• Nenhum resultado encontrado

Os samaritanos: um enigma na história bíblica

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Os samaritanos: um enigma na história bíblica"

Copied!
24
0
0

Texto

(1)

Os Samaritanos:

U m enigma na História Bíblica

U m dos m u i t o s p r o b l e m a s da história bíblica q u e até h o j e ainda n ã o foi t o t a l m e n t e esclarecido diz respeito aos Samaritanos, às suas origens e ao seu r e l a c i o n a m e n t o c o m o u t r o s g r u p o s d e n t r o d o j a v i s m o , m o r m e n t e c o m os J u d e u s . O interesse desta questão n ã o

se limita apenas ao j u d a í s m o , m a s diz respeito t a m b é m ao cristia-nismo, j á q u e o N T é fértil e m alusões aos samaritanos e a Igreja p r i m i t i v a e n c o n t r o u aí u m b o m espaço de a c o l h i m e n t o .

A o r i g e m e i d e n t i d a d e dos samaritanos n ã o se a p r e s e n t a m b e m definidas n o A T ; os textos c o n o t a d o s c o m esta p r o b l e m á t i c a n ã o são claros e os elementos extra-bíblicos q u e h o j e p o s s u í m o s sobre a matéria t a m b é m n ã o c h e g a m a i l u m i n a r a questão e m t o d a a sua a m p l i t u d e . Sucede aqui a l g o q u e é c o m u m a m u i t o s o u t r o s e n i g m a s da historiografia bíblica: os i n f o r m e s de carácter histórico q u e a Bíblia nos oferece, especialmente as tradições q u e r e m o n t a m a u m p e r í o d o antigo, d e v e m ser considerados e analisados t e n d o e m c o n t a a perspectiva teológica q u e lhes serve d e q u a d r o d e f u n d o e a situação concreta da época e m q u e os textos f o r a m redigidos.

Isto v e m a p r o p ó s i t o da p e r í c o p e d e 2 R e 17, 24-41 q u e é apresentada, e m a l g u m a s traduções b í b l i c a s1, para justificar a o r i g e m

dos samaritanos na sequência da q u e d a d o r e i n o d o N o r t e (Samaria) e m 722/21 às m ã o s de Salmanasar V e Sargão II. E f e c t i v a m e n t e , há aí a l g u m a s alusões ao p r o b l e m a e m si, m a s n a d a se diz d e concreto sobre a o r i g e m e a p r o b l e m á t i c a dos samaritanos e as r e f e

-rências mais directas encontrá-las-emos nos livros d o pós-exílio,

1 Caso concreto é o da Bíblia de Jerusalém b e m c o m o da T O B e m nota explicativa no rodapé.

X V (1985) 4

(2)

especialmente e m Esdras e N e e m i a s e e m o u t r o s escritos e x t r a --bíblicos.

N ó s a b o r d a r e m o s este t e m a r e c o r r e n d o às diversas fontes q u e possuímos e p o n d o e m c o n f r o n t o os diferentes dados recolhidos, s e m n o e n t a n t o , d e s c u r a r m o s a perspectiva teológica que está na base d o p r ó p r i o p r o b l e m a , tal c o m o é realçado c m certa literatura sobre o a s s u n t o2.

1. 2 R e 17,24-41: Origem dos samaritanos?

Este t e x t o t e m e f e c t i v a m e n t e u m a i m p o r t â n c i a f u n d a m e n t a l para a c o m p r e e n s ã o deste p r o b l e m a , n ã o t a n t o pelos e l e m e n t o s concretos q u e n o s oferece, m a s especialmente p e l o q u a d r o de f u n d o da situação q u e aí é traçada e p o r constituir a única alusão clara e explícita aos samaritanos n o â m b i t o d o A T . 2 R e 17 t e m c o m o o b j e c t i v o , antes d e mais, apresentar u m a explicação teológica para a q u e d a d o r e i n o d o N o r t e e a d e p o r t a ç ã o dos seus habitantes. O m o t i v o v e m clara-m e n t e expresso n o s v v . 7-12: a idolatria. E clara-m seguida, o h a g i ó g r a f o c h a m a a atenção d e J u d á , r e i n o d o Sul, para q u e n ã o siga os m e s m o s c a m i n h o s , p r e p a r a n d o desta f o r m a o p o v o para o castigo i m i n e n t e q u e J a v é p o d e fazer cair sobre ele (v. 19).

E m 2 R e 17,34ss t e m o s u m a situação t o t a l m e n t e diferente, cuja finalidade é m o s t r a r o carácter sincretista da p o p u l a ç ã o d o N o r t e . O t e x t o divide-se assim e m duas partes b e m distintas, t a n t o na sua t e m á t i c a c o m o n o o b j e c t i v o q u e e s c o n d e m .

l . ' - 2 R e 17,1-23 2.» — 2 R e 17,24-41

vv. 1-6: Situação histórica dos acontecimentos;

vv. 25-28+32: Situação histó-rica com referência directa aos estran-geiros que são «irrtportados» para povoar a Samaria e às suas práticas sin-cretistas;

7-18 + 20-23: «Teologia deuterono-mista» sobre as causas da destruição do reino do Norte;

2 Destacamos especialmente a obra de D . E. GOWAN, Bridge between the Testaments. A Reappraisal of Judaism from the Exile to the Birth of Christianity, Pittsburgh 19802, 163-177.

(3)

o s S A M A R I T A N O S : U M ENIGMA N A HISTÓRIA BÍBLICA 51

. 29-31 + 34-40: Condenação da ido-| latria feita segundo 19: Advertência a Judá para que • os parâmetros da

não siga os mesmos caminhos. ] teologia deutero-) nomista;

Concluindo, facilmente se • pode constatar que tudo isto se ] apresenta como uma consequên- • cia da divisão do reino de David \

por Jeroboam (v. 21). (

33 + 41: Conclusão.

N o v. 29 temos a única referência explícita aos samaritanos (Shorn-rotiím).

Esta alusão (vv. 29 e 32) aos t e m p l o s q u e eles t e r i a m c o n s t r u í d o nos «Altos» é a p o n t a d a c o m o f u n d a m e n t o para dizer q u e aqui se situa a o r i g e m histórica dos samaritanos. P o r é m , u m a p e r g u n t a se i m p õ e : q u e m são afinal esses samaritanos?

D e p o i s d e elencar os vários p o v o s estrangeiros trazidos p e l o rei da Assíria para habitar as cidades da Samaria e d e referir as diferentes divindades veneradas p o r estes, a alusão aos samaritanos (aliás b e m definida p e l o artigo: hasshomronim) aparece aqui d e p a s s a g e m e é e m t u d o secundária n o c o n t e x t o , p e l o q u e f a c i l m e n t e leva a c o n c l u i r q u e se trata d u m a a j u n t a p o s t e r i o r .

P o r o u t r o lado, o r e d a c t o r final d o t e x t o dá p r o v a s d u m a certa dificuldade na conciliação das diversas f o n t e s o u tradições q u e ser-v i r a m de base à sua redacção. E x e m p l o s disso são os ser-v ser-v . 32 e 34:

v. 32: yereim 'et yehwah — «Tementes ( v e n e r a v a m ) a Javé». v. 34: 'inani yere'tm 'et yehwah — «Não e r a m t e m e n t e s (não

v e n e r a v a m ) a Javé» 3.

O carácter concordantista d o t e x t o v e m ao d e c i m a e m 2 R e 17,41, p r e c i s a m e n t e n o versículo q u e lhe serve de síntese, r e t o m a n d o e m j e i t o de r e f r ã o o v. 33:

'et yehwah hayü yere'ím w'et 'elohêhen hayâ 'obdim—«Eram t e m e n

-tes a J a v é e serviam aos seus deuses (ídolos)».

3 Esta contradição não passou despercebida aos autores da tradução grega dos Setenta (LXX), os quais sentiram a necessidade de eliminar a negação do versículo 34, fazendo-o concordar com os demais.

(4)

Estes e o u t r o s versículos m o s t r a m - n o s b e m que o t e x t o é c o m p l e x o , f r u t o talvez d e diversas fontes q u e o a u t o r p r o c u r o u h a r m o n i z a r e m f u n ç ã o d u m o b j e c t i v o final q u e se p r o p u n h a atingir, r e c o r r e n d o a u m a explicação d e carácter etiológico b e m e v i d e n t e na frase 'ad haiiôm hazzeh (até aos nossos dias, até hoje) q u e se e n c o n -tra nos v v . q u e f a z e m d e -transição e q u e d ã o sequência ao l o n g o d o discurso: v v . 23.24 e 4 1 4.

A l é m disso, e m 2 R e 17,28 t e m o s a recordação d o santuário d e Betei q u e J e r o b o a m t i n h a m a n d a d o construir a fim de i m p e d i r q u e o p o v o d o seu r e i n o continuasse a subir a J e r u s a l é m para aí prestar c u l t o a J a v é5. Esta alusão a o t e m p l o de Betei p o d e ser u m

indício da luta e m p r o l da unicidade cultual exercida, c o m o sabemos, p e l o a l t o clero de J e r u s a l é m e pela teologia d e u t e r o n o m i s t a6, a qual

se reforçará n o p e r í o d o d o pós-exílio, especialmente j á n o t e m p o dos M a c a b e u s .

T e m o s assim q u e esta passagem (2 R e 17,24-41) e n u m e r a u m a série d e p o v o s trazidos de f o r a c o m seus ídolos, p o n d o e m evidência o f a c t o dos cultos idolátricos t e r e m sido m i s t u r a d o s c o m o de J a v é e a p l u r a l i d a d e dos santuários estabelecidos nos «Altos» (bêt habbamôt — v . 29). E m b o r a os samaritanos e o seu sacerdócio sejam aí referidos, n ã o h á u m a c o n d e n a ç ã o explícita acerca deles; o m e s m o acontece c o m Betei. O u t r o t a n t o n ã o sucede j á e m relação aos cultos i d o l á -tricos i m p o r t a d o s pelos n o v o s habitantes da terra. Estes é q u e são e x p l i c i t a m e n t e c o n d e n a d o s p e l o seu sincretismo religioso, j á que ao c u l t o d e J a v é j u n t a r a m i g u a l m e n t e o culto dos seus ídolos. P o r é m , n ã o se diz q u e os habitantes nativos, os samaritanos, fossem idólatras;

4 Segundo M . COGAN, «Israel iu Exile — T h e View of Josianic Historian», JBL 97(1978) 40-44, temos aqui u m belo exemplo do processo chamado Wiederaufnahme, isto é, um tema que vem r e t o m a d o mediante uma expressão que faz a ligação com o que antes fora dito. Neste caso, trata-se da passagem d o v. 23 ao 24 (fim da 1." parte), o início do 34 (depois da 1." conclusão do v. 33) e n o fim c o m o síntese do capítulo, abrindo assim o caminho para u m a condenação permanente dos samaritanos.

5 1 R e 12,29-33; 1 R e 13; A m 7,10ss são m u i t o duros na condenação que fazem já do altar de Betel e d o sacerdócio não legítimo aí instalado. O nosso texto de 2 R e 17 não faz mais do que retomar tais condenações n o seu espírito, sem, no entanto, condenar Betei c o m o tal.

6 Betei não é o único santuário de culto javista alem de Jerusalém; temos vários na diáspora, especialmente n o Egipto: Elefantina, Leontópolis; 'Araq-el-'Einir na Transjor-dânia e, possivelmente, u m templo essênio e m Q u m r ã n . Ora, sobre estes nada se diz n o A T e m sentido de condenação. Isto pode ser u m indício que a condenação de Betei se inscreve n u m quadro de luta posterior entre Jerusalém e o t e m p o do monte Garizim (Jo 4,20). A teologia deuteronomista (Dt 12,11.14.18) em que se baseiam os redactores d o Livro dos Reis foca com particular insistência esta unicidade cultual, previligiando Jeru-salém e m detrimento de todos os restantes lugares de culto.

(5)

o s S A M A R I T A N O S : U M E N I G M A N A HISTÓRIA BÍBLICA 53

apenas se a p o n t a m os santuários construídos p o r estes nos «Altos», o q u e deixa e n t e n d e r q u e eles ainda se e n c o n t r a v a m na órbita da fé javista, e m b o r a n ã o respeitassem a u n i c i d a d e cultual.

2. Perspectivas teológicas de 2 Re 17,24-41

A análise estrutural d o t e x t o feita antes m o s t r a - n o s q u e este resulta da h a r m o n i z a ç ã o de, p e l o m e n o s , duas fontes q u e o r e d a c t o r final leva a c a b o através d u m processo d e « W i e d e r a u f n a h m e » c o m a frase 'ad haiiotn hazzeh (vv. 23.34.41). A p r i m e i r a dessas f o n t e s (vv. 2 5 - 2 8 + 3 3 ) e n g l o b a as tradições centradas e m Betei e q u e f o r a m s e m p r e o b j e c t o de repulsa e c o n d e n a ç ã o dos círculos sacerdotais e deuteronomistas de J e r u s a l é m1.

A razão desta c o n d e n a ç ã o assenta, basicamente, n o p r ó p r i o cisma político a o t e m p o d e J e r o b o a m e suas consequências religiosas, e n t r e as quais se conta a construção d o santuário d e Betei p a r a rivalizar c o m o d e J e r u s a l é m8 e assim i m p e d i r q u e o p o v o continuasse a

subir a Sião.

A segunda f o n t e (vv. 29-31 + 34-40), p o r sua vez, vai directa-m e n t e contra os estrangeiros trazidos para h a b i t a r a Sadirecta-maria e q u e a c a b a m p o r m i s t u r a r os seus cultos idolátricos c o m o d e J a v é9.

A c o n d e n a ç ã o q u e aqui é expressa n ã o e n g l o b a apenas os estrangeiros vindos n o t e m p o dos reis assírios, m a s t a m b é m os posteriores da época persiana e helenística e apresenta-se c o m o u m processo lógico n o crescente a n t a g o n i s m o J e r u s a l é m - S a m a r i a , b e m evidente n o p e r í o d o d o p ó s - e x í l i o1 0.

A c o n d e n a ç ã o destas práticas sincretistas é posta e m evidência n o contraste q u e o discurso d e u t e r o n o m i s t a da 3.a p a r t e d o t e x t o

7 C f r . M . COGIN, «The Old Testament and Samaritan Origins», ASTI 6 (1967-68) 41. 8 O cisma religiosa (1 R e 12,26-33) que se segue à divisão administrativa d o reino tem uma conotação essencialmente política c o seu objectivo fundamental é de consumar essa divisão; mais do que um cisma dentro do javismo, podemos falar d u m cisma cultual que não será facilmente esquecido pelas escolas teológicas de Jerusalém, m e s m o nos séculos posteriores.

9 Este processo repete-se frequentemente ao longo da história bíblica, j á que os estrangeiros, especialmente os casamentos com estrangeiros, m o t i v a m o culto idolátrico, o que sucedera j á com Salomão (1 R e 11,1-13) e mais tarde c o m Neemias que t e m de dissolver tais matrimónios (13,23ss).

1 0 Segundo J. H . HAYES-J. M . MIIAER, Israelite and Judaean History, L o n d o n 1977, 511ss, tal antagonismo assenta mais em motivações políticas do que religiosas, especialmente devido ao facto da Judeia vir a ser elevada à categoria administrativa de província, o que não agradava às autoridades estabelecidas em Samaria que viam nisso uma redução dos seus poderes (Ne 2,19; 4,lss; 6,1ss; Esd 4,1-23).

(6)

(vv. 34ss) faz e n t r e os preceitos de J a v é e o p r o c e d i m e n t o dos h a b i t a n -tes d o N o r t e . C o m o j á an-tes n o t a m o s , o t e x t o apenas alude u m a vez, q u e é t a m b é m a única e m t o d o o A T , aos samaritanos, c h a m a n d o - o s p e l o seu v e r d a d e i r o n o m e , j á q u e a tradição j u d a i c a p o s t e r i o r c h a m a - l h e s «Kutim» ( d e r i v a d o da cidade de K u t a , v v . 24 e 30), p o n d o assim e m destaque a sua p r o v e n i ê n c i a e s t r a n g e i r a1 1.

Face a este c o n t e x t o , p o d e - s e f a c i l m e n t e deduzir que o objectivo d e 2 R e 17,24-41 n ã o é m o s t r a r a o r i g e m dos samaritanos e n q u a n t o e n t i d a d e b e m definida, mas antes oferecer-nos u m a explicação de carácter t e o l ó g i c o sobre a p o l é m i c a q u e o p õ e o j a v i s m o o r t o d o x o ao g r u p o sincretista d o n o r t e , o qual foi a d q u i r i n d o p o u c o a p o u c o a sua i d e n t i d a d e p r ó p r i a . N o e n t a n t o , i m p o r t a ter e m m e n t e q u e a c o n d e n a ç ã o aí f o r m u l a d a é o resultado d u m a luta de séculos, luta essa q u e apenas se p o d e c o m p r e e n d e r se a situamos n o p e r í o d o persa q u e se segue ao regresso da Babilónia a q u a n d o das grandes r e f o r m a s levadas a c a b o p o r Esdras e N e c m i a s1 2 • E f u n d a m e n t a l

-m e n t e nos livros destes dois p e r s o n a g e n s q u e se e n c o n t r a -m os dados mais significativos sobre o p r o b l e m a e é na sequência dos factos aí descritos q u e se vai a c e n t u a n d o o fosso e n t r e J e r u s a l é m e Samaria, fosso esse q u e e n c o n t r a as suas origens n u m p e r í o d o r e m o t o da história d e Israel. Assim, o nosso t e x t o parece ser mais a expli-cação teológica d u m a realidade p o s t e r i o r d o q u e a narração histórica dos a c o n t e c i m e n t o s passados na época da colonização assíria.

3. Contributo de Esdras e Neemias

O p e r í o d o d o pósexílio revestese d u m a i m p o r t â n c i a e x t r a o r d i -nária na f o r m a ç ã o e orientação d o j u d a í s m o posterior. Dessa época e ligados a u m a tal tarefa estão dois n o m e s q u e c i m e n t a r a m os alicerces da c o m u n i d a d e j u d a i d a de Jerusalém: Esdras e N e e m i a s1 3.

11 A literatura rabfnica ocupa-se dos problemas dos samaritanos, dedicando-lhe u m dos chamados Massektoth Ketanoth (Tratados Menores do Talmud) com o título dc Kutim, onde se expõe as relações entre judeus e samaritanos.

1 2 Efectivamente não faz sentido que u m a tal condenação seja formulada na época histórica que parece estar subjacente ao texto (séc. vn), altura e m que o sincretismo religioso era coisa corrente n o sul, caso dos reis Manassés e A m o n (2 R e 21). Aliás, o monoteísmo javista é f r u t o d u m a longa luta dos profetas e da experiência dolorosa do exílio e só

depois se vem a i m p o r definitivamente.

1 3 N ó s seguimos aqui a o r d e m habitual, embora os dados cronológicos dc que hoje dispomos, inclusive os contidos nas obras dos dois chefes da comunidade, mostrem que a obra de Neemias procede a de Esdras (Ne 1,1; Eds 7,7s), consolidando este no aspecto

(7)

os S A M A R I T A N O S : U M E N I G M A N A HISTÓRIA BÍBLICA 55

É difícil delimitar c l a r a m e n t e a sua o b r a e as suas atribuições espe-cíficas. Esdras é apresentado c o m o escriba (Esd 7,6) e secretário da Lei d o D e u s d o C é u (7,12). N e e m i a s , p o r sua vez, é c h a m a d o g o v e r n a d o r ( N e 8,9; 10,2: Hattirshata; e m 12,26: Happechah). E m b o r a sejam difíceis d e definir, as f u n ç õ e s de Esdras a s s u m e m u m carácter mais nacionalista e religioso, e n q u a n t o q u e as d e N e e m i a s são d e natureza a d m i n i s t r a t i v a e ligadas à reconstrução de J e r u s a l é m1 4.

O r a , são estes dois personagens q u e irão c o n t r i b u i r , de f o r m a definitiva, para acentuar a p o l é m i c a e n t r e J e r u s a l é m e Samaria, o q u e levará ao r o m p i m e n t o das relações e n t r e a c o m u n i d a d e j u d a i c a e a p o p u l a ç ã o d o N o r t e . As razões são simples. A o b r a destes dois chefes colidia c o m os interesses e a a u t o r i d a d e dos responsáveis da S a m a r i a1 5, os quais se apressaram a d e n u n c i a r a r e c o n s t r u ç ã o das

muralhas de Jerusalém j u n t o d o p o d e r central (Esd 4,12-13).

O s elementos mais preciosos sobre esta p r o b l e m á t i c a estão p r e -sentes nos livros de Esdras e N e e m i a s (Esd 4,1; N e 3,33s; 4,ls; 6; 13,27-28). Assim, Esd 4,1-10 apresenta-nos u m a lista dos i n i m i g o s da sua o b r a q u a n d o se e n c o n t r a v a a edificar o T e m p l o de J a v é . P o r é m n ã o nos diz q u e são samaritanos (isto é, e l e m e n t o s da a u t ê n -tica p o p u l a ç ã o d o N o r t e ) , a c e n t u a n d o antes a sua p r o v e n i ê n c i a estrangeira de a c o r d o c o m o t e x t o de 2 R e 17,24-41. E j u s t i f i c a d o n o sincretismo religioso q u e Esdras recusa a a j u d a p a r a a r e c o n s t r u ç ã o , o que levará então a abrir as hostilidades e n t r e os r e c é m - c h e g a d o s de Babilónia e a p o p u l a ç ã o da terra.

D e facto, as razões invocadas t a n t o p o r Esdras c o m o p o r N e e m i a s não a c e n t u a m m u i t o a perspectiva religiosa q u e os separa dos seus adversários, p e l o q u e d e i x a m a n t e v e r que, n o f u n d o , há m o t i v a ç õ e s políticas q u e estão na base da recusa da a j u d a oferecida, o q u e a u m e n t a r á , ainda mais, a a n i m o s i d a d e e n t r e os dois g r u p o s . E f e c t i -v a m e n t e , os j u d e u s não q u e r i a m d e p e n d e r da a u t o r i d a d e da Samaria e,

espiritual (Esd 7,25-26: consolidação da Lei c o m o lei de estado na comunidade judaica) o que Neemias havia iniciado na reconstrução material da cidade de Jerusalém ( N e 2,llss; 4,lss).

14 C f r . S. HERRMANN, Historia de Israel en la Época dei Antiguo Testamento, Salamanca 1979, 395s.

15 A administração de Babilónia tinha colocado em Samaria o governo provincial ao qual estava incorporado t a m b é m o território de Judá. Os persas herdaram e mantiveram essa administração, pelo que o governo do N o r t e se julgava no direito e n o dever de intervir em Jerusalém para defesa dos interesses reais. Isso terá c o m o consequência as inter-ferências do N o r t e na reconstrução da muralha e do T e m p l o de Jerusalém ao t e m p o de Neemias (cfr. J. H. HAYLS-J. M. MII.LER, Israelíte and Judaean History, 510).

(8)

f a c e aos d o c u m e n t o s d e q u e e r a m p o r t a d o r e s ( N e 2,7-9; Esd 7 , l i s ) j u l g a v a m - s e c o m o direito d e dirigir os n e g ó c i o s da c o m u n i d a d e ,

t a n t o políticos c o m o religiosos.

E n t r e os adversários d e Esdras e N e e m i a s destacava-se o n o m e d u m tal S a n b a l l a t1 6, g o v e r n a d o r da Samaria. Este é o m a i o r

adversário da o b r a d e N e e m i a s ( N e 6), o q u e deixa e n t e n d e r q u e p o r detrás d o conflito se e s c o n d e m m o t i v a ç õ e s políticas e n ã o apenas religiosas c o m o se p o d e r i a d e p r e e n d e r d e 2 R e 17,24-41. E n t r e essas está c e r t a m e n t e o p r o b l e m a da a u t o r i d a d e . T i n h a o u n ã o o g o v e r n a d o r da p r o v í n c i a a u t o r i d a d e sobre os r e c é m - c h e g a d o s de B a b i l ó n i a ? O t e x t o bíblico n ã o o diz claramente; p o r é m , n u m p r i m e i r o m o m e n t o , Sanballat e seus aliados c o n s e g u e m i m p e d i r a c o n t i n u a ç ã o dos trabalhos (Esd 4,11-24), até q u e N e e m i a s v e m a ser n o m e a d o « g o v e r n a d o r da terra d e Juda» (Pechatn beeretz Jehwdah), o q u e e n t ã o l h e p e r m i t e levar a c a b o a tarefa da reconstrução (6,1) e libertar o p o v o dos gravosos i m p o s t o s q u e e x i g i a m os seus p r e d e -cessores (5,14-18).

P o r o u t r o lado, q u a n d o a p a r e c e m os conflitos internos na c o m u -n i d a d e j u d a i c a d e J e r u s a l é m1 7, as autoridades d e Samaria o f e r e c e m

r e f ú g i o e a c o l h e m os revoltosos. O caso mais c o n c r e t o é o d o sacerdote Manassés, n e t o d o s u m o - s a c e r d o t e Eliashib e g e n r o de Sanballat, o q u a l se r e f u g i a n o N o r t e e aí, s e g u n d o c o n t a Flávio J o s e f o , recebe a p r o m e s s a da construção d u m t e m p l o sobre o m o n t e

G a r i z i m a fim d e exercer o culto, d a n d o o r i g e m a u m a dinastia sacerdotal rival da d e J e r u s a l é m ( A n t X I , 7,2; 8, 2ss). O e x e m p l o parece ter sido seguido p o r vários o u t r o s sacerdotes e levitas, os quais n ã o e s t a v a m dispostos a acatar, passivamente, as imposições javistas da c o m u n i d a d e d e J e r u s a l é m , caso c o n c r e t o dos m a t r i m ó n i o s mistos c o m m u l h e r e s pagãs q u e e r a m v e d a d o s à classe sacerdotal.

E claro q u e estas dissensões s e n d o alimentadas e b e m acolhidas n a Samaria, n ã o o e r a m apenas p o r razões religiosas o u

simples-16 É sobre este personagem que nós temos mais precisões; era de H o r o n (Ne 2,10.19), do território da tribo de Efraim. Trata-se d u m n o m e de família e, portanto, as alusões são de vários personagens da mesma linhagem, j á que seria a família encarregada d o governo da Samaria. Este n o m e aparece nos Papiros de Elefantina (n.° 27 e 30 ed. de COWLEY) c o m o Pechah de Samaria (isto é, governador) e aparece associado à família do sumo-sacerdote Eliashib (Ne 13,28).

1 7 U m a das causas mais graves destes conflitos foi o problema dos matrimónios mistos realizados entre as altas classes dirigentes e que não estavam de acordo com os preceitos da Lei mosaica, caso mais flagrante era o de sacerdotes que tinham contraído matrimónio c o m mulheres não judias (Ne 13,23.28-29; Esd 9,ls; 10,18s).

(9)

o s S A M A R I T A N O S : U M E N I G M A N A H I S T Ó R I A BÍBLICA 57

m e n t e de carácter c u l t u a l1 7 a. P o r trás escondiamse t a m b é m m o t i

-vações de carácter político q u e se v ã o a c e n t u a n d o c o m o d o m í n i o helenístico da Palestina. D e facto, alguns autores p e n s a m q u e a separação das duas c o m u n i d a d e s p o d e situar-se n o p e r í o d o persa, tal c o m o o d e i x a m e n t e n d e r os livros de Esdras e N e e m i a s , sendo u m a consequência directa dos crescentes privilégios a d q u i r i d o s pela c o m u n i d a d e j u d a i c a e da r e d u ç ã o de poderes da classe d i r i g e n t e da Samaria.

T o d a v i a , apesar das tensões existentes, n ã o parece q u e o cisma j á estivesse c o n s u m a d o nessa altura. A c o m u n i d a d e samaritana c o n t i

-n u a v a -na órbita d o j a v i s m o ; Zac 9,13 fala--nos ai-nda da espera-nça n u m a salvação a dois (Israel e J u d á ) e na c i d a d e da Samaria c o n t i -n u a v a m a e -n c o -n t r a r r e f ú g i o os sacerdotes javistas q u e f u g i a m d e Jerusalém. O s m a t r i m ó n i o s mistos e n t r e os g r u p o s dirigentes m o s t r a m i g u a l m e n t e q u e as relações se m a n t i n h a m . A crer n o relato d e Flávio Josefo (Ant XI, 8,4-7), a r u p t u r a p o d e r i a ter sucedido j á n o p e r í o d o helenístico na sequência, aliás, da construção d o t e m p l o s a m a r i t a n o sobre o G a r i z i m q u e e n t r e t a n t o f o r a a u t o r i z a d o p o r A l e x a n d r e M a g n o depois dc ter v e n c i d o D a r i o III e p o s t o fim a o d o m í n i o persa na Palestina.

4. Contributo da Arqueologia

Deste p e r í o d o de decadência d o d o m í n i o persa até à conquista de A l e x a n d r e n ã o possuímos dados bíblicos significativos s o b r e o estado das relações e n t r e J e r u s a l é m e Samaria. E m v e z disso, p o s -suímos h o j e u m c o n j u n t o d e i n f o r m a ç õ e s arqueológicas de g r a n d e valor: são os P a p i r o s d o Wâddi-ed-Dâliyeh18. Estes p a p i r o s c o b r e m

u m dos p e r í o d o s m e n o s b e m c o n h e c i d o da história da Palestina e, a o m e s m o t e m p o , u m dos mais agitados da Samaria. O s mais antigos r e m o n t a m a 375 a . C . e os mais recentes a 335 a . C . , o f e r e

-17> Segundo E . BICKEKMAN, From Ezra to the Last of the Maccabces. Founiiations oj Postbiblical Judaism, N e w Y o r k , 1962, 43, o conflito entre as duas comunidades n o período persa é fundamentalmente u m conflito político e assenta na rivalidade natural entre as duas cidades (Siquém e Jerusalém).

18 Trata-se d u m conjunto de documentos escritos e outros objectos, a maioria dos quais com valor administrativo e jurídico, que f o r a m encontrados e m 1962 n u m a gruta a cerca de 14 k m ao norte de Jericó, onde terão sido escondidos pelos seus possuidores que fugiam, provavelmente c o m m e d o das represálias de Alexandre M a g n o depois de terem assassinado o governador Andrômaco que aí tinha colocado na altura da conquista (cfr. F. M. CKOSS, « T h e P a p y r i a n d t h e i r H i s t o r i a l I m p l i c a t i o n s » , A A S O R 4 1 ( 1 9 7 4 ) 1 7 - 2 7 ) .

(10)

c e n d o - n o s dados q u e a b r a n g e m cerca de m e i o século da vida da c o m u n i d a d e samaritana. U m e l e m e n t o aqui e n c o n t r a d o diz respeito aos contactos existentes e n t r e os samaritanos e a c o m u n i d a d e d e E l e f a n t i n a1 9, t a n t o e m relação a c o n t r a t o s de v e n d a de p r o p r i e d a d e s

c o m o e m relação a p r o b l e m a s d e m a t r i m ó n i o s . A l é m disso, m u i t o s dos n o m e s aí referidos t ê m u m a o r i g e m javista, h a v e n d o t a m b é m n o m e s estrangeiros e mistos, o q u e reflecte b e m o carácter sincre-tista da p o p u l a ç ã o da Samaria.

P o r é m , os dados mais significativos e m relação ao nosso t e m a estão c o n t i d o s e m dois f r a g m e n t o s o n d e se encontra o n o m e de S a n b a l l a t2 0:

— n.° 5: yhw bn sriblt pht Smrn—Yalui, filho de Sanballat,

gover-nador da Samaria.

O u t r o • f r a g m e n t o ajunta:

— qdm ysw' br snblt — diante de Yeshua, filho de Sanballat.

Estes textos estão b e m datados: 30 de A d a r d o 2.° a n o de D a r i o (será D a r i o III, C o d o m a n n u s ) . Estaríamos e n t ã o a 19 de M a r ç o de 335 (a.C.), o q u e constitui u i n p o n t o d c referência m u i t o i m p o r -tante, especialmente c m relação a o p e r s o n a g e m central dos dois d o c u m e n t o s , j á q u e aí se cita o n o m e d o g r a n d e adversário da o b r a d e N e e m i a s , nosso c o n h e c i d o t a m b é m através dos escritos dc Flávio J o s e f o ( A n t X I , 7-8) e dos papiros d e Elefantina 2 1. Face às referências

bíblicas c aos dados destes d o c u m e n t o s , f a c i l m e n t e se p o d e concluir q u e estamos e m presença d u m n o m e d e família q u e passa de pais a filhos n o c a r g o d e g o v e r n a d o r da p r o v í n c i a da Samaria. S e g u n d o F. M . CROSS 22 p o d e r í a m o s ter a seguinte genealogia:

— Sanballat I, o H o r o n i t a ( f u n d a d o r da dinastia familiar e q u e teria r e c e b i d o o g o v e r n o da Samaria das m ã o s dos persas, p o r 445 a . C . e c o n t e m p o r â n e o dc Neemias);

19 A comunidade de Elefantina c uma das mais antigas da diáspora judaica, vivendo j u n t o da l .a catarata do Nilo, em frente de Assuão c que segundo a Carta <ic Aristéia, 13,

foi aí instalada no tempo do faraó Psammético I (por 665 a.C.), quando foram recrutadas tropas judaicas para combater ao lado deste faraó contra o rei da Etiópia. Esta comunidade pode ter sido reforçada, mais tarde, com novos elementos fugidos aquando da queda de Jerusalém nas mãos de Nabucodonosor (Jr 42-43). Sobre as relações desta comunidade com Jerusalém temos um elemento importante: Papiro 30 âe Elefantina, ed. de COWLEY.

20 Cfr. F. M. CROSS, «The Papyri and their Historical ímplications», 18-19. 21 N o papiro 30, ed. COWLEY, vêm citados os nomes dos filhos dc Sanballat, gover-nador da Samaria. Este documento está igualmente datado com precisão: 20 de Marheshwan, J o ano 17 do rei Dario (por alturas de 407 a.C.).

(11)

O5 S A M A R I T A N O S : U M E N I G M A N A H I S T O R I A BÍBLICA 5 9

— Dois filhos: Delaiah c S h e l e m i a h (Papiro de Elefantina, p o r 407 a.C.);

— Sanballat II ( t e m u m filho, H a n a n i a h , c u j o n o m e se e n c o n t r a n u m dos papiros d o W â d d i - e d - D à l i y e h c o m a data de 353);

— Sanballat III (do t e m p o de D a r i o III e de A l e x a n d r e M a g n o e q u e d e u r e f ú g i o a o seu g e n r o Manasses f u g i d o de Jerusalém, t e n d o depois c o n s t r u í d o o t e m p l o d o G a r i z i m j á n o p e r í o d o helcnístico — Ant X I , 7-8).

C o m o v i m o s , as vicissitudes e n t r e J e r u s a l é m e Samaria n ã o p o d e m deixar de estar associadas à história desta família q u e o c u p o u o g o v e r n o da Samaria p o r u m l o n g o p e r í o d o d e t e m p o . P o r o u t r o lado, vê-se q u e n ã o há ainda u m r o m p i m e n t o d e f i n i t i v o e n t r e as duas c o m u n i -dades, j á q u e as suas relações m a n t ê m - s e , e m b o r a d e n t r o d u m c o n t e x t o p o l é m i c o c de f o r m a i n d i r e c t a2 3. Para a l é m das c o n d e

-nações f o r m u l a d a s p o r Esdras e N e e m i a s , os contactos e n t r e as grandes famílias c o n t i n u a v a m , o q u e m o s t r a q u e a i n d a n ã o t i n h a c h e g a d o o m o m e n t o d o r o m p i m e n t o d e f i n i t i v o .

5. A construção do Templo de Garizim

C o m o j á atrás referimos, Sanballat acolheu e m S a m a r i a o seu g e n r o Manassés, ao q u a l p r o m e t e u a construção d u m t e m p l o , e v i t a n d o assim q u e este repudiasse a m u l h e r a fim d e m a n t e r a sua d i g n i d a d e sacerdotal. A o fazer u m a tal promessa, o g o v e r n a d o r da Samaria não tinha só e m m e n t e razões d e carácter familiar, n e m apenas religiosas, mas sim de índole política, j á q u e através deste gesto podia dar u m golpe p r o f u n d o na c o m u n i d a d e j u d a i c a e d i m i n u i r assim o prestígio d o s u m o - s a c e r d o t e d e J e r u s a l é m . E m b o r a tivesse realizado diligências j u n t o de D a r i o acerca da possibilidade de construir o r e f e r i d o t e m p l o n o m o n t e G a r i z i m , m o n t e santo dos s a m a -2 3 É significativo neste caso o uso de nomes javistas entre os samaritanos e mesmo o recurso que os judeus de Elefantina fazem j u n t o das duas comunidades para que estas ntervenham j u n t o da autoridade central de Babilónia a fim de reconstruir o templo de Elefantina que entretanto fora destruído pelos sacerdotes egípcios (cfr. A N E T , 481s; K. GAIXINC, Stuãien zur Geschichte Israels im persischen Zeitalter, 1964, 149-184). É claro que ao fazer tais diligências j u n t o de Bagohi (Jerusalém) e Delaiah (Samaria e da família Sanballat), os judeus de Elefantina não parecem ter conhecimento das tensões existentese ntre as duas comunidades, considerando as autoridades das duas competentes para interceder de c o m u m acordo por eles.

(12)

ritanos, Sanballat apenas p o d e realizar o seu desejo c o m a autorização de A l e x a n d r e M a g n o , d e f e n d e n d o a sua causa d u r a n t e o cerco de T i r o2 4. C o m o r e c o m p e n s a , A l e x a n d r e p e r m i t e - l h e a edificação d o

r e q u e r i d o t e m p l o , d a n d o assim realidade ao s o n h o d o seu g e n r o e p e r m i t i n d o a Sanballat desferir mais u m golpe na j á abalada c o m u n i d a d e d c J e r u s a l é m2 5.

A erecção deste t e m p l o rival de J e r u s a l é m t e m sido considerada p o r m u i t o s autores c o m o o e l e m e n t o decisivo q u e levará à separação definitiva de j u d e u s e samaritanos. P o r é m , e m b o r a constitua u m obstáculo de m o n t a , esse t e m p l o n ã o parece justificar u m a r u p t u r a decisiva, j á q u e havia o u t r o s t e m p l o s n o u t r a s c o m u n i d a d e s da diáspora o u m e s m o da Palestina e n ã o se fala aí de cisma r e l i g i o s o2 6, d i z e n d o apenas q u e o j u d a í s m o era c o m p l e x o e c o m

tendências diversas. C o m o diz M . S m i t h , «o q u e o D e u t e r o n ó m i o tinha p r o i b i d o fora de Jerusalém era o sacrifício. A construção (ou reconstrução) d u m t e m p l o n o m o n t e G a r i z i m , na altura e m q u e teve lugar, n ã o p r o v o c o u g r a n d e alteração. O 'cisma s a m a r i t a n o ' n ã o p o d e ser d a t a d o da ocasião da erecção desse t e m p o »2 7. E certo

q u e ele constituía u m a ameaça e u m a a f r o n t a p a r a o c u l t o e o sacer-d ó c i o sacer-de J e r u s a l é m . C o m o r e f e r e M . T . Petrozzi, o t e m p l o sacer-d o m o n t e Garizim «era s o b r e t u d o u m rival, pois as tradições religiosas de S i q u é m e r a m m u i t o mais antigas d o q u e as d e J e r u s a l é m e t i n h a m raízes q u e r e m o n t a v a m ao t e m p o dos patriarcas e de J o s u é »2 8.

N o e n t a n t o , o culto n o t e m p l o d o m o n t e Garizim ainda se situa na órbita d o j a v i s m o e, apesar da crítica sarcástica d o Sirácide (50,25-26), n ã o nos parece q u e o cisma se possa situar antes dos fins d o séc. n (a.C.), altura e m q u e os A s m o n e u s t e n t a r a m r e p o r 2 4 Depois da vitória contra Dario III (em Isso, em 333), Alexandre M a g n o dirige-se a Tiro e aí recebe a ajuda de Sanballat que entretanto abandonara a causa dos persas, conseguindo assim as boas graças dos novos conquistadores. Ao contrário, a comunidade judaica de Jerusalém, em razão dos seus compromissos de fidelidade aos persas, irá perder uma oportunidade de consolidar a sua autonomia j u n t o dos novos governantes, o que foi aproveitado pelos samaritanos para dividir e enfraquecer os seus rivais da Judeia.

2 5 C f r . M . T . PETROZZI. Samaria, G e r u s a l e m m e 1 9 7 3 , 7 8 - 8 0 .

2 6 C f r . D . E. GOWAN, Bridge between the Testaments, 167-168. T e m o s os casos já citados atrás dos templos de Elefantina, Leontópolis, ' A r a q - e l - E m i r e até provavelmente Q u m r ã n , o que deixa entender que a concepção «ortodoxa» d u m único templo está longe de ser seguida por t o d o o judaísmo (cfr. R . J. COGGINS, «The Old Testament», 45).

2 7 M . SMITH, Palestinian Parties and Politics that Shaped the Old Testament, N e w Y o r k 1971, 185.

2 8 M . T . PETROZZI, Samaria, 80. Por sua vez, F. M . CROSS, «Aspects of Samaritan and Jewish History in Late Persiau and Hellenistic Times», H T R 59(1966) 207, diz: «não há a mais pequena dúvida que a erecção do templo do m o n t e Garizim como u m rival do templo de Zerubbabel em Jerusalém agravou ainda mais as já tradicionais más relações entre samaritanos e judeus»>.

(13)

OS S A M A R I T A N O S : UM E N I G M A N A H I S T O R I A BÍBLICA 6 1

de n o v o pela força a unicidade cultual centrada e m J e r u s a l é m , consolidando assim o seu p o d e r t e m p o r a l e r e l i g i o s o2 9. Isso sucedeu

precisamente e m 128 (a.C.), q u a n d o J o ã o H i r c a n o destruiu o t e m p l o samaritano d o m o n t e G a r i z i m e mais t a r d e , e m 109 (a C.), f e z o m e s m o à cidade de S i q u é m .

O r a , estas destruições n ã o p a r e c e m ter sido m o t i v a d a s p o r razões de carácter religioso, mas sim político. N e s t e sentido, a existência d u m t e m p l o na Samaria constituía u m e l e m e n t o mais a p e r p e t u a r a velha rivalidade N o r t e - S u l , t o r n a n d o - s e u m c e n t r o a g l u t i n a d o r das forças e m o v i m e n t o s q u e n ã o e s t a v a m dispostos a aceitar p a c i -f i c a m e n t e o n o v o d o m í n i o dos A s m o n e u s . O m e s m o sucedia e m relação à cidade de S i q u é m (Ant. XIII, 10,2-3). A destruição da cidade v e m justificada e m Flávio J o s e f o p e l o f a c t o d e ser u m a cidade f o r t e e de simpatizar c o m os reis da Síria (Ant. XIII, 10,2), o que p r o v a b e m das razões políticas subjacentes aos feitos de H i r c a n o . D e facto, o c u l t o n o t e m p l o d o m o n t e G a r i z i m c a existência d u m a cidade f o r t e na Samaria erarn obstáculos i m p o r t a n t e s à política de c o n t r o l e levada a c a b o p o r H i r c a n o sobre os territórios f o r a da Judeia, especialmente n o N o r t e3 0. S e g u n d o A l b r i g h t3 1, a r o t u r a ,

se a h o u v e , só é possível depois da destruição d o t e m p l o d o m o n t e G a r i z i m e de S i q u é m — j á q u e H i r c a n o e seus c o n t i n u a d o r e s i m p u -seram u m a j u d a i z a ç ã o f o r ç a d a aos habitantes da Samaria, a qual só t e r m i n a r á c o m a c h e g a d a de P o m p e u (em 64 a.C.) e a libertação da cidade.

Talvez não se possa falar ainda dos samaritanos c o m o d u m a seita religiosa o u d u m cisma d e n t r o d o j a v i s m o ; n o entanto, é d e crer q u e estes a c o n t e c i m e n t o s t e n h a m apressado a r u p t u r a . D e facto, as rivalidades são b e m patentes ao l o n g o dos séculos, mas agora elas t r a d u z e m - s e p o r acções concretas q u e impostas pela força terão f e r i d o p r o f u n d a m e n t e a a l m a s a m a r i t a n a3 2.

Isto m e s m o se p o d e constatar na literatura samaritana e na concepção q u e a m e s m a nos oferece a respeito dos j u d e u s e das suas Escrituras.

2 9 Importa não esquecer, que os Asmoneus se apossaram ilegitimamente do sumo--sacerdócio ,pelo que não lhes pareceria razoável que existisse iam templo rival, servido por sacerdotes legítimos, ofuscando assim o seu prestígio político e religioso.

3 0 Cfr. R . PUMMER, «The Present State o f Samaritan Studies: I», JSS 21(1976) 52-53. 31 W . F. ALBRIGHT, From the Stone Age to Christianity, Baltimore 1946, 336, nota 12. 3 2 Entre as motivações que estão na base desse antagonismo não passa despercebido o destaque que certos textos vetero-testamentários concedem à «Casa de José» c o m o núcleo agregador das esperanças messiânicas que se desenvolveram e m paralelo àquelas ligadas à «Casa de David»: G n 49,22-26; D t 33,13-17; A m 5,15; Zac 10,6; 12,10; Ez 21,30s; 37,16-20.

(14)

6. Que dizem os Samaritanos de si mesmos

U m a das fontes i m p o r t a n t e s para o c o n h e c i m e n t o da história dos samaritanos são os seus p r ó p r i o s escritos, q u e r sejam os seus livros santos ,caso d o P e n t a t e u c o samaritano, quer sejam as suas crónicas e o u t r a s obras narrativas. D e n t r e t o d o s esses escritos m e r e c e u m a atenção especial o P e n t a t e u c o , j á q u e ele constitui a única f o n t e revelada da religião samaritana.

a) Pentateuco samaritano

O P e n t a t e u c o s a m a r i t a n o o u T o r a h está na base d e toda a literatura sagrada d c s samaritanos e e n g l o b a os cinco livros d o c â n o n e hebraico, os únicos q u e f o r m a m a sua «Escritura». A rejeição dos o u t r o s livros da Bíblia hebraica p o d e constituir t a m b é m u m a p e d r a de t o q u e para a sua separação da c o m u n i d a d e j u d a i c a . Aliás, nós sabemos q u e o c â n o n e hebraico, tal c o m o h o j e o t e m o s , resulta d o concílio de J a b n é (dos fins d o séc. i d.C.) e é f r u t o da i m p o s i ç ã o da H a l a k a h dos fariseus n o p e r í o d o q u e se seguiu à 1." revolta, a qual tinha l e v a d o o alto clero saduceu à ruína c à dispersão. O r a , as fontes rabínicas associam saduceus e samaritanos na m e s m a c a t e g o r i a3 3. E claro q u e a aceitação exclusiva d o P e n t a t e u c o p o r

p a r t e dos samaritanos n ã o p o d i a ter sido o m o t i v o da separação o u cisma e m época recuada, j á q u e nós t e m o s a r e f o r m a de Josias (2 R e 22) q u e n ã o consiste n o u t r a coisa sc n ã o i m p o r a T o r a h c o m o lei de estado. N o p e r í o d o pós-exílio, os trabalhos de Esdras e N e e m i a s v ã o n o m e s m o sentido (Esd 7,25-26; N e 10,29s), p e l o q u e os samaritanos situavam-se ainda na esfera d o mais estrito j a v i s m o , o b s e r v a n d o a Lei e só a Lei. Assim, e apesar das variantes textuais da sua v e r s ã o3 4, os samaritanos apenas aceitam a lei de Moisés

3 3 Por exemplo, na Mishná (Nidah 4,2), as filhas dos samaritanos são comparadas às dos saduceus, isto é, impuras. O mesmo sucede em relação à «ressurreição dos mortos», pois nem os saduceus, nem os samaritanos, ao contrário dos fariseus, aceitam a crença na vida futura (Sanh 90b; Kutin 2,7; Act 23,8-9). Por outro lado, os próprios textos rabínicos dos séculos posteriores continuarão a fazer uma leitura actualizante dos factos d o passado em relação aos samaritanos com o único intuito de acentuar a oposição farisaica às crenças dos samaritanos. Temos, por exemplo, Gn R 64,10 em que o texto de Esd 4,13 é retomado e colocado de n o v o na boca dos samaritanos no período romano, ao tempo de Adriano, procurando assim culpar os samaritanos da derrota sofrida pelos judeus na 2." revolta (cfr. F. MANNS, «Les rapports Synagogue-Eglise au début du deuxième siècle après J. C. en Palestine», LA 31(1981) 114.

3 4 O texto da versão samaritana do Pentateuco é o mesmo do cânone hebraico, embora as variantes encontradas r o n d e m as 6000. Porém, são quase sempre divergências de

(15)

OS S A M A U H A N O S : UM E N I G M A N A HISTORIA BÍBLICA 63

c o m os seus 613 preceitos, o b s e r v a n d o - o s d u m a f o r m a mais rigorosa e legalista que a p r ó p r i a interpretação farisaica posterior.

A o r i g e m da recensão samaritana d o P e n t a t e u c o p o d e ter sucedido n o séc. li o u i (a.C.), isto é, n o t e m p o dos M a c a b e u s o u dos A s m o n e u s3 5, c o i n c i d i n d o assim c o m u m dos p e r í o d o s mais tensos

das relações e n t r e j u d e u s e samaritanos, caso da destruição d o t e m p l o d o m o n t e G a r i z a i m e da cidade de S i q u é m p o r J o ã o H i r c a n o . C e r t o s autores, p o r é m , p õ e m certas reservas a u m a datação tão recente, j á que o f a c t o dos samaritanos n ã o aceitarem os profetas n e m os Escritos (Hagiógrafos) parece s u p o r u m a o r i g e m anterior, talvez nos sécs. v o u iv (a.C.), altura e m q u e tais obras ainda n ã o p e r t e n -ciam ao C â n o n e o u ainda n ã o t i n h a m sido c o m p o s t a s3 6. T o d a v i a ,

este a r g u m e n t o de q u e r e r datar a recensão samaritana e m f u n ç ã o d o c â n o n e h e b r a i c o t e m p o u c a consistência, j á q u e certos livros dos mais antigos da Bíblia, caso de alguns dos profetas, são m e s m o anteriores aos a c o n t e c i m e n t o s relatados cm 2 R e 17. C o n f o r m e a f i r m a D . G o w a n3 7, até ao concílio de J a b n é (cerca de 90 d . C . )

os samaritanos d e v e m ter e n c o n t r a d o m u i t o s simpatizantes e n t r e o j u d a í s m o oficial c m v i r t u d e d o uso exclusivo que f a z i a m d o P e n t a

-teuco, tal c o m o os saduceus, e m oposição declarada às interpretações orais q u e os fariseus acabarão p o r i m p o r .

Q u a n t o aos dados externos, o P e n t a t e u c o s a m a r i t a n o está escrito e m hebraico antigo, r e p r e s e n t a n d o tendências arcaizantes d o p e r í o d o a s m o n e u q u a n d o f o r a m feitos esforços para r e t o m a r a f o r m a d o alfabeto da época pré-exílica, o q u e parece ter sucedido lio século li (a.C.). Aliás, a descoberta e o estudo dos m a n u s c r i t o s de Q u r n r ã n p e r m i t e n i - n o s fazer a l g u m a luz sobre a versão d o P e n t a t e u c o

sama-natureza gráfica e a maioria c de valor insignificante, tais c o m o e m D t 27,4 onde o n o m e de Garizim é substituído pelo de Ebal. É interessante notar que cerca de 1900 dessas variantes estão de acordo com a versão dos L X X . Tais alterações estão na base das diversas teorias sobre a origem e a ocasião da recensão samaritana do Pentateuco, cfr. R . PUMMER, «The Present State of Samaritan Studies», JSS 21(1976) 42-47.

3 5 C f r . A. LOEWENSTANN, Encydopaedia Judaica, Jerusalém 1971, XIII, 266. 3 6 Cfr. R . PUMMER, «The Present State of Samaritan Studies», 45-46. É evidente que este problema está intimamente ligado a u m outro muito mais complexo que é o da formação do cânone da Bíblia hebraica. C o m o diz M . SMITH, Palestinian Parties, 191, não é de t o d o claro se os livros dos Profetas e os Escritos eram canónicos antes d o período asmoneu. Alguns, caso concreto do Eclesiastes e Cântico dos Cânticos, não o eram e só tardiamente o serão no concílio de Jabné (cfr. Yad 3,5). O mesmo sucede ein relação a outros livros postos em questão, tais como Ezequiel (Skab13b; Hag 13a; Men 35a). Por sua vez, FLÁVIO JOSEFO, Contra Apionem, 1,8, diz-nos que apenas 22 livros são inspirados, embora haja uma multidão deles entre os judeus.

(16)

r i t a n o3 8. Este p o d i a ser a expressão d u m a recensão palestinense

a d o p t a d a t a m b é m e m Q u m r ã n , o q u e viria a aclarar as diversas variantes n o q u e c o n c e r n e a o T M q u e c h e g o u até nós, dita recensão babilonense e e m relação ao q u e serviu d e base à t r a d u ç ã o dos L X X3 9. S e g u n d o F. M . Cross, as características d o P e n t a t e u c o

s a m a r i t a n o n ã o são «com t o d a a p r o b a b i l i d a d e o resultado d u m a actividade recensional especificamente s a m a r i t a n a »4 0.

E m relação às diferenças reais mais significativas temos a i n t r o -d u ç ã o -d u m a passagem basea-da n o D t 11,30 e 27,2-8 -depois -d o d e c á l o g o de E x 2 0 e D t 5, o n d e se p õ e e m realce o m o n t e G a r i z i m c o m o ú n i c o lugar d e c u l t o e c o m o c e n t r o da salvação e m c o n t r a -posição c o m J e r u s a l é m . Aliás, o 4. ° a r t i g o da fé samaritana realça l o g o a i m p o r t â n c i a d o m o n t e G a r i z i m (Jo 4,20) c o m o l u g a r escolhido p o r D e u s para o culto, centralizando aí todas as antigas tradições ligadas aos patriarcas e q u e r e f e r i a m a c o n t e c i m e n t o s salvíficos4 1.

b) Outra literatura

N o q u e diz respeito a o u t r a literatura samaritana, t e m o s livros de carácter litúrgico ( T a r g u m , Defter), teológico (Memar Markha) e n a r r a t i v o (Crónicas). T o d o s estes escritos são tardios e e x c e p t u a n d o o T a r g u m , a m a i o r i a é da época m e d i e v a l .

Q u a n d o ao T a r g u m (datado d o séc. i-iv d . C . ) , é u m a versão m u i t o livre e m alguns passos, sendo n o u t r o s m u i t o fiel e era utilizado nas c o m u n i d a d e s samaritanas p a r a a celebração d o c u l t o .

3 8 Segundo M . BAILLET, «Esseniens et Samaritains», Le Monde de la Bible, n.° 4, 29, <mil detalhes da grafia o u da pronúncia dessas línguas têm o seu abonador nos textos de Q u m r ã n e explicam-se, cientificamente, pela passagem d u m a época à outra». Mais adiante ajunta o mesmo autor: «um estudo paleográfico mostra que nem a escrita samaritana n e m a de Q u m r ã n são criações arcaizantes, mas que esta (a de Q u m r ã n ) é b e m a antepassada daquela e representa a etapa que a precedeu, a qual vai do séc. i n a.C. ao i depois de Cristo. 3 9 M . BAIIXET, «Esseniens et Samaritains», 30. Para este autor, o texto que hoje possuímos da Bíblia hebraica é u m a opção feita e imposta e m Jabné pelos rabinos no fim do séc. i (d.C.), terminando assim u m longo processo de formação e definição do Cânone.

4 0 F. M . CROSS, The Ancient Lihrary of Qumrãn and Modem Biblical Studies, N e w York 1961, 173.

4 1 Tais tradições prolongam-se até ao dia de hoje, podendo ver-se sobre a montanha d o Garizim os diversos espaços sagrados que recordam os acontecimentos salvíficos d o A T que os judeus normalmente associam ao m o n t e Moriah (Jerusalém) e o recinto sagrado para a celebração da Páscoa, a qual continua sendo celebrada segundo os preceitos de E x 12 com o sacrifício do cordeiro pascal. Aí são recordados diversos acontecimentos salvíficos, tais c o m o a criação, o t ú m u l o de Adão, o sacrifício de Isaac, etc.

(17)

o s S A M A R I T A N O S : U M E N I G M A N A H I S T O R I A BÍBLICA 65

E m relação aos livros de carácter teológico, assume particular realce o Memar Markha o u Livro das Maravilhas q u e c o n t é m os ensi-n a m e ensi-n t o s d o t e ó l o g o s a m a r i t a ensi-n o q u e l h e d e u o ensi-n o m e . É t u ensi-n a obra d o séc. i v (d.C.), c o n t e n d o considerações d e carácter t e o l ó g i c o e m o r a l , f u n d a m e n t a l m e n t e baseadas n o P e n t a t e u c o .

N o q u e diz respeito às Crónicas, f o r a m até h o j e p u b l i c a d o s 6 v o l u m e s , m a s são obras medievais o u m e s m o d a é p o c a m o d e r n a . A mais antiga, Asatir (séc. x o u posterior), é u m escrito d e t i p o midráshico. A i m p o r t â n c i a destes escritos está, essencialmente, n a f o r m a c o m o eles u t i l i z a m o A T e m b e n e f í c i o das suas p r ó p r i a s tradições, p r o c u r a n d o m o s t r a r q u e os samaritanos são os descen-dentes directos da t r i b o d e José ( E f r a i m e Manassés) e q u e o seu sacerdócio v e m d i r e c t a m e n t e de A a r ã o . S e g u n d o estes escritos, o n o m e q u e os samaritanos d ã o a si m e s m o s n ã o é Shomrontm ( c o m o e m 2 R e 17,29), m a s sim Shatnerím, isto é, «observadores» o u «guardiães da verdade».

Q u a n t o à luta e n t r e j u d e u s e samaritanos depois d o exílio, as Crónicas d i z e m q u e esta f o i m o t i v a d a pela i n t e n ç ã o q u e Esdras tinha de alterar a escrita e o c o n t e ú d o da T o r a h . A a p o l o g i a q u e estes escritos f a z e m da causa samaritana t e m u m a c o n o t a ç ã o p o l é m i c a de base, visando m o s t r a r q u e f o r a m os samaritanos q u e r o m p e r a m c o m os j u d e u s , r e f u t a n d o a versão j u d a i c a dos a c o n t e c i m e n t o s . N ã o f o r a m os samaritanos q u e se t o r n a r a m heréticos; ao c o n t r á r i o , f o r a m os j u d e u s , pois e m b o r a a c o m u n i d a d e d o N o r t e fosse j á n o séc. v i u h e t e r o d o x a e sincretista, os samaritanos n ã o f a z i a m p a r t e dela, j á q u e constituíam u m g r u p o à p a r t e e t o t a l m e n t e separados, os Hasidim, que v i v i a m j u n t o ao m o n t e G a r i z i m .

c) Os artigos do Credo Samaritano

A g r a n d e i m p o r t â n c i a desta literatura samaritana está n o f a c t o de ela constituir a única f o n t e segura d e q u e d i s p o m o s p a r a c o n h e c e r as crenças e as tradições d o g r u p o , e m b o r a os seus d a d o s n ã o n o s possam servir p a r a reconstituir a sua história, pois a l é m d a sua datação recente, há m o t i v a ç õ e s polémicas q u e se e s c o n d e m p o r trás destes escritos4 2.

4 2 C f r . R . J. COGGINS, Samaritans and Jews: The Origins of Samaritanism Reconsidered, O x f o r d 1975, 117-131.

(18)

E m relação ao c r e d o s a m a r i t a n o , p o d e m o s sintetizar os seus e l e m e n t o s e m cinco artigos f u n d a m e n t a i s q u e abarcam a essência d o j a v i s m o , mas q u e os d i s t i n g u e m , ao m e s m o t e m p o , dos j u d e u s .

São eles:

— Fé em Javé: a f o r m a c o m o os samaritanos insistem n o m o n o

-teísmo e na transcendência de J a v é leva-os, p o r e x e m p l o , a substituir a f o r m a plural d o v e r b o q u e t e m c o m o sujeito Elohim p o r u m singular (Gn 20,13; 31,53; 35,7) e a eliminar m u i t o s a n t r o p o m o r -f i s m o s c o m u n s ao A T .

— Fé em Moisés: ele é o a u t o r d o P e n t a t e u c o e apenas os seus

livros são inspirados. A l é m disso, é através de Moisés q u e D e u s se revela a t o d a a h u m a n i d a d e ; é o ú n i c o p r o f e t a até q u e surja u m o u t r o c o m o ele ( D t 18,15). Moisés i n t e r v é m 3 vezes n o m u n d o : é i d e n t i f i c a d o n o início da criação c o m o a luz e o «logos» criador; q u a n d o nasce é u m a n o v a luz; m o r r e e é elevado ao C é u n o m o n t e N e b o . R e g r e s s a r á na escatologia c o m o o p r o f e t a definitivo.

— Fé na Lei: para os samaritanos, os livros d o P e n t a t e u c o são

os únicos d o c â n o n e s a m a r i t a n o e só eles são inspirados. Q u a n t o à i n t e r p r e t a ç ã o da Lei, os samaritanos f a z e m u m a leitura m u i t o literal dos preceitos, o p o n d o - s e assim às tradições judaicas, espe-c i a l m e n t e às tradições orais e às espe-crenças da tradição farisaiespe-ca4 3.

— Fé no monte Garizim: c e n t r o d o c u l t o samaritano, este é o artigo

d e fé q u e mais acentua a divergência e n t r e j u d e u s a samaritanos, n u m a oposição clara e e v i d e n t e ao culto j u d a i c o c e n t r a d o e m J e r u s a l é m . N a t u r a l m e n t e q u e a i m p o r t â n c i a d o G a r i z i m foi crescendo n o decurso da história samaritana; os textos antigos f a l a m - n o s dos santuários de Betei e de D a n , escolhidos para lugares de culto a q u a n d o da divisão d o r e i n o (1 R e 12,28-30). O m o n t e v e m j á r e c o r d a d o n o episódio da leitura da Lei q u e J o s u é faz e m S i q u é m (Jos 8,33). M a i s t a r d e , j á depois da construção d o t e m p l o , A n t í o c o Epifanes, s e g u i n d o as sugestões dos habitantes q u e t e m i a m q u e

4 3 Ligada ao m o n t e Garizim está t a m b é m a concepção messiânica dos samaritanos, já que o Taheb, o restaurador messiânico, quando regressar trará o n o v o templo que Deus tem guardado n o céu. N o entanto, as doutrinas messiânicas dos samaritanos são tardias, talvez :nfluenciadas pelo cristianismo, e de pouco valor.

(19)

o s S A M A R I T A N O S : U M E N I G M A N A H I S T O R I A BÍBLICA 67

viesse a suceder o m e s m o q u e acontecera e m J e r u s a l é m , p r o f a n o u o t e m p l o , d e d i c a n d o - o a J ú p i t e r Hospitaleiro (2 M a c 6,2). M a s , mais d o q u e u m l u g a r d e culto, o G a r i z i m é o l u g a r da revelação da fé samaritana.

— O dia da vingança e da recompensa: u m t e m a q u e diferencia

n i t i d a m e n t e os samaritanos dos j u d e u s — a sua c o n c e p ç ã o escatológica. T e m o s dois reinos: o 1.° f u n d a d o p o r J o s u é s o b r e o G a r i z i m e ao qual p e r t e n c e m os H a s i d i m , isto é, os samaritanos; o 2 . ° será f u n d a d o p e l o T a h e b (o messias) n o VII m i l é n i o e p r e c e d e r á a ressu-reição (crença tardia). T o d o s são i n t e r r o g a d o s e os seus m é r i t o s pesados na balança, d e s e m p e n h a n d o os anjos a f u n ç ã o d e defensores e acusadores. D e p o i s , p r o c e d e r - s e - á à separação dos j u s t o s e dos malvados, i n d o aqueles p a r a o j a r d i m d o E d e n e estes p a r a o sheol. A d o u t r i n a da ressurreição é m u i t o tardia 4 4 e aparece c o m o a l g o

secundário n o c o n t e x t o da escatologia samaritana. P o d e s e c o n s -tatar, n o e n t a n t o , u m a certa ideia d e intercessão (Moisés i n t e r c e d e pelo seu p o v o ) e oferecem-se súplicas pelos pecadores.

7. Os Samaritanos nas fontes rabínicas

O s escritos rabínicos o f e r e c e m - n o s a l g u m a s notícias i m p o r t a n t e s sobre os samaritanos, t a n t o sobre a p r o b l e m á t i c a histórica c o m o de cariz ideológico, e m b o r a todas elas estejam inseridas s e m p r e e m c o n t e x t o s p r o f u n d a m e n t e p o l é m i c o s .

Q u a n t o às primeiras, t e m o s a l g u m a s alusões n o Talmud e na

Mishná. Assim, a Megillat Ta'anit45 fala-nos das relações e n t r e

A l e x a n d r e M a g n o e os samaritanos, relato esse t a m b é m f o r n e c i d o p o r Flávio J o s e f o4 6, e m b o r a h a j a a l g u m a s diferenças. Mais

signifi-c a t i v o para o nosso t e m a é o t e x t o d e Megillat Ta'anít 2247; aí

4 4 O tratado Masseket Kutim (apêndice ao Talmud) 2,7 diz-nos que u m samaritano apenas poderá ser recebido n o seio da comunidade judaica quando reconhecer a «ressurreição da morte» (Sanh 90b), o que significa que nessa altura u m a tal crença ainda não fazia parte do seu credo. E m b o r a difícil de datar, esta concepção apenas aparece nas obras d o grande teólogo M e m a r Markha, ou seja, n o scc. iv d . C .

45 Megillat Ta'anit, ed. H . LICTHTBNSTEIN, HUCA 8-9 (1931-32) 339 (cfr. Yoma 69a; Lv R 13,5). U m estudo sobre este tema pode ser encontrado e m V. TCHERIKOVBR, Helletiistic Civilization and the Jews, N e w York 1982, 46ss.

4 6 F . JOSEFO, Ant X I , 8 , 4 - 6 .

4 7 C f r . o comentário de H . LICHTENSTEIN, «Die Fastenrolle eine Untersuchung zur jüdischhellenistischen Geschichte», H U C A 44(1962) 288-290.

(20)

se p r o i b e aos j u d e u s de j e j u a r n o dia 21 de Kisléu, dia e m q u e foi d e s t r u í d o o t e m p l o s a m a r i t a n o d o G a r i z i m p o r J o ã o H i r c a n o ( e m 128 a.C.) e 25 de Marheschwan, q u a n d o f o r a m abatidos os m u r o s da cidade de S a m a r i a4 8, depois d u m a n o de assédio (em 109 a.C.).

Estas duas datas e r a m consideradas c o m o dias de festa para a c o m u -n i d a d e j u d a i c a , j á q u e -nelas se celebrava a d e r r o t a dos seus adversários d o n o r t e .

N o q u e diz respeito a e l e m e n t o s de carácter ideológico q u e a c e n t u a m as divergências e n t r e j u d e u s e samaritanos, os d a d o s mais significativos e n c o n t r a m - s e n o t r a t a d o Kutim. P o d e m o s dividí--los e m três alíneas:

— S o b r e o c u l t o (sacrifícios e i m p u r e z a s rituais); — A respeito d o sacerdócio;

— S o b r e os m a t r i m ó n i o s .

Q u a n t o à circuncisão, a H a l a k a h judaica aceitava q u e u m sama-r i t a n o p o d i a cisama-rcuncidasama-r u m j u d e u e vice-vesama-rsa. P o sama-r é m , R . Judas (cerca d e 200 d . C . ) , o r e d a c t o r da M i s h n á , acrescenta q u e u m sama-r i t a n o n ã o p o d e fazesama-r isso a u m j u d e u , pois neste caso, este ú l t i m o tornar-se-ia u m e l e m e n t o da c o m u n i d a d e d o m o n t e G a r i z i m4 9.

N o t r a t a d o Kutim 2,1 t e m o s u m a alusão m u i t o clara ao t e x t o d e 2 R e 17; aí se diz q u e é p t o i b i d o aos samaritanos e n t r a r (fazer parte) n u m a c o m u n i d a d e j u d a i c a , pois eles m i s t u r a r a m - s e c o m os sacerdotes dos «Lugares Altos». R a b b i Ismael, p o r seu lado, dizia q u e eles t i n h a m t o m a d o m u l h e r e s ilegítimas e n ã o c u m p r i a m a lei d o l e v i r a t o5 0. A l é m disso, este m e s m o t r a t a d o f o r n e c e - n o s a trilogia

q u e está na base da separação e n t r e j u d e u s e samaritanos e q u e p o d e m o s sintetizar da seguinte f o r m a : os samaritanos p o d e m ser recebidos na c o m u n i d a d e j u d a i c a q u a n d o

— r e n u n c i a r e m a o m o n t e Garizim; — r e c o n h e c e r e m J e r u s a l é m ;

— a c r e d i t a r e m na ressurreição dos m o r t o s .

4 8 Vimos j á atrás que estes acontecimentos podem estar na base da ruptura entre judeus e samaritanos, j á que eles representam o culminar d u m longo processo polémico (Ant XIIII, 10,2: Bellum Judaicum I, 2, 6-7).

4 9 Esta explicitação de R . Judas mostra b e m c o m o o ambiente polémico de ruptura obrigou a m u d a r a Halakah tradicional.

5 0 T e m o s certamente u m a alusão ao problema dos sacerdotes que fugiram de Jerusalém por terem desposado mulheres não judias (Ne 13,27-29).

(21)

OS S A M A R I T A N O S : U M E N I G M A N A H I S T O R I A BÍBLICA 69

C o m o v i m o s antes, estes são, e m síntese, os artigos d o c r e d o samaritano q u e i n d i v i d u a l i z a m esta c o m u n i d a d e das restantes q u e fazem parte d o j a v i s m o , especialmente e m contraste c o m as t r a d i -ções farisaicas. O r a , estes d a d o s são indícios claros q u e a luta e a r u p t u r a (se c q u e assim se p o d e dizer) são u m f a c t o tardio, f r u t o da oposição crescente à H a l a k a h farisaica q u e lhes f o r a i m p o s t a . Aliás, isso p o d e constatar-se pelos r e g u l a m e n t o s especiais q u e d e v e m orientar t o d o e q u a l q u e r r e l a c i o n a m e n t o c o m os samaritanos (Ber 8,8;

Deni 7,4). P o r vezes, a literatura rabínica é m u i t o violenta c o n t r a

os habitantes d o n o r t e . T e m o s u m e x e m p l o b e m explícito e m

Shebi 8,10: f o r a m c o n t a r a R a b b i A q i b a q u e R a b b i Eliezer c o s t u m a v a

dizer q u e «quem c o m e p ã o d e samaritanos era c o m o quenx c o m e carne de porco». R . A q i b a r e s p o n d e u : «calai-vos, n ã o direi o q u e R . Eliézer diz a esse respito»5 1.

T e m o s assim q u e as próprias fontes rabínicas v ê m c o n f i r m a r os dados de carácter histórico e a r q u e o l ó g i c o j á antes p o r nós r e f e -ridos, t e s t e m u n h a n d o , desta f o r m a , q u e as m o t i v a ç õ e s da r u p t u r a entre os dois g r u p o s apenas se c o m p r e e n d e m q u a n d o situadas n u m c o n t e x t o de c o n f r o n t o a b e r t o e n t r e a Halakah (as tradições) farisaica c as tradições samaritanas.

8. Os Samaritanos e o N T

5 2

O N T c o n t é m u m a série de referências aos samaritanos, a l g u m a s das quais m u i t o significativas n o q u e diz respeito a o p r o b l e m a das relações e n t r e j u d e u s e samaritanos. As alusões mais i m p o r t a n t e s c n c o n t r á - m o - l a s nos evengelhos d e Lucas e J o ã o . Assim, Lc 9,52-53 narra-nos a atitude hostil q u e os samaritanos m a n i f e s t a r a m c o n t r a Jesus q u a n d o este, passando p o r u m a aldeia samaritana, se dirigia a Jerusalém. I m e d i a t a m e n t e v e m ao dc c i m a o clima d e hostilidade q u e reinava e n t r e os dois g r u p o s e, neste caso, n ã o p o r causa d e Jesus, mas sim m o t i v a d a pela subida a J e r u s a l é m , c o n f o r m e o p r ó p r i o

51 Segundo comenta C . DEL VALLE, La Misna, Madrid 1981,129, nota 88, a resposta de R . Aqiba deve entender-se no sentido de que este julgava a opinião d o seu mestre ( R . Eliezer) demasiado indulgente.

5 2 N ã o pretendemos fazer aqui um estudo exaustivo sobre os samaritanos n o N T ; o nosso objectivo visa tão somente elencar alguns dados d o N T que vêm confirmar as tensões existentes entre judeus e samaritanos ao tempo de Jesus e da comunidade cristã primitiva.

(22)

evangelista se sente na necessidade de justificar c o m a frase: «porque tinha i n t e n ç ã o de se dirigir a Jerusalém».

O m e s m o clima se respira na p a r á b o l a d o B o m Samaritano. D e facto, é à luz da i n i m i z a d e existente e n t r e j u d e u s e samaritanos q u e a p a r á b o l a g a n h a sentido. Jesus visa, antes de mais, p ô r e m realce o contraste e n t r e os diversos intervenientes para assim m o s t r a r q u e a « N o v a Lei d o A m o r » d e v e superar as diferenças r i t u a i s5 3.

Q u a n t o ao e v a n g e l h o d e J o ã o , a i n f o r m a ç ã o principal q u e aí p o d e m o s recolher diz respeito a o p r o b l e m a d o lugar d e culto: J e r u s a l é m o u o m o n t e G a r i z i m (Jo 4,30). A p e r g u n t a da samaritana

v e m apenas c o n f i r m a r o d i f e r e n d o existente, desde longa data, sobre o l u g a r central d o c u l t o a J a v é . E claro q u e a p e r g u n t a da m u l h e r n ã o se r e f e r e ao t e m p l o d o G a r i z i m , pois esse tinha sido destruído e m 128 a . C . ; refere-se sim a o M o n t e c o m o tal c a t u d o o que ele significava nas tradições samaritanas c o m o c e n t r o espiritual da c o m u -n i d a d e e c o m o l u g a r da sua revelação.

T a n t o J o ã o c o m o Lucas d e i x a m n o s assim alguns indícios c o n f i r -m a t i v o s das tensas e difíceis relações q u e existia-m t n t r e os dois p o v o s , m o t i v a d a s c o m o sabemos, acima de t u d o , p e l o p r o b l e m a d e J e r u s a l é m o u G a r i z i m .

E m relação aos Actos dos Apóstolos, as referências que aí e n c o n -t r a m o s d e i x a m p e r c e b e r q u e a Igreja nascen-te e n c o n -t r o u b o m acolhi-m e n t o e n t r e os saacolhi-maritanos. Esta a t i t u d e é f a c i l acolhi-m e n t e explicável p e l o f a c t o da c o m u n i d a d e cristã ser perseguida pelos j u d e u s , espe-c i a l m e n t e pelos fariseus, p r o espe-c u r a n d o talvez os samaritanos espe-conquistar os crentes da n o v a religião para a sua causa. Mais d o q u e simpatia c o m o cristianismo, isso d e n o t a a antipatia q u e os samaritanos n u t r i a m para c o m o j u d a í s m o farisaico.

Conclusão

N e s t e e s t u d o sobre os samaritanos e as suas origens n ã o p r e t e n -d e m o s apresentar u m a p a n o r â m i c a global, n e m exaustiva sobre a c o m p l e x a história dos samaritanos n o â m b i t o da literatura bíblica.

5 1 A escolha dos dois personagens (sacerdote c levita) não é u m mero acaso, nem se situa na esfera da moral prática. Trata-se antes d u m problema de pureza ritual que Jesus quer relativizar face à caridade fraterna. Aliás, Lc 17,16 (os dez leprosos) realça de n o v o a atitude d u m samaritano que está em confronto com os preceitos rituais.

Referências

Documentos relacionados

Graças ao apoio do diretor da Faculdade, da Rede de Museus e em especial da Pro Reitoria de Extensão, o CEMEMOR tem ampliado e mantido suas atividades junto

Os alunos que concluam com aproveitamento este curso, ficam habilitados com o 9.º ano de escolaridade e certificação profissional, podem prosseguir estudos em cursos vocacionais

Para a investigação, utilizou-se o material do acervo documental disponível no Grupo de Pesquisa História da Alfabetização, Leitura, Escrita e dos Livros Escolares (HISALES),

Os achados clínicos, macroscópicos, histopatológicos, sorológicos, imunoistoquímicos e moleculares foram carac- terísticos da infecção por Toxoplasma gondii.. Em geral, lesões

Tendo como parâmetros para análise dos dados, a comparação entre monta natural (MN) e inseminação artificial (IA) em relação ao número de concepções e

Nessa situação temos claramente a relação de tecnovívio apresentado por Dubatti (2012) operando, visto que nessa experiência ambos os atores tra- çam um diálogo que não se dá

2019 ISSN 2525-8761 Como se puede observar si bien hay mayor número de intervenciones en el foro 1 que en el 2, el número de conceptos es semejante en estos espacios

Somos um grupo de actrizes, actores, escritoras/es, jornalistas, músicas/os, coreógrafas/os, cantoras/es, bailarinas/os, cientistas, artistas plásticas/os e