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Roberto Bolaño e Patricio Pron: arquivos da violência na literatura latino-americana contemporânea

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Revista Literatura em Debate, v. 12, n. 23, p. 56-68, jul./dez. 2018. Recebido em: 09 mar. 2018. Aceito em: 28 maio 2018.

ROBERTO BOLAÑO E PATRICIO PRON:

ARQUIVOS DA VIOLÊNCIA NA LITERATURA LATINO-AMERICANA CONTEMPORÂNEA

ROBERTO BOLAÑO Y PATRICIO PRON:

ARCHIVOS DE LA VIOLENCIA EN LA LITERATURA LATINOAMERICANA CONTEMPORÁNEA

Bárbara Xavier França1 Resumo: A partir da formulação sobre o “mal de arquivo” levada a cabo por Jacques Derrida, propomos pensar a operação de seriação de fatos e documentos nos romances 2666, do autor chileno Roberto Bolaño, e El espíritu de mis padres sigue subiendo en la lluvia, do argentino Patrico Pron, como esforço de criar um inventário da violência. Abordando os feminicídios no México e os desaparecimentos forçados na Argentina, as duas obras convocam a discussão acerca da vida dos que não importam e permitem a aproximação com temas como memória, trauma e impossibilidade do luto. Neste texto, propomos pensar ainda a literatura latino-americana contemporânea em uma perspectiva pós-ditatorial.

Palavras-chave: literatura latino-americana contemporânea; Roberto Bolaño; Patricio Pron; violência; luto.

Introdução

A morta apareceu num terreno baldio na colônia Las Flores. Vestia camiseta branca de manga comprida e saia amarela até os joelhos, um número maior. Uns garotos que brincavam no terreno a encontraram e avisaram os pais. A mãe de um deles telefonou para a polícia, que chegou meia hora depois. O terreno dava para a rua Peláez e a rua Hermanos Chacón, depois se perdia numa vala detrás da qual se erguiam os muros de uma leiteria abandonada e já em ruínas. Não havia ninguém na rua, de modo que num primeiro momento os policiais pensaram que era um trote. Apesar de tudo, pararam o carro patrulha na rua Peláez e um deles entrou no terreno baldio. Logo descobriu duas mulheres de cabeça coberta, ajoelhadas sobre o mato ralo, rezando. As mulheres, vistas de longe, pareciam velhas, mas não eram. Diante delas jazia o cadáver. Sem interrompê-las, o policial deu meia-volta e com gestos chamou o companheiro que esperava fumando dentro do carro. Depois os dois voltaram (um deles, o que não havia descido, com a pistola na mão) até onde estavam as mulheres e ficaram de pé junto a elas observando o cadáver. O que estava com a pistola na mão perguntou se a conheciam. Não, senhor, respondeu uma das mulheres. Nunca tínhamos visto. Esta criatura não é daqui (BOLAÑO, 2010, p.343).

1 Doutoranda em Teoria da Literatura e Literatura Comparada pelo Programa de Pós-graduação em Estudos

Literários da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais. É mestre em Comunicação Social/Pragmáticas da Imagem pelo Programa de Pós-graduação em Comunicação da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais. Possui graduação em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Federal de Minas Gerais.

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Revista Literatura em Debate, v. 12, n. 23, p. 56-68, jul./dez. 2018. Recebido em: 09 mar. 2018. Aceito em: 28 maio 2018.

O primeiro parágrafo da “parte dos crimes”, quarta das cinco que integram o imenso romance 2666, do autor chileno Roberto Bolaño lançado postumamente em 2004, chega como um golpe. Isso pelo aspecto bruto, até inesperado, com que o capítulo cai sobre o colo do leitor que vinha acompanhando, nas partes anteriores, a história de críticos literários europeus atrás de um misterioso autor, de um professor universitário espanhol auto-exilado no México e de um jornalista norte-americano incumbido de cobrir a investigação de uma série de feminicídios em curso no norte daquele país. Todos atravessados pela latência dessa violência – sobretudo, mas de várias outras naturezas também –, os capítulos anteriores ao dos crimes, no entanto, não chegam a atingir esse grau de crueza na linguagem. Apresentando narrativas, pode-se dizer, de estrutura clássica, flertando com o suspense do romance policial, os três primeiros capítulos de 2666 não preparam de todo o terreno para a quebra que representa a parte dos crimes.

Este primeiro parágrafo, de alguma forma, é modelo para tantos outros que se seguirão por mais de 300 páginas – conforme edição brasileira –, com detalhes precisos sobre a roupa com que as vítimas foram encontradas, que tipos de escoriações pelo corpo denunciavam, as possíveis

causa mortis e a constatação, praticamente em todos os casos, de estupro. O que essa parte de 2666

faz é praticamente um inventário das centenas de homicídios de mulheres que ocorreram durante os anos 1990 na fronteira do México com os Estados Unidos. Dá-se nome e sobrenome a cada um dos cadáveres que passaram a aparecer no entorno de Ciudad Juárez – a Santa Teresa do livro –, enquanto a população seguia seu cotidiano o mais comezinho e as autoridades pareciam não muito se importar. Após o capítulo, o romance continua ainda com uma parte final, “A Parte de Archimboldi”, o tal escritor misterioso do início, fazendo parecer com que os crimes foram um anexo – porém, não avulso – colocado no interior do livro.

A mesma sensação de quebra é sentida na leitura de El espíritu de mis padres sigue

subiendo em la lluvia, romance do escritor argentino Patricio Pron, lançado em 2011. Narrado

em primeira pessoa já com a estrutura fragmentária de parágrafos numerados, o livro, constituído por quatro capítulos e um epílogo, aborda o retorno para casa do narrador cujo pai está no hospital em estado muito grave. Pron, que coloca seu nome no protagonista do livro, vive na Alemanha, onde é professor em uma universidade, e não voltava à Argentina fazia bastante tempo. Os capítulos, então, acompanham a reaproximação do narrador com seus pais e irmãos e com espaços e afetos que fizeram parte de sua infância e adolescência. Na tentativa de conhecer melhor aquele pai com quem não tivera muito contato e de quem guardava memórias negativas, ele acaba reencontrando a história de violência do seu país de origem. Após uma primeira parte

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Revista Literatura em Debate, v. 12, n. 23, p. 56-68, jul./dez. 2018. Recebido em: 09 mar. 2018. Aceito em: 28 maio 2018.

dedicada a esse contato que motiva tentativas de elaboração da própria trajetória de Pron, um movimento algo psicanalítico, o leitor entra em contato com fatos que excedem a existência mesma dos personagens até então apresentados. De agora em diante, El espíritu de mis

padres...2passa a ser sobre o desaparecimento de Alberto Burdisso.

Não de forma tão brusca quanto a parte dos crimes de 2666, o segundo capítulo do romance de Pron continua a situação da abertura de pastas do pai já anunciada nas páginas anteriores. Mas logo a narrativa em primeira pessoa cede espaço para a transcrição de uma série de reportagens jornalísticas coletadas ao longo de 2008 relacionadas ao caso do sumiço e confirmação de assassinato do habitante de uma pequena cidade da província de Santa Fe.

<< Alberto Burdisso é um cidadão de El Trébol e empregado do Clube Trebolense há muitos anos. O mistério sobre [sic] sua pessoa começou a crescer quando, em uma segunda-feira, não apareceu para trabalhar e nem voltou na terça. Desse momento em diante, começaram a aparecer investigações e comentários e os próprios companheiros de trabalho começaram a averiguar por conta própria, indo até a casa na rua Corrientes e constatando que não havia movimento no lugar, só [sic] sua bicicleta jogada no pátio [,] vigiada por seu cachorro [,] que se encontrava fora (...)>>(PRON, 2011, p.58)3.

Guardando os erros de grafia da publicação, as transcrições dos textos de jornal compõem uma série que respeita a cronologia dos acontecimentos e coloca o leitor no lugar de quem acompanha o caso dia após dia, novidade após novidade. Sem, no entanto, parecer querer construir um suspense e sim apresentar um compilado de fatos. Em 2666, o compilado de relatos das mortes monta, conforme Gustavo Silveira Ribeiro (2016), no texto Todos os nomes, o

nome: arquivo e violência na cultura latino-americana contemporânea, um “(...) enorme

arquivo dos assassinatos” (RIBEIRO, 2016, p.55). Privilegiando a repetição, os parágrafos, no romance de Bolaño, ainda segundo o autor, trazem uma linguagem neutra que se aproxima do linguajar técnico dos boletins de ocorrência policiais ou das peças documentais de cartórios. Esse aspecto catalogador, semelhantemente perceptível na obra de Pron, também se aproxima, e é o que queremos defender aqui, do valor de documento. Não à toa a epígrafe do segundo capítulo de El espíritu de mis padres... é um trecho do ensaio Las tres fechas, do escritor argentino

2 Devido à extensão do título do livro, vamos usar ao longo deste trabalho tal abreviação.

3 Tradução nossa. No original: << Alberto Burdisso es un ciudadano de El Trébol y empleado Del Club Trebolense

desde hace muchos años. El mistério en cuanto [sic] a su persona comenzó a agigantarse cuando el lunes no se apersonó [sic] a trabajar y tampoco lo hizo el martes. Desde ese momento comenzaron a tejerse investigaciones y comentarios y los propios compañeros de la institución empezaron a averiguar por sus médios, yendo a su domicilio de calle Corrientes y viendo que no había movimiento em el lugar, solo [sic] su bicicleta tirada en el pátio[,] custidiada por su perro[,] que se encontraba afuera (...)>>.

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César Aira, que diz: “[...] tinha que pensar em uma atitude, ou em um estilo, por meio dos quais o escrito se tornasse documento”4.

O termo “documento” usado para se referir aos dois momentos específicos nas obras apresentadas sugere um intento de preservação de casos de violência ocorridos na América Latina. Reunir os recortes de jornal em uma pasta e guardá-los no escritório, como faz o citado pai, já sugere esse esforço. No entanto, ao trazer (ou criar) os documentos, seja do boletim policial, seja das páginas do jornal, para livros – objetos histórica e culturalmente qualificados como duráveis –, algum intento de salvaguardá-los parece ser levado a cabo pelos próprios autores, no caso, Bolaño e Pron. Mas salvaguardá-los precisamente de que?

O pensador francês Jacques Derrida (2001), dialogando com a psicanálise de Freud em

Mal de Arquivo, diz que mais do que remeter ao passado, o movimento de arquivamento diz

mais sobre uma preocupação com o futuro. Distanciando-se da versão clássica de arquivo, qual seja, a de que eles são algo objetivo que reflete de fato o que ocorreu na experiência histórica (Joel Birman, 2008), Derrida (2001) coloca que o arquivo não só auxilia na lembrança dos fatos, como também os cria. Na esteira do pensador, propomos indagar o trabalho com arquivos da violência e seus sentidos na parte dos crimes de 2666 e no segundo capítulo de El espíritu de mis

padres... e pensar o que eles criam para e junto com o presente latino-americano. Interessa-nos,

ainda, discutir a expansão das fronteiras do literário na produção cultural contemporânea do subcontinente e suas possíveis potências políticas.

Arquivos do mal

Em uma primeira leitura, a caracterização dos relatos trazidos em 2666 e em El espíritu

de mis padres... permite a associação com o arquivo de versão clássica pelo teor de seu

conteúdo. Como dissemos, há a explanação de dados detalhados sobre roupas, idade possível, número de hematomas, facadas e/ou queimaduras pelo corpo, marcas de violação na vagina e no ânus, etc... Ainda que sejam trazidos em sua crueza técnica, sem afetação moral, os inúmeros parágrafos de assassinatos causam desconforto e choque em quem lê pelo flerte com a banalidade e pelo volume de brutalidade. E aqui falamos tanto em quantidade quanto intensidade.

Essas escolhas de linguagem e a opção por dedicar uma parte inteira do romance ao caso dos feminicídios sugerem que se trata se algo historicamente importante, se lembrarmos que vivemos em um mundo em que papel e espaço e o tempo dedicado a eles valem muito dinheiro.

4Tradução nossa. No original: “[...] habría que pensar em una actitud, o en un estilo, por los cuales lo escrito se

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Dentro dessa economia da importância, poder-se-ia linkar o capítulo à ideia de arquivo na medida em que, preservando um catálogo de vítimas, ele pode se tornar objeto de consultas futuras sobre a origem dos fatos, auxiliar em julgamentos e, quem sabe, impedir que ocorram novamente. Tal sequência de argumentos é a que costumeiramente – e classicamente, para empregar a terminologia de Derrida (2001) – se ouve quando se está justificando a preservação de patrimônios, de monumentos, de memorais e claro, dos arquivos em que são baseados. Ocorre que, na realidade anterior ao livro, os casos de assassinatos não chegaram a receber o valor de algo arquivável.

O momento histórico a cruzar as mortes, conforme Ribeiro (2016), é o da implacável guerra às drogas declarada pelos EUA, que acarretou perseguições e um intenso controle de fronteiras ainda inédito na história norte-americana. Com o tráfico se tornando uma atividade ainda mais lucrativa, o México, por sua localização estratégica, passou a ser destino de grupos ligados ao comércio internacional de narcóticos, fazendo com que desencadeasse na região algo como uma guerra civil na surdina. Ainda conforme o autor, a corrupção de políticos e da polícia, associada ao aumento da violência e ao abandono de áreas inteiras por parte do Estado assentou o terreno para o desenvolvimento dessa situação em que mulheres são mortas quase diariamente sem nenhum motivo que ao menos tente justificar o inadmissível e sem mobilizar uma ação sistemática por parte dos governos para sua erradicação. Fato é que as vítimas são mulheres em sua maioria pobres e o dado já parece comportar toda e qualquer explicação.

Voltando à etimologia da palavra arquivo, Derrida (2001) lembra que arkhé, do grego, comporta dois significados. Um é começo e o outro, comando. O primeiro está relacionado à natureza ou à história, diz respeito ao lugar onde as coisas começam, é o princípio físico, ontológico. Mas arkhé também comporta “(...) o princípio da lei ali onde os homens e os deuses comandam, ali onde se exerce a autoridade, a ordem social, nesse lugar a partir do qual a ordem é dada – princípio nomológico” (DERRIDA, 2001, p.11). De acordo com Joel Birman (2008), comentando o texto de Derrida, o arquivo seria, dessa forma, composto pela articulação do registro cognitivo, ligado ao princípio ontológico, o ético e o político, associado ao princípio nomológico.

De maneira geral, conforme o autor, “(...) o arquivo seria um conjunto de documentos que remeteriam a diversos acontecimentos que ocorreram numa dada ordem social” (BIRMAN, 2008, p.115), como, defendemos, os documentos de 2666 e de El espíritu de mis padres.... No entanto, ele completa, “(...) tais documentos recobriram os tratamentos prévios de decantação e

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de classificação, que implicariam o agenciamento realizado pelo poder propriamente dito” (ibidem, p.115).

Isso significa dizer que o registro do controle, na maioria das vezes, fica imperceptível nos arquivos, embora ele atue tão fortemente quanto o registro do começo. Há, é preciso saber, uma relação de poder sobre o que é ou não arquivável que remonta ao manejo com os documentos na antiguidade. O “(...) sentido de ‘arquivo’, seu único sentido, vem para ele do arkheîon grego: inicialmente uma casa, um domicílio, um endereço, a residência dos magistrados superiores, os arcontes, aqueles que comandavam” (DERRIDA, 2001, p.12). Derrida (2001) lembra, com essa informação, que sempre houve quem fosse delegado a determinar o arquivo e, na sua autoridade e força, também delegado a determinar para ele um lugar e um domicílio. Permanecendo assim, conforme Birman (2008), algo da dimensão do segredo relacionado ao arquivo.

Não se tratando apenas de reunir uma série de dados para [tentar] atestar uma origem, então, poderíamos dizer que a parte dos crimes contra as mulheres pobres da zona fronteiriça entre o México e os EUA em 2666 coloca esses acontecimentos numa disputa por uma agenda política que é toda ela uma disputa de poder. É como se ecoasse, nesse trabalho de fôlego por parte do Bolaño, a reivindicação: “esses acontecimentos importam”. Em El espíritu de mis

padres..., o empenho arcôntico é colocado duplamente, tanto pelo pai do narrador, que reúne os

recortes, tanto por Pron, que os inclui e reproduz integralmente em sua obra literária.

O protagonista da toda a cobertura jornalística, Alberto Burdisso, a princípio um “qualquer”, recebe o estranhamento da mídia por de repente ter sido vítima de maquinação criminosa não cruel, e também do próprio narrador, que se surpreende com a completa coleção de matérias encontrada no escritório do pai. “Então é porque vivia na mesma pequena cidade em que meu pai cresceu, a cidade para a qual costumava voltar periodicamente e onde minha irmã vive, pensei na primeira vez que li a notícia” (PRON, 2011, p.60)5, escreve o narrador, tentando de saída estabelecer um paralelo a entre a experiência íntima de sua família e o fixação pelo desaparecimento seguido da confirmação de assassinato de um anônimo do interior.

Com o decorrer da leitura dos recortes, com “(...) a sintaxe é difícil de entender e o dialeto policial ridículo” (ibidem, p.60)6, como classifica Pron, descobre-se que Antonio Burdisso tem cerca de 60 anos, vivia sozinho e era um cidadão pacato. Por ter recebido do Estado argentino, dois anos antes, uma considerável indenização, isso atiçou o interesse de criminosos que se

5 Tradução nossa. No original: “Entonces es porque vivia en la misma pequeña ciudad en la que creció mi padre, la

ciudad a la que solía volver periódicamente y donde vive mi hermana, pensé la primera vez que leí la noticia”

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aproximassem do homem, armassem uma trama para que ele assinasse documentos de união estável e de transferência de bens. O homicídio foi cometido para que os autores do crime tivessem direito a ainda mais dinheiro. Burdisso foi jogado em uma vala de mais de 11 metros e recebeu quilos de terra e escombros por cima, o que acabou por asfixiá-lo.

O detalhe da indenização se torna chave para a ação dos delinqüentes e, sobretudo, para o quebra-cabeças em processo de montagem pelo pai e, por tabela, pelo narrador. 240 mil pesos, cerca de 56 mil dólares à época, foi o dinheiro que o governo depositou na conta de Antonio Burdisso como ressarcimento pelo desaparecimento de sua irmã quando da ditadura militar. O esforço arcôntico que estaria sendo manifesto pelo segundo capítulo de El espíritu de mis

padres... começa com o desaparecimento de um homem em 2008 e desemboca, depois de

percorrer 70 páginas de documentos, no desaparecimento de uma jovem militante em 1977. Alicia Burdisso tinha 31 anos e era irmã mais nova de Antonio.

Seguindo o mesmo raciocínio que a leitura da parte dos crimes de 2666 conduz, poderíamos dizer que a obra de Pron não só atesta que um caso de desaparecimento na Argentina importa, quanto o colocar em relação com uma história maior em curso e sem pretensões de acabar. Sem lidar com os documentos oficiais constituintes dos arquivos do poder

de fato, como colocaria Derrida (2001), o livro de Pron opera uma inversão, transforma aquilo que

um cidadão comum tem à mão, ou seja, o jornal – com suas indefinições, erratas, “vai’s e vem’s” no caso, opinião de “povo fala” e demais seções arbitrárias – também em arquivo, com toda a dimensão que a palavra comporta. Especialmente a da criação.

Criar a pós-ditadura

Ao abordar a serialização na parte dos crimes em 2666, Ribeiro (2016) reivindica uma perspectiva pós-ditatorial para sua leitura. O autor busca o conceito na obra Alegorias da

Derrota, de Idelber Avelar (2003), que analisa romances de escritores latino-americanos

publicados da primeira metade da década de 1980 até o início dos anos 1990. Na leitura destas alegorias, como categoriza o Avelar (2003), do fracasso de uma utopia diante da realidade dos golpes de Estado e do embrutecimento dos regimes militares, “pós-ditatorial” aparece como uma marcação não apenas temporal, como também qualitativa. Num texto pós-ditatorial, pode-se apreender, conforme o autor, “(...) a incorporação dessa derrota [das narrativas nacionais e do lugar do Estado para Mercado, por exemplo] em seu sistema de determinações” (AVELAR, 2003, p.27). Pós-ditatorial passa a ser, então, uma possibilidade de se fazer um recorte epocal de

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análise, mas também uma maneira de se olhar para os objetos da cultura em sua temporalidade complexa, percebendo-os ainda carregados de tensões e traumas relacionados às ditaduras e aos regimes de exceção de um passado não muito distante.

Embora as dicções alegóricas, testemunhais ou historiográficas, aponta Avelar (2007) no texto Figurações da violência e da memória no romance argentino contemporâneo:

Martin Kohen e Gustavo Ferreyra, não sejam mais a estética hegemônica na produção do

presente, a ideia do pós-ditatorial continua sendo potente, conforme Ribeiro (2016). Trazer a perspectiva pós-ditatorial para pensar 2666 é considerar a latência, na obra, de uma derrota histórica e, ainda, considerar “(...) que a literatura e a arte participam de um impossível trabalho do luto, virtualmente infinito, mas que por isso mesmo deve ser realizado sem cessar” (RIBEIRO, 2016, p.46).

Estudando os espectros de Walter Benjamin na discussão sobre violência em Jacques Derrida, Avelar7 (2011) vincula o trabalho de luto à possibilidade de justiça. Ele aponta que “só a partir do imperativo do luto legado pela miséria passada é possível vislumbrar uma justiça mais além do direito e da lei, uma justiça radicalmente aberta ao futuro, irredutível ao futuro-presente da metafísica” (AVELAR, 2011, p.82). Por futuro-presente da metafísica, o autor está pensando na “(...) concepção de futuro que informa todas as jurisprudências, liberais ou não, universalistas ou não” (ibidem, p.82). Há aqui uma intersecção muito instigante sobre a relação entre arquivo, trabalho de luto e justiça com a qual 2666 e El espíritu de mis padres... lidar e/ou oferecer substância.

Quando Ribeiro (2016) fala em um trabalho de luto incessante, ele está se afastando da perspectiva freudiana estrita a partir da qual um trabalho de luto realizado tem a ver com a condição em que o sujeito da perda efetuou o descolamento das ligações libidinais que o prendiam ao objeto perdido (Freud, 2011). Luto, freudianamente pensando, é um processo que tem fim, liberando o sujeito para se ligar a outro objeto, ainda que, sabia muito bem Freud, às custas de recalcamentos e denegações. Um trabalho de luto virtualmente infinito, assim, trai essa perspectiva, mas abre espaço para pensarmos em uma perda nunca elaborada e elaborável, na medida em que está sempre colocada em disputa por forças oriundas de lugares os mais diversos e está sempre aberta para ressignificações. Não realizar plenamente o trabalho de luto acerca da

7O autor tece muitas críticas à leitura de Derrida sobre Benjamin a respeito da discussão da violência, sobretudo

envolvendo o nazismo. Aqui, para nossos fins, vamos nos centrar apenas nessa aproximação. Para o trabalho de cotejamento mais detalhado entre os dois pensadores, buscar: AVELAR, Idelber. Espectros de Walter Benjamin: luto e violência em Jacques Derrida. In:_____. Figuras da violência. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011. Pp.71-103.

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derrota frente aos regimes ditatoriais e ao plano neoliberal que impuseram nas sociedades latino-americanas é, de alguma forma, é não permitir a colocação da memória dos vencidos entre os arquivos oficiais – que atestam a já superação dos anos de chumbo – e ceder ao Estado a função de arconte.

Ainda, o trabalho de luto infinito, como traz Avelar (2011), está associado ao futuro e não somente a uma perda localizada no passado. Um arquivo, segundo Derrida (2001) também contém essa propriedade. “O arquivo sempre foi um penhor e, como todo penhor, um penhor do futuro. Mais trivialmente: não se vive mais da mesma forma maneira aquilo que não se arquiva da mesma maneira” (DERRIDA, 2011, p.31). Mariana di Salvio (2014), também discutindo arquivo em Los detectives salvajes de Bolaño, completa:

(...) sendo o arquivo construído com o intuito de ser objeto mnemônico para as futuras gerações – aspecto que o articula não apenas com o passado, mas também com o futuro – Derrida, em diálogo com Freud e a ideia de que o inconsciente é uma escrita, sublinha uma certa pulsão de morte sem a qual não haveria a necessidade de arquivamento: isto é, arquivamos algo exatamente porque tememos sua perda, porque estamos sujeitos a diversas operações do inconsciente, tais como a censura e o recalque – e justamente por causa desse mal de arquivo que o processo de arquivar é necessariamente renovado e repetido (DI SALVIO, 2014, p.56)

Na esteira da autora, arquivamos, de alguma forma, porque sabemos que teremos que fazer o luto de alguma perda. E porque o mal de arquivo existe, ou seja, que os arquivos são finitos, é que, sugerimos, 2666 e El espíritu de mis padres... podem ser colocados dentro da discussão do trabalho de luto infinito ou da suspensão do desligamento total com o objeto perdido. Ambas as obras trazem seus arquivos da violência sem oferecer nenhum tipo de resolução, nenhum tipo de saída.

O último caso de 1997 foi bem parecido com o penúltimo, só que em vez do saco plástico com o cadáver no extremo oeste da cidade, o saco foi encontrado no extremo leste, na estrada de terra que corre, digamos, paralela à linha fronteiriça que depois se bifurca e se perde ao chegar às primeiras montanhas e aos primeiros desfiladeiros. A vítima, segundo os legistas, estava morta havia muito tempo. De aproximadamente dezoito anos de idade, media entre um metro e cinquenta e oito e um metro e sessenta. O corpo estava nu (...). O Natal em Santa Teresa foi comemorado como de costume. Até nas ruas mais humildes ouvia-se gente rindo. Algumas dessas ruas eram totalmente escuras, parecendo buracos negros, e os risos que saíam não se sabe de onde eram o único sinal, a única informação que os vizinhos e os estranhos tinham para não se perderem (BOLAÑO, 2010, p.603)

O último parágrafo da parte dos crimes, como o primeiro centenas de páginas antes, evidencia inclusive em sua sintaxe a repetição de uma situação que não encontra meios ou

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motivos para terminar. Em El espíritu de mis padres..., também na última matéria transcrita uma repetição é colocada.

>> Sequestraram Alicia e a desapareceram porque fazia parte daquela geração que teve que lutar para que as liberdades voltassem à pátria. Para que pessoas como Alberto e como todos os nossos pudessem viver em um mundo sem medo e sem mordaças. Sem aqueles jovens como Alicia, hoje não poderíamos dizer o que pensamos, agir como bem quisermos, escolher nosso destino. Não seria possível fazer, por exemplo, a marcha a La Plaza para pedir pelo retorno de Alberto. Muito menos as manifestações por meio das quais, nos últimos dias, uns e outros puderam expressar seus medos de serem sequestrados e desaparecidos e clamar pelo país que querem. / >> Hoje nos despedimos de Alberto como não foi possível fazer com Alicia. Por isso, quando estiverem pedindo justiça para ele, lembrem-se de pedir também para ela. E que o Senhor acolha a todos nós como seus escolhidos” (PRON, 2011, p.125).8

Se, como sugere Ribeiro (2016), a visada pós-ditatorial em 2666 é expressa, em sua escritura mesma, uma violência generalizada compactuada pelo Estado e que continua a aprofundar situações de desigualdade e terror, sobretudo entre as mulheres mais pobres, na obra de Pron a pós-ditadura é manifesta por essa operação de montagem – de recortes de jornal e de fatos. Propondo uma justaposição anacrônica, El espíritu de mis padres... engendra uma relação entre os diferentes desaparecimentos, apresentados como uma prática na Argentina, evidencia uma continuidade implacável da violência no país e, por que não?, em tantos outros, vizinhos, que viveram experiências de exceção semelhantes. Lembremos de Benjamin (2012), quando diz que a “(...) tradição dos oprimidos ensina-nos que o ‘estado de exceção’ em que vivemos é a regra” (BENJAMIN, 2012, p.13).

Ao expor os documentos de uma forma que não localiza exatamente uma origem, um motivo, uma justificativa, 2666 e El espíritu de mis padres... joga menos com o princípio de “começo” dos arquivos e chama a atenção por seu aspecto de controle. Fazendo as vezes de arconte, os responsáveis pelo esforço de reunião, catalogação e montagem nos livros reposicionam e ressignificam os arquivos do mal na América Latina e abrem um novas possibilidades de relações. Coloca Derrida (2001), “o arquivamento tanto produz quanto registra o evento. É também nossa experiência política dos meios chamados de informação” (DERRIDA, 2011, p.29). Abrindo-se para os possíveis e estabelecendo a necessidade de se

8 Tradução nossa. No original: “>>A Alicia la secuestraron y desaparecieron porque formaba parte de aquella

generación que tuvo que luchar para que volvieran las libertades a la patria. Para que personas como Alberto y como todos nosotros pudieran vivir en un mundo sin miedo y sin mordazas. Sin aquellos jóvenes como fue Alicia, no podríamos hoy decir lo que pensamos, obrar como creemos que hay que hacerlo, elegir nuestro destino. No se hubiera podido hacer, por ejemplo, la marcha a la Plaza para pedir por la aparición de Alberto. Ni tampoco las manifestaciones com que en los últimos dias unos y otros pueden expresar sin temor a ser secuestrados y desaparecidos qué país se quiere. / >> Hoy despedimos a Alberto como no pudimos hacerlo con Alicia. Por eso, cuando pidan justicia para él, recuerden pedirla también para Ella. Y que el Señor los acoja a ambos entre sus elegidos>>”.

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abordar uma perda sem encerrá-la no passado, as obras de Bolaño e Pron clamam por justiça – como faz o sujeito deste último fragmento -, mas não essa que conhecemos, falha, arbitrária. As duas obras clamam, para continuar usando o léxico de Derrida (2014), uma justiça por-vir.

Considerações finais

Terminamos, por ora, essa discussão chamando a atenção para a capacidade da literatura em possibilitar essa relação com a justiça, com algo ainda impensado, carregado de potência para a criação de mundos novos. Em “Essa estranha instituição chamada literatura” (2014), Derrida (2014) afirma que, não existindo exatamente uma essência capaz de qualificar a priori o que é ou não do âmbito do literário, a literatura se vincula ao por-vir especialmente porque se permite o dizer tudo, o que extrapola qualquer fronteira de qualquer instituição.

E, para o pensador, essa capacidade ou essa condição atinge sua máxima potencialidade quando o texto carrega o enfrentamento aos discursos oficiais do poder, em sua linguagem mesma. Derrida lembra que um texto que crítica certa ordem, reivindica alguma transformação e se coloca abertamente no lugar da denúncia pode ser mais conservador ou reacionário do que aqueles que costumeiramente são abominados por seu “falogocentrismo”. “Sem a mediação lúdica da linguagem, nenhuma obra literária sustenta seu poder mobilizador e questionador, reduzindo-se a um dogmatismo fútil e raivoso, porém cheio de boas intenções” (NASCIMENTO, 2014, p.26). Gostaríamos de aproximar o trabalho com – ou a criação de – arquivos da violência levado a cabo por 2666 e por El espíritu de mis padres sigue subiendo

en la lluvia dessa discussão.

Résumen

A partir de la formulación acerca del “mal de archivo” realizada por Jacques Derrida, proponemos pensar la operación de listado de factos y documentos en las novelas 2666, escrita por el chileno Roberto Bolaño, y El espíritu de mis padres sigue subiendo en la lluvia, del argentino Patricio Pron, como esfuerzo de crear un inventario de la violencia. Abordando los casos de feminicidio en México y los desaparecimentos forzados en Argentina, las dos obras convocan a la discusión sobre la vida de los que no importan y conducen a discusiones sobre memória, trauma y un imposible trabajo de duelo. En este trabajo, aún, proponemos pensar la literatura latinoamericana contemporánea desde una mirada post-dictatorial.

Palabras clave: literatura latinoamericana contemporánea; Roberto Bolaño, Patricio Pron; violencia; duelo.

Referências bibliografias

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Toda a orfandade do mundo: escritos sobre Roberto Bolaño. Relicário Edições: Belo Horizonte, 2016.

Referências

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