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Ocorrência de Leishmaniose Visceral na região do Barreiro, Belo Horizonte, MG de 2001 a 2012

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Ocorrência de Leishmaniose Visceral na região do Barreiro, Belo Horizonte, MG de 2001 a 2012

Daniela Tápias da Silva¹ Hudson Andrades de Souza²

Resumo 1

2

A Leishmaniose Visceral é uma zoonose de grande relevância na saúde 3

coletiva devido à sua heterogeneidade epidemiológica. Uma importante 4

mudança no padrão epidemiológico da LV tem sido verificada. 5

Caracterizada como uma doença rural que vem apresentando junto com 6

o processo de urbanização uma crescente expansão em cidades de 7

médio e grande porte. Na regional do Barreiro há diversas 8

características epidemiológicas que favorecem a transmissão de 9

leishmaniose visceral como: degradações ambientais, migração de 10

populações carentes a grandes centros, locais sem saneamento básico, 11

elevada população canina que tem contribuindo para o aumento da 12

prevalência da doença. O trabalho teve como objetivo verificar a 13

situação da Leishmaniose Visceral na regional Barreiro no período de 14

2001 a 2012. A LV no Barreiro no ano de 2001 até o ano de 2004 se 15

manteve estável, em 2004 e 2006 a doença volta a incidir e em 2010 16

observa-se a rápida elevação, com 89 casos humanos notificados, e 17

percentual de 12,3% de óbitos. Neste período a distribuição espacial, 18

apresentou uma homogeneidade numérica de ocorrência da doença, 19

mostrando uma correlação em que os casos caninos precedem os 20

humanos. De 149.813 amostras examinadas, 6,12% das mesmas 21

estavam positivas para os testes de ELISA e RIFI. Na área urbana, o 22

cão é a principal fonte de infecção, e vem sendo mais prevalente do que 23

no homem. Os resultados encontrados impõem a importância de serem 24

trabalhadas juntamente com a comunidade as medidas de controle 25

apropriadas, de forma a sensibilizar essa população sobre a importância 26

da preservação do ambiente, como forma de se evitar a proliferação dos 27

vetores e a retirada dos cães positivos. Os resultados encontrados 28

impõem a importância de serem trabalhadas juntamente com a 29

comunidade as medidas apropriadas, de forma a sensibilizar essa 30

população sobre a importância da preservação do ambiente, como forma 31

de se evitar a proliferação dos vetores e a retirada dos cães positivos. 32

33 34

Palavras-chaves: Leishmaniose Visceral, aspecto epidemiológico, e 35

urbanização. 36

(2)

1. Introdução 38

O termo leishmaniose refere-se à infecção de hospedeiros vertebrados 39

com os protozoários do gênero Leishmania. Segundo Torres (2006), existem 40

dezenas de espécies de Leishmania, que se agrupam em dois subgêneros 41

(Leishmania e Viannia). As leishmanioses são infecções, afetando várias 42

espécies além do homem, que pode ser envolvido secundariamente. A 43

transmissão ocorre pela picada das fêmeas de flebotomíneos, pertencentes 44

aos gêneros Phlebotomus e Lutzomyia, dependendo da localização geográfica 45

(NEVES, 2005). 46

As leishmanioses são um conjunto de doenças causadas por 47

protozoários do gênero Leishmania pertencente á família Trypanosomatidae. 48

De modo geral, essas enfermidades se dividem em Leishmaniose Tegumentar 49

(LT), uma doença infecciosa, não contagiosa que afeta a pele e as mucosas, e 50

Leishmaniose Visceral (LV) que é uma doença infecciosa generalizada 51

conhecida também como Calazar, que afeta os órgãos internos como fígado e 52

baço, causando esplenomegalia e hepatomegalia. 53

A LV é causada, na América, pela Leishmania (L.) chagasi (ROSS, 54

1903), (CUNHA & CHAGAS, 1937), (LAINSON & SHAW, 1987); (LAINSON & 55

SHAW, 1992); (WHO, 1998), tendo como vetores os flebotomíneos da espécie 56

Lutzomyia longipalpis (PEARSON e SOUSA, 1996; ALVAR et al 2004,

57

MATHIAS, 2004). 58

O protozoário, em seu ciclo de desenvolvimento, assume duas formas 59

evolutivas: amastigota encontrada nos tecidos dos vertebrados, como 60

lifonodos, fígado, baço e medula óssea, sem flagelo externalizado e 61

promastigota encontradas no tubo digestivo do inseto vetor que apresentam 62

forma flagelada. Das espécies encontradas no Brasil a Leishmania chagasi é o 63

agente etiológico da LV (CUNHA, 1942). 64

O primeiro caso no Brasil foi descrito no ano de 1913, por Migone em um 65

paciente imigrante italiano que morava a muitos anos em Santos, e após viajar 66

para Mato Grosso, adoeceu, tendo sido diagnosticada a doença no Paraguai 67

(ALENCAR, 1977). 68

Penna (1934), um patologista do Instituto Oswaldo Cruz, iniciou os 69

estudos sobre a distribuição geográfica da Leishmaniose Visceral nas 70

Américas, quando comprovou parasitologicamente, 41 casos dentre as 40.000 71

(3)

viscerotomias examinadas para febre amarela de pacientes provenientes de 72

vários estados do Brasil. 73

Em meados dos anos 80, constatou-se uma transformação drástica na 74

distribuição geográfica da LV, a doença que antes era restrita às áreas rurais 75

do nordeste brasileiro, avançou para outras regiões alcançando inclusive a 76

periferia de grandes centros urbanos (DEANE, 1956). 77

Segundo o Ministério da Saúde (MS) (2001), 19 dos 27 estados 78

brasileiros já foram registrados casos autóctones de LV, nos últimos cinco 79

anos, ocorreram em média 3.500 novos casos humanos, sendo a maioria na 80

região Nordeste do país. A doença gradualmente se espalhou e no estado de 81

Minas Gerais na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), o primeiro 82

caso confirmado autóctone foi em 1989, no município de Sabará. 83

Inicialmente concentrada nos Distritos Leste e Nordeste da cidade, a 84

doença se espalhou geograficamente para as áreas vizinhas mostrando uma 85

distribuição por todo o município de Belo Horizonte, sendo identificado em 1994 86

o primeiro caso de LV no distrito sanitário Barreiro (SMSA, 2006). 87

No contexto epidemiológico, há dois processos de transmissão que 88

apresentam características que contribuem para a disseminação da LV, o 89

primeiro é o cão (Canis familiaris) considerado um importante reservatório no 90

ciclo doméstico devido à forte prevalência da infecção canina,e em segundo o 91

vetor Lutzomyia longipalpis, um díptero da família Psychodidae, subfamília 92

Phebotominae, conhecidas genericamente por flebotomíneos (GONTIJO e 93

MELO, 2004). 94

Desde o primeiro caso diagnosticado em 1913, a LV apresentava um 95

caráter eminentemente rural e vem se expandindo para as áreas periurbanas e 96

urbanas de médio e grande porte. Esse fato se deve a mudança de 97

comportamento do vetor, alterações ambientais, mobilidade das pessoas e o 98

adensamento populacional o que favorece o contato entre seres humanos, 99

vetores e outros animais (GOMES, 1994). 100

O principal mecanismo de transmissão da L. chagasi nas condições 101

naturais e de importância epidemiológica universal ocorre através do repasto 102

sanguíneo da fêmea de Lutzomyia longipalpis infectada. As fêmeas têm hábitos 103

ecléticos com referência à alimentação. Apesar de sua antropofilia, pode ser 104

encontrada fazendo repasto sanguíneo em várias espécies de animais no 105

(4)

ambiente doméstico e silvestre, sem que haja preferência evidente por uma 106

fonte alimentar determinada (REY, 1991). 107

A infecção do vetor ocorre quando as fêmeas, ao sugarem o sangue do 108

mamífero infectado, ingerem células do Sistema Fagocítico Mononuclear (SFM) 109

parasitados por formas amastigotas da Leishmania presentes na derme do 110

reservatório infectado, as quais passarão a evoluir no trato digestivo anterior do 111

inseto onde ocorrerá um rompimento dos macrófagos liberando as formas 112

amastigotas. No intestino do vetor as amastigotas se diferenciam em 113

promastigotas que se reproduzem por divisão binária simples. As 114

promastigotas migram então para a região anterior do inseto, sendo agora 115

infectantes ou promastigotas metacíclicas. O vetor infectante ao exercer um 116

novo repasto sanguíneo sobre um hospedeiro inocula as formas promastigotas 117

metacíclicas presentes em seu trato digestivo anterior. Na derme do 118

hospedeiro vertebrado as promatigotas são fagocitadas por macrófagos, 119

diferenciando-se em amastigotas e multiplicando-se intensamente, até o seu 120

rompimento e liberação dessas amastigotas que serão fagocitadas por novos 121

macrófagos em um processo contínuo. Ocorre assim à disseminação 122

hematogênica para outros tecidos ricos em células do SFM, como linfonodos, 123

fígado, baço e medula óssea (AMATO NETO, 2008). 124

A infecção causada por L. chagasi apresenta um aspecto clínico que 125

varia desde formas assintomáticas, passando por várias formas clínicas com 126

sintomatologia discreta até aquelas de apresentação mais grave e clássica da 127

doença. 128

Em pacientes que apresentam a forma clássica são observados as 129

seguintes manifestações clínicas: hepatomegalia, esplenomegalia, febre 130

prolongada, dor abdominal e tosse, que podem permanecer durante 3 a 6 131

meses, evoluindo para uma cura espontânea (BADARÓ e DUARTE, 1996). A 132

forma assintomática é mais comum em pacientes oriundos de áreas endêmicas 133

onde há evidência epidemiológica da infecção. Não apresentam nenhuma 134

manifestação clínica, entretanto tem sorologia positiva para LV. Estes 135

indivíduos não são notificados nem tratados (MS, 2003). 136

Segundo o MS (2006), nos últimos dez anos, apesar dos recursos de 137

tratamento intensivo e da rotina estabelecida para o tratamento específico da 138

LV constatou-se aumento na letalidade da doença em diversas regiões do 139

(5)

Brasil, sendo o diagnóstico tardio um dos principais fatores que contribuíram 140

para o aumento dessa letalidade. 141

O diagnóstico clínico é complexo, pois a doença no homem pode 142

apresentar sinais e sintomas que são comuns a outras patologias presentes 143

nas áreas onde incide a LV, como, por exemplo, Doença de Chagas, Malária, 144

Esquistossomose, Febre Tifóide e Tuberculose (GONTIJO, 2004). 145

O diagnóstico parasitológico da LV pode ser direto por meio da 146

visualização de amastigotas de L. chagasi em esfregaços de material colhido 147

por punção aspirativa de medula óssea, lifonodos, baço e fígado, corados por 148

Giemsa ou Panóptico (AMATO NETO, 2008). Quando obtidos por biopsia 149

podem ser elaborados cortes histológicos de fragmentos dos órgãos para 150

pesquisa do parasito por histopatologia (SUNDAR, 2002). 151

O ensaio imunoenzimático-ELISA é outra forma de diagnóstico trata-se 152

de uma metodologia que permite a realização de grande número de exames 153

em curto espaço de tempo. O teste de ELISA é o mais utilizado para 154

imunodiagnóstico de leishmaniose visceral. É um teste rápido, sensível, de fácil 155

execução e leitura, permitindo a detecção de baixos títulos de anticorpos, mas 156

é pouco preciso na detecção de casos subclínicos ou assintomáticos. Funciona 157

igualmente para o diagnóstico da LV canina. 158

Os antígenos utilizados nos testes de diagnósticos são quase sempre 159

derivados de promastigotas de cultura, parasitas intactos ou moléculas 160

solúveis. Estes antígenos apresentam reações cruzadas com outras espécies 161

da família Trypanosomatidae, e mesmo com microrganismos filogeneticamente 162

distantes. Portanto, no diagnóstico sorológico da LV é necessário considerar o 163

diagnóstico diferencial com outras doenças (SUNDAR, 2007). 164

O método de RIFI (Reação de Imunofluorescência Indireta) trata de um 165

método de simples execução e que apresenta uma sensibilidade alta na 166

detecção de casos de LV, onde se utiliza como antígeno formas promastigotas 167

fixadas em lâminas, porém fornece reações cruzadas com outro 168

tripanossomatídeos (SUNDAR, 2007). 169

Segundo Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral – 170

Ministério da Saúde (2010), no Brasil os medicamentos utilizados para o 171

tratamento da LV são: o antimonial pentavalente e a anfotericina b. A droga de 172

primeira escolha para tratamento humano de LV é o glucantime (antimoniato-n-173

(6)

metil glucamina), no entanto, a escolha de deverá considerar a faixa etária, 174

presença de gravidez e co-morbidades. Apesar de todas as medidas de 175

controle utilizadas, a doença continua se expandindo (MS, 2010). 176

Segundo Barata et al. (2005), a urbanização da LV se deve 177

possivelmente a mudança de comportamento do vetor, baseado em 178

modificações socioambientais, como o desmatamento, reduzindo a 179

disponibilidade de animais como fonte alimentar do flebotomíneo transmissor e 180

o processo migratório, atraindo para a periferia das cidades, populações 181

humana e canina originárias de áreas rurais onde a doença era endêmica. No 182

caso específico da introdução de cães infectados trazidos de regiões 183

endêmicas, tem se com o tempo, o estabelecimento oportunista da doença em 184

humanos (OLIVEIRA, 2001). 185

A atual situação faz pensar sobre as medidas viáveis que permitam 186

bloquear a propagação geográfica e diminuir o número de casos de LV em 187

grandes cidades com organização espacial semelhante a Belo Horizonte. De 188

acordo com o Ministério da Saúde do Brasil, a vigilância epidemiológica é um 189

dos pilares do Programa de Controle da Leishmaniose Visceral (PCLV) que 190

visa reduzir as taxas de morbidade e mortalidade através do diagnóstico e 191

tratamento precoce dos casos humanos, bem como diminuir os riscos de 192

transmissão mediante controle da população de reservatórios e vetores. As 193

áreas com maiores coeficientes de incidência humanos coincidem com os 194

distritos com maior prevalência da infecção canina (SILVA, 2000). 195

A vigilância da LV compreende a vigilância entomológica, de casos 196

humanos e casos caninos. No município de Belo Horizonte desenvolve-se a 197

análise da situação epidemiológica, com o objetivo de indicar as ações de 198

prevenção e controle a serem adotadas. 199

As ações de controle que são desenvolvidas nos distritos sanitários 200

incluindo o Barreiro são de forma sistemática e direcionada de acordo com a 201

estratificação das áreas de transmissão ou de risco, considerando os casos 202

humanos e também a incidência da doença na população da área. 203

Os percentuais de positividade canina e condições ambientais são 204

favoráveis à transmissão nas áreas com reincidência recente de casos 205

humanos. 206

(7)

São desenvolvidas ações de controle voltadas para o principal 207

reservatório urbano, o cão, com realização de exames laboratorial e retirada 208

dos cães soropositivos (MS, 2004). 209

Na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), a região do 210

Barreiro apresenta características epidemiológicas que favorecem a 211

transmissão de leishmaniose visceral. Degradações ambientais, migração de 212

populações carentes a grandes centros, locais sem saneamento básico, 213

animais de estimação sem o acompanhamento do controle de zoonose, 214

contribuem para a elevada prevalência da doença (MS, 2001). 215

Com mais de 150 anos, contados a partir do registro da Fazenda 216

Barreiro, datado de 3 de agosto de 1855, a região tornou-se um pólo que 217

integra Belo Horizonte a municípios vizinhos, com grande potencial de 218

desenvolvimento. Seu território de 53 km² de extensão ainda possui muitas 219

áreas desocupadas que atraem novos moradores e empresas, impulsionando o 220

crescimento local. 221

O presente trabalho tem como objetivo verificar a ocorrência da LV na 222

regional Barreiro (RMBH, MG) no período de 2001 a 2012 e relacionar os 223

fatores ambientais e epidemiológicos que contribuem para sua expansão. 224

225

2. Material e Métodos 226

Foi realizada uma coleta de dados junto à equipe do controle de 227

zoonoses e da epidemiologia da regional Barreiro, da Prefeitura de Belo 228

Horizonte, sobre o número de casos de LV diagnosticada entre os anos de 229 2001 e 2012. 230 231 2.1. Local de estudo 232

Localizada a sudoeste de Belo Horizonte, a região do Barreiro faz limite 233

com os municípios de Contagem, Ibirité, Brumadinho e Nova Lima (fig. 1). Ela é 234

formada por cerca de 80 bairros, com 70 mil domicílios que abrigam 283.544 235

habitantes, segundo o levantamento do Censo de 2010. A partir de 2004 o 236

distrito Barreiro vem se caracterizando como uma das mais recentes áreas de 237

aumento da incidência de LV.Segundo critérios sócios econômicos sanitários 238

esta população ocupa áreas urbanas de risco, o que contribui com a expansão 239

da doença. 240

(8)

Figura 1: Mapa Regional Barreiro 241 242 Fonte: PBH/GEREPI, 2013. 243 244 245 2.2. Procedimento 246

Foi realizada uma coleta de dados junto à equipe do controle de 247

zoonoses e da epidemiologia da regional Barreiro, da Prefeitura de Belo 248

Horizonte, disponibilizados pela referência técnica da secretaria municipal de 249

saúde e pelo portal de serviço sobre vigilância epidemiológica disponível no 250

site da prefeitura.

(9)

*Telmo Ferreira (comunicação social), Coordenador da Equipe do Controle de Zoonoses - Barreiro, em 26-05- 2013.

3. Resultados e Discussões 252

253

Entre o período analisado (2001 a 2012) foram notificados 89 casos de 254

LV humana com considerável aumento no numero de notificações entre os 255

anos de 2004 e 2006. Observou-se uma queda no ano de 2007, sendo mais 256

intensificada em 2010 (Gráfico 1). Em relação ao número de óbitos observou 257

se que a situação é estável apresentando um total de 12,3% de óbitos 258

notificados nos últimos 12 anos, com média de 1,1% variando de 0 a 3 óbitos. 259

Esse resultado é sensivelmente menor, quando comparado com o distrito oeste 260

onde foram identificados 103 casos positivos, com 14,5 % de óbito. Dos óbitos 261

registrados, boa parte ocorreram em crianças entre 2 a 5 anos e em idosos, 262

conforme informado por Telmo Ferreira* nota-se ainda uma maior incidência da 263

doença no sexo masculino. 264

Gráfico1: Casos humanos e óbitos de Leishmaniose Visceral (LV) no município de Belo Horizonte/MG, no

265

distrito sanitário Barreiro 2001-2012

266

267

Fonte: SMSA-BH, 2013. 268

269

Segundo Teixeira (1986), a razão da maior susceptibilidade das crianças 270

é explicada pelo estado de relativa imaturidade imunológica celular agravada 271

pela desnutrição, tão comum nas áreas endêmicas, além de uma maior 272

exposição ao vetor no peridomicílio. Por outro lado, o envolvimento do adulto 273

tem repercussão significativa na epidemiologia da LV, pelas formas 274

assintomáticas. 275

(10)

Com relação à Leishmaniose Visceral canina, observou-se uma ampla 276

distribuição de cães com sorologia positiva no Barreiro, de 149.813 amostras 277

examinadas, 9.179 (6,12%) estavam positivas pelas técnicas de ensaio 278

imunoenzimático (ELISA) como triagem e de imunofluorescência indireta (RIFI) 279

como confirmatório. A maior prevalência foi observada entre o ano de 2008 e 280

2010(Gráfico 2), onde 36,4% do total das amostras analisadas o que 281

corresponde a 3,6%, dos resultados positivos neste período, com um 282

decréscimo na positividade canina nos anos seguintes. 283

Gráfico 2: Amostras analisadas pelo controle de zoonoses no período de 2001-2012, positividade canina,

284

na regional Barreiro, BH.

285

286

Fonte: SMSA-BH, 2013. Total: 149.813 amostras analisadas, sendo positivas 9.179. 287

288

Na área urbana, o cão é a principal fonte de infecção para o vetor, e vem 289

sendo mais prevalente do que no homem. Até o momento, não foi verificada 290

predisposição racial, sexual ou etária relacionada com a infecção do animal 291

(SMSA, 2006). 292

Segundo Lopes (2009) a LV em cães tem ampla distribuição espacial, 293

estando presente nas nove regionais administrativas de Belo Horizonte e 294

apresenta tendência crescente dos coeficientes de incidência e de prevalência 295

em cães. O Barreiro apresenta uma das menores taxas de prevalência do 296

município, com média de 6,22%, entretanto suas taxas de soropositividade 297

crescem ao longo dos anos e atualmente seus números são tão preocupantes 298

quanto os das demais regionais. 299

Segundo o MS (2006) as ações de controle são desenvolvidas de forma 300

sistemática e direcionadas de acordo com a estratificação das áreas de 301

(11)

transmissão ou de risco, considerando os casos humanos, a positividade 302

canina e também condições ambientais favoráveis à transmissão da doença. 303

Gráfico 3: Boletim das atividades de campo realizadas pelo controle de zoonoses no período de

2001-304

2012, na regional Barreiro, BH. (amostra censitária, borrifação de imóveis em área de inquérito canino)

305

306

Fonte: SMSA-BH, 2013.

307

Observamos, conforme demonstrado no gráfico 2, que a partir do ano 308

de 2006 houve um aumento no número de casas borrifadas chegando a 5.979 309

imóveis de acordo com o inquérito canino censitário. Nos anos seguintes houve 310

um decréscimo nestes números, aumentando novamente no ano de 2009 e 311

2012, totalizando 13.132 imóveis. O controle do vetor é realizado por meio de 312

borrifações de imóveis com inseticida de ação residual para combate aos 313

insetos adultos, a fim de realizar controle. 314

O curioso é que, em 2010, período de maior prevalência canina (Gráfico 315

3), de 22.325 amostras analisadas, 2.000 eram positivas, com apenas 1.865 316

imóveis borrifados. Em 2006 foram analisadas 6.434 amostras, com 617 casos 317

positivos, o que pela a lógica no ano de 2010 o numero de imóveis borrifados 318

deveria ser maior de acordo com a positividade canina, representada neste 319

período, já que as ações são direcionadas de acordo com a realidade 320

epidemiológica existente. 321

Segundo relato da referência técnica do controle de zoonoses da 322

secretaria municipal de saúde (SMSA, 2012) a maioria dos casos notificados 323

ocorrem em áreas urbanas. 324

Durante o período de estudo os resultados mostram que os principais 325

aspectos responsáveis pela a expansão da doença nos bairros de Belo 326

(12)

Horizonte, em destaque no distrito Barreiro, nos últimos anos, são o aumento 327

de população de cães que hoje no barreiro chega a cerca de 35.240 cães 328

(GECOZ, 2012), muito destes sem um acompanhamento e cuidado adequado. 329

O processo de urbanização crescente, adaptação da Lutzomyia ao 330

ambiente urbano, que já adequou sua sobrevivência ao que pesquisadores 331

denominam de peridomicílio (as regiões ao redor das casas, como jardins, 332

bosques, hortas ou quintais), como demonstrado no Gráfico 4 resultado de um 333

levantamento feito em toda BH, das espécies de flebotomíneos capturados nas 334

áreas verdes do município. A L. longipalps foi encontrada em pequeno número, 335

o que reforça a mudança de seu habitat natural para as áreas urbanizadas. 336

São esses aspectos epidemiológicos que acarretam a expansão das 337

áreas endêmicas e também o aparecimento de novos focos (BRASIL, 2006). 338

339

Gráfico 4: Flebotomíneos capturados com armadilha de Shannon nos parques e reservas 340

florestais de Belo Horizonte.

341

Fonte: GECZO/SMSA, 2011. 342

Segundo a Vigilância Epidemiológica SMSA, (2006), os primeiros relatos 343

da ocorrência da LV no Barreiro ocorreram no ano de 1994, e até o ano de 344

2004, a doença se manteve estável. Em 2004 e 2006 as doenças voltam a 345

incidir e em 2010 observam-se a rápida elevação das notificações. Neste 346

período as distribuições espaciais apresentam uma homogeneidade numérica 347

de ocorrência da doença. Observam-se a correlação que os casos caninos 348

precedem os humanos e que a doença canina é um dos responsáveis pelo 349

avanço da doença humana (FEITOSA, 2000). 350

(13)

Conclusão 351

Os resultados encontrados impõem a importância de serem trabalhadas 352

juntamente com a comunidade as medidas de controle apropriadas, de forma a 353

sensibilizar essa população sobre a importância da preservação do ambiente, 354

como forma de se evitar a proliferação dos vetores e a retirada dos cães 355

positivos 356

O serviço da vigilância epidemiológica do distrito sanitário deveria ter 357

uma maior atenção a essa região, pois em períodos em que ocorreu grande 358

parte de infecção canina não houve a atenção adequada por parte do serviço 359

de borrifação nos imóveis. 360

Para sanar tal situação, devemos encarar o problema da leishmaniose 361

visceral como alta prioridade, reconhecendo como um problema de saúde 362

pública. 363

(14)

Referências 364

365

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Figura 1: Mapa Regional Barreiro 241  242       Fonte: PBH/GEREPI, 2013.  243  244  245  2.2
Gráfico 2: Amostras analisadas pelo controle de zoonoses no período de 2001-2012, positividade canina,
Gráfico 4: Flebotomíneos capturados com armadilha de Shannon nos parques e reservas

Referências

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