos, dada sua grande influência no ensino, já que assume um papel crucial na educação. O trabalho analisa como a História da Ciência é apresentada por alguns dos mais populares livros didáticos de Física para o Ensino Médio no Brasil, bem como as concepções sobre a natureza da ciência envolvidas nestas narrativas históricas. 2008/BITTENCOURT,

Circe/Livro.

Pensa o livro didático de forma ampla, acompanhando os movimentos que vão da sua concepção à sua utilização em sala de aula, faz uma reflexão sobre o papel do livro didático na construção do saber escolar que, por sua natureza, deve

necessariamente ser considerada em um conjunto mais geral no qual aspectos sociais, culturais, políticos e econômicos se articulam, conferindo-lhe dimensão específica. Para esta autora, o livro didático, pelo seu caráter de mercadoria inserido na lógica da indústria cultural, tem sido mais objeto de vulgarização do

conhecimento do que divulgador de um saber capaz de auxiliar os alunos em seu processo de domínio de leituras críticas e autônomas.

2008/GALVÃO, Ana Maria de Oliveira; BATISTA, Antonio Augusto Gomes/Artigo em Livro.

Analisam o processo de produção do conhecimento histórico através de manuais didáticos. Apontam que a produção brasileira sobre manuais escolares concentra sua atenção nos conteúdos dos livros, em detrimento do conjunto dos

procedimentos discursivos dos quais esses conteúdos fazem parte, das dimensões técnicas, econômicas e escolares que condicionam esses procedimentos, bem como dos processos de apropriação desses conteúdos em práticas efetivas de leitura. 2008/BATISTA,

Antonio A.; ROJO, Roxane; ZÚÑIGA, Nora C./Artigo Livro.

Examinam o comportamento dos seguintes elementos da produção editorial nos PNLD 1999 e 2002. Estranham a carência de estudos a respeito de como se organiza e movimenta o parque editorial brasileiro no que tange ao livro escolar.

Referências

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