Construção da proposta . . . 2002 LV-2004.00089
IIIIIHIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIKI
CNPMA-5036-1EDUCACÃO
AMBIENTAL
Valéria Sucena Hammes
VOL I
EDUCACÃO
AMBIENTAL
PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Valéria Sucena Hammes
Editora Técnica
CONSTRUÇÃO DA
República Federativa do Brasil
Fernando Henrique Cardoso Presidente
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Marcus Vinícius Pratini de Moraes Ministro
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Conselho de Administração
Márcio Fortes de Almeida Presidente
Alberto Duque Portugal Vice-Presidente Dietrich Gerhard Quast
José Honório Accarini Sérgio Fausto Urbano Campos Ribeiral
Membros
Diretória-Executiva da Embrapa
Alberto Duque Portugal Diretor-Presidente Bonifácio Hideyuki Nakasu Dante Daniel Giacomelli Scolari
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Embrapa Meio Ambiente
Paulo Choji Kitamura Chefe-Geral
Geraldo Stachetti Rodrigues
Chefe-Adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento Maria Cristina Martins Cruz
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Meio Ambiente
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
EDUCACÃO
AMBIENTAL
PARA 0 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Valéria Sucena Hammes
Editora Técnica
CONSTRUÇÃO DA
PROPOSTA PEDAGÓGICA
C o n s t r u ç ã o d a p r o p o s t a 2 0 0 2 LV - 2 0 0 4 . 0 0 0 8 9
Embrapa Informação Tecnológica Brasília, DF
Embrapa Informação Tecnológica
Parque Estação Biológica — PqEB Av W3 Norte (final)
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Embrapa Meio Ambiente
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Coordenação editorial: Lucilene Maria de Andrade e Walmir Luiz Rodrigues Gomes Revisão de texto e tratamento editorial: Francisco C. Martins
Normalização bibliográfica: Rosa Maria e Barros Projeto gráfico e capa: Carlos Eduardo Felice Barbeiro
1a edição
1a impressão (2002): 1.000 exemplares
Todos os direitos reservados.
A reprodução não-autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei n° 9.610).
Construção da proposta pedagógica / Valéria Sucena Hammes, editora técnica. — Brasilia : Embrapa Informação Tecnológica, 2002.
179 p. : il. color. — (Educação Ambiental para o Desenvolvimento Sustentável, v. 1) Inclui bibliografia.
ISBN 85-7383-162-6
1. Educação ambiental. 2. Desenvolvimento sustentável. 3. Política ambiental 4. Projetos. I. Hammes, Valéria Sucena. 11.Série.
CDD 375.0083
Autores
Valéria Sucena H am m es, Pesquisadora d a E m b ra p a Meio Ambiente Ph.D em Planejam ento Ambiental
valeria@ cnpm a.em brapa.br
M aria Luiza d a Silva Deperon - Assistente Técnico Pedagógico de Geografia Especialista em Educação - Diretoria Regional de Ensino de Bragança Paulista
luisadeperon@ uol. com . b r
Nicolau João Bakker Svd - Sacerdote e E ducad or Popular ONG CD HEP/CL (Centro de Direitos H um anos e Educação Popular de Cam po Limpo) - njbakker@ holnet.com .br
C enira M aria Lupinacci Cunha, M estre em Geografia, Professora - Fundação Municipal de Ensino Superior de B ragança Paulista - Fesb - luisgeo@ uol.com .br.
M aria Lucia D uarte Peres - Supervisora de Ensino Aposentada pela Prefeitura Municipal de Santos. Professora de Português d a E.M .E.F. Lourdes Ortiz de Santos, SR
m lucia@ ccbeunet.br
Ismael Bravo — Coordenador e docente d a U niopec-SU — Pesquisador convi dad o do Lage - Laboratório de Gestão Educacional d a FE/U nicam p. Douto rando e Mestre pela Unicamp
ibravo@ terra.com .br
José Dujardis d a Silva - Oficina Pedagógica de B ragança Paulista. dujar@ jetconet.com .br
Dr. Conceil Corrêa d a Silva - Médico Psiquiatra, MBA-USF/Hayward. Presi dente do Conselho da Abrae - Associação Brasileira de Estudos das Inteligênci as Múltiplas e Emocional — ww w.abrae.com .br
conceil @ uol. com . br
Magali Terezinha Sia Malagó, Diretora d a E .E . José Aparecido Munhoz, PEB II, Psicopedagoga, Educadora Ambiental - w w w .abrae.com .br
m agalitsm @ hotm ail.com
Luiz José M. Irias - Pesquisador Hl, E m b ra p a Meio Ambiente irias@ cnpm a.em brapa.br
Ana M argarida de Brito - Prof. Coordenador d a E .E . Fulvia M. A. C. Fazzio guidabrito@ hotm ail.com
Matildes Aparecida Domingues Costa - Professora d a rede estadual do Estado de São Paulo, Licenciatura em História , Ensino Fundam ental e Ensino Médio borges.costa@ ig.com .br
E liana de Souza Lim a - Especialista em Jornalism o Científico, E m brapa Meio Ambiente
Osmar Coelho - Especialista em Agricultura Sustentável pela Universidade d a Califórnia - Santa Cruz
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Elza Maria N. H. Baider - Advogada elzabaider@ ig.com .br
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Rosana Helena Avoni de Cam argo - Titular de Cargo PEB-II E.E. José Siqueira Bueno
eejsb@ planetaeducacao.com .br
David O rr — Director of the Environm ental Studies Program - Oberlin College Lucila Machado Assumpção - Estância Jatobá, H olam bra - SP
Colaboradores
O Projeto Educação Agroambiental para o Desenvolvimento Rural Sustentável foi idealizado em 1994, por M. A. da Silveira, da E m brapa Meio Ambiente e A. G. Pinto da Cati. A base teórica foi enriquecida em 1995, no 1° Workshop de Educação Agroambiental realizado na Cati, Campinas, com a participação de especialistas das áreas de ensino, extensão e pesquisa, momento em que tam bém se confirm ou a necessidade de desenvolvim ento de u m a m etodologia de capacitação de professores e extensionistas. O Projeto foi elaborado em 1996 e iniciado em 1997, por E M. Corrales, com a participação de M. A. da Silveira, J. M. G. Ferraz, R. Ghini, T. R. Quirino, W Bettiol, M. S. T. Santos, N. C. Gattaz, W E Paiva, d a E m b ra p a Meio Ambiente; A. G. Pinto, J. Pianosld, J. B. de Campos, I. Gastão Jr., L. E. Fregonesi, V L. B. Kuhn d a Cati, C. Chiozzini, professor autônomo, C. H . Adania, P Jovchelevich, d a Associação M ata Ciliar; E. J. Mazzer, E Wucherpfenning, do Grupo Ecológico de Sumaré; L. H. Manzochi, do Instituto Ecoar; M. Sorrentino da Esalq/USP; S. P Sanvido, d a 4a Delegacia de Ensino de Cam pinas; S. M. B. Ozzeti, d a Delegacia de Ensino de Sum aré; e R. M. W Sampaio, do Núcleo Freinet. A realização das atividades nas escolas foi possível pelo apoio dos dirigentes regionais de ensino V D. Lopes, C. Moreira, SA.S. Cavenaghi e S. M. A. Ribeiro, e o empenho dos assessores técnicos p ed a gógicos E. J. B. d a C unha, M. L. S Deperon, R. M. A Siorza, O. Muio, R. A de Almeida e R. A. C unha das Diretorias Regionais de Ensino de Bragança Paulista, Limeira, Mogi-Mirim e Sum aré. Ao longo dos 5 anos, foram realizadas reuniões freqüentes com os participantes do projeto ou seus representantes, p ara adequar as atividades propostas à realidade de cada grupo dos quatro municípios-piloto, Jaguariúna, Holam bra, Hortolândia e Sumaré.
No processo de validação do trabalho de pesquisa, sob a coordenação de V S. H am m es da E m b rap a Meio Ambiente, a metodologia foi sistematizada, num curso oferecido a 110 escolas d a rede pública do Ensino Fundamental e Ensino Médio dos Municípios de Aguas de Lindóia, Amparo, Arthur Nogueira, Atibaia, Bom Jesus dos Perdões, Bragança Paulista, Holambra, Hortolândia, Indaiatuba, Itapira, Jaguariúna, Joanópolis, Lindóia, Mogi-Guaçu, Mogi-Mirim, Monte Ale gre, Morungaba, Nazaré Paulista, Paulínia, Pedreira, Pedra Bela, Pinhalzinho, Piracaia, Socorro, Santo Antônio de Posse, Serra Negra, Sumaré, Tuiuti, Valinhos e Vargem, com o envolvimento nos primeiros projetos de 877 professores e 27.817 alunos, do total dos 3.085 professores e 89.716 alunos, sem contar funcionários, pais, comunidade e em presas parceiras.
No decorrer dos seis módulos do curso, A. Chaim, C. M. Jonsson, E. E Fay, F. J. Tambasco, G. Nicolella, L A N. de Sá, M A Gomes, R.Ghini e M. L. Saito, d a E m brapa Meio Ambiente; C. A. Aquino, da Associação Flora Cantareira; E.R. de Freitas, da Cati; L. S. Taveira d a SMA-CPRN-DEPRN, P F. Junqueira, do C en tro de Estudos e Pesquisas Ambientais da Alcoa; R. Leite, da Vila Yamaguishi; R. F. F. Teixeira d a Ceteps; A. Q. Guimarães, do Conselho Estadual do Meio Ambiente; D. P dos Santos, d a Em presa de Desenvolvimento de Cam pinas; Dr. V Pisani Neto, d a Vigilância em Saúde da Prefeitura Municipal de C am pi nas; E. Baider, consultora de Direito Ambiental; e I. Rodrigues do Núcleo de
E studos Populacionais d a U nicam p; C. Aquino, d a Faculdade de Psicologia/ USP; e L. F. A. Figueiredo, do Centro de Estudos Ornitológicos/USP, atu aram como palestrantes sobre temas diversos, com o intuito de dem onstrar como os conceitos se aplicam n a prática. C. Chiozzini, consultor em Desenvolvimento Profissional e Organizacional, M. C. C. Lopes, pedagoga, supervisora e adm inis trad o ra escolar, e o p ad re N. Bakker, do Centro de Direitos Hum anos e E ducação Popular, organizaram dinâm icas de grupo.
Os especialistas A. S. Silva, V L. Ferracini, R C. Kitamura, M. L. Saito, A. Chaim , C. M. Jonsson, E. F. Fay, G. S. Rodrigues, J. F. Marques, J. M. G. Ferraz, L. A. Skorupa, L. G. Toledo, J. A. H. Galvão d a E m b rap a Meio Ambiente; L. S. Taveira d a SM A-CPRN-DEPRN; D. Vilas Boas F° e A. Albuquerque, da Associação Ami gos do C am anducaia; G. M. Diniz Jr., do Sítio Duas Cachoeiras; A. R Barbosa Jr., d a C om paq C om puter do Brasil; C. A. Aquino da Associação Flora Cantareira; J. Bellix, d a Associação M ata Ciliar e o capitão V. M. de Oliveira, d a IV Cia Polícia Florestal debateram com os educadores sobre as dificuldades inerentes aos tem as geradores dos projetos escolares no III Módulo do Curso, no qual a tu a ra m como m oderadores: o padre N. Bakker do Centro de Direitos H um anos e E ducação Popular, R. A. de Almeida, d a Diretoria Regional de Ensino de Mogi- Mirim, V. S. H am m es, G. Storti, R. Minopoli e T. A. de Paula, d a E m b ra p a Meio Ambiente, J. E. C. de Moraes, d a Casa de Agricultura de Santo Antônio de Posse
e C. Chiozzini, consultor em Desenvolvimento Profissional e Organizacional. No início do processo de produção coletiva d a publicação, todos os participantes do curso foram consultados sobre os tem as, que determ inaram a seqüência de cinco partes/volumes: Construção da proposta pedagógica, Proposta metodológica de m acroeducação, Ver — percepção do diagnóstico ambiental, Julgar - percep ção do im pacto am biental e Agir - percepção d a gestão ambiental. A. L.Rodrigues, d a Associação C. Micael; C. A. S. Rocha, A. M. Brito, I. N. F. Ishikawa, A. A. M. Nascim ento, M. L. Estevan, A. L. A. Franco, M. A. D. Costa, A. ü . D. Ferreira, VR.C. de Toledo, S. A. C. M arafante, A. M. M. Leme, R. H. A. Cam argo, R. M. A. Siorza, E . J ,B. d a Cunha, M. L. S. Deperon d a Diretoria Regional de Bragança Paulista; MA. Veríssimo, d a E. E. “Prof. Moacyr Santos de Cam pos” de C am pi nas; R. F. F. Teixeira, d a Ceeteps; M. L. D. Peres d a E.M.E.F. “Lourdes O rtiz” de Santos; S. S. M eira e M. C. de Almeida da International Paper; A. J .C. G. dos Reis d a Verde Novo; G. Storti, S. M. T. Turolla, C. R. Veloso, L. R. Mendes e R. A. de Almeida, d a Diretoria Regional de Mogi-Mirim; G. J. Eysink, do Colégio “Van G ogh” ; C. A. Aquino, d a Associação Flora Cantareira; E. Baider, d a C on sultora de Direito Ambiental; L. Ceolato, d a Motorola; R. Mangieri Jr., médico veterinário hom eopático; 0 . Coelho F°, da Associação de Agricultura N atural de C am pinas e Região; L. F. A. Figueiredo, do Centro de Estudos Ornitológicos/ USP; L. S. Taveira, d a SM A-CPRN-DEPRN; e L. A. Skorupa, J. I. M iranda, H. F. Filizola, S. de Andrade, L. A. N. de Sá, M. L. Saito e D. M. F Capalbo, da E m b ra p a Meio Ambiente, que auxiliaram na definição da composição dos volu mes. C onsideraram im portante respeitar o estilo dos autores que contribuíram corn a redação sobre assuntos de seu domínio de conhecimento e total respon sabilidade. Decidiram, ainda, que as revisões fossem realizadas por professores que atuam no dia-a-dia com os alunos e sabem quais são suas necessidades prementes. Os educadores A. M. de Brito, A. 0 . D. Ferreira, A. M. M. Leme, S. A. C. Marafante, M. L. Estevan, B. R. Pereira, C. A. S. Rocha, R. H. A de Camargo, C. de Paula,
N. L. G. Santos, AA. de M. Nascimento, V R. C. de Toledo, M. A. D. Gosta, I. N. F Ishikawa, E. J .B. da Cunha e M. L. S. Deperon, d a Diretoria Regional de Ensino de Bragança Paulista; R. F. F Teixeira, N. C. de Souza, S. Morandi, M. 1. C. M aia, E. C. Belezia e T. M ori, do C entro E stad u a l de E ducação Tecnológica Paula Souza; T. P M ariano, V R. A Pereira, E. F. Prata, B. A Torres, C. A Auricchio, E. Peres, E. A. L. Fuini, E. A Mazzoni, M. H. Parra, M. E. C. Surur, SA E Fernandes, A M.R. do Prado, S. C. B. R L. de Araújo, R D.Godoi, M. M. de Almeida, E A. F. M antovani, M. de Oliveira, R. C. Mesclian, S. A. Ribeiro, J. Brandão, R. H. G.Batista, R. A Dias, A. V F. C. Silva, T J. M. Guizzo, D. D. Ramalho, M. A. B. de Santi, Z. M. F de Paula, M. B. Ananias, M. R. D. Alves e R. A de Almeida, d a Diretoria Regional de Ensino de Mogi-Mirim; A. da Silva, E. M. Nascimento, representando o Município de Jaguariúna; M. S. T. S. Malagó, C. M. C. Lino, S.V K . Pelicer, d a Abrae/Sobrae — Sociedade Brasileira de Desenvolvimento Ecológico, de C am pinas; S. T Querioz d a Escola Duminare de Sousas; R. M. B. Neves, W R. F. C. Mello, L. H. R Bonon, do Liceu Salesiano N. S. Aparecida de Cam pinas; e M. L. D Peres, E. M. E. F. “Lourdes Ortiz” de Santos revisaram os textos, sob o ponto de vista de uso prático no Ensino Funda mental e Ensino Médio, para viabilizar a aplicação interdisciplinar do tem a transversal Meio Ambiente. A revisão lingüística foi feita pela supervisora de en sino e professora de Português M. L. D. Peres, e professoras M. S. T S. Malagó, C. M. C. Lino, S. V. K. Pelicer, S. T Querioz, R. M. B. Neves, W R. E C. Mello, e L. H. R Bonon. O m aterial foi p a ra um consultor externo que “considerou o m aterial, u m a im portante contribuição p a ra o estado de arte de educação am biental que se pratica em nosso país, tendo em vista o processo continuado, persistente e democrático que gerou.” C om pleta ainda, ressaltando “o caráter incrementai em perm anente construção sintonizam -o com os princípios do Tra
tado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade G lo b a l”
Assim, podemos afirm ar que todos foram im portantes p a ra garantir um produto que atenda à dem anda de metodologia e inform ação p a ra o bom desenvolvi m ento dos projetos escolares de educação am biental.
Equipe de Redação
Agradecimentos
.Agradecemos a todos que direta ou indiretameute contribuíram para a elabora ção desta publicação, fundam entada no Curso de Capacitação de Educadores Agroambientais realizado em 2000, no final do Projeto Educação Agroambiental para o Desenvolvimento Rural Sustentável, em especial às Diretorias Regionais de Ensino de Bragança Paulista, Limeira e Mogi-Mirim, à Secretaria Estadual de Educação do Estado de São Paulo.
Equipe do Projeto Educação Agroambiental p ara o Desenvolvimento Sustentável.
Apresentação
0 Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento atua positivamente na im plem entação da Agenda 21 com um conjunto de ações e projetos, buscando a construção da agropecuária brasileira do futuro com base no desenvolvimento rural sustentável.
Cabe destacar o program a de conservação de solos na agricultura, o apoio à certificação intermediária, como a produção integrada de frutas e a normatização d a agricultura orgânica, a avaliação do risco am biental da introdução de orga nismos exóticos no País, a mitigação de resíduos e contam inantes na agricultura para elevar a qualidade dos produtos e o zoneam ento ecológico-económico. Com o conjunto de ações que implem entam a Agenda 21 na atuação do Minis tério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, pretende-se oferecer informações e alternativas para o posicionamento estratégico da agropecuária brasileira fren te às negociações multilaterais dos tratados e convenções ambientais, e ganhos em com petitividade nos m ercados m undiais crescentem ente perm eados por restrições de ordem ambiental.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento atua na transição do agronegócio brasileiro em direção ao desenvolvimento rural sustentável, gerando produtos e processos cada vez mais saudáveis em termos ambientais e alim enta res. H á um cuidado especial com os produtos familiares, visando à organização social e ao acesso a mercados mais atraentes, além de ganhos econômicos.
Educação Am biental paca o Desenvolvimento Sustentável se traduz de forma
simples e integrada às etapas vec-julgac-agic a partir de exemplo da agropecuária e do meio rural brasileiro.
O trabalho tem como base a competência acum ulada pela Em presa Brasileira de Pesquisa Agropecuária — E m brapa — e seus parceiros ao longo dos anos. Trata-se de um material básico para educadores dos Ensinos Fundamental e Médio e para monitores que atuam na educação ambiental voltada para as áreas rurais. A obra é m ais um a contribuição que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento oferece à sociedade brasileira de hoje, e do futuro.
Marcus Vmicius Pratini de Moraes
Prefácio
O desenvolvimento sustentável prevê a Educação Ambiental como instrumento de melhoria d a qualidade de vida, a partir da formação de cidadãos conscientes de sua participação local no contexto de conservação ambiental global. Para a efetiva consolidação desse processo, este trabalho considera o trinômio desenvol vimento, conservação ambiental e produção de alimentos essencial à existência hum ana. Reconhece a necessidade d a construção de um a metodologia específica sobre esse tem a no Ensino Fundam ental e no Ensino Médio, já que os educado res não foram preparados p a ra enfrentar esse desafio.
E m dezembro de 1995, ocorreu o 1° Workshop de Educação Agrocunbierital, na Cati, que reuniu especialistas das áreas de pesquisa, extensão e ensino para dis cutir e definir estratégias de ação sobre o tema. Desse evento, vários trabalhos foram iniciados, entre os quais, um projeto d a E m b rap a Meio Ambiente intitulado Educação Agroambiental p a ra o Desenvolvimento Rural Sustentável. O projeto visa atender à dem anda de u m a metodologia que oriente a abordagem das ques tões ambientais resultantes do modelo de modernização da agropecuária ad o ta d a no Rrasil. Ao longo dos anos, o intenso processo de urbanização e industria lização d a zona rural somou-se às atividades agrícolas p ara agravar a com preen são dos impactos ambientais, à luz do conhecimento da realidade local.
A estratégia metodológica proposta fundam enta-se no método Ver-Julgar-Agir, planejamento participativo, contextualização local e no tem a gerador, como sub sídio pedagógico à realização de estudos teóricos e vivenciais. O processo dialógico fundam enta-se na aplicação contextuai de conceitos que se aplicam a qualquer região e na interdisciplinaridade, tal como sugerem os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997).
Desde 1997, o projeto de pesquisa e desenvolvimento envolveu instituições p ú blicas como algumas Diretorias Regionais de Ensino d a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo e a Cati, nos subprojetos de ensino e extensão, respecti vamente, além do apoio e das colaborações de organizações não-governamentais - ONGs - e voluntários.
A princípio, as atividades foram desenvolvidas nos municípios-piloto Jaguariúna, Holam bra, Sum aré e Hortolândia. E m 2000, o processo de validação ocorreu com a sistematização d a metodologia num curso de capacitação dos educadores agroambientais, composto por 6 módulos, aplicado em 110 escolas de 30 m uni cípios do Estado de São Paulo, e o envolvimento das Diretorias Regionais de Ensino de Bragança Paulista, Limeira, Mogi-Mirim e Sumaré, com o intuito de somar esforços na capacitação dos educadores.
Como resultado, podemos afirm ar que os coordenadores pedagógicos aplicam im ediatamente a metodologia que, segundo eles, é clara, objetiva, estimulante, prática e possui organicidade seqüencial dialógica adequada ao Ensino F unda m ental e ao Ensino Médio. Sua abordagem conceituai torna-o aplicável a quais quer região e disciplina como proposto inicialmente, m as tam bém atende à restrição de recursos, pelo baixo custo operacional. De m aneira geral, os projetos escolares atingem os objetivos de envolvimento das comunidades escolar e local,
ambientes mais limpos, valorização cultural, redução do vandalism o, m enor evasão escolar e local, avaliando o com portam ento dos alunos em relação a m u danças de atitude relacionadas ao lixo, à destruição de plantas e ao patrim ônio da escola, além de interesse e mobilização pela melhoria ambiental.
Um aspecto importante da aprendizagem cooperativa trata de sua influência nas relações humanas que, no processo consensual de tomada de decisão, cria um elo de amizade e respeito em torno do objetivo único de tornar a vida melhor.
Nos encontros, os educadores com entaram diversas vezes que a metodologia é útil, podendo ser ainda mais útil nas regiões menos privilegiadas do País, e suge riram a expansão do Projeto p ara outras regiões. Esse foi o estímulo necessário p ara elaborarmos este material sobre a proposta metodológica, enriquecida com informações diversificadas sobre a realidade am biental, cuja linguagem e cujo conteúdo foram revisados totalmente pelos educadores que participaram do Projeto. Espera-se tornar bem claro que a essência d a proposta m etodológica socio- construtivista não é facilitar a transferência de tecnologia ou o simples repasse do conhecimento sobre o ambiente. O Ver-Julgar-Agir rem ete à reflexão d a diversi dade de usos da terra, respectivos efeitos, inter-relações e possibilidade de arg u mentação sobre as melhores alternativas de condução dos problem as am bientais, quanto aos aspectos sociais, culturais, econômicos e físicos e as interações entre esses fatores, tal como um a práxis socioambiental. Pretende-se, dessa forma, contribuir p ara que ocorra a apropriação de princípios pelas populações e a ge ração de ferram entas tecnológicas contextualizadas e aptas a transform ar as realidades locais, subsidiando o processo de formação d a desejada sociedade sustentável.
Diante do panoram a de degradação ambiental ocasionado pelo progresso, espe ra-se que este material colabore p ara a qualificação dos profissionais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, a fim de atuarem na formação fie cidadãos consci entes de seus direitos e deveres, num processo de desenvolvimento s u s te n tá v e l.
Dessa forma, o educador atua como agente de transform ação, à medida que auxilia o cidadão do futuro sustentável a discernir sobre a redução do conflito entre o progresso, a conservação ambiental e a produção de alimento saudável.
Valéria Sucena Hammes
Sumário
R elação socied ad e/n atu reza ... 19
Desenvolvimento s u s te n tá v e l... 21
Educação a m b ie n ta l... 24
Educação am biental, ética e cidadania p la n e tá ria ... 28
Meio am biente e religiosidade... 31
Expansão do capital no espaço geográfico... 36
O rientação p e d a g ó g ic a ... 41
Temas tr a n s v e r s a is ... 43
In terd iscip lin arid ad e... 47
A educação am biental e as diversas correntes pedagógicas ... 49
A educação ambiental e os quatro pilares propostos pela U n e s c o ... 53
As inteligências múltiplas e seu desenvolvim ento... 56
Trabalhando a inteligência ecológica ou n a t u r a l i s t a ... 59
Desenvolvimento de competências para toda a v i d a ... 61
Percepção d a sensibilização do a lu n o /p ro fe s s o r... 64
Avaliação d a sensibilização n a relação professor e aluno ... 65
Avaliação de projetos... 67
Acompanhamento e avaliação de p ro je to s ... 70
C om unicação e in fo r m a ç ã o ... 75
A im portância d a m ídia n a conscientização a m b ie n ta l... 77
A m ídia como aliada na busca de um ambiente s a u d á v e l ... 81
L egislação Am biental - Tutela J u r íd ic a ... 85
Direito e defesa a m b i e n ta l ... 87
Crimes a m b ie n ta is ... 92
Fontes legais de defesa a m b ie n ta l... 99
L egislação A m biental - Tutela A d m in istrativa ... ... 109
Instrumentos legais de tutela ... 111
E stru tura d a defesa ambiental pelo poder p ú b l i c o ...115
L ic en c iam e n to ... 117
Punições a d m in istra tiv a s...121
Órgãos públicos de defesa do meio a m b ie n te ...124
S o cied ad e civil n a d efesa d o m eio a m b i e n t e ...133
Organizações n ã o -g o v e m am e n ta is...135
Como form ar u m a O N G ... 138
E laboração d e projetos e captação de r e c u r s o s ... 141
Criação de p ro je to s ... 143
Parceria e é t i c a ...146
A tividades p e d a g ó g ic a s ... 151
As inteligências m últiplas e seu d esenvolvim ento ... 153
Sistem atizando o trabalho multi e in te rd isc ip lin a r... 157
Oficina de elaboração de p r o j e t o s ... 159 Projeto A n c o r a ...161 Projeto L eitura e V i d a ... 164 Lendo o c o n te x to ...168 Diversidade t e x t u a l ...173 Jogo de le tr a s ... 175
O cam pus e a b io sfe ra ... 176
Desenvolvimento sustentável
Valéria Sucena Ham m es
Nos últim os tem pos, a palavra sustentabilidade tem sido muito utilizada em assuntos relacionados à educação am biental, m as não claram ente definida. 0 Relatório B rundtland aponta a conservação am biental como um a premissa do desenvolvimento e vice-versa (Diesel, 1994), como condição à capacidade de o processo se m anter ou prolongar-se no tempo.
De acordo com as Nações Unidas, o conceito de desenvolvimento sustentável é “G arantir as necessidades das gerações atuais, sem comprometimento às gera ções futuras” (Silva, 1996).
Assim, com um ente atribui-se o termo desenvolvimento sustentável a questões relacionadas à salvaguarda das gerações futuras, p ara garantir-lhes a perpetua ção de recursos e condições favoráveis de sobrevivência, segundo m edidas eco logicamente corretas, economicamente viáveis e socialmente justas. Ou seja, o termo sustentável deve ser visto como a capacidade da humanidade continuar existindo. No entanto, a falta de metodologia apresenta-se como um a dificuldade a sua operacionalização, sendo considerada por muitos, um a utopia. E m 1992, d u ran te a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvi
mento H um ano, a EC O -92, representantes de 170 países decidiram fazer um a
Agenda p a ra o século 21, contendo ações p ara garantir um futuro melhor com justiça social, respeitando o ser hum ano e o meio ambiente do planeta.
E ntre u m a das ações, foi proposta a Agenda 21 Local, com a participação d a população, de tal modo que cada com unidade elabore a sua. O Tratado de
Educação Am biental p a ra Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global
enfatiza no artigo 36 da Agenda 21, o papel da educação ambiental como estratégia de formação da sociedade sustentável para efetivação do desenvolvimento sustentável. Ou seja, é preciso preparar a sociedade para a viabilização do processo.
Tam bém Silva (1996) afirm a que a exeqüibilidade do desenvolvimento susten tável depende d a formação de um a sociedade sustentável que proponha estraté gias cognitivas e operativas construídas pelas pessoas que ocupam e exploram o am biente local.
As m últiplas dimensões d a sustentabilidade, além d a ecológica, social e econô m ica, envolvem ainda as questões cultural, tecnológica, política e jurídica. Nesse sentido, em 1998, n a Conferência de Tessalônica, foi apresentado um program a de trabalho sobre a contribuição da Educação Ambiental à Agenda 21, que ressalta a necessidade d a compreensão pública pela reorientação à mudança de hábito de consumo e de produção para estilos sustentáveis de vida (Unesco, 1999).
E m vista desse conceito, a caracterização de sociedade ou desenvolvimento sus tentável se defronta com algumas dificuldades. N a prática, somente o conceito não assegura sua viabilização, ou seja, não garante ao homem sua sobrevivência básica nu m a vida moderna, com a produção de alimentos e os aspectos tecnológicos de bem -estar e lazer, compatibilizada com a necessidade de conservação dos recursos naturais.
O u tra dificuldade é m ensurar as expectativas dos atores sociais envolvidos. Além do mais, o planejam ento das ações ainda baseia-se em modelos econômicos, de atuação globalizada, sem compromisso com o desenvolvimento sustentável, este fundam entado nos parâm etros mais estáveis do ambiente local.
Não h á dúvida de que o conceito é benéfico, seja pelo aspecto preservacionista dos recursos naturais, seja pela longevidade dos sistemas de ocupação e explora ção. Portanto, p a ra d a r um sentido prático ao indivíduo ou organização social, n a caracterização de sustentabilidade é im portante aind a definir a escala de trabalho, ou seja, o espaço ou sistema em foco.
Os projetos de educação ambiental nas escolas podem seguir um program a cuja projeção objetive sua contribuição ao desenvolvimento sustentável de sua locali dade, cum prindo m etas no exercício de cad a período escolar, lem brando que, ao longo do tem po, o educador a d a p ta as estratégias dos projetos à nova realidade, que vai com pondo, em seu conjunto, o program a de educação ambiental, com m ecanism os próprios de monitoram ento. A adesão e o envolvimento de toda a com unidade escolar facilitam o exercício d a interdisciplinaridade.
Além d a com preensão do conceito, é necessário acrescentar premissas relaciona das à garan tia de produção de alimentos, recreação, entretenimento, esporte e lazer, conform e os padrões culturais d a comunidade.
Assim, cria-se a necessidade de considerar nos estudos, a agricultura sustentável, sem d egradar o am biente, e um m ercado justo que possibilite a disponibilidade de alim ento sadio e barato. Áreas verdes e um a diversidade de atividades que cum p ram a função de relaxamento e revigoramento psicofísico, sem, contudo, abrir m ão dos benefícios d a evolução técnica e científica.
Além disso, existe u m a diversidade de uso e formas de ocupação do meio físico. Ao observarm os a com unidade em que vivemos, podemos notar a existência de
cidades, fazendas, favelas, áreas de preservação, rios, indústrias, matas, p lan ta ções, estradas, lixões, etc.
O respeito à função ecológica dos espaços é fundam ental p a ra a perpetuação do hom em no planeta. Assim sendo, é im portante a m anutenção de áreas de recarga dos aqüíferos, de contenção de resíduos, desenvolvimento, conservação e de cir-
Aiilrópi<*a-lnierfcrênciados(*r « z . i
humano. culação antrópica .
E nfim , o desenvolvimento sustentável pressupõe a utilização racional dos recur sos n atu rais e a busca de equilíbrio dos sistemas antrópicos, cuja ordenação territorial exige compromisso de m onitoram ento ao longo do tempo.
O desenvolvimento sustentável deve corresponder aos anseios culturais d a co m unidade, p a ra que o cidadão não seja expropriado de seu direito inalienável a u m a vida am bientalm ente sadia, socialmente ju sta e economicamente estável. No entanto, é com um que o progresso seja motivo de tantas barbáries praticadas contra o meio e contra o homem. Portanto, se torna necessária a internalização d a questão am biental por todos os setores d a sociedade, p a ra que as pessoas sejam m otivadas a ter um a participação ativa no processo de melhoria d a q u a lidade de vida e proteção do meio ambiente. E assim, orientar o cidadão do futuro a estabelecer um a atitude conservacionista pró-ativa diante do meio em que vive.
Nesse sentido, a educação am biental tem a missão de contribuir com a formação da sociedade sustentável, na reorientação e n a capacitação das pessoas p ara a construção de um novo estilo de desenvolvimento local, sem perder sua dim en são biosférica (Silva, 1996).
Referências
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LEIS, H. R. 0 labirinto: ensaios sobre ambientalismo e globalização. São Paulo: Gaia: Blumenau, SC: Fundação Universidade de Blumenau, 1996.
SILVA, D. J . Viva a floresta viva. Florianópolis: Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente - Program a de Educação Ambiental, 1 9 9 6 .9 6 p.
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VIEZZER, M.; OVALLES, 0 . M anual la tin o -a m er ica n o d e ed u ca çã o am biental. São Paulo: Gaia, 1994.
Educação ambiental
Valéria Sucena H am m es
O avanço tecnológico e o aum ento d a produção em escala m undial, do pós- guerra, potencializaram a capacidade de degradação am biental. N a década de 60, surgiram manifestações sobre a finitude dos recursos naturais, e previsões trágicas do colapso am biental ocasionado pelo crescente consumo.
E m 1968, o “Clube de Rom a” concluiu a necessidade urgente de buscar meios de conservação dos recursos naturais e controlar o crescimento populacional, a p artir de u m a m ud ança radical na m entalidade de consumo e procriação (Reigota, 1994).
N a década de 70, os movimentos ambientalistas nascentes e segmentos d a co m u n id a d e científica m undial alertam sobre as conseqüências am bientais do m odelo econômico predom inante.
O reconhecim ento do impacto ambiental originado pelas mais diversas ativida des econômicas ganhou dimensão mundial. E m 1972, em Estocolmo,as O rga nizações das N ações Unidas - ONU - prom overam a Primeira Conferência
sobre o Meio Ambiente, n a qual se atribuiu à educação am biental um papel
estratégico, na superação da crise ambiental, recom endando o treinam ento de professores e o desenvolvimento de novos recursos instrucionais e métodos. Os objetivos e princípios norteadores foram estabelecidos em 1977, n a Primeira
Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, mais conhecida como Conferência de T bilisi, prom ovida pela Unesco e pelo Program a das Nações
U nidas p a ra o Meio Ambiente - Pnum a.
A p a rtir daí, a educação am biental tomou um a nova dimensão, propondo um projeto coletivo de transform ação das realidades global e local, por meio d a ação política epelo fortalecimento d a cidadania.
E m 1987, o conceito de sustentabilidade surgiu no docum ento Nosso Futuro
Com um. Nesse m esm o ano, n a Conferência Internacional sobre Educação e For mação Am biental, em Moscou, os países participantes com prom eteram -se em
incluir a educação am biental nas políticas educacionais. N a ECO 92, foi ap o n ta d a como fundam ental ao processo participativo do desenvolvimento sustentá vel pela form ação de sociedades sustentáveis.
E m 1994, a Unesco lançou u m a iniciativa internacional “educação p a ra o futu ro sustentável”, p a ra promover a reflexão e a ação transdisciplinar (Unesco, 1999). Consolidou-se assim, a necessidade de compreensão pela comunidade, sobre o estilo sustentável de vida alicerçado n a ética, cultura e eqüidade, como im pera tivos m orais, n a mobilização dos diversos setores e m otor d a transform ação e form ação das sociedades.
N um esforço de conciliar desenvolvimento e conservação, atos normativos foram estabelecidos n a Constituição Federal de 1988 e na Constituição de alguns E s tados d a Federação, p ara garantir a todos, o direito ao meio am biente ecologica m ente equilibrado e promover a educação ambiental.
E m 1991, o Ministério da Educação delineou algum as considerações sobre a adequação dos currículos às exigências sociais, com o intuito de preparar os estu dantes para atuarem no meio em que vivem.
E m 1994, foi criado o Program a Nacional de E d ucação Ambiental para d ar apoio político a essas ações (Pronea, 1994). E m 27 de abril de 1999, o Presiden te da República instituiu a Política Nacional de E ducação Ambiental, através d a Lei n° 9.795, estabelecendo as linhas de atuação form al e não-form al, p ara pro mover ações que estimulem a visão crítica e a postura pró -ativ a por todos os setores da sociedade.
U m m arco n a educação formal é o lançam ento dos Parâm etros Curriculares Nacionais do Meio Ambiente, com u m a coletânea de atividades que m ateriali zam a iniciativa de capacitação dos educadores do ensino fundam ental.
De acordo com Argumedo (1981), a educação é u m a p rática social, que se dife rencia da aprendizagem pelo processo de interação do hom em com o contexto. A perda d a precisão d a palavra implica o ocultam ento d a direção política de toda ação educativa como prática social.
Portanto, educar é u m a atividade orientada p a ra m u d ar as circunstâncias a tra vés da transformação dos sujeitos, interferindo nos seus processos de aprendiza gem. Para exercer a educação am biental, segundo os princípios preconizados na Conferência de Tbilisi, é preciso definir que orientação se pretende dar aos p ro cessos de aprendizagem.
N essa concep ção, a a p re n d iz a g e m c o o p e ra tiv a to r n a efetiv a a p ro p o sta socioconstrutivista do processo participativo com envolvimento d a comunidade, e com o propósito de trabalhar a realidade am biental local.
Cabe ressaltar que a escola contribui, m as não é a responsável pela formação da consciência ambientalista e pela m udan ça de hábitos d a sociedade. Influi sim, na transformação das relações sociais entre os seres hum anos e suas relações com o meio.
Nesse contexto, se articulam as leis de caráter ecológico e os processos socioculturais que constituem a base da convivência em que se inserem os processos educativos, p a ra um futuro sustentável.
Ao professor, cabe disponibilizar conhecimentos gerais sobre o meio, no âm bito d a coerência de suas atitudes, tendo em vista a realidade local.
Como tem a transversal, a educação am biental pode ser inserida no contexto de todas as disciplinas e séries do ensino fundam ental e do ensino médio, de tal modo que o equilíbrio dinâmico d a natureza seja fonte de inspiração na busca de alternativas de ação. A paisagem local e o espírito público de bem -estar comum tam bém são utilizados como recursos didáticos, na formação d a cidadania.
No Brasil, confunde-se constantem ente, educação am biental com ecologia, bio logia ou geografia, desvirtuando suas ações ou restringindo-as a atividades de observação d a natureza, como se o estar n u m a trilha fosse suficiente p ara p ro mover a reflexão e a m udança de atitude diante d a relação sociedade/natureza. Sem desmerecer o valor do estar em contato com a n atureza, é preciso m udar essa abordagem remediadora.
Os educadores contribuem para m elhorar o m undo, ao m otivar a participação ativa d a comunidade escolar a a tu a r como agente de transform ação na melhoria d a qualidade de vida e proteção do meio.
A participação do aluno no processo de planejam ento e execução de suas ativida des de aprendizagem proporciona a oportunidade de tom ar decisões e aferir re sultados, colaborando dessa m aneira, p a ra a formação do cidadão do futuro. O exercício d a cidadania reflete-se no processo de destinação dos recursos, que entre outras razões ressalta a educação am biental como um im portante instru m ento de gestão. A participação ativa dos atores sociais interfere em todo o p ro cesso de planejam ento contínuo e dinâmico do uso do espaço.
Dessa form a, a educação ambiental assume relevância operacional no contexto do desenvolvimento sustentável. Vale a pena acrescentar os comentários de Silva (1996) sobre cidadania am biental que envolve a cidadania política, a relação sociedade/natureza, a identidade cultural e seus objetivos pedagógicos.
“ ...a prom oção d a consciência am biental implica no reco nhecim ento d a poluição e degradação dos ecossistemas e de sua relação com o empobrecimento das pessoas e a falta de u m a bo a qualidade de vida d a sociedade.
A cidadania política é o conjunto de direitos e deveres do ci dadão p a ra o exercício d a soberania sobre o território de sua nacionalidade. Soberania é um exercício individual, do m u nicípio, estado e nação. Além do convívio n a família e n a sociedade, é n a escola que se form a o cidadão. Através da alfabetização, do estudo d a história de seu povo e do reco nhecim ento dos territórios nos quais exercerá a soberania. A n a tu re za ocupa lugar de destaque n a identidade de um povo. Isto não im pede m uitos povos de dilapidarem seu patrim ônio natural ao longo de sua história. Desde a coloni zação vimos acabando nossas florestas, extinguindo espécies, poluindo rios e degradando ecossistemas. Assim, aos poucos, nossa identidade se modifica, assumindo elementos de um a cu ltu ra global.
...a educação am biental está com prom etida com a constru ção de u m a identidade cultural sustentada. Suas bases são : u m projeto de liberdade p a ra os povos latino-am ericanos; sua integração afetiva e cultural e um respeito aos limites ecológicos do nosso patrimônio natural, de modo a garantir seu usufruto pelas gerações futuras” .
Dessa form a, o exercício d a cidadania atende aos anseios do desenvolvimento sustentável. Por isso, o projeto de educação am biental n a escola deve fundam en- tar-se, segundo Silva (1996), no conjunto de direitos e deveres do cidadão p a ra o exercício de u m a soberania coletiva sobre os ecossistemas d a biosfera.
Deve estar apto a reconhecer que seu estatuto jurídico é o Direito Difuso e que o principal instrum ento do Ministério Público p a ra defender os interesses sociais é a Ação Civil Pública. A Constituição Federal prevê outros recursos jurídicos, que a população precisa “descobrir”, p a ra auxiliar o Ministério Público nessa tarefa, pois está sobrecarregado.
O processo de conscientização d a sociedade aum enta em todo o mundo. Consti- tui-se n a resolução concreta de abordagem dos problem as ambientais, por meio
de enfoques interdisciplinares e de u m a participação ativa e responsável de cada indivíduo e d a coletividade, como agente fortalecedor de transform ação social. A participação d a comunidade e a form ação de u m a sociedade sustentável auxi lia o estabelecimento de estratégias e o cum prim ento dos m andam entos ecológi cos, de redução do lixo e de resíduos, m elhoria das condições do a r e das águas, a conservação do solo, da flora e d a fauna, das estradas e rodovias, além do uso racional d a energia.
Referências
ARGUMEDO, M. A. Diretrizes curriculares. [S.l.:s.n], 1981. Mimeografado.
CZAPSH, S. A im plantação d a ed u cação am b ien tal n o Brasil. Brasília: Ministério da Educa- ção/Coordenação de Educação Ambiental, 1998.166 p.
DIAS, G. F. E ducação am biental: p rin cíp ios e práticas. São Paulo: Gaia, 1993.
GRÜN, M. Ética e ed ucação am biental: a conexão necessária. Campinas: Papirus, 1996. (Cole ção Magistério: formação e trabalho pedagógico).
LEIS, H. R. 0 labirinto: ensaios sobre ambientalismo e globalização. São Paulo: Gaia: Blumenau, SC: Fundação Universidade de Blumenau, 1996.
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SORRENTINO, M.; TRAJBER, R.; BRAGA, T. Cadernos d o ffl Fórum d e E ducação Ambiental. São Paulo: Gaia, 1995.
TRAJBER, R. e MANZOCHI, L. H. A valiando a ed u ca çã o am b ien tal n o Brasil: materiais impressos. São Paulo: Gaia, 1996
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compartilhada. Unesco.Brasília: Ed. Ibama, 1 9 9 9 .118p.
VIEZZER, M.; OVALLES, 0 . M anual la tin o -a m erica n o d e ed u ca çã o am b ien tal. São Paulo: Gaia, 1994.
Educação ambiental,
ética e cidadania planetária
M aria Luiza d a Silva Deperon
Ao referir-se à educação am biental, deve ficar evidente a m udança de atitudes, valores e ações n a form a de se relacionar com a vida e com a natureza. Pensar o am biental significa introduzir novas formas de percepção de m undo que vão além do conservadorismo. Envolve tam bém um a relação intrínseca com o p la n eta e o sentim ento de se fazer parte de sua história.
Essa relação envolve consciência com um e solidariedade hum ana. Com base nessa tese, Morin (2000) nos diz que:
“A hum anidade deixou de constituir um a noção apenas bio lógica e deve ser, ao mesmo tem po, plenam ente reconhecida em sua inclusão indissociável n a biosfera; a hum anidade deixou de constituir u m a noção sem raízes: está enraizada n u m a “P átria”, a Terra, e a Terra é um a P átria em perigo” .
Essa m u dan ça n a form a de pensar, de sentir, de ser, de viver, inserindo o hom em , não como centro d a existência cósmica, m as como um ser tam bém pertencente a essa unidade complexa, possibilita um a relação integrada e um a percepção cons ciente d a evidente m orte ecológica em que o planeta se encontra, com a expan são desenfreada da racionalidade técnico-científica p a ra com a natureza. Como nos lem bra Boff (2000), devemos construir:
“um novo Ethos que perm ita u m a nova convivência entre os hum anos com os demais seres d a comunidade biótica, plane tária e cósmica; que propicie um novo encantam ento face à m ajestade do universo e à complexidade das relações que sus tentam todos e cada um dos seres” .
Essa nova responsabilidade ética p a ra proteger a vida sobre a Terra requer do hom em dentre outros aspectos:
• Sentim ento de unidade planetária.
• Com preensão e respeito ao outro e à natureza, em suas diversidades. • Solidariedade e trabalho participativo.
• Sensibilidade, afetividade e amor.
• Busca de hum anização em sua consciência pessoal. • Postura não dogm ática e aberta à m udança.
Vive-se um m om ento crítico de abalo ético em todos os setores: no político, no econômico, no religioso e principalmente n a filosofia de vida das pessoas, com prom etendo o convívio hum ano, social e ecológico, proporcionando um exacer bado individualismo e descompromisso com a vida e com o outro, nas relações cotidianas.
Essa decadência ética está vinculada a séculos de hegem onia de u m racionalismo d a cultura ocidental que levou o hom em a considerar apenas a razão como fonte de conhecimento, subjugando a intuição, os sonhos, as aspirações, os desejos. A lógica do racionalismo científico fragm entou o conhecimento, fez com que o hom em perdesse a visão do todo, do hum ano, d a integração “hom em / homem” e “hom em /natureza” .
A racionalidade ocidental gerou ain d a totalitarism os políticos, dependências eco nômicas, guerras, fome, desastres ecológicos e desestruturação do hom em em sua totalidade e valores individuais.
Prado (1999) refere-se à lógica racionalista como a que “nega o sagrado e a subjetividade e, em nome do desenvolvimento e do progresso, saqueia a nature za e m ata a vida”. Ele nos diz ain da de u m novo p arad igm a emergente que “caracteriza-se pela promoção de u m a lógica relacional e auto-organizacional que leva o ser hum ano a redescobrir o lugar que lhe corresponde dentro do con junto harmonioso do universo”.
Cabe, portanto, questionar os cam inhos a se trilh ar p a ra se restabelecer um a sociedade h u m ana a partir de u m a cultura ética e sustentável. Os caminhos são diversos, m as é a educação que nos apon ta o cam inho p a ra assum ir consciente m ente os princípios fundam entais p a ra o despertar d a consciência ecológica. Percebe-se, n a vida cotidiana, u m a carência de um fazer efetivo, de um a luta individual e grupai cidadã que exerça o direito de qualidade de vida, que faça a sua parte no compromisso com a natureza, sentindo-se u m ser ligado a ela e exija dos órgãos públicos, atitudes políticas que assum am sua responsabilidade social na gestão ambiental.
Nesse sentido, a educação — principalm ente a escola form al e a família - podem exercer papéis essenciais n a luta ética e cidadã pela m elhoria de vida no nosso planeta.
Como nos diz Morin (2000),
“A grande esperança p a ra o Século 21 é a C idadania Terres tre, cujos embriões podem ser germ inados através d a ed u ca ção, ao possibilitar a transm issão do antigo e ab rir a m ente p a ra o novo”.
A superação dos problem as am bientais exige u m a percepção global d a natureza em seus aspectos físicos, econômicos, políticos, históricos e o sentim ento de iden tidade com a espécie h um ana e todas outras espécies terrenas. O estudo parcial d a natureza é im portante, gera aprofundam ento, m as se não houver essa interação global e sensibilidade à vida, a crise am biental não se resolve.
A escola é o espaço capaz de conjugar a sistematização do conhecimento científi co dos aspectos físicos d a natureza, com a reflexão dos problem as socioeconômicos e políticos que envolvem o tem a e de sensibilizar os alunos a executarem peque nas ações cotidianas locais que contribuam com o equilíbrio ecológico.
Deve-se pensar global e agir local. Esse agir exige de to da a com unidade escolar, coerência entre o discurso e a ação. Pouco ad ian ta trab alh ar o aluno, se o agir da escola não se fundam enta num a atitude com prom etida e cidadã. Os Parâmetros
Curriculares Nacionais (Brasil, 1998) orientam o professor em relação a essa
“A questão ambiental impõe, às sociedades, a busca de novas form as de pensar e agir individual e coletivamente, de novos caminhos e modelos de produção de bens, para suprir as n e cessidades hum anas e as relações sociais que não perpetuem tantas desigualdades e exclusão social e, ao mesmo tem po, que garantam a sustentabilidade ecológica. Isso implica um novo universo de valores no qual a educação tem um im por tan te papel a desem penhar”.
P ara a escola é reservado um grande desafio de form ar cidadãos éticos e com prom etidos com a qualidade de vida do planeta, por meio de u m a pedagogia que se preocupe em abrir caminhos de vivência e reflexão em seu cotidiano esco lar, que modifique a forma de agir e de pensar individual e coletivamente, for m and o pessoas sensíveis e perspectivas, determ inadas, críticas e transform adoras, conscientes do seu papel para a form ação de um m undo melhor.
Referências
BOFF, L. S aber cuidar: ética do hum ano - compaixão pela terra. Petrópolis: Vozes, 2000. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares
n acion ais: terceiro e quarto ciclos- apresentação dos temas transversais. Brasília, 1998.
G A D O lll, M. Pedagogia da terra. Petrópolis: Vozes, 2000.
MEDINA, N. M.; SANTOS, E. C. Educação am biental: uma metodologia participativa de form a ção. Petrópolis: Vozes, 1999.
MORIN, E. Os sete saberes necessários à ed u cação do futuro. São Paulo: Cortez, 2000.
Meio ambiente e religiosidade
Nicolau João Bakker
0 ensino religioso nas escolas públicas sem pre foi motivo de m u ita polêmica. Uns ardorosamente a favor, outros decididam ente contra. O E stado, não que rendo entrar na briga, sabiam ente deixou a escolha aos pais. O problem a passa a ser então, das escolas. Direção e professores se perguntam :
Ensino religioso de qual cor ou denominação? Quem se habilita?
Quem legitima?
Qual a capacitação mínima?
O que fazer com o aluno que não quer?
A resposta a tudo isso nunca foi satisfatória. Resultado: com raras e abnegadas exceções, tudo fica como está para ver como é que fica.
Nos últimos anos, com m uita rapidez, a questão com eça a ser repensada de um a forma totalm ente nova. Não se trata de u m a proposta carim b ada pela Igreja. N a verdade, ela escap a inteiram ente a q u a lq u e r te n ta tiv a de en q u a d ra m e n to denominacional. Tam bém não é um a nova teoria educacional ou coisa parecida. Muito mais do que isso, trata-se de um a nova m aneira de “estar no m undo”, um novo olhar sobre a realidade em geral, u m novo m odo de conceber as coisas, enfim, um novo paradigm a ou um a nova cosmovisão.
O adeus ao paradigma antropocêntrico
Essa “inversão do olhar” aconteceu muito raram ente n a história d a vida hu m a na. E quando ela aconteceu sempre significou um salto de qualidade em termos de vida. Algo como o cam po que, surpreendentem ente, explode em incontáveis cores, quando o inverno chega ao fim.
Nunca devemos perder de vista que nosso m odo de pensar e nosso modo de agir têm profundas raízes n a civilização grega. O sacerdote e poeta Orfeu e, mais adiante, Pitágoras, Heráclito e especialmente Platão rom peram com a visão mítica tradicional e introduziram a cosmovisão antropocêntrica (do grego antropos = ser hum ano), onde a prioridade cabia ao ser hum ano e não m ais aos deuses do passado.
Antes, a realidade toda era sagrada e ninguém se atrevia a rom per os véus dos seus mistérios. Agora, im agina-se o ser hum ano com u m a alm a superior, imortal, separada do corpo, considerado mortal e inferior. A racionalidade h um ana é tida como um reflexo d a divindade e, sendo assim, ela tem como missão desvendar todos os segredos d a natureza.
Essa filosofia grega é m arcada por um a pro fun d a visão dualista onde tudo é antagônico. Existe um abismo entre o divino e o hum ano, o profano e o sagrado, o espírito e o corpo, o sociopolítico e o religioso, e assim por diante. D urante toda
a Idade Média, a Igreja irá aprofundar essa visão antropocêntrica grega, mes- clando-a com os princípios cristãos. Ressalta-se a racionalidade hum ana, m as sob rigoroso controle d a Igreja.
A consagração definitiva dessa visão vem com o surgimento das ciências m oder nas a p a rtir do Século 16. Só que não mais sob a tutela d a Igreja. A idolatria d a razão h u m an a com eça por rejeitar fortemente o papel castrador d a Igreja. Galileu Galilei preferirá ser rejeitado a abandonar sua visão científica. Toda a natureza e todo o cosmos, afirm a ele, obedecem às leis d a M atemática. Toda a realidade é quantificável e pode ser expressa num a determ inada fórmula. Para conhecer a realidade, arg u m en tará Francis Bacon, não precisa perguntar ao Papa. Basta usar o m étodo adequado, o empírico-indutivo.
N a base d a ciência, está o experimento. Experim entar repetidas vezes, observar e concluir. Melhor ainda, observará René Descartes, é o m étodo analítico-dedu tivo. Nesse m étodo, o todo é a soma das partes. Qualquer componente d a n a tu reza, querendo conhecê-lo n a sua totalidade, é só retalhá-lo em partes e analisá- las racionalm ente u m a a um a. Juntando as peças, o quebra-cabeças está soluci onado.
De fato, observará Isaac Newton, logo em seguida. Usando métodos científicos descobriremos que as leis d a natureza são leis universais. O cosmos inteiro funci ona como u m grande relógio de peças entrelaçadas. Sistematizando toda a ciên cia de sua época, Newton deixará n a som bra o papel dos deuses. Ele mesmo será um novo deus, e suas estátuas serão inauguradas com incontida emoção em todas as universidades européias.
Com base n a sua “m ecânica” é desencadeado um imenso processo tecnológico. O progresso será ilimitado, dirá Augusto Comte. A m odernidade fincou pé, defi nitivam ente. O céu é o limite.
É essa a cosm ovisão que está in trojetad a p rofun dam ente em todos nós. O p arad ig m a que nos prende como um a camisa de força. É essa a cultura que nos envolve e d a qual não conseguimos fugir. Pensamos, querendo ou não, de acordo com seu m odelo e falamos sua linguagem sem ao m enos percebê-lo. U m a cosmovisão antropocêntrica, dualista, racional, m achista, dom inadora, feita de m uitas certezas e poucas dúvidas.
Especialm ente a Educação foi profundam ente influenciada por esse paradigm a d a m odernidade e hoje vemos claram ente que ela está em crise. Percebemos esse fato não apenas n a busca de adaptações institucionais como a nova Lei de Dire trizes e Bases p a ra o ensino, os Parâm etros Curriculares Nacionais, a ênfase aos Temas Transversais, m as principalmente n a profunda angústia e insatisfação de pais, professores e alunos com relação aos resultados educacionais obtidos. H á u m a certa perplexidade em todos nós. E m especial o crescimento assustador do uso d a droga e d a violência, antes banidas p a ra fora dos muros da escola e hoje presentes dentro dela, nos faz perguntar: o que está acontecendo com a sociedade? A educação fracassou?
De fato, a Educação se adaptou mais ao figurino d a sociedade que temos do que ao figurino d a sociedade que queremos. Especialmente a partir da primeira R e volução Industrial, ela foi guiada pelo mito d a racionalidade. U m a racionalidade que ressaltou o individual em detrim ento do social, que endeusou a tecnologia e
esqueceu o ser hum ano, que sobrevalorizou o m aterial e m enosprezou o cultural, o psicossocial e o religioso.
N a mais perfeita tradição cartesiana, dividimos a educação em gavetas isoladas. Falamos de árvores, e não deixamos ver a floresta. Ensinam os a fórm ula química d a água, e não a sensação prazerosa do banho. E m uita razão e pouca emoção. A força do paradigm a vigente fez com que nossas escolas preparassem os jovens p a ra o mercado, e não p a ra a vida. P ara a sobrevivência, e não p a ra a convivên cia. Para conquistas quantitativas, e não qualitativas.
Essa cosmovisão antropocêntrica já não convence mais. O vidro já trincou e não serve mais de espelho. Nosso Titanic está fazendo águ a por todos os lados. O que parecia seguro, já não é mais. O adeus ao p aradig m a é inevitável.
O novo paradigma ecocêntrico
Hoje, felizmente, os avanços nas mais diversas áreas científicas nos levam a um a nova visão da realidade. Não u m a visão esfacelada, fragm entada, m as um a vi são sistêmica ou se quisermos, holística. D a m esm a form a como as ciências dos séculos 16 a 18 cim entaram a cosmovisão d a c h am ad a Idade M oderna, assim tam bém as ciências do nosso tem po - particularm ente a Física M oderna, a Bio quím ica e a Neurofisiologia - estão colocando hoje os alicerces de u m a concep ção totalm ente nova do m undo e d a natureza, do ser hum ano e d a vida. Essa nova concepção se tom a, aos poucos, idéia com um nas faculdades; ela passa p a ra nossas escolas e, finalmente, vem fazer eco nas m entes e nos corações das pessoas.
O espaço limitado dessa nossa colocação não nos perm ite um aprofundam ento maior, m as podemos vislum brar o novo cenário por meio de algum as pinceladas. Diziam os físicos clássicos que, em últim a instância, to d a a realidade se reduzia a átom os impenetráveis, inertes e m ortos. M atéria, apenas m atéria. Nossa fire- qüente despreocupação com a qualidade de vida, a valorização excessiva do progresso tecnológico e a exploração ilim itada do meio am biente têm m uito a ver com esse jeito um tanto quanto m aterialista de olhar a realidade.
Hoje, os físicos modernos concebem o m undo de form a totalm ente diferente. Descobriram que, em nível subatôm ico, as leis d a m atéria são m uito diferentes das leis que Newton dizia serem universais. C ad a p artícu la elem entar não é apenas m atéria, m as tam bém onda, ao mesm o tem po. Com o partícula tem p re sença em determ inado ponto do espaço; como o nda está presente em todo lugar ao mesmo tempo. Um m undo tão estranho que não podem os captá-lo n a nossa imaginação, nem temos linguagem adequada para expressá-lo. Sabemos que em cada átomo estão presentes os germes d a própria vida, e até do conhecimento. N a área d a Bioquímica, as descobertas foram igualm ente surpreendentes. A mais significativa delas é a de que na vida, tal qual no átom o, não existe n ad a de forma isolada. E m cada célula viva encontram os, além do DNA, de form a perfei tam ente integrada, meio milhão de diferentes centros de produção de enzimas e proteínas, produzindo mais ou menos, conforme a necessidade, de acordo com o meio am biente que a sustenta, num a perfeita auto-regulação que é a
caracterís-tica essencial d a vida. Células e órgãos, integrados, formam o corpo. Este, por sua vez, p a ra sobreviver e ter qualidade de vida, necessita de inúmeras ligações com seu meio am biente físico, social e cultural.
Os neurofisiologistas de hoje afirm am que não existe u m a consciência hu m ana individual sep arad a das outras consciências. Nossa consciência é individual e social ao m esm o tem po. Todas as fases de evolução d a vida ainda podem ser detectadas n a estru tura do nosso cérebro, onde bilhões de neurônios têm m em branas, e essas possuem dois pólos, que podem vibrar.
Nos m om entos de m aior consciência, áreas crescentes do nosso cérebro vibram de form a uníssona, como as cordas de um instrum ento musical. Com o m eu Eu
consciente — que em ite u m a opinião ou tom a u m a decisão —vibram todas as
m inhas heranças física e sociocultural. Pobre Descartes, que queria estudar a realidade dividindo-a em partes. Por onde olharmos p a ra a vida, sempre encon trarem os u m a rede, u m a rede de incontáveis nós e ligações. Redes dentro de outras redes. E a “teia d a vida” . Isolando u m a parte, ela im ediatamente morre. Esse é o p aradig m a ecológico (do grego oikos-logos, a lógica da nossa casa, do nosso h abitat) que está se im pondo cada vez mais em todos os setores da vida hum ana. Muito m ais do que racionais, somos seres ecológicos. Aliás, se fôssemos tão racionais não estaríamos nessa encrenca toda. N a m edida em que este novo parad ig m a ecocêntrico perpassar os conteúdos programáticos das nossas escolas, disso tem os certeza, o deserto vai florir.
Religiosidade ao alcance de todos
Religiosidade deve deixar de ser assunto de especialistas e voltar a ser a expressão n atural do ser hum ano. O ensino ecológico - o mais fundam ental dos tem as transversais — fatalm ente leva a isso. U m a boa educação ecológica tem a rara capacidade de transform ar o ser hum ano em profundidade. Não apenas tran s m ite conhecimentos m as tam bém ensina valores e atitudes, integrando todas as dimensões do ser hum ano. Recoloca o ser hum ano no seu devido lugar: dentro d a n atu reza e não acim a dela.
Se a educação antropocêntrica fez com que o ser hum ano se parecesse com um pote trincado, infeliz consigo mesmo, alienado do seu contexto social e rompido com o próprio criador, a educação ecocêntrica possui a capacidade mágica de desfazer os trincos, devolvendo ao ser hum ano sua auto-estim a e o sentido d a vida. N em precisa voltar ao ensino religioso nos moldes tradicionais. Não vemos como fazer isso n u m a sociedade pluralista como a nossa. Precisamos de um e n sino que respeita o que é comum a todas as religiões.
C erta vez, Jesus resum iu sua mensagem nas seguintes palavras: “Eu vim p a ra que todos ten ham Vida, e Vida em abundância” (Jo 10,10). Não um a abun d ân cia consum ista, evidentem ente, m as u m a abundância n a qualidade de vida. O contexto d a vida de Jesus deixa isso m uito claro. Ora, todas as religiões do m u n do têm essa m esm a mensagem central! A essência d a religiosidade é preservar a vida. A vida em todas as suas formas: física, social e cultural.
P re se rv a r a biodiversidade do P lan eta, m ais do que um simples conteúdo program ático, é u m a postura ecológica m arcada por um a profunda religiosida
de. Defender relações sociais justas e sociedades eco-sustentáveis — para esta e as futuras gerações — não é apenas fazer ecologia social. E possibilitar vida em abundância p a ra todos. É religiosidade. Respeitar culturas diferentes e idéias diferentes é outra atitude profundam ente religiosa.
P a ra p re s e rv a r a v id a, a p lu ric u ltu ra lid a d e é tã o im p o r ta n te q u a n to a biodiversidade. C ada povo e cada ser hum ano traz sua contribuição em defesa da vida. Negro, branco ou am eríndio, somos todos respostas diversificadas aos desafios do meio ambiente. Q uanto m aior o intercâm bio, melhor.
O paradigm a ecocêntrico é o paradigm a d a integralidade ou d a inteireza. Ele põe fim à disputa entre as religiões e traz o que é essencial: a religiosidade.