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Universidade Federal do Pará Núcleo de Meio Ambiente Programa de Pós-Graduação em Gestão de Recursos Naturais e Desenvolvimento Local na Amazônia Ana Luiza Violato Espada

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Universidade Federal do Pará

Núcleo de Meio Ambiente

Programa de Pós-Graduação em Gestão de Recursos Naturais e

Desenvolvimento Local na Amazônia

Ana Luiza Violato Espada

Parceria enquanto dimensão da governança ambiental para

o manejo florestal comunitário na Amazônia:

O caso da Floresta Nacional do Tapajós

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Ana Luiza Violato Espada

Parceria enquanto dimensão da governança ambiental para

o manejo florestal comunitário na Amazônia:

O caso da Floresta Nacional do Tapajós

Dissertação apresentada para obtenção do título de mestre em gestão dos recursos naturais e desenvolvimento local na Amazônia, Núcleo de Meio Ambiente, Universidade Federal do Pará.

Área de concentração: Gestão ambiental Orientador: Dr. Mário Vasconcellos Sobrinho Coorientador: Dr. Gilberto de Miranda Rocha

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Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) –

Violato Espada, Ana Luiza.

Parceria enquanto dimensão da governança ambiental para o manejo florestal comunitário na Amazônia: o caso da Floresta Nacional do Tapajós / Ana Luiza Violato Espada. - 2015

151 f.; 30 cm

Orientador: Prof. Dr. Mario Vasconcellos Sobrinho. Coorientador: Gilberto de Miranda Rocha

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Pará, Núcleo de Meio Ambiente, Programa de Pós-graduação em Gestão dos Recursos Naturais e Desenvolvimento Local na Amazônia, Belém, 2015.

1. Manejo florestal. 2. Parceria público-privada. 3. Desenvolvimento sustentável. I. Vasconcellos Sobrinho, Mario, orient. II. Rocha. Gilberto de

Miranda, oth. III. Título.

CDD: 23. ed. 634.92098115

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Ana Luiza Violato Espada

Parceria enquanto dimensão da governança ambiental para

o manejo florestal comunitário na Amazônia:

O caso da Floresta Nacional do Tapajós

Dissertação apresentada para obtenção do título de mestre em gestão dos recursos naturais e desenvolvimento local na Amazônia, Núcleo de Meio Ambiente, Universidade Federal do Pará.

Área de concentração: Gestão ambiental Orientador: Dr. Mário Vasconcellos Sobrinho Coorientador: Dr. Gilberto de Miranda Rocha

Aprovado: 25/09/2015.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________ Prof. Dr. Mário Vasconcellos Sobrinho

Universidade Federal do Pará

_____________________________________ Prof. Dr. André Luís de Assunção Farias Universidade Federal do Pará

_____________________________________ Prof. Dr. Armindo dos Santos de Sousa Teodósio Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente gostaria de expressar minha gratidão por todas as oportunidades que surgiram em minha vida e, em especial, após minha vinda para a Amazônia, sendo uma delas a realização do mestrado profissional.

Agradeço com todo meu amor aos meus pais, Marlene e Roberto, que sempre se dedicaram em proporcionar a mim e às minhas irmãs oportunidades para os estudos e acesso à cultura. Em especial, agradeço à minha mãe, que sempre me motivou a crescer profissionalmente e a estar na Amazônia, em suas palavras

“salvando a floresta”. Com amor, também agradeço às minhas irmãs, Marina e Lívia,

e a todos os meus familiares que acompanham minha trajetória profissional.

Agradeço ao meu companheiro, Igor Vianna, que foi compreensivo e sempre me estimulou a continuar a estudar e a me dedicar ao mestrado e ao meu trabalho. Obrigada pelo chocolate nos momentos mais difíceis!

Às minhas amigas que cresceram comigo, Luciana e Thalita, que sempre vibram quando tenho algum sucesso profissional. Aos meus amigos da Escola

Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” ˗ ESALQ, em especial a Mariana Vedoveto, por me apresentar Belém da melhor maneira possível, e à Roberta Amaral, que se dedicou a ler meu trabalho e a passar suas impressões. Agradeço também aos amigos do mestrado, que foram fundamentais para me motivar e seguir em frente.

Obrigada ao Núcleo de Meio Ambiente (NUMA) e ao Programa de Pós-Graduação em Gestão dos Recursos Naturais e Desenvolvimento Local na Amazônia (PPGEDAM) por terem acreditado na minha proposta de pesquisa.

Agradeço ao meu orientador, Prof. Dr. Mário Vasconcellos Sobrinho, que acreditou em mim e na minha vontade de aprimorar cada vez mais meu trabalho, que apostou e me desafiou, permitindo que eu adquirisse mais gosto pela pesquisa científica. Obrigada pelo tempo de dedicação durante as orientações e estímulo para publicações em eventos e revistas científicos.

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do PPGEDAM, que compartilharam suas experiências e permitiram que eu ampliasse meus conhecimentos sobre a Amazônia.

Agradecimento especial a duas pessoas da Universidade Federal do Pará (UFPA) que me ajudaram em diversos momentos para a normatização deste trabalho: Profa. Dra. Marise Condurú e Elisângela Costa.

Ao meu novo amigo, Cleberson Santos, que me ajudou com a compreensão da análise de redes sociais e uso de programas para análise estatística e geração de sociogramas.

Agradeço aos analistas ambientais do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Dárlison Andrade e Fábio Menezes, que possibilitaram minha participação na reunião do conselho consultivo da Floresta Nacional do Tapajós e disponibilizaram diversos arquivos para o estudo.

Aos colegas do Instituto Floresta Tropical (IFT), que compreenderam minha ausência em alguns momentos desses dois últimos anos, e ao próprio IFT, por possibilitar minha ida a Santarém e a Brasília, além de permitir o desenvolvimento do mestrado profissional.

Por fim, mas não menos importante, obrigada a todos os entrevistados pela confiança e disponibilidade em colaborar com a pesquisa, em especial, aos amigos da Cooperativa Mista da Flona do Tapajós (Coomflona), com os quais aprendi muito nesses últimos anos.

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A Viagem

Eu vim de longe pra encontrar o meu caminho, Tinha um sorriso e o sorriso ainda valia. Achei difícil a viagem até aqui, Mas eu cheguei, mas eu cheguei. Eu vim depressa, eu não vim de caminhão. Eu vim a jato neste asfalto e neste chão. Achei difícil a viagem até aqui, Mas eu cheguei, mas eu cheguei. Eu vim por causa daquilo que não se vê. Vim nu, descalço, sem dinheiro e o pior, Achei difícil a viagem até aqui, Mas eu cheguei, mas eu cheguei. Eu tive ajuda de quem você não acredita. Tive a esperança de chegar até aqui. Vim caminhando, aqui estou, me decidi: Eu vou ficar, eu vou ficar.

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RESUMO

Nesta dissertação analisou-se a contribuição da parceria no manejo florestal comunitário para a gestão de recursos naturais e desenvolvimento local em florestas públicas da Amazônia brasileira. Os objetivos específicos foram compreender os mecanismos de funcionamento das parcerias e como elas influenciam na implementação do manejo florestal comunitário em florestas públicas; compreender se existem relações desiguais de poder nas parcerias e se os parceiros lançam mão de mecanismos para compensar tal desequilíbrio; e analisar os benefícios que as parcerias aportam na implementação e consolidação do manejo florestal comunitário, propondo recomendações para a busca do desenvolvimento local pautado na gestão dos recursos naturais. Os conceitos teóricos que fundamentam o estudo são da governança ambiental, parceria e desenvolvimento local por envolverem diferentes atores atuando de forma sinérgica para a promoção da melhoria da qualidade de vida, bem-estar social e uso sustentável dos recursos naturais. A metodologia foi baseada em um estudo de caso único de uma cooperativa comunitária que executa manejo florestal na Floresta Nacional do Tapajós, região oeste do Pará. Os resultados revelam que o manejo florestal comunitário nesta floresta pública foi implementado e aprimorado a partir de uma rede de parceiros envolvendo governo, sociedade civil organizada, empresa, universidade e comunidades locais. Mostram, ainda, que existem relações desiguais de poder nas relações entre os parceiros e inexiste uma estratégia para as parcerias, enfraquecendo o capital social estabelecido. Mesmo assim, as parcerias contribuem para a formatação da gestão coletiva dos recursos florestais, a qual se mostra eficiente e qualificada, ao permitir a geração de trabalho, renda e aperfeiçoamento técnico e profissionalizante dos moradores da floresta. O modelo de gestão do manejo florestal comunitário na Floresta Nacional do Tapajós é referência nacional e internacional, sendo fruto da atuação de diversos parceiros institucionais, políticos e técnicos e que promovem, cada um com sua expertise, as bases para o desenvolvimento local do oeste do Pará, Amazônia.

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ABSTRACT

The dissertation deals with the contribution of partnership in the context of environmental governance in community forestry for the management of natural resources and local development in public forests of the Brazilian Amazon. The specific objectives were to understand the mechanisms of partnerships and how they influence the implementation of community forest management in public forests; to understand whether there are uneven power relations in partnerships and what partners do to compensate this imbalance of power and; to analyze the benefits of partnerships on implementation and consolidation of community forest management, proposing recommendations for the pursuit of local development based on the management of natural resources. The theoretical concepts underlying the study are environmental governance, partnerships and local development as these three concepts involve different stakeholders acting synergistically to promote improved quality of life, social wellbeing and sustainable use of natural resources. The methodology focused on a case study of a community-based cooperative that runs forest management in the Tapajós National Forest, West of Pará State. The research results reveal that the community-based forest management was implemented and enhanced by a partnership among different actors, involving government, civil society, enterprise, university and local communities. The results also show uneven power relationships among partners and lack of strategy for partnerships, which weakens the social capital previously established. Yet partnerships contribute to the collective management of forest resources, which is efficient and qualified because it contributes to job generation, income increase, and technical and vocational training of forest dwellers. The community-based forest management model in the Tapajos National Forest is regarded as a national and international reference being the result of the performance of different institutional, political and technical partners. Each partner through its unique expertise providing support for the local development in the West of Pará, Amazônia.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 – Estimativa de área potencial para o uso florestal na

Amazônia Legal. 28

Mapa 1 – Localização geográfica da Floresta Nacional do

Tapajós. 32

Fotografia 1 – Trecho asfaltado da rodovia BR-163 que dá acesso à

Floresta Nacional do Tapajós. 34

Quadro 2 – Estrutura organizacional da Cooperativa Mista da

Flona do Tapajós. 37

Mapa 2 Mapa de zoneamento ambiental da Floresta Nacional

do Tapajós. 39

Quadro 3 – Levantamento de iniciativas de manejo florestal licenciadas para produção madeireira em andamento nas Unidades de Conservação de Uso Sustentável federais da Amazônia.

42

Esquema 1 – Diagrama de aplicação dos critérios de escolha do

estudo de caso. 43

Quadro 4 Protocolo de observação participante. 46

Quadro 5 – Relação de entrevistas por organização representada, local da entrevista e número de representantes por organização.

48

Quadro 6 – Relação de organizações parceiras da Cooperativa Mista da Flona do Tapajós mapeadas nas entrevistas e breve descrição sobre as mesmas.

50

Quadro 7 – Exemplo da matriz quadrada para análise do grau de cooperação entre cooperativa e organizações

parceiras.

52

Quadro 8 – Área manejada (em hectares), produção de madeira em tora (em metros cúbicos) e demonstrativo dos resultados dos exercícios fiscais, no período de 2005 a 2013, do manejo florestal realizado pela

Cooperativa Mista da Flona do Tapajós.

67

Gráfico 1 – Análise de rede social das relações de proximidade entre as parcerias firmadas para o manejo florestal comunitário na Floresta Nacional do Tapajós.

70

Esquema 2 – Linha do tempo das relações de parcerias conforme perspectiva dos cooperados da Cooperativa Mista da Flona do Tapajós entrevistados no levantamento de dados primários do estudo.

(12)

Gráfico 2 – Distribuição da tipologia de parcerias identificadas na pesquisa de campo, segundo perspectiva dos

cooperados (traço em azul) e analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da

Biodiversidade (traço em vermelho).

76

Esquema 3 Relações de influência na tomada de decisão, assistência técnica e institucional e controle da produção madeireira em função do organograma da Cooperativa Mista da Flona do Tapajós.

94

Gráfico 3 – Percentual de florestas públicas destinadas e não destinadas inseridas no Cadastro Nacional de Florestas Públicas até o ano de 2014.

104

Quadro 9 – Área de florestas públicas destinadas em

agrupamento por tipo de uso da floresta, inseridas no Cadastro Nacional de Florestas Públicas até o ano de 2014.

105

Quadro 10 – Distribuição dos benefícios financeiros do manejo florestal, conforme normas estatutárias, aprovadas em assembleia geral da Cooperativa Mista da Flona do Tapajós.

108

Fotografia 2 – Exemplos de produtos florestais beneficiados por moradores da Floresta Nacional do Tapajós e

Comercializados pela Cooperativa Mista da Flona do Tapajós.

110

Gráfico 4 – Incremento do desmatamento anual na Floresta Nacional do Tapajós para o período analisado de 2000 a 2013.

112

Gráfico 5 – Incremento do desmatamento anual nas Florestas Nacionais do Distrito Florestal Sustentável da BR-163 para o período analisado de 2000 a 2013.

114

Mapa 3 – Contextualização do território onde situa-se a

Floresta Nacional do Tapajós. 115

Gráfico 6 – Análise do grau de cooperação entre organizações que atuam em parceria para o manejo florestal comunitário da Floresta Nacional do Tapajós, sob a perspectiva de representantes da Diretoria da Cooperativa Mista da Flona do Tapajós.

117

Gráfico 7 – Análise do grau de cooperação entre organizações que atuam em parceria para o manejo florestal comunitário da Floresta Nacional do Tapajós, sob a perspectiva de um analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.

118

Esquema 4 Recomendações para a ação de criação e

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LISTA DE SIGLAS

CCDRU Contrato de Concessão de Direito Real de Uso CEPAL Comissão Econômica para América Latina e Caribe

CIRAD Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento

CNFP Cadastro Nacional de Florestas Públicas Coomflona Cooperativa Mista da Flona do Tapajós CTC Conselho Técnico Consultivo

EMATER Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária FEP Floresta em Pé

FLOAGRI Floresta e Agricultura na Amazônia Flona Floresta Nacional

FSC Forest Stewardship Council

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

ICMBio Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade IBEF Instituto de Biodiversidade e Florestas

IEB Instituto Internacional de Educação do Brasil IFT Instituto Floresta Tropical

IMAFLORA Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola INAM Instituto Natureza Amazônica

INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária INPA Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia

INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais IPAM Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada ITTO International Tropical Timber Organization

LBA Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia MFC Manejo Florestal Comunitário

MFS Manejo Florestal Sustentável

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MMA Ministério do Meio Ambiente NUMA Núcleo de Meio Ambiente

OCB Organização das Cooperativas Brasileiras ONG Organização Não Governamental

ONU Organização das Nações Unidas

OSCIP Organização da Sociedade Civil de Interesse Público PIB Produto Interno Bruto

PIN Plano de Integração Nacional

PMFS Plano de Manejo Florestal Sustentável

PPGEDAM Programa de Pós-Graduação em Gestão dos Recursos Naturais e Desenvolvimento Local na Amazônia

PRODEPEF Projeto de Desenvolvimento e Pesquisa Florestal

PRODES Projeto de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite ProManejo Projeto de Apoio ao Manejo Florestal Sustentável na Amazônia

PSA Projeto Saúde e Alegria

RDS Reserva de Desenvolvimento Sustentável Resex Reserva Extrativista

SFB Serviço Florestal Brasileiro

SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente

SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação STTR Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

Tapajoara Organização das Associações da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns

TCC Trabalho de Conclusão de Curso TI Terra Indígena

UC Unidade de Conservação UCs Unidades de Conservação UFPA Universidade Federal do Pará

UFOPA Universidade Federal do Oeste do Pará

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ... 17

INTRODUÇÃO ... 20

1 CONTEXTUALIZANDO O DEBATE SOBRE MANEJO FLORESTAL PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL ... 24

2 A FLONA DO TAPAJÓS ENQUANTO OBJETO DE ESTUDO: CONTEXTUALIZAÇÃO DO TERRITÓRIO E HISTÓRIA DE IMPLEMENTAÇÃO DO MANEJO FLORESTAL COMUNITÁRIO ... 31

2.1CONTEXTO TERRITORIAL ... 31

2.2HISTÓRICO DE IMPLANTAÇÃO DO MANEJO FLORESTAL COMUNITÁRIO ... 34

3 ARCABOUÇO METODOLÓGICO: MÉTODO, TÉCNICAS E LIMITAÇÕES PARA COMPREENDER A PARCERIA PARA O MANEJO FLORESTAL COMUNITÁRIO ... 40

3.1MÉTODO DE INVESTIGAÇÃO ... 40

3.2SELEÇÃO DE CASO PARA ESTUDO ... 41

3.3TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS ... 44

3.3.1 Análise documental ... 44

3.3.2 Observação participante ... 45

3.3.3 Entrevista semiestruturada ... 46

3.3.3.1 Análise de redes sociais ... 49

3.3.3.2 Grau de cooperação ... 49

3.4LIMITAÇÕES DA METODOLOGIA ... 52

4 GOVERNANÇA AMBIENTAL E PARCERIA PARA O MANEJO DE FLORESTAS COMUNITÁRIAS ... 55

4.1INTRODUÇÃO ... 55

4.2GOVERNANÇA AMBIENTAL PARA ALAVANCAR O MANEJO FLORESTAL COMUNITÁRIO ... 57

4.3PARCERIA ENQUANTO DIMENSÃO DA GOVERNANÇA AMBIENTAL ... 63

(16)

4.5 CONCLUSÕES PRELIMINARES: A PARCERIA ENQUANTO DIMENSÃO DA GOVERNANÇA AMBIENTAL PARA O ESTABELECIMENTO DO MANEJO DE FLORESTAS COMUNITÁRIAS NA

AMAZÔNIA ... 77

5 A COOPERAÇÃO MÚTUA E EQUILÍBRIO DE PODER NAS RELAÇÕES DE PARCERIA ... 79

5.1INTRODUÇÃO ... 79

5.2GESTÃO DE RECURSOS NATURAIS PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL ... 81

5.3A PARCERIA PARA A GESTÃO COMPARTILHADA DE FLORESTAS PÚBLICAS ... 86

5.4RELAÇÕES DE PODER NAS PARCERIAS ... 90

5.5COMO ALCANÇAR EQUILÍBRIO EM RELAÇÕES DE PODER DESIGUAL NAS PARCERIAS? . 92 5.6 CONCLUSÕES PRELIMINARES: A COOPERAÇÃO MÚTUA PARA O EQUILÍBRIO DO PODER ... 99

6 PARCERIAS PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL ... 102

6.1INTRODUÇÃO ... 102

6.2PARCERIAS PARA O MANEJO FLORESTAL COMUNITÁRIO: POR QUE TÊ-LAS? ... 103

6.3 A COOPERAÇÃO NAS PARCERIAS PARA O MANEJO FLORESTAL COMUNITÁRIO NA FLORESTA NACIONAL DO TAPAJÓS ... 116

6.4 CONCLUSÕES PRELIMINARES: PARCERIAS PARA A CONSERVAÇÃO AMBIENTAL E GERAÇÃO DE TRABALHO E RENDA ... 120

7. CONCLUSÕES: PARCERIAS PARA A PROMOÇÃO DO MANEJO FLORESTAL COMUNITÁRIO NA AMAZÔNIA ... 123

8. RECOMENDAÇÕES PARA A CONSTRUÇÃO E MANUTENÇÃO DE PARCERIAS NO MANEJO FLORESTAL COMUNITÁRIO... 128

REFERÊNCIAS ... 132

APÊNDICE A PROTOCOLO DE OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE ... 144

APÊNDICE B PROTOCOLO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA ... 146

(17)

APRESENTAÇÃO

Não é comum fazer apresentação em uma dissertação de mestrado e justifico isto para esclarecer, primeiro, o formato de apresentação deste trabalho, no qual busquei aportar inovação ao Programa de Pós-Graduação em Gestão dos Recursos Naturais e Desenvolvimento Local na Amazônia (PPGEDAM) do Núcleo de Meio Ambiente (NUMA) da Universidade Federal do Pará (UFPA) e, segundo, para situar minha experiência profissional e minha relação com o objeto de pesquisa.

Apresento a dissertação em capítulos introdutórios sobre o objeto de estudo e o arcabouço metodológico e em formato de artigos científicos, ao invés de adotar capítulos específicos para a discussão teórica, apresentação de dados, análises, discussão e conclusões. Mesmo assim, atendo às regras gerais que definem uma dissertação de mestrado, sendo aquelas que contemplam um estudo científico retrospectivo, com tema único, delimitado no espaço e no tempo e com objetivos claros para reunir, analisar e interpretar as informações.

A escolha pelo formato se deu conforme amadurecimento do projeto de pesquisa e por influência do meu orientador, que propôs o desafio, tão breve aceito por mim, pois desafios fazem parte de minha trajetória acadêmica e profissional. Um deles foi encarar a mudança de minha cidade de origem, Campinas, para estudar engenharia florestal na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, em Piracicaba, ambas cidades paulistas. Outro desafio foi migrar para o estado do Pará para trabalhar com manejo florestal e pela causa do desenvolvimento comunitário.

Meu primeiro trabalho na Amazônia foi uma pesquisa realizada no âmbito de dois projetos Floresta e Agricultura na Amazônia (FLOAGRI) e Floresta em Pé (FEP) –, envolvendo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), o Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (CIRAD) e outras organizações.

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Nesta ocasião incluí a Floresta Nacional (Flona) do Tapajós em minha pesquisa, iniciando a minha relação com a Flona e com a cooperativa que realiza a gestão e execução do manejo florestal comunitário nesta Unidade de Conservação (UC).

Durante a pesquisa, ainda como estudante e estagiária da EMBRAPA e do CIRAD, entrevistei alguns cooperados e moradores da Flona do Tapajós, conheci a então gestora desta floresta pública e analistas ambientais do IBAMA, Serviço Florestal Brasileiro (SFB) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), com as quais mantenho contato até hoje.

Em seguida, entre abril e junho de 2009, quando estava finalizando o TCC, participei do processo de seleção do Instituto Floresta Tropical (IFT) e iniciei minha jornada nesta organização não governamental (ONG), onde trabalho desde então. O IFT é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) com foco em questões florestais e tem por missão disseminar e promover boas práticas de manejo florestal na Amazônia por meio de capacitações, treinamentos e assistência técnica e extensão florestal.

No IFT encarei com outros colegas o desafio de estabelecer um programa para atender as demandas por capacitação, treinamento e assistência técnica de comunidades e populações tradicionais da Amazônia. Para isto, tive grande vivência em diferentes situações, com diversas organizações e em diferentes lugares. Visitei, realizei palestras, treinamentos e cursos sobre manejo florestal em assentamentos rurais, territórios quilombolas e UCs. Além disso, participei e coordenei projetos relacionados ao setor florestal amazônico, quando tive maior contato com a indústria madeireira da região.

Os desafios sempre foram diários, constantes e motivadores. Sem muito conhecimento teórico sobre as dimensões amazônicas – Amazônia dos rios, das estradas, das regiões e das políticas –, fui descobrindo empiricamente a diversidade cultural e social das pessoas que vivem na região e que se relacionam com a floresta tropical.

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Contudo, em certo momento, senti falta de um aprofundamento teórico sobre algumas questões, especificamente aquelas relacionadas à gestão de florestas públicas comunitárias, como as Reservas Extrativistas (Resex). Propus-me, então, a um novo desafio, o mestrado em gestão dos recursos naturais e desenvolvimento local na Amazônia, ofertado pelo Núcleo de Meio Ambiente (NUMA) da Universidade Federal do Pará (NUMA/UFPA).

Hoje, ao finalizar o estudo e contemplar o trabalho realizado, fico satisfeita por ter assumido o desafio e seguido com ele até o fim. O que desenvolvi neste estudo relaciona-se com o debate sobre o papel da parceria enquanto dimensão da governança ambiental para consolidar o manejo florestal como prática de uso econômico de florestas públicas amazônicas. Sinto-me realizada porque, ao longo do processo de amadurecimento teórico, busquei aplicar o novo conhecimento no meu dia-a-dia profissional e já visualizo resultados.

(20)

INTRODUÇÃO

As pressões pelo uso e apropriação dos recursos naturais derivadas dos processos de adoção hegemônica de um sistema político e econômico baseado no usufruto de curto e médio prazo da natureza têm causado ameaças ao modo de vida das populações que vivem em ecossistemas florestais provocando, como consequência, grande degradação florestal e desmatamento.

Uma das respostas aos problemas relacionados ao uso dos recursos naturais e manutenção e/ou melhoria da qualidade de vida da população local foi a criação de áreas protegidas, como as Unidades de Conservação (UCs). Nestas áreas protegidas, quando a permanência de população é permita, tem-se o manejo de florestas nativas entre as possibilidades de geração de renda e desenvolvimento local.

Na Amazônia brasileira, o manejo florestal é permitido por lei e pode ser realizado por comunidades que vivem em UCs. Entretanto, o manejo florestal comunitário ainda enfrenta uma série de adversidades para se consolidar como uma atividade econômica sustentável, como a falta de regularização fundiária; o baixo investimento em iniciativas econômicas comunitárias; a falta de infraestrutura básica para moradias e escoamento da produção; a dificuldade de acesso à educação de qualidade no meio rural; o baixo atendimento na área de saúde; o pouco acesso à assistência técnica agrícola e florestal de qualidade, entre outros.

Todavia, as dificuldades enfrentadas para a consolidação do manejo florestal comunitário têm sido mitigadas a partir de ações locais que buscam na superação dos conflitos as soluções para a conservação ambiental e desenvolvimento local. Acredita-se na potencialização de ações coletivas e cooperação entre os atores para ampliação das possibilidades de desenvolvimento pautado na conservação dos recursos naturais e melhoria da qualidade de vida da população.

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nesses ambientes democráticos. Surgem, então, outras formas de qualificar o processo de construção de ações coletivas para o desenvolvimento local, dentre esses a governança ambiental. Preliminarmente, conceitua-se governança ambiental como um arcabouço de regras e comportamentos que são exercidos para as relações entre os diversos atores da sociedade - incluindo comunidade local, governo e mercado -, com o sistema ecológico.

No âmbito da governança ambiental, a constituição de parcerias entre diferentes atores sociais tem sido utilizada para fortalecer a ação local para a gestão compartilhada de florestas públicas amazônicas, possibilitando, assim, a promoção do manejo florestal comunitário para a conservação ambiental e desenvolvimento local. Inicialmente entende-se parceria como a relação entre dois ou mais atores que unem esforços e recursos em prol de um objetivo comum. Assim, emerge o seguinte questionamento: em que medida a parceria enquanto uma dimensão da governança ambiental tem sido efetiva para o manejo florestal comunitário?

Para que se possa entender o questionamento central acima exposto deve-se passar necessariamente por quatro subjacentes questões: (1) Em quais circunstâncias foram criadas as parcerias para o manejo florestal comunitário? (2) Quais são os mecanismos de funcionamento das parcerias e como estes influenciam na implementação do manejo florestal comunitário? (3) a parceria enquanto dimensão da governança ambiental promove equilíbrio de poder para o manejo florestal comunitário? (4) Quais são os benefícios que a parceria aporta na implementação e consolidação do manejo florestal comunitário?

Sob as perspectivas apostas, o objetivo deste trabalho é compreender em que medida a parceria enquanto dimensão da governança ambiental é efetiva para a implementação do manejo florestal comunitário e o desenvolvimento local em florestas públicas da Amazônia brasileira.

Os objetivos específicos relacionam-se à compreensão da dinâmica das parcerias firmadas para o manejo florestal comunitário; identificação de relações desiguais de poder nas parcerias; e à análise dos benefícios que as parcerias aportam na implementação e consolidação do manejo florestal comunitário. Ao fim, objetiva-se recomendar estratégias de parcerias para o fomento ao manejo florestal comunitário em florestas públicas brasileiras.

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primeiro capítulo trata do tema central do estudo, o manejo florestal comunitário na Amazônia brasileira; o segundo capítulo apresenta o objeto de estudo, a Floresta Nacional do Tapajós, contextualizando o território onde esta floresta pública está situada, bem como elementos da história de sua criação e da cooperativa responsável pelo manejo florestal comunitário; o terceiro capítulo introdutório aborda a metodologia utilizada para dar suporte à discussão teórica e empírica do estudo.

O estudo é considerado uma pesquisa analítico-descritiva, tendo como método de investigação o estudo de caso único e o uso de três procedimentos técnicos para coletas de dados primários e secundários: a pesquisa documental, a observação participante e a entrevista semiestrutura. A partir desta última, foram realizadas análises de rede social para compreender a estrutura e dinâmica da rede de parceiros estabelecida na Flona do Tapajós a partir da análise de centralidade, intermediação e proximidade entre os atores (ou nós).

Com a metodologia apresentada, bem como seus limitantes discutidos, finalizam-se os capítulos introdutórios da dissertação e iniciam-se os capítulos em formato de artigos científicos.

Os três capítulos em formato de artigos científicos possuem uma introdução, o aporte teórico para subsidiar a discussão, os resultados obtidos a partir da análise de um estudo de caso único e as conclusões preliminares. Alguns elementos são comuns nos três capítulos/artigos, tornando a leitura um pouco repetitiva. Entretanto, retomar tais elementos foi importante para a compreensão dos assuntos tratados em cada um deles.

Os capítulos principais, apresentados na forma de artigos científicos, abordam três temas estruturantes da discussão: mecanismos de funcionamento das parcerias no contexto do manejo florestal comunitário; relações desiguais de poder nas parcerias firmadas para o manejo florestal comunitário; e benefícios que as parcerias aportam para o manejo florestal comunitário. Observa-se, com isso, que a centralidade do estudo é o manejo florestal comunitário e que a discussão teórica e empírica traz a abordagem da governança ambiental para debater como, em quais condições e por que a parceria, enquanto dimensão da governança ambiental, pode influenciar a implementação e consolidação do manejo florestal comunitário como atividade econômica sustentável.

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Tapajós a partir da análise documental e das entrevistas semiestruturadas. O segundo capítulo trata do desequilíbrio de poder nas relações de parceira, buscando compreender a desigualdade de poder nas parcerias, como isto pode afetar a consolidação do manejo florestal comunitário e como os parceiros estão lidando para superar tais desafios. Considerando que cooperação mútua pode manter a parceria mesmo em relações desiguais de poder, o terceiro capítulo aborda questões relacionadas à cooperação entre os parceiros e análise dos reais benefícios as parcerias aportam para a implementação e consolidação do manejo florestal comunitário em uma floresta pública da Amazônia.

(24)

1 CONTEXTUALIZANDO O DEBATE SOBRE MANEJO FLORESTAL PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL

O uso econômico dos recursos florestais amazônicos é possível por meio do manejo florestal sustentável (MFS) (LENTINI et al., 2012; KAIMOWITZ, 2005; SIST et al., 2011; VERÍSSIMO; BARRETO, 2005; ZARIN, 2005). Este tipo de manejo pode ser considerado estratégia de conservação da natureza (LENTINI et al., 2012; SCHULZE et al., 2008; ZARIN, 2005) que se apresenta como alternativa ao uso predatório dos recursos naturais (KELLER et al., 2005; VERÍSSIMO; BARRETO, 2005) para a conservação ambiental com vistas à proteção da sociobiodiversidade, geração de trabalho e renda (JONG et al., 2008; LENTINI et al., 2012; SCHMINK, 2005), bem como, para a mitigação de fatores causadores de mudanças climáticas, como emissão de gás carbônico pela degradação florestal e desmatamento (KELLER et al., 2005).

Embora o manejo florestal sustentável seja considerado uma estratégia eficiente de conservação das florestas tropicais (ZARIN, 2005), alguns autores (FONSECA et al., 2005; KELLER et al., 2005; SCHULZE et al., 2008) apontam deficiências para a sustentabilidade ecológica de florestas manejadas no longo prazo. Schulze et al. (2008) concluem que os estudos científicos relacionados ao ciclo de corte de espécies madeireiras são insuficientes para garantir a regeneração esperada de uma floresta de produção. Os mesmos autores apontam ainda que os sistemas de MFS não devem ser pautados apenas na produção, mas na integralização da conservação e planejamento da paisagem e região.

Fonseca et al. (2005) sugerem que a adoção do manejo florestal sustentável depende do combate à exploração florestal predatória e ilegal para que seja lucrativo e tenha mais adesão, uma vez que a madeira de origem ilegal é vendida a menores preços em relação à madeira legalizada.

Kaimowitz (2005) argumenta que grandes companhias, por mais que tenham planos de manejo florestal autorizados, não têm manejado a floresta de maneira sustentável. Para Zarin (2005), discutir até que ponto o manejo florestal

sustentável promove ou impede a conservação depende “das particularidades de um

regime de manejo específico e da ecologia da floresta específica na qual esse

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Na legislação brasileira, manejo florestal sustentável refere-se à:

Administração da floresta para a obtenção de benefícios econômicos, sociais e ambientais, respeitando-se os mecanismos de sustentação do ecossistema objeto do manejo e considerando-se, cumulativa ou alternativamente, a utilização de múltiplas espécies madeireiras, de múltiplos produtos e subprodutos não madeireiros, bem como a utilização de outros bens e serviços de natureza florestal (BRASIL, 2006, Art. 3º).

Sist et al. (2011) recomendam o manejo de uso múltiplo da floresta como alternativa para valorizar as florestas e consolidar atividades econômicas sustentáveis. O uso múltiplo da floresta refere-se à exploração racional de diversos produtos florestais – como madeira, óleos vegetais, cipós, sementes, frutos, casca e folhas de forma consorciada e planejada para evitar a intensificação do uso de poucas espécies. Guariguata (2013) aponta fortes indícios de que a floresta manejada para o aproveitamento de diversos bens e serviços pode ser tão ou mais eficaz na prevenção do desmatamento e da degradação em relação às áreas florestais protegidas, como as UCs de Proteção Integral.

O conceito de manejo florestal sustentável adotado neste trabalho considera a definição da Lei de Gestão de Florestas Públicas (BRASIL, 2006) e a literatura que aponta a diversidade biológica da floresta e as possibilidades do uso de diferentes produtos e serviços florestais1 (GUARIGUATA, 2013; SIST et al., 2011)

a partir do manejo de uso múltiplo da floresta. Desta forma, manejo florestal trata-se da administração de uma floresta para a obtenção de benefícios econômicos, sociais e ambientais, aplicando técnicas e práticas de exploração de impacto reduzido e garantindo que a floresta seja capaz de suprir, de forma contínua, produtos e serviços ecossistêmicos2.

A lógica da gestão para o uso múltiplo de bens e serviços florestais aplica-se, sobretudo, para produtores de pequena escala ou grupos de pessoas de mesma identidade social que executam as atividades em comum acordo e de forma coletiva (GUARIGUATA, 2013), como remanescentes de quilombo, extrativistas, ribeirinhos, produtores agrícolas de escala familiar, entre outros.

Schmink (2005) e Kaimowitz (2005) contestam o modelo de concessão de florestas públicas para grupos específicos e restritos, como as empresas, e

1 Serviço florestal trata-se do turismo e outras ações ou benefícios decorrentes do manejo e

conservação da floresta não caracterizados como produtos florestais (BRASIL, 2006).

2 São serviços úteis oferecidos pela floresta, como a regulação de gases de efeito estufa (produção

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defendem que os incentivos para o MFS devem ser direcionados para as comunidades e populações locais na lógica da distribuição da renda e combate à

pobreza. Para Schmink (2005, p. 162), “as condições que tornam possíveis o

manejo florestal sustentável são substancialmente diferentes entre as comunidades

e as operações comerciais madeireiras”. A autora sugere que o MFS tem "potencial de distribuir benefícios sociais e de promover o manejo florestal em várias paisagens já utilizadas pelos produtores rurais" (SCHMINK, 2005, p. 165).

O MFS pode ser realizado de forma empresarial, que é fundamentado, sobretudo, no interesse de rentabilidade financeira da atividade, ou por produtores florestais de pequena escala e moradores de florestas comunitárias, “motivados pelo

debate sobre a participação das populações tradicionais3, [ou ainda] por pequenos

proprietários, no manejo sustentável de florestas [públicas]” (AMARAL NETO et al.,

2008, p. 231), como as UCs e os assentamentos ambientalmente diferenciados4.

Segundo Jong et al. (2008), a política florestal promovida na maioria dos países latino-americanos adota o conceito de manejo florestal sustentável como forma de uso da floresta e, parte desse conceito, apresenta o manejo florestal comunitário5 (MFC) como estratégia participativa e equitativa do MFS para

promoção do desenvolvimento sustentável.

O uso dos recursos florestais por famílias e comunidades que dependem das florestas para satisfazer suas necessidades básicas, como alimentação e construção de moradias, é realizado há décadas (BECKER, 1994; SCHULZE et al., 2008). Entretanto, o termo manejo florestal comunitário se difundiu a partir da década de 1970 quando agências de desenvolvimento buscaram promover a atividade para melhoria da qualidade de vida das comunidades (JONG et al., 2008).

3 Neste trabalho reconhece-se que é amplo o debate sobre o conceito de população tradicional.

Entretanto, adota-se por população tradicional a definição do Decreto nº. 6.040/2007, que em seu Art. 3º define os povos e comunidades tradicionais como “grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição (BRASIL, 2007a).

4 São aqueles assentamentos criados pelo governo nas categorias que priorizam o recurso natural,

como os Projetos de Desenvolvimento Sustentável, Projetos Florestais e Projetos Agroextrativistas (INCRA, 2010).

5 O Decreto nº. 6.874/2009 considera manejo florestal comunitário e familiar a execução de planos de

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O MFC não é um empreendimento empresarial, pois não está relacionado a grupos econômicos que visam à obtenção de lucro sobre o capital natural. O MFC

está “intrinsicamente ligado a uma comunidade social e a seu contexto histórico e ecológico” (SCHMINK, 2005, p. 162) e é mais uma atividade dentre outras que

garantem a sobrevivência de grupos sociais que vivem em ambientes florestais e que dependem dos recursos naturais para geração de trabalho e renda, garantindo sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral, econômica e histórica (BRASIL, 2007a, Art. 3º).

Entende-se que o manejo florestal realizado por comunidades é uma das opções que conciliam a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento econômico (HUMPHRIES et al., 2012; JONG et al., 2008). O MFC incorpora os princípios do manejo florestal sustentável e, neste estudo, é compreendido como o uso e o aproveitamento do recurso florestal por grupo organizado coletivamente que possui direitos sobre os recursos naturais (BRASIL, 2007a) e assume compromissos de longo prazo com a floresta (De CAMINO, 2002).

Alguns autores (FANTINI; CRISÓSTOMO, 2009; MEDINA; POKORNY, 2014) apontam fragilidades dos processos que envolvem o MFC, principalmente com vistas à produção madeireira. Fantini e Crisóstomo (2009) revelam que em Resex, o uso da floresta para fins madeireiros causa insegurança aos moradores locais e controvérsias, pois os autores concluem que as decisões para a exploração madeireira partiram de grupos de interesse e não do coletivo, fragilizando o processo como um todo. Radachowsky et al. (2013) sugerem que as concessões florestais comunitárias na Guatemala que tiveram mais êxito foram aquelas em que seus membros decidiram de forma deliberada e voluntária trabalhar juntos por um objetivo comum.

Para Medina e Pokorny (2011), parte do insucesso de iniciativas de MFC na Amazônia brasileira pode ser atribuída às iniciativas comunitárias que possuem rentabilidade financeira limitada6, exigem altos investimentos em sua implementação

e tendem a demandar subsídios constantes. Todavia, o MFC ainda não é visto como um negócio sustentável, que demanda gestão apropriada, boa administração e gerenciamento para seu crescimento e continuidade no longo prazo

6 Humphries et al (2012) contestam que, mesmo sem lucratividade, o manejo madeireiro realizado por

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(RADACHOWSKY et al., 2013; MEDINA; POKORNY, 2014), o que poderia contribuir para o sucesso das iniciativas estudadas por Medina e Pokorny (2014) e Humphries et al. (2012), nos estados do Pará e Amazonas.

Embora existam limitações para sua implementação como atividade produtiva sustentável, o MFC é considerado opção promissora para o desenvolvimento local (BRASIL, 2009; HUMPHRIES et al., 2012; SABOGAL, 2008). A partir desse entendimento, o MFC ganhou visibilidade nas últimas duas décadas (AMARAL NETO et al., 2008; JONG et al., 2008) devido a sua importância para a conservação dos recursos naturais aliada à geração de riquezas econômicas e benefícios sociais.

Segundo Graffin et al. (2011), o manejo florestal na Amazônia brasileira depende da valorização das florestas comunitárias. Carneiro et al. (2011) apresentam uma estimativa da área potencial de uso florestal na Amazônia Legal7

revelando que 66% é de uso comunitário (Quadro 1).

Quadro 1 – Estimativa de área potencial para o uso florestal na Amazônia Legal.

Categoria Km² Área % Empresarial Potencial de uso (em Km²) Comunitário

Floresta Nacional 190.542 21 95.271 38.108

Floresta Estadual 101.021 11 50.511 20.204

Reserva de Desenvolvimento Sustentável 95.777 11 - 47.889

Reserva Extrativista 111.043 12 - 55.522

Área de Proteção Ambiental 147.829 16 - 44.349

Assentamento Rural 254.560 28 - 76.368

Total Geral 900.772 100 145.782 282.439 Total do Potencial de Uso 34% 66%

Fonte: Adaptado de Carneiro et al. (2011).

Considerando a importância das florestas comunitárias para o setor florestal amazônico; o interesse do setor privado que, sem garantias de posse da terra (GRAFFIN et al., 2011), passou a pressionar as florestas comunitárias para acessar seus recursos madeireiros; e o aumento, nas últimas décadas, da extração madeireira nestas florestas (PINTO et al., 2010), o governo, pressionado pelo movimento social e organizações não governamentais, buscou normatizar o MFC.

No Brasil, as primeiras tentativas de normatização desse tipo de manejo iniciaram na década de 1990 (AMARAL NETO et al., 2011; PINTO et al., 2010). No

7 A Lei nº. 12.651/2012 considera a Amazônia Legal como sendo os estados do Acre, Pará,

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entanto, o marco legal que reconhece o manejo florestal realizado por populações tradicionais e comunidades locais e direciona programas e políticas públicas para o fomento dessa atividade foi lançado apenas em 2009, com o Decreto nº. 6.874/2009 (BRASIL, 2009), que integra ações dos Ministérios do Meio Ambiente (MMA) e Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), por entender a dimensão do uso integrado dos recursos naturais (floresta e agricultura).

Em florestas públicas destinadas na forma de UCs de Uso Sustentável, como Resex, Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) e Flona, mecanismos mais recentes regulam os processos de licenciamento do MFC para que as populações locais beneficiárias dessas áreas possam realizá-lo, como a Instrução Normativa nº. 16/2011 (INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE, 2011).

Por mais que a legislação para o MFC tenha avançado na última década, alguns autores (AMARAL NETO, et al., 2008; GUARIGUATA, 2013; JONG et al., 2008; LENTINI et al., 2012) apontam entraves que têm tornado remotas as possibilidades de implementação da atividade com vistas ao desenvolvimento local. Destaque-se a falta de assistência técnica e de extensão florestal, as limitações técnicas e administrativas para lidar com os diferentes produtos florestais, as dificuldades de acesso a linhas de crédito e de financiamento, a dificuldade de acesso às tecnologias de beneficiamento de produtos florestais, a falta de regulamentações condizentes com a escala de produção, a escassez de alternativas de escoamento dos produtos florestais, o apoio insuficiente de órgãos governamentais nas áreas rurais mais distantes, além das deficiências educacionais no meio rural.

Todavia, o manejo florestal comunitário à luz da gestão dos recursos naturais para promoção do desenvolvimento local se mantém como alternativa para a “obtenção de benefícios econômicos, sociais e ambientais, respeitando-se os

mecanismos de sustentação do ecossistema” (BRASIL, 2009, Art. 2º).

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sugerem o contínuo aprendizado social e o diálogo entre os diversos setores relacionados ao manejo florestal comunitário.

Para Souza e Vasconcellos Sobrinho (2012), a capacidade de articulação político-institucional de diferentes atores do território promove o avanço nas ações de gestão dos recursos naturais e desenvolvimento local. Compreende-se que o envolvimento amplo e qualificado de diferentes setores da sociedade pode favorecer a eficiência e efetividade de políticas, projetos e programas voltados para a conservação ambiental aliada à melhoria da qualidade de vida da população rural (VASCONCELLOS; VASCONCELLOS, 2008).

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2 A FLONA DO TAPAJÓS ENQUANTO OBJETO DE ESTUDO: CONTEXTUALIZAÇÃO DO TERRITÓRIO E HISTÓRIA DE IMPLEMENTAÇÃO DO MANEJO FLORESTAL COMUNITÁRIO

2.1 Contexto territorial

A Flona do Tapajós é uma UC de Uso Sustentável criada pelo Decreto nº. 73.684/1974 (BRASIL, 1974) e tem como objetivo o “uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica” (BRASIL, 2000, Art. 17). É uma área protegida do Distrito Florestal Sustentável da BR-1638 e está localizada no oeste do

estado do Pará, abrangendo os municípios de Aveiro, Belterra, Placas e Rurópolis (Mapa 1).

A região do oeste paraense, assim como outras fronteiras de colonização da Amazônia (SAYAGO et al., 2004), é marcada pelas políticas desenvolvimentistas do governo brasileiro, sobretudo nas décadas de 1960 e 1970. Ainda em 1950 e 1960, houve uma fase de colonização agrícola dos rios e igarapés da região em que dezenas de famílias nordestinas, apoiadas pelo governo federal e fugindo da seca, se instalaram para o cultivo de subsistência e juta (SABLAYROLLES; MIRANDA, 2011). Mas foi a partir do Primeiro Plano de Integração Nacional (1º PIN, 1970-1974) que ocorreram as principais mudanças estruturais (BECKER, 2005), com a construção das rodovias BR-163 e BR-230 e o crescimento da imigração devido, em parte, à instalação de projetos de colonização (IBAMA, 2004) e à criação de projetos de assentamento da reforma agrária ao longo da BR-163, que tiveram como um dos objetivos a consolidação de atividades agropastoris, considerando a floresta como uma barreira ao crescimento econômico (SABLAYROLLES; MIRANDA, 2011).

O 1º PIN estava relacionado a uma lógica de solução aos problemas enfrentados pela população nordestina (seca, reforma agrária), que pressionava as grandes cidades com o êxodo rural (KOHLHEPP, 2002); expansão da fronteira econômica, sobretudo agrícola (soja, milho, arroz), para o Norte, e incentivos fiscais e financiamentos para o setor privado empregar principalmente na criação de gado, na indústria e em projetos de mineração (KOHLHEPP, 2002).

8 Seu objetivo principal é a promoção do desenvolvimento sustentável na área de influência da

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Mapa 1 – Localização geográfica da Floresta Nacional do Tapajós.

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Em termos de infraestrutura, o governo brasileiro planejou eixos de desenvolvimento a partir da construção de rodovias de longa distância, como a BR-163 e BR-230, servindo também como roteiros de migração para a Amazônia e o estabelecimento de áreas para atividades econômicas conhecidas como “corredores de desenvolvimento” (KOHLHEPP, 2002, p. 38). Ao longo dessas rodovias, nas vicinais, buscou-se, por meio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), instalar ‘urbs’ rurais, como as agrovilas (50 famílias), agrópolis (600 famílias) e rurópolis (20 mil habitantes), com infraestrutura básica (água, eletricidade, escola, posto de saúde, banco, posto de comunicação, entre outros)9. Entretanto,

como indicam Sayago e Machado (2004), as ‘urbs’ rurais não tiveram muitos resultados positivos devido, sobretudo, à falta de regularização fundiária. Mesmo assim, o 1º PIN impulsionou a imigração em massa para a região Norte, fazendo com que a fronteira agropecuária avançasse rapidamente e adentrasse as florestas.

O setor madeireiro regional, também motivado pela facilidade de acesso às florestas de terra firme (acesso pela estrada) e pelas políticas de colonização promovidas na região, expandiu a exploração florestal e a Flona do Tapajós foi criada como forma de controlar o desmatamento que se acelerou a partir de 1970 (SABLAYROLLES; MIRANDA, 2011). Segundo IBAMA (2004), originalmente, as Flonas foram concebidas como reserva de madeira, e Dubois (1976 apud IBAMA, 2004) apontou a criação da Flona do Tapajós em função da posição estratégica que as áreas de grande potencial florestal ocupavam em relação aos projetos de desenvolvimento pensados para a região, como o 1º PIN.

Originalmente, a Flona do Tapajós foi criada abrangendo 549 mil ha (BRASIL, 1974) e, em 2012, sob a gestão do ICMBio, parte da UC foi desafetada –

atualmente a Flona possui 527,3 ha – devido a pressões de moradores da comunidade São Jorge, situada na região do planalto entre os quilômetros 87 e 105 da BR-163, e de representantes da sede do município de Aveiro. O processo de desafetação era discutido desde a criação da Flona (IBAMA, 2004) e justificou-se devido os moradores das áreas desafetadas não estarem de acordo com as restrições de acesso e uso dos recursos naturais colocadas pelo ICMBio e estabelecidas pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC).

9O PIN era baseado em projetos de colonização em torno das agrovilas, agrópolis e rurópolis criadas para atender às necessidades sociais, culturais e econômicas do meio rural, idealizando esses três tipos de ‘urbs’ rurais e formando uma hierarquia urbanística cada qual com sua função especifica

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Em um território em que a modalidade fundiária dominante são os assentamentos criados pelo INCRA (SABLAYROLLES; MIRANDA, 2011), a importância da Flona do Tapajós é devida, dentre outros fatores, à sua vegetação –

mais de 80% da UC é Floresta Tropical Densa (IBAMA, 2004) com grande potencial para o manejo florestal madeireiro (SILVA et al., 1985).

2.2 Histórico de implantação do manejo florestal comunitário

O ICMBio é o gestor governamental da Flona do Tapajós, constituindo-se como uma autarquia em regime especial vinculada ao MMA e integrante do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA). O órgão é responsável pela execução das ações previstas no SNUC, como implantar, gerir, proteger, fiscalizar e monitorar as UCs instituídas pela União. Com vistas ao SNUC, cabe ainda ao ICMBio fomentar e executar programas de pesquisa e conservação da biodiversidade em UCs federais (BRASIL, 2007b).

Por ser uma floresta pública destinada à produção florestal (BRASIL, 2006) e à pesquisa (BRASIL, 2000), na Flona do Tapajós, atividades econômicas sustentáveis, como o manejo florestal, são permitidas e incentivadas pelas políticas e programas governamentais (BRASIL, 2009). As atividades econômicas nesta UC são favorecidas por sua localização geográfica: por um lado situa-se às margens da rodovia BR-163, em trecho asfaltado e de boa trafegabilidade (Fotografia 1), e por outro lado, às margens do rio Tapajós.

Fotografia 1 - Trecho asfaltado da rodovia BR-163 que dá acesso à Floresta Nacional do Tapajós.

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Na Flona do Tapajós são reconhecidas 744 famílias residentes, distribuídas em 24 comunidades10 localizadas às margens dos rios Cupari e Tapajós

e em localidades do eixo rodoviário da BR-163, totalizando 3.417 pessoas. As famílias residentes na UC se identificam (se reconhecem) como agricultores, extrativistas, pescadores, ribeirinhos, indígenas, colonos e tradicionais. Do total de famílias cadastradas pelo governo, 12% se reconhecem como indígenas, somando aproximadamente 80 famílias distribuídas nas aldeias de Marituba, Bragança e Takuara (INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE, 2015).

Segundo dados obtidos em levantamento realizado para compor o Plano de Manejo da Flona do Tapajós (IBAMA, 2004), a principal atividade dos moradores desta Flona é a agricultura em regime de exploração familiar, cuja atividades produtivas visam ao sustento da família e à venda de excedentes. O sistema de produção é diversificado, incorporando roçados com cultivos anuais (mandioca, milho, arroz, feijão, outras) e cultivos permanentes (espécies frutíferas, pimenta-do-reino, outras). A caça e a pesca também são importantes atividades relacionadas ao sustento das famílias e, em algumas áreas, ainda se produz gado em pequenas quantidades (uma a dez cabeças11).

A produção extrativista também é importante para a economia local. Espécies florestais como seringa (Hevea brasiliensis), cedro (Cedrela fissilis), breu (Protium spp) e a sucuruba (Himatanthus sucuuba) foram importantes fontes de renda para algumas famílias nas décadas de 1960 e 1970. Segundo IBAMA (2004), existem inúmeros produtos florestais retirados pelos moradores da Flona em regime extrativista, essencialmente para abastecimento da família. Esta ampla gama de atividades extrativistas deve-se à diversidade de recursos que o ambiente florestal e ribeirinho oferece e do conhecimento empírico acumulado ao longo das gerações de

famílias que vivem na região, pois “as atividades voltadas ao uso dos recursos

florestais são as mais antigas em andamento na Flona” (IBAMA, 2004, p. 232).

Além disso, a Flona do Tapajós é uma floresta pública com grande potencial para a exploração madeireira sob o regime de manejo florestal. Esta atividade iniciou-se no final da década de 1970, em caráter experimental e como

10 Núcleos de moradores identificados localmente como “comunidades” (IBAMA, 2004).

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parte do Projeto de Desenvolvimento e Pesquisa Florestal12 (PRODEPEF) (IBAMA,

2004). Posteriormente, foi implementado o Projeto de Manejo da Floresta Nacional do Tapajós para Produção Sustentável de Madeira Industrial, entre 1999 e 2004, com o objetivo de desenvolver um modelo de manejo florestal para a produção sustentada de madeira em florestas tropicais, considerando parâmetros técnicos, sociais, econômicos e ambientais (IBAMA, 2004). O projeto foi apoiado pela International Tropical Timber Organization (ITTO) e envolveu a parceria público-privada, com a presença de uma empresa para a execução das atividades exploratórias do manejo florestal.

Com a implementação do projeto apoiado pelo ITTO, também de caráter experimental, os moradores locais manifestaram o descontentamento por não poderem realizar o manejo florestal e passaram a reivindicar seus direitos para o uso econômico da floresta para a produção madeireira.

As reivindicações das famílias relacionam-se ao processo de criação e de regularização fundiária da Flona do Tapajós. Quando a Flona foi criada, inicialmente o governo não reconheceu a presença humana dentro de seus limites, submetendo as famílias a uma série de impedimentos que afetaram a produção de subsistência e trouxeram insegurança quanto a sua permanência na área (SOARES, 2004). Anos mais tardes, este fato refletiu no comportamento dos moradores quando a parceria governo, empresa e ITTO iniciou a exploração florestal.

Somado a isso, o processo de regularização fundiária e de reconhecimento das famílias que viviam na Flona levou mais de 30 anos e envolveu diversos atores sociais, como população local, órgão gestor da UC, órgãos de gestão territorial, sindicato de trabalhadores rurais, entre outros. O processo culminou num plebiscito, em 2003, sobre a permanência das comunidades ribeirinhas na UC, que resultou em 76% dos votantes a favor de permanecer na Flona (IBAMA, 2004). Porém, o Contrato de Concessão de Direito Real de Uso (CCDRU) foi entregue às famílias somente em 2010, por intermédio da Federação das Organizações e Comunidades Tradicionais da Floresta Nacional do Tapajós, garantindo a permanência e o uso legal dos recursos naturais pelos moradores da Flona (IBAMA, 2004).

12 O PRODEPEF foi um projeto nacional executado pelo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento

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Neste contexto, as reivindicações foram reforçadas com a aprovação do SNUC, em 2000 (BRASIL, 2000). A partir dos questionamentos manifestados pelas comunidades, com as possibilidades legais para o manejo florestal (IBAMA, 2007) e com o início do Projeto de Apoio ao Manejo Florestal Sustentável na Amazônia (ProManejo13), uma nova forma de gestão dos recursos florestais na Flona do

Tapajós, que considera a participação e o protagonismo dos moradores locais, foi amplamente discutida e implementada.

Atualmente, o manejo florestal para fins de produção madeireira em grande escala é realizado pelos moradores da Flona do Tapajós, que se organizaram por meio do cooperativismo para atender às exigências legais de comercialização deste produto florestal. Foi criada, então, a Cooperativa Mista da Flona do Tapajós (Coomflona), considerada o ente econômico que representa aquelas pessoas interessadas em manejar a floresta de forma coletiva.

A Coomflona possui 212 cooperados14, sendo todos exclusivamente

moradores da Flona do Tapajós. Esta é uma das regras para se cooperar, além daquela que impede que mais de um membro por família cooperado atue simultaneamente nas atividades operacionais do manejo florestal, possibilitando a participação do maior número possível de famílias nas atividades da cooperativa.

A Coomflona é a detentora e executora do Plano de Manejo Florestal Sustentável (PMFS) licenciado pelo IBAMA e em execução desde 2005. Os cooperados se dividem em funções administrativas, técnicas e operacionais (Quadro 2) para a gestão do empreendimento florestal comunitário e a realização das atividades de campo. Além dos cooperados, existem profissionais contratados para serviços específicos, como contabilidade, assessoria jurídica e engenharia florestal.

Quadro 2 – Estrutura organizacional da Cooperativa Mista da Flona do Tapajós.

Atuação dos cooperados envolvidos* Número de

Diretoria 06

Conselho fiscal 06

Diretoria comercial 01

13 O ProManejo foi criado no âmbito do Programa Piloto de Proteção das Florestas Tropicais para

experimento e demonstração. Executado pelo IBAMA e MMA, seu objetivo foi apoiar o desenvolvimento e a adoção de sistemas sustentáveis de manejo florestal na Amazônia, com ênfase na exploração de produtos madeireiros, por meio de ações estratégicas e projetos demonstrativos, sendo executado no período de 1999 a 2006.

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Atividades de campo 76

Atividades na Ecoloja 03

Técnico florestal 02

Técnico de segurança e saúde do trabalho 02 Auxiliar de escritório na base florestal 02

Atividades na movelaria 16

Coordenação de campo 01

Coordenação de equipes 07

Atividades no escritório 06 Assistente administrativo 01 Atividades de apoio de base 16

Atuação dos não cooperados Número de envolvidos

Engenheiro florestal 01

Operador de máquinas 02

Advogado 01

Contador 01

Estagiário 02

Fonte: elaborado pela autora a partir de entrevistas e acesso a documentos da Coomflona. Nota:

* Embora a cooperativa possua 212 cooperados, nem todos estão ativos. No período de coleta dos dados para a presente pesquisa, que ocorreu de 16 de outubro de 2014 a 03 de março de 2015, foram computados 145 cooperados ativos e 7 profissionais contratados.

A área destinada ao manejo florestal comunitário na Flona do Tapajós, localizada na zona definida como "Área de Manejo Florestal Madeireiro" pelo Plano de Manejo da Floresta Nacional do Tapajós (ANDRADE et al., 2014), abrange 32.417,88 hectares, que representam 6% da área total da UC (Mapa 2). Anualmente são explorados em regime de manejo florestal mil hectares de floresta (0,2% da área total da UC), com intensidade de exploração de 30 m³/ha e ciclo de corte de 30 anos (ANDRADE et al., 2014).

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Mapa 2 – Mapa de zoneamento ambiental da Floresta Nacional do Tapajós.

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3 ARCABOUÇO METODOLÓGICO: MÉTODO, TÉCNICAS E LIMITAÇÕES PARA COMPREENDER A PARCERIA PARA O MANEJO FLORESTAL COMUNITÁRIO

A proposta de apresentação desta pesquisa considerou o formato de artigos científicos de forma que a descrição completa e detalhada do arcabouço metodológico é apresentada antes da revisão de literatura, sendo esta abordada de acordo com o escopo e o objetivo de cada capítulo. Assim, nesta seção, explica-se a abordagem metodológica, o método de investigação e a descrição dos procedimentos técnicos que permitiram a coleta de dados primários e secundários a fim de oferecer o embasamento empírico necessário que subsidiou a discussão contida no estudo. Também são apresentados os critérios para a seleção do estudo de caso, além das limitações identificadas em função do método e técnicas de coleta e análises de dados escolhidos.

3.1 Método de investigação

A metodologia aplicada neste estudo foi baseada na pesquisa analítico-descritiva, usando um estudo de caso único como método de investigação para compreender a interface empírica da discussão sobre a parceria enquanto dimensão da governança ambiental para a implementação do manejo florestal comunitário em florestas públicas brasileiras.

O estudo de caso é um método aplicado em pesquisas da área de ciências sociais que permite ao pesquisador fazer uma análise das características mais amplas – ou holísticas – e significativas da vida real (YIN, 2010). Por meio deste método, é possível aprofundar a compreensão de um fenômeno, englobando importantes condições contextuais. Para Yin (2010), quanto mais a questão de

pesquisa se aproxima em explicar “como” ou “por que” algum fenômeno social

funciona, mais aplicável se torna o método de estudo de caso.

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Assim, o estudo de caso foi escolhido para auxiliar a compreensão de como as parcerias podem influenciar a implementação do manejo florestal comunitário, compreendendo seus mecanismos de funcionamento e benefícios associados, além das relações que envolvem os atores nas parcerias estabelecidas. Adotando o estudo de caso único, buscou-se generalizar a discussão para as proposições teóricas apresentadas neste trabalho, o que é perfeitamente aceitável para esse tipo de método de pesquisa que, conforme Yin (2010), trata-se da generalização analítica.

3.2 Seleção de caso para estudo

A Flona do Tapajós foi escolhida como estudo de caso único por ser tratar de uma floresta pública que possui uma experiência em andamento de manejo florestal madeireiro (com produção florestal e receitas financeiras próprias) realizado por população local (residente em floresta pública) e que possui organizações parceiras (governamentais e não governamentais) que apoiam e fomentam esta atividade econômica (ESPADA, 2013).

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Gráfico 1  –   Análise de rede social das relações de proximidade  entre as parcerias firmadas para o manejo florestal  comunitário na Floresta Nacional do Tapajós.
Gráfico 2  –   Distribuição da tipologia de parcerias identificadas na  pesquisa de campo, segundo perspectiva dos
Gráfico  1  –   Análise  de  rede  social  das  relações  de  proximidade  entre  as  parcerias  firmadas  para  o  manejo florestal comunitário na Floresta Nacional do Tapajós
Gráfico  2  –   Distribuição  da  tipologia  de  parcerias  identificadas  na  pesquisa  de  campo,  segundo  perspectiva  dos  cooperados  (traço  em  azul)  e  analista  ambiental  do  Instituto  Chico  Mendes  de  Conservação da Biodiversidade (traço em
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Referências

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