• Nenhum resultado encontrado

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2019

Share "UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS"

Copied!
181
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

DAYANA DOS SANTOS DELMIRO COSTA

MULHERES E ESPECIALIZAÇÃO POLÍTICA: trajetórias e recursos eleitorais entre as deputadas federais/estaduais no Maranhão.

(2)

DAYANA DOS SANTOS DELMIRO COSTA

MULHERES E ESPECIALIZAÇÃO POLÍTICA: trajetórias e recursos eleitorais entre as deputadas federais/estaduais no Maranhão.

Dissertação de Mestrado em Ciências Sociais apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão para defesa pública. Orientador: Prof. Dr. Igor Gastal Grill

(3)

Costa, Dayana dos Santos Delmiro.

Mulheres e especialização política: trajetórias e recursos eleitorais entre as deputadas federais/estaduais do Maranhão/ Dayana dos Santos Delmiro Costa- São Luís, 2009.

182f.

Impresso por computador (fotocópia) Orientador: Igor Gastal Grill

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Maranhão, Mestrado em Ciências Sociais, 2009.

1. Mulheres – Política – Maranhão 2. Mulheres – Profissionalização política 3. Gênero – Recursos eleitorais I. Título

(4)

DAYANA DOS SANTOS DELMIRO COSTA

Dissertação de Mestrado em Ciências Sociais apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão para defesa pública.

Aprovada em _____/_____/_____

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________

Prof. Dr. Igor Gastal Grill (Orientador)

Doutor em Ciência Política Universidade Federal do Maranhão

____________________________________________

Profª. Drª. Karina Kuschnir Doutora em Antropologia Social Universidade Federal do Rio de Janeiro

____________________________________________

(5)

AGRADECIMENTOS

“Como o não sabes ainda Agradecer é mistério” Fernando Pessoa, Quadras ao Gosto Popular

Ao finalizar este trabalho, gostaria de tecer alguns agradecimentos, não como apregoam os ditames formais da academia, mas de pincelar sentidos, relações, momentos, que possibilitaram a construção desta dissertação. Antes, devo contar que, durante as atividades no mestrado, houve objetivos que vislumbrei, mas que não foi possível alcançá-los. Esses percalços, longe de obscurecerem o trajeto, aumentaram-lhe o brilho. E, ao invés de me deterem, impulsionaram-me com mais força. Por isso afirmo com convicção, essa caminhada valeu a pena!

Agradeço a Deus, por sempre me iluminar e me guiar. Sem Ele nada disso seria possível.

Gostaria de destacar o papel desempenhado neste trajeto pelo meu orientador, o prof. Dr. Igor Gastal Grill. Agradeço pela exigência crescente, pelos desafios cada vez mais complexos que me eram apresentados e pelo tempo disponibilizado nas discussões e correções desse trabalho. Sem falar na paciência em entender uma orientanda demasiadamente ansiosa, obrigada mesmo!

Aos professores do Programa de Pós- Graduação em Ciências Sociais da UFMA, em especial prof. Horácio Antunes que, como coordenador do Programa, sempre se colocou à disposição nas resoluções de questões burocráticas durante minhas atividades de pesquisa. Prof. Biné pelos comentários e sugestões nas aulas de métodos e na banca de qualificação. E o prof. Carlão, meu pai acadêmico, pelo estímulo de sempre.

À profª. Arleth Borges, que tem acompanhado meu desempenho desde a graduação, agradeço pelas valiosas considerações na banca de qualificação e por ter aceitado compor a banca de defesa dessa dissertação.

À profª. Ilse Gomes, do Departamento de Sociologia e Antropologia da UFMA, minha mãe na academia, pelo incentivo e pelas muitas razões que ela bem sabe.

(6)

Pela oportunidade que me concedeu em participar das atividades do Laboratório de Antropologia Urbana e discutir parte desse trabalho com suas orientandas, para mim foi um momento de trocas enriquecedoras, um verdadeiro aprendizado. Agradeço também por ter aceitado o convite em participar da banca.

Aos meus colegas de mestrado, nunca me esqueci do bolo partilhado em meu aniversário no primeiro dia de aula, pelo convívio diário nos estudos, pelos desabafos nas preparações dos artigos e dissertação. Muito especialmente a Lenir e Antônio Marcos, presentes em minha vida desde a graduação, na verdade, qualquer palavra mencionada aqui em relação a essa amizade ficaria muito aquém do justo. E Elthon Aragão, pelos empréstimos de livros, pelos muitos diálogos sobre a pesquisa. À Maria Tereza, por facilitar o acesso e participar de entrevista com uma deputada.

Aos funcionários da Assembléia Legislativa com que pude contar no acesso às informações durante meu trabalho de campo, agradeço Srª. Iracema, chefe do setor de cadastro parlamentar, Srª. Rosália, bibliotecária e o Sr. Braulio Martins, secretário-geral da Mesa Diretora. Agradeço também todas as deputadas que concederam entrevista.

Agradeço a Srª. Sara Aguiar do Departamento de Estatísticas do TRE-MA

Ao Sr. Cesário e Srª. Léa Dias, por abrirem as portas de sua casa e me hospedarem, durante os dias em que estive pesquisando no município de Lago da Pedra.

À turma dos alunos de graduação do Curso de Ciências Sociais em que tive a oportunidade de realizar meu estágio docência, pelas discussões e trocas em sala de aula sobre métodos e etapas dessa pesquisa. Em especial João Gilberto, Vinícius, Franklin, Romário, Anderson, Adriana, Clícia, Rafael Dantas e Reinaldo.

À Natália e Thiago Lima, pela força e incentivo. À Capes\Cnpq , pela bolsa concedida.

Aos meus familiares que torceram e me apoiaram. Meus pais, Miro e Adelina, pelas palavras de esperança sempre mencionadas.

(7)
(8)

RESUMO

Esta dissertação analisa a dinâmica de constituição das diferentes estruturas e volumes de capitais das mulheres maranhenses na política, pelo levantamento de informações sobre as origens sociais e carreiras políticas das deputadas federais/estaduais eleitas no Maranhão entre 1982 a 2006. Busquei identificar variáveis sociais que me permitissem perceber quais os recursos acumulados por essas mulheres ao longo do processo de especialização política, como foi desenvolvido o ‗trabalho político‘ na busca pelo reconhecimento dos profanos. Procurei ainda destacar por meio dos relatos das deputadas quais são suas representações sobre fazer ‗política‘ e suas concepções sobre a questão de ‗gênero‘ na política. Por último, numa perspectiva mais antropológica, faço uma análise do ‗gênero‘ como afirmação de uma identidade estratégica, assim como o acionamento de outros recursos nas lutas eleitorais por uma mulher maranhense em campanha. Considerei o significado das adesões eleitorais de alguns agentes entrevistados na campanha municipal de 2008 no município de Lago da Pedra-MA.

(9)

RÉSUMÉ

Cette dissertation analyse la dynamique de constitution des différentes structures et les volumes de capitaux des femmes maranhenses dans la politique, à travers l'enquête d'informations sur les origines sociales, parcours et carrières politiques des députés fédéraux/de l'état élus dans le Maranhão entre 1982 à 2006. J'ai cherché identifier des variables sociales qui me permettaient de percevoir lequel les ressources accumulées par ces femmes au long du processus de spécialisation politique, comme celles-ci ont développé la ‗travail político‘dans la recherche par la reconnaissance des profanes. J'ai cherché encore à détacher à travers les histoires des députés lequel sont leurs représentations sur faire ‗política‘et leurs conceptions sur la question de ‗genre‘ dans la politique. Finalement, dans une perspective plus anthropologique, je fais une analyse de genre mange affirmation d'une identité stratégique, ainsi que la commande d'autres ressources dans les luttes électorales pour une femme maranhense en campagne. J'ai considere la signification des adhésions électorales de quelques agents interviewées en la campagne municipale de 2008 dans la ville de Lago da Pedra-MA

(10)

LISTA DE SIGLAS AL- Assembléia Legislativa

ARENA- Aliança Renovadora Nacional BEM- Banco do Estado do Maranhão

CEMAR- Companhia Energética do Maranhão CFEMEA- Centro Feminista de Estudos e Assessoria DEM- Democratas

IBAMA- Instituto Brasileiro do Meio Ambiente IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IPU- Inter-Parliamentary Union

ONU- Organização das Nações Unidas PDC- Partido Democrata Cristão PDS- Partido Democrático Social PFL- Partido da Frente Liberal PT- Partido dos Trabalhadores PTN- Partido Trabalhista Nacional

PSDB- Partido da Social Democracia Brasileira PC do B- Partido Comunista do Brasil

PMDB- Partido do Movimento Democrático Brasileiro PL- Partido Liberal

PDT- Partido Democrático Trabalhista PSOL- Partido Socialismo e Liberdade PP- Partido Progressista

PR- Partido da República

TRE- Tribunal Regional Eleitoral TSE- Tribunal Superior Eleitoral UDN- União Democrática Nacional

(11)

LISTA DE QUADROS

Quadro1- Representação parlamentar de mulheres no Brasil e no cenário internacional

... 34

Quadro2- Representação feminina no parlamento conforme as regiões do mundo- 2006 ... 34

Quadro 3- Os 20 países onde as mulheres representam pelo menos 30% na Câmara Única ou Baixa do Parlamento- ano 2005 ... 38

Quadro 4- Países que têm uma mulher como Chefe de Estado ou de Governo-2006 ... 39

Quadro 5- Mulheres eleitas deputadas federais no Maranhão (1982-2006)... 56

Quadro 6- Quadro sinótico dos percursos das deputadas federais no Maranhão (1982-2006) ... 58

Quadro 7- Cargo eletivo anterior das deputadas federais no Brasil ... 60

Quadro 8- Participação das deputadas federais maranhenses nas comissões... 66

Quadro 9- Participação das deputadas federais nas comissões (2003 a 2006)... 69

Quadro 10- Mulheres eleitas deputadas estaduais no Maranhão (1982-2006)... 88

Quadro 11- Quadro sinótico dos percursos das deputadas estaduais no Maranhão (1982-2006) ... 90

Quadro 12- Idade de ingresso no primeiro cargo eletivo entre as deputadas estaduais no Maranhão ...102

Quadro 13- Deputadas estaduais eleitas no Maranhão com mais de um mandato (1982-2006) ...104

(12)

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 1- Fotos da atuação profissional de Cleide Coutinho no município de Caxias... 97

Ilustração 2- Edson Vidigal e Alexandre Costa visitando o Hospital administrado pelos Coutinho ... 99

Ilustração 3- Material de campanha de Cleide Coutinho pra deputada estadual em 2006. ... 100

Ilustração 4- Capa do cd do relatório de atividades de Helena Heluy- 2007... 101

Ilustração 5- Escritório da Família Jorge de Atendimento aos moradores de Lago da Pedra ... 115

Ilustração 6- Entrada do Sistema de Comunicação Waldir Jorge... 116

Ilustração 7- Atendimento aos eleitores na residência da família Jorge em Lago da Pedra ... 116

Ilustração 8- Foto do Waldir Filho no restaurante da apoiadora de campanha... 145

Ilustração 9- Maura Jorge no centro de sua equipe de campanha recebendo algumas orientações... 148

Ilustração 10- Candidato a vereador Marcão e Maura Jorge visitando uma moradora do Cajueiro ... 149

Ilustração 11- Mudança de cartaz na fachada de uma residência do Cajueiro ... 149

Ilustração 12- Maura Jorge e pequeno comerciante no Cajueiro ... 151

Ilustração 13- Porta- retrato na casa de uma eleitora (de saia azul) com mãe da Maura Jorge... 151

Ilustração 14- Manifestantes chegando no ―Alto do Waldir‖... 153

Ilustração 15- Eleitores subindo no trio elétrico ... 153

(13)
(14)

SUMÁRIO

1-INTRODUÇÃO - RETOQUES SUCESSIVOS: caminhos na construção de um

objeto... 16

1.1 A Política como Atividade Profissional: aprendizagem de um saber específico e demarcação em relação aos profanos... 22

1.2 Trabalho de campo... 26

Capítulo 2- A CONQUISTA DOS DIREITOS DE CIDADANIA E MULHERES NA POLÍTICA: um breve retrospecto e algumas comparações... 29

2.1 Cidadania... 29

2.2Mulheres no Parlamento: direito de votar e serem votadas ... 31

2.3 Mulheres na Arena Política Brasileira... 39

2.4 Política de Cotas para Mulheres... 42

Capítulo 3- TRAJETÓRIAS DAS DEPUTADAS FEDERAIS E ESTADUAIS NO MARANHÃO: recursos sociais e mecanismos de legitimidade política...47

3.1 O Maranhão pós- década de 80: alguns marcos políticos... 47

3.2 Gênero e Profissionalização política no Maranhão... 53

3.3 Deputadas Federais Maranhenses: percursos e comparações... 55

3.4 O espaço de concorrência política a partir das representações dos agentes ... 69

3.5 De ―companheira de militância‖ a deputada federal... 77

(15)

Capítulo 4 – MULHER MARANHENSE EM CAMPANHA ELEITORAL: de deputada

a prefeita de Lago da Pedra... 110

4.1 Tornando-se herdeira política... 112

4.2 A campanha de 2006... 122

4.3 Rumo à prefeitura de Lago da Pedra: a campanha de 2008 ... 130

4.3.1 Os cabos eleitorais: significados de adesões em Lago da Pedra... 133

4.3.2 A comerciante-vereadora... 134

4.3.3 O presidente do SINPROESEMA... 136

4.3.4 O bancário... 138

4.3.5 O líder religioso católico... 147

4.3.6 A líder evangélica e dona de restaurante ... 141

4.4 Os atos de campanha em 2008 ... 145

4.4.1 visitas, ‗poeirão‘ e o comício ... 146

4.4.2 O jantar com agentes de saúde ... 158

4.4.3 Comemorando o resultado: culto e forró na praça... 164

5- CONSIDERAÇÕES FINAIS... 169

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 172

(16)

INTRODUÇÃO

1- RETOQUES SUCESSIVOS: caminhos na construção de um objeto.

(...)diante do mistério do real, a alma não pode, por decreto, tornar-se ingênua. É impossível anular, de um só golpe, todos os conhecimentos habituais. Diante do real, aquilo que cremos saber com clareza ofusca o que deveríamos saber. (BACHELARD, 1996:.18, grifos meus).

Escolhi iniciar esse texto com Bachelard (1996) porque considero imprescindível fazer referência à noção de obstáculo epistemológico, para refletir sobre meus percursos e deslocamentos nessa tarefa singularmente complexa de se fazer pesquisa em Ciências Sociais. Enquanto nas ciências físicas e naturais os objetos não falam e pode-se identificar de forma clara uma fronteira entre pesquisador e objeto, nas ciências sociais estes se confundem, por serem ambos partes da sociedade. Como ressalta Louis Pinto (1998:13) “O sociólogo deve levar em consideração o fato de que faz parte do mundo social que pretende descrever e

compreender”. É imperioso, para mim, considerar que, no escopo de uma investigação em

Ciências Sociais, existem desafios que impõem ao pesquisador a necessidade de ultrapassar os pré-construídos. É aqui que retomo a noção de obstáculo epistemológico de Bachelard (1996), cuja opinião aparece como obstáculo a ser superado pelo pesquisador. Segundo Bachelard (1996), o pesquisador, ao olhar seu objeto de estudo, pode incorrer no perigo de se deixar levar pelas primeiras impressões. Nas palavras do autor:

A opinião pensa mal; não pensa, traduz necessidades em conhecimentos. Ao designar os objetos pela utilidade, ela se impede de conhecê-los. Não se pode basear nada na opinião: antes de tudo é preciso destruí-la. Ela é o primeiro obstáculo a ser superado. (BACHELARD, 1996:18)

(17)

A vigilância epistemológica impõe-se, particularmente, no caso das ciências do homem nas quais a separação entre a opinião comum e o discurso científico é mais imprecisa do que alhures [...] a familiaridade do universo social constitui, para o sociólogo, o obstáculo epistemológico por excelência [...] O sociólogo nunca conseguirá acabar com a sociologia espontânea e deve se impor uma polêmica incessante contra as evidências ofuscantes que proporcionam, sem grandes esforços, a ilusão do saber imediato e de sua riqueza insuperável. (BOURDIEU, 1999:23).

Remi Lenoir (1996) aponta com precisão a dificuldade da tarefa de afastamento das pré-noções, por estas se tornarem banais e evidentes. Destaca Lenoir (1996):

A primeira dificuldade encontrada pelo sociólogo deve-se ao fato de estar diante das representações preestabelecidas de seu objeto de estudo que induzem a maneira de apreendê-lo e, por isso mesmo, defini-lo e concebê-lo (...). Entre essas representações, a que aparece sob a forma de um ―problema social‖

constitui, talvez, um dos obstáculos mais difíceis de ser superado. (LENOIR, 1996:61-62)

Foi seguindo as diretrizes apontadas por esses autores, que tentei fazer, antes de tudo, um exercício de elaborar perguntas, construir dúvidas sobre a participação das mulheres na política maranhense. Busquei me afastar da tendência de incorporar esquemas de pensamentos habituais. Não queria fazer uma pesquisa apologética sobre a necessidade de uma maior participação das mulheres no parlamento, tornada óbvia por argumentos de ordem numérica. Apesar da preocupação em trazer reflexões sobre a baixa participação feminina na elite política, tive o cuidado de não assumir o papel de pesquisador porta-voz. Objetivei aprofundar a compreensão sobre as relações entre gênero e política no Maranhão, iniciada desde a graduação1, tentando não ficar presa, de maneira doutrinária, a axiomas preestabelecidos ou a uma ideologia ―feminista‖.

Além da experiência de pesquisa na graduação e do anseio por um estudo não engajado nas questões ―feministas‖, a exposição de um terceiro fator que me levou a iniciar essa investigação talvez possa esclarecer ao leitor os caminhos que ela veio a tomar. Um mês após minha defesa de monografia, tive a oportunidade de participar do minicurso Análise das Elites Políticas2, e dentre os referenciais de análise que tive acesso me chamou atenção os estudos

1

(18)

sobre especialização política, trajetórias, lideranças e redes, me motivando a participar das reuniões do grupo de estudo sobre elites políticas. Foi por meio dessas reuniões que tive a oportunidade de aprofundar as leituras dos novos autores3 que me foram apresentados no referido minicurso, estas me auxiliaram na construção do eixo estruturante dessa pesquisa, escolhi fazer um estudo sobre profissionalização política no Maranhão sob um recorte de gênero.

Assim, saltando-se de uma evidência sobre a importância da participação das mulheres na política, devido a estas terem uma presença ainda pouco expressiva nesse espaço, pergunto: diante das dificuldades que as mulheres enfrentam para adentrar no parlamento as que conseguiram ser eleitas na política maranhense utilizaram quais trunfos para obter êxito? Eis, portanto, o que me interessava identificar, as estratégias de reconversão4 de bases sociais (parentesco, títulos, exercício profissional, liderança prévia, cargos públicos) em bases eleitorais. Então mais do que refletir sobre os motivos da supremacia masculina no âmbito parlamentar, o eixo de minha análise centra-se principalmente na tentativa de contribuir para o entendimento da dinâmica da profissionalização política no Maranhão.

As limitações inerentes a uma pesquisa de mestrado impunham um recorte. Delimitei o estudo sobre as diferentes trajetórias das mulheres na política maranhense apenas ao cargo de deputada federal e estadual. Todavia, havia, ainda, uma necessidade de um recorte temporal, decidi, então, delimitar o estudo a partir da década de 1980 - período em que o Brasil começa a passar pelo processo de redemocratização – até as deputadas que foram eleitas em 2006. Analiso as variações na composição da ―elite política‖ ao longo do tempo, buscando comparar a mobilização de recursos sociais entre mulheres eleitas em diferentes momentos no Maranhão.

2

Fez parte da programação dos 20 anos do curso de Ciências Sociais na UFMA. O professor Igor Grill apresentou as diferentes concepções de autores ―clássicos‖ da teoria das elites (Mosca (1939); Pareto (1935); Michels (1958); Mills (1981); Dahl (1964); Schumpeter (1961) e propostas metodológicas de se trabalhar com o tema, na perspectiva de autores mais contemporâneos (Grynspan (1990); Bourdieu (1989), dentre outros).

3

Na graduação ainda não havia tido contato com autores que deram ênfase em seus estudos tanto à especialização política, tais como Offerlé (1996, 1999), Phelippeau (2001) e Lagroye (1994), como os autores que privilegiaram uma abordagem mais antropológica da política, tais como Mayer (1987), Landé (1977), Kuschnir (2000), Bezerra (1999), dentre outros.

4

(19)

Para por em marcha tal empreendimento, tive que buscar ultrapassar as amarras das auto-evidenciais, sendo necessário o uso de algumas noções, esquemas analíticos, que me ajudassem a pensar os problemas colocados, categorias que me auxiliassem na construção de meu objeto. Era importante um estudo de trajetória5 (Bourdieu 1996, Grynspan 1990, Miceli

2001, Offerlé 1996) até para se evitar trabalhar com o conceito de mulher como um grupo homogêneo. O exame de trajetórias individuais permite avaliar estratégias e ações de atores em diferentes situações e posições sociais, seus movimentos, seus recursos, as formas como os utilizam ou procuram maximizá-los, suas redes de relações, como se estruturam, como as acionam, nelas se locomovem ou as abandonam. Ao mesmo tempo, centrando o foco em atores, pode-se refletir sobre padrões e mecanismos sociais mais amplos. (Grynzpan, 1990:74).

Utilizei ainda a noção de trajetória de Bourdieu (1996) que considera que esta ―é uma série de posições sucessivamente ocupadas por um mesmo agente – ou mesmo grupo -em um espaço ele próprio em devir e submetido a transformações incessantes‖, sendo assim possível deslocar-se do sujeito e situar acontecimentos biográficos em alocações e deslocamentos no espaço social. Associada à noção de trajetória de Bourdieu (1996) busquei, construir uma prosopografia com o grupo dessas 26 deputadas (22 estaduais, 4 federais). Esse método reúne dados biográficos de um grupo de atores históricos que têm algo em comum, seja uma função, uma atividade, ou ainda uma posição social. Considerando as diretrizes de Miceli (2001), ‗tais inferências devem ser lastreadas em evidências empíricas que abranjam uma quantidade representativa de casos cujas características sociais, escolares, profissionais, etc. possibilitam a reconstrução de uma trajetória para os fins de análise sociológica ou política‘.

Sobre o método prosopográfico, Charle (2006) aponta que este é, e vem sendo adotado principalmente por historiadores, como uma espécie de biografia coletiva. Seu princípio é ―definir uma população a partir de um ou vários critérios e estabelecer, a partir dela, um questionário biográfico, cujos diferentes critérios e variáveis servirão à descrição de sua dinâmica social (...) segundo a população e o questionário em análise‖ (Charle, 2006:41). A prosopografia comparada permite relativizar as correlações que parecem óbvias, o autor exemplifica tal questão, com seu estudo sobre o espaço universitário, por meio de biografias coletivas dos professores da Universidade de Berlim e de seus pares da Sorbonne na passagem do século XIX para o século XX. Por meio de aplicação do método prosopográfico,

5 No decorrer do trabalho o itálico será usado como marcador de categorias teóricas, assim como na reprodução

(20)

Charle (2006) contradiz a ideia preconcebida de que a expansão do ensino superior se traduz em certa abertura social do recrutamento dos professores universitários. Na França, há uma continuidade entre ensino secundário e superior que permite o ingresso de novos agentes ao topo da hierarquia universitária ou um sistema de bolsas no ensino superior durante o período de acumulação de títulos universitários. Na Alemanha, diferentemente, observa-se uma ausência dessas duas ajudas, explicando por que o recrutamento social dos professores alemães permanece elitista.

O uso de diferentes fontes (tais como pesquisas em arquivos, entrevistas, dicionários cpdoc6) associado a determinadas variáveis (primeiro cargo eletivo, idade de ocupação do primeiro cargo eletivo, número de mandatos, ocupação de cargos públicos e laços de parentesco com ascendente político), organizei quadros sinóticos que me permitiram uma melhor comparação entre os diferentes casos estudados, seus percursos e posições ocupadas nas dinâmicas sociais no Maranhão. Tais dados viabilizaram uma compreensão do processo de profissionalização política das deputadas, aproximando a experiência individual e diversidades das trajetórias sociais. Tal método ajuda a enfocar nos condicionantes sociais e políticos de constituição do grupo em questão.

Qual o itinerário, as posições ocupadas por essas mulheres que conseguiram ‗entrar na

política‘? Offerlé (1996), quando fala em ‗entradas na política7‘ destaca a importância do estudo de trajetórias para entender a maneira como os novos ingressantes adaptam suas propriedades aos condicionantes estruturais da profissão política. As deputadas maranhenses possuem experiências variadas de constituição de capitais8, construídos com base em distintas

6

Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil.

7 Entrées en politique au pluriel, puisqu‘il será question ici tout autar d‘étudier des trajectoires individuelles que

des trajectoires collective (nouveaux entrants) et de percevoir de quelle manière les nouveaux entrant doivent adapter leurs propriétés aux contraintes structurelles du métier et de la profession politiques tendanciellement delimites sans être fermés ou codifiés; de quelle façon les entrants créent et recréent par leur concurrence (entre eux et avec leurs prédécesseurs) les conditions de possibilite de leur réussite politique. (Offerlé, 1996:3)

8 Além do econômico, que compreende a riqueza material, o dinheiro, as ações etc. (bens, patrimônios, trabalho),

(21)

trajetórias. Questionei, de início, quem são essas mulheres? Quais suas origens sociais? Tais deputadas tiveram atuação em movimentos estudantis, sindicatos ou partidos políticos antes de se elegerem? Quais são suas concepções e definições a respeito da política? O fato de ser mulher foi privilegiado como elemento fortalecedor da legitimidade política durante as campanhas? As relações de parentesco dessas mulheres influenciaram nas decisões nas urnas? O que pensam sobre o feminismo e os direitos das mulheres? Que ‗qualidades pessoais‘ ou de ‗liderança‘, buscaram utilizar para legitimar a condição de candidata? Tentei compreender as

estratégias de reconversão de diferentes recursos sociais em bases eleitorais.

Cabe aqui ressaltar que, quando falo em estratégias, não estou afirmando que essas mulheres fizeram ao longo de suas vidas, foi todo um trabalho conscientemente planejado voltado para a arena eleitoral, como um processo mecânico. Adoto a noção de estratégia

associada ao conceito de habitus9 de Bourdieu (1990, 1994) que considera estratégia como

conhecimento incorporado pelos agentes ao longo de suas vidas. Estas estratégias seriam o produto do senso prático como o sentido do jogo10, de um jogo social particular, historicamente definido, que se adquire desde a infância, à medida que se participa das atividades sociais. Os indivíduos não constroem estratégias livremente como desejam, mas, sobretudo como podem frente às condições cotidianas de sobrevivência, sejam estas da dimensão sociocultural, econômica ou política.

Coradini (2001) também ajuda ultrapassar a visão automática do uso de recursos quando

fala sobre a legitimação de características sociais tidas como eleitoralmente pertinentes:

(...) na relação entre qualquer característica ou recurso social de origem e ascensão, seja na esfera política ou em outra qualquer, a reconversão nunca é direta. Isso porque essa reconversão sempre depende de diferentes lógicas sociais, vinculadas a esferas diferentes, o que faz com que, inclusive, os ‗interesses‘ e o valor associado a determinadas características possam adquirir significados contrários‖. (CORADINI, 2001:9. Grifos meus).

Apresentarei agora outras categorias que estão relacionadas a esta análise, como as noções de especialização política, métier político, redes, facções.

9

O habitus, vem a ser um sistema de disposições que as pessoas obtêm via socialização, e que se traduzem em valores, comportamentos – interiorizados e exteriorizados de diferentes formas. A educação elementar tende a inculcar maneiras de postar todo o corpo, como a nadar, olhar, falar, sorrir.

10

(22)

1.1 - A Política como Atividade Profissional: aprendizagem de um saber específico e demarcação em relação aos profanos.

Quanto à discussão da política como atividade profissional, utilizo as idéias da sociologia weberiana, que a partir da distinção entre o ―viver para a política‖ e o ―viver da política‖ reflete sobre meios que dispõem os indivíduos para atuarem politicamente. Weber (2002) apoiando-se sobre critérios econômicos diferencia o modelo dos notáveis parlamentares e aquele que passa a predominar com as empresas políticas modernas. Nas palavras do autor:

Há duas formas de exercer política. Pode-se viver ―para‖ a política ou pode-se viver ―da‖ política. (...) Quem vive ―para‖ a política a transforma no sentido mais profundo do termo em ―objetivo de sua vida‖, seja porque encontra forma de gozo na simples posse do poder, seja porque o exercício dessa atividade lhe permite achar equilíbrio interno e exprimir valor pessoal, colocando-se a serviço de uma ―causa‖ que dá significação à sua vida. (...) assenta-se nossa distinção num aspecto extremamente importante da condição do homem político que é o aspecto econômico. Do que vê na política uma permanente fonte de rendas, diremos que ―vive da política‖ e diremos no caso contrario que ―vive para a política‖ (WEBER, 2002:68, grifos meus).

A abordagem seguida nessa pesquisa inspira-se ainda no estudo da ―gênese da profissão política‖ na França, realizado por Phélippeau (2001). O autor ultrapassando o enfoque econômico weberiano sobre a atividade política ressalta em suas análises aspectos ligados às origens sociais, aos códigos de conduta, às representações, às habilidades adquiridas pelos indivíduos nas lutas eletivas.

(23)

empresários políticos profissionalizados, como dois estilos de atuação política na França do século XIX:

(...) as transformações técnicas e morfológicas que afetam o processo de designação eletiva tornam possível a ingerência, nessas lutas, de adversários menos ricos, que entram verdadeiramente em campanha em nome de programas e de projetos e que se tornam gradualmente políticos de profissão. Pensar a emergência de uma profissão política implica, por conseguinte, indagar-se sobre o grau de incompatibilidade entre esses modos de se apresentar para se fazer eleger, que resultam do enfretamento dos oriundos de cada um desses grupos, que tudo opõem em sociedade (PHÉLIPPEAU, 2001:192).

Somando-se a essas análises, adoto a perspectiva de Michel Offerlé (1996 1999). Este focaliza nos estudos das condições sociais dos agentes e o acesso à profissionalização política. Offerlé (1996) associa a ideia de predisposições sociais e historicamente constituídas e a concepção da política como atividade especializada, exemplificando com três recursos que podem ser usados no acesso a profissão política. Destaca Offerlé (1996):

En combinant l‘idée de prédispositions socialemente et historiqument constituées à la réussite politique et l‘idée de la constitution d‘une activité sociale spécialisée et professionnalisée, on a pu ainsi réfléchir sur le long terme aux activités qui préparaient le mieux à la politique, dresser a la sociographie des elites politiques, signifier une rupture historique entre le notable dilettante et l‘homme politique profissionel, styliser trois filières d‘accès à la profession politique (carrière notabilière locale, trajectoire militante, accès direct au centre) ( 1996:3).

Ainda sobre os estudos das características sociais do profissional político, Offerlé (1999), numa perspectiva processual, apontou em suas análises os usos políticos que podem ser feitos de determinadas competências profissionais. Ele questiona por que certas profissões em determinados períodos constituem ‗viveiros‘ de vocação política, por que algumas profissões predispõem mais ou preparam melhor para atividade política.

Offerlé (1999) destaca a necessidade de se considerar no estudo da profissionalização política o background social dos agentes, demonstra que na relação existente entre os eleitores e os profissionais da política, eles são mediatizados por suas experiências sociais anteriores. No espaço de concorrência política, existe uma transação que envolve disposições de um lado e, de outro, propriedades sociais que vão aproximando os indivíduos.

(24)

(...) a profissionalização política incide em esforços para a permanência dos agentes no meio político, na aquisição de uma competência técnica particular viabilizada pelos anos consagrados à vida pública e na dedicação plena aos papéis políticos. Conseqüentemente, gera o afastamento do meio profissional de origem e a perda progressiva dos conhecimentos específicos relativos às antigas ocupações. (...) os longos anos consagrados à vida pública lhe fornecem uma espécie de direito moral à renovação dos mandatos (GRILL, 2003:160).

Além de chamar atenção para a competência técnica como direito à renovação dos mandatos, com base nos autores acima referidos, Grill (2003) com base nos trabalhos de Offerlé (1996, 1999) estabelece alguns pontos em comum e algumas distinções entre a profissão política e as demais profissões, dentre as características comuns ele ressalta: demarcação em relação aos profanos, aprendizagem e aquisição de um saber específico, controle de entrada, monopólio de gestão da atividade, controle entre os pares. Em relação às particularidades da profissão política, o autor destaca: 1) não pode ser delimitada por critérios objetivos, pois seus limites são mais fluidos, intermitentes e passageiros (portanto objeto de lutas); 2) a lógica da profissionalização política se alimenta de uma denegação identitária por parte dos seus praticantes que, apesar de consagrarem todo tempo a esse métier, como um profissional, reivindicam o exercício sobre o modo da vocação, do serviço e da arte.

Para além da discussão dos ―profissionais da política‖, sigo também a idéia da constituição da política como uma espécie de métier (Lagroye 1994) que compreende aprendizado e desempenho de um conjunto de habilidades, de gramáticas, de competências técnicas e repertórios próprios da política. Tais qualificações podem ser assimiladas nas mais diferentes redes de sociabilidade do político, a exemplo da família, partido, sindicato ou movimento estudantil. Tal noção me auxiliou na compreensão de que a lógica própria da competição política exige dos agentes o desempenho de papéis, que podem até ser contraditórios, sendo que estes não se resumem ao período eleitoral, o trabalho político é algo permanente.

Vale ressaltar, ainda, que os estudos sobre a dinâmica da especialização política exigem tanto uma abordagem mais societal, privilegiando dados das origens sociais e do capital de

notoriedade (Bourdieu 1998) nas carreiras políticas dos agentes como abordagens de

(25)

longo período dedicado aos anos de mandatos e ocupação de cargos públicos pelos líderes políticos.

No estudo sobre as dinâmicas no espaço político especializado, busquei enfocar ainda os aspectos menos formais da política, evidenciando as interações sociais pautadas por trocas e reciprocidade, em que a lógica de mobilização política não se dá predominantemente via grupos dotados de uniformidade. Considero que a força de mobilização dos empreendedores políticos, em geral, está relacionada ao controle de recursos e a habilidade de cultivar relações a partir de tais recursos. Para tal, utilizei alguns trabalhos sobre lideranças políticas focados na perspectiva da Antropologia da Política11, tentei identificar as ―qualidades de liderança atribuídas à deputada Maura Jorge, suas concepções sobre a atividade política e sua capacidade de administrar redes de relações na campanha em Lago da Pedra e como ela joga com vários papéis ao mesmo tempo.

Para pensar as alianças políticas que têm como lógica de sustentação o princípio de reciprocidade, utilizo ainda a noção de rede. Para Landé (1977) é necessário que as redes sejam limitadas para efeito de estudos, embora estas já tenham sido caracterizadas como infinitas. Isso se torna possível por meio do detalhamento das alianças diádicas12 que podem

ser entre pessoas de status iguais ou diferentes, assim pode-se limitar a rede a um tamanho manejável no tempo e espaço.A noção de rede política me auxiliou na busca por apreender as teias de relações maximizadas pelo ego focal- Maura Jorge- para um fim político específico: campanha municipal 2008 em Lago da Pedra.

Mayer (1987) desenvolveu a noção de quase-grupos, para pensar a rede como uma estrutura limitada, este se caracteriza como um conjunto finito de interconexões que se origina de um ego. O ego em função de mobilizações políticas específicas, estrutura conjuntos de ação baseado em várias formas de elos, a interconexão pode está baseada em relações de patronagem, parentesco, partido, amizade, religiões, etc.). Mayer (1987), ao estudar as relações entre líderes e seguidores, se baseia ainda na noção de facções como unidades de conflito acionadas em ocasiões específicas. Para Mayer (1987:149) as facções são vagamente ordenadas, suas bases de arregimentação são estruturalmente diversas e tornam-se manifestas

11 Para um histórico desse campo de estudos ver Kuschnir (2007)

12

(26)

por meio de uma interconexão de autoridade pessoal entre líder e seguidor e se baseiam muito mais em transações do que em questões de princípios.

A concepção de política, baseada no princípio de reciprocidade, está presente em muitas situações do cenário brasileiro, como mostram importantes estudos desenvolvidos em diferentes dimensões da hierarquia política, que destacaram reflexões sobre a política e as relações pessoais (lealdade, reciprocidade, favor, mediação) como Kuschnir (2000a, 2000b), Bezerra (1999), Palmeira e Heredia (1995), Palmeira (1992, 1996), Grill (1999, 2003), dentre outros.

Foi a partir das noções e problemáticas apresentadas que comecei a construir meu objeto, não na pretensão de busca da verdade13, nem na ilusão de que seja um trabalho linear, e sim num movimento de construção e reconstrução, lembrando o que Bourdieu (1998) coloca sobre a composição do objeto científico:

(...) a construção do objeto- pelo menos na minha experiência de investigador- não é uma coisa que se produza de uma assentada, por uma espécie de acto teórico inaugural, e o programa de observações ou de análises por meio do qual a operação se efectua não é um plano que se desenhe antecipadamente, à maneira de um engenheiro: é um trabalho de grande fôlego, que se realiza pouco a pouco, por retoques sucessivos, por toda uma série de correcções, de emendas. (BOURDIEU; 1998:26-27)

1.2 - Trabalho de campo

13

(27)

Cabe ressaltar que o presente estudo esta relacionado a dois projetos de pesquisa14 mais amplos, estes contribuíram para nortear alguns momentos em que se dividiu essa pesquisa. Na primeira fase, realizei a maior parte do trabalho na Assembléia Legislativa do Maranhão, tive contato com assessores, assisti a algumas sessões no plenário, conquistei, aos poucos, funcionários; realizei entrevistas com deputadas; tive acesso aos arquivos da biblioteca e do setor de cadastro parlamentar. Cabe destacar, ainda, a ajuda que obtive de um amigo de minha turma de mestrado, ao me apresentar ao secretário geral da Mesa Diretora da Assembléia Legislativa, facilitou meu acesso às informações e trânsito nos diferentes espaços da AL. A investigação foi desenvolvida também por meio de um mapeamento a partir de repertórios biográficos da Câmara dos Deputados e biografias publicadas sobre as deputadas federais/estaduais que exerceram mandatos no Maranhão no período 1982-2006. Utilizei, também, alguns dados de fontes secundárias, dados do site do TSE, TRE, dentre outros. Busquei, portanto, nesse primeiro momento da pesquisa, sistematizar quadros mais amplos que me permitissem analisar dados sobre a origem social e os percursos das deputadas.

Como já tinha feito uma abordagem mais quantitativa, sentia necessidade de observar, mais no cotidiano, as dinâmicas na vida de uma deputada. A princípio pensei em escolher uma deputada, dentre as da atual legislatura e observar sua atuação nas campanhas municipais em termos de apoio a um determinado candidato a prefeito. Havia situações de deputadas esposas apoiando candidatos a prefeito tanto em São Luís como no interior do estado do Maranhão, mas ocorreu que entre as sete deputadas que ocupam atualmente as cadeiras na AL-MA, uma lançou candidatura à prefeitura do município de Lago da Pedra-MA. Decidi então acompanhar não um trabalho de apoio, mas de candidata. Era a oportunidade de observar diretamente a mobilização de cadeias de líderes-seguidores, de estratégias de apresentação nas campanhas eleitorais, foi assim que o foco recaiu sobre a trajetória de Maura Jorge, resultando no último capítulo dessa dissertação.

14 Ambos coordenados pelo professor do PPGCS-UFMA Igor Grill, em momentos diferentes, o primeiro, As

(28)

Minha ida ao município e a inserção na rede de apoiadores da deputada foi facilitada por uma indicação de uma amiga, cuja mãe era vereadora no município de Lago da Pedra, prima da deputada Maura Jorge e uma das coordenadoras da campanha. Esta me apresentou a sua mãe que recebeu em sua casa, onde fiquei hospedada de 19 a 25 de julho de 2008. Período em que tive a oportunidade de conhecer a deputada Maura Jorge, entrevistá-la, participar das reuniões, organização e execução de 4 atos de campanha nas eleições municipais de Lago da Pedra- um jantar com a candidata e os agentes de saúde do município, visitas da candidata de casa em casa no bairro do Cajueiro, poeirão15 e um comício de abertura oficial da

campanha16. Nessa parte do trabalho de campo, pude observar a dinâmica simbólica da política (Geertz, 1980), considerando elementos da cultura local e as redes de significado dos eleitores se atualizando publicamente. Nesse mesmo período, tive a oportunidade de ouvir relatos de alguns vereadores, eleitores e lideranças locais que apoiam a atual candidatura da Maura Jorge. Por meio de conversas informais, pude perceber as bases das alianças diádicas

(Landé, 1977), como os diferentes apoiadores recorriam aos valores de lealdade e reciprocidade para justificar sua adesão à campanha. Dentre os diferentes motivos e justificativas de apoio, pude identificar alguns mencionando a gratidão devido a favores concedidos pela parlamentar em outras ocasiões; outros tinham expectativas de obter maiores benefícios e outros ainda destacavam qualidades pessoais da candidata como ―preparada‖, ―experiente‖, ―simples‖, ―candidata do povo‖, atributos que segundo os informantes não estavam presentes na candidata de oposição.

Quanto aos métodos utilizados no decorrer da investigação, considero o que indica Bachelard (1996), que os métodos devem evoluir e se multiplicar conforme o objeto o exija, levando-se em conta a necessária vigilância e rigor, que devem ser atitudes constantes na atividade científica. O que este autor propõe é não confundir rigor científico com rigidez metodológica, que pode estancar a criatividade e imobilizar o pensamento. Por isso não elegi um método isolado na coleta de informações, e sim uma combinação de algumas técnicas, pesquisa em arquivos, entrevistas, prosopografia, observação direta, diário de campo.

Para efeito de exposição, a dissertação ficou dividida em três partes. Na primeira parte, traço um breve retrospecto sobre a participação da mulher na política, trazendo algumas

15 Categoria nativa para designar uma espécie de carreata misturada com passeatas puxadas por um trio elétrico

passando principalmente pelos bairros ―adversários‖ anunciando que o candidato está bem nas campanhas. Também chamado de arrastão.

16 A explicação dada pelos organizadores da campanha para data escolhida para abertura oficial, foi devido

(29)

comparações associadas aos cenários internacional, brasileiro e maranhense. Apresento ainda uma discussão sobre a Lei de Cotas para mulheres 9.100/95 e 9.504/97 e sua influência no incentivo às candidaturas femininas na America Latina e no Brasil.

Na segunda parte, faço a sistematização e análise de alguns dados sobre a trajetória das deputadas federais e estaduais eleitas no Maranhão no período entre 1982 e 2006, destacando as variáveis sobre a origem social e carreira política, dedicando uma especial atenção ao caso da ex- deputada federal Terezinha Fernandes. E, finalmente, no último capítulo analisei a trajetória da deputada Maura Jorge e sua atuação no espaço de concorrência política, enfocando principalmente nas eleições municipais em Lago da Pedra.

Capítulo 2 - A CONQUISTA DOS DIREITOS DE CIDADANIA E MULHERES NA POLÍTICA: um breve retrospecto e algumas comparações.

2.1- Cidadania

(30)

Carvalho (2004), para depois apresentar alguns quadros comparativos sobre a representação parlamentar feminina.

As concepções sobre cidadania são várias, mas há um relativo consenso em torno da proposta de Marshal (1967), que identificou três tipos básicos de direitos de cidadania: direitos civis, direitos políticos e direitos sociais. Os direitos civis referem-se à conquista da liberdade pessoal, a liberdade de palavra, de pensamento e de fé, o direito à propriedade e a contrair contratos válidos, além do direito à justiça; os direitos políticos referem-se ao direito de voto e ao direito de acesso a cargos públicos; os direitos sociais vão do direito ao bem-estar econômico (trabalho, salário justo, aposentadoria), educação, saúde e a segurança. O cidadão completo seria aquele que fosse titular dos três direitos, sendo que o exercício de certos direitos não gera automaticamente o gozo de outros.

Foi fundamentado nos estudos de Marshall (1967) sobre as conquistas dos direitos na Inglaterra, que Carvalho (2004) tratou sobre o avanço da cidadania no Brasil enquanto fenômeno histórico. Mostrando que no Brasil há algumas diferenças do modelo inglês. A primeira refere-se à maior ênfase em um dos direitos, o social, em relação aos outros. A segunda refere-se à alteração da lógica da sequência em que os direitos foram adquiridos, no Brasil, o social precedeu os outros, diferentemente da Inglaterra, onde Marshall (1967) mostra que os ingleses introduziram, primeiramente, os direitos civis no século XVIII. A pirâmide dos direitos foi invertida. Aqui, primeiro vieram os direitos sociais, nos anos 30, implantados em período de supressão dos direitos políticos e de redução dos direitos civis por Getúlio Vargas – o que explicaria, em parte, a origem do Estado clientelista no país. O autor verifica que a falta de liberdade política sempre foi compensada, pelo autoritarismo do Brasil pós-30, com o paternalismo social. Enquanto que na sequência inglesa destaca Carvalho:

Na sequência inglesa havia uma lógica que reforçava a convicção democrática. As liberdades civis vieram, primeiro, garantidas por um Judiciário cada vez mais independente do Executivo. Com base no exercício das liberdades, expandiram-se os direitos políticos consolidados pelos partidos e pelo Legislativo. Finalmente, pela ação dos partidos e do Congresso, votaram-se os direitos sociais, postos em prática pelo Executivo. A base de tudo eram as liberdades civis. (2004:220)

(31)

caminho percorrido na aquisição dos direitos no Brasil, a excessiva valorização do Poder Executivo, já que Estado é visto, por muitos, como distribuidor paternalista de empregos e favores. E ligada a essa fascinação pelo Executivo estar em busca de lideranças carismáticas, de um messias político. O autor chama essa cultura orientada mais para o Estado do que para representação de ―estadania‖ em contraste com cidadania. Para exemplificar, a busca por soluções rápidas, por meio dos líderes carismáticos, cita três dos cinco presidentes eleitos pelo voto popular após 1945, Getúlio Vargas, Jânio Quadros e Fernando Collor, destacando que nenhum deles terminou o mandato, em boa parte por não se conformarem com as regras do governo representativo, sobretudo com o papel do Congresso.

Após 1985, quando da queda do regime militar, os direitos civis estabelecidos antes dele, tais como a liberdade de expressão, de imprensa e de organização, foram recuperados. Ainda assim, muitos direitos responsáveis pela aquisição da cidadania no Brasil continuam inacessíveis à maioria da população. E na história da luta por esses direitos quero, agora, chamar atenção para o processo de participação política das mulheres. Por participação política das mulheres, entendo a participação das mulheres no parlamento, nas eleições, nos governos executivos e no poder judiciário, nos conselhos e conferências de políticas públicas e também todas as ações das mulheres realizadas em função da sua auto-organização como movimento social em suas diversas vertentes – partidário, urbano, sindical, popular, rural, urbano, acadêmico. Entretanto, nessa pesquisa, dou especial atenção à participação das mulheres no parlamento e nas eleições.

2.2 Mulheres no Parlamento: direito de votar e serem votadas

(32)

1902, mas ainda com a imposição de restrições, que só vão ser retiradas em 1962 (MIGUEL, 2000).

Após a Segunda Guerra Mundial, intensificam-se as conquistas das mulheres neste campo, com 95 países assegurando às mulheres os direitos de votar e serem votadas. Daí em diante, quase que ano a ano, novos países asseguram às mulheres esses direitos. Mas, somente em 1971 as mulheres suíças tiveram seus direitos de votar e serem votadas assegurados. E de forma mais tardia, no ano de 1976, Portugal eliminou toda e qualquer restrição ao direito das mulheres portuguesas de votar e serem votadas.

Na América Latina, Chile – em 1931, Brasil – em 1932, e Bolívia – em 1938, foram os primeiros a assegurar, ainda que muitas vezes acompanhado de condições ou restrições, o direito às mulheres de votar e serem votadas. Na Argentina, este direito é conquistado em 1947. As mulheres paraguaias foram as que mais tardiamente conseguiram seu direito de voto na América Latina – somente em 1961.

Como marcos históricos desse contexto que contribuíram para o crescimento da representação parlamentar podemos citar a criação da Organização das Nações Unidas (ONU), em 1945, e a aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, a exemplo do artigo 21.1: “todos têm o direito de participar no governo do seu país, diretamente ou através da livre escolha de seus representantes”. Apesar de as regras do Direito estarem longe de representar as regras de fato, pode-se observar esse aumento por intermédio de alguns dados.

(33)

A Convenção de 1952 teve como principal objetivo firmar o reconhecimento do direito das mulheres a fazerem parte de governos e serem livremente escolhidas para representação política. A Convenção para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, de 1979, propugnou a adoção de medidas legais de proteção dos direitos da mulher, refreando as práticas de discriminação que impedem a participação feminina nas instituições políticas e em todos os campos da autoridade pública. Em 1985, em Nairóbi, dentre as proposições havia uma seção intitulada “Igualdade na participação política e nos processos

de decisão‖, no seu parágrafo 86 e seguintes, afirmaram a necessidade de intensificar esforços

para assegurar a igualdade da participação da mulher nos corpos legislativos nacionais e locais. Um outro marco que mobilizou mulheres de todo mundo foi a IV Conferência Mundial sobre a Mulher ocorrida em Beijing em 1995, apesar de muitas diferenças entre as representações dos vários países- sob regimes econômicos, políticos, práticas religiosas, costumes os mais diversos, houve um significativo avanço rumo à conquista da igualdade das populações femininas. Conforme pode ser observado no quadro 1, a partir dos anos 90, ocorreu um aumento significativo na percentagem de mulheres no parlamento do Brasil, alcançando metade dos índices mundiais, isso pode ser atribuído, em parte, às discussões e aprovação posterior da Lei de Cotas.17

Quadro1- Representação parlamentar de mulheres no Brasil e no cenário internacional.

ANO NÚMERO DE

PARLAMENTOS % DE MULHERES NOS PARLAMENTOS DO

MUNDO

% DE MULHERES NO PARLAMENTO

DO BRASIL*

1945 26 3 0,0

1955 61 7,5 0,9

1965 94 8,1 0,5

1975 115 10,9 0,3

1985 136 12 1,7

17

(34)

1995 176 11,6 6,3

2005 187 16,2 8,3

Fonte: Women in Politics: 60 years in retrospect, 1945-2005.www.ipu.org *www.tse.gov.br

A percentagem de representação feminina no parlamento varia muito conforme as regiões consideradas (quadro2). De acordo com dados da União Interparlamentar destacam-se os países Nórdicos que possuem uma representação média de gênero no parlamento de 40%. Em seguida, os conjuntos dos países das Américas e da Europa possuem uma representação próxima a 20%, ou seja, metade da representação dos Países Nórdicos. Em quarto e quinto lugar, os países da África Sub-Saara e da Ásia apresentam uma taxa de participação das mulheres no parlamento de 17,5% e 16,3%, respectivamente. Bem abaixo da média mundial, de 16,8%, aparecem os países árabes, que apesar das mulheres continuarem subrepresentadas, com 8,2%, a sua participação, duplicou nos últimos oitos anos, principalmente em países como Djibuti, Jordânia, Iraque, Marrocos e Tunísia. Também abaixo da média mundial aparece o Brasil com 8,6%. Os aumentos mais importantes registaram-se em África e na América Latina, onde o aumento médio nos últimos dez anos foi de cinco pontos percentuais.

Quadro 2- Representação feminina no parlamento conforme as regiões do mundo- 2006

Fonte: www.ipu.org

Seria inviável nessa pesquisa tentar explicar os diversos motivos da pequena presença de mulheres na elite política e quais as causas dessas variações de representação feminina nas

REGIÃO %

Países Nórdicos 40

Américas 20,2

Europa 19,6

África Sub-Saara 17,5

Ásia 16,3

Países Árabes 8,2

Média Mundial 16,8

(35)

regiões do mundo. Mas existem estudos sobre essa temática com perspectiva comparativa entre países. Cito o exemplo da pesquisa desenvolvida na França por Achin (2005) sobre os diferentes processos que contribuíram para entrada das mulheres no parlamento, a autora analisa os pontos comuns e divergentes na França e Alemanha entre 1945 a 2000, articulando numa perspectiva macro e micro as mudanças (políticas, institucionais, sociais, culturais, etc.) ocorridas nesses países e as diferentes trajetórias das deputadas na França e na Alemanha. Achin (2005) considera diferentes variáveis como a origem social, profissional e política, número de mandatos, regime matrimonial, idade de ocupação de cargos eletivos das deputadas, por meio destas faz uma comparação das características das diferentes trajetórias das deputadas francesas e alemãs.

Primeiramente Achin (2005) considera a variável da nacionalidade para distinguir as características das deputadas, observando as peculiaridades de cada país no recorte temporal proposto. O eixo temporal é divido na França, primeiramente, entre os anos de 1945 a 1956. As mulheres eleitas deputadas nesse período são, em sua maioria, jovens (entram no parlamento antes dos 40 anos), exercem profissões ―menos qualificadas‖ (comerciantes, artesãs, agricultoras, operárias), grau de escolarização inferior ao bacharelado, tiveram carreiras militantes em partidos e sindicatos, a autora as chama de les résistantes.

O outro recorte temporal se refere às deputadas francesas eleitas depois dos anos 80. A autora as distingue de acordo com sua filiação partidário e origens sociais. São as deputadas ―socialistas‖, que em sua maioria vivem em concubinato ou são divorciadas, participaram de militância em associações, dispõem de diplomas superiores na área de Licenciatura, a autora as chama de les énarques. E as deputadas dos partidos considerados de direita (gaullistes,

libérales et d‟extrême droite). Estas, em sua maioria são casadas, exercem profissões ―mais

qualificadas‖ (chefes de empresas e professions intellectuelles supérieures), entram no Parlamento com mais de 50 anos e exerceram anteriormente carreiras de assistência parlamentar, Achin (2005) as chama de députées de terrain.

(36)

acesso singular, a autora as chama de députées alternatives. Entre deputadas eleitas entre o fim dos anos 60 na Alemanha e o fim dos anos 80, prevalecem mulheres com diplomas de curso superior em licenciatura, exercem profissões consideradas superiores, participaram de militância partidária ou de associação, são casadas ou solteiras e praticantes de crenças religiosas (católicas ou protestantes). Achin (2005) as chama de femmes de parti, em razão da estrutura de seu capital, sua carreira depende, em boa parte, da sua participação na organização partidária. Por meio das construções desses tipos o trabalho de Achin (2005) evidencia como a profissão política não se apóia sobre um equivalente universal e não pode ser delimitada mediante uma competência sem levar em conta, variações conjunturais e históricas.

No Brasil, há o trabalho de Avelar (2001), que fez uma comparação mais apurada sobre os diferentes níveis de participação feminina entre alguns países latino-americanos e o conjunto de países nórdicos. Avelar (2001) destaca que uma das causas das diferenças da participação feminina entre esses dois blocos de países é a diferença entre os países que têm forte tradição participativa e aqueles que têm um Estado forte aliado ao poder local, como é o caso dos países latino-americanos. A autora propõe uma discussão se existe ou não uma correlação positiva entre níveis de qualidade de vida e a representação política feminina. Os nórdicos são os que têm mais alto IDH e entre os países latino-americanos, a Argentina se destaca no IDH e na representação feminina. Há uma infinidade de fatores que atuam na ascensão política das mulheres, mas ao que tudo indica, é necessário um mínimo de redistribuição social de renda para que seja incrementada a representação dos segmentos.

Quando discute sobre a participação das mulheres na política nos países latino-americanos, Avelar (2001) chama atenção para o fato de estes terem passado por regime político autoritário, porém com suas peculiaridades. Na Argentina, ainda sob repressão, as mulheres das famílias de mortos e desaparecidos no regime militar, aglutinaram-se em movimentos de protesto: Las Madres de La Plaza de Mayo, organização de protesto contra os militares, ocupando a praça quase diariamente, criaram uma rede de solidariedade. Mães, filhas, esposas, irmãs foram unidas por verem seus entes queridos desaparecidos, estas construíram e continuam construindo a base da representação política feminina naquele país.

“Não é sem motivo que, no ranking da representação sul-americana, a Argentina é o país com mais alta taxa de presença de mulheres na política formal, uma extensão de sua

(37)

O Chile, devido o regime autoritário, dividiu as famílias e as mulheres entre pró-Pinochet e anti-pró-Pinochet. As mulheres das famílias vítimas das mortes do regime também se uniram criando foco de solidariedade. O caso do México é distinto, um país de partido único por quase um século, nas últimas quatro décadas viu a emergência da organização das mulheres nos movimentos sociais, toleradas pelo regime autoritário do Partido Revolucionário Institucional- PRI. A grande dificuldade residia na construção de movimentos autônomos sem a interferência do Estado, porque a marca da intermediação clientelística nos programas sociais do governo neutralizava a construção de identidades políticas, fossem elas femininas ou não. Ou seja, um Estado forte e desmobilizador.

Em relação às razões da baixa presença feminina na política, existem alguns estudos, tais como Avelar (2001), Araújo (1998), Miguel (2001) que apresentam algumas explicações. No geral são argumentos ligados às estruturas familiares, à vida pessoal, aos sistemas econômicos, às estruturas do Estado, aos tipos de regimes políticos e ao grau de tradicionalismo e religiosidade dos respectivos países. Outras dizem respeito às relações entre movimentos sociais e partidos políticos, cujo argumento central é o de que a participação e o ativismo local não resolvem o problema da exclusão política da mulher. Outras, ainda, sob enfoques institucionalistas, afirmam sobre a dificuldade de se conseguir dos partidos a adoção de desenhos institucionais que mudem os princípios de representação democrática.

Entretanto apesar da representatividade feminina na política ainda ser baixa, alguns avanços já podem ser observados, como os países que conseguiram atingir e até mesmo ultrapassar o percentual mínimo fixado pela ONU (ver quadro3). O objetivo de 30% fixado pela ONU para a representação de mulheres nos parlamentos, definido para 1995, é considerado como a ―massa crítica‖ de mulheres necessária para que tenham uma influência considerável nos trabalhos do parlamento. Exemplos de países que já ultrapassaram esse percentual é Ruanda18 (48,8%) e Suécia (45,3%).

Um marco, em relação ao aumento da participação de mulheres na vida política, foi a eleição para presidente no Chile de Michelle Bachelet, primeira mulher eleita na América do Sul. Michelle Bachelet criou o primeiro gabinete paritário, composto igualmente por homens

18 Ruanda pertence ao grupo de nações que atravessaram um período traumático, a exemplo do genocídio

(38)

e mulheres (10 ministros para cada um). No quadro 3 apresento a lista dos países que têm uma mulher como Chefe de Estado ou de Governo.

Quadro 3- Os 20 países onde as mulheres representam pelo menos 30% na Câmara Única ou baixa do Parlamento19- ano 2005.

Ruanda 48,8% Moçambique 34,8%

Suécia 45,3% Bélgica 34,7%

Noruega 37,9% Áustria 33,9%

Finlândia 37,5% Islândia 33,3%

Dinamarca 36,9% África do Sul 32,8%

Países Baixos 36,7% Nova Zelândia 32,2%

Argentina 36,2% Alemanha 31,8%

Cuba 36% Guiana 30,8%

Espanha 36% Burundi 30,5%

Costa Rica 35,1% Rep. Unida da

Tanzânia 30,4%

Fonte: site União Interparlamentar, www.ipu.org

Quadro 4- Países que têm uma mulher como Chefe de Estado ou de Governo-2006

País Cargo

Chile Presidente

Finlândia Presidente

Irlanda Presidente

Letônia Presidente

Libéria Presidente

19 Nos países com parlamentos unicamerais a legislatura desenvolve sua prática política por apenas uma câmara

(39)

Filipinas Presidente

Bangladeche Primeira- Ministra

Alemanha Chanceler

Nova Zelândia Primeira- Ministra

Moçambique Primeira- Ministra

São Tomé e Príncipe Primeira- Ministra

Fonte: www.ipu.org

2.3- Mulheres na Arena Política Brasileira

O chamado movimento sufragista ganhou força no Brasil no início do século XX, culminando com a conquista do direito ao voto pelas mulheres, que se deu em 1932, constituindo um marco inicial na história da participação da mulher no parlamento, a despeito da obtenção desse direito de cidadania, poucas mulheres venceram as resistências e ousaram se candidatar aos cargos legislativos, sendo que uma percentagem ainda menor conseguiu fazer parte do time dos eleitos. Mas bem antes de 1932, já podem ser observados no Brasil alguns marcos importantes na luta pelo direito das mulheres.

Muitas foram as mulheres que, anonimamente, desbravaram os primeiros caminhos para a emancipação feminina no Brasil. Uma trajetória, porém, ficou registrada: a da pioneira Dionísia Gonçalves Pinto, nascida em 1809, no sítio da família, em Papari, Rio Grande do Norte, cidade que hoje leva o pseudônimo de sua filha mais ilustre, Nísia Floresta. Segundo o Cfemea- Centro Feminista de Estudos e Assessoria- em 1831, já então ativista pelos direitos das mulheres, Dionísia Gonçalves Pinto publica uma série de artigos sobre a condição feminina em jornais de Recife, em Pernambuco, onde passara a residir. E em 1832, aos 22 anos, seu primeiro livro: Direitosdas Mulheres e Injustiça dos Homens, obra que defende o direito das mulheres à educação e ao trabalho.

Imagem

Ilustração 1- Fotos da atuação profissional de Cleide Coutinho no município de Caxias
Ilustração 2- Edson Vidigal e Alexandre Costa visitando o Hospital administrado pelos  Coutinho
Ilustração 4 - Capa do cd do relatório de atividades de Helena Heluy- 2007
Ilustração 5- Escritório da Família Jorge de Atendimento aos moradores de Lago da Pedra
+7

Referências

Documentos relacionados

24/02/11, às 15hs, na sala de aula do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, no Centro de Ciências

27/02/2013, na sala de aula do programa de pós-Graduação em ciências Sociais, no centro de ciências Humanas –

Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão, para obtenção do título de Mestre em Ciências

Depois do aceite do anexo 01 pelo coordenador de curso, o estagiário/aluno deverá indicar seu professor supervisor o qual deverá aceitar orientar o aluno (Anexo

Ficou evidente neste trabalho que a polarizabilidade é sensível à presença de resíduos, e que o efeito IP é relacionado à presença de materiais polarizáveis dispostos na cava,

Partindo desses fatos, o objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito do magnésio, boro e manganês na absorção de zinco por raízes destacadas em duas cultivares de arroz (IAC 165 e

De acordo com os dados obtidos neste experimento, sugere-se que, para ovelhas da raça Santa Inês, criadas nas condições do presente experimento, o melhor intervalo de tempo para

“José Serra: Qual pai, qual mãe de família não se sente ameaçado pela violência, pelo tráfico, pela difusão do uso de drogas? As drogas são hoje uma praga nacional. E aqui