PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE/PRODEMA
ANÁLISE DE RISCO ASSOCIADO À QUALIDADE DA ÁGUA
E SUA RELAÇÃO COM INDICADORES AMBIENTAIS EM
RESERVATÓRIOS DO RIO GRANDE DO NORTE - RN
A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA FAMILIAR SUSTENTÁVEL
A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA FAMILIAR SUSTENTÁVEL A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALR PARA A COTONICULTURA FAMILIAR SUSTENTÁVELAAA
CAMILLA SIQUEIRA DA FONSECA
2019
Natal – RN
ANÁLISE DE RISCO ASSOCIADO À QUALIDADE DA ÁGUA E
SUA RELAÇÃO COM INDICADORES AMBIENTAIS EM
RESERVATÓRIOS DO RIO GRANDE DO NORTE - RN
A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA FAMILIARSUSTENTÁVEL
A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA FAMILIAR SUSTENTÁVEL A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTER PARA A COTONICULTURA FAMILIAR SUSTENTÁVELAAA
Dissertação apresentada ao Programa Regional de
Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio
Ambiente, da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte (PRODEMA/UFRN), como parte dos
requisitos necessários à obtenção do título de
Mestre.
Orientador: Prof.Dr. Julio Alejandro Navoni
Co-Orientador: Prof(a).Dr(a). Viviane Souza do Amaral
2019
Natal – RN
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Rodolfo Helinski - Escola Agrícola de Jundiaí - EAJ
Fonseca, Camilla Siqueira da.
Análise de risco associado à qualidade da água e sua relação com indicadores ambientais em reservatórios do Rio Grande do Norte - RN / Camilla Siqueira da Fonseca. - 2019.
80 f.: il.
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Biociências, Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Natal, RN, 2019.
Orientador: Prof. Dr. Julio Alejandro Navoni. Coorientador: Profa. Dra. Viviane Souza do Amaral. 1. Degradação Ambiental - Dissertação. 2. Semiárido - Dissertação. 3. Radioatividade - Dissertação. 4. Metais - Dissertação. I. Navoni, Julio Alejandro. II. Amaral, Viviane Souza do. III. Título.
RN/UF/BSPRH CDU 504.5
Dissertação submetida ao Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio
Ambiente, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN), como
requisito para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.
Aprovada em:
BANCA EXAMINADORA:
_______________________________________________
Prof. Dr. Julio Alejandro Navoni
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN)
______________________________________________
Prof. Dr. Jean Leite Tavares
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (Diretoria de
Recursos Naturais/IFRN)
_______________________________________________
Prof(a). Dr(a). Cibele Soares Pontes
A Rede PRODEMA, UFRN e a Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela oportunidade e apoio financeiro.
Aos meus orientadores Profº Drº Julio Alejandro Navoni e a Profª Drª Viviane Souza
do Amaral pela orientação e coorientação na elaboração desta pesquisa, por terem me
acolhido tão bem mesmo sem me conhecer, no momento em que “cai de paraquedas” sob suas
mãos. E que desde então vem conduzindo e me ensinando como escrever cientificamente.
Obrigado por muito.
A coordenação do PRODEMA-UFRN, e à Érica e David, sempre disponíveis para
sanar dúvidas, muitas vezes já explicadas.
A minha família e amigos, em especial ao meu marido e meus pais que sempre
tentaram me manter confiante e firme para seguir.
ANÁLISE DE RISCO ASSOCIADO À QUALIDADE DA ÁGUA E SUA RELAÇÃO COM INDICADORES AMBIENTAIS EM RESERVATÓRIOS DO RIO GRANDE DO NORTE -RN
O estado do Rio Grande do Norte localiza-se no semiárido brasileiro com mais de 3,5 milhões de habitantes. Devido suas características ambientais, enfrenta problemas com a escassez hídrica, agravada nos últimos anos decorrente em parte, pelas mudanças climáticas representada nos últimos quase 10 anos de seca extrema, a pior dos últimos 50 anos. Por tanto, os poucos recursos hídricos disponíveis tornam-se matéria estratégica, para que sejam propícios para o desenvolvimento humano. Esse cenário se agrava quando a qualidade da água se encontra afetada devido consequência das características geológicas e das atividades antrópicas desenvolvidas na região. Nesse sentido, torna-se eminente que medidas eficazes precisam ser implantadas de maneira satisfatória, incentivando a conservação dos corpos d’água. O estudo buscou analisar fatores decorrentes do desenvolvimento humano e das características naturais, que possam influenciar a qualidade ambiental de alguns dos reservatórios de água mais representativos do estado. A tal fim, foi realizada uma análise geoespacial com imagens de satélite, dirigido a mapear as mudanças no uso e ocupação do solo, das atividades produtivas desenvolvidas nos anos de 2008 e 2017 dentro de uma área de 5 km nos entornos dos reservatórios. Observou-se um incremento sociodemográfico significativo salientando um aumento nas atividades com potencial poluidor, tais como atividades industriais de mineração, piscicultura e ceramista de forma polarizada, salientando o crescimento generalizado da agricultura nos entornos de todos os reservatórios. No entanto, o ponto mais importante a remarcar neste estudo foi a necessidade da implementação de um controle ambiental, já que observou-se um descaso com as políticas ambientais, representada pela invasão destas atividades dentro das áreas de proteção permanente descrevendo o potencial impacto poluidor sobre os recursos hídricos e consequentemente provocando claras consequências na qualidade da água, descrevendo um risco sanitário iminente. Com o intuito de avaliar os fatos antes mencionados, foi realizado nos corpos d’água superficiais estudos dirigidos a compreender a qualidade hídrica e as consequências toxicológicas para a população do uso desse recurso. A tais fins, foram realizadas duas amostragens ambientais (2015 e 2017), com o intuito de avaliar a qualidade da água dos reservatórios no cenário ambiental estudado. A tais fins, amostras de água foram avaliadas através de variáveis físico-químicas tais como: condutividade elétrica, cor, turbidez, pH, sólidos totais, alcalinidade total, dureza total, nitrogênio amoniacal, orgânico e total, clorofila, cloreto, nitrito, nitrato e fósforo, como também de metais (Ag, Al, Cd, Co, Cu, Cr, Pb, Fe, Hg, Mn, Ni e Zn). Além disso foi realizada a medição do nível de radiação alfa e beta, o radônio dissolvido e a análise de fitoplânctons. Em amostras de solo foram medidas o conteúdo dos metais supracitados, o radônio emanado, além de emissores gamamétricos (urânio, tório e potássio). Nas amostras de ar também foi medido o nível de radônio. Os resultados obtidos foram comparados com os valores limiares indicados por legislações nacionais e internacionais. Além disso para uma análise de risco, as variáveis de interesse toxicológico foram categorizadas através da comparação com os valores limiares de referência, para descrever o risco associado individual e integrar essas informações através de um índice composto. Posteriormente, foi analisado o padrão espacial de câncer considerando as áreas de influência dos reservatórios e sua associação com o risco descrito com o intuito de avaliar possíveis associações. Revelando uma qualidade imprópria da água para consumo humano, com potenciais consequências sanitárias, além da necessidade de instauração de monitoramento ambiental junto com a implementação de medidas mitigadoras contra a ocorrência de substâncias de relevância toxicológica, considerando os riscos de patologias associadas atrelada a uma exposição crônica a esses agentes.
ANALYSIS OF RISK ASSOCIATED TO WATER QUALITY AND ITS RELATIONSHIP WITH ENVIRONMENTAL INDICATORS IN RIO GRANDE DO NORTE RESERVOIRS - RN
The state of Rio Grande do Norte is located in the Brazilian semiarid with more than 3.5 million inhabitants. Due to its environmental characteristics, it faces problems with water scarcity, aggravated in the last years due in part to the climate changes represented in the last almost 10 years of extreme drought, the worst of the last 50 years. Therefore, the few available water resources become strategic matters, so that they are conducive to human development. This scenario is aggravated when the quality of the water is affected due to the geological characteristics and the anthropic activities developed in the region. In this sense, it is eminent that effective actions need to be implemented in a satisfactory way, encouraging the conservation of water bodies. The study aimed to analyze factors resulting from human development and natural characteristics that may influence the environmental quality of some of the most representative water reservoirs in the state. With this purpose, a geospatial analysis with satellite images was carried out to map the changes in land use and occupation of the productive activities carried out in the years 2008 and 2017 within a 5 km area from the edges of the reservoir. A significant socio-demographic increase was observed, highlighting a growing of activities with polluting potential, such as mining, pisciculture and ceramic industries in a polarized way, remarking the generalized growth of agriculture in the environments of all reservoirs. However, the most important point to stand out in this study was the need for implementation of environmental control, since there was a disregard for environmental policies, represented by the invasion of these activities within the permanent protection areas, describing the potential pollution impact on the water resources and consequently causing clear consequences on the quality of the water and therefore describing an imminent health risk. In order to evaluate the aforementioned facts, studies were conducted in surface water bodies to understand the water quality and the toxicological consequences for the population of the use of this resource. For these purposes, two environmental samples were carried out (2015 and 2017), in order to evaluate the water quality of the reservoirs in the studied environmental scenario. For these purposes, water samples were assessed through physical-chemical variables such as: electrical conductivity, colour, turbidity, pH, total solids, total alkalinity, total hardness, ammoniacal, organic and total nitrogen, chlorophyll, chloride, nitrite, nitrate and phosphorus, as well as metals (Ag, Al, Cd, Co, Cu, Cr, Pb, Fe, Hg, Mn, Ni and Zn). In addition, the alpha and beta radiation levels, radon concentration along with phytoplankton analysis were performed. In soil samples, the content of the aforementioned metals, radon emanated, and gamma-ray emitters (uranium, thorium and potassium) were measured. In the air samples radon was also assessed. The results obtained were compared with the threshold values indicated by national and international legislation. Apart from that, for a risk assessment, the variables of toxicological interest were categorized by comparison with the used reference threshold values to describe the individual risk associated along with by the integration of this information through a composite index. Finally, the spatial pattern of cancer was analysed considering the areas of influence of the water reservoirs and its association with the described risk. And compared with the scores of the risk composite index in order to evaluate possible associations. The results obtained revealed the improper quality of water for human consumption, with potential health consequences besides the need to establish environmental monitoring along with the implementation of mitigating actions against the occurrence of substances of toxicological relevance, considering the risks of associated pathologies linked to an exposure to these agents.
Dissertação - ANÁLISE DE RISCO ASSOCIADO À QUALIDADE DA ÁGUA E SUA
RELAÇÃO COM INDICADORES AMBIENTAIS EM RESERVATÓRIOS DO RIO
GRANDE DO NORTE - RN
Figura 1 - Cadeia de decaimento do Urânio (
238U)
com a emissão de partículas alfa até se
torna um isótopo estável de Chumbo (
206Pb). Fonte: TAYLOR, MCINTOSH & WALKER,
2001...17
Figura 2 - Mapa de Localização da Área de Estudo. Adaptado dos dados fornecidos pelo
Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte
(2017)...22
Capítulo 1 - ANÁLISE GEOESPACIAL DA VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL
COMO CONSEQUÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO
Figura 1 - Localização da área de estudo e dos reservatórios de agua selecionados para a
realização do estudo...36
Figura 2 - Mapa comparativo das atividades econômicas desenvolvidas na Área de
Preservação Permanente dos reservatórios considerados referente aos anos de 2008 e 2017..40
Capítulo 2 - AVALIAÇÃO DE RISCOS TOXICOLÓGICOS Á SAÚDE HUMANA POR
CONSUMO DE ÁGUA PROVENIENTE DE RESERVATÓRIOS DO RIO GRANDE DO
NORTE – BRASIL
Figura 1 - Localização dos reservatórios e área de influência da distribuição de água
selecionados para a realização do estudo ...55
Figura 2 - Grupos de fitoplânctons encontrados nas áreas de coleta dos reservatórios
estudados ...65
Figura 3a - Análise de componentes principais ...65
Figura 3b - Análise de redundância das variáveis abióticas em relação ao local de
amostragem e o conteúdo de cianobactérias ...65
Figura 4 - Categorização geoespacial da qualidade hídrica a partir da classificação de risco
por fatores estudados ...66
Figura 5 - Categorização geoespacial da qualidade hídrica a partir da média geral da
classificação de risco por fatores estudados...66
Dissertação - ANÁLISE DE RISCO ASSOCIADO À QUALIDADE DA ÁGUA E SUA
RELAÇÃO COM INDICADORES AMBIENTAIS EM RESERVATÓRIOS DO RIO
GRANDE DO NORTE - RN
Tabela 1 - Coordenadas em Sirgas 2000 de referência aos pontos de coleta de material...27
Tabela 2 - Classificação de risco seguindo parâmetros da CONAMA nº 357/2006 ...29
Capítulo 1 - ANÁLISE GEOESPACIAL DA VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL
COMO CONSEQUÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO
Tabela 1 - Características dos reservatórios estudados...36
Tabela 2 - Análise temporal da evolução das atividades econômicas desenvolvidas no entorno
dos Açudes (ha)...38
Tabela 3 - Representação dos usos do solo dentro da área reservada aos Açudes
(ha)...41
Tabela 4 - Análise comparativo da qualidade hídrica através de indicadores de
eutrofização...43
Capítulo 2 - AVALIAÇÃO DE RISCOS TOXICOLÓGICOS Á SAÚDE HUMANA POR
CONSUMO DE ÁGUA PROVENIENTE DE RESERVATÓRIOS DO RIO GRANDE DO
NORTE – BRASIL
Tabela 1 - Características sobre os reservatórios estudados e locação dos pontos amostrais..56
Tabela 2 - Caracterização físico-química das amostras de água dos reservatórios e parâmetros
de qualidade da água ...58
Tabela 3 - Níveis de metais pesados encontrados em água nas áreas de coleta de amostra, nos
açudes estudados e parâmetros de qualidade da água (ug/L)...60
Tabela 4 - Níveis de metais pesados encontrados em solo nas áreas de coleta de amostra, nos
açudes estudados e parâmetros de qualidade de solo (mg/kg)...61
Tabela 5 - Concentração de partículas alfa e beta totais achadas nas amostras de diferentes
pontos dos açudes para os dois períodos de coleta e parâmetros de qualidade
....62
Tabela 6 - Concentração de emissores gamamétricos nas amostras de solo nos açudes
estudados e parâmetros de qualidade ...62
Tabela 7 - Concentração de radônio nas amostras de diferentes pontos dos açudes para os
dois períodos de coleta e parâmetros de qualidade ...63
1. INTRODUÇÃO GERAL
10
2. CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO
20
2.1 ESTRAÇÕES DE OBSERVAÇÃO
21
3. METODOLOGIA GERAL
25
3.1 MAPEAMENTO DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO
25
3.2 ANÁLISE DA ÁGUA, SEDIMENTOS E AR
26
3.1.1 Análise físico-química da água
27
3.1.2 Quantificação de Metais
27
3.1.3 Caracterização Radioativa
28
3.1.4 Quantificação e Análise Estatística de Fitoplânctons
28
3.1.5 Análise Estatística e Geoespacial
29
4. CAPÍTULO 1 – ANÁLISE GEOESPACIAL DA VULNERABILIDADE
AMBIENTAL COMO CONSEQUÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO
HUMANO
30
RESUMO
31
ABSTRACT
32
INTRODUÇÃO
32
CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO
34
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
35
RESULTADOS E DISCUSSÃO
37
CONSIDERAÇÕES FINAIS
47
AGRADECIMENTOS
48
REFERÊNCIAS
48
5. CAPÍTULO 2 –
AVALIAÇÃO DE RISCOS TOXICOLÓGICOS Á
SAÚDE HUMANA POR CONSUMO DE ÁGUA PROVENIENTE DE
RESERVATÓRIOS DO RIO GRANDE DO NORTE – BRASIL
53
RESUMO
54
INTRODUÇÃO
54
CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO
55
MATERIAIS E MÉTODOS
55
RESULTADOS E DISCUSSÃO
57
Caracterização Físico-Química
57
Análises de Metais Pesados
59
Análises da Radiação
62
Análises de Cianobactérias
64
Análise Geoespacial da Qualidade Hídrica
65
CONSIDERAÇÕES FINAIS
67
REFERÊNCIAS
67
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
73
REFERÊNCIAS GERAIS
74
ANEXO 1 – COMPROVANTE DE SUBMISSÃO DO CAPÍTULO 1
1. INTRODUÇÃO GERAL
A água é o elemento essencial para a manutenção e a sobrevivência de todas as formas
de vida na Terra por estar presente em distintos processos físicos, químicos e biológicos, no
entanto, trata-se de um recurso extremamente escasso. O problema da escassez da água está
relacionado, dentre outras questões, à desigual distribuição entre as diversas regiões, às
exigências cada vez maiores de consumo, principalmente nos sistemas produtivos, à poluição
e à contaminação dos recursos naturais (REBOUÇAS, 2001; TUNDISI, 2008). Ainda
segundo Rebouças (2001) a ausência, escassez ou abundância hídrica delimita o fator social
em que a comunidade dependente está exposta. Desta forma, a busca pela conservação deste
bem natural tem ganhado cada vez mais importância, e ocupado lugar de destaque nas
conferências internacionais, que estimam que cerca de 80 por cento de todas as enfermidades
e mais de 35 por cento dos óbitos dos países em desenvolvimento são causados pelo consumo
de água contaminada (CNUMAD, 2012). Além disso, o relatório “The Future We Want”,
gerado ao final da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável,
mais conhecida como RIO+20, que trata sobre adoções de medidas visando o
desenvolvimento sustentável, e indica a necessidade de promover a preservação dos recursos
ambientais, afirma que a deterioração da qualidade da água afeta o crescimento econômico e
sustentável, pois este bem está intimamente ligado a uma série de importantes desafios
globais (CNUMAD, 2012), o que ressalta a necessidade de adotar medidas para a redução da
poluição hídrica na busca por uma melhor qualidade desse recurso. Entretanto, a conservação
dos recursos hídricos é complexa, sendo de suma importância o papel social da educação e de
políticas públicas focadas na reversão do atual problema de degradação ambiental, para que
este seja notado como uma fonte esgotável e frágil. Estudos sugerem que a mudança desta
mentalidade deve se fazer de modo a garantir a disponibilidade hídrica para as futuras
gerações, priorizando-a tanto quanti quanto qualitativamente (ABRAMOVAY, 2010;
BRITTO & BARRAQUÉ, 2008; JACOBS, 2011).
Sabe-se que a poluição de corpos hídricos pode gerar inúmeras mudanças, algumas
vezes até irreversíveis, por meio de distintas substâncias químicas e metais pesados,
resultando na diminuição da sua qualidade (KHAN et al., 2013). Nesta perspectiva, a
demanda por água de qualidade é um dos maiores desafios da atualidade. Tornando-se um
desafio ainda maior quando ligado a outros fatores, como a distribuição territorial e as
características climáticas de uma região (MARTINS; MAGALHÃES; FONTENELE,
2017; DANTAS et al., 2011).
O Brasil é considerado um território com todas as condições necessárias ao
desenvolvimento da vida, farto em terras, ar, calor e água. O país é detentor de cerca de 12%
de toda a reserva hídrica doce disponível no mundo, e 53% da água doce da América do Sul,
mas ainda assim passa por crises de escassez hídrica periodicamente (REBOUÇAS, 2001).
Isso devido aos outros fatores citados acima, como a desigual distribuição das reservas de
água sobre o território e ao mal-uso deste recurso pela população. Um exemplo é o Semiárido
brasileiro, apresentando menores números dessa reserva e aonde a disponibilidade de água por
habitante anual chega a ser menor que o mínimo recomendando pela ONU, de 2.000 litros
(MARENGO, 2011). A região ocupa cerca de um quinto do território nacional, com uma área
de 982.563,3 km
2dos quais 89,5% ficam no Nordeste, e incluindo também a parte
setentrional de Minas Gerais, ocupando cerca de 18% do estado (IDEMA, 2017). Segundo
dados do IBGE (2010), cerca de 26,62 milhões de brasileiros/as vivem na região, e 41,3% da
população são crianças e adolescentes na faixa etária de 0-17 anos. Mais da metade (59,1%)
dos brasileiros em situação de extrema pobreza encontram-se no Nordeste, e destes 52,5%
vivem em áreas rurais, possuindo 4 a cada 10 faixa etária entre 0-14 anos. Em 60,09% dos
municípios semiáridos, referente a mais de nove milhões de habitantes, o Índice de
Desenvolvimento Humano - IDH, que leva em consideração indicadores de longevidade, de
educação e de renda, varia de Muito Baixo a Baixo, ficando inferior ao resto do Brasil.
Adicionalmente, a região semiárida está sob influência de condições climáticas diretamente
relacionadas a fenômenos de secas, devido a irregularidade das chuvas e os baixos índices
pluviométricos anuais, de 200 a 800 mm. Nos últimos anos, de 2012 a 2017, o semiárido
enfrentou a pior seca da sua história, em especial a região mais afetada foi o Nordeste, que
normalmente já possui índices pluviométricos reduzidos, ficando bem abaixo da média de
outros anos e em comparação com outros lugares do país (MARTINS; MAGALHÃES;
FONTENELE, 2017). Em virtude deste cenário, grande parte da população regional está
vulnerável a distintos problemas sociais e econômicos relacionados a escassez hídrica.
No Rio Grande do Norte, estado do semiárido nordestino, o fator de destaque é o
clima quente e seco, do mesmo modo que em todo o semiárido, responsável pela variação das
suas outras características. Durante a maior parte do ano predomina a massa Tépida
Kalaariana – TK, com ar seco e quente que absorve a água dos rios, solo, vegetação e onde
haja água para evaporar, não bastando, o fenômeno El Niño castiga a região com secas
periódicas que duram de 4 a 6 anos. A maior parte da região se localiza em baixa latitude,
conferindo-lhe assim temperaturas entre 15º C até 40º C, com temperaturas médias anuais
invariáveis e superiores aos 24º C o que lhe dá amplitudes térmicas de 3 a 5º C, bem menor
que nas demais regiões intertropicais (MARTINS; MAGALHÃES; FONTENELE, 2017). No
estado as precipitações são escassas, variando entre 200 a 800 mm de médias anuais, e
predominância de áreas com precipitações entre os 400 e 600mm, as chuvas distribuídas de
forma irregular em todo o território estadual concentram-se entre três ou quatro meses do ano,
variando dependendo das condições da dinâmica atmosférica, como fluxo das massas de ar
durante o ano, relevo e exposição dos ventos. Nos meses antecedentes e precedentes ao
período chuvoso naturalmente há ocorrências de chuva, que, no entanto, não ultrapassam os
40 mm (LEAL, TABRELLI e SILVA, 2003). Essas características pluviométricas garantem
ao semiárido brasileiro o “título” de mais chuvoso, diferentemente das outras regiões
semiáridas do mundo nos quais a chuva varia entre 80 e 250 mm anuais. Porém, o balanço
hídrico apresenta deficiência devido a esse volume de chuva ser bem menor do que o
potencial de evaporação, referente a 3.000 mm anual, o que provoca um déficit hídrico
desafiador para as comunidades da região que vivem da agricultura e da criação animal (ASA,
2017).
Um ponto importante a ser considerado é que nos intervalos entre a presença da massa
TK e do El Niño ocorre a chegada da La Niña, proporcionando o aumento da umidade e das
chuvas abundantes, e nessa época o semiárido nordestino também fica vulnerável a enchentes
e chuvas castigadoras. Esses fenômenos fazem com que as comunidades fiquem isoladas,
provocam a destruição de casas, barragens e açudes, levando à perdas significativas na
produção agrícola e tragédias envolvendo a morte de pessoas e animais (MARENGO et al.,
2011). Outro fator contribuinte para a escassez hídrica na região é que as poucas bacias
sedimentares não apresentam fontes abundantes, visto que a geologia não ajuda na existência
de rios permanentes, ao menos aqueles com nascentes na própria região (MARTINS;
MAGALHÃES; FONTENELE, 2017). Por ser uma região dominada por terrenos cristalinos
com solos rasos ou pouco profundos, tais condições possibilitam o escoamento superficial e
com dificuldade de infiltração, limitando o abastecimento dos aquíferos subterrâneos, já que
nesses locais se formam solos pouco permeáveis. Os solos são impenetráveis, por
apresentarem um horizonte B textural, argiloso, impossibilitando que a água seja escoada para
os outros horizontes (EMBRAPA, 2018). Nos Neossolos da região há infiltração, porém por
se tratar de um solo com pequeno desenvolvimento pedogenético, característico por sua pouca
profundidade, não passando os 20 cm, de predomínio arenoso e presença de camadas distintas
herdadas da matéria originária, o solo possibilita a ascensão da água por capilaridade, devido
aos poros maiores encontrados em solos arenosos apresentarem pouca resistência por atrito ao
rápido movimento capilar da água; ou em um segundo caso, a água infiltrada passa para
outros horizontes e concentra-se em profundidade elevada (ANGELIM; MEDEIROS &
NESI, 2006
).
Este é o panorama que encontramos na região semiárida nordestina em que mais de 26
milhões de habitantes encontram-se potencialmente expostos a vulnerabilidades sociais e
ambientais. Essa população muitas vezes é o responsável pelo estressor ambiental que vem
afetando os corpos hídricos, já que evidências científicas cada vez mais consistentes apontam
que as atividades antrópicas são vistas regularmente como o principal causador dessa
contaminação, seja pela necessidade continua e incessante de água ou devido ao lançamento
de efluentes contaminantes (FERNÁNDEZ-LUQUEÑO et al., 2013; BLAISE et al., 2005). A
vulnerabilidade socioambiental resulta, pois, de estruturas socioeconômicas que produzem,
simultaneamente, condições de vida precárias e ambientes deteriorados, expressando-se
também como menor capacidade de redução de riscos e baixa resiliência (ACSELRAD, 2006;
ACSELRAD, 2010; FREITAS et al., 2012).
As contradições e injustiças sociais que permeiam a região podem ser percebidas
inclusive no acesso à renda, que reflete também uma forte desigualdade de gênero. Segundo
dados do IBGE (2010), metade da população do Semiárido, ou mais de oito milhões de
pessoas, não possui renda monetária ou tem como única fonte de rendimento os benefícios
governamentais, sendo a maioria (59,5%) mulheres. Os que dispõem de até um salário
mínimo mensal somam mais de cinco milhões de pessoas (31,4%), sendo 47% mulheres.
Enquanto isso, apenas 5,5% dispõe de uma renda entre dois a cinco salários mínimos, a
maioria (67%) homens, e dos 0,15% com renda acima de 30 salários mínimos apenas 18% são
mulheres. O índice de Gini, que mede o nível de desigualdade a partir da renda, está acima de
0,60 para mais de 32% dos municípios do Semiárido, demonstrativo de uma elevada
concentração da renda. Essa região abrange 1.262 municípios brasileiros, considerando a atual
delimitação divulgada em 2017 pelo Ministério da Integração Nacional. No Nordeste, dos
seus nove estados, metade tem mais de 85% de sua área caracterizada como semiárida (ASA,
2017).
Para Marandola Jr. & Hogan (2005), a ideia de vulnerabilidade é explicada como uma
situação, na qual, estão presentes três componentes, sendo eles: a exposição ao risco, a
capacidade de reação e o grau adaptativo diante da materialização do risco. Os dois últimos
componentes fazem parte da composição da capacidade de resposta aos riscos e eventos que
venham a causar danos, tais elementos acabam por promover a absorção do impacto do perigo
e podem ser entendidos como uma capacidade de resposta, que é um dos componentes da
vulnerabilidade. Deste modo, a superação desse processo envolve a atuação na dinâmica do
desenvolvimento econômico e social, bem como da proteção social e ambiental, e envolve
mudanças de padrões, desde os cognitivos até as políticas, envolvendo ações que resultam nos
macros determinantes sociais, econômicos e ambientais, contemplando não só aspectos
básicos do acesso ao trabalho, à renda, à alimentação, à educação, à saúde, à habitação, ao
saneamento ambiental, como também, de onde se vive e trabalha, observando para isso
fatores ambientais como: uso e ocupação do solo, gestão ambiental e apropriação dos recursos
naturais., articulados e integrados com políticas sistêmicas orientadas para a sustentabilidade
ecológica e a justiça social como pilares do desenvolvimento sustentável (ACSELRAD, 2006;
ACSELRAD, 2010). É interessante ressaltar que, apesar de ligada ao risco, a noção de
vulnerabilidade difere do mesmo. Segundo o PNUD (2007), enquanto o risco se refere à
exposição a perigos externos, aos quais as pessoas ainda têm um controle, mesmo que
limitado, a vulnerabilidade mede a capacidade de combate a tais perigos sem que a população
sofra perda de bem-estar, em longo prazo.
Diante deste cenário de escassez, tentando fugir dos riscos atrelados a essa
vulnerabilidade, no semiárido nordestino foram construídos reservatórios, regionalmente
chamados de açudes ou barragens, com o intuito de amenizar as consequências da seca. Estes
coletam água da chuva e represam água dos poucos rios permanentes e intermitentes que
permeiam a região, e são utilizados para atividades de uso domiciliar, industrial, aquicultura,
irrigação, lazer, pesca, entre outros (MARTINS; MAGALHÃES e FONTENELE, 2017).
Com essas construções hídricas, a ocupação humana nas bacias hidrográficas do estado
semiárido do Rio Grande do Norte, de forma cada vez mais desordenada por meio de
atividades de desmatamentos, queimadas, práticas agrícolas perniciosas, atividades
extrativistas agressivas, ocupações urbanas generalizadas, gera a impermeabilização dos
solos, lançamento de esgotos industriais e domésticos nos reservatórios hídricos, e,
consequentemente, promove uma deterioração da qualidade das águas naturais, com riscos de
propagação de doenças de veiculação hídrica ao próprio ser humano (ABRAMOVAY, 2010;
JACOBS, 2011). Ainda assim, a contaminação hídrica pode ocorrer não somente por meio da
atividade antrópica. Outro fator para essa contaminação é que a geoquímica prevalente na
região envolve jazidas ricas em metais presentes naturalmente no meio ambiente (FADIGAS
et al., 2006). Dentre estes metais, muitos apresentam interesse toxicológico, tais como
chumbo, cromo, manganês, alumínio, cobre, ferro e prata, e que dependendo do tempo e da
concentração em que o organismo está exposto a estes metais, podem causar efeitos danosos a
esta biota associada, incluindo o homem (MATSUI et al., 2002). Desta forma, podem
contaminar e tornar a água um condutor de substâncias químicas nocivas à saúde humana,
com efeitos genotóxicos e cancerígenos (SPONCHIADO et al., 2011).
Alguns estudos realizados na região semiárida recomendam mais análises que
contemplem os metais para ambientes que envolvam atividades de extração e beneficiamento
de minério e atividades de processamento industrial ou agrícolas (BRITO et. al, 2012). Costa,
Lima e Silva (2014) ao analisarem uma Bacia Hidrográfica do RN notaram claramente o
avanço das áreas urbanas e atividades agrícolas em direção aos leitos dos rios, inclusive em
áreas protegidas por lei, e constataram que atrelado a esse crescimento está a diminuição da
quantidade e qualidade das águas subterrâneas e superficiais, a perda de fertilidade e a
contaminação do solo. Amaral et. al (2014) em estudo em um açude do RN, no município de
Lajes Pintadas, encontraram níveis acima dos permissíveis tanto em períodos chuvosos, como
em estiagem, de cádmio, chumbo, ferro, níquel e prata, constatando também áreas
consideradas fortemente radioativas. No Açude Boqueirão - RN, Chaves et. al (2016)
constataram concentrações de metais, como o chumbo, alumínio, níquel, cobalto e prata,
acima do permitido quando comparados com os níveis sugeridos pela WHO (2011) e do
permitido pela legislação brasileira CONAMA
357/2005
. Dentre os metais identificados, o
chumbo foi detectado até 10 vezes mais do que os níveis seguros sugeridos e o alumínio em
até 30 vezes. Resultados semelhantes foram encontrados por Garcia et al. (2011) no açude de
Lucrécia, que sofre influência da radiação ionizante natural derivada do Urânio presente no
solo. Altos níveis desses metais são geralmente encontrados em situações que apresentam a
combinação de fontes naturais e antropogênicas de contaminação, acarretando problemas para
a saúde pública, como já mencionado anteriormente. Além dos fatores toxicológicos, alguns
metais possuem elevado potencial radioativo, e a manipulação destes através de algumas
atividades humanas podem resultar em alterações significativas da concentração e da
distribuição dos radionuclídeos em distintos compartimentos ambientais (AGNEZ-LIMA,
MEDEIROS, 2010).
Considerando que todos os seres são expostos diariamente à radioatividade - processo
no qual um núcleo instável de um elemento químico, geralmente de alto número atômico,
emite espontaneamente partículas e/ou radiação eletromagnética para atingir estabilidade
nuclear e após essa emissão, o núcleo sofre alteração, a qual é denominada transmutação ou
decaimento de um elemento químico em outro - devido às distintas fontes radioativas,
naturais ou artificiais. Observa-se que partículas radioativas no solo ou água são uma das
principais e mais impactantes fontes de exposição humana à radiação ionizante (
DERIN et al.,
2012
). Dentro desta perspectiva, Chaves et al. (2016) encontraram elevados níveis de radiação
alfa e beta, como também concentrações de radônio na água em níveis elevados em todas as
amostras coletadas quando comparados com os níveis sugeridos pela USEPA (1999). Essa
radiação pode ser originada a partir de radionuclídeos naturais como o urânio (U), o elemento
químico mais pesado de ocorrência natural, que segundo a Agência Internacional de Energia
Atómica-AIEA (2007), o Brasil possui uma das maiores reservas mundial, sétima maior
reserva geológica com cerca de 310.000t de U
3O
8, ficando atrás somente dos Estados Unidos,
Canadá, África do Sul, Rússia, Cazaquistão e Austrália os quais possuem uma reserva com
volume em torno de 1.462.000t.
A distribuição do urânio no interior da crosta terrestre está associada a processos
magnéticos, de forma que ele se encontra retido nos principais minerais que compõem as
rochas, porém esse metal facilmente se redistribui em todos os compartimentos ambientais, a
partir da sua mineração, contaminando o solo, devido a movimentação das rochas; do ar,
devido a movimentação do solo e o desmonte das rochas no momento das explosões, gerando
a poeira radiativa e liberando o radônio; da água, durante o processo extrativo e o tratamento
do minério, causando a liberação de radionúcleos e outros contaminantes na drenagem
pluviométrica e até mesmo a infiltração nos lençóis subterrâneos, contaminados pela
dispersão do urânio e seus produtos de decaimento, como o tório, o rádio e o chumbo
(BLAISE et al., 2005). A mobilização do urânio está relacionada com os processos
intempéricos, dissoluções químicas e processos físicos de arrasto, transportando-o para os
solos, quando nos solos esse urânio se concentra em águas naturais a partir do lixiviamento.
Outros fatores que afeta a distribuição desse elemento em águas são os efeitos climáticos
(variabilidade sazonal); estado de oxidação da água; concentrações de elementos que possam
formar complexos uraníferos ou minerais insolúveis de urânio; presença de materiais
adsorventes de urânio (BLAISE et al., 2005). Por ser um metal radioativo possui uma
estrutura atômica instável que o faz desintegrar, os produtos dessa desintegração,
denominados isótopos filhos ou isótopos radiogênicos podendo ser estáveis ou instáveis. Os
instáveis criarão uma cadeia de decaimento até atingirem a estabilidade (TAYLOR et al.,
2001). De acordo com o Ministério da Saúde (MS, 2014) a concentração máxima de urânio
permitida na água potável é de 20 µg/L.
Nessa cadeia de decaimento isótopos de urânio decaem em outros elementos
radioativos até formarem isótopos estáveis de chumbo (Fig. 1). Essa radiação ionizante do
urânio é prejudicial à saúde por sua toxicidade, capaz de interferir nas funções celulares em
todos os níveis de organização celular, inclusive em mutações no Ácido Desoxirribonucleico -
DNA (CHAUDHRY, 2008). Barillet et al. (2011), relacionam os efeitos como danos
celulares, estresses oxidativos, genotoxicidade e neurotoxicidade. E quando ingerido é
distribuído por órgãos pelo corpo como os rins (KURTTIO et al, 2002) e ossos (MS, 2014).
Figura 1 - Cadeia de decaimento do Urânio (
238U)
com a emissão de partículas alfa até se
torna um isótopo estável de Chumbo (
206Pb). Fonte: TAYLOR, MCINTOSH & WALKER,
2001.
Entre os elementos responsáveis pela radioatividade das águas, o radônio é um dos
mais abundantes, este é um dos radioisótopos formados na cadeia de decaimento do urânio e é
um gás inerte radioativo, liberado por rochas e solos que contenham urânio e facilmente
disperso
pelo
ar
e
absorvido
pelo
sistema
respiratório
(COMMISSION
RECOMMENDATION, 2001). Segundo a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer
(IARC, 1988), este gás é um agente carcinogênico humano; ao ser inalado pode se desintegrar
dentro dos pulmões formando descendentes radioativos sólidos, como o metal polônio-218 ou
214, que se deposita nos pulmões emitindo várias partículas alfa, beta e raios gama.
Posteriormente, ele se transforma em chumbo-210, que tem uma meia-vida de 22 anos,
conduzindo a emissões de partículas alfa, beta e gama, que podem levar a mutações no tecido
do pulmão responsáveis por aumentar a probabilidade de câncer neste órgão (WHO, 2009).
Esse processo de decaimento do radônio também ocorre no ambiente, causando a inalação de
produtos descendentes.
As partículas do polônio-218 ou 214 emitem radiações alfa, que irão comprimir o
tecido do pulmão. Na maioria dos casos matam as células do tecido ou atingindo o núcleo de
uma célula ativa, podendo atingir e/ou criar reações químicas que afetem o DNA. Esse
mecanismo aumenta significativamente os riscos de se ter o câncer de pulmão, dependendo da
quantidade inalada e do tempo de exposição
(UNSCEAR, 2011).
É durante o processo de troca
gasosa (hematose) ao nível dos pulmões, onde se tem a oxigenação do sangue (alta
vascularização) possibilitando a respiração celular (GUYTON, 1988), que ocorre a absorção
do chumbo-210 ali presente pela corrente sanguínea. De acordo com Gillis, Arbieva e Gavin
(2012), níveis elevados de chumbo no sangue têm efeitos conhecidos relacionados com
disfunção cognitiva, distúrbios neurocomportamentais, danos neurológicos, hipertensão e
insuficiência renal. Os efeitos relacionados à exposição ao chumbo são distintos quando
comparados em adultos e crianças. Tal fato pode ser explicado devido à suscetibilidade que o
organismo apresenta no período da infância, principalmente no que diz respeito ao sistema
nervoso, o qual se encontra ainda em formação.
Inúmeros estudos revelam que a presença de chumbo no sangue de crianças acima de
5 ug% causam alterações no sistema nervoso infantil, originando problemas nas funções
cognitivas, distúrbios de comportamento, baixo rendimento escolar, diminuição da capacidade
visual, dentre outros (MARTÍNEZ et al., 2013; DASCANIO et al., 2010;
LEAL-ESCALANTE et al., 2007; VEGA et al., 2005). Segundo Needleman e Gatsonis (1990), em
uma pesquisa de meta-análise com crianças, encontraram que o aumento de 1µg/dl de nível de
chumbo no sangue está relacionado com a diminuição de 0.24 pontos no Quociente de
Inteligência (QI). Os riscos e efeitos desta exposição à radiação natural são amplificados pela
diminuição da disponibilidade hídrica gerada pelos processos de seca que acontecem no Rio
Grande do Norte, uma vez que possibilita a concentração destes produtos nos reservatórios.
Utilizando o conceito de risco como a possibilidade de ocorrência de um evento adverso
(morte, lesão ou dano) por exposição a um agente químico sob condições específicas; e o
conceito de avaliação de risco pela exposição a produtos químicos, como a atividade
científica que analisa as propriedades tóxicas de uma substância especial e as condições de
exposição humana a essa substância, para estudar a possibilidade que indivíduos expostos
possam desenvolver efeitos adversos e caracterizar a natureza dos efeitos que podem surgir
(IPCS, 2010). Adentrando então no termo vulnerabilidade da perspectiva da discussão sobre
saúde pública como uma forma de estratégia conceitual e metodológica para analisar diversos
processos de saúde, rompendo com o modelo biológico-médico restrito e considerando a
vulnerabilidade de pessoas predispostas e a vulnerabilidade do sujeito ou sociedade frente aos
riscos ou recursos que os seus modos de vida viabiliza ou restringe (PORTO, 2011). Essa
avaliação sobre o risco a que a população é exposta possibilita a proteção à saúde humana,
determinando os níveis de remediação ambiental necessários, avaliando sua viabilidade e
benefícios quanto a alocação de recursos e o gerenciamento, priorizando as áreas mais críticas
(TSUJI et al., 2004). Neste sentido, há nesses locais a necessidade de preservação dos
recursos hídricos e se torna mais iminente que medidas eficazes, sejam tecnológicas ou
educacionais, precisem ser implementadas de maneira satisfatória para incentivar a
conservação dos corpos d’água, requerendo o monitoramento contínuo dos corpos hídricos e
seus entornos para um gerenciamento adequado.
No Brasil esse monitoramento segue orientações do Conselho Nacional do Meio
Ambiente – CONAMA, por meio da resolução 357 de 2005, que dispõe sobre a classificação
dos corpos hídricos e dá diretrizes ambientais para a sua fiscalização e manutenção. Dentro
desse contexto e do cenário de degradação, onde podem ser observados diversos tipos de uso
e ocupação do solo que produzem múltiplos impactos socioambientais, será realizado o
monitoramento das áreas dos principais reservatórios do estado do RN, e dos seus entornos,
tanto por meio do uso e ocupação do solo das suas áreas de influência, como também por
meio dos estudos da qualidade dos seus ambientes e a influência do fenômeno da
contaminação por metais e radiação natural sobre a saúde ambiental e das populações afetadas
nestas áreas de riscos, uma vez que o cenário de escassez de recursos hídricos potencializa a
contaminação e a concentração de metais, advindo dos afloramentos rochosos encontrados na
região, provenientes também das atividades antrópicas, como esgoto, agricultura, indústria e
piscicultura. Portanto, a pesquisa estudou nos anos de 2008, 2015 e 2017, mediante uma
avaliação de risco, a vulnerabilidade ambiental decorrente do desenvolvimento humano,
considerando os distintos fatores envolvidos no uso e ocupação do território, as características
geogênicas e as condições climáticas. Assim como também a qualidade hídrica e ambiental de
reservatórios superficiais no estado do Rio Grande do Norte por meio da análise de
parâmetros físico-químicos, e a ocorrência de metais e de radioatividade em amostras de água,
solo e ar de oito reservatórios e os riscos ao consumo humano.
Em atendimento aos objetivos e conforme padronização estabelecida pelo Programa,
esta Dissertação se encontra composta por esta Introdução geral, uma Caracterização geral da
Área de estudo, Metodologia geral empregada para o conjunto da obra e por dois capítulos
que correspondem a artigos científicos a serem submetidos à publicação. O Cap. 1, intitulado
ANÁLISE GEOESPACIAL DA VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL COMO
CONSEQUÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO, foi submetido (ANEXO 1) a
Revista Sociedade e Natureza – ISSN 1982-4513 e, portanto, está formatado conforme este
periódico (http://www.seer.ufu.br/index.php/sociedadenatureza); O Cap. 2, intitulado
AVALIAÇÃO DE RISCO TOXICOLÓGICO Á SAÚDE HUMANA POR CONSUMO DE
ÁGUA PROVENIENTE DE RESERVATÓRIOS DO RIO GRANDE DO NORTE -
BRASIL, será submetido ao periódico Environmental Monitoring and Assessment – ISSN
1573-2959 e, portanto, está formatado conforme este periódico (https://www.springer.com/en
vironment/environment/monitoring+-+environmental+analysis/journal/10661).
2. CARACTERIZAÇÃ O GERAL DA ÁREA DE ESTUDO
No Rio Grande do Norte, estado do semiárido nordestino o fator de destaque é o
clima, responsável pela variação das suas outras características. As chuvas distribuídas de
forma irregular em todo o território regional concentram-se entre três ou quatro meses do ano,
variando dependendo das condições da dinâmica atmosférica, como fluxo das massas de ar
durante o ano, relevo e exposição dos ventos. Nos meses antecedentes e precedentes ao
período chuvoso naturalmente há ocorrências de chuva, que, no entanto, não ultrapassam os
40 mm (LEAL, TABRELLI e SILVA, 2003).
Ao clima estão adaptados a vegetação, com predominância do bioma Caatinga, único
bioma exclusivo do Brasil, fundamental para a conservação da biodiversidade do planeta, com
1/3 de plantas e 15% dos seus animais em exclusividade, no entanto, mesmo com tamanha
importância é considerado o terceiro bioma mais degradado do pais, com 45% da sua área já
desmatada (ASA, 2017). Diversas pesquisas estimam que no semiárido nordestino cerca de
500 mil hectares da Caatinga sejam consumidos anualmente para uso na indústria extrativa
mineral, de panificação, cerâmica ou uso doméstico. No RN devido esse processo de
degradação, assim como em toda a região, a vegetação se tornou escassa e espaçada, deixando
o solo nu e propenso aos processos erosivos mecânicos, por ações do vento ou da água.
Facilitando processos de desertificação, que já atingem grandes partes das áreas mais
susceptíveis (MARENGO et al., 2011).
Sendo o Rio Grande do Norte um dos estados que mais
sofrem com tal fenômeno, registrando segundo Carvalho, Gariglio e Barcellos (2000), níveis
graves e/ou muito graves nos seus municípios.
Liderando a lista dos estados do semiárido com maior parte de predominância
característica, o RN tem 93,4% do seu território diretamente relacionada à ocorrência de
fenômenos da seca. Devido a irregularidade das chuvas e aos baixos índices pluviométricos,
grande parte da população regional enfrenta variados problemas sociais e econômicos
relacionados à escassez hídrica (IBGE, 2010). Segundo o Perfil das Indústrias dos Estados
traçado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI, 2017) as atividades econômicas no
RN são bem diversificadas, com o setor alimentício sendo o mais importante para a
exportação industrial do estado, responsável por 39,22% do total exportado no ano de 2017,
com enfoque para o cultivo de arroz, algodão, feijão, fumo, mamona, cana-de-açúcar,
mandioca, milho e fruticultura com cultivo de mamão, melão, coco, melancia, manga, acerola,
banana, caju. O RN possui sua atividade industrial concentrada na capital e nos municípios
polos, com destaque para a produção mineral, salineira, têxtil, bebidas, agroindústrias,
cerâmica, petrolífera e de energias limpas como a eólica e a solar (CNI, 2017).
O RN está dividido em 167 municípios, contendo uma área total de 52.811,126 km², o
que equivale a 3,42% da área do Nordeste, no qual é o decimo segundo estado mais populoso
do Brasil, com aproximadamente 3,5 milhões de habitantes, concentrando 1,7% da população
brasileira. Sendo o sexto então com maior densidade demográfica, 59,99 habitantes por
quilometro quadrado, desses habitantes, 77,81% vivem em zonas urbana, com uma densidade
de 51,11% de sexo feminino e 48,89% masculino, destes 24,95% são crianças e
pré-adolescentes com menos de quinze anos, 6,51 entre quinze e sessenta e cinco anos e 7,54%
com mais de sessenta e cinco anos (IBGE, 2010). Em dez anos, diferença entre o censo de
2000 (por volta de 2,8 milhões de habitantes) e 2010 (3.168.027 habitantes), o estado teve um
crescimento populacional de 14,3%, número superior as médias do restante do Brasil, com
média de 12,48%, estimasse que atualmente esteja com 3.507.003. O valor do seu IDH é de
0,684, como em todo o semiárido esse índice é inferior ao do restante do Brasil (0,727).
Ainda segundo o mesmo censo, em se tratando de educação, em 2010 o estado teve
uma taxa de 82,6% da sua população acima dos dez anos alfabetizada (79,5 % para os homens
e 85,6 % para as mulheres). No entanto, possui uma taxa de analfabetismo populacional que
lhe confere o título de sexto colocado no país (17,38%), quase o dobro da média nacional
(9,02%). Quando se fala em pobreza, segundo o Mapa de Pobreza e Desigualdade dos
Municípios Brasileiros, a incidência no estado era de 52,56%, e 55,91% de pobreza
subjetiva, ou seja, aquela medida pelos próprios beneficiários (IBGE, 2010). E ainda assim é
o estado que tem o menor número de extrema pobreza do Nordeste, mesmo com 10,33% da
população possuindo renda domiciliar per capita igual ou inferior a setenta reais mensais. O
rendimento nominal mensal domiciliar em torno de 845 reais, menor que o salário mínimo
brasileiro, é o que o faz ser o vigésimo estado com menor rendimento (IBGE, 2010). Apenas
21,74% da população do RN tem acesso à coleta de esgoto. Um problema que talvez esteja
associado à carência nos atendimentos das necessidades básicas e que atinge os potiguares é a
taxa de mortalidade infantil, a décima pior do país, onde a cada mil crianças nascidas vivas,
mais de 19% não completam o primeiro ano de vida. Além disso, enquanto que no Brasil a
estimativa da esperança de vida ao nascer é de 73,94 anos, o Rio Grande do Norte tem uma
esperança de vida ao nascer de 72,52 anos (IBGE, 2010).
2.1. ESTAÇÕES DE OBSERVAÇÃO
Para a pesquisa foram escolhidos oito dos principais reservatórios do Rio Grande do
Norte que merecem uma atenção especial, na medida em que desempenham um papel
importante na disponibilização de água doce superficial para mais da metade dos municípios
do Estado do Rio Grande do Norte. Diante de mais de oito anos de uma prolongada situação
de estiagem, tem ainda o fato de que suas áreas de entorno são ocupadas por pequenas
propriedades, centros urbanos, atividades de mineração, uso agrícola, piscicultura e indústrias
ceramistas (CONPLAM, 2000). Os pontos de amostragem foram escolhidos levando em
consideração também suas espacialidades dentro do território estadual (Fig. 2).
Figura 2 – Mapa de Localização da Área de Estudo. Adaptado dos dados fornecidos pelo Instituto de
Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (2017).