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CAMINHOS PARA PROMOVER A INTERAÇÃO SOCIAL DE CRIANÇAS PORTADORAS DE NEOPLASIA: A VIVÊNCIA DO FAMILIAR

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Academic year: 2021

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CAMINHOS PARA PROMOVER A INTERAÇÃO SOCIAL DE CRIANÇAS

PORTADORAS DE NEOPLASIA: A VIVÊNCIA DO FAMILIAR

Giovana Marineli Silva1, Joyce Fernanda Soares Albino Ghezzi2,Maria José Sanches Marin3 e Fernanda Paula Cerantola Siqueira4

1Enfermeira da Faculdade de Medicina de Marília, Brasil. gimarineli@hotmail.com; 2Enfermeira, doutoranda na Faculdade de Medicina de Botucatu, Brasil. jo.albino1988@gmail.com;

3Enfermeira, docente na Faculdade de Medicina de Marília, Brasil. marnadia@terra.com.br; 4Enfermeira, docente na Faculdade de Medicina de Marília, Brasil. fercerantola@yahoo.com.br.

Resumo. Objetivo: Apreender quais são as estratégias de interação social de crianças portadoras de neoplasias sob a ótica do familiar. Método: Realizou-se uma pesquisa de abordagem qualitativa, guiada pelo referencial metodológico da análise de conteúdo na modalidade temática. Os dados foram coletados por entrevista semiestruturada e a amostra se deu por saturação. Com um total de 11 familiares. Resultados: a análise das entrevistas resultou em três categorias analíticas: Os sentimentos despertados frente ao diagnóstico de câncer; o convívio social das crianças após o início do tratamento e o incentivo e estratégias dos familiares para a interação social das crianças durante esse processo. Conclusão: Denotou-se nesta pesquisa, que os familiares apoiam e incentivam a interação social das mesmas. Entretanto, em determinadas situações há muitas dificuldades para que esta socialização possa de fato acontecer, principalmente durante o tratamento da neoplasia.

Palavras-chave: Crianças. Cuidadores. Socialização. Neoplasias.

PATHWAYS TO PROMOTE THE SOCIAL INTERACTION OF CHILDREN WITH NEOPLASMS: FAMILY LIVING Abstract. Objective: To understand the strategies of social interaction of children with neoplasias from the perspective of the family member. Method: A qualitative research was carried out, guided by the methodological framework of content analysis in the thematic modality. The data were collected by semi-structured interview and the sample was by saturation. With a total of 11 relatives. Results: the analysis of the interviews resulted in three analytical categories: The feelings aroused in the diagnosis of cancer; the social life of the children after the beginning of the treatment and the encouragement and strategies of the relatives for the social interaction of the children during this process. Conclusion: It was denoted in this research that the family members support and encourage their social interaction. However, in certain situations there are many difficulties for this socialization to actually happen, especially during the treatment of neoplasia

Keywords: Child. Caregivers. Socialization. Neoplasms.

1 Introdução

No Brasil, o câncer já representa a primeira causa de morte (8% do total) por doença entre crianças. O Instituto Nacional de Câncer (INCA), estimou para o ano de 2018, cerca de 12.500 novos casos de câncer em crianças e adolescentes (Brasil, 2018a). As regiões Sudeste e Nordeste contam com os maiores números de casos, 6.050 e 2.750, respectivamente, seguidas pelas regiões Sul (1.320), Centro-Oeste (1.270) e Norte (1.210) (Brasil, 2018a).

A neoplasia é definida como um crescimento anormal de um tecido ou uma célula que apresenta efeitos agressivos ao hospedeiro (Stricker & Kumar 2016). Segundo o INCA, os tumores que mais afetam as crianças são: Leucemias, Tumor do Sistema Nervoso Central, Linfomas, Neuroblastoma, Tumor de Wilms, Retinoblastoma, Tumor Germinativo, Osteossarcomas e Sarcomas (Brasil, 2018a).

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Esse fenômeno patológico além de ter um tratamento que causa incertezas, provoca sofrimento e angústias tanto nas crianças quanto em seus respectivos familiares. Quando uma criança passa a ser diagnosticada com neoplasia, seus cuidadores passam por sentimentos de angústias, culpa, estresse e principalmente o medo da morte (Alves et al., 2016).

Ao receber o diagnóstico da neoplasia, sabe-se que a criança passará por mudanças físicas, psicológicas, sociais e religiosas, além de abalar toda a estrutura familiar. São os familiares e cuidadores dessa criança que passam todos esses sentimentos a eles, pois, muitas vezes as crianças não têm o discernimento e compreensão do processo patológico. Essa compreensão passar a acontecer, quando algumas mudanças deixam de ser imperceptíveis, como por exemplo, a queda de cabelos por efeito colateral do tratamento quimioterápico (Cardoso, 2007).

A criança desde o início de sua vida está em constante e profunda transformação. Inicialmente, suas respostas são dominadas por processos naturais e é através dos adultos que os processos psicológicos mais complexos tomam forma. Nessa trajetória, a aprendizagem da criança inicia-se muito antes de sua entrada na escola, isto porque, ela já está exposta desde o primeiro dia de vida aos elementos do seu sistema cultural, e a presença do outro se torna indispensável para a mediação entre ela e a cultura (Dias, Correia & Marcelino, 2013).

Nesse contexto, o processo escolar vai proporcionar à criança o contato com a diversidade através da interação com as outras crianças e da aprendizagem de novos conhecimentos que as preparam para se relacionar com o mundo real. A evolução cognitiva leva à percepção da existência de outras pessoas e à colocação de si próprio como um indivíduo entre os demais. Assim, o objetivo do desenvolvimento é a socialização do pensamento, sendo a interação com outras pessoas de importância fundamental na construção do conhecimento e constituindo-se numa de suas forças motivadoras (Hooper, 1969). A socialização é definida como uma ampla e consistente introdução de um indivíduo no mundo objetivo de uma sociedade ou de um setor dela. Ela pode ser classificada em socialização primária e secundária. A primária é aquela que o indivíduo experimenta na infância e pela qual se torna membro de uma sociedade, a secundária consiste em qualquer processo subsequente que introduz o indivíduo já socializado em novos setores da sociedade (Pizzignacco & Lima, 2006). Logo, a família é quem faz a primeira inserção da criança no mundo social à medida que lhe oferece o aprendizado de elementos culturais como linguagem, hábitos, usos, costumes, valores, normas, padrões comportamentais e de atitudes e, principalmente, promove a formação das estruturas básicas da personalidade e da identidade (Gomes, 1992).

Nessa conjuntura, tendo em vista a suma importância que a socialização exerce na vida da criança, este estudo se estruturou a partir do questionamento sobre quais são as estratégias que os familiares de crianças portadoras de neoplasias adotam para promover a interação social desta. Este estudo justifica-se não só pela complexidade do cuidado, mas também pela escassez literária acerca do tema, e tem como objetivo: apreender estratégias de interação social de crianças portadoras de neoplasias sob a ótica do familiar.

2 Metodologia

Este estudo visou apreender estratégias de interação social de crianças portadoras de Neoplasias sob a ótica do familiar, portanto, a metodologia qualitativa se mostrou mais apta para responder a pergunta de pesquisa. Este tipo de pesquisa procura analisar e interpretar aspectos mais profundos, descrevendo a complexidade do comportamento humano (Campos, 2004). Nas abordagens qualitativas, o cientista é ao mesmo tempo o sujeito e o objeto de suas pesquisas, o seu desenvolvimento é imprevisível, uma vez que o conhecimento do pesquisador é parcial e limitado. O

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objetivo da amostra é de produzir informações aprofundadas e ilustrativas, seja ela pequena ou grande, o que importa é que ela seja capaz de produzir novas informações (Deslauriers, 1991). A pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. Aplicada inicialmente em estudos de Antropologia e Sociologia, como contraponto à pesquisa quantitativa dominante, tem alargado seu campo de atuação a áreas como a Psicologia, Educação, Saúde e Geografia Humana (Minayo, 2016). O presento estudo foi desenvolvido em um Ambulatório de Oncohematopediatria, localizado em uma cidade do interior paulista, e contou com a participação de 11 familiares que acompanhavam as crianças em seu tratamento. Os familiares foram convidados a participar da pesquisa por livre e espontânea vontade e, para preservar seu anonimato, estão representados na pesquisa por nome de flores. Os critérios de inclusão adotados foram ser familiares, independente do sexo, ter mais de 18 anos de idade e ser o responsável legal pela criança. O critério de exclusão foi ser acompanhante da criança que não fosse o representante legal.

A coleta de dados se deu por entrevistas semiestruturadas realizadas pela pesquisadora principal com treinamento na técnica de entrevista não diretiva. As entrevistas foram audiogravadas e conduzidas em janeiro de 2018, em uma sala reservada em anexo ao ambulatório, estando presente apenas a entrevistadora e o entrevistado, assegurarando a privacidade e o anonimato das participantes. Cada entrevista durou em média de dez a quinze minutos, e foram guiadas por uma questão norteadora: conte-me como foi sua experência ao receber a notícia da doença. Em seguida, foram transcritas na íntegra e apagadas do gravador, omitindo quaisquer informações que possam identificar o entrevistado. Não houveram recusas quanto às participações dos familiares na presente pesquisa e nem precisão de repetir quaisquer entrevista.

A amostra da pesquisa foi intencional definida por meio da saturação dos dados, e estes foram interpretados por todas as pesquisadoras por meio da técnica de análise de conteúdo, entendida como um conjunto de estratégias utilizadas na análise de dados qualitativos (Campos, 2004).

Na análise de conteúdo, a modalidade temática visa adotar normas sistemáticas de extrair significados temáticos por meios de elementos mais simples do texto (Bardin, 2012).

A análise de conteúdo na modalidade temática é estruturada por três etapas: pré-análise, codificação do material e interpretação:

Na pré-análise, o contato direto e intenso do material se dá pela leitura flutuante e, consequentemente, a constituição do corpus e a reformulação de hipóteses e objetivos, completam as tarefas na fase pré-analítica, tendo como parâmetro a leitura exaustiva do material. Na segunda etapa, o objetivo é alcançar o núcleo de compreensão do texto, através de temas, que consistem num processo de redução do texto em expressões significativas. A terceira consiste na interpretação dos resultados, colocando em relevo as informações obtidas. A análise termina quando não há mais documentos para analisar, quando a exploração de novas fontes leva a redundância de informação ou a um acréscimo muito pequeno e quando há um sentido de integração na informação já obtida, é um bom sinal para concluir o estudo (Bardin, 2012).

A presente pesquisa teve início após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, com o número de parecer 2.378.758. Todos os participantes que aceitaram participar da pesquisa receberam as informações pertinentes à mesma, tais como objetivo da pesquisa, envolvimento e interesse do pesquisador em relação ao tema pesquisado, por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, respeitando os critérios da resolução Nº510/2016 (Brasil, 2016).

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3 Resultados

Um total de 11 participantes compartilharam suas experiências de cuidados com crianças portadoras de neoplasias. Entre elas, dez são mães e uma avó materna, a qual sempre acompanhava a criança no tratamento. A totalidade das participantes são do sexo feminino, com uma média de idade de 38 anos entres os familiares, a maioria se declarou como casadas. No que se refere à escolaridade das participantes, quase 40% da amostra concluíram o ensino fundamental. Um pouco mais da metade delas afirmaram que tiveram que interromper suas atividades profissionais devido ao tratamento das crianças. As crianças em tratamento contavam em média com sete anos de idade.

Mediante as entrevistas coletadas com os familiares de crianças portadoras de neoplasias, obtiveram-se três categorias, das quais emergiram obtiveram-seus núcleos de obtiveram-sentido, conforme o quadro a obtiveram-seguir.

Quadro 1 – Apresentação das categorias e núcleos de sentido CATEGORIAS ANALÍTICAS NÚCLEOS DE SENTIDO

Os sentimentos despertados frente ao diagnóstico de câncer.

O choque perante o diagnóstico da doença Medo da morte

Amor e proteção Culpabilidade

O convívio social das crianças após o início do tratamento.

A escola na interação da criança com câncer A família na interação da criança com câncer

O incentivo e estratégias dos familiares para a interação social das crianças durante o tratamento.

A interação da criança com os amigos da mesma idade A igreja na promoção da interação da criança com câncer Atividades lúdicas no domicílio

Fonte: Autores, 2019

Os sentimentos aflorados pelo diagnóstico

Os relatos dos familiares indicam o impacto frente ao diagnóstico de câncer do filho, que inclui desespero, dor, impotência e medo da perda da criança, sendo que conhecimentos anteriores com condições semelhantes contribuiram para a correlação da doença com a morte.

‘ ’ F o i d i f í c i l . . . N o c o m e ç o e u p e n s e i q u e i a m or r e r . Fo i u m d e s e s p e r o q u e e u n e m q u i s a c o m p a n h a r e l a n o c o m e ç o. E u p e n s a va q u e e l a p od i a f a l e c e r a q u a l q u e r m o m e n t o . P or q u e t od o m u n d o q u e e u c on h e c i q u e t e v e e s s a d oe n ç a , m or r e u . ’ ’ ( C r a v o ) ‘ ’ N o c o m e ç o f oi t e r r í v e l . P a r e c e q u e o c h ã o s e a b r i u e v oc ê n ã o t i n h a m a i s p a r a on d e i r . F oi m u i t o d o l or os o. P or q u e a g e n t e n ã o e n t e n d i a d i r e i t o a d oe n ç a , c o m o i a s e r o p r oc e d i m e n t o d os r e m é d i o s . E n t ã o f o i b e m d i f í c i l . ” ( J a s m i n ) ‘ ’ E u t i v e m e d o d a m or t e , p or q u e e l e f i c ou q u a s e u m m ê s n a U T I , e l e q u a s e m o r r e u , e n t ã o t i ve o s e n t i m e n t o d e p e r d a t a m b é m ’ ’ ( V i o l e t a ) .

As participantes revelam em suas falas que diante da necessidade de enfrentamento do tratamento da criança mobilizam forças para cuidar dela com muito amor e proteção. Tais sentimentos são tão intensos que a mãe se ‘’anula’’ para cuidar do filho.

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1788 ‘ ’ A g e n t e c o m e ç a a m os t r a r m a i s a m or , d a r m a i s c a r i n h o a i n d a m a i s a p r o xi m i d a d e q u e a g e n t e f i c a d u r a n t e o t r a t a m e n t o. O s e n t i m e n t o d o a m o r f o i o q u e m a i s d e s p e r t ou e m n ó s ’ ’ ( O r q u í d e a ) . “ O c a r i n h o d e m ã e j á a u m e n t ou m a i s a i n d a . S e e u j á a m a v a , p a s s e i a m u l t i p l i c a r e s s e a m or . O s c u i d a d os f or a m s ó p a r a e l a . A í e u l a r g u e i d e m i m , d e t u d o q u e e u g o s t a v a e p a s s e i a f a z e r t u d o p or e l a . O m e d o d a p e r d a e u t i ve b a s t a n t e ’ ’ ( C r a v o) .

O sentimento de culpa materno é aflorado nas falas dos familiares, o que as levam a se questionarem como cuidavam do filho.

‘ ’ E u m e c u l p a v a . T u d o q u e e s t a v a a c on t e c e n d o c o m m e u f i l h o e r a c u l p a m i n h a , e n t ã o e u m e c u l p a v a . E u p r o c u r a v a o q u e e u f i z , e o q u e e u d e i xe i d e f a z e r . E u m e c u l p a v a b a s t a n t e . N o i n í c i o e r a o s e n t i m e n t o d e c u l p a ’ ’ ( J a s m i n ) .

O convívio social das crianças após o início do tratamento.

Os familiares relatam que o início do tratamento do filho requer que ele seja afastado do meio social e escolar. A escola representou uma estratégia para o desenvolvimento social do filho, sendo notório que quando a criança retorna às suas atividades escolares interagindo adequadamente com as demais crianças. “ E n t ã o e l e f i c ou a f a s t a d o d a e s c o l a p or u m b o m t e m p o [ . . . ] a g or a , e m 2 0 1 8 , d e p oi s d o c a r n a va l q u e c om e ç ou a s a u l a s a í e l e c o m e ç ou a t e r c on t a t o c o m a s c r i a n ç a s . F oi m u i t o i m p or t a n t e p a r a e l e ” ( R o s a ) . ‘ ’ E l a s e e n v o l v e b e m . E l a t e m u m a b oa c on vi vê n c i a a s s i m c om ou t r a s p e s s oa s . E l a f a l a , e l a m o s t r a . P or q u e e l a a i n d a n ã o r e t i r ou o P or t h oc a t a i n d a . E n t ã o e l a f a l a q u e a i n d a t e m e s s e P or t h o c a t , q u e e r a o a m i g u i n h o d e l a d o p e i t o d u r a n t e o t r a t a m e n t o . E l a f r e q u e n t a a e s c ol a . E l a i n t e r a g e m u i t o b e m n a e s c o l a ( G i r a s s o l ) ’ ’ .

A família também foi pontuada como ferramenta importante na promoção desta interação social. Diante das falas dos familiares, os irmãos e parentes são algo primordial para que essas crianças se envolvam adequadamente.

‘’ E l a s e e n v ol v e b e m e m c a s a c o m o s i r m ã o s d e l a . P or q u e e u t e n h o s e i s f i l h os . A i q u a n d o s a i d e c a s a s e e n v o l ve c o m a f a m í l i a . E l a s e c o m u n i c a b e m , e n v o l v e b e m ’ ’ ( C r a v o ) .

Estratégias dos familiares para a interação social das crianças

Ao questionar sobre o incentivo e estratégias dos familiares para a interação social das crianças durante o tratamento, os familiares indicaram que a interação social da criança pode acontecer, por meio de atividades lúdicas, até o envolvimento dentro da igreja. Os familiares colocaram também que os amigos da mesma idade podem ser agentes promotores desta interação, como vemos abaixo:

“ Q u a n d o p od e e u s e m p r e t e n t o l e va r u m a m i g u i n h o e m c a s a , ou l e v a r e l e e m a l g u m l u g a r q u e s e j a m a i s t r a n q u i l o. E u a p o i o p or q u e é d i f í c i l p a r a e l e f i c a r s oz i n h o. P a r a a c r i a n ç a é d i f í c i l f i c a r a s s i m e x c l u í d o ( O r q u í d e a ) ’ ’ .

A religião, além de fornecer um suporte espiritual para a família, também pode contribuir para a interação destas crianças acometidas pela doença.

“ A g e n t e l e v a e l e n a i g r e j a p or q u e l á t e m ou t r a s c r i a n ç a s , t e m a s c r i a n ç a s d a e s c ol a , a m i g o s d a v i z i n h a n ç a . S e m p r e e n v ol v e n d o e l e n a e s c ol a , n a i g r e j a , c o m a f a m í l i a , n o s h op p i n g , m a s s e m p r e e s t a m o s e n v ol v e n d o e l e q u a n d o p od e ( R os a ) ’ ’ .

As atividades lúdicas desenvolvidas em casa também foram mencionadas pelos familiares, como uma alternativa para desenvolver o social da criança.

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1789 “ É m a i s b r i n c a d e i r a e m c a s a . U s o j og o s c o m o d a m e m ór i a , q u e b r a c a b e ç a q u e e l e g o s t a b a s t a n t e . O n t e m m e s m o a g e n t e f e z c a b a n i n h a l á n a s a l a d e c a s a . M a s b r i n c a d e i r a s d e n t r o d e c a s a ( O r q u í d e a ) ’ ’ . “ E l a g o s t a d e p i n t a r d e s e n h os , b r i n c a r c om a s b on e c a s d e l a , a s s i s t i r d e s e n h os n a t e l e v i s ã o, j og a r j og o s n o c e l u l a r . N ã o p od e f i c a r s a i n d o , t e m q u e f i c a r d e n t r o d e c a s a . E n t ã o n o m o m e n t o é i s s o a í q u e e u e s t ou p od e n d o of e r e c e r p a r a e l a ( T u l i p a ) ’ ’ .

4 Discussão

Nas entrevistas, percebe-se que a partir do diagnóstico da doença inicia-se um processo de conflitos emocionais da criança e da família. Os sentimentos expressos pelos familiares. Estes variaram entre choque, medo da morte, amor, proteção até culpabilidade (Carvalho et al., 2014, Gomes & Souza, 2012). Acrescenta-se que doença evidência sentimentos como desespero, revolta e angústia durante todo o tratamento. (Carvalho et al., 2014).

Mesmo compartilhando do mesmo sofrimento, ao receberem o diagnóstico da doença, os familiares da criança se manifestam de forma divergentes entre si. A literatura apregoa que, geralmente a mãe se faz muito mais presente no processo de tratamento da criança, abdicando-se de seus afazeres pessoais e profissionais, já o pai acompanha de forma menos presente, pois ficam com as obrigações do lar (Barbeiro, 2013, Carvalho et al., 2014). A presente pesquisa confirma o que foi apontado nos estudos acima, pois o sexo feminino foi prevalecente entre os familiares, o que reafirma que as mães são quem assumem as obrigações em estar presente no tratamento de seus filhos, passando por uma carga maior de estresse durante o processo da doença. Ainda neste contexto, uma revisão integrativa da literatura também afiança sobre essa diversidade de papéis entre os pais, ocorrendo situações em que o casal fica mais unido ou acabam se divorciando diante do enfrentamento da doença (Bernardes & Pegoraro, 2015).

As entrevistadas também referiram sobre a morte e o medo de perda diante da doença. Mesmo a morte sendo um processo natural da vida, esta se caracteriza como um fenômeno amedrontador, principalmente no que se refere a crianças, pois geralmente ocorre de forma abrupta e precoce. O medo da morte é o primeiro sentimento que surge diante da notícia da doença. Ninguém está disposto a perder um ente querido, e isso se agrava quando é uma criança, afinal, pela lei da natureza, os pais morrem primeiro que os filhos e essa doença possibilita uma grande probabilidade do contrário (Carvalho et al., 2014). Referindo-se à infância, a morte é considerada em nossa sociedade como algo desumano, pois criança é motivo de felicidade, progresso e um futuro pela frente. O sentimento de probabilidade de morte da criança também leva a um excesso de cuidado e uma superproteção que delonga a vida, o que nem sempre é benéfico para a criança. (Carvalho et al., 2014).

Neste contexto, o sentimento de culpa foi denotado na fala dos familiares. As mesmas compreendem a doença como uma punição divina. A falta de uma explicação para a doença do filho ocasiona para suas famílias o sentimento de culpa, destarte, inúmeras famílias acham-se culpadas por sentirem-se responsáveis pela grave doença da criança (Amador et al., 2013 & Frizzo et al., 2015).

Mesmo frente a esse misto de sentimentos, entre morte e culpabilidade, as participantes deste estudo afiançaram sobre a positividade em promover o convívio social da criança. Dentre diversas possibilidades, os familiares apontaram a escola e a interação familiar como convívios sociais importantes para a criança.

Independente de portar doença neoplásica, a criança necessita da sociedade para desenvolver suas habilidades pessoais. O fato de ela ocupar um espaço dentro da comunidade faz com que ela se sinta útil mesmo sendo portadora dessa patologia (Gomes et al., 2013).

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No que tange o papel da escola na promoção da socialização, um estudo aponta que existem crianças que conseguem permanecer na escola durante o tratamento quimioterápico, já outras precisam se afastar devido as constantes hospitalizações e altas taxas tóxicas dos quimioterápicos, mas voltar a frequentar a escola é sempre a vontade da criança (Gomes et al., 2013).

A família também representa um papel importante no processo da interação social destas crianças. Alguns familiares aludiram que um caminho para promover a interação social da criança é o contato desta com os irmãos. Em contraponto, estudo aponta que irmãos de crianças portadoras de neoplasia sentem-se deixados de lado por seus pais durante o tratamento, sendo necessária a intervenção de parentes que cuidam desses irmãos durante esse processo. Com isso, os irmãos destas crianças são trazidos como alguém que sofre com as influências emocionais vividas na família. Mesmo assim, estas crianças demonstram preocupação para com seus irmãos, questionando sobre as quantas anda o tratamento destes (Bernardes & Pegoraro, 2015).

Nesta pesquisa, os familiares trouxeram como estratégias para a interação social, brincadeiras com amigos da mesma idade. Como exemplo, relataram que apoiam que suas crianças brinquem com seus amigos desde que o médico libere devido à grande restrição das brincadeiras no período de tratamento. Um estudo realizado na cidade do Rio de Janeiro trouxe como resultados, as possibilidades e impossibilidades de interação social das crianças com câncer em tratamento ambulatorial no espaço da comunidade. Entre sete meninas que foram entrevistadas, quatro delas interagem em brincadeiras com familiares, uma delas com amigos e duas com familiares e amigos. Com isso, as crianças denotam maior proveito pelas brincadeiras em grupo (Silva et al., 2010).

Sustentado pela teoria de Vigostky, um estudo pactua também sobre a suma importância de brincadeiras para um bom desenvolvimento infantil. Brincadeiras são consideravelmente necessárias para aspectos físicos, emocionais, cognitivos e sociais além de favorecer à uma melhor aceitação do tratamento e dos procedimentos invasivos e dolorosos, beneficiando a continuidade do desenvolvimento infantil (Silva & Cabral, 2015). A teoria Vigotskiana traz que em todas as idades é evidente a importância do brinquedo. Um dos pontos centrais dessa teoria é que as funções psicológicas superiores são de origem sociocultural e emergem de processos psicológicos elementares, de origem biológica. Assim, a interação social da criança em diversos espaços sociais, tais como o familiar e o escolar, é fundamental para o desenvolvimento das funções psicológicas mais elaboradas (Vygotsky, 2017).

Nesta pesquisa, os familiares mencionaram usar da tecnologia como uma aliada ao processo de brinquedoterapia de suas crianças durante o respectivo tratamento, como exemplo, o uso de jogos animados de celular, vídeo game ou tablet. A literatura corrobora os benefícios da tecnologia como os jogos de vídeo game, computador e celular, os quais podem e devem ser apropriado de acordo com sua capacidade física e mental (Silva & Cabral, 2015).

No ambulatório, onde a presente pesquisa foi realizada, existe uma brinquedoteca, a qual as crianças podem usufruir para realizar brincadeiras. O responsável por estas brincadeiras é um grupo de “contadores de histórias” formado por pessoas que, voluntariamente, se dispõem a realizar esta atividade. Profissionais de equipes multidisciplinares também fortalecem este movimento, contribuindo para com as brincadeiras das crianças.

Ademais ao papel da escola e atividades lúdicas ou virtuais com amigos da mesma idade, a religiosidade e espiritualidade também foram apontadas por alguns participantes desta pesquisa como uma importante ferramenta auxiliar durante todo o processo da doença, promovendo a interação social. Em um trabalho realizado no estado do Ceará, o apoio religioso e espiritual aparece fortemente nos resultados como auxílio para o enfrentamento do diagnóstico do câncer em crianças. O estudo reforça ainda, a importância de os profissionais de saúde respeitar essa posição familiar (Alves et al., 2016). Nesta pesquisa, alguns familiares veem a igreja como uma estratégia para promover a

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socialização das crianças, pois durante as missas ou cultos, as crianças podem interagir como outras crianças que lá estão presentes.

A partir da comprovação do diagnóstico e durante o tratamento, os familiares defrontam com a duplicidade: a cura ou a morte da criança. É através dessa situação que vem a perspectiva do familiar, mesmo tendo esperança na efetividade do tratamento, mostra-se pavorosa com a viabilidade de morte da criança. Assim sendo, o estudo coloca ainda que a crença em Deus, ou seja, a fé é vista como um apoio às cuidadoras destas crianças, colocando sempre a esperança como ajuda diante da doença (Alves et al., 2016).

5 Conclusão

A realização desta pesquisa possibilitou conhecer os sentimentos despertados em famílias que vivenciam crianças em tratamento neoplásico. Ademais, permitiu também, apreender as estratégias que essas famílias adotam para promover a socialização de crianças acometidas por essa patologia, respondendo o objetivo da pesquisa.

Denotou-se que as entrevistadas desta pesquisa apoiam e incentivam a interação social de crianças. Entretanto, em determinadas situações há muitas dificuldades para que esta socialização seja profícua, principalmente durante o tratamento da neoplasia que muitas vezes pela baixa na imunidade impede que a criança seja exposta a contato com outras. Por isso, conhecer e apreender sobre as estratégias adotadas por um grupo representativo de pessoas que partilham de situações similares, pode nos fornecer subsídios, enquanto profissionais da saúde, para que nossas orientações tenham embasamentos devidamente sustentados na literatura. Para a enfermagem este estudo implica em competências, habilidades e segurança para auxiliar crianças que vivenciarão o mesmo fenômeno estudado.

Esta pesquisa limita-se a um total de 11 familiares de apenas um cenário, portanto, sugere-se a realização de novos estudos sobre o assunto, uma vez a está havendo um crescente número de crianças que são acometidas pelo câncer, sendo necessário apontar para medidas que visem melhorar a qualidade de vida e assegurar um desenvolvimento saudável.

Referências

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