André Gustavo Campos Pereira
Joaquim Elias de Freitas
Roosewelt Fonseca Soares
Cálculo I
D I S C I P L I N A
A primitiva
Autores
aula
Divisão de Serviços Técnicos
Catalogação da publicação na Fonte. UFRN/Biblioteca Central “Zila Mamede”
Governo Federal Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Ministro da Educação
Fernando Haddad
Secretário de Educação a Distância – SEED
Carlos Eduardo Bielschowsky
Universidade Federal do Rio Grande do Norte Reitor
José Ivonildo do Rêgo
Vice-Reitora
Ângela Maria Paiva Cruz
Secretária de Educação a Distância
Vera Lúcia do Amaral
Secretaria de Educação a Distância- SEDIS Coordenadora da Produção dos Materiais
Marta Maria Castanho Almeida Pernambuco
Coordenador de Edição
Ary Sergio Braga Olinisky
Projeto Gráfico
Ivana Lima
Revisores de Estrutura e Linguagem
Eugenio Tavares Borges Jânio Gustavo Barbosa Thalyta Mabel Nobre Barbosa
Revisora das Normas da ABNT
Verônica Pinheiro da Silva
Revisoras de Língua Portuguesa
Janaina Tomaz Capistrano Sandra Cristinne Xavier da Câmara
Revisores Técnicos
Leonardo Chagas da Silva Thaísa Maria Simplício Lemos
Revisora Tipográfica
Nouraide Queiroz
Ilustradora
Carolina Costa
Editoração de Imagens
Adauto Harley Carolina Costa
Diagramadores
Bruno de Souza Melo Dimetrius de Carvalho Ferreira Ivana Lima Johann Jean Evangelista de Melo
Adaptação para Módulo Matemático
André Quintiliano Bezerra da Silva Kalinne Rayana Cavalcanti Pereira Thaísa Maria Simplício Lemos
Colaboradora
Viviane Simioli Medeiros Campos
Imagens Utilizadas
Apresentação
C
omeçamos a estudar a derivada de uma função na aula 4 (A derivada), na qual a definimos; nas aulas seguintes, calculamos a derivada de diversas funções utilizando as propriedades das funções deriváveis. Nesta aula, trataremos de uma situação a qual chamaremos de “situação inversa”: dada uma função, queremos saber a função que, quando derivada, resulta na função dada. Esta é chamada de primitiva da função dada e constituirá o tema central desta aula.Objetivos
A primitiva
Se perguntarmos qual a derivada da função fx) =osx), você, mais que rapidamente,
me responderá fx) =snx). Vamos agora pensar na situação inversa, através das perguntas que seguem.
1)
Qual função, quando derivada, nos fornece como resposta fx) =snx)? Ou melhor, qual a função x) cuja derivada é fx) =snx)?Sem nos preocuparmos muito com os sinais, sabemos que quando derivamos um seno obtemos um cosseno e que ao derivarmos um cosseno obtemos um seno. Assim, se a derivada envolve a função seno, é porque a função que derivamos envolve a função cosseno e, portanto, uma possibilidade de resposta é fx) =osx). Precisamos agora verificar
se fx) =osx) é realmente a resposta à pergunta 1, e vamos fazê-lo derivando x): sabemos que fx) =snx), logo fx) =osx) é a resposta.
E se a pergunta fosse:
2)
Qual função cuja derivada é fx) =snx)?Agora, já não teríamos fx) =osx) como solução, já que fx) =snx). Ora, mas e aquela conversa de que, a menos de sinal, a função que, quando derivada, gera um seno é um cosseno, furou? Não, não furou nada! Lembra-se de que dissemos a menos de sinal? Pois bem, se fx) =osx) não está funcionando, que tal experimentar fx) =osx)?
Derivando, obtemos
Atividade 1
Logo, uma resposta para a pergunta 2 é fx) =osx).
Para se acostumar a essa pergunta, nada melhor do que você responder a algumas questões.
Encontre uma função cuja derivada é representada pelas funções abaixo:
a)
ffxx) =) =ososxx))b)
ffxx) =) =ososxx))c)
ffxx) =) =d)
xx) =) = 11 x xe)
ffxx) =) =sensenxx) +) +ososxx))Agora que essas novas idéias não estão mais nos parecendo tão estranhas, voltemos nossa atenção novamente para a pergunta 1. Sendo a função fx) =osx) resposta a essa pergunta, qual a função cuja derivada é a função fx) =snx)? Observe, então, que fx) =osx) + 3 também é uma resposta. De fato, derivando fx) =osx) + 3,
obtemos
fx) = osx) + 3)= osx))+ 3) =senx) + 0 =senx),
ou seja, não existe apenas uma resposta, pois fx) =fx) =osx) +osx) +k, k onde é uma constante
qualquer, também é resposta à pergunta inicial e como essa constante pode assumir qualquer valor, temos que a pergunta inicial possui infi nitas respostas corretas!
Defi nição
Seja ff RR uma função defi nida em um intervalo I. Uma primitiva de f em I é uma função II RR , tal que xx) =) =ffx)x) para todo xx e
dizemos que as infi nitas primitivas da f, dadas por xx) +) +kk, onde k é uma
Atividade 2
Exemplo 1
x) = 1
3x é uma primitiva para x) =x em R, pois
x) = 1
3x3
= 1
33x3 =x2
e x) = 1
3x+k, onde k é uma constante qualquer é a família das primitivas da f. Então, perguntar: qual a função que quando derivada nos fornece como resposta fx) =snx), ou melhor, qual a função x), cuja derivada é fx) =snx), é equivalente a perguntar qual a primitiva de snx).
Você deve ter notado que se souber qual é a derivada de uma função, automaticamente, saberá identifi car a família das primitivas da função derivada. Observe: dada x) =x,
temos x) = 2x. Assim, uma primitiva de x) = 2x é x) =x e, consequentemente, x) =x+k é a família das primitivas da x) = 2x.
Liste as funções cujas derivadas você conhece e dessa forma, encontre a família das primitivas da derivada. Monte uma tabela mais ou menos assim:
Tabela 1
Função Derivada Função Família
das primitivas
xx ⇒ xx xx
⇒ kk
n
nxx))
⇒
lnlnxx) +) +
Vamos lá, você tem muito trabalho pela frente!
Atividade 3
Relembre a regra da cadeia (aula 5) e acrescente à sua tabela primitivas mais elaboradas como, por exemplo:
gx) =lnx))gx) = x) x) .
Com essa informação em mãos, podemos encontrar muitas outras famílias de primitivas, por exemplo:
Tabela 2
Função xx)))) Derivada de lnlnxx)))) ⇒ Função Família das primitivas
os
osxx)) sensenxx))
os
osxx)) ==tgtgxx)) ⇒ ttxx)) lnlnososxx)) +)) +kk
sn
snxx)) ososxx)) sen
senxx)) ==otgotgxx)) ⇒ otgotgxx)) lnlnososxx)) +)) +kk
A única observação que faremos na tabela anterior é que devemos tomar cuidado quando compomos as funções para que a imagem da primeira
g esteja contida no domínio da segunda f, de modo que a composta g
faça sentido. Por exemplo, na lnosx)) devemos ter cuidado para que os pontos x sejam tais que o cosx)0, já que o domínio do são
os reais positivos. Por isso, na maioria das tabelas encontradas nos livros,
a primitiva da tgx)éln|osx)| ou, para complicar um pouco mais,
ln|osx)|=ln|osx)|=ln 1
|osx)| =ln|sex)|. Então, não fi que
muito preocupado se sua resposta não fi car igualzinha à dos livros.
Notação – Usaremos a notação fx)x para representar a família das primitivas da
função x), ou seja,
fx)dx=x) +k,
onde k é uma constante.
Na notação fx)x, a função f denomina-se integrando. Uma primitiva de f é, também,
denominada uma integral indefi nida de f.
O símbolo
signifi ca apenas que estamos procurando a família das primitivas da função xx)) e o dx expressa a variável (independente) com a qual estamos
trabalhando, ou seja, x. Então, só para fi xarmos a idéia:
Símbolos que delimitam a Símbolos que delimitam a função de interesse função de interesse z
z }|}| {{
Z Z
f
fxx)) |
|{z{z}} xx função da qual
função da qual queremos a primitiva queremos a primitiva
Que negócio é esse de variável independente?
Não está lembrado? Então é um bom momento para reler a aula 3, no qual iniciamos uma conversa sobre taxa de variação. Se a variável independente é x, o que representa a
função x) = 2t?
Vamos lá, suponhamos que o domínio dessa função seja toda a reta (R). Então, quanto
valem f1) f2)ef10)?
Calculemos tais valores. Note que a função toma um valor x e o transforma (leva no ponto
de sua imagem) em x) = 2t. Assim ele transformará 1 em f1) = 2t22 em 2) = 2te10
e 10 em 10) = 2t. Ou seja, todo ponto do domínio está sendo levado num mesmo ponto da imagem, a saber, 2t. Ora, mas a função que leva todo valor num mesmo ponto é chamada função constante. Então, se a variável independente não aparece na expressão da função, isso signifi ca que a função será uma função constante.
Exemplo 2
Encontre xx
Mas, xx signifi ca: qual a família das primitivas da função x) = 2x se a variável
independente for x? Resposta: x) =x+K.
Exemplo 3
Encontre tx
Mas, tx signifi ca: qual a família das primitivas da função x) = 2t, se a
variável independente for x? Em outras palavras, qual a função cuja derivada nos dá uma
função constante?
Solução
Vamos lá: se tivéssemos perguntado qual a função xx)) cuja derivada é
xx) = 1) = 1, você mais que rapidamente me diria xx) =) =xx.
E se pedirmos a função xx)) cuja derivada é ffxx) =) =, onde L é uma
constante? Sabemos, pelas regras de derivação (seria um bom momento de rever a aula 4), que a derivada de uma constante vezes uma função é a constante vezes a derivada da função ffxx) =) =ggxx))ffxx) =) =ggxx)))),
logo, podemos imaginar ffxx) =) =LL==L1L1, onde 1 =1 =xx)). Ora, sabemos
que se 1 =1 =xx)), então, xx) =) =xx, assim, ffxx) =) =ggxx) =) =xx. Verifi cando: f
fxx) = ) = LxLx))==LxLx ==LL1 =1 =LL.
Resumindo: dxdx==xxkk.
Voltando a
txtx, temos que a função xx) = 2) = 2tt é constante se a variável
independente for x, e como já vimos qual é a primitiva de uma função constante,
temos
2
Se você ainda não releu a aula 4, seria um bom momento de fazer isso. Estamos insistindo nesse ponto porque usaremos as propriedades das derivadas e gostaríamos que estivesse claro cada passo que faremos.
Revisando, se f gf gII RR são funções deriváveis e cc é uma constante,
temos:
i)
ffxx)))) ==ffxx))ii
) xx) +) +ggxx)))) ==xx) +) +ggxx))iii)
xx))ggxx)))) ==xx))ggxx))Usando essas propriedades da derivada, vamos demonstrar as propriedades da integral indefi nida.
Teorema 1
Sejam f gf gII RR funções, cc uma constante e F GF GII R as
primitivas de f e g, respectivamente. Então:
a)
ffxx))dxdx== f fxx))dxdx
b)
ffxx) +) +ggxx))))xx== f
fxx))xx++
g
gxx))xx
c)
ffxx))ggxx))))xx== f
fxx))xx
g
gxx))xx
Demonstração – Por hipótese, temos que Fé uma primitiva da f, ou seja,
fx)dx=x) +K, onde é uma constante qualquer e G uma primitiva da g, ou
seja, gx)dx=x) +k, onde também é uma constante qualquer. Em particular,
fazendo = , obtemos:
fx)dx=x)
e, fazendo = , obtemos:
gx)dx=x).
a)
A equação (1) é equivalente a x) =fx), para todo x.Se multiplicarmos a igualdade anterior por c, temos
cx) =cfx), para todo x.
Pelo item i) das propriedades de derivadas, temos que cx) = cx)). Retornando à
equação (3), podemos reescrevê-la da seguinte forma
cx)) =cfx) para todo x.
A equação anterior significa que cx) é uma primitiva de cx) e, novamente, fazendo a
constante da família de primitivas igual a zero, temos
1)
cfx)dx=cx) =c
fx)dx.
b)
As equações (1) e (2) são equivalentes a:x) =fx)eGx) =gx) e , para todo x.
Somando as igualdades anteriores, temos
x) +Gx) =fx) +gx) , para todo x.
Pelo item ii) das propriedades de derivadas, temos que
x) +Gx) = x) +Gx)). Retornando à equação (4), podemos reescrevê-la da seguinte forma
x) +Gx))=fx) +gx), para todo x.
A equação anterior significa que x) +Gx) é uma primitiva de x) +gx) e, fazendo
novamente a constante da família de primitivas igual a zero, temos: 1)e2)
fx) +gx))dx=x) +Gx) =
fx)dx+
Atividade 4
Vamos ver, por meio dos exemplos, como esse teorema facilita o cálculo de primitivas.
Exemplo 4
Calcule
xx.
Demonstre, usando as idéias da demonstração do item b), o item c) do
teorema 1.
Solução
Pela nossa tabela, sabemos que nxnxxx==xx. Multiplicando ambos os
lados da igualdade por
, temos
n n nx
nxxx== n nxx
;
mas, pela propriedade a do teorema 1, temos que n n nx
nxxx==
n nnxnx
xx== xxxx.
Juntando essas informações, obtemos xxxx xx
n n .
Dessa forma, encontramos a primitiva de todas as funções do tipo :
x2dx= x 3
3 ,
x3dx= x 4
4 , ,
xdx= x 1
n 1,
1)
x+xx3)x= xx+
xx
x3x= x 2 + x3 3 x4 4
2)
3x+ 4x6)x= 3xx 4x6x= 3 xx4 x6x= 3x 2 4x7 7
Lembre que essa é uma das possíveis primitivas. Para sermos mais precisos na resolução, devemos acrescentar uma constante para exprimir que para qualquer constante o valor anterior continua sendo uma primitiva, assim
1)
x+xx3)dx= x 2 + x3
3 x4
4 +
2)
3x+ 4x6)dx= 3x 2 4x7 7 +
onde K e L são constantes.
Fazendo mais uma revisão da aula 4, vimos que se f gI R são funções deriváveis,
então:
1)
x)gx)) =x)gx) +x)gx)2)
Se x)= 0, para todo x,então, vale x) gx)
= x)gx)x)gx) gx)
.
Podemos, então, calcular
fx)gx) +fx)gx))dx=fx)gx) +
e
fx) gx)
dx=
fx)gx)
fx)gx) gx)
dx= fx) gx) +.
Exemplo 5
Calcule:
osx) lnx)senx) x
Atividade 5
Chegou a hora de praticar primitivas!!!
Calcule:
a)
2 +y)xb)
2
x e
x
c)
3sen+ 2cos)dd)
t1 +t)te)
x3√x3x4x2xf)
1
2y
2e
y
g)
xosx)2xsenx) x4 dx
h)
2xosx)xsenx))dxSolução
Nesta situação dá para perceber nitidamente que se fi zermos ffxx) =) =snsnxx))
e xx) = ln) = lnxx)) a expressão anterior a ser calculada é exatamente
f
fxx)) g
gxx))
dx
dx==
f
fxx))ggxx))ffxx))ggxx)) g
gxx))
dx
dx== ffxx))
g
gxx)) ++, portanto,
o resultado é coscosxx) ln) lnxx)) sen
senxx)) x
x ln
lnxx)) dxdx==
sen
senxx))
ln
Resumo
Auto-avaliação
Descreva com suas palavras o que entendeu sobre o significado da primitiva de uma função.
Referências
ANTON, Howard. Cálculo: um novo horizonte. 6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2000. v 1.
GUIDORIZZI, Hamilton Luiz. Um curso de cálculo. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2001. v 1.