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REVISTA DO CENTRO DE HISTORIA DA
UNIVERSIDADE DE LISBOA - VOL. 4 -1982
REVISTA DO CENTRO DE HISTÓRIA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA
VOLUME 4-1982
Direcção de
Francisco Salles Loureiro João Medina Victor Gonçalves
CLlO - REVISTA DO CENTRO DE HISTÓRIA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA - VOL. 4 -1982
REVISTA DO CENTRO DE HISTÓRIA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA
VOLUME 4-1982
Direcção de
Francisco Salles Loureiro João Medina Victor Gonçalves
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ESTUDOS & INTERVENÇÕES
O povoado calcolítico do Cabeço do Pé da
Erra (Coruche). . . . . 7
Victor Gonçalves
Materiais campaniformes do concelho de
Oliveira do Hospital . . . . . 19
João Carlos de Senna Martinez
Cerâmicas da Idade do Ferro da Alcáçova de
Santarém . . . . 35
Ana Margarida Arruda
Uma introdução ao Domesday Book 41
Fernanda Maurício
Política norte-africana: rumos na expansão
portuguesa. . . 51
Maria Clara Junqueiro
Uma carta inédita de Afonso de
Albuquer-que. . . . . 61
Maria Clara Junqueiro, Ant6nio Ribeiro Guerra
Jesuítas na crista da onda da política
sebás-tica . . . - . . . .
Francisco Salles Loureiro
O crescimento de Lisboa e Porto na segunda
71
metade do séc. XIX e princípios do XX 79
Ant6nio Ravara
Arquivos históricos de Lisboa: contribuição para um roteiro . . . .
Arnaldo Ant6nio Pereira
ENTREVISTA
Entrevista com Aurélio Quintanilha 121 João Medina
VÁRIA
Datation au C14 du site archéologique de la plage de Magoito . . . . . 133 Suzanne Daveau, Ana Ramos Pereira, Geor-ges Zbyszewski
Povoado pré-históriCo tio Cabeço do Cubo (Campo Maior) . . • . . . . . 137 Jorge Oliveira, Ana Carvalho Dias
Epitáfio de Euprepres . . . 141 José d' Encarnação
Um mercúrio em bronze, inédito 143
Pedro Barbosa
A propósito de Morón . António Dias Diogo
RELATÓRIOS DE ACTIVIDADE Cerro do Castelo de Santa Justa (Campanha
147
4(82) . . . . . 155 Victor Gonçalves
Escavações arq. na Ilha do Pessegueiro (3. a Campanha) . . . . , 165 Carlos Tavares da Silva, Joaquina Soares, Antónia Coelho Soares
CLIO· REVISTA DO CENTRO DE HISTORIA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA· VOL. 4 -1982
Escavações arqueológicas
na Ilha do Pessegueiro
(3.
aCampanha, 1982)
Carlos Tavares da Silva *, Joaquina Soares" e Antónia Coelho-Soares"
A terceira campanha de escavações na Ilha do Pessegueiro organizou-se, tal como a anterior (1),
em campo arqueológico aberto a estudantes dos ensinos secundário e superior e a estudiosos da Arqueologia (2). Promovida pelo Gabinete da Área de Sines, contou com o apoio do Museu de Arqueologia e Etnografia de Setúbal. Realizou-se de 26 de Julho a 27 de Agosto de .1982.
Os trabalhos distribuiram-se por quatro zonas: zona exterior (a Oeste) dos compartimentos 121 e J23; compartimento H2 e forno G25; fábrica de salga D14; compartimentos 18-J8, 111-112, J13 e Kl1.
Zona exterior (a Oeste) dos compartimentos 121 e J23
A escavação abrangeu os Qs. F21-F24, G21--G24, H22 (metade Oeste), H23 e H24, do Sector II. Não foram reveladas estruturas arquitectóni-cas. Observou-se a seguinte sucessão estratigrá-fica (de cima para baixo):
C.l - Esp. ca 0,10-0,20 m.. Areia cinzenta escura, solta, rica em raizes; escasso material ar-queológico, de um modo geral erodido (presente a forma Hayes 61 de S. clara D). Na base, surgem numerosos fragmentos de imbrices e alguns
frag-• Sector de Arqueologia. Gabinete da Área de Sines.
mentos de tegulae (na proporção de 1 de tegula
para 5 de imbrices).
C.2 - Esp. ca. 0,10-0,35 m. (limites irregulares). Inclinada de Oeste para Este. Areia amarelo-acas-tanhada, solta, com blocos de grés dunar em geral de pequenas dimensões (0,05 a 0,10 m. de compro máximo). Nos Qs. F21-F24 assenta directamente sobre a rocha lapializada.
Além de fragmentos de cerâmica comum, for-neceu t.S. sudgálica (formas Drag. 18/31 e Drag.
27), t.S. hispânica (forma Drag. 15/17) e t.S. clara (formas Hayes 9,27 e 59). Esta mistura de peças dos séculos I, II-III e IV, a par das caracteristicas sedimentológicas e do facto do limite inferior da camada ser muito irregular em resultado de esta ter ido preencher cavidades abertas, pela erosão, na C.3, leva-nos a supor que a formação da C.2 teria ficado a dever-se ao carreamento de materiais, por agentes da dinâmica externa, provenientes de cotas mais elevadas da jazida.
C.3 - Esp. ca. 0,05 m.-0,25 m .. Limite superior muito irregular com bolsas preenchidas por mate-riais da C.2; limite inferior regular. Inclinação de Oeste para Este. Argila arenosa, amarela, contendo numerosos fragmentos de xisto de pequenas di-mensões.
Esta camada, com escasso espólio, exclusiva-mente do séc. I (t.s. sudgálica: formas Drag. 24/25
e Drag. 27), ocupa somente uma faixa de largura irregular, com cerca de 3 m.-3,5 m., distribuida ao longo da face externa dos muros 31 e 34, per-tencentes aos compartimentos, respectivamente, J23 e 121. Corresponde ao derrube da taipa que
constituia a parte superior destes muros. Verifi-fica-se, assim, que tais muros foram construidos
no séc. I, embora tenham sido reutilizados nos sécs. II-III aquando da reorganização do espaço
abrangido pelos compartimentos J21 e 123.
C.4 - Esp. muito variável (máxi,ma observada
ca.
0,10 m.). Preenche as cavidades naturais darocha lapializada. Areia solta cinzento-amarelada clara com espólio (séc. I d. C.), de que se
desta-cam fragmentos de lábio de ânforas das formas Beltran IV e Dressel 20 (lábio arredondado da
primeira fase de produção).
Verifica-se, pois, que a zona exterior, e situada a Oeste, dos compartimentos 121 e J23 não foi
jamais ocupada, tendo os níveis arqueológicos da
estratigrafia referida resultado, por um lado, da acumulação de materiais arrastados naturalmente de zonas de cotas mais elevadas da jazida, e, por outro, do derrube da taipa que formava a parte superior das construções do séc. I (cf. relatório da 2.& campanha).
Compartimento H2 e fomo G25
A escavação desta zona abrangeu os Qs. F25, G25 e H25 do Sector II e os Q~. FI, F2 e G1-G3 do Sector IV. Consistiu na remoção do testemunho que tinha sido deixado n0 canto W.SW. do comp.
H2 e na escavação da área situada no exterior e
imediatamente a Oeste e a Sul deste comparti-mento.
A escavação do referido testemunho, além de ter posto a descoberto as metades S.SW. e W.NW. dos muros 22 e 23, respectivamente, veio confirmar a estratigrafia observada na campanha anterior (cf. respectivo relatório) e precisar melhor o seu significado.
Não há dúvida de que o comp. H2 foi cons-truido e inicialmente ocupado no séc. I d. C ..
Após um perlodo de abandono - durante o qual o derrube dos seus muros de taipa provocou a for-mação, directamente sobre o pavimento cortado na rocha, de uma camada de argila arenosa, con-tendo numerosos fragmentos de xisto de pequenas dimensões - , assiste-se a uma reutilização como
«casa de forno». Nesta fase, é adossada, à face interna do muro 23, um <<poial» com a larg. de 0,40 m. e o comp. de 1,40 m., que vai constituir a base da boca do forno. Este «poial» é construldo com blocos de grés calcário ligados por argamassa de cal e areia, enquanto as pedras da parte inferior dos muros do séc.I eram ligadas por argila. Junto da base do referido «poial» deposita-se, sobre os restos do uiveI de derrube das paredes de taipa do séc. I, uma série de finos uiveis (esp. ca. 5 mm. a 10 mm.) de cinzas, correspondentes às sucessi-vas limpezas do forno. Na restante área do comp. H2 forma-se uma espessa camada de subprodutos
de combustão mais grosseiros, como carvões e
fragmentos de barro cozido, relacionáYe'is com o
derrube da superestrutura do fomo que seria de barro.
A base do forno (que designamos por forno
G25) foi descoberta nos Qs. G25, H25 e G 1; é
circular, com o diâmetro interno de 2,30 m.; é lajeada por tijoleiras rectangulares (O 48/0,49 X
0,32 X 0,04 m.) com a face voltada para cima
muito alterada por acção do calor; a cúpula que, como dissemos, seria de barro, arrancava de uma
baixa parede circular, com a largura de ca. 040 m.,
constituída por blocos de grés dunar ligados por argila, parede que em parte assenta sobre o muro 23 do comp. H2 e po~sui uma abertura na zona do «poial» adossado à face interna deste muro. Trata-se sem dúvida, de um forno de cozer pão, muito semelhante aos que ainda hoje podem
ser obserVados em montes do Baixo Alentejo.
Esta estrutura estava coberta apenas pelas areias cinzentas escuras da C.1, pelo que a sua cronolo-gia terá que se fundamentar nas seguintes
obser-vações: como assinalámos, parte da parede
circu-lar do forno assenta sobre o muro 23 do comp.
H2; o «poial» da boca do forno foi adossado ao
mesmo muro; as cinzas resultantes da actividade
normal do fomo cobriam directamente o derrube de taipa do séc. I; a camada correspondente ao
derrube da cúpula do forno forneceu materiais dos
sécs. li-IV (formas Hayes 45A e 50 de ts. clara C, ânforas das formas Almagro 50 e 51 C). De notar que sobre esta ílltima camada foi assentar o muro
2, pertencente ao balneário da segt1J1da metade
do séc. IV. Assim, o forno G25 teria sido cons-truido em uma fase posterior ao séc. I e anterior ao séc. IV. A sua utilização ter-se-ia talvez cen-trado no séc. III.
A escavação efectuada nos Qs. F2, G2 e G3, no exterior do comp. H2, revelou estratigrafia idên-tica à da zona exterior (a Oeste) dos comparti~
mentos 121 e J23. Verifica-se, pois, que também
naqueles quadrados não teve lugar qualquer ocu-pação e que a C.3, correspondente ao derrube da taipa do muro 22, indica claramente que este foi
construido no séc. L Fábrica de salga D14
O afloramento, no Q.B14, de uma estruturá de
opus sigrzinum que a acção erosiva do mar estava
a destruir, levou-nos a abrir nova frente de
esca-vação que foi abranger os Qs. Cl1-EU, C12--F12, B13-F13, B14-G14, B15-G15, C16-F16, C17--F17, do Sector IV e que permitiu pôr a
qesco-berto uma fábrica de salga de peixe da Epoca
Romana que será designada por fábrica de salga
D14. Embora muito destruida em altura, conserva ainda toda a planta que é quase quadrangular, com 8,6 m. de comprimento (orientação aproxi-madamente E.SE.-W.NW.) e 7,8 m. de largura
(orientação S.SW-N.NE.). Possui um pátio
inte-rior, rectangular, com §,2 m. de comprimento e
E.SE., através de um vão de 1,10 m.; o seu pavi-mento é de OPU$ signinum e apresenta, junto da
entrada, duas estruturas de limpeza também de
opus signinum: uma no canto Este, em concha he-misféria com 0,22/0,26 m. de diâmetro, e outra, no canto SE., com a forma de um pequeno tanque (abertura com 0,55 m. de largo e 0,80 m. de compr., fundo com 0,30 m. de largo e 0,45 m. de compro e prof. de 0,50 m.). Quer os ângulos do interior deste pequeno tanque, quer os formados pelo pa-vimento do pátio com os muros que o limitam foram atenuados por meias canas convexas de
opus signinum.
O pátio é limitado a S.SW., a W.NW. e a N.NE. por fiadas de tanques de salga que formam três grupos quanto às dimensões: os do lado S.SW. (tanques II, III e IV) apresentam planta rectan-gular com 1,20 m. de largo e 1,30 m./l,50 m. de compr., aprof. máxima actual de 1,25m. a 1,40m. (t. II) e as cotas do fundo compreendidas entre 7,39 m. (t. II) e 7,52 m. (t. III); os do lado N.NE. (tanques V, VI e VIl) são de maiores dimensões, com 2 m. de largura, 2,20 m. de compr., 1,45 (t. VII) a 1,70 m. (t. VI) de profundidade actual, e com as cotas do fundo compreendidas entre 6,80 m. (t. VI) e 7,25 m. (t. VII); os tanques I e VIII, no lado W.NW., têm dimensões médias,
com 1,80/1,90
x
1,8Ó m., 1,20/1,45 m. depro-fundidade actual, e cotas do fundo de 7,24 m. (t. I) e 7,32 (t. VIII). Estes tanques foram esca-vados na rocha (grés dunar), a partir da cota do pátio, isto é, numa profundidade variável, entre cerca de 1,30 m. (t. III) e 2 m. (t. VI). São limitados por muros, muito destruídos na parte superior, constituídos por blocos de um modo geral de natureza ígnea e de origem exógena ligados por argamassa de cal e areia; são revestidos por opus signinum rico em fragmentos de cerâmica e com os ângulos internos atenuados por meias-canas. Os muros que separam os tanques possuem a largura média de 0,40 m ..
Toda a fábrica é limitada por muros com a lar-gura de 0,45/0,50 m., formados por blocos de grés dunar ligados por argila que assentam sobre um degrau cortado na rocha, perfeitamente visível nos lados N.NE. e W.NW. devido à quase total destruição dos respectivos muros (muro 46 e muro 47).
As estruturas da fábrica encontravam-se cober-tas por areias dunares, muito solcober-tas, amarelo--claras na parte' superior (C.1a - espessura
ca.
0,30-0,60 m.) e cinzento-escuras na parte inferior (C.1b - espessura ca.0,1O-0,15 m. na área do pátio e atingindo 0,30 m. no interior dos tanques), quase arqueologicamente estéreis.
A escavação do conteúdo dos tanques ofereceu os seguintes perfis (de cima para baixo):
Tanque I (Q.B14)
C.2 - Esp. 0,05-0,25 m. (limite inferior
irregu-lar). Areia solta castanho-amarelada, Raras pedras. C.3 - Esp. 0,25-0,40 m. (limites irregulares). Areia castanho-amarelada. Numerosas pedras de
dimensões médias e grandes (0,20-0,25 m. de compro máximo); fragmentos de opus signinum.
Fragmentos de telhas curvas.
C.4 - Esp. 0,20-0,30 m. (limites irregulares). Areia cinzenta escura. Numerosas pedras de di-mensões médias e grandes (0,35 m. de compro máximo). Fragmentos de telhas curvas; escassos fragmentos de tegulae.
C.5 - Esp. 0,45-0,60 m. (limites irregulares). Areia castanho-avermelhada. Escassas pedras. Abundantes fragmentos de telhas curvas e escassos fragmentos de tegulae. Zonas com carvão. Ossos e conchas de moluscos.
C6 - Esp. 0,05-0,20 m. (limites irregulares). Areia castanho-avermelhada clara com abundan-tes telhas curvas e algumas tegulae. Algumas pe-dras. Parece corresponder ao derrube do telhado.
G.7 - Esp. 0,05-0,15 m. (limite superior irre-gular). Restos de produção de salga, de cor ama-rela, com inúmeras peças esqueléticas de peixe, de reduzidas dimensões. Ossos de mamíferos (ma-xilar de bovídeo). Fragmentos de imbrices e tegu-lae. Bocal, pé e fragmentos do bojo de ânfora da forma Almagro 51 A-B e lábio de ânfora da forma Almagro 51 C. Assenta directamente sobre o fundo do tanque.
Tanque II (Q.CI3)
C.2 - Esp. 0,20-0,25 m .. Areia solta,
castanho--amarelada. Abundantes pedras de pequenas e grandes dimensões (0,25 m. de compro máximo). Numerosos fragmentos de telhas curvas, em geral muito erodidas e escassos fragmentos de tegulae.
Ossos de roedores.
C.3 - Esp. 0,30-0,35 m.. Areia argilosa acas-tanhada com fragmentos de estuque; zonas com cinzas. Pedras médias e grandes (0,35 m. de compro máximo). Numerosos ossos de roedores.
C.4 - Esp. 0,75 m .. Areia solta, castanho-ama-relada. Pedras de grandes dimensões (0,40 m. de compro máximo). Conchas de caracois.
C.5 - Esp. 0,10 m .. Areia esbranquiçada, rica em fragmentos de argamassa de cal e areia. Assen-ta direcAssen-tamente sobre o fundo do Assen-tanque.
Tanque III (Q.D13).
C.2 - Esp. 0,85-0,95 m .. Areia solta,
castanho--amarelada. Numerosas pedras de grandes dimen-sões (0,40 m. de compro máximo). Fragmentos de
opus signinum. Escassos fragmentos de telhas. C.3 - Esp. 0,30-0,40 m. (limite superior irre-gular). Areia castanha escura nuito solta com pe-quenos calhaus rolados e pedras de pequenas di-mensões (0,15 m. de compro máximo). Assenta directamente sobre o fundo do tanque.
Tanque IV (Q.EI2-E13)
C.2 - Esp. 0,70-0,85 m. (limite inferior
irregu-lar). Areia amarelo-alaranjada. Numerosos blocos de grandes dimensões (0,35 m. de compro máxi-mo). Conchas de caracois, ossos de répteis e de roedores.
C.3 - Esp. 0,10-35, m. (limite superior irre-gular). Areia esverdeada com poucas pedras.
Frag-mentos de telhas curvas e tegulae na base. Corres-ponde ao derrube do telhado.
C.4 Esp. 0,10 m .. Areia alaranjada, sem
pe-dras. Assenta directamente sobre o fundo do tanque.
Tanque V (Q.FI5)
C.2 - Esp. 0,10-0,20 m. (limites irregulares). Areia castanho-amarelada muito solta. Escassas pedras, em geral de dimensões médias (0,20 m. de compro máximo).
C.3 - Esp. 0,15-0,45 m. (limites muito irregu-lares). Areia castanho-amarelada com numerosas pedras em geral de dimensões médias (0,20 m. de compro máximo).
C.4 - Esp. 0,60-1,10 m. (limites muito
irregu-lares). Areia castanho-acinzentada escura com zo-nas ricas em carvão. Numerosas pedras de gran-des dimensões (0,45 m. de compro máximo). Al-guns fragmentos de telhas curvas.
C.5 - Esp. 0,15-0,40 m. (limite superior muito irregular). Areia amarelada, solta. Abundantes fragmentos de telhas curvas; lábios de ânfora da forma Almagro 51 A-B. Corresponde ao derrube do telhado.
C.6 - Esp. 0,02 m .. Areia amarelo-acinzentada com cinzas e carvões e alguns ossos de peixes e conchas de moluscos. Parece corresponder a uma reutilização da salgadeira, talvez com fins habita-cionais, antes do derrube do telhado. Assenta di-rectamente sobre o fundo do tanque.
Tanque VI (Q.EI5)
C.2 - Esp. 0,35-0,80 m. (limite inferior muito irregular). Areia solta castanho-amarelada com escassas pedras, por vezes de grandes dimensões (0,40 m. de compro máximo).
C.3 - Esp. 0,60-1,10 m. (limites muito irregu-lares). Areia cinzento-acastanhada. Numerosos blocos de grandes dimensões (0,60 m. de compro
máximo). Telhas curvas e escassas tegulae.
Abun-dantes conchas de caracois. T.s. sudgálica, t.S.
elara A (forma Hayes 16), lábios de ânforas (for-ma Dressel 1, com arga(for-massa aderente, e for(for-ma Beltran IV).
C.4 - Esp. 0,20-0,40 m. (limite superior muito irregular). Areia argilosa amarelada. Sem pedras.
Fragmentos de telhas curvas e escassas tegulae.
C.5 - Esp. 0,03 m .. Argamassa de cal e areia não consolidada. Assenta directamente sobre o fundo do tanque.
Tanque VII (Q.DI6)
C.2 - Esp. 0,20-0,25 m.. Areia castanho-ama-relada, solta, sem pedras e com fragmentos de telhas curvas.
C.3a - Esp. 0,50-0,65 m. (limite inferior irre-gular). Areia solta castanho-amarelada. Nume-rosos blocos de dimensões médias e grandes (0,40
m. de compro máximo). Fragmentos de opus
signinum.
o
4cm
5
6
Fig. 13 - Ilha do Pessegueiro. Terra sigillata sudgálica
decorada (n. o 5), t. S. hispânica decorada (n. O. 6 e 7) e
disco de lucerna com representação de Diana (n. o 8).
C.3b - Esp. 0,10-0,50 m. (limites muito irre-gulares). Areia solta cinzenta escura com pedras de grandes dimensões (0,35 m. de compro máxi-mo). Ossos de roedores.
C.4 - Esp. 0,10-0,35 m. (limite superior muito irregular). Areia amarelada, sem pedras, com
nu-merosas telhas curvas e algumas tegulae (derrube
do telhado). Forneceu 1 fragm. erodido de lábio de ânfora ibero-púnica, muito possivelmente ar-rastado de zonas de cotas mais elevadas da ja-zida, e 1 fragm. de lábio de ânfora da forma Bel-tran IV.
C.5 - Esp. 0,05 m.. Restos de produção de salga, de cor amarela e contendo inúmeras partes esqueléticas de peixes, de reduzidas dimensões.
Fragmentos de telhas curvas, de tegulae e de ân-fora. Assenta directamente sobre o fundo do tanque.
Tanque VIII (Q.C15)
C.2 - Esp. 0,05-0,20 m. (limite inferior
irre-gular). Areia solta, castanho-amarelada. Pedras pequenas e médias (0,12 m. de compro máximo). Fragmentos de telhas curvas e de tegulae. For-neceu 1 fragmento de asa anelar de ânfora ibero--púnica.
C.3 - Esp. 0,75-0,90 m. (limite superior irre-gular). Areia cinzenta escura, solta. Numerosas pedras de grandes dimensões (0,40 m. de compro máximo). Fragmentos de opus signinum. Carvão. Fragmento de lábio de ânfora da forma Beltran IV. C.4 - Esp. 0,15-0,20 m .. Areia castanho-ama-relada. Numerosas pedras. Fragmentos de telhas curvas e de tegulae (derrube do telhado), na base.
C.5 - Esp. 0,05-0,10 m .. Restos de produção de salga, de cor amarela e com inúmeras partes esqueléticas, de reduzidas dimensões, pertencen-tes a peixes. Fragmentos de telhas curvas, de
tegulae e de ânfora; 2 maxilares de bovídeo. As-senta directamente sobre o fundo da salgadeira
Tanque de limpeza do pátio (Q.E13)
C.lb - Esp. 0,30-0,40 m. (até à profundidade máxima de 0,38 m. a partir do rebordo do tan-que). Limite inferior inclinado de Sul para Norte. Areia cinzenta escura, solta, com fragmentos de caliça e algumas pedras de grandes dimensões. Arqueologicamente estéril.
C.2 - Esp. 0,07-0,15 m. (limite superior
incli-nado de Sul para Norte). Areia solta, muito fina, castanho-amarelada. Arqueologicamente quase es-téril (1 prego de ferro).
C.3 - Esp. 0,05-0,08 m .. Concentração de frag-mentos da argamassa de revestimento das paredes do tanque. Arqueologicamente estéril. Assenta directamente sobre o fundo.
A fábrica de salga teria sido abandonada no século III/IV, como parece ser indicado pela pre-sença de fragmentos de ânforas das formas Al-magro 51 A-B e AlAl-magro 51 C na C.7 do tanque I, formada pelos restos da última produção de salga. Também na C.5 do tanque V, nível cor-respondente ao derrube do telhado, surgiram fragmentos de ânfora Almagro 51 A-B.
Os escassos materiais que surgem nas cama-das superiores do enchimento dos tanques não permitem estabelecer qualquer datação, pela na-tureza dessas mesmas camadas: ter-se-iam for-mado por derrubes ocorridos possivelmente muito após o momento de abandono da fábrica; mui-tos desses materiais, como alguns fragmenmui-tos de
terra sigillata e até o bocal de uma ânfora ibero--púnica, foram carreados, por agentes naturais, de zonas de cotas mais elevadas da jazida, e per-tencem a épocas muito diversas.
A abertura de um corte perpendicular ao muro 44 (S.SW.) da fábrica, abrangendo os Qs. CU, C12, Dl1, D12, Ell e E12, permitiu verifi-car que a vala de construção do referido muro cortou uma camada que assentava directamente sobre a rocha e que forneceu materiais cronolo-gicamente localizáveis na segunda metade do séc. I d. C.: «paredes finas» com decoração e fabrico da Bética e t.S. sudgálica das formas Drag. 27, Drag. 30 e Drag. 18/31; ausência de t.S. hispâ-nica. Contudo, na parte superior da camada, surgiu o fragmento de um fundo da forma 9 de Lambo-glia de t.S. clara A, na variante a que corresponde a forma 181 de Hayes, somente com engobe na face interna, e que este autor atribui à segunda metade do séc. II e primeira metade do séc. III: Sobrepõe-se-Ihe uma camada, com nume-rosas telhas curvas (na base), que se poderia ter formado aquando do abandono da fábrica, com o consequente derrube do telhado. Entre o escasso espólo tipo logicamente significativo que esta camada forneceu, destaca-se a ânfora da forma Almagro 52 C (séc. III/IV). Conclui-se, pois, que a fábrica teria sido construida talvez nos finais do séc. II ou já no séc. III, sendo abandonada possivelmente antes de meados do séc. IV (o bal-neário escavado na campanha anterior e que pen-samos ter sido construido em meados do séc. IV, contém, em alguns dos seus muros, blocos de opus signinum reutilizados e que poderiam ter feito parte da estrutura da fábrica de salga).
Nos Qs. D17, E17 e F17, por conseguinte no exterior da fábrica de salga e junto do seu muro 46 (N.NE.), surgiu parte de um edifício com mu-ros construidos de acordo com a técnica das casas do século I postas a descoberto nas campanhas precedentes. Com cerca de 0,40 m. de largura, estes muros possuiam a base formada por pedras de grés dunar ligadas por argila e a parte superior de taipa. Integravam um nivel castanho-amare-lado muito erodido, assente directamente sobre a rocha, que forneceu materiais que o datam da 2.a metade do séc. I: t.S. sudgálica (forma Drag.
27), t.S. hispânica (forma Drag. 29 ou 37), ânforas
das formas BIV e Dressel 20 (lábio àrredondado, da primeira fase da produção deste tipo de ân-fora).
Compartimentos 18-J8, Kll, 111-112 e J13 O prolongamento para Norte da escavação iniciada em 1980 (La campanha) do comp. I8-J8 permitiu não só pôr a descoberto a restante área deste compartimento mas também uma grande parte do que designamos por comp. Kll e os seus dois anexos: comps. 111-J12 e J13.
Comp.I8-J8
Após a sua total escavação, verificámos tra-tar-se de um compartimento de planta
quadran-guiar, com 4,60 m. de lado (no interior), limitado por paredes com 0,50 m. de lado, orientadas se-gundo a direcção E.SE.-W.NW. e N.NE.-S.SW. e formadas por blocos de grés dunar ligados por argamassa de cal e areia que assentam sobre de-graus cortados na rocha. Aliás, do que foi omuro 37 apenas resta esse degrau. O comp. 18-J8 comu-nica com o comp. K11 através de uma abertura no muro 37, com 1,10 m. de vão e soleira cons-tituída por tijoleiras.
A escavação, além de ter revelado as camadas
já observadas em 1980 (cf. relatório da 1.8.
campanha), mostrou, nos Qs. 19-J9, uma
quarta camada, assente directamente sobre a rocha e subjacente a uma lareira que integrava a C.3 (com muitas conchas de moluscos mari-nhos misturados com cinzas). Essa C.4, somente com a espessura máxima de cerca de 0,07 m., era constituída por fragmentos de telhas e. de estuque, materiais correspondentes ao início do derrube do telhado e das paredes do comparti-mento, verificado certamente logo após o seu abandono em um momento tardio, pois surgiu um fragmento de lábio de ânfora da forma AI-magro 51 A-B. Antes da sua total destruição, quando as paredes estavam de pé e o telhado se conservava ainda em muitos pontos, o mesmo
compartimento foi reocupado, talvez por um
gru-po de mariscadores que acendeu uma fogueira e deixou espalhadas pelo chão numerosas
con-chas de moluscos (sobretudo Patella, Mytilus
e Monodonta lineata) e partes esqueléticas de peixes. Só mais tarde o telhado viria a ruir (telhas curvas na base da C.2) e, por fim, se assistiria ao derrube quase total das paredes (C.2).
Comps. Kll, 111-112 e J13
o
comp. K11 não foi ainda totalmente postoa descoberto mas, desde já, podemos assegurar que oferece grandes dimensões. Possui 7 m. em um dos lados. Tal como no comp. 18-J8 e nos comps. I11-I12 e J13, o pavimento é constituído pela rocha (grés dunar) cortada; os muros, com a largura de 0,50 m., são formados por blocos de grés dunar ligados por argamassa de cal e areia assentes sobre degraus cortados na rocha. Nos muros 39 e 41 (comps. I11-I12 e J13) os blocos alternavam com fiadas horizontais de telhas curvas. O pavimento do comp. K11 apresentava numerosos orifícios circulares e artificiais, com cerca de 0,08 a 0,10 m. de diâmetro.
Os comps. 111-112 e 113, respectivamente com
2,7 x 2,7 m. e 2,8 X 3,6 m., "funcionariam como
anexos do comp. Kl1, pois embora os dois pri-meiros estivessem separados entre si pelo muro 40, entre eles e o comp. Kl1 não existia qual-quer parede mas, tão somente, um degrau, em ram-pa, cortado na rocha.
A escavação dos comps. Kll, I11-I12 e J13 ofereceu o seguinte perfil (de cima para baixo):
C.1 - Esp. 0,10-0,20 m .. Areia
cinzento-escu-ra, solta, com fragmentos de telhas curvas,
con-chas de moluscos marinhos e, por vezes, peque-nos calhaus rolados resultantes da desagregação do revestimento interior de tanques de salga. Estes materiais foram carreados, por agentes da dinâmica externa, da zona da fábrica de salga que se situa a uma cota mais elevada.
C.2 - Esp. 0,20 m.. Areia menos solta, ama-relo-acinzentada. Grandes blocos de grés dunar (resultantes do derrube dos muros) e fragmentos
de telhas curvas e alguns fragmentos de tegulae.
Forneceu t.S. sudgálica (forma Drag. 15f17), t.S.
hispânica (forma Drag. 27), t.S. clara A (forma
Hayes 15), t.S. clara D (forma Hayes 59),
frag-mentos de ânforas das formas Almagro 50 e AImagro 51C e uma moeda (antoniniano), pos-suindo no anv. cabeça de Claudio à direita com coroa radiada, e, no rev., talvez uma figura de águia em pé e de frente (cunhagem póstuma de Claudio II, com início em 270 d. C.).
Trata-se de uma camada que se formou pelo derrube das paredes e do telhado dos compar-timentos e pela acumulação de materiais trans-portados por agentes naturais de outras zonas da jazida. De notar a mistura de peças com cro-nologias que vão do séc. I ao séc. IV.
C.3 - Esp. 0,10-0,15 m .. Areia castanho-ama-relada, sem pedras e com alguns fragmentos de telhas curvas na parte superior. Forneceu, sobre o pavimento do comp. 111-112, uma moeda (AE 4), possuindo no anv. o busto de
Constantino-pla, à esquerda, com capacete laureado, manto
imperial e ceptro e a legenda CONST
ANTINO-POLIS; e, no rev., a Vitória, em pé, à esquerda,
sobre a proa de um navio, com lança atravessada, e apoiando-se a um escudo (sem legenda e sem marcas do centro emissor visíveis no exergo). Inte-gra-se nas emissões comemorativas cunhadas por Constantino Magno ou pelos seus filhos, no período
de 330 a 346 (3).
A C.3 formou-se pela deposição de materiais, no início da fase de abandono dos comps. K11, I11-I12 e 113, talvez no segundo quartel ou em meados do séc. IV.
Estes compartimentos, considerando sobretudo as suas dimensões e organização, poderiam ter sido utilizados como armazéns possivelmente até cerca de meados do séc. IV.
ESPÓLIO
A campanha de 1982 revelou algumas peças de cronologia ante-imperial, umas de feição
ibero--púnica (n.os 1-3) e outra (n.o 4) itálica. Embora
encontradas fora de contexto, representam indi-cios de a Ilha do Pessegueiro ter sido ocupada durante a Idade do Ferro. Assim (Fig. 12):
1 - Fragmento de cerâmica pintada, de
ban-das. Pasta de cor amarelo-avermelhada (Munsell 5 YR 6/6), compacta, fina, com raros elementos não plásticos visíveis à vista desarmada e de frac-tura irregular. Superfície externa de cor amarelo--avermelhada (5 YR 6/6) com uma banda larga pintada de vermelho (10 R 4/6), reforçada por
espatulamento, que confina com uma de cor
negra. Forma geral indeterminada. Esp. 5 mm ..
Achado à superfície, na área da fábrica de salga.
Inv. I. Ps./1732.
2 - Fragmento de lábio de ânfora
ibero-pú-nica afim do exemplar n.O 2373 de Pellicer, inte-grável na forma geral E do mesmo autor (<<de tendência cilíndrica ou tronco cónica, boca larga, bordo com espessamento vertical de tendência
oval» (4)). Cronologicamente, situa-se entre a
segunda metade do séc. V e os finais do séc. II
a. C. (5). Pasta porosa, de cor
vermelho-acasta-nhada (5 YR 5/6), com raros elementos não
plás-ticos superiores a 0,5 mm.; fractura irregular.
Superfície externa com restos de engobe de cor
beije (lO YR 8/4). Tanque VII, C.4 Inv. I. Ps./
/1463.
3 - Asa anelar e de secção transversal circular,
pertencente possivelmente a uma ânfora ibero--púnica. Pasta rosada (2.5 YR 5.5/6), porosa, compacta, com raros elementos não plásticos
su-periores a 0,5 mm.; fractura irregular. Superfície
externa revestida por engobe de cor beije (10 YR
8/4). Tanque VIII, C.2. Inv. I. Ps./1591.
4 - Fragmento de lábio de ânfora da forma
Dressel-Lamboglia lB. Pasta compacta, porosa, com raros elementos não plásticos superiores a
0,5 mm.. Superfícies e pasta de cor
amarelo-aver-melhada (aprox. 5 YR 6/6). Altura do lábio 57
mm .. Tanque VI, C.6. Inv. I. Ps./1484.
O restante material fornecido pela campanha de 1982 pertence ao período imperial; cronologi-camente, situa-se entre meados do séc. I e o séc. IV/V; mostra-se pouco abundante e muito fragmen-tado, não oferecendo grandes novidades relati-vamente ao que havia sido exumado nas anterio-res campanhas.
A t.s. itálica continua ausente.
No que se refere à t.s. sudgálica lisa não foi
reconhecida nenhuma forma que não tivesse sido já assinalada: Drag. 24/25, 27, 15/17, 18/31 e 35 ou 36 (predominam os exemplares da forma Drag. 18/31). Surgiu somente um pequeno fragmento
decorado (n.o 5 - Inv. I. Ps/1611; Q.Ell, C.3)
pertencente à forma Drag. 30. (Fig. 13,5)
A t.s. hispânica está sobretudo representada
pelas formas Drag 15/17 e 27. Dois exemplares
(n.os 6 e 7), integráveis na forma 29 ou na 37,
são decorados por círculos lisos (n.o 6) e ondulados
(n.
°
7), concêntricos e com botão; o n.°
6apre-senta, sobre o friso de círculos, um motivo, em posição oblíqua, que lembra uma ara. Um frag-mento de fundo, de forma indeterminada, apresenta a marca EX O PT, com o P retrógrado; trata-se,
segundo a Dr. a. Adília Alarcão que examinou este
exemplar, de uma variante dessa marca tão comum em Andujar.
Na t.s. clara predomina a clara A sobre a D.
Ausente a clara C que, nas anteriores campanhas, se mostrou quase inexistente.
Das formas Hayes 8 e 23B de clara A, tão bem representadas na campanha de 1981, não surgiu agora nenhum exemplar. Presentes as formas Hayes 6, 9A (a mais abundante), 15 e 27, já
ante-riormente assinaladas, e ainda a forma Hayes 181 que revelam importações efectuadas a partir dos inícios do séc. II (Hayes 6), podendo ter atingido a primeira metade do séc. III (Hayes 16, 27 e 181). A t.s. clara D, em reduzida quantidade (somente
9 fragmentos), proveniente de níveis superficiais, oferece duas formas das mais comuns em jazidas com estratos do séc. IV: Hayes 59A e Hayes 61A.
Recolheram-se escassos fragmentos de «pa-redes finas», quase todos encontrados na C.3 do corte efectuado no exterior e junto da parede
s.sw.
da fábrica de salga. Apresentam as carac-terísticas próprias do fabrico da Bética, com deco-ração de folhas de água e pequenas pérolas.Surgiu somente um fragmento de lucerna (ní-vel correspondente à construção do séc. I,a N.NE. da fábrica de salga), em cujo disco se observa a representação da Diana segurando um arco, e
caminhando à direita (n.o ). Integra-se no tipo
IV A de Deneauve (<<lucernas de bico triangular decorado por volutas»). Cronologicamente, este tipo pode situar-se entre o reinado de Augusto e
a época dos FIavios (6).
As ânforas imperiais, embora pouco numero-sas, estão representadas, em relação aos repor-tórios das campanhas anteriores, por uma maior variedade de formas. Além das formas Beltran IV, Almagro 50 e Almagro 51 C, já anterior-mente identificadas, surgiram mais as seguintes:
Beltran II A (originária da Bética; transporte de
salga de peixe; séc. I d. C.) com exemplares de
pasta amarelo-pálida (aprox. 5 Y 8/3), friável, porosa e com escassos elementos não plásticos
superiores a 0,5 mm.; Dressel 20 (originária da
Bética; oleária) com duas variantes de lábio (espessamento externo de secção arredondada-primeira fase de produção, arredondada-primeira metade e
inícios da segunda metade do séc. I - e lábio
aplanado e afilado - a partir da época dos
FIá-vios até cerca de meados do séc. II), pasta beije--rosada (7.5 YR 7/4) com numerosos elementos
não plásticos iguais a 1 mm.; Almagro 51 A-B
sécs. III-IV). Exemplares deste último tipo
sur-giram nas Cs. 7 e 6 dos tanques I e V,
respecti-vamente.
Na C.2 do Q.FI7 (nível do séc. I, na zona a
Norte da fábrica de salga de peixe) surgiu um
fragmento de bojo de ânfora (n.o ), de forma
indeterminada, com parte de uma inscrição esgra-fitada. Pasta de cor beije-rosada (7.5 YR 7/4), compacta, fractura rectilínea com escassos ele-mentos não plásticos observáveis à vista desarmada;
superfície externa com engobe beije (aprox. 10
YR 8/3).
QUADRO EVOLUTIVO
Após a 3.11. campanha de escavações, é possível traçar o seguinte quadro evolutivo geral da ocu-pação humana da ilha do Pessegueiro:
1. Durante a Idade do Ferro, estabelece-se um grupo de feição púnica, aí vivendo possivelmente
até à chegada das primeiras influências itálicas, no séc. II/I a. C ..
2. Em meados do séc. I d. C. são edificadas casas de planta rectangular, com muros forma-dos, na base, por blocos de grés dunar ligados por argila e, na parte superior, por taipa (comparti-mentos M4, 11, H2 e edifício a Norte da fábrica de salga). O espaço é organizado em socalcos de orientação N.NE.-S.SW., cortados na rocha. Assis-te-se à chegada de abundante t.S. sudgálica, algu-ma t.S. hispânica, ânforas das formas Beltran II, Beltran IV e Dressel20.
Nos finais do séc. I, os compartimentos M4, 11 e H2 são abandonados, verificando-se o derrube da taipa da parte superior das suas paredes.
3. Na primeira metade do séc. II, sobre o der-rube de taipa das paredes do séc. I, estabelece-se, no comp. J1, nova ocupação.
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ilha, chegam entãot.S. clara A e t.S. hispânica (principalmente de Andujar).
4. Em um período ainda mal determinado, no séc. II-III, procede-se à reorganização do
espaço que havia sido ocupado no séc. I, sen-do erguidas novas paredes (muros 27, 29, 33), agora sem taipa, mas ainda com pedras liga-das por argila. Surgem assim novos comparti-mentos (121, J 23, K 23 e O 25), uns utilizados como habitação (Comp. 121 e L 25), outros como oficinas (forja nos comps. J 23 e K 23); é construído o forno G 25 e reutiliza-se o comp. H 2 como «casa de forno»; constroi-se a fábrica de salga D 14. Todas estas unidades arquitectónicas, tal como os presumíveis armazens a que correspon-dem os comps. K 11, 111-112 e J l3, funcionam até cerca de meados do séc. IV. Neste período é importada escassa ts clara C e alguma clara D, bem como ânforas das formas Almagro 50,51 AB e 51 C.
5. Talvez na segunda metade do séc. IV, é construido um balneário segundo uma orientação diferente da que tinha presidido às construções anteriores. Os seus muros vão truncar edifícios dos sécs. I e II-III e assentar, em parte, sobre a camada do séc. III-IV correspondente à reutili-zação do comp. H 2.
B c I O I E F I G I H 17 16 J K I L I M I 15 14 13 12 11 9 8 7 5 4 3 2 25 24 23
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22 1980 'I...l...J .. 21 escavada em 1982Fig. 1 - Planta esquemática das estruturas romanas postas a descoberto na Ilha do Pessegueiro, com a indicação da área escavada em 1982.
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o --... 1 2m 11111'Jfá1 [2]3 2~ m:!tl4Fig. 2 - Ilha do Pessegueiro (1980-1982). Fases de construção: 1 -L" fase (segunda metade do séc. 1); 2 - 2." fase (séc. I1-Ill); 3 - fase indeterminada; 4 - 3." fase (séc. IV).
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