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Percepção da população sobre a importância do tratamento doméstico da água consumida em dois bairros do município de Codó (Maranhão, Brasil)

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RESUMO

Sabe-se, atualmente, que a origem da água de consumo e o seu tratamento por empresas destinadas a esse fim são importantes. Porém, além disso, é preciso que ela receba algum tipo de tratamento domiciliar antes de ser ingerida, visto que muitas pessoas não têm conhecimento sobre os riscos de doenças transmitidas pela água. O presente trabalho teve como objetivo realizar um estudo de percepção entre moradores de dois bairros do município de Codó (Maranhão) sobre a importância do tratamento doméstico da água consumida. Foram utilizados, como objetos de pesquisa, os seguintes bairros: Dalas (área nobre da cidade) e Santo Antônio (bairro mais carente). Para realização do trabalho, foram feitas pesquisas bibliográficas e de campo, destacando-se a aplicação de questionários. No Dalas, observou-se que em todos os casos a água é proveniente de rede geral de distribui-ção, chegando transparente aos domicílios e que, mesmo assim, ela sempre é filtrada pe-los moradores antes do consumo. No Santo Antônio, por outro lado, verificou-se que em alguns casos a água tem outra origem, como de poços. Além disso, nesse bairro, algumas vezes ela chega turva às casas, sendo que a maioria dos moradores não realiza nenhum tratamento doméstico antes que ela seja ingerida, pois acreditam que a mesma chega aos domicílios livre de impurezas. Enquanto no Dalas os entrevistados afirmaram não ser comum a diarreia entre moradores, no Santo Antônio foi registrado que esta aparece de forma mais frequente, em muitos casos. Alguns fatores sociais, como a escolaridade, a renda e a ocupação profissional, demonstraram manter relação com a forma de tratamen-to domiciliar da água. Além disso, a diarreia pareceu manter estreita relação com o não tratamento da mesma antes da sua ingestão.

Termos para indexação: Água filtrada, Água fervida, Doenças.

Percepção da população sobre a

importância do tratamento doméstico

da água consumida em dois bairros do

município de Codó (Maranhão, Brasil)

Ana Luiza Privado Martins1;

Meirinalva Batista Miranda Coelho2;

Walbert Sousa da Silva3;

1 Bióloga, professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão - Campus Codó, Brasil. E-mail: ana.lpm@ifma.edu.br; 2 Química, professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão - Campus Codó, Brasil;

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ABSTRACT

It is currently known that the source of drinking water and its treatment by enterprises for this purpose are important. But, in addition, it needs to receive some kind of home treatment before being ingested. Since many people do not have knowledge about the risks of waterborne diseases, this study aimed to realize a study of perceptions between residents of two neighborhoods in the city of Codó (Maranhão) about the importance of the treatment of the consumed domestic water. The following neighborhoods were used as research objects: Dallas (prime area of the city) and Santo Antônio (poorer nei-ghborhood). To perform the work, bibliographical and field researches were done, highli-ghting questionnaires. In Dallas, it was observed in all cases, that the water comes from the general distribution network, reaching transparent to households and nevertheless it is always filtered before consumption by the residents. In Santo Antonio, on the other side, it has been found in some cases that the water comes from another source, as wells. Furthermore, in this neighborhood, sometimes it gets blurred to the homes, and most re-sidents do not perform any domestic treatment before it is ingested, because they believe that it arrives free of impurities in homes. While in Dallas, respondents said that diarrhea was not common among residents, in Santo Antônio it was announced that it appears in most frequent basis in many cases. Some social factors, such as education, income and occupation, have demonstrated they maintain relation to the way water is treated at home. Diarrhea also seemed to keep close relation with untreated water before ingestion. Index terms: Filtered Water, Boiled Water, Diseases.

Population’s perception of the

importance of the domestic

treatment of consumed water at two

neighborhoods in municipality of Codó

(Maranhão, Brazil)

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1 INTRODUÇÃO

A água é uma riqueza natural essencial à vida na terra (BORJA et al., 2002) e é utiliza-da para inúmeras finaliutiliza-dades. Porém, ape-sar do planeta ser constituído em grande parte por esse recurso, verifica-se, ao longo dos anos, um grande aumento da sua de-gradação, o que acaba levando a diversos problemas relacionados à saúde humana. No Brasil, existem muitos estudos publica-dos referentes à água potável, podendo-se destacar os seguintes: Borja et al. (2002), Ramos et al. (2008), Santos et al. (2008) e Pereira et al. (2009). No estado do Mara-nhão, destaca-se o trabalho de Carmo et al. (2010). Verifica-se que os estudos realizados sobre a água de consumo humano tratam, no geral, sobre os problemas relacionados ao tratamento feito antes que ela chegue às casas. Porém, pouca atenção tem sido dada ao tratamento doméstico que a população dá a esse recurso, embora seja fator essen-cial para amenizar a contaminação por or-ganismos patógenos.

Sabe-se que a manutenção da qualidade da água distribuída exige certos cuidados. No entanto, verifica-se que, quando esta chega aos domicílios, pode haver um acondicio-namento inadequado, levando à sua con-taminação, pois há pouca orientação aos consumidores com relação à necessidade de cuidados especiais para que haja quali-dade dessa água.

De acordo com Caubet (2004), dois milhões de seres humanos, principalmente crian-ças, morrem anualmente nos países mais

pobres por causa de doenças gastrointesti-nais propagadas pela falta de água tratada. Segundo a Organização Mundial de Saúde, no Brasil “morrem atualmente 29 pessoas ao dia por doenças decorrentes da qualida-de da água e do não tratamento qualida-de esgo-tos, e estima-se que cerca de 70% dos leitos dos hospitais estejam ocupados por pes-soas que contraíram doenças transmitidas pela água” (OLÍMPIO JÚNIOR, 2007). Para Carvalho (2007), o tratamento é a melhor forma de reduzir a morbimortalidade rela-cionada ao consumo da água contaminada. Diante dessa realidade, este trabalho teve como objetivo realizar um estudo de per-cepção dos moradores de dois bairros do município de Codó (Maranhão) sobre a importância do tratamento doméstico da água consumida.

2 METODOLOGIA

O município de Codó está localizado na mesorregião leste do estado do Maranhão e encontra-se inserido na Microrregião de Codó, na qual encontram-se também os municípios de Timbiras, Coroatá, Peritoró, Capinzal do Norte e Alto Alegre do Mara-nhão. Segundo o IBGE (2010), possui uma área territorial de 4.365 km² e uma popula-ção aproximada de 118.038 indivíduos. O adensamento populacional desordenado é notório na cidade, em especial onde habi-ta a população de baixa renda, caracteriza-da pela alta taxa de analfabetismo.

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Foram utilizados no presente estudo dois bairros como objetos de pesquisa, os quais são o Dalas e o Santo Antônio. O primeiro é considerado uma área nobre da cidade, en-quanto no segundo observam-se inúmeros problemas de ordem socioeconômica. O estudo foi realizado entre janeiro e outu-bro de 2011. Para sua realização, foram fei-tas pesquisas bibliográficas, as quais cons-taram de buscas a assuntos relacionados à temática em estudo.

Foram também realizadas pesquisas de campo, nas quais foram feitas observações in loco e entrevistas à população, tendo como roteiro um questionário semi-estru-turado, baseado nos modelos propostos por Pereira et al. (2006) e Santos et al. (2008). Foi utilizado o método de amostragem de-finido como amostra não probabilística aci-dental, onde responderam ao questionário os habitantes do local presentes no momen-to em que a pesquisa era realizada e que se disponibilizaram para isso. Cabe dizer que para este trabalho foi entrevistado apenas um representante por domicílio amostrado e que o tamanho da amostra foi de 100 pes-soas, sendo 50 entrevistados por bairro. O questionário continha perguntas de cará-ter socioeconômico e questões referentes à percepção da população sobre a qualidade da água consumida, além de investigações sobre as doenças ocorrentes relacionadas ao consumo de água contaminada.

As informações obtidas através dos ques-tionários foram analisadas utilizando-se o programa JMP 3.0 (1995).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Através da pesquisa realizada, pôde-se ob-servar que 58% dos entrevistados eram do sexo feminino, enquanto 42% correspon-diam ao sexo masculino. A faixa etária que prevaleceu foi a de indivíduos entre 21 e 30 anos, correspondendo a 30% do total. 3.1 Bairro Santo Antônio

Com relação à escolaridade, 34% cursaram parte do ensino fundamental, mas há ain-da uma elevaain-da percentagem dos que cursa-ram nível superior (20%) (Figura 1.A). Como meios de informação, a maioria afirmou ter apenas a televisão em casa (72%) (Figura 1.B).

Figura 1: A. Escolaridade; B. Meios de informação dos

moradores do bairro Santo Antônio, Codó, Maranhão (NE: não estudou; EI: educação infantil; EFI: ensino fundamental incompleto; EFC: ensino fundamental completo; EMI: ensino médio incompleto; EMC: ensino médio completo; ES: ensino superior).

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15 Dentre as profissões citadas, destacaram-se

as de lavrador (20%) e de estudante (16%). Cabe ressaltar ainda, o elevado percentual de desempregados no bairro (12%) (Figura 2.A). Em se tratando da renda média mensal fa-miliar, 50% respondeu que esta consiste entre 1 e 2 salários mínimos e 30% afirmou que a mesma corresponde a menos de 1 sa-lário mínimo (Figura 2.B).

Figura 2: A. Profissão exercida; B. Renda mensal

média familiar dos entrevistados do bairro Santo Antônio, Codó, Maranhão (SM: salário mínimo).

Quanto ao número de moradores nos do-micílios amostrados, em 66% deles há en-tre 5 e 10 pessoas, enquanto em 34%, há mais de 10 pessoas (Figura 3.A).

Com relação à origem da água, 68% res-pondeu que esta é proveniente de rede

ge-ral de distribuição (Figura 3.B). Também se observou que para 82% dos entrevistados, essa água chega à residência com aspecto transparente, enquanto que para 18%, ela tem uma aparência turva (Figuras 4.A). No que diz respeito ao tratamento doméstico dado a mesma, 60% afirmou não tratá-la antes da ingestão, enquanto 38% relatou utilizar a filtração e, apenas 2%, a fervura (Figura 4.B).

Os entrevistados que não tratam a água de-fendem a ideia de que a mesma já chega às residências livre de contaminação.

Figura 3: A. Quantidade de moradores na casa; B.

Origem da água nas residências amostradas no bairro Santo Antônio, Codó, Maranhão (RGD: rede geral de distribuição).

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Figura 4: A. Aparência da água que chega às casas; B.

Tratamento doméstico dado à água pelos moradores do bairro Santo Antônio, Codó, Maranhão.

Observou-se que a diarreia ocorre na maior parte dos domicílios, seja de forma freqüen-te (36%) ou rara (18%) (Figura 5).

Figura 5: Frequência de diarreia nos domicílios do

bairro Santo Antônio, Codó, Maranhão.

3.2 Bairro Dalas

Em se tratando da escolaridade, a maioria (58%) cursou o ensino superior, sendo que

o nível escolar mais baixo registrado no bairro foi o ensino fundamental completo, cursado por 2% da amostra (Figura 6.A). Como meios de informação, a maioria afir-mou ter apenas a televisão em casa (48%) (Figura 6.B).

Figura 6: A. Escolaridade; B. Meios de informação

dos moradores do bairro Dalas, Codó, Maranhão (EFC: ensino fundamental completo; EMI: ensino médio incompleto; EMC: ensino médio completo; ES: ensino superior).

As profissões mais citadas foram as seguin-tes: estudante (28%), secretário (10%) e professor (8%). O total de desempregados atingiu 6% da amostra (Figura 7.A). Outras profissões somaram 42%, podendo ser ci-tadas: médico, engenheiro, fisioterapeuta, autônomo, nutricionista, dentre outras. Com relação à renda média mensal familiar, para 50% esta consiste entre 1 e 2 salários

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mí-17 nimos e para 26%, entre 2 e 3. Há ainda os

que afirmam ter uma renda maior que 3 salá-rios (18%), enquanto apenas 6% possui ren-da menor que 1 salário mínimo (Figura 7.B).

Figura 7: A. Profissão exercida; B. Renda mensal

média familiar dos entrevistados do bairro Dalas, Codó, Maranhão (SM: salário mínimo).

Em 74% dos casos, o número de moradores nos domicílios é menor que 5, enquanto em apenas 26% essa quantidade fica entre 5 e 10 pessoas (Figura 8.A).

Figura 8: A. Quantidade de moradores nas casas

amostradas no bairro Dalas, Codó, Maranhão.

Com relação à origem da água, 100% res-pondeu que esta é proveniente de rede ge-ral de distribuição. Também foi registrado que para 100% dos entrevistados, essa água chega à residência com aspecto transparen-te. No que diz respeito ao tratamento do-méstico dado a mesma, 100% afirmou uti-lizar a filtração. Tal método é tido por eles como o mais eficiente. Segundo relatos, fica claro que os entrevistados acreditam que o sistema de tratamento e distribuição da água na cidade é bastante deficiente.

Segundo os relatos, a diarreia não é comum no domicílio de 100% dos entrevistados.

3.3 Comparação entre os bairros

Pôde-se verificar, diante dos dados, que no Dalas foi registrado maior número de pes-soas com nível superior, enquanto no Santo Antônio há ainda os que não tiveram acesso aos estudos. Observou-se, no segundo, que as profissões mais citadas foram aquelas que não necessitam de um nível de escolaridade elevado, que grande parte dos entrevistados tem uma renda mensal familiar muito bai-xa e que a quantidade de pessoas na casa é elevada. O contrário ocorreu no Dalas, onde muitas das ocupações citadas exigem formação em curso superior, a renda men-sal familiar é bem mais elevada e a quanti-dade de moradores por domicílio é menor. Sabe-se que a formação escolar, atualmente, exerce grande influência sobre a renda de qualquer trabalhador, pois quanto maior a escolaridade, maior também é o salário ad-quirido por ele.

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Os dois bairros registraram muitos meios de informação presentes nas casas, desta-cando-se a televisão. Tem-se conhecimento de que a televisão não é um simples meio de informação e veiculação de conteúdos específicos, mas consiste no mais poderoso meio de comunicação de massas, articulan-do-se com todas as instâncias sociais. Cabe enfatizar que ela pode consistir em uma ferramenta eficaz para conscientização so-bre o tratamento domiciliar da água.

No Dalas, observou-se, que em todos os casos, a água é proveniente de rede geral de distribuição, chegando transparente aos domicílios e que, mesmo assim, ela sempre é filtrada pelos moradores antes do consu-mo. No Santo Antônio, por outro lado, ve-rificou-se que em alguns casos a água tem outra origem, como de poços. Além disso, nesse bairro, a água algumas vezes chega turva às casas, sendo que a maioria dos moradores não realiza nenhum tratamento doméstico antes que ela seja ingerida. É importante ressaltar que, se a água não for devidamente tratada, pode afetar a saú-de do homem saú-de várias maneiras, como exemplo, pela ingestão direta (FUNASA, 2004). O perigo à saúde se deve ao fato de que ela pode ser um importante veículo de agentes biológicos e químicos potencial-mente nocivos ao homem quando há falta de cuidado e efetivo tratamento, compro-metendo assim, a saúde e o bem-estar da comunidade (D’ÁGUILA et al., 2000). Enquanto no Dalas os entrevistados afir-maram não ser comum a diarreia entre os moradores, no Santo Antônio foi

registra-do que esta aparece de forma frequente em muitos casos.

Várias são as doenças de veiculação hídrica existentes, sendo a diarreia um sintoma bem característico da maioria delas. Apesar de 100% dos entrevistados no Dalas terem res-pondido que nunca ocorre diarreia em seu domicílio, sabe-se que ela é bem comum nas populações em geral, visto que não é só con-sequência da ingestão de água contaminada.

3.4 Tratamento doméstico da água ver-sus fatores sociais

Quando dados referentes ao tratamento doméstico da água e à escolaridade foram cruzados, pôde-se perceber que existe certa relação entre eles. Observou-se que, quan-to menor a escolaridade, mais o tratamenquan-to doméstico da água é negligenciado, sendo que todos os entrevistados que não tiveram a oportunidade de estudar, responderam que não dão tratamento algum à água antes de sua ingestão. Porém, é importante notar que, mesmo sendo considerados indivídu-os com maior grau de instrução, 2 pessoas com nível superior afirmaram não fornecer nenhum tipo de tratamento à água antes de consumi-la (Tabela 1).

Tabela 1: Relação entre tratamento domés-tico dado à água e escolaridade nos bairros Dalas e Santo Antônio, Codó, Maranhão (NE: não estudou; EI: educação infantil; EFI: ensino fundamental incompleto; EFC: ensino fundamental completo; EMI: ensi-no médio incompleto; EMC: ensiensi-no médio completo; ES: ensino superior).

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TRATAMENTO DADO À ÁGUA ESCOLARIDADE

NE EI EFI EFC EMI EMC ES TOTAL

Fervura 0 0 1 0 0 0 0 1

Filtração 0 0 2 2 6 22 37 69

Nenhum 4 1 14 1 5 3 2 30

TOTAL 4 1 17 3 11 25 39 100

Ao serem relacionados a renda mensal média por família e os tipos de tratamento domés-tico dados à água, notou-se que todas as pessoas com renda maior que 3 salários mínimos preferem realizar a filtração da água antes de ingeri-la. Por outro lado, a maioria dos entre-vistados cuja renda é menor que 1 salário mínimo não realiza nenhum mecanismo para tratamento da mesma (Tabela 2).

Tabela 2: Relação entre tratamento doméstico da água e renda mensal média familiar nos bairros Dalas e Santo Antônio, Codó, Maranhão (SM: salário mínimo).

TRATAMENTO DADO À ÁGUA RENDA MENSAL

< 1 SM 1-2 SM 2-3 SM > 3 SM TOTAL

Fervura 1 0 0 0 1

Filtração 3 35 21 10 69

Nenhum 14 15 1 0 30

TOTAL 18 50 22 10 100

Vários estudos têm demonstrado, por meio de análises bacteriológicas de água que, prin-cipalmente em zonas rurais e periféricas, é alto o índice de amostras consideradas inade-quadas ao consumo humano. Isso evidencia os efeitos indesejáveis da falta de saneamen-to, ou seja, da falta de cobertura da rede de abastecimento de água e esgosaneamen-to, somando-se a esse fato a pobreza, a baixa qualidade de vida e o nível educacional da população (FIGUEI-REDO et al., 1998; VALENTE et al.,1999; D’ ÁGUILA et al., 2000).

Cruzando-se dados relacionados à ocupação profissional e ao tratamento da água, perce-beu-se que todos os lavradores entrevistados não tratam a água de forma alguma, assim como a maioria das diaristas. É importante citar que para 3 estudantes e 1 professor, essa realidade também se faz presente (Tabela 3).

Tabela 3: Relação entre tratamento doméstico dado à água e ocupação profissional nos bairros Dalas e Santo Antônio, Codó, Maranhão (A: desempregado; B: Lavrador, C: diaris-ta, D: vendedor; E: estudante; F: professor; G: outra).

TRATAMENTO DADO À ÁGUA OCUPAÇÃO PROFISSIONAL

A B C D E F G TOTAL

Fervura 1 0 0 0 0 0 0 1

Filtração 4 0 1 4 19 7 34 69

Nenhum 4 10 3 1 3 1 8 30

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No que se refere à relação entre tratamento da água e frequência de diarreia nos domi-cílios estudados, observa-se que o desconforto intestinal é bem comum em residências onde não há fervura nem filtragem do líquido em questão. Por outro lado, na maioria das moradias onde se filtra a água, segundo relatos, a diarreia não ocorre (Tabela 4).

Tabela 4: Relação entre tratamento doméstico dado à água e frequência de diarreia no bairro Santo Antônio, Codó, Maranhão.

TRATAMENTO DADO À ÁGUA FREQUÊNCIA DE DIARREIA

Nunca Raramente Frequentemente TOTAL

Fervura 0 0 1 1

Filtração 67 2 0 69

Nenhum 6 7 17 30

TOTAL 73 9 18 100

Houve relatos de frequência da diarreia na residência cujo morador afirmou adotar a fer-vura da água. De acordo com Pádua (2009), esse é um dos meios mais antigos e eficazes para tratamento da água. Entretanto, tem-se o conhecimento de que esse recurso pode ser contaminado durante o armazenamento caseiro. Além disso, a diarreia pode ter outras causas, como, por exemplo, a ingestão de alimento contaminado e, conforme Messias (2013), a utilização de substâncias terapêuticas (como antibióticos e anticoncepcionais). Silva et al. (2009) defende que se deve dar atenção especial às tubulações, reservatórios e equipamentos de tratamento de água, bem como às práticas de higiene domiciliares. Segundo Macêdo (2004), a contaminação da água ocorre principalmente por dejetos pro-venientes do homem e de animais, dentre outros, favorecendo a persistência e/ou o de-senvolvimento de microrganismos patogênicos que podem transmitir ao homem princi-palmente doenças gastrintestinais.

5 CONCLUSÕES

Observou-se, através do presente estudo que, na maioria dos casos, a água é proveniente de rede geral de distribuição. Porém, enquanto no Dalas predominou a filtração como tratamento caseiro dado à água, no Santo Antônio, em muitas moradias, não é dado tra-tamento algum antes do seu consumo.

Alguns fatores sociais, como a escolaridade, a renda e a ocupação profissional, demonstra-ram ter relação com a forma como a água é tratada nos domicílios. Além disso, a diarreia pareceu manter estreita relação com o seu não tratamento antes da ingestão.

Os resultados evidenciaram a carência de informações relacionadas aos perigos do consu-mo de água contaminada pela população, em especial no bairro Santo Antônio, o que de-monstra a necessidade de sensibilizar a comunidade sobre as vantagens de ações simples, como fervura e filtração da água a ser ingerida.

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REFERÊNCIAS

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Imagem

Figura 1: A. Escolaridade; B. Meios de informação dos  moradores do bairro Santo Antônio, Codó, Maranhão  (NE: não estudou; EI: educação infantil; EFI: ensino  fundamental incompleto; EFC: ensino fundamental  completo; EMI: ensino médio incompleto; EMC:
Figura 2: A. Profissão exercida; B. Renda mensal  média familiar dos entrevistados do bairro Santo  Antônio, Codó, Maranhão (SM: salário mínimo).
Figura 5: Frequência de diarreia nos domicílios do  bairro Santo Antônio, Codó, Maranhão.
Figura 7: A. Profissão exercida; B. Renda mensal  média familiar dos entrevistados do bairro Dalas,  Codó, Maranhão (SM: salário mínimo).
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