• Nenhum resultado encontrado

NOVELA É COISA DE MENINA? UMA ANÁLISE DE GÊNERO DA AUDIÊNCIA DE NOVELAS ENTRE OS ADOLESCENTES DE MONTES CLAROS, MG

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "NOVELA É COISA DE MENINA? UMA ANÁLISE DE GÊNERO DA AUDIÊNCIA DE NOVELAS ENTRE OS ADOLESCENTES DE MONTES CLAROS, MG"

Copied!
26
0
0

Texto

(1)

NOVELA É COISA DE MENINA?

UMA ANÁLISE DE GÊNERO DA AUDIÊNCIA

DE NOVELAS ENTRE OS ADOLESCENTES

DE MONTES CLAROS, MG

1

Paula Miranda-Ribeiro2 Adriana Miranda-Ribeiro3 Mariane Miguel Chaves4

Participante: “Eu não assisto [O Rei do Gado]”. Paula: “Nem de vez em quando?” Participante: “Quando eu tô sem fazer nada”.

Paula: “Então, pois é”.

Participante: “Mas eu nem presto atenção”.

Paula: “Ah, pode confessar que você vê novela, a gente não vai achar ruim”. Participante: “Só quando eu tô sem fazer nada, né”.

(adolescente do sexo masculino, grupo Escolas Privadas 2, Montes Claros)

1 INTRODUÇÃO

Dizem que novela é coisa de mulher. Por causa deste rótulo, muitos homens, entre eles os adolescentes, têm dificuldade de assumir publicamente que assistem novela, ainda que esporadicamen-te. O diálogo acima, travado durante um grupo de discussão com estudantes de 14 a 17 anos de escolas particulares em Montes Claros5 mostra que a percepção da novela enquanto programa feminino vai além da teoria.

1 Pesquisa financiada pela Fundação Rockefeller e pelo Population Council. 2 Professora Adjunta do Departamento de Demografia e pesquisadora do

CEDEPLAR/UFMG.

3 Bacharel em Arquitetura e Urbanismo pela UFMG, bolsista de aperfeiçoamento com recursos da Fundação Rockefeller.

4 Aluna de graduação em Ciências Econômicas da UFMG, bolsista de iniciação científica com recursos da Fundação Rockefeller.

5 Este grupo de discussão foi conduzido por Paula Miranda-Ribeiro em janeiro de 1997.

(2)

Se novela é mesmo coisa de mulher, como explicar que cerca de 40% da audiência das novelas brasileiras é masculina (Ham-burger, 1998)? Na academia, os estudos sobre a audiência de novela feitos na área de comunicação dão ênfase à mulher enquanto teles-pectadora (Press, 1991; Geraghty, 1991; Baehr, Gray, 1996, entre outros). Os homens são geralmente estudados enquanto público-alvo de “programas masculinos” tais como filmes e seriados de ação, programas esportivos e noticiários (Craig, 1992). Ainda que a audiên-cia masculina de novelas seja menos relevante na área de comunica-ção, a ligação entre mídia, novelas, mudanças ideacionais e compor-tamento reprodutivo faz com que, na demografia, “os homens, estes desconhecidos” (Oliveira et al., 1994, p. 89) assumam fundamental importância.

Nossa perspectiva analítica se baseia na definição de gêne-ro de Scott (1994), que fala em relações de poder e admite que há elementos interrelacionados ao conceito de gênero. Entre eles, a autora cita os símbolos culturais à disposição dos indivíduos, os quais podem suscitar múltiplas interpretações.

Este trabalho é bastante exploratório. Nosso objetivo é comparar adolescentes do sexo masculino e feminino no que tange à audiência de novelas em Montes Claros, MG. Será que novela é mesmo coisa de menina6? Será que os meninos também recebem as mensagens veiculadas pelas novelas? Os dados a serem analisados provém de um survey7 respondido por adolescentes de 14 a 17 anos em fevereiro de 1997. Nossa análise é cross-section, ou seja, estamos analisando a audiência das novelas que estavam no ar na semana da pesquisa de campo – Mulheres de Areia à tarde na Globo; Anjo de Mim às seis na Globo; Salsa e Merengue às sete na Globo, Marimar8 às sete no SBT, 6 Utilizamos as palavras menina e menino como sinônimos para adolescentes do sexo feminino e adolescente do sexo masculino. Apesar de “politicamente

incorre-to”, não estamos dando tom pejorativo ou impondo nenhum juízo de valor aos termos.

7 Este survey faz parte do projeto “O Impacto Social da Televisão sobre o Compor-tamento Reprodutivo no Brasil”, que reúne diversas instituições no Brasil e nos

Estados Unidos. O survey de adolescentes foi coordenado por Paula Miranda-Ri-beiro. O módulo de survey como um todo, que inclui ainda o survey com adultos

em três localidades brasileiras, contou com a coordenação geral de Eduardo L. G. Rios-Neto, do CEDEPLAR/UFMG.

(3)

Perdidos de Amor às sete e quinze na Band; A Indomada9 às oito na Globo; Xica da Silva às dez na Manchete e Dona Anja10 às oito e às dez no SBT.

O trabalho está organizado da seguinte forma. Após uma breve contextualização do problema no item II, descrevemos os dados e a metodologia no item III e analisamos os resultados no item IV. No item V, tecemos algumas considerações finais. Nossa conclusão é a de que cada novela tem uma audiência específica. Em geral, as novelas da tarde da Globo (Vale a Pena Ver de Novo), das seis da Globo, das sete da Globo e das sete do SBT têm uma audiência predominante-mente feminina. As novelas das dez da Manchete e SBT, analisadas em conjunto, têm audiência predominantemente masculina. A novela das oito da Globo é a única cuja audiência entre os adolescentes de Montes Claros independe do sexo dos mesmos.

2 CONTEXTUALIZAÇÃO

Só recentemente a mídia foi incorporada na literatura demográfica como um possível elemento na difusão de novas idéias, tecnologias e comportamentos (Faria, 1989; Faria, Potter, 1994; Montgomery, Casterline, 1996). As mudanças ideacionais (ideational changes) sugeridas por Cleland, Wilson (1987) – através das quais as mudanças na fecundidade ocorrem não devido ao desenvolvimento econômico ou a um aumento no status da mulher mas sim pela difusão de novas idéias – atualmente se beneficiam de outros mecanismos além da comunicação boca-a-boca (word of mouth) sugerida por Wat-kins (1990). Além das interações interpessoais, Montgomery e Caster-line defendem a hipótese de que indivíduos podem aprender certos comportamentos através de fontes impessoais tais como os meios de comunicação de massa. No caso brasileiro, o argumento inicialmente proposto por Faria (1989) e retomado em Faria, Potter (1990, 1994) é de que a política governamental de incentivo à expansão dos meios de comunicação de massa, aliada à ampliação do crédito ao consumidor e à medicalização, geraram efeitos não intencionais e não esperados 9 A novela O Rei do Gado, que antecedeu A Indomada, havia terminado na semana

anterior à pesquisa – mais exatamente no dia 15 de fevereiro. 10 Estamos considerando Dona Anja como novela das dez.

(4)

sobre a fecundidade e as práticas contraceptivas. Seguindo esta linha, acreditamos que a mídia tem um papel importante na transmissão de idéias que podem, de alguma maneira, influenciar o comportamento demográfico dos indivíduos.

A tradição oral da cultura brasileira e a abrangência pra-ticamente universal dos sinais fazem da televisão o meio de comuni-cação mais popular do Brasil (Faria, 1989; Faria, Potter, 1990). As novelas11 por sua vez, são o programa de maior sucesso e audiência da televisão brasileira. Surgiram na década de 50, adaptadas de textos de países de língua espanhola. Levadas ao ar ao vivo algumas vezes por semana, atualmente as novelas são programas diários12 que utilizam uma linguagem própria que leva em conta os acontecimentos contem-porâneos, o ambiente urbano, o linguajar coloquial e cenas externas (Hamburger, 1998). Além disso, as novelas privilegiam o comporta-mento, as normas e os valores considerados “de vanguarda” da classe média do Rio de Janeiro e São Paulo (Leal, 1986). Portanto, se é verdade que a mídia tem um papel importante na difusão de novas idéias e valores, pode-se especular que, no caso brasileiro, a novela seja o instrumento mais eficaz e poderoso desta difusão.

Apesar da mídia ter se tornado parte importante da vida de todos nós, é provável que seu efeito seja maior sobre os adolescentes devido ao fato deles estarem vivendo uma etapa de formação de identidade. A literatura norte-americana sugere que a televisão in-fluencia a forma de pensar e, potencialmente, o comportamento de crianças e adolescentes (Strasburger, 1995). Ainda que não haja consenso sobre o assunto, os pesquisadores parecem concordar que a violência na televisão – que vai da destruição de propriedades a violência física e morte – induz crianças e adolescentes a fazer uso de comportamento violento. Com relação a sexo, há poucas pesquisas sobre a influência da televisão sobre a sexualidade infantil e adoles-cente devido à sensitividade do tópico. As pesquisas existentes suge-11 A novela surgiu nos Estados Unidos sob a forma de soap-opera e foi concebida

como ficção dirigida ao público feminino durante a Grande Depressão Americana, época em que as mulheres eram, na sua grande maioria, donas de casa que se dedicavam somente ao lar e à família (Allen, 1985). Ainda hoje, as soap-operas

americanas têm como público-alvo as mulheres e por isso vão ao ar no horário vespertino. Os intervalos comerciais são preenchidos principalmente por anúncios de produtos femininos ou para o lar (Brown, 1994).

(5)

rem que a exposição a programas com conteúdo sexual não-explícito tem pouco efeito sobre o comportamento, atitudes e valores das crianças. No entanto, esta exposição pode contribuir para um aumento no vocabulário relacionado a sexo (Huston et al., 1992). Na medida em que as crianças se tornam adolescentes, há uma mudança tanto no conteúdo quanto no contexto em que a mídia é utilizada (Larson, 1995). Há, também, uma tendência a resistir a mensagens percebidas como distantes da realidade em que os adolescentes vivem (Huston et al., 1992). Com isso, pode-se dizer que os adolescentes têm um papel ativo na decodificação das mensagens veiculadas pela mídia, ou seja, cada um entende a mensagem de acordo com a sua bagagem e a sua visão de mundo. Desta forma, não necessariamente meninos e meni-nas entendem e percebem as mensagens da mídia – entre elas as mensagens das novelas – da mesma forma.

3 FONTE DE DADOS E METODOLOGIA 3.1 Dados

Os dados utilizados neste trabalho foram obtidos a partir de um survey conduzido em Montes Claros, MG entre 24 e 28 de fevereiro de 1997. Foram entrevistados 549 adolescentes entre 14 e 17 anos – 290 do sexo feminino e 259 do sexo masculino – tendo como base as classes sociais definidas pelo critério ABIPEME13. Apesar das críticas feitas a este critério, decidimos adotá-lo devido à sua ampla utilização nas pesquisas de mercado.

Na época do desenho do survey, achamos que seria compli-cado conversar com os jovens sobre temas de foro íntimo no domicílio, onde é difícil realizar entrevistas sem a presença de outras pessoas no mesmo cômodo ou mesmo nas imediações. Sendo assim, a amostragem não foi domiciliar mas sim por quota e as entrevistas foram conduzidas nas ruas da cidade. Ao ser entrevistado na rua e sem revelar seu nome e endereço, o (a) adolescente tinha a garantia (reforçada pelo entre-13 O critério ABIPEME leva em conta a existência e o número de certos bens de consumo duráveis no domicílio tais como geladeira, rádio, televisão, vídeo cassete, automóvel, máquina de lavar roupa e aspirador de pó, bem como a existência de banheiro, a presença de empregada doméstica mensalista e o nível de educação do chefe do domicílio.

(6)

vistador) de que seus pais ou quaisquer outros – amigos, parentes ou conhecidos – jamais saberiam do conteúdo do questionário e muito menos das respostas. Com isso, preservamos os adolescentes e impe-dimos qualquer forma de identificação futura. A distribuição dos entrevistados por sexo e classe social se encontra na Tabela 1.

3.2 Metodologia14

A metodologia a ser utilizada neste trabalho é a tabela de contingência, que nada mais é do que uma tabela que indica a distri-buição de freqüência conjunta de duas ou mais variáveis discretas. Através de uma tabela de contingência, é possível determinar se a hipótese testada é verdadeira, ou seja, se as duas variáveis em estudo são relacionadas. Um teste apropriado para avaliar a significância

Tabela 1

DISTRIBUIÇÃO DOS ENTREVISTADOS (ADOLESCENTES DE 14 A 17 ANOS)

POR SEXO E CLASSE SOCIAL, DE ACORDO COM O CRITÉRIO ABIPEME

Masculino Feminino Total A 10.4%27 9.7%28 10.0%55 B3 8.5%22 7.9%23 8.2%45 B2 6.6%17 8.3%24 7.5%41 B1 10.0%26 11.0%32 10.6%58 C 29.7%77 25.9%75 27.7%152 D 22.8%59 25.9%75 24.4%134 E 12.0%31 11.4%33 11.7%64 Fonte: Survey “O Impacto Social da Televisão sobre o

Comporta-mento Reprodutivo no Brasil” – Módulo Adolescente, 1997.

(7)

estatística das variáveis cruzadas na tabela é o teste do qui-quadrado (χ2). Este teste se baseia na comparação entre a freqüência observada em cada célula da tabela com a freqüência que seria esperada caso as variáveis não fossem relacionadas, ou seja, caso as variáveis fossem estatisticamente independentes.

Além do teste de significância, muitas vezes o pesquisador quer medir a associação entre as variáveis. Para isso, é preciso ter um número que expresse a magnitude do efeito e que possa ser interpre-tado e comparado de uma tabela para outra. É um erro usar o (χ2) para este fim porque ele depende do tamanho da amostra (N) e cresce junto com ela, o que inviabiliza o seu uso como medida de tamanho do efeito. Entre os coeficientes que não dependem do tamanho da amostra está o odds ratio, ou a razão de chances. Além de não depender de N, o odds ratio é uma maneira simples de resumir a associação numa tabela 2x2. A chance de um evento ocorrer pode ser interpretada como o número de vezes em que o evento ocorre para cada vez em que ele não ocorre. Pensemos em duas populações diferentes – por exemplo, adolescentes do sexo masculino e do sexo feminino. Pensemos, tam-bém, num evento – por exemplo, assistir ou não novela. O odds ou a chance dos meninos assistirem novela não necessariamente é a mesma das meninas. O odds ratio nada mais é do que a razão entre as duas chances. Quando as duas populações são homogêneas, os odds são os mesmos e o odds ratio é igual a 1. Quanto mais as duas populações diferem, mais o odds ratio se afasta de 1.

No contexto deste trabalho, estamos tentando responder a uma pergunta bem simples: a audiência das novelas é independente do sexo do (a) adolescente? Em outras palavras, será que meninos e meninas assistem (ou admitem que assistem) novela igualmente? Ou será que novela é coisa de menina?

4 RESULTADOS

Quando se fala de novela, a Rede Globo é líder de audiência entre os adolescentes de Montes Claros, como pode ser visto na Tabela 2. As demais novelas mencionadas espontaneamente pelos entrevista-dos – das sete do SBT, das sete da Band, das dez da Manchete e das dez do SBT – têm uma audiência praticamente inexpressiva. Ainda

(8)

assim, decidimos incluí-las na nossa análise15. É importante mencio-nar que o questionário permite ao entrevistado declarar que assiste até três novelas noturnas e uma novela diurna (à tarde). Também cabe notar que “assistir novela” não implica em assiduidade. Além da opção “freqüentemente”, questionário oferece as opções “às vezes” e “rara-mente”.

Nossa primeira tentativa de perceber se há relação entre o (a) adolescente ser do sexo masculino ou feminino e assistir ou não novela foi separar os entrevistados em dois grupos: aqueles que dizem que assistem alguma novela e aqueles que afirmam que não assistem novela alguma. Dos 549 entrevistados, 58 adolescentes do sexo mas-culino e 11 do sexo feminino declararam não assistir novela alguma, o que significa dizer que 78% dos meninos e quase todas as meninas – 96% – vêem alguma novela. A tabela de contingência (Tabela 3)

Tabela 2

DISTRIBUIÇÃO DA FREQÜÊNCIA DA AUDIÊNCIA DAS NOVELAS, POR SEXO

Masculino Feminino

Assiste Não assiste Assiste Não assiste Novela da tarde – Globo (36,68%)95 (63,32%)164 (80,34%)233 (19,66%)57 Novela das seis – Globo (11,58%)30 (88,42%)229 (41,72%)121 (58,28%)169 Novela das sete – Globo (18,53%)48 (81,47%)211 (46,55%)135 (53,45%)155 Novela das sete – SBT (4,25%)11 (95,75%)248 (14,14%)41 (85,86%)249 Novela das sete – Band (3,47%)9 (96,53%)250 (6,55%)19 (93,45%)271 Novela das oito – Globo (54,44%)141 (45,56%)118 (52,76%)153 (47,24%)137 Novela das 10 – Manchete/SBT (6,18%)16 (93,82%)243 (2,07%)6 (97,93%)284 Fonte: Survey “O Impacto Social da Televisão sobre o Comportamento Reprodutivo no Brasil” –

Módulo Adolescente, 1997.

15 As novelas das dez da Manchete e do SBT foram agrupadas por causa da baixa audiência das duas separadamente. Estamos, portanto, trabalhando com a cate-goria “novela das dez”.

(9)

sugere que a relação entre sexo e novela existe, ou seja, as meninas tendem a assistir mais novelas que os meninos. Portanto, a análise das novelas em conjunto nos sugere que novela é coisa de menina.

O segundo passo foi analisar cada novela separadamente. A decisão se baseia no argumento de Leal (1986), que afirma que “Cada novela ou cada horário de novela, a das seis, a das sete e a das oito, tem modalidades de audiência específicas” (Leal, 1986, p. 48). Além dos horários noturnos, incluímos também a novela da tarde (Vale a Pena Ver de Novo, da Rede Globo), que nada mais é do que a reprise de uma novela que foi ao ar anteriormente em um dos três horários nobres.

A Tabela 4 indica que o horário da tarde é essencialmente feminino, visto que 80% das entrevistadas reportaram assistir Mulhe-res de Areia16, contra apenas 37% dos entrevistados. O teste do χ2 corrobora este resultado, rejeitando a hipótese nula de independência entre as variáveis sexo e assistir novela das 6 17. O odds ratio indica

Tabela 3

TABELA DE CONTINGÊNCIA 2 X 2 – AUDIÊNCIA DAS NOVELAS, POR SEXO

Novelas Masculino Feminino Total Sim (77,61%)201 (96,21%)279 480 Não (22,39%)58 (3,79%)11 69

Total 259 290 549

χ2 = 43,08 ; odds ratio = 0,14.

Fonte: Survey “O Impacto Social da Televisão sobre o Comporta-mento Reprodutivo no Brasil” – Módulo Adolescentes, 1997.

16 Entre estes, somente um entrevistado classificou Malhação como novela da tarde. 17 Para um nível de significância de 5% e 1 grau de liberdade, o valor crítico é 3.84. Como o valor do χ2 calculado, 108,46, é maior do que o valor crítico, rejeita-se a hipótese nula de independência das variáveis e aceita-se a hipótese alternativa de que há relação entre o sexo do entrevistado e a audiência das novelas.

(10)

que a chance dos meninos assistirem novela à tarde é de apenas 14% da chance das meninas. Em outras palavras, a chance das meninas assistirem Mulheres de Areia é sete vezes a chance dos meninos.

O público adolescente da novela das seis também é basica-mente feminino, como mostra a Tabela 5. Entre os entrevistados do sexo masculino, somente 12% assistem Anjo de Mim, enquanto que entre as adolescentes do sexo feminino este número cresce para 42%. Mais uma vez, o teste do χ2 indica que as meninas tendem a assistir mais novela neste horário que os meninos. A chance dos meninos assistirem a novela das seis, dada pelo odds ratio, é 18% da chance das meninas, ou seja, a chance das meninas assistirem Anjo de Mim é 5,5 vezes a chance dos meninos.

Tabela 4

TABELA DE CONTINGÊNCIA 2 X 2

– AUDIÊNCIA DA NOVELA DA TARDE DA GLOBO, POR SEXO

Novela da tarde – Globo Masculino Feminino Total Sim (36,68%)95 (80,34%)233 328 Não (63,32%)164 (19,66%)57 221

Total 259 290 549

χ2 = 108,46; odds ratio = 0,14.

Fonte: Survey “O Impacto Social da Televisão sobre o Comportamento Reproduti-vo no Brasil” – Módulo Adolescentes, 1997.

Tabela 5

TABELA DE CONTINGÊNCIA 2 X 2

– AUDIÊNCIA DA NOVELA DAS SEIS DA GLOBO, POR SEXO

Novela das seis – Globo Masculino Feminino Total Sim (11,58%)30 (41,72%)121 151 Não (88,42%)229 (58,28%)169 398

Total 259 290 549

χ2 = 62,34; odds ratio =0,18.

Fonte: Survey “O Impacto Social da Televisão sobre o Comportamento Reproduti-vo no Brasil” – Módulo Adolescentes, 1997.

(11)

Os resultados anteriores se repetem para a novela das 7 da Globo (Salsa e Merengue) e a novela das 7 do SBT (Marimar). Nestes dois casos, o valor do χ2 sugere que o público destas novelas é composto por mais meninas do que meninos (vide Tabelas 6 e 7).

A novela das sete da Band, Perdidos de Amor, foi uma grande surpresa. Esperávamos que, como as demais novelas deste horário, a proporção de meninas que assistem esta novela fosse

signi-Tabela 6

TABELA DE CONTINGÊNCIA 2 X 2

– AUDIÊNCIA DA NOVELA DAS SETE DA GLOBO, POR SEXO

Novela das sete – Globo Masculino Feminino Total Sim (18,53%)48 (46,55%)135 183

Não 211

(81,47%) (53,45%)155 366

Total 259 290 549

χ2 = 48,33; odds ratio =0,261.

Fonte: Survey “O Impacto Social da Televisão sobre o Comportamento Reproduti-vo no Brasil” – Módulo Adolescentes, 1997.

Tabela 7

TABELA DE CONTINGÊNCIA 2 X 2

– AUDIÊNCIA DA NOVELA DAS SETE DO SBT, POR SEXO

Novela das sete – SBT Masculino Feminino Total Sim (4,25%)11 (14,14%)41 52 Não (95,75%)248 (85,86%)249 497

Total 259 290 549

χ2 = 15,61; odds ratio =0,27.

Fonte: Survey “O Impacto Social da Televisão sobre o Comportamento Reproduti-vo no Brasil” – Módulo Adolescentes, 1997.

(12)

ficantemente superior à proporção de meninos (Tabela 8). Apesar de audiência ser muito baixa, o χ2 calculado sugere que, apesar da chance dos meninos assistirem a novela ser a metade da chance das meninas, a audiência desta novela não pode ser rotulada de nem feminina, nem de masculina.

A novela das oito definitivamente não é território femini-no. O teste do χ2 não rejeita a hipótese nula de independência entre as variáveis. Em outras palavras, meninos e meninas assistem a novela das oito igualmente, como pode ser comprovado pelo odds ratio de 1,07 – a chance dos meninos assistirem a novela das oito é 1,07 da chance das meninas. Em outras palavras, as chances são praticamente iguais. No caso das novelas das dez (Xica da Silva e Dona Anja), o resultado é exatamente o oposto: este horário é predominantemente masculino. Ainda que a audiência seja muito pequena, é interessante notar que a proporção de entrevistados (meninos) que reportaram assistir Xica da Silva ou Dona Anja (6%) é maior que a proporção de entrevistadas (2%) (Tabela 10). Este é o único caso em que a audiência masculina supera a feminina. O odds ratio indica que a chance dos meninos assistirem esta novela é 3,12 vezes a chance das meninas. Uma possível explicação pode estar no conteúdo destas novelas, dado que ambas se caracterizam por cenas de nudez feminina, atraindo a audiência masculina. Outra possibilidade é a proibição diferenciada por parte dos pais – os pais proíbem as filhas, mas não os filhos, de assistir novelas com tanto apelo sexual.

Tabela 8

TABELA DE CONTINGÊNCIA 2 X 2

– AUDIÊNCIA DA NOVELA DAS SETE DA BAND, POR SEXO

Novela das sete – Band Masculino Feminino Total

Sim 9 (3,47%) 19 (6,55%) 28 Não (96,53%)250 (93,45%)271 521 Total 259 290 549 χ2 = 2,68; odds ratio = 0,51.

Fonte: Survey “O Impacto Social da Televisão sobre o Comportamento Reproduti-vo no Brasil” – Módulo Adolescentes, 1997.

(13)

Até agora, consideramos que todos os adolescentes entre-vistados têm a mesma chance de assistir novela. No entanto, sabemos que, por várias razões, é possível que ele (a) seja impedido (a) de ver novela. Além de uma eventual proibição dos pais – a qual não temos como medir na nossa base de dados –, ele (a) pode não assistir novela porque estuda à noite, porque trabalha à noite, porque trabalha de dia e estuda à noite, ou porque trabalha o dia todo e prefere outras atividades de lazer à noite. Infelizmente o questionário não pergunta em que turno o entrevistado estuda. Com base nos dados disponíveis,

Tabela 9

TABELA DE CONTINGÊNCIA 2 X 2

– AUDIÊNCIA DA NOVELA DAS OITO DA GLOBO, POR SEXO

Novela das oito – Globo Masculino Feminino Total Sim (54,44%)141 (52,76%)153 294 Não (45,56%)118 (47,24%)137 255

Total 259 290 549

χ2 = 0,16; odds ratio = 1,07.

Fonte: Survey “O Impacto Social da Televisão sobre o Comportamento Reproduti-vo no Brasil” – Módulo Adolescentes, 1997.

Tabela 10

TABELA DE CONTINGÊNCIA 2 X 2

– AUDIÊNCIA DA NOVELA DAS DEZ DA MANCHETE, POR SEXO

Novela das dez – Manchete Masculino Feminino Total Sim (6,18%)16 (2,07%)6 22 Não 243 (93,82%) 284 (97,93%) 527 Total 259 290 549 χ2 = 6,00; odds ratio = 3,12.

Fonte: Survey “O Impacto Social da Televisão sobre o Comportamento Reprodutivo no Brasil” – Módulo Adolescentes, 1997.

(14)

nosso terceiro passo consiste em analisar separadamente três grupos: aqueles que só estudaram na semana anterior à entrevista, aqueles que só trabalharam no período e aqueles que trabalharam e estudaram (Tabela 11). Dos 549 entrevistados, 417 só estudam, 11 só trabalham e 103 trabalham e estudam. Por causa do pequeno número de jovens que só trabalham, nossa análise se restringe aos que só estudam e aos que trabalham e estudam. No caso deste último grupo, dado que a audiência das novelas das sete do SBT, das sete da Band e das dez da Band e SBT é muito baixa, analisamos somente as novelas da Globo. Entre os 417 adolescentes que só estudaram na semana anterior à entrevista, os resultados anteriores se repetem. Mais uma vez, as audiências das novelas da tarde, das seis, da sete da Globo, das sete do SBT e das dez são majoritariamente femininas (Tabelas 12, 13, 14, 15 e 18). Com exceção da novela das dez da Manchete (Xica da Silva) ou do SBT (Dona Anja), a chance dos meninos assistirem as novelas acima mencionadas é sempre uma percentagem pequena da chance das meninas. O mesmo não ocorre com as novelas das sete da Band e das oito da Globo. A audiência destas novelas entre os jovens deste grupo independe do fato deles serem do sexo masculino ou feminino (Tabelas 16 e 17). Portanto, mesmo que em teoria os jovens de ambos os sexos tenham disponibilidade para ver televisão18, nem todas as novelas interessam aos do sexo masculino. Se comparados com as meninas, os meninos assistem mais a novela das dez e menos as novelas da tarde, das seis da Globo, das sete da Globo e das sete do SBT. A audiência das novelas das sete da Bande e das oito da Globo, entre os que só estudam, é tanto feminina quanto masculina.

Entre os 103 adolescentes que trabalharam e estudaram na semana anterior à pesquisa, as novelas da tarde e das sete têm uma audiência predominantemente feminina (Tabelas 19 e 20) e a novela das 8 tem uma audiência composta por adolescentes de ambos os sexos (Tabela 22). A única diferença com relação aos resultados anteriores é o fato da novela das seis deixar de ser território predominantemente feminino entre os jovens deste grupo.

18 Mesmo não sabendo em que turno o adolescente estuda, estamos assumindo que a distribuição dos adolescentes por turno é igual, independente do sexo.

(15)

Tabel a 11 DI STR IB UIÇÃO DA AUD IÊNC IA DAS N OVELAS POR TRAB ALH O E ESTU DO NA S EMANA ANTER IOR À ENTRE V IS TA, P OR S EXO Só e studa S ó traba lh a T raba lh a e estuda M a sculi n o Femi n in o M a scul ino Fe m inino M ascu lino Femi n in o A ssiste Nã o a ssiste As sis te Nã o a ssis te A ss iste Nã o a ss iste A ssiste Nã o a ssiste Ass is te Não assiste A ssiste Nã o as si st e N o ve la d a tarde – Globo 63 (36,2 1%) 11 1 (63,7 9%) 18 4 (75, 72%) 59 (24, 28%) 0 (0,00 % ) 10 (10 0%) 0 (0,0 0%) 1 (1 00%) 18 (25 ,35% ) 53 (7 4,65 % ) 21 (65, 63%) 11 (34 ,37% ) N o ve la das s ei s – G lo b o 18 (10,3 4%) 15 6 (89,6 6%) 94 (38, 98%) 14 9 (61, 02%) 0 (0,00 % ) 10 (10 0%) 1 (1 00%) 0 (0,0 0%) 9 (12 ,67% ) 62 (8 7,33 % ) 9 (28, 13%) 23 (71 ,87% ) N o ve la das sete – G lob o 32 (18,3 9%) 14 2 (81,6 1%) 10 8 (44, 44%) 13 5 (55, 56%) 2 (2 0,00 % ) 8 (8 0,00 % ) 0 (0,0 0%) 1 (1 00%) 10 (14 ,08% ) 61 (8 5,92 % ) 11 (34, 38%) 21 (65 ,62% ) N o ve la das sete – SBT 6 (3,4 5%) 16 8 31 (12, 76%) 21 2 (87, 24%) 1 (1 0,00 % ) 9 (9 0,00 % ) 0 (0,0 0%) 1 (1 00%) 4 (5 ,63% ) 67 (9 4,37 % ) 3 (9,3 8%) 29 (90 ,62% ) N o ve la das sete – B an d 8 (4,6 0%) 16 6 19 (7, 82%) 22 4 (92, 18%) 0 (0,00 % ) 10 (10 0%) 0 (0,0 0%) 1 (1 00%) 1 (1 ,41% ) 70 (9 8,59 % ) 0 (0,0 0%) 32 (100 % ) N o ve la das oito – Globo 97 (55,7 5%) 77 12 0 (49, 38%) 12 3 (50, 62%) 4 (4 0,00 % ) 6 (6 0,00 % ) 0 (0,0 0%) 1 (1 00%) 32 (45 ,07% ) 39 (5 4,93 % ) 16 (50, 00%) 16 (50 ,00% ) N o ve la das dez – M anchete e SB T 11 (6,3 2%) 16 3 6 (2, 47%) 23 7 (97, 53%) 0 (0,00 % ) 10 (10 0%) 0 (0,0 0%) 1 (1 00%) 4 (5 ,63% ) 67 (9 4,37 % ) 0 (0,0 0%) 32 (100 % ) Fon te : Survey “ O I m p ac to S o cial da T elevisão s obre o C o m p ortame n to R eprodu ti vo n o Br as il” – M ó dulo Adole sc e nt e, 1997.

(16)

Tabela 12

TABELA DE CONTINGÊNCIA 2 X 2

– AUDIÊNCIA DA NOVELA DA TARDE DA GLOBO, POR SEXO,

ENTRE OS ADOLESCENTES QUE SÓ ESTUDARAM, NA SEMANA ANTERIOR À ENTREVISTA

Novela da Tarde – Globo Masculino Feminino Total Sim (36,21%)63 (75,72%)184 247 Não (63,79%)111 (24,28%)59 170

Total 174 243 417

χ2 = 65,56; odds ratio = 0,18.

Fonte: Survey “O Impacto Social da Televisão sobre o Comportamento Reproduti-vo no Brasil” – Módulo Adolescentes, 1997.

Tabela 13

TABELA DE CONTINGÊNCIA 2 X 2 – AUDIÊNCIA DA NOVELA DAS SEIS DA GLOBO,

POR SEXO,

ENTRE OS ADOLESCENTES QUE SÓ ESTUDARAM, NA SEMANA ANTERIOR À ENTREVISTA

Novela das seis – Globo Masculino Feminino Total Sim (10,34%)18 (38,68%)94 112 Não (89,66%)156 (61,32%)149 305

Total 174 243 417

χ2 = 41,45; odds ratio = 0,18.

Fonte: Survey “O Impacto Social da Televisão sobre o Comportamento Reproduti-vo no Brasil” – Módulo Adolescentes, 1997.

(17)

Tabela 14

TABELA DE CONTINGÊNCIA 2 X 2

– AUDIÊNCIA DA NOVELA DAS SETE DA GLOBO, POR SEXO,

ENTRE OS ADOLESCENTES QUE SÓ ESTUDARAM, NA SEMANA ANTERIOR À ENTREVISTA

Novela das sete – Globo Masculino Feminino Total Sim (18,39%)32 (44,44%)108 140 Não (81,61%)142 (55,56%)135 277

Total 174 243 417

χ2 = 30,86; odds ratio = 0,28.

Fonte: Survey “O Impacto Social da Televisão sobre o Comportamento Reproduti-vo no Brasil” – Módulo Adolescentes, 1997.

Tabela 15

TABELA DE CONTINGÊNCIA 2 X 2 – AUDIÊNCIA DA NOVELA DAS SETE DO SBT,

POR SEXO,

ENTRE OS ADOLESCENTES QUE SÓ ESTUDARAM, NA SEMANA ANTERIOR À ENTREVISTA

Novela das sete – SBT Masculino Feminino Total Sim (3,45%)6 (7,82%)19 25 Não (96,55%)168 (92,18%)224 392

Total 174 243 417

χ2 = 10,87; odds ratio = 0,24.

Fonte: Survey “O Impacto Social da Televisão sobre o Comportamento Reproduti-vo no Brasil” – Módulo Adolescentes, 1997.

(18)

Tabela 16

TABELA DE CONTINGÊNCIA 2 X 2 – AUDIÊNCIA DA NOVELA DAS SETE DA BAND,

POR SEXO,

ENTRE OS ADOLESCENTES QUE SÓ ESTUDARAM, NA SEMANA ANTERIOR À ENTREVISTA

Novela das sete – Band Masculino Feminino Total Sim (4,60%)8 (7,82%)19 27 Não (95,40%)166 (92,18%)224 390

Total 174 243 417

χ2 = 1,74; odds ratio = 0,57.

Fonte: Survey “O Impacto Social da Televisão sobre o Comportamento Reproduti-vo no Brasil” – Módulo Adolescentes, 1997.

Tabela 17

TABELA DE CONTINGÊNCIA 2 X 2

– AUDIÊNCIA DA NOVELA DAS OITO DA GLOBO, POR SEXO,

ENTRE OS ADOLESCENTES QUE SÓ ESTUDARAM, NA SEMANA ANTERIOR À ENTREVISTA

Novela das oito – Globo Masculino Feminino Total Sim (55,75%)97 (49,38%)120 217 Não (44,25%)77 (50,62%)123 200

Total 174 243 417

χ2 = 1,65; odds ratio = 1,29

Fonte: Survey “O Impacto Social da Televisão sobre o Comportamento Reproduti-vo no Brasil” – Módulo Adolescentes, 1997.

(19)

Tabela 18

TABELA DE CONTINGÊNCIA 2 X 2

– AUDIÊNCIA DA NOVELA DAS DEZ DA MANCHETE/SBT, POR SEXO,

ENTRE OS ADOLESCENTES QUE SÓ ESTUDARAM, NA SEMANA ANTERIOR À ENTREVISTA

Novela das dez

– Manchete/SBT Masculino Feminino Total Sim (6,32%)11 (2,47%)6 17 Não (93,68%)163 (97,53%)237 400

Total 174 243 417

χ2 = 3,85; odds ratio = 2,67.

Fonte: Survey “O Impacto Social da Televisão sobre o Comportamento Reproduti-vo no Brasil” – Módulo Adolescentes, 1997.

Tabela 19

TABELA DE CONTINGÊNCIA 2 X 2

– AUDIÊNCIA DA NOVELA DA TARDE DA GLOBO, POR SEXO,

ENTRE OS ADOLESCENTES QUE ESTUDARAM E TRABALHARAM, NA SEMANA ANTERIOR À ENTREVISTA

Novela da tarde – Globo Masculino Feminino Total Sim (25,35%)18 (65,63%)21 39 Não (74,65%)53 (34,38%)11 64

Total 71 32 103

χ2 = 15,21; odds ratio = 0,18.

Fonte: Survey “O Impacto Social da Televisão sobre o Comportamento Reproduti-vo no Brasil” – Módulo Adolescentes, 1997.

(20)

Tabela 20

TABELA DE CONTINGÊNCIA 2 X 2 – AUDIÊNCIA DA NOVELA DAS SEIS DA GLOBO,

POR SEXO,

ENTRE OS ADOLESCENTES QUE ESTUDARAM E TRABALHARAM, NA SEMANA ANTERIOR À ENTREVISTA

Novela das seis – Globo Masculino Feminino Total Sim (12,68%)9 (28,13%)9 18 Não (87,32%)62 (71,88%)23 85

Total 71 32 103

χ2 = 3,65; odds ratio = 0,37.

Fonte: Survey “O Impacto Social da Televisão sobre o Comportamento Reproduti-vo no Brasil” – Módulo Adolescentes, 1997.

Tabela 21

TABELA DE CONTINGÊNCIA 2 X 2

– AUDIÊNCIA DA NOVELA DAS SETE DA GLOBO, POR SEXO,

ENTRE OS ADOLESCENTES QUE ESTUDARAM E TRABALHARAM, NA SEMANA ANTERIOR À ENTREVISTA

Novela das sete – Globo Masculino Feminino Total Sim (14,08%)10 (34,38%)11 21 Não (85,92%)61 (65,63%)21 82

Total 71 32 103

χ2 = 5,59; odds ratio = 0,31.

Fonte: Survey “O Impacto Social da Televisão sobre o Comportamento Reproduti-vo no Brasil” – Módulo Adolescentes, 1997.

(21)

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dizem que novela é coisa de mulher. Nossa análise da audiência de novelas entre 549 adolescentes de 14 a 17 anos em Montes Claros, MG mostra que isto não é verdade. Entre as novelas da Globo, a novela das oito não se encaixa no que diz o senso comum e até mesmo parte da literatura. É possível que a temática rural e patriarcal da novela O Rei do Gado19 tenha atraído o público adolescente masculino somente em Montes Claros, onde a realidade está bastante próxima do mundo das fazendas, dos bois e dos coronéis. É possível, ainda, que o horário das oito não seja território feminino, independente do tema da novela.

O mesmo ocorre com a novela das sete da Band, Perdidos de Amor, cujo público também não é predominantemente feminino. A novela traz atores jovens e bonitos, gira em torno de uma estória romântica e tem como objetivo concorrer com a novela das sete da Globo Salsa e Merengue. É possível que o conteúdo voltado para o

Tabela 22

TABELA DE CONTINGÊNCIA 2 X 2

– AUDIÊNCIA DA NOVELA DAS OITO DA GLOBO, POR SEXO,

ENTRE OS ADOLESCENTES QUE ESTUDARAM E TRABALHARAM, NA SEMANA ANTERIOR À ENTREVISTA

Novela das oito – Globo Masculino Feminino Total Sim (45,07%)32 (50,00%)16 48 Não (54,93%)39 (50,00%)16 55

Total 71 32 103

χ2 = 0,22; odds ratio = 0,82.

Fonte: Survey “O Impacto Social da Televisão sobre o Comportamento Reproduti-vo no Brasil” – Módulo Adolescentes.

19 Na semana da pesquisa de campo, a novelas das oito da Globo era A Indomada. Como O Rei do Gado tinha acabado dez dias antes do início da pesquisa, grande

(22)

público adolescente tenha atraído a atenção do sexo masculino. Cabe lembrar que a audiência desta novela não é muito expressiva, o que nos leva a ter cautela a respeito de quaisquer conclusões.

Diferentemente das demais, as novelas das dez da Man-chete e do SBT são coisa de menino. Mais uma vez, a explicação pode estar no conteúdo destas novelas, recheadas de cenas de nudez, as quais se constituem em forte elemento de atração ao público masculino adolescente. Por esta mesma razão, é possível os pais proíbam as filhas de assistir este tipo de novela. Assim como a novela da tarde é parte do universo feminino, é possível, ainda, que o horário das dez seja de domínio masculino. Mais uma vez, é preciso cautela devido à baixa audiência destas novelas.

Mesmo quando separamos os adolescentes em três catego-rias – os que só estudam, os que só trabalham, e os que estudam e trabalham –, os resultados permanecem basicamente os mesmos20. Mesmo que o tempo disponível para ver televisão seja, em teoria, o mesmo, percebemos que meninos e meninas têm interesses distintos com relação às novelas que eles assistem. Portanto, não podemos tratar novela como uma categoria monolítica que pode ser analisada em conjunto. “Assistir novela” é algo que precisa ser melhor especifi-cado. Afinal, cada horário ou mesmo cada novela tem uma audiência específica.

Para a indústria televisiva, este resultado pode ter impli-cações tanto a nível das temáticas das novelas e construção dos perfis dos personagens quanto em termos de merchandising e anunciantes. Em ambos os casos, autores e produtores da novela das oito deveriam sempre ter em mente que, em determinados horários, o público é também masculino. Com relação às temáticas, isso implica em ter um conteúdo coerente com a visão que os homens têm deles mesmos. No caso americano, por exemplo, os homens em soap-operas são geral-mente retratados como mais doces, compreensivos e carinhosos do que a média na vida real por duas razões: porque é assim que as mulheres gostariam que eles fossem e porque eles não assistem a estes progra-mas (Craig, 1992). Para que a novela brasileira agrade também ao público masculino, talvez ela devesse conjugar homens com perfis 20 Uma exceção é a novela das seis entre os jovens que estudam e trabalham. Anteriormente de domínio feminino, esta novela passa a ter audiência “mista” entre os jovens deste grupo.

(23)

psicológicos e padrões de comportamento mais próximos da vida real, além de ter uma temática que não seja considerada “feminina”. Em termos de propaganda, se a audiência de uma determinada novela é também masculina, isto significa que os anúncios do intervalo comer-cial (e mesmo os que se inserem na novela) não se restringem aos produtos femininos e para o lar. No caso da novela Por Amor21, por exemplo, a Globo certamente já sabia que a sua audiência era composta por homens e mulheres, incluindo indivíduos de alto poder aquisitivo. Caso contrário, não teria sentido o merchandising do condomínio Alphaville feito pelo personagem Atílio, vivido por Antônio Fagundes. Sob o ponto de vista da Demografia, qual a importância de se saber que certas novelas não são coisa de mulher? Se é verdade que as novelas são um instrumento de difusão de novas idéias e valores e, desta forma, contribuem para as mudanças ideacionais, o fato da audiência da novela das oito22 ser igualmente composta por jovens de ambos os sexos faz com que as mensagens veiculadas pela novela sejam recebidas tanto por meninas quanto por meninos. Desta forma, a novela teria um impacto mais abrangente no sentido de levar aos adolescentes de ambos os sexos nos locais mais remotos do país a realidade, os valores e os comportamentos que são restritos a uma determinada região. Claro que não nos esquecemos que a decodificação da mensagem televisiva varia de acordo com o sexo, a classe social e a região do país onde o jovem mora, entre outras coisas. Como diria Scott (1994), meninos e meninas percebem e interpretam o símbolo cultural “novela” de forma diferenciada. Já que dados de survey não nos permitem nenhuma conclusão a respeito de percepções, nosso próximo passo é tentar entender, com base em dados de grupos de discussão, como meninos e meninas percebem e lidam com a novela.

No caso específico de Montes Claros, que se caracteriza por ser uma sociedade machista e patriarcal, o fato dos meninos assistirem a novela das oito pode fazer com que eles, aos poucos, passem a aceitar ou pelo menos não rejeitar determinados comportamentos anterior-mente considerados ruins ou inaceitáveis. Sabemos que situações vistas nas novelas costumam ser usadas como exemplo em conversas entre pais e filhos, sobretudo nas que envolvem tópicos sensitivos tais 21 A novela Por Amor, de Manoel Carlos, foi ao ar no horário das oito entre 13 de

outubro de 1997 e 13 de maio de 1998.

(24)

como sexo, contracepção e uso de camisinha (Miranda-Ribeiro, 1997). Da mesma forma, o fato da menina saber que o menino assiste a novela pode fazer com que ela, usando as situações fictícias como exemplo, converse com o namorado sobre determinados assuntos. Não somos as primeiras a dizer que as novelas podem servir de instrumento para “empoderar”23 as mulheres24. Nossa contribuição talvez seja dizer que o que “empodera” as mulheres não é somente o fato delas próprias assistirem novela. Ao assistir determinadas novelas, os adolescentes do sexo masculino podem estar contribuindo para “empoderar” suas parceiras por criar um locus comum onde certas situações, comporta-mentos e senticomporta-mentos são entendidos por ambos. Este entendimento comum pode facilitar o diálogo e, quem sabe, fazer com que as relações de gênero entre os adolescentes se tornem mais igualitárias.

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALLEN, R. C. Speaking of soap operas. Chapel Hill: The University of North Carolina Press. 1985.

BAEHR, H., GRAY, A. Turning it on: a reader in women and media. London: Arnold, 1996.

BOHRNSTEDT, G. W., KNOKE, D. Statistics for social data analysis. Itasca: F. E. Peacock Publishers, 1988.

BROWN, M. E. Soap opera and women’s talk: the pleasure of resis-tance. Thousand Oaks: Sage, 1994.

CRAIG, S. (Ed.). Men, masculinity, and the media. Newbury Park: Sage, 1992.

CLELAND, J., WILSON, C. Demand theories of the fertility transi-tion: an iconoclastic view. Population Studies, v. 41, p. 5-30, 1987. FARIA, V. E. Políticas de Governo e Regulação da Fecundidade:

Consequências não antecipadas e efeitos perversos. Ciências So-ciais Hoje, p. 62-103, 1989.

23 Do inglês empower.

(25)

FARIA, V. E., POTTER, J. E. Development, government policy, and fertility regulation in Brazil. The social impact of television on reproductive behavior. Population Research Center. Austin: The University of Texas, 1990. (Brazil Working Paper Series, n. 2). ---, ---. Television, telenovelas, and fertility change in Northeast

Brazil. The social impact of television on reproductive behavior. Population Research Center. Austin: The University of Texas, 1994. (Brazil Working Paper Series, n. 8).

GERAGHTY, C. Women and soap opera: a study of prime time soaps. Cambridge: Polity Press, 1991.

HAMBURGER, E. I. Diluindo fronteiras entre o público e o privado: a televisão e as novelas no cotidiano. 1998. (A ser publicado no último volume de A História da Vida Privada no Brasil).

HUSTON, A. C., DONNESTEIN, E., FAIRCHILD, H., FESHBACH, N. D., KATZ, P. A., MURRAY, J. P., RUBINSTEIN, E. A., WIL-COX, B. L., ZUCKERMAN, D. Big world, small screen: the role of television in american society. Lincoln: University of Nebraska Press, 1992.

LAPASTINA, A. C. Tese de doutorado (em andamento) a ser defendi-da junto ao Radio, Televison and Film Department. Austin: The University of Texas, 1998.

LARSON, R. Secrets in the bedroom: adolescents’ private use of media. Journal of Youth and Adolescence, v. 24, n. 5, p. 535-550, 1995.

LEAL, O. F. A leitura social da novela das oito. Petrópolis: Vozes, 1986.

MIRANDA-RIBEIRO, P. Telenovelas and the sexuality transition among teernagers in Brazil. Department of Sociology. Austin: The University of Texas at Austin, 1997. (Tese de doutorado).

MONTGOMERY, M. R., CASTERLINE, J. B. Social learning, social influence, and new models of fertility. In: CASTERLINE, J. B., LEE, R. D., FOOTE, K. (Eds.). Fertility in the United States: new patterns, new theories. Population and Development Review, v. 22, p. 151-175, 1996. (Supplement).

(26)

OLIVEIRA, M. C. F. A., BILAC, E. D., MUSZKAT, M. Os homens, estes desconhecidos... Revista Brasileira de Estudos de População, v. 11, n. 1, p. 89-93, 1994.

PRESS, A. L. Women watching television: gender, class, and genera-tion in the american television experience. Philadelphia: Univer-sity of Pennsylvania Press, 1991.

SCOTT, J. W. Gender and the politics of history. New York: Columbia University Press, 1994.

STRASBURGER, V. C. Adolescents and the media: medical and psy-chological impact. California: Thousand Oaks, Sage, 1995. WATKINS, S. C. From local to national communities: the

transfor-mation of demographic regimes in western europe, 1870-1960. Population Development Review, v. 16, n. 2, p. 241-272, 1990. WICKENS, T. D. Multiway contingency tables analysis for the social

Referências

Documentos relacionados

​ — these walls are solidly put together”; and here, through the mere frenzy of bravado, I rapped heavily with a cane which I held in my hand, upon that very portion of

O capítulo I apresenta a política implantada pelo Choque de Gestão em Minas Gerais para a gestão do desempenho na Administração Pública estadual, descreve os tipos de

Com a mudança de gestão da SRE Ubá em 2015, o presidente do CME de 2012 e também Analista Educacional foi nomeado Diretor Educacional da SRE Ubá e o projeto começou a ganhar

Dessa forma, diante das questões apontadas no segundo capítulo, com os entraves enfrentados pela Gerência de Pós-compra da UFJF, como a falta de aplicação de

O construto estilo e qualidade de vida é explicado pelos seguintes indicadores: estilo de vida corrido realizando cada vez mais trabalho em menos tempo, realização

Introduzido no cenário acadêmico com maior ênfase por Campos (1990), o termo accountability é de conceituação complexa (AKUTSU e PINHO, 2001; ROCHA, 2009) sendo

Purpose: This thesis aims to describe dietary salt intake and to examine potential factors that could help to reduce salt intake. Thus aims to contribute to

Os maiores coeficientes da razão área/perímetro são das edificações Kanimbambo (12,75) e Barão do Rio Branco (10,22) ou seja possuem uma maior área por unidade de