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A adaptação curricular e a construção de materiais pedagógicos

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Academic year: 2021

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Relatório Final

A adaptação curricular e a construção de materiais pedagógicos

Raquel Sereno da Costa Quintino

Relatório Final elaborado no âmbito do Mestrado em Educação Pré-escolar e

1ºCiclo do Ensino Básico

Orientadoras: Professora Mestre Maria Celeste Ribeiro

e Professora Mestre Maria Lacerda

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! """! Agradeço desde já a todos aqueles que fizeram parte desta minha jornada e que, de uma forma ou de outra, ajudaram a que eu encontrasse o meu caminho.

Em especial aos meus pais, Rui e Lili, pela paciência e por todo o carinho, aos meus irmãos, Tatá e Becas, pela força, disponibilidade e amizade, sempre na hora certa.

Ao João e ao Tiago, que sempre me apoiaram e se mostraram disponíveis para me ajudar em todas as alturas. Especialmente ao João por me compreender e sobretudo por aceitar todas as vezes em que a única coisa que eu queria era estar em casa e descansar.

À escola onde tive o privilégio de realizar a minha última prática de ensino supervisionada, pois tanto as crianças como os professores e profissionais de educação foram incansáveis e mostraram-se sempre disponíveis para me ouvirem e deram-me sempre espaço para elaborar e pôr em prática todas as minhas ideias.

À minha família, no geral, por compreender que nem sempre tinha tempo nem espaço para eles, e que nem sempre era possível todos os momentos de carinho e de companheirismo ao quais estamos habituados.

Agradeço também a todos os meus amigos e amigas que me acompanharam ao longo de todo o curso e também nos longos dias de pesquisa em bibliotecas, mais especificamente as minhas colegas e amigas Daniela Barata, Filipa Botelho e Vera Castelo Branco.

Por fim, não posso deixar de agradecer à professora Maria Lacerda e à professora Maria Celeste Ribeiro, pela disponibilidade, pela orientação e por todas as conversas, o meu muito obrigada.

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! #! Este relatório tem como objeto de estudo a importância dos materiais adaptados para crianças com NEE (necessidades educativas especiais), assim como, tentar compreender e verificar o porquê dos mesmos não serem sistematicamente usados.

Visitados autores de referência e, explicadas e reflectidas as atividades realizadas e a construção dos materiais adaptados para trabalhar determinados temas e conteúdos do programa do 1ºCiclo procurei encontrar resposta para as perguntas que balizaram este estudo, procurando sempre a contextualização do mesmo.

Durante o estágio, local onde escolhi a problemática para a realização deste relatório, foquei-me essencialmente numa criança com NEE, à qual era diagnosticada uma paralisia cerebral. Foi com esta criança que trabalhei a partir dos materiais adaptados que construí ao longo do estágio.

A metodologia escolhida é de cariz qualitativo tendo usado como instrumento de recolha de dados a observação participante que foram registadas na forma de notas de campo. A análise dos dados permitiu-me perceber a importância do uso desses materiais num trabalho quer de diferenciação pedagógica quer de inclusão na sala de aula de um aluno com NEE.

Palavras-chave: necessidades educativas especiais; construção de materiais adaptados;

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! #""! The aim of this report is to study the importance of adapting teaching materials for Special Needs Children, as well as to understand and verify why these materials are not systematically used.

By referring to Reference Works and also by explaining and considering the activities developed and the construction of the adapted materials to work with specific topics and contents in Primary School, I tried to find the answers to the questions which surrounded this study keeping it always within its context.

During my training, when I decided upon the problematic of my work, I focused on a particular Special Needs Child who had been diagnosed with brain paralysis. It was with this Child that I worked based on the adapted materials, which I designed throughout my training. The chosen methodology is one of a quality matter and as an instrument of data collection I used direct observation registered in the form of field notes.

The analysis of the data allowed me to realise the importance of using these materials to work not only as a means for pedagogic differentiation but also for the inclusion of a Special Needs Student in the classroom.

Key words: Special needs education; construction of adapted materials; brain paralysis;

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Introdução 1

1 – Enquadramento teórico-empírico da Prática de Ensino Supervisionada 5

1.1 – Apresentação do problema e questões de investigação 5

1.2 – Escola para todos: Escola Inclusiva 5

1.3 – Diferenciação Pedagógica 10

1.3.1 – Estratégias a usar com crianças com NEE 13

1.3.2 – Importância dos Materiais Adaptados 15

1.3.3 – Avaliação das crianças com NEE 16

1.4 – Paralisia Cerebral 18

1.5 – Opções metodológicas 19

2 – Caracterização do contexto institucional e comunidade envolvente 23

2.1 – Apresentação do local de estágio 23

2.2 – Caracterização da criança 28

2.3 – As práticas observadas e o foco deste estudo 31

3 – A Prática de Ensino Supervisionada na Instituição 35

3.1 – Conhecimento e preparação do terreno 35

3.2 – Em Ação 37

3.2.1 – Descrição e Resultados 39

3.2.1.1 – Jogo dos Animais – Quem são e onde vivem 40

3.2.1.2 – Roda dos Alimentos 42

3.2.1.3 – Jogo da Memória 44

3.2.1.4 – Jogo das Sílabas 45

3.2.1.5 – Quadro de Análise dos objetivos alcançados pelas atividades propostas 46

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! $! Referências Bibliográficas 57 Anexos 61 Anexo 1 62 Anexo 2 63 Anexo 3 71

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Introdução

O estágio é tempo para privilegiar o contacto direto com as crianças, a instituição, os familiares das crianças, o meio envolvente e com os professores e todos os profissionais de educação que fazem parte do corpo docente e não docente da instituição.

O tipo de estágio realizado é um estágio profissionalizante, sendo o último estágio do mestrado, tem como finalidades a integração do aluno no sistema educativo, desenvolver competências profissionais na instituição, definir e consolidar a intencionalidade pedagógica e por fim fundamentar e avaliar a ação educativa.

Os objetivos gerais do estágio são três, desenvolver as relações interpessoais com os agentes educativos no contexto institucional e com as crianças/adultos; a intervenção pedagógica, onde temos de ser capazes de desenvolver e mostrar a nossa capacidade de intervenção; e por fim o registo e reflexão, onde tem de estar presente todos os registos e reflexões da ação educativa.

Ao longo de todo o curso, tive a possibilidade de passar por vários estabelecimentos de ensino, desde públicos, a IPSS (instituição particular de solidariedade social) passando também pelos colégios privados.

Neste último estágio, fiquei numa escola pública situada no centro de Lisboa, que abrangia crianças e adolescentes desde o pré-escolar até ao final do 3ºCiclo. Esta escola, em conjunto com mais oito fazem parte de um agrupamento, onde uma das nove escolas é a principal, sendo a sede de todo o agrupamento.

Durante o estágio os objetivos que presidiram foram sem dúvida a relação e a intervenção educativa uma vez que para mim são dois aspetos essenciais para que haja uma boa intervenção pedagógica.

Vivenciei e observei muitas realidades diferentes, o que fez com que diariamente fosse totalmente de espírito aberto para o estágio, para conseguir receber tudo aquilo que as

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crianças tinham para dar, assim como dei o melhor de mim para a aprendizagem e crescimento de cada criança.

Realizei o meu estágio numa turma de 2º ano bastante heterogénea, havia crianças com NEE (necessidades educativas especiais), crianças com varias dificuldades de

aprendizagem, crianças empenhadas e trabalhadoras, entre outras variantes, mas independentemente de tudo a alegria era constante e contagiante.

Ao fim de algumas semanas em estágio, percebi que uma grande dificuldade da professora cooperante era dar a atenção necessária a cada criança, uma vez que a

heterogeneidade era grande, nem sempre era possível chegar a todas da mesma forma. Não é uma turma onde o nível de aprendizagem se encontra todo no mesmo grau, pelas dificuldades das crianças que resumidamente apresentei acima, o que exige uma grande “ginástica” da parte da professora, mas que nem sempre é suficiente.

Assim, com tudo o que observei e vivenciei decidi escolher como objeto do meu estudo a “A adaptação curricular e a construção de materiais pedagógicos” no sentido de potenciar as aprendizagens das crianças com NEE.

Todas as restantes crianças tinham manuais escolares e realizavam as aprendizagens a partir dos mesmos, mas as crianças com NEE, não, pois não tinham capacidade para

acompanhar uma aula lecionada e orientada pelo livro escolar.

Desta forma, ao longo do meu estágio elaborei diversos materiais, tendo em conta os temas, conceitos e objetivos e a serem abordados e necessários para as crianças com este tipo de dificuldades realizarem aprendizagens significativas.

A estrutura do relatório baseia-se sobretudo em quatro capítulos. O primeiro refere-se a todo o enquadramento teório-empírico e metodológico, no qual são citados diversos autores tendo em conta o tema/problema escolhido. É uma recolha bibliográfica, onde é possível

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fundamentar o problema, ao mesmo tempo que apresento ainda a metodologia escolhida para a recolha de dados no terreno.

O segundo capítulo tem como título “Caracterização do contexto institucional e comunidade envolvente”. Neste capítulo apresento detalhadamente a instituição onde

executei a minha prática pedagógica, mantendo sempre em anonimato o nome e a localização da mesma. Esta descrição terá como base e ponto de partida todos os registos que elaborei ao longo do estágio.

É também neste capítulo que refiro o conjunto de fatores que despertaram o interesse para a problemática escolhida, justificando ao mesmo tempo a razão pela qual acredito ser uma problemática importante a ser desenvolvida.

O terceiro capítulo refere-se à apresentação das atividades elaboradas e realizadas contextualizando-as na problemática escolhida. Aqui apresento não só as atividades e resultados obtidos, como também explico como cheguei à escolha das mesmas.

Por fim, e ainda no terceiro capítulo, explico todo o trabalho feito para que, quando eu terminasse o estágio houvesse uma continuidade do trabalho que iniciei, conseguindo assim um trabalho contínuo, onde o principal objetivos era proporcionar momentos para que houvesse aprendizagens significativas.

O quarto, e último capítulo, diz respeito às considerações finais, ou seja, é neste capítulo que apresento as minhas reflexões sobre o trabalho desenvolvido e toda a

experiência vivenciada ao longo do estágio, assim como, tento explicar a intenção de projetar novos caminhos de intervenção, em relação à problemática escolhida.

Ao longo de todo o relatório irão ser referidos alguns nomes, sendo todos eles fictícios.

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1 – Enquadramento teórico-empírico da Prática de Ensino Supervisionada

1.1 - Apresentação do problema e questões de investigação

No decorrer da prática de ensino supervisionada em 1º!ciclo do ensino básico e com a intenção de desenvolver uma ação educativa ajustada à!turma e a cada criança em particular, constatei que teria de adaptar as propostas às aprendizagens das crianças. A questão mais desafiante foi com uma criança com paralisia cerebral. O principal objetivo seria o de

proporcionar à!criança a aprendizagem de conteúdos, que estavam a ser abordados na sala de aula, de estudo do meio, português e matemática, e recorri a materiais por mim construídos e adaptados para tentar dar resposta às lacunas existentes no processo de aprendizagem da criança, atendendo à!sua especificidade.

Neste processo de preparação das tarefas e atividades propostas a esta criança emergiram as questões seguintes:

1 - Será!que em termos táteis e visuais o material didático desperta o interesse da criança, ajudando assim na aquisição de conteúdos escolares?

2 - Como pode o professor desenvolver práticas diferenciadas?

3 - A adaptação curricular é!algo essencial para a aprendizagem desta criança. Como fazê-lo e como pô-lo em prática?

4 - Qual é!a importância da reflexão feita, após a sua utilização, sobre o trabalho realizado com os materiais adaptados?

1.2 - Escola para todos: Escola Inclusiva

Para que seja possível existir uma “escola para todos”!é!essencial que se compreenda o que é!este conceitoe o que realmente implica “ser uma escola inclusiva”. Acima de tudo, segundo Ladeira e Amaral (2010) a escola:

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É!bem mais do que um local onde se aprender a ler e a escrever. É!possivelmente, um local onde se aprende a viver, a participar com outros em atividades, a conhecer melhor a comunidade em que se está!inserido, a conviver com pessoas diferentes. (p.23).

Desta forma, uma escola inclusiva, deve ser mais do que uma escola de ensino regular, deve ser uma escola que para além de receber e de integrar as crianças com NEE em turmas regulares, principalmente, deve assumir, juntamente com o encarregado de educação e com a família, todo o apoio essencial para o melhor desenvolvimento da criança. Para

Brazelton e Sparrow (2010) o conceito de inclusão:

Apresenta oportunidade à!criança para que ela se modele e aprenda com outras crianças. Ela pode, em especial, aprender a lidar consigo própria num grupo e a estabelecer relações sociais com uma variedade de pares. Ela pode aprender a lidar com a sua incapacidade e até!ficar motivada para a ultrapassar. (p.381).

Já!para Correia (2008, p.19) a inclusão “não pode, nem deve, arredar-se muito do objetivo que lhe deu origem, o atendimento educacional a alunos com NEE, efetuado nas escolas das suas residências e, na medida do possível chegar às classes regulares”, ou seja, a inclusão não é!apenas receber e integrar uma criança com NEE numa turma de ensino

regular, mas sim, fazer com que haja um desenvolvimento e uma aquisição de conceitos para o crescimento da mesma.

A inclusão não beneficia apenas as crianças com NEE, pois todos os restantes alunos podem aprender a ser melhores pessoas e a compreender a vida através da convivência com crianças do ensino especial, segundo Brazelton e Sparrow (2010, p.381) “as crianças não incapacitadas da turma normal podem lucrar muitíssimo –!se as suas professoras não estiverem sobrecarregadas. Os colegas da turma podem apender a cuidar das crianças com necessidades especiais”.

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Para ser possível trabalhar cada vez melhor com crianças com NEE, é!necessário uma educação especial, como o próprio nome indica. Essa educação só!é!possível ser realizada se houver uma boa equipa de colaboradores que trabalhe todos para o mesmo fim, interagindo entre eles para que se consiga apoiar a criança a diversos níveis e para que o seu

desenvolvimento e aprendizagem progrida da melhor forma, tal como Alper et al, citados por Nielsen (1999), afirma:

Tendo em conta o plano educativo individualizado e as necessidades pessoais do aluno, a equipa pode ser constituída por: por um professor de educação especial, o psicólogo da escola, um assistente social, um patologista da fala, um terapeuta físico, um terapeuta ocupacional, outros profissionais e consultores, o diretor da escola e os pais. De acordo com as necessidades o professor da classe regular poderá!solicitar um ou vários destes profissionais, para obter informações e apoio. (p.19).

Desta forma, o professor do ensino regular sente-se apoiado e pode sobretudo pedir orientações, aos membros da equipa colaboradora, sempre com o intuito de melhorar o ensino para a criança com necessidades educativas especiais.

O papel do professor e do educador é!muito importante, na medida em que

acompanham a criança nas diferentes fases da vida, desta forma é!importante que haja um contacto entre os dois de forma a acompanhar melhor o desenvolvimento da criança num momento de transição para o 1º!ciclo.

O modelo de construção de blocos de Sandall e Schwartz, embora prensado para a educação pré-escolar, ajuda a delinear um caminho para que a aprendizagem e o

acompanhamento das crianças com NEE seja o mais eficaz.

Neste modelo de construção de blocos (figura 1), como é!possível verificar, Sandall e Schwartz (2003) acreditam que existem quatro blocos essenciais, sendo eles: a componente básica - o programa pré-escolar de elevada qualidade; de seguida as adaptações curriculares que dizem respeito à!adaptação dos conteúdos curriculares, material e propostas de atividades

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promotoras da aprendizagem ativa da criança; as aprendizagens embutidas são consideradas como as estratégias a utilizar pelos educadores no sentido de dar resposta aos objetivos, por fim estratégias de ensino centradas na criança, ajudando-a a conseguir superar e alcançar os objetivos pretendidos à!medida que vai crescendo.

Sandall e Schwartz (2003), afirmam que:

Para utilizar este modelo com sucesso, os educadores têm de conciliar os objetivos individuais da criança com métodos pedagógicos e materiais apropriados, decidir a quantidade de ajuda ou de assistência de que a criança precisa; têm de fornecer essa ajuda e de determinar se a ajuda for útil. Felizmente, várias pessoas (por exemplo, terapeutas e outros especialistas) estão disponíveis para ajudar o educador. Toda a equipa tem de trabalhar em conjunto. (p.19).

Tal como mencionei anteriormente a aplicação deste modelo pode ser adequada ao 1º! ciclo por ser um modelo baseado numa perspetiva bioecológica que a meu ver é!essencial nos processos educativos.

Estratégias de ensino centradas na criança!

Oportunidades de aprendizagem embutidas!

Adaptações curriculares!

Programa pré-escolar de elevada qualidade!

Figura 1 –!Modelo de Construção de Blocos, segundo Sandall e Schwartz (2003, p.20)!

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A perspetiva bioecológica de Bronfenbrener é!um modelo que nos remete para as questões de desenvolvimento humano, e tem como base quatro pilares: o processo, a pessoa, o contexto e o tempo. Assim, deste modo este modelo assenta nestes pilares e acredita que sem eles o desenvolvimento não é!possível, uma vez que todo o processo, o contexto, o tempo e a pessoa são importantes e é!necessário que estes quatro pilares estejam alinhados para que haja um bom desenvolvimento. Como afirma Cadima (2006):

Há!uma aprendizagem formal que é!preciso fazer, é!para isso que a escola existe, há! aprendizagens conceptuais, procedimentais, atitudinais que se vão jogar ali, há! crianças e jovens que precisam dessas aprendizagens (os alunos) e há!adultos qualificados para o exercício dessa função (os professores). Tudo se passa num espaço e num tempo. (p.111).

Mas na verdade o que é!uma educação especial? É!uma educação diferente? Em que sentido? Como se proporciona então esta educação especial que todas as crianças

diagnosticadas com deficiência necessitam?

Serviços de educação especial segundo Correia (2008, p.45) são o “conjunto de recursos que prestam serviços de apoio especializados do foro académico, terapêutico, psicológico, social e clínico, destinados a responder às necessidades especiais do aluno com base nas suas características e com o fim de maximizar o seu potencial”, ou seja, educação especial não é!apenas estar abrangido pelo ensino especial, mas sim existir uma educação adaptada e especial à!criança com NEE.

O que é!na verdade uma Escola Inclusiva? Segundo Pereira (2009, p.7) “a inclusão escolar, enquanto orientação que respeita as diferenças individuais, pressupõe diversidade curricular e de estratégias de ensino/aprendizagem”, assim, é!possível compreender que uma escola inclusiva não é!apenas aquela que aceita que as crianças com NEE a frequentem, mas sim aquela que efetivamente cria estratégias e formas diversificadas para que as crianças aprendam da melhor forma.

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A filosofia subjacente ao conceito de Educação Inclusiva baseia-se, pois, num

conjunto de três princípios fundamentais, o direito à!Educação, à!Igualdade de Oportunidades e de Participar na Sociedade (Rodrigues, 2008). Isto traduz-se no acesso ao ensino por todas as crianças, mesmo as portadoras de deficiência, ao atendimento personalizado de cada uma, dando respostas adequadas às suas características e necessidades educativas especiais e ainda, à!garantia da criança com deficiência viver no seu ambiente familiar e na comunidade em que reside, usufruindo das respostas educativas que necessita.

Cabe então, ao professor enquanto decisor, orientar o seu trabalho segundo as especificidades dos seus alunos. Sobre o professor recai uma grande responsabilidade, no sucesso e na melhoria substancial do ensino e da própria função formativa da escola (Zabalza, 2000).

1.3 - Diferenciação Pedagógica

Diferenciação pedagógica, como o próprio nome indica parte de um leque abrangente de crianças com diversas necessidades e dificuldades distintas, todas frequentado a mesma sala de aula, constituindo assim uma turma heterogénea, segundo Santos (2009, p.52) a diferenciação pedagógica “constitui-se como uma resposta orientada pelo princípio do direito de todos à!aprendizagem, essencial para dar resposta à!heterogeneidade de alunos que

frequentam a escola actual.”!Para Niza, 2015:

Compreende-se melhor o que queremos dizer quando falamos de diferenciação pedagógica, se nos concentramos no trabalho do professor e no esforço que faz para romper com o tratamento igualitário do ensino simultâneo tradicional e passar a proceder a uma diferenciação do ensino nas suas aulas. (p.1).

Morgado (2004) afirma ainda que:

É!importante que as escolas, enquanto organizações, estabeleçam modelos cooperativos, partilhados, de definição dos objetivos comuns, o que, não

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acontecendo, facilita a existência, ainda frequente, do isolamento dos indivíduos dentro da organização, ou seja, a manutenção de culturas individualistas em detrimento da promoção de culturas de cooperação. (p.21).

o que chega a prejudicar a diferenciação pedagógica.

Para Tomlinson (2008, p.13) a diferenciação pedagógica emerge nas salas de aula quando cada aluno tem acesso a uma aprendizagem eficaz, assim, “uma sala de aula com ensino diferenciado proporciona diferentes formas de apreender conteúdos, processar ou entender diferentes ideias e desenvolver soluções de modo que cada aluno possa ter uma aprendizagem eficaz”. O mesmo autor, afirma, ainda, que (2008, p.15) “o professor consegue perceber que alguns alunos preferem ou beneficiam do facto de trabalharem de forma mais autónoma, enquanto outros se saem melhor trabalhando em grupos de dois ou três.”, tal atitude do professor só!é!possível se houver efetivamente um conhecimento profundo de cada criança, promovendo sempre a individualização.

Como já!referi acima, nas turmas diferenciadas ou heterógenas o professor tal como Tomlinson (2008, p.16) afirma “parte do princípio de que diferentes alunos têm diferentes necessidades. Por essa razão, o professor planeia de forma pró-activa diversas maneiras de “chegar até”!e expressar a aprendizagem.”, conseguindo assim, adequar a sua prática e ação pedagógica, ajustar a mensagem que pretende transmitir à!individualidade de cada aluno.

Numa escola, há!várias salas de aulas, todas diferentes de algum modo, o mesmo acontece com as turmas, todas são diferentes, pois não há!crianças iguais. Tomlinson (2008) acredita que um professor que segue:

O ensino diferenciado não se vê!como alguém que “já!diferencia o ensino”. Pelo contrário, esse professor está!plenamente consciente de que cada hora de ensino, cada dia passado na sala de aula, pode revelar um novo modo de adequar o ensino aos alunos. (p.20).

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Perante a diferenciação pedagógica o professor tem de criar diversas atividades e programá-las consoante as necessidades e os objetivos que quer alcançar com a mesmas, bem como, a caracterização da turma heterogénea que acompanha. Tomlinson (2008) refere que:

O professor pensa e programa as actividades educativas à!luz do conceito de “múltiplos caminhos para o conhecimento”!em prol de diversas necessidades, e não em termos do que é!“normal”!e “diferente”. O objectivo para cada aluno é!elevar ao máximo o seu “nível de aprendizagem”!actual. O objectivo do professor é!

compreender cada vez melhor em que nível os alunos se posicionam para que possa ir ao encontro das suas necessidades. (p.31).

Assim, um professor que recorre a uma prática de diferenciação pedagógica no seu dia a dia, com a turma que leciona, é!consciente que esta requer muito esforço e dedicação. Tal como afirma Santos (2009):

Pôr em acção uma prática de diferenciação pedagógica é!exigente para o professor. Exigente, não porque roube tempo para o cumprimento do programa –!não há! comprimento se não houver aprendizagem -, mas sim porque requer um conhecimento profundo dos alunos. (p.57).

A mesma autora afirma ainda que “a existência de dois professores na aula poderá! facilitar a diferenciação simultânea”"

Assim, para ajudar os alunos no processo da aprendizagem e torná-los seres produtivos é!necessário que o professor conheça “os objetos didáticos e identifique as aprendizagens fundamentais de modo a planificar o seu estudo, avaliar os seus

conhecimentos e a identificar as dificuldades.”!(Cadima, 1996, p.51). Para saber os objetos didáticos primeiro é!necessário conhecer a turma através do diagnóstico que é!uma

ferramenta que possibilita o conhecimento do potencial e das dificuldades dos alunos e consequentemente que didática ou objetos didáticos deve-se utilizar para despertar o interesse e a aprendizagem dos mesmos.

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Em suma, de acordo com Nóvoa (2005, p.95) “não se deve manter um ensino colectivo, mas antes buscar os caminhos de uma diferenciação pedagógica, que atenda aos ritmos de aprendizagem de cada criança em vez de se pautar pelo ritmo de ensino do

professor.”!A diferenciação pedagógica assume-se como uma necessidade emergente, não no reconhecimento das diferenças como uma novidade, nem na perceção que cada aluno aprende melhor ou com mais dificuldades em determinados momentos ou sobre certos assuntos, mas na necessidade de assumir, quer na escola, quer dentro da sala de aula, a existência dessas diferenças.

1.3.1 - Estratégias a usar com crianças com NEE

Uma das principais estratégias a utilizar com crianças com NEE, deve ser baseada na organização, pois é!essencial que esta exista para que seja possível obter resultados positivos na aprendizagem das crianças, de forma a que o tempo seja rentabilizado da melhor forma pois, como refere Ladeira (2010, p.16) “o trabalho dentro da sala de aula necessita de ser organizado de acordo com a diferenciação de estratégias a utilizar.”

Ladeira (2010, p.24) acredita que “os planos individuais devem ser desenhados com objetivos específicos a curto, médio e longo prazo, de acordo com os objetivos da classe, incluindo a adaptação dos conteúdos previsto para a turma”!pois é!fundamental que haja uma adaptação curricular de forma a criar programas individuais para que a aprendizagem da criança seja mais direcionada e possível de concretizar. Por sua vez estes planos devem conter objetivos gerais e específicos de forma a que as diretrizes estejam bem delineadas para que, tanto o professor de ensino regular, como todos os outros profissionais que interagem com estas crianças, estejam em conformidade relativamente às aprendizagens da criança.

O mesmo autor (2010, p.24) afirma ainda que “as atividades a desenvolver com os alunos devem incluir vivências em outros espaços para além da sala de aula, de modo a

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aumentar o contacto e o conhecimento do mundo real, é!importante não esquecermos esta afirmação, para que seja possível combater o estereótipo de aprendizagem formal, que na maior parte das vezes, em vez de ajudar, condiciona as aprendizagens dos alunos. Para combater esta aprendizagem podemos criar e proporcionar à!criança novas oportunidades potencializando a aprendizagem de aprender.

Para que haja um bom acompanhamento dos alunos com NEE, acredito que seja necessário ter em conta determinadas características para que o ambiente e as estratégias a utilizar sejam as mais indicadas e favoreçam a criança. Assim, Ladeira (2010) acredita que os aspetos mais importantes a ter em conta são a necessidade de um apoio individualizado; a necessidade de uma adaptação do currículo com objetivos funcionais; conseguir criar ambientes estruturados, de forma a melhorar condições de intervenção e de participação do aluno; arranjar possibilidade de ter equipamentos e materiais específicos, que possam desenvolver o processo de aprendizagem, uma vez que estas crianças não aprendem através do método formal como as crianças de ensino regular e que consequentemente necessitam de material adaptado.

Para resolver problemas de saúde, o mesmo autor refere que por vezes é!necessário materiais adequados para os solucionar (colchões, aspiradores de secreções); também é! importante que haja uma boa gestão de tempos específicos, consoante cada criança; por fim é! essencial que haja uma inserção numa turma regular, para que a criança não se sinta excluída e para que os restantes alunos aprendam a respeitar a diferença; as salas de recursos, são salas importantes, que as crianças com multideficiência frequentam para realizarem atividades mais especificas, devem estar estrategicamente localizadas nas escolas, para haver um fácil acesso aos espaços exteriores e ao mesmo tempo aos espaços comuns.

Como referi anteriormente, é!essencial que hajam equipamentos e materiais

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conceitos importantes para a vida futura das crianças, assim como, cativar e estimular para que esta ganhe o gosto de aprender e sobretudo de descobrir as situações diversificadas que o mundo tem para nos oferecer.

1.3.2 –!Importância dos Materiais Adaptados

Quando se fala de turmas heterógenas, onde os problemas são variados e por diversos motivos algumas crianças não acompanham todo o processo de aprendizagens, é!necessário atuar para que este fator mude. Deste modo a implementação da diferenciação pedagógica é! importante uma vez que engloba diversas técnicas e caminhos para que seja possível chegar ao fim com aprendizagens positivas, tornando assim uma qualidade melhor na educação, como afirma Cadima (2006, p.109) “a diferenciação pedagógica emerge como uma dinâmica fundamental a ter em consideração para tornar uma realidade a equidade e a qualidade na educação”.

A diferenciação pedagógica, tem como papel principal ultrapassar problemas no processo de aprendizagem, assim, um dos aspetos importantes de referir é!a adaptação de currículos, para que seja possível criar condições favoráveis para uma aprendizagem seja mais significativa. Segundo Cadima (2006):

Esta dimensão envolve também a questão da qualidade dos materiais, enquanto interação com os objectos e com os símbolos é!fundamental. Na diferenciação pedagógica tem que haver materiais diversificados em quantidade suficiente para que os meninos trabalhem autonomamente e possam, assim, desenvolver a sua

responsabilidade, autonomia, comprometimento com o seu próprio processo e ... encontrar prazer no trabalho escolar. (p.113).

A existência de materiais diversificados e adaptados é!essencial para que haja uma eficaz diferenciação pedagógica, uma vez que o principal objetivo é!fazer com que as crianças ultrapassem as lacunas existentes, conseguindo assim alcançar aprendizagens

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significativas. Assim, segundo Cadima (2006, p.115) “os meninos que têm mais dificuldades na aprendizagem precisam imenso de uma estrutura organizada, contentora com limites, onde de facto haja também uma dimensão lúdica, haja uma dimensão criativa.”

Em suma, a diferenciação pedagógica ajuda a ultrapassar as barreiras que se colocam na atividade e na participação dos alunos ao longo do seu processo de aprendizagem.

(Cadima, 2006, p.110).

1.3.3 - Avaliação das crianças com NEE

Para que uma criança seja considerada NEE, é!porque já!atravessou um processo de avaliação, onde os resultados diagnosticaram um determinado problema cognitivo ou motor que faz com que a criança seja abrangida pelo decreto de lei nº!3/2008, de 7 de janeiro. Considera-se uma criança com NEE a que já!atravessou uma avaliação na qual os resultados mostraram dificuldades cognitivas e/ou motoras, e não só!as crianças portadoras de

deficiências visíveis. Como afirma Correia (2008):

Há!um conjunto de alunos cujas características, capacidades e necessidades, obrigam muitas vezes a que a escola se organize no sentido de melhor poder elaborar respostas educativas eficazes que façam com que eles venham a experimentar sucesso. Estes alunos designam-se comummente de alunos com necessidades especiais. (p.43).

Perante esta primeira avaliação, ou seja, o facto da criança ser abrangida pelo decreto de lei, faz com que a criança seja incluída e encaminhada para o ensino especial. Após este primeiro fator, seguem muitas mais avaliações, desta vez mais direcionadas para as

atividades que a criança realiza, assim como avaliações de final de período e por sua vez nas avaliações do final do ano letivo.

Estas crianças, com já!foi referido a cima necessitam de apoio individual e adaptações curriculares, assim como é!importante elaborar um PDI (plano de desenvolvimento

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(plano acompanhamento pedagógico individual). Estes documentos elaborados pelo professor titular da turma regular, juntamente com as técnicas de ensino especial, ajudam a delinear objetivos a atingir e a alcançar com o aluno em questão. Tal como acredita Bautista (1997, p.59) “tanto numa visão de educação especial como na outra, considera-se fundamental que a escola seja capaz de articular planos suficientemente individualizados para facilitar o

desenvolvimento individual do aluno”.

Ferreira, Ponte e Azevedo (2000, p.90) afirmam que “a avaliação é!uma fase fundamental do plano de intervenção. Consiste num processo de recolha de informação”, conseguindo assim compreender se a atividade teve sucesso, perceber o que correu bem e menos bem, e sobretudo entender se a criança atingiu os fins pretendidos.

Quando se planeia uma atividade para um aluno com NEE é!essencial que os

objetivos que se quer que a criança alcance estejam bem definidos para que a avaliação seja mais rigorosa.

O procedimento de avaliação é!suportado por uma observação atenta e cuidada da criança, segundo Ferreira et al. (2000, p.94) a observação deve ser livre, quando se trata de observar diversos contextos, como por exemplo, em casa, na sala de ensino regular, na sessão terapêutica, entre outros contextos; por outro lado há!também a observação instrumental que consiste como o próprio nome indica, avaliar perante instrumentos como testes e escalas por exemplo.

As crianças com NEE quando não são autónomas o suficiente, refiro-me por exemplo à!leitura ou à!realização de exercícios, necessitam de ajuda extra para realizarem as atividades propostas quer dentro como fora da sala de aula, tendo assim um apoio no que diz respeito à! orientação da tarefa, para que compreenda o que é!pedido das diversas situações, estas ajudam não são apenas em atividades do dia a dia, mas também nos teste de final de período, que são essenciais para a avaliação dos alunos.

(28)

Para terminar a avaliação das crianças deve ser feita não só!pela professora de ensino regular, mas sim por todos aqueles que acompanham a criança na escola, como afirma Bautista (1997):

É!trabalho da equipa multidisciplinar realizar uma avaliação do desenvolvimento e aprendizagem do aluno dentro do ambiente escolar, e introduzir as modificações necessárias. Esta avaliação deve ser flexível, contínua e qualitativa. É!preciso analisar como aprende a criança e, em função disso procurar as estratégias mais adequadas. (p.303).

1.4 - Paralisia Cerebral

Segundo Ferreira et al. (2000, p.13) paralisia cerebral “É!uma perturbação do controlo neuromuscular, da postura e do equilíbrio, resultante de uma lesão cerebral estática que afeta o cérebro em período de desenvolvimento”#!o mesmo autor afirma ainda que “é!uma condição complexa que apresenta grande variedade de situações neurológicas irreversíveis e não progressivas existindo uma multiplicidade de casos de Paralisia Cerebral, diferentes uns dos outros”"

Não há!nenhuma causa específica que provoque a paralisia cerebral, mas há!

efetivamente, certas situações que podem originar em futuras paralisias cerebrais como é!o caso da prematuridade. Para Bautista (1997, p.294) “as causas da paralisia cerebral são tão complexas e variadas como os tipos clínicos, excluindo-se uma base genética e, portanto, a possibilidade de transmissão de pais para filhos”.

Uma pessoa que seja portadora desta deficiência, à!medida que vai crescendo irá! deparar-se com certas limitações ao longo de toda a sua vida, como ao nível motor, da fala, entre outros, que irão complicar sobretudo a interação/socialização assim como a sua própria deslocação. Como refere Bautista (1997):

O cérebro possui uma multiplicidade e funções inter-relacionadas. Uma lesão cerebral pode afectar uma ou várias destas funções, pelo que é!frequente que as perturbações motoras possam estar acompanhadas por alterações de outras funções

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como a linguagem, audição, visão, desenvolvimento mental, carácter, epilepsia e/ou transtornos perceptivos. (p.296).

O mesmo autor (1997, p.302) acredita ainda que “é!preciso desenvolver na criança o sentido de autonomia”#!desta forma é!importante que esta competência seja trabalhada com a criança desde o início, para que esta sinta que é!capaz de realizar tarefas sozinha sem a ajuda de um adulto, isto é!que desenvolva a sua autorrealização e autoconfiança.

Para que haja uma integração e inclusão das crianças com paralisia cerebral dentro das salas de ensino regular é!importante que haja uma adaptação de espaço e reorganização da sala.

No que diz respeito aos pares, criar relações interpessoais é!essencial para a inclusão destas crianças, independente do ambiente onde esteja. Nielsen refere (1999, p.98) que ”o professor deve selecionar um aluno da classe para assumir a função de “companheiro mais íntimo”!do aluno com paralisia cerebral. O apoio que esse aluno proporcionará!não deve, porém, pôr em causa a independência do aluno com paralisia cerebral”, ajudando assim a criar relações interpessoais entre a criança com paralisia cerebral e as restantes da

escola/turma.

1.5 - Opções metodológicas

Para que me fosse possível realizar esta investigação foi essencial conhecer e integrar-me na turma, como refere Aires (2011, p.18) “o investigador confronta-se com o desafio de se situar historicamente, de saber gerir a diversidade e o conflito que esta nova perspectiva lhe cria e de a adoptar como ponto de partida do seu projecto de pesquisa.”

Ao longo de todo o período de estágio, posso afirmar que de todas as opções

metodológicas existentes, decidi arriscar numa investigação de cariz qualitativo com recurso à!observação como técnica de recolha de dados. Segundo Aires (2011, p.24-25) “a

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observação consiste na recolha de informação, de modo sistemático, através do contacto directo com situações específicas”"

Observação não é!apenas ver, mas sim, como refere Sousa (2009, p.108) “observar é! olhar atentamente”, desta forma à!medida que o tempo ia passando a minha observação ia sendo diferente, podendo assim afirmar que de acordo com Afonso (2005), passei da observação não-estruturada à!observação estruturada.

Segundo Afonso (2005, p.91) “a observação é!uma técnica de recolha de dados particularmente útil e fidedigna, na medida em que a informação obtida não se encontra condicionada pelas opiniões e pontos de vista dos sujeitos”, assim, ao longo da minha observação tive intenção de nunca julgar, nem expor a minha opinião, para que pudesse ser uma observação direta, tal como foi referido acima, sem qualquer opinião nem pontos de vista externos, para Aires (2011, p.25) “uma das características básicas da observação tem sido tradicionalmente o seu não-intervencionismo. O observador não manipula nem estimula os seus sujeitos”"

Toda a observação que realizei é!considerada uma observação direta e participante uma vez que surgiu de um trabalho de campo, onde estive presente no local e partiu de uma experiência vivida, e onde eu, como investigadora tive uma intervenção direta com os intervenientes da observação.

Inicialmente, quando cheguei ao centro de estágio a observação que eu fazia, segundo Sousa (2009, p.112) era chamada de “observação simples”, uma vez que não sabia o que ia encontrar e que no fundo a minha posição como observadora era compreender e conhecer toda a realidade e ambiente envolvente.

Após algumas semanas com uma observação simples, comecei a focar a minha observação para um problema mais concreto, passando assim a ter uma “observação

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estruturada”, segundo conceito do mesmo (2009, p.113), onde procurei encontrar soluções de forma a agir corretamente perante o problema que eu observava.

Uma forma de registar a informação neste tipo de metodologia é!a realização de um diário de campo, onde é!relatado o que é!vivido no dia a dia, como também um breve reflexão e avaliação do mesmo. Também é!possível realizar notas de campo, ou seja, relatar

detalhadamente um dado momento a que se assiste e se observa, que como afirma Bogdan e Biklen (1994, p.150) são “o relato escrito daquilo que o investigador ouve, vê, experiência e pensa no decurso da recolha e refletindo sobre os dados de um estudo qualitativo”"

Segundo Afonso (2009, p.94) “Um dos principais problemas da utilização da observação como técnica de recolha de dados consiste na falta de rigor dos registos

produzidos”, uma vez que por vezes é!difícil o investigador passar exatamente o que viveu e observou, sendo sempre mais fácil fazê-lo através de fotografias ou vídeos.

Para apresentar os resultados o investigador passa por várias fases. Segundo Aires (2011):

O investigador cria, em primeiro lugar, o texto de campo ou notas de campo e, depois, documentos a partir destas notas. Enquanto interprete, passa deste tipo de texto para o texto de pesquisa: notas e interpretações baseadas nas notas de campo. (p.52).

Para elaborar notas de campo é!necessário seguir um padrão, começando por

identificar - a situação, data, hora, duração, local, intervenientes, género, idade e identificar o contexto - de seguida apresenta-se uma tabela com duas colunas na vertical. A coluna do lado esquerdo tem como título “Notas Descritivas”, como o próprio título indica neste local é! descrito tal e qual o momento que está!a ser observado e registado. Esta descrição pode ser feita em diálogo ou numa narrativa. Do lado direito colocam-se as inferências, ou seja, questões ou aspetos que nos fazem pensar sobre o momento descrito. Por fim, no seguimento

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das duas colunas, surge uma parte de comentário, onde são escritas todas as informações, justificações e fundamentações teóricas para a situação observada e descrita. !

(33)

2 - Caracterização do contexto institucional e da comunidade envolvente

2.1 - Apresentação do local de estágio

A instituição onde este ano realizo a minha prática de ensino supervisionada faz parte de um agrupamento de escolas, do qual fazem parte mais nove escolas, sendo uma delas a principal e sede de todo o agrupamento.

Para realizar a apresentação do local de estágio guiei-me pelos dados que fui recolhendo ao longo de todo o tempo em que permaneci na instituição, assim como por conversas que surgiram entre mim e a professora cooperante, uma vez que não tive a possibilidade de consultar os documento internos da instituição.

Recentemente a escola sofreu modificações nas suas infraestruturas, que têm cerca de quatro anos, foi toda remodelada e abrange agora vários níveis de ensino: jardim de infância; 1º ciclo; 2º ciclo e 3º ciclo, tendo continuação na escola secundária do mesmo agrupamento.

A nível de primeiro ciclo existe apenas uma turma por ano, ou seja, uma turma de primeiro, outra de segundo, outra de terceiro e outra de quarto ano, apesar de haver espaço suficiente e mobilado, com quadros, mesas, cadeiras, armários e cabides, para a abertura de mais turmas. Há turmas muito grandes e com crianças com NEE e outras com muitas

dificuldades de aprendizagem, que necessitavam de estar inseridas numa turma mais pequena para que fosse possível uma aprendizagem melhor e mais individualizada.

Há uma separação entre os alunos dos diferentes ciclos, quer em termos de recreios físicos quer nos próprios horários, o que faz com que raramente se cruzem.

Têm uma grande área exterior para que as crianças possam brincar livremente, equipada com escorregas, campos de futebol, jogos da macaca, entre outros. É bastante visível que as crianças são felizes por terem tanto espaço onde possam brincar. Um dos pontos mais fracos que apontei, após a minha observação, é que durante o inverno, mais concretamente quando chove, a área onde as crianças permanecem durante os intervalos é

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demasiadamente pequena para a quantidade de crianças existente, falando apenas das

crianças que frequentam o 1º ciclo, o que faz com que não consigam ter tantas brincadeiras e que existam mais discussões pois não há espaço para todas brincarem.

As instalações e os equipamentos escolares são novos e muito modernos o que ajuda a que a escola tenha muito boas condições e um espaço amplo, sempre a pensar no bem estar das crianças. A escola possui uma grande e completa biblioteca escolar, sala de estudo, sala de informática, reprografia, bar, refeitório, entre outros espaços para um melhor crescimento e aprendizagem formal e não formal dos alunos que a frequentam.

Existem, Atividades de Enriquecimento Curricular (AEC) como música, inglês, entre outras, lecionadas após o tempo letivo, das 16h30 às 17h30 por professores qualificados; há também uma Componente de Apoio à Família na Educação Pré-Escolar e 1º Ciclo (CAF), que se baseia num apoio ao acolhimento das crianças, à hora de almoço e durante o prolongamento escolar.

É considerada uma escola inclusiva, ou seja, a chamada “escola para todos” que abrange e acolhe crianças com NEE, e que dá o apoio essencial dentro dos diferentes panoramas existentes, ajudando-os a crescer e a evoluir da melhor forma.

Segundo Bautista (1997)

É um novo modelo de escola aberta à diferença, onde se tenta que as minorias encontrem uma resposta às suas necessidades especiais sem prejudicar os outros, mas muito pelo contrário, beneficiando todos os alunos em geral, por tudo o que traz de mudança e renovação e pelos novos recursos e serviços com que pode contar. (p.21).

O agrupamento tem duas unidades para autistas (1ºciclo e 2º/3ºciclo) e três unidades para a multideficiência (1º/2º/3ºciclo), por outro lado também existem crianças

diagnosticadas com NEE, mas que se encontram integradas nas turmas de ensino regular. Esta instituição abrange crianças cuja residência está dentro da área onde se localiza a escola, mas também filhos de funcionários ou de pais que trabalhem perto da mesma.

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Existe uma grande envolvência com identidades externas do meio onde se insere, agarrando todas as oportunidades existentes para complementar os conhecimentos das crianças, conseguindo assim melhorar todo o processo de ensino-aprendizagens. A biblioteca da zona onde a instituição pertence é bastante grande e promove várias atividades que

complementa o currículo dos diferentes anos, convidando sempre e apresentando os projetos à instituição para que os professores, possam avaliar e informar-se de forma a participar ou não.

Esta escola dá emprego a muitos adultos e enquanto permaneci na instituição, gostei muito do ambiente, era notória a alegria no trabalho e a entrega que os adultos dão quer à instituição no geral quer a cada aluno individualmente.

Através da observação realizada ao longo de todo o estágio, pude concluir que a professora utiliza várias estratégias para os diversos fins. Para criar um bom ambiente de aprendizagem na sala de aula as crianças estão sentadas estrategicamente, ou seja, as que se distraem com mais facilidade e as que têm mais dificuldades em ouvir ou dificuldades na aprendizagem, estão sentadas mais perto do quadro e da secretária da professora. Por outro lado as crianças que têm dificuldades também estão intercaladas com as que não têm, de maneira a haver uma ajuda entre todos quando for necessário, para de certo modo, despertar na criança a ajuda ao próximo e saber trabalhar a pares. Vygotsky citado por Tavares, Pereira, Gomes, Monteiro e Gomes (2007, p.39) salienta “O papel da sociedade na construção das funções intelectuais superiores, sendo esta fundamental para que o

funcionamento cognitivo surja de forma culturalmente organizadas e das interações sociais.”. O mesmo autor refere, ainda, que:

A perspetiva vigotskiana formula a Lei Geral do Desenvolvimento Cultural, segundo a qual qualquer função no desenvolvimento cultural do sujeito surge duas vezes, ou em duas esferas, isto é, primeiro no plano social e posteriormente no plano

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Para rentabilizar o ritmo de trabalho, por norma as tarefas da manhã são ditas aos alunos e escritas no quadro logo no início da mesma, para que quando houver crianças a terminarem alguma tarefa estas possam imediatamente passar à próxima (se for possível), para não haver quebras no trabalho, nem distrações, pois sabemos que uma criança quando acaba um trabalho e não tem outro, fica impaciente e muitas vezes prejudica (sem querer) o trabalho das outras crianças que ainda não terminaram.

No que diz respeito à forma de avaliação das atividades realizadas, a maior parte das vezes é realizada no quadro. Quando se trata de uma correção de uma ficha, por exemplo, pude assistir a uma correção verbal, do trabalho de grupo da roda dos alimentos, na qual foi feita uma conversa com a turma toda sobre as diversas rodas dos alimentos construídas, onde todos puderam visualizar o que é que estava mal em cada uma e como é que deveria ser feito para ficar correto; outras vezes também são feitas correções individuais, quando há dúvidas ou questões em exercícios concretos. Além de todas estas formas de avaliação, a professora, corrige as fichas individualmente, independentemente de terem sido corrigidas ou não no quadro.

Relativamente à gestão de comportamentos inadequados e adequados, é notório que as crianças compreendem quando fazem mal e quando não cumprem o que deviam cumprir (como os trabalhos de casa, por exemplo). Sempre que há problemas a resolver com alguma criança, esses problemas são resolvidos em frente à turma, através do diálogo, para que todos os outros compreendam o que se fez mal e para se arranjar soluções, criando assim uma assembleia, com o propósito de resolver todos os problemas e conflitos.

Segundo Amado e Freire (2002) citado por Tavares et al. (2007), no que diz respeito à gestão de comportamentos é necessário o:

Desenvolvimento de competências de comunicação (aprender a ouvir e a respeitar as opiniões dos outros), na educação para os valores, no desenvolvimento de um autoconceito positivo e realista, na criação de oportunidades efetivas de participação

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dos estudantes na vida escolar e na criação de condições ambientais que favoreçam o aparecimento de relações interpessoais positivas e bem-estar. (p.164).

Por outro lado quando as crianças têm comportamentos adequados, e como também é bom elogiar, são premiadas com elogios da professora, atos e palavras carinhosas, e por fim, ao final do dia, quem merece recebe a cor verde no comportamento e carinhas contentes no placard da leitura e da tabuada.

Todos os dias, há uma certa rotina, inicia-se com a chamada, ou seja, todos os alunos são chamados por ordem alfabética para que seja possível ver quem está presente e quem não está, esta primeira parte da rotina é essencial para a criança que tem NEE mais profunda, pois ajuda a criança a situar-se no dia e a saber que as aulas estão a começar, de seguida escreve-se a “data grande” e da “data pequena” no quadro, depois, há escreve-sempre uma criança que recolhe os cartões de todos os alunos e por fim a professora escreve as tarefas da manhã no quadro, para que todas as crianças saibam o que se vai fazer.

Existe um horário que na maior parte das vezes, é cumprido mas que eventualmente pode sofrer alterações, isto porque, se houver uma atividade mais longa de alguma área e não fizer sentido dividir a atividade em dois momentos, o que se faz é ter uma manhã ou uma tarde (consoante o necessário) e no dia seguinte em vez do horário estipulado faz-se uma ligeira modificação. Ou seja, quando é necessário faz-se uma manhã inteira de português e no dia seguinte uma manhã inteira de matemática, para compensar.

Este é um grupo que em termos de receptividade às tarefas e à construção do

conhecimento é muito aberto, nota-se muita vontade de aprender e de descobrir coisas novas, quando são lançadas tarefas, todos tentam cumpri-las da melhor forma que sabem. Apesar das crianças com dificuldades de aprendizagem que podem demorar mais tempo a executar, é notório um grande empenho e dedicação em todas as tarefas propostas pela professora.

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As tarefas propostas, são variadas, desde fichas construídas pela professora, realizar exercícios dos livros, trabalhos de grupo, exercícios no quadro, não só abrangendo as áreas principais mas também a área das expressões, apesar de existirem AEC’s e de todas as crianças assistirem às mesmas, a professora faz questão de, no horário que leciona, incluir as expressões semanalmente.

Para terminar, mas não menos importante, é espantoso ver a relação entre os pares, entre professora/aluno e aluno/professor, são uma turma muito unida, estão sempre prontos a ajudar uns aos outros, brincam muito no recreio uns com os outros e há uma grande

preocupação em ajudar e em brincarem com a criança que tem NEE mais profunda, é uma turma alegre, divertida e com um gosto enorme para brincarem uns com os outros.

A relação com a professora não podia ser a melhor, existe respeito, cumplicidade, verdade, compreensão e acima de tudo um ambiente excelente para uma boa aprendizagem e um bom crescimento, pois na verdade estas crianças de hoje são os adultos de amanhã.

2.2 - Caracterização da criança

Esta caracterização foi elaborada tendo em conta a minha observação direta, conversas com a professora cooperante, com as técnicas que acompanham a criança e também através da leitura do processo da criança em questão onde consta toda a sua história de vida. Apenas irei referir factos que considero essenciais para a elaboração do meu trabalho de pesquisa.

O João, tem atualmente oito anos é do género masculino e frequenta uma turma de 2º ano de 25 crianças. É português, tem os pais divorciados e para organização dos pais e para a escola ter conhecimento, a criança tem uma tabela na mochila onde diz quais são os dias em que está com o pai e os dias em que está com a mãe. A tabela é seguida à risca, quando há

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alterações a mãe ou o pai têm o cuidado de escrever na caderneta para que a escola, e mais concretamente, a professora titular tenha conhecimento.

Esta criança nasceu prematura, com apenas 27 semanas de gestação, com 590g de peso e 29 cm de comprimento. Durante a gravidez a mãe teve algumas complicações como pré-eclampsia e hiperestimulação ovariana. Depois de ter nascido, teve cerca de 11 semanas na incubadora, a ser alimentado por sonda e com ventilação durante 10 semanas. Assim que completou as 39 semanas de vida teve alta hospitalar, indo assim para casa com os pais.

Durante os primeiros três anos de vida, o João, foi internado várias vezes por diversos motivos, um deles registando graves intolerâncias alimentares, e só a partir dos três anos é que se conseguiu estabelecer alguma estabilidade em termos alimentares. Hoje em dia, continua com muitas intolerâncias alimentares o que faz com que a sua alimentação seja muito restringida a certos alimentos, ao longo do dia. O lanche e o almoço vêm sempre de casa pois só pode comer determinados alimentos, assim como também é necessário ter cuidado na forma como se confecionam os mesmos; por essa razão a mãe e o pai optam por enviar a comida de casa.

A criança nasceu prematuramente e apresentava um diagnóstico de paralisia cerebral: Diplegia Espástica, devido à lesão no cérebro causada pelas sequelas da prematuridade. Esta lesão foi confirmada através de uma ressonância magnética feita no ano de 2012, onde se regista leucomalácia periventricular de grau moderado com relativo predomínio frontal.

A criança é acompanhada por vários especialistas consoante as necessidades que apresenta nomeadamente gastroenterologia (intolerâncias alimentares), oftalmologia (ao estrabismo); fisiatria (a tensão no tendão do membro inferior direito); endocrinologia (atraso de crescimento devido à prematuridade); pneumologia (infeções do pulmão direito

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Também é seguida no centro de paralisia cerebral desde o primeiro ano de vida, onde conta com o apoio de uma terapia ocupacional. Dentro da sala de aula conta com a ajuda dos colegas, da professora titular e de duas terapeutas que vão 4 dias por semana à escola, durante toda a manhã, e que trabalham individualmente com a criança, seguindo as orientações da professora titular de turma. Estas terapeutas organizam-se entre si, pois só vai uma de cada vez à sala - normalmente à segunda, terça e quinta vai uma e à sexta vai a outra, que também está com o João na natação ao sábado.

Na escola, esta criança, está inserida no ensino especial, pois é considerada uma criança com NEE, segundo o Decreto de Lei nº 3/2008 de 7 de janeiro, com adequações de avaliação e conta com quarenta e cinco minutos por semana de apoio por parte das

professoras de NEE, normalmente é à terça feira à tarde.

Esta criança tem adaptações curriculares, assim como um PEI e um PAPI. O ambiente educativo tenta ao máximo responder às suas necessidades, criando os mais diversos

materiais adaptados para que a aprendizagem seja feita com sucesso.

É uma criança com algumas limitações tal como atrás foram descritas, mas é uma criança esforçada, trabalhadora, empenhada e dedicada.

Todos os sábados esta criança frequenta a natação nas piscinas dum clube desportivo da cidade de Lisboa, é autónoma e tem feito um grande progresso ao longo das aulas. É capaz de nadar nos diferentes estilos e realizar os exercícios propostos pelo professor e tal como acima referido é acompanhado por uma das terapeutas. Esta terapeuta acompanha esta criança desde os três anos de idade, ou seja, há cinco anos.

A criança em questão está muito bem integrada quer na escola, quer na respetiva turma, os colegas são muito amigos e estão sempre dispostos a ajudar no que for necessário. Ao longo da rotina escolar a criança realiza e participa em todas as atividades e acompanha a

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turma em tudo, ainda é muito dependente dos adultos e dos colegas, mas aos poucos tem vindo a fazer progressos quer na autonomia quer na expressão oral.

Como balanço do 1º período, de acordo com o PEI a criança não atingiu os objetivos propostos não tendo, assim, revelado os resultados pretendidos. Esta criança colabora e realiza as tarefas quando é acompanhada por um adulto que a apoie, dando indicações; se sozinha, distrai-se e não as conclui pelo que necessita muito de um apoio para as realizar com sucesso.

As estratégias para melhorar, estipuladas pela professora cooperante em conjunto com as terapeutas que acompanham o João e comigo, foram aceites pelo encarregado de educação e passam por executar um trabalho diário em casa, para que a criança não vá perdendo o ritmo, assim como será elaborada uma folha com conteúdos a ser trabalhados e assimilados pela criança até ao final do segundo período, para que as terapeutas saibam o que têm de trabalhar, pois muitas vezes não é fácil todos os dias antes de começar as aulas dizer e orientar as terapeutas que por sua vez têm que orientar a criança. Desta forma está a ser criado um dossier com fichas e exercícios para que consoante o que queiram trabalhar possam ir ao dossier e tirar o que necessitarem, assim o trabalho é mais orientado e a professora titular não tem de dizer às terapeutas diariamente aquilo que se tem de trabalhar com o João.

2.3 – As práticas observadas e o foco deste estudo

O grupo da sala do 2º ano, onde fiquei a estagiar, é composto por vinte e cinco crianças, com treze rapazes e catorze raparigas; as idades variam entre os seis e os oito anos, havendo assim duas crianças com seis anos, dezanove com sete anos e as restantes três com oito anos.

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A turma tem três crianças diagnosticadas com NEE, uma com uma Perturbação do Espectro do Autismo, outra com um défice de atenção associado a uma imaturidade na coordenação olho-mão e um Q.I de 70%, e por fim outra criança que tem uma lesão no cérebro (massa encefálica) devido ao facto de ter nascido prematura, com apenas vinte e sete semanas.

Para além das crianças diagnosticadas com NEE, também há várias que têm défices que dificultam as aprendizagens, como é o caso crianças que necessitem de terapia da fala, que têm défices de atenção, problemas de visão entre estrabismo e dislexia, défices auditivos elevados e por fim défices de vocabulário e de compreensão (por não serem portuguesas e terem outra língua materna).

As crianças diagnosticadas com NEE, têm o apoio das professoras de educação especial e a criança que tem a lesão no cérebro conta com uma ajuda externa à escola de duas técnicas de um centro especializado. As restantes crianças que têm problemas de

aprendizagens contam com um apoio educativo, caso os pais permitam, para que algumas dificuldades sejam superadas.

Ao longo da minha observação diária, pude concluir que é uma turma que necessita de diversas respostas e de uma forma rápida, devido aos diversos problemas e dificuldades existentes. Todas as crianças com dificuldades são à partida autónomas, no que diz respeito à execução de trabalhos e de tarefas, mas a criança com paralisia cerebral não, o que faz com que seja necessário um acompanhamento muito individual e personalizado, com duas

técnicas externas que, por iniciativa da mãe, vão à escola trabalhar com a criança em questão. O apoio dado a esta criança é de quarenta e cinco minutos por semana por parte das professora de NEE; normalmente este apoio é dado à terça feira à tarde, juntamente com as outras duas crianças com NEE.

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Apesar da criança em questão estar muito bem integrada quer na escola, quer na respetiva turma, e de contar com todo o apoio possível para que haja uma aprendizagem significativa e individual, depois de uma observação direta e atenta apercebi-me que há vários aspetos que podem ser melhorados para que a aprendizagem quer forma, quer informal, seja mais significativa e com resultados melhores.

Todo o apoio é essencial, mas por vezes pode não ser totalmente eficaz, por não haver materiais adaptados à criança para que esta evolua na sua aprendizagem. Ao longo das

primeiras semanas que permaneci na instituição, a criança trabalhava muito a leitura e escrita de palavras com as letras m; t; p e l, através de quadros feitos pela professora que continham tanto as palavras como as imagens das mesmas. Na área da matemática eram trabalhados os números e as operações com o auxílio de palhinhas ou de tampinhas para que a criança fosse capaz de executar operações de adição.

Até às férias do Natal, a criança não trabalhou conteúdos direcionados para a área do estudo do meio, a não ser as regras de sala de aula e as rotinas pois é algo que a criança vivencia diariamente.

Perante estes factos que presenciei e observei, refleti e pensei numa forma eficaz de poder atuar, uma vez que há diversos conteúdos que podem ser trabalhados e apresentados à criança, de forma lúdica e diferente, tendo sempre em conta o nível de exigência.

Para crianças com NEE, só é essencial que a criança aprenda conteúdos que efetivamente irão ser importantes para o seu futuro e para seu dia a dia, ou por outro lado algo que seja essencial para uma futura aprendizagem, como forma de base. Tal como afirma Ladeira (2010):

O trabalho que a escola desenvolve com estes alunos tem como objetivo o seu sucesso na sua vida futura. Nesse sentido, torna-se necessário estabelecer planos de intervenção cujo o objetivos se organizem em função das possíveis atividades dos alunos no futuro. (p.17).

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3 – A Prática de Ensino Supervisionada na Instituição

Depois de no capítulo anterior, ter realizado uma apresentação do local de estágio e de ter exposto as principais razões que me fizeram escolher esta situação problemática para analisar, ao longo deste capítulo irei não só relatar como realizei a abordagem ao tema como também ressalvar todas as propostas de atividades que concretizei justificando as mesmas. Por fim irei mencionar a diferença que fez no desenvolvimento e na aprendizagem da criança, todo o meu interesse e trabalho à volta do problema que apresento ao longo de todo o meu relatório.

3.1 – Conhecimento e preparação do terreno

Depois da fase de adaptação ao contexto de estágio e depois de uma longa observação sobretudo tendo em conta a problemática escolhida, tive o privilégio de ser bem recebida e acolhida tendo-me sido possível questionar e ter várias conversas com a professora

cooperante que me esclareceu todas as dúvidas e sobretudo teve a amabilidade de me contextualizar, para que eu tivesse um conhecimento mais profundo, que me permitiu partir para a pesquisa já com algumas diretrizes.

As terapeutas ocupacionais que acompanham o João, desde o início que se mostraram disponíveis para me conhecer e ajudar no que fosse necessário, desde responder às minhas questões, dando também informações por iniciativa própria, e até a contextualizarem-me no que diz respeito às evoluções recentes da criança e quais seriam os objetivos a atingir a curto e longo prazo com a mesma. É notório que a cooperação entre a professora titular e as terapeutas que acompanham o João é uma mais valia para o desenvolvimento e crescimento do mesmo.

A professora titular de turma antes das férias do Natal lançou-me o desafio para lecionar todas as aulas durante um mês. Para o tornar viável elaborámos, em conjunto, uma

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folha com os conteúdos que teriam de ser lecionados ao longo desse mês, referindo aquilo que as crianças deveriam ter aprendido e consolidado no final desse tempo letivo.

À medida que íamos selecionando os conteúdos, iam surgindo algumas questões, como por exemplo, quais seriam os conteúdos mais complicados de introduzir dadas as eventuais dificuldades das crianças. Este facto ajudou num melhor e mais profundo

conhecimento de todos os alunos, ao mesmo tempo que também ajudou a que eu tivesse mais cuidado na preparação dessas aulas, tentando ser ainda mais explícita, direta e minuciosa, na sua elaboração.

Esta turma, como já referi é composta por 25 crianças, em que três são consideradas NEE, há também várias crianças com dificuldades de aprendizagem que muitas vezes podem condicionar o seu desempenho. Uma vez que se trata de uma turma heterogénea a

aprendizagem através da diferenciação pedagógica é algo constante assim, como já referi anteriormente, nas turmas diferenciadas ou heterógenas o professor tal como Tomlinson (2008, p.16) afirma “parte do princípio de que diferentes alunos têm diferentes necessidades. Por essa razão, o professor planeia de forma pró-activa diversas maneiras de “chegar até” e expressar a aprendizagem”.

A ajuda dos restantes colegas, para com as crianças com NEE, era algo diário e muito importante, pois era criada uma forma de trabalho a pares ou de grupo, de maneira a que todos aprendessem em diversos aspetos, pois que tal como Brazelton e Sparrow (2010, p.381) “As crianças não incapacitadas da turma normal podem lucrar muitíssimo – se as suas professoras não estiverem sobrecarregadas. Os colegas da turma podem apender a cuidar das crianças com necessidades especiais”.

Para os alunos com NEE, questionei a professora titular se eventualmente poderia elaborar e criar materiais lúdicos, de forma a que ajudassem na aquisição de conteúdos

Imagem

Figura 1 –!Modelo de Construção de Blocos, segundo Sandall e Schwartz  (2003, p.20) !

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