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Estudo sobre o comportamento da liquidez no mercado acionário brasileiro

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Academic year: 2020

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS  ESCOLA DE ECONOMIA DE SÃO PAULO              ALEXANDRE DE ALBUQUERQUE KANENOBU                          ESTUDO SOBRE O COMPORTAMENTO DA LIQUIDEZ NO  MERCADO ACIONÁRIO BRASILEIRO                                            SÃO PAULO  2017     

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ALEXANDRE DE ALBUQUERQUE KANENOBU                                        ESTUDO SOBRE O COMPORTAMENTO DA LIQUIDEZ NO  MERCADO ACIONÁRIO BRASILEIRO    

Dissertação  apresentada  à  Escola  de  Economia  de  São  Paulo  da  Fundação  Getúlio  Vargas como requisito para obtenção do título  de Mestre em Economia.    Campo de conhecimento: Finanças     Orientador: Prof. Dr. Juan Carlos Ruilova Terán                        SÃO PAULO  2017 

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                                                                              Kanenobu, Alexandre.       Estudo sobre o comportamento da liquidez no mercado acionário brasileiro /  Alexandre Kanenobu. ‐ 2017.       57 f.         Orientador: Juan Carlos Ruilova Terán       Dissertação (MPFE) ‐ Escola de Economia de São Paulo.         1. Liquidez (Economia). 2. Mercado de ações ‐ Brasil. 3. Mercado de capitais. 4.  Créditos – Avaliação de risco. I. Ruilova Terán, Juan Carlos. II. Dissertação (MPFE) ‐  Escola de Economia de São Paulo. III. Título.      CDU 336.76(81)      

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ALEXANDRE DE ALBUQUERQUE KANENOBU 

ESTUDO SOBRE O COMPORTAMENTO DA LIQUIDEZ NO  MERCADO ACIONÁRIO BRASILEIRO

Dissertação  apresentada  à  Escola  de  Economia  de  São  Paulo  da  Fundação  Getúlio  Vargas como requisito para obtenção do título  de Mestre em Economia.    Campo de conhecimento: Finanças    Orientador: Prof. Dr. Juan Carlos Ruilova Teran      Data de aprovação:             /         /     Banca Examinadora:      ______________________________________ Prof. Dr. Juan Carlos Ruilova Terán  (Orientador)   FGV‐EESP        ______________________________________ Prof. Dr. Guillermo Roberto Tomás Malága   Butron    FGV‐EESP      ______________________________________  Dr. Flavio Henn Ferreira  Itaú Unibanco        

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Aos  meus  pais,  Atsushi  e  Ana  Lucia,  e  irmã, 

Patricia,  pelo  incentivo  e  apoio  aos  meus 

estudos por toda a minha vida.  

À  minha  querida  esposa  Gabi,  pelo  carinho,  paciência e compreensão ao longo desses dois  anos de mestrado. 

À minha filha Marina pela enorme alegria que  trouxe à minha vida.  

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AGRADECIMENTOS   

Ao  professor  doutor  e  orientador  Juan  Carlos  Ruilova  Terán  e  ao  professor  doutor  Tomás Malága pelo apoio, tempo dedicado e valiosas sugestões para a elaboração da tese. 

Aos meus novos amigos da FGV, que sempre foram parceiros durante esses dois anos  de mestrado.  

Aos  amigos  de  infância  em  especial  o  professor  Gabriel  Machado  Marinelli  que  contribuiu com seu conhecimento para a melhoria desse trabalho. Aos colegas do mercado  financeiro pelas inúmeras conversas e discussões sobre o assunto tratado.    Ao Banco de Tokyo Mitsubishi UFJ Brasil, pelo auxílio financeiro.                                                                                                                      

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RESUMO   

Esse trabalho tem como objetivo estudar o comportamento da liquidez de ativos, no  caso ações, sob duas diferentes óticas. No primeiro caso, focamos na amplitude do retorno  absoluto  relacionando‐o  com  a  liquidez/iliquidez  no  período  que  compreende  2000  até  agosto de 2016, já no segundo caso, examinou‐se o movimento de Flight to Quality/Liquidity  verificando se o mesmo esteve presente nos períodos de crise nos anos de 2003, 2008 e na  mais  recente  recessão  iniciada  em  2014.  As  empresas  do  IBrX,  na  configuração  até  31  de  agosto  de  2016,  foram  utilizadas  como  base  de  dados,  além  disso,  a  classificação  pelas  agências de risco (S&P, Moody’s e Fitch), também até dia 31 de agosto 2016, fizeram parte  do  estudo.  Para  as  variáveis,  foram  utilizadas  as  medidas  de  liquidez/iliquidez  de  mercado  propostas em trabalhos de alguns autores. Como motivação econométrica a primeira parte  do trabalho se baseou na medida de Iliquidez de Amihud (2002), sendo essa o ponto inicial  para  a  escolha  da  variável  dependente  da  regressão,  para  as  independentes  utilizamos  as  outras medidas apresentadas, por outros autores que se encontram na bibliografia utilizada.  O resultado do estudo mostrou que no mercado brasileiro a relação existe para as variáveis 

Market Cap e Spread no período, já nos casos do Número de Trades e Turnover essa relação 

não  foi  comprovada  nesse  mesmo  período.  Contudo  quando  realizamos  os  estudamos  em  janelas  diferentes  de  tempo  e  o  resultado  mostrou  que  dependo  do  período  essa  relação  pode ser comprovada conforme a literatura descrita, a exceção foi o Número de Trades que  não  se  comprovou.  Para  a  verificação  do  Flight  to  Quality/Liquidity,  fizemos  comparações  entre  empresas  do  IBrX  que  possuem  rating  de  crédito,  subdividido  as  empresas  com  classificação em Investment Grade e Non‐Investiment Grade, e empresas que não possuíam  classificação  de  crédito  nos  períodos  das  crises  de  2003,  2008  e  2014.  Resultados  se  mostraram significantes apenas em 2008 e 2014, sendo da variável dependente, Turnover,  os  resultados  mais  consistentes.  Sabemos  que  a  liquidez  é  um  atributo  fundamental  do  mercado  financeiro,  pois  ela  é  responsável  diretamente  pelos  custos  de  transação,  interferindo nas decisões ótimas dos agentes na realização de investimentos. A importância  desse estudo foi não somente relacionar a liquidez com a amplitude do retorno dos ativos  ou  o  risco  de  crédito  para  o  investidor,  mas  também,  para  a  empresa,  mostrando  que  companhias com menor liquidez possuem custos de capital maiores.            Palavras‐chave: liquidez, Iliquidez, Spread, Turnover, ações, retorno, crédito  

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ABSTRACT   

This work aims to study the behavior of stocks liquidity through two different optics.  In  the  first  case,  we  focused  on  the  amplitude  of  the  absolute  return  related  to  liquidity/  illiquidity  measures  in  the  period  from  2000  to  August  2016,  in  the  second  case,  we  examined  the  Flight  to  Quality/Liquidity  movement,  verifying  that  it  was  present  in  the  periods of crisis of 2003 and 2008 and in the most recent recession started in 2014. The IBrX  companies, in the configuration of August 31, 2016, were also used as a database in addition  to  the  rating  by  risk  agencies  (S&P,  Moody's  and  Fitch),  also  up  to  August  31,  2016,  were  part of the study. For the variables, the liquidity/illiquidity measures proposed by the several  authors were used. As an econometric motivation, the first part of the study was based on  Amihud's  Illiquidity  (2002)  measure,  this  was  the  starting  point  for  the  choice  dependent  variable for the regression; for the independent ones, we use the other measures presented  by other authors listed in bibliography. The result of the study showed that in the Brazilian  market  has  relationship  with  the  variables  Market  Cap  and  Spread  in  the  period,  on  the  other  hand,  Number  of  Trades  and  Turnover  the  same  relation  was  not  proven  for  this  period.  However,  when  we  extended  the  study  for  different  windows  of  time,  the  result  showed  that  according  period  this  relationship  can  be  proven  likewise  in  the  literature  described. The exception in all cases was the Number of Trades, which was not verified. For  the  verification  of  Flight  to  Quality/Liquidity,  we  have  made  comparisons  among  IBrX  companies  with  credit  rating,  subdivided  Investment  Grade  and  Non‐Investment  Grade  companies,  and  companies  that  did  not  have  any  credit  rating  in  the  periods  of  crises  of  2003,  2008  and  2014.  The  results  were  only  significant  in  2008  and  2014,  with  consistent  results  in  the  Turnover  variable.  We  know  that  liquidity  is  a  fundamental  attribute  in  the  financial  market,  since  it  is  directly  responsible  for  transaction  costs,  it  interferes  in  the  optimal decisions of the market players. The importance of this study was not only liquidity  related to the amplitude of the return of the stocks or the credit risk rating to the investor,  but also to the company, showing that  enterprises  with lower liquidity have higher capital  costs.                Keywords: liquidity, Illiquidity, Spread, Turnover, stocks, return, credit  

 

 

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Lista de Figuras 

  Figura 1:  Histórico de fechamento do IBrX ... 27  Figura 2:  Histórico de fechamento do Índice de Volatilidade do mercado Americano VIX    ... 28  Figura 3:  Histórico trimestral do PIB brasileiro ... 29  Figura 4:  Representação  gráfica  da  Cronologia  Trimestral  dos  Ciclos  de  Negócios 

Brasileiros desde 1980 ... 30  Figura 5:  Frequência  dos  retornos  que  aproximam  da  parte  positiva  de  uma  normal 

com média zero... 42 

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Lista de Tabelas 

  Tabela 1:  Medidas de liquidez e sua relação com o retorno de acordo com autores .... 25  Tabela 2:  Medidas de liquidez estudadas e suas relações com o retorno ... 35  Tabela 3:  Cronologia Trimestral dos Ciclos de Negócios Brasileiros Duração e Amplitude    ... 37  Tabela 4:  Empresas do IBrX‐100 com classificação offshore pelas agências de Rating em  algum período entre 2000 e 2016 ... 37  Tabela 5:  Empresas  do  IBrX‐100,  com  classificação  local  pelas  agências  de  Rating  em 

algum período entre 2000 e 2016 ... 38  Tabela 6:  Empresas  do  IBrX‐100,  com  classificação  pelas  agências  de  Rating  nos 

períodos de crise ... 38  Tabela 7:  Visão geral das estatísticas descritivas das variáveis ... 41  Tabela 8:  Cálculo das correlações entre as variáveis ... 43   Tabela 9:  Cálculo  das  médias  das  variáveis  que  serão  utilizadas  no  estudo  por  classificação de Rating ... 43  Tabela 10:  Resultado da regressão em efeito fixo de janeiro de 2000 até agosto de 2016     ... 45  Tabela 11:  Resultado da regressão em efeito fixo excluindo a variável Volume Financeiro  de janeiro de 2000 até agosto de 2016 ... 45    Tabela 12:  Resultado da regressão em efeito fixo excluindo a variável Volume Financeiro  em janelas de 6 anos ... 48  Tabela 13:  Resultado  da  regressão  em  efeito  aleatório  das  3  crises  utilizando  a 

metodologia descria na seção 3.2 ... 50   

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Sumário 

1.  INTRODUÇÃO ... 12 

1.1.  DEFINIÇÃO DE LIQUIDEZ ... 13 

1.2.  DEFINIÇÃO DE FLIGHT TO QUALITY/LIQUIDITY ... 15 

2.  REVISÃO DE LITERATURA ... 16 

2.1.  ESTUDOS RELACIONADOS AO MERCADO BRASILEIRO REALIZADOS NO BRASIL ... 19 

2.2.  ESTUDOS RELACIONADOS AO FLIGHT TO QUALITY/LIQUIDITY ... 22 

2.3.  RESUMO DA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ... 23 

3.  METODOLOGIA ... 26 

3.1.  DELINEAMENTO ... 26 

3.1.1.   CONSTRUÇÃO DA AMOSTRA PARA OS ESTUDOS ... 26 

3.1.2.  VARIÁVEIS ... 30  3.1.2.1.  Variáveis Dependentes ... 30  3.1.2.2.  Variáveis Independentes ... 32  3.1.2.2.1.  Retorno Índice Brasil 100 (IBrX 100) em Absoluto ... 32  3.1.2.2.2.  Volume Financeiro ... 32  3.1.2.2.3.  Número de Trades ou Negócios ... 33  3.1.2.2.4.  Valor de Mercado ou Market Cap ... 33  3.1.2.2.5.  Turnover ... 34  3.1.2.2.6.  Spread ... 34 

3.2.  MODELAGEM ECONOMÉTRICA E ESTUDO DE FLIGHT TO QUALITY ... 36 

3.3.  ANÁLISE EM PAINEL ... 39 

4.  ANÁLISE DE RESULTADOS ... 41 

4.1.  ANÁLISE DA BASE DE DADOS ... 41 

4.1.1.   ESTUDO DE VARIAÇÃO DO RETORNO RELACIONADO À LIQUIDEZ ... 41 

4.1.2.   ANÁLISE DE FLIGHT TO QUALITY/LIQUIDITY ... 43 

4.2.  RESULTADOS DO MODELO ... 44 

4.2.1.   ESTUDO DE VARIAÇÃO DE DO RETORNO RELACIONADO À LIQUIDEZ ... 44 

4.2.2.   ANÁLISE DE FLIGHT TO QUALITY/LIQUIDITY ... 49 

5.  CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 53 

(12)

1. INTRODUÇÃO  

A  liquidez  é  uma  característica  fundamental  para  operações  realizadas  no  mercado  financeiro.  Por  esse  motivo,  os  agentes  a  utilizam  como  um  dos  atributos  primários  de  decisão na hora do investimento (Amihud, Mendelson, 1986). Nos trabalhos que levaram em  consideração  os  retornos  individuais,  Amihud  e  Mendelson  (1986,  1991,  2002),  Brennan  e  Subrahmanyam  (1996),  Brennan,  Chordia  e  Subrahmanyam  (1998),  Datar,  Naik  e  Radcliffe  (1998), Liu (2006), mesmo utilizando medidas diferentes para a liquidez, encontraram uma  relação negativa entre a liquidez e o retorno bruto dos ativos. Os autores mencionam, ainda,  a importância da liquidez no comportamento ótimo dos agentes no mercado financeiro. 

Conhecer a liquidez e a sua relação com as demais variáveis do mercado financeiro  poderia  não  só  aumentar  a  confiança  dos  investidores  nos  mercados,  como  também  melhorar  a  organização  e  regulação  das  bolsas,  assim  como  a  administração  dos  investimentos e, consequentemente, aumentar a eficácia da alocação dos recursos (Chordia  et al., 2001b). 

De acordo com Amihud e Mendelson (1991), a liquidez pode ter o efeito comparado  ao  risco  dos  ativos,  o  investidor  exige  um  retorno  maior  em  ativos  mais  ilíquidos  que  é  o  mesmo  raciocínio  da  exigência  de  um  retorno  maior  para  ativos  considerados  mais  arriscados.  O  racional  utilizado  pelo  investidor  é  que:  se ele  está  abrindo  mão  de  liquidez,  que  é  uma  segurança  de  não  assumir  custos  maiores  na  execução,  consequentemente  o  prêmio  exigido  pelo  investimento  também  deve  ser  maior  e  assim  a  variação  do  retorno  também teria maiores amplitudes. 

Para Liu (2006) as três variáveis que afetam a liquidez de um ativo são: (1) recessão  de mercado, (2) assimetria de informações e (3) o próprio desempenho das companhias. O  autor  entende  que  a  liquidez  é  relevantemente  afetada  pela  situação  ou  expectativa  econômica.  Se  a  economia  está  em  recessão  ou  espera‐se  que  entre  em  recessão,  os  investidores  não  consideram  apenas  os  retornos  esperados  para  manter  ou  realizar  um  investimento, mas também a maior liquidez desse ativo que por consequência tende a gerar  movimentos  menos  bruscos  de  preço.  Na  mesma  linha,  temos  a  afirmação  de  Chordia,  Sarkar e Subrahmanyan (2005), a qual sugere que os investidores mantêm ativos que podem  ser  ajustados  (ter  suas  posições  reduzidas,  se  preciso)  em  decorrência  de  mudanças  econômicas. A assimetria de informação também tem sua parcela de influência na liquidez 

(13)

no caso de informações privilegiadas e as características de governança da empresa, pois os  investidores não querem empresas mal administradas em seus portfolios. 

As condições de mercado e a economia podem afetar o comportamento da liquidez.  “Em períodos de crise financeira, as condições de mercado podem ser severas e a liquidez  pode declinar ou desaparecer” (CHORDIA; SARKAR; SUBRAHMANYAN, 2005). Eisfeldt (2004),  afirma  que  o  comportamento  da  liquidez  de  mercado  varia  dependendo  das  condições  econômicas. Isto é verificado na variação sofrida pelo spread entre ativos líquidos e ilíquidos  ao  longo  dos  ciclos  de  negócios  e  pelo  fato  de  as  crises  de  liquidez  estarem  associadas  a  períodos de recessão econômica. 

Este trabalho é dividido em duas partes, na primeira o objetivo é avaliar a influência  de  variáveis  de  liquidez  nos  retornos  em  absoluto  das  ações  (variação  de  retorno  tanto  positiva  quanto  negativa).  Essa  análise  seria  a  forma  de  expandir  a  Iliquidez  de  Amihud  (2002),  na  seção  da  metodologia  a  fórmula  será  detalhada.  Para  testar  essa  teoria,  vamos  utilizar o mercado brasileiro de ações. 

A  segunda parte  do  trabalho  tem  como  objetivo  explorar  o  fenômeno chamado  de  “Flight  to  Quality/Liquidity”.  Assim  vamos  tentar  verificar  se  a  liquidez  está  correlacionada  com o risco de crédito da empresa. Isso segue a ideia do fenômeno o qual em momentos de  crise  ou  stress  no  mercado,  os  investidores  tendem  a  concentrar  seus  investimentos  em  ações com menos risco e com mais liquidez.   

O trabalho está estruturado em quatro seções, além desta introdução e as definições  de liquidez e do fenômeno de Flight to Quality/Liquidity. A seção dois refere‐se à revisão da  literatura,  da  relação  entre  liquidez  e  retorno  e  do  movimento  dos  investidores  em  momentos de crise. A seção três trata da metodologia utilizada na pesquisa. Os resultados  obtidos  são  expostos  na  quarta  seção.  Por  fim,  a  quinta  seção  apresenta  as  considerações  finais acerca do estudo. 

 

1.1. Definição de Liquidez  

O conceito de liquidez possui várias definições, porém de maneira geral a mais aceita  para  o  caso  de  ações  é:  liquidez  pode  ser  mensurada  como  a  facilidade  a  qual  as  ações  podem ser convertidas em dinheiro ou o dinheiro pode ser convertido em ações (AMIHUD;  MENDELSON, 2002).  

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No  caso  de  Liu  (2006),  a  liquidez  pode  ser  definida  como  a  habilidade  de  negociar  uma  grande  quantidade  de  ativos  rapidamente  ao  preço  de  mercado  e  a  um  baixo  custo.  Essa  definição  destaca  a  multidimensionalidade  da  liquidez,  caracterizada  pela  quantidade  negociada,  velocidade  de  negociação,  custo  de  negociação  e  impacto  do  preço.  Sumarizando,  liquidez  se  refere  ao  custo  de  negociação  do  ativo  no  mercado  de  capitais  (AMIHUD; MENDELSON, 1986, CORREA; AMARAL; BRESSAN, 2008; LIU, 2006). 

Sarr e Lybek (2002), em seu trabalho, definiram as condições de um mercado líquido  como  aquele  que  exibe  cinco  características:  (i)  tightness,  (ii)  immediacy,  (iii)  depth,  (iv) 

breadth  e  (v)  resiliency.  Tightness  refere‐se  à  existência  de  baixos  custos  de  transação.  Immediacy  representa  a  velocidade  com  que  as  ordens  podem  ser  executadas  e  reflete, 

entre  outros  aspectos,  a  eficiência  das  corretoras  e  dos  sistemas  de  negociação.  Depth  refere‐se  à  existência  de  ordens  abundantes,  ou  seja,  a  existência  de  potenciais  compradores e vendedores ambos com preços acima e abaixo do preço em que a ação está  sendo  negociada  atualmente.  Breadth  significa  que  as  ordens  são  numerosas  e  que  sejam  grandes  em  volume  com  um  impacto  mínimo  no  preço.  Resiliency  é  a  característica  do  mercado  em  que  novas  ordens  surgem  rapidamente  para  corrigir  desequilíbrios  entre  as  ofertas e mover o preço para aquele que é garantido pelos fundamentos. 

Apesar  de  não  ser  foco  do  trabalho,  outra  definição  importante  de  liquidez  no  mercado financeiro é a liquidez bancária, que se define usualmente por: “A capacidade de  ocorrer fluxos financeiros entre os agentes participantes do mercado financeiro, com o foco  particular nos fluxos do banco central, bancos comerciais e o próprio mercado. Sendo que,  uma instituição líquida, a qual demonstra capacidade suficiente de realizar esses fluxos de  transações” (European Central Bank – Working Paper Serias No. 1008). 

Entrando  no  tema  liquidez  para  o  mercado  de  ações  brasileiro,  sabemos  que  o  mesmo  é  um  mercado  extremamente  concentrado.  Um  exemplo  desta  concentração  é  a  composição  do  índice  Bovespa  que  é  o  mais  conhecido  e  utilizado  como  referencial,  onde  em  apenas  58  ações  representam  80%  do  índice  de  negociabilidade  (carteira  do  último  quadrimestre  de  2016).  Com  isso,  podemos  verificar  que  o  mercado  brasileiro  possui  características  típicas  de  mercados  emergentes,  onde  muitas,  se  não  a  maioria,  das  ações  apresentam baixa liquidez. 

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1.2. Definição de Flight to Quality/Liquidity  

É  um  fenômeno  que  ocorre  devido  ao  comportamento  empírico  observado  dos  investidores  que,  em  momentos  onde  a  incerteza  no  mercado  aumenta,  tendem  a  mover  seus investimentos para ativos menos arriscados (Flight to Quality) e mais líquidos (Flight to 

Liquidity), (RÖSCH; KASERER, 2014). 

Uma explicação comum para a verificação da ocorrência desses dois fenômenos de  forma entrelaçada é que os ativos mais arriscados tendem a ser ativos com menor liquidez  nos mercados nesses períodos (ERICSSON; RENAULT, 2006). 

Por  esse  motivo,  temos  esses  dois  termos  tratados  na  forma  de  sinônimos  ou  sua  presença simultânea quando um dos termos é utilizado.  

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2. REVISÃO DE LITERATURA  

Amihud  e  Mendelson  argumentam  que  enquanto  os  custos  de  liquidez  de  uma  simples transação são baixos, comparativamente ao preço dos ativos, e os investidores não  enxergam  isso  como  um  empecilho.  Porém  quando  executamos  essas  operações  repetidamente ao longo da vida, esses custos deixam de ser baixos e no acumulado tornam‐ se onerosos. Com esse racional, o impacto dos custos de iliquidez deveria ser igual ao valor  presente  de  todos  os  custos  incorridos  correntemente  e  no  futuro.  Portanto,  investidores  evitam investimentos em títulos ilíquidos, se eles não forem adequadamente compensados.  Consequentemente, para atrair o investidor, o preço de ativos ilíquidos precisa ser baixo o  suficiente para compensar esse custo (AMIHUD; MENDELSON, 1988, 1991, 2006). 

Um estudo realizado por Amihud e Mendelson (1986) foi um dos pioneiros, se não o  pioneiro, no desenvolvimento de modelo teórico o qual relacionava os retornos dos ativos  com  a  liquidez  dos  mesmos,  constatando  que  essa  relação  era  uma  função  crescente  e  côncava do spread (bid‐ask spread). O trabalho verificou a existência de um efeito clientela,  onde os ativos que apresenta spreads maiores são preferidos para os investimentos de longo  prazo. No teste empírico executado no estudo foram utilizados dados do período de 1961 a  1980.  A  ele  foi  aplicado  a  estrutura  teórica  do  CAPM  (Capital  Asset  Pricing  Model).  O  resultado  encontrado  foi  uma  relação  positiva  entre  o  excesso  de  retorno  dos  ativos  e  o 

spread. 

  Como  mencionado  na  introdução,  a  literatura  mostra  que  a  liquidez  de  mercado  é  influenciada  tanto  por  eventos  específicos  de  cada  ativo  e  também  por  alterações  nas  condições macroeconômicas em escalas local e global. Um exemplo local foram as decisões  econômicas  do  último  governo  no  Brasil,  que  impactaram  negativamente  os  preços  dos  ativos; quando falamos em escala global, bons exemplos foram o Quantitative Easing (QE) e  o  Trouble  Asset  Relief  Program  (TARP),  que  foram  operações  realizadas  pelo  FED  onde  ocorreram  a  compra  de  títulos  de  forma  sistemática  resultando  na  injeção  de  bilhões  de  dólares  no  mercado,  afetando  o  preço  dos  ativos  em  escala  mundial.  A  análise  de  todas  essas variáveis nos leva a refletir sobre o comportamento da liquidez e a maneira como ela  influencia  no  preço  de  um  ativo.  Sendo  essa  influencia  da  liquidez  sobre  os  preços  a  componente principal da primeira análise do trabalho. 

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  Datar, Naik e Radcliffe (1998) avaliaram que os retornos são relacionados à liquidez,  como  dito  por  Amihud  e  Mendelson  (1986),  utilizando  como  medida  de  liquidez  o  “turnover”. Para uma amostra de empresas não financeiras negociadas na NYSE entre julho  de  1962  e  dezembro  de  1991,  os  resultados  obtidos  suportam  o  modelo  de  Amihud  e  Mendelson.  O  resultado  mostrou  que  os  retornos  são  uma  função  decrescente  da  taxa  de 

turnover, essa relação persistiu mesmo após a inclusão das variáveis de controle “tamanho  da firma” e o “book‐to‐market” além do  “beta”.  Rösch e Kaserer (2014) utilizaram uma medida inovadora de liquidez constituída por  um set de dados único e inovador. Dessa forma foi possível estender a literatura no assunto.  Essa medida chama‐se XLM (Xetra Liquidity Measure) e possui como base a profundidade do  book de ordens, de onde são utilizadas todas as ordens visíveis e invisíveis (Iceberg Orders) 

para  composição  de  um  preço  médio,  entre  o  bid‐ask.  Além  desse  preço,  um  volume  ponderado  é  calculado;  assim,  para  cada  preço  médio  encontrado  existe  um  financeiro  considerado  possível  de  ser  executado  sem  custos  extras  de  transação.  No  estudo,  ainda  foram utilizadas as variáveis “Volume de Negócios” e “Market Cap”. Toda essa informação  no  formato  intraday.  O  set  de  dados  foi  disponibilizado  aos  pesquisadores  pela  Deutsche  Börse  (Bolsa  de  Ações  da  Alemanha)  no  período  de  2003  a  2009.  Essa  nova  medida  de  liquidez foi criada para os testes empíricos do estudo, que tinha como foco a verificação da  existência  Liquidity  Commonality,  da  espiral  de  liquidez,  como  o  Credit  Rating  afeta  a  liquidez  das  ações  e  o  fenômeno  de  Flight  to  Quality/Liquidity  em  momentos  de  crise.  Vamos voltar ao assunto de Flight to Quality/Liquidity posteriormente. 

Essa base de dados intraday e informações específicas (exemplo Iceberg Orders) não  estão disponíveis em muitos países. 

Amihud  (2002)  realizou  um  estudo  no  qual  se  verificou  a  relação  entre  a  iliquidez  contra os retornos e os excessos de retornos das ações diariamente. No caso desse estudo,  ocorreu um teste empírico a partir de uma amostra de ações negociadas na NYSE no período  compreendido  de  1964  até  1997.  O  modelo  utilizado  adota  como  proxy  para  a  liquidez  a  razão  entre  o  retorno  absoluto  diário  e  o  volume  negociado  em  dólares,  além  de  incluir  variáveis  na  mensuração  do  risco  (beta  e  desvio  padrão  dos  retornos  diários  das  ações).  Como resultado, o autor demonstrou que a iliquidez possui um efeito positivo e significativo  sobre  os  retornos  esperados.  Além  disso,  o  autor  concluiu  que  o  retorno  é  uma  função  relacionada  de  forma  crescente  com  a  iliquidez,  portanto  o  excesso  de  retorno  acima  do 

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prêmio de risco está representando no risco de liquidez do ativo (prêmio de liquidez). Pelo  estudo  de  Amihud  (2002),  pode  se  concluir  que  um  ativo  exposto  a  variações  bruscas  de  liquidez tem o seu retorno esperado e a volatilidade desse retorno afetado devido a adição  desse  tipo  de  risco,  o  resultado  citado  foi  confirmado  em  outros  estudos  que  vieram  posteriormente, como Acharya e Pedersen (2005). 

Acharya e Pedersen (2005) desenvolveram um modelo de equilíbrio para o risco de  liquidez,  denominado  CAPM  ajustado.  Nesse  modelo,  o  retorno  esperado  de  um  ativo  depende  da  própria  liquidez  do  mesmo,  da  covariância  do  retorno,  da  liquidez  com  o  retorno  e  a  liquidez  de  mercado.  Os  testes  empíricos  confirmam  que  ativos  com  maior  sensibilidade a choques de iliquidez possuem, em média, maiores retornos. O modelo ainda  aponta  que  choques  positivos  na  liquidez,  se  persistentes,  estão  associados  a  baixos  retornos contemporâneos e retornos futuros elevados.  

Na mesma linha, Lee (2011) utilizou o modelo desenvolvido por Acharya e Pedersen  (2005) e testa empiricamente em escala global uma amostra composta por 30 mil ações de  50 países negociadas entre os anos de 1988 e 2007. Nesse trabalho, o autor encontrou como  resultado  que  a  parte  do  retorno  afetado  pela  liquidez  é  precificada  de  forma  independentemente  do  risco  de  mercado,  inclusive  após  a  inserção  das  variáveis  de  controle: “tamanho da empresa” e “book‐to‐market”. Adicionalmente, o autor concluiu que  o  mercado  norte‐americano  é  um  importante  propulsor  do  prêmio  de  liquidez  mundial  e  que  o  prêmio  de  liquidez  precificado  varia  entre  os  países  dependendo  de  seu  desenvolvimento geográfico, econômico e político. Essa conclusão era algo o qual podíamos  esperar devido a relevância do mercado norte‐americano no cenário mundial. 

Liu (2006), em seu estudo utilizou uma nova medida de liquidez, descrita brevemente  na  introdução.  Dessa  forma,  também  se  verificou  a  existência  de  um  prêmio  de  liquidez  significativo e robusto para uma longa série de ações ordinárias negociadas no período de  janeiro de 1963 a dezembro 2003. Outros testes empíricos realizados por Liu (2008), em seu  trabalho posterior, mostram que os resultados encontrados por Liu (2006) para o mercado  americano  após  1963,  também  são  robustos  para  o  período  de  1926  a  1962.  O  modelo  proposto capta de forma multidimensional da liquidez, em especial, quantidade negociada,  velocidade  e  custo  de  negociação.  Para  liquidez  foi  utilizando  como  proxy  o  turnover  padronizado e ajustado para o volume de dias sem negociação, o autor demostra que ativos  de  baixa  liquidez  geram  retornos  esperados  significativamente  superiores  aos  retornos 

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gerados por ativos altamente líquidos, se considerado um período de 12 meses. Isso leva a  crer que a medida de Liu (2006) captura a liquidez de mercado. No caso do risco de liquidez  verificamos que o mesmo é negativamente correlacionado com o desempenho do mercado,  indicando  que  os  investidores  precificam  o  risco  de  liquidez  como  relativamente  alto  em  períodos de performance negativa do mercado. O beta de liquidez histórico prediz o retorno  para diferentes intervalos de um a doze meses. Ações com alta sensibilidade a flutuações na  liquidez de mercado ganham significativamente maiores retornos do que as ações com baixa  sensibilidade, ou seja, retornos esperados altos compensam os investidores que carregam o  risco de liquidez.    Outro trabalho que estudou essa relação foi Jun, Marathe e Shawky (2003). Apesar  do  foco  também  ter  sido  o  mercado  internacional,  diferente  dos  demais  trabalhos  já  mencionados,  esse  estudo  foi  realizado  em  companhias  presentes  em  27  mercados  classificados  como  emergentes,  incluindo  o  Brasil,  entre  o  período  de  1992  a  1999.  As 

proxies  utilizadas  para  liquidez  foram  o  “turnover”,  o  “volume  financeiro”  negociado  e  a 

“razão  turnover/volatilidade”.  O  resultado  encontrado  foi  em  sua  maioria  oposto  aos  estudos  anteriores,  pois  foi  constatada  uma  relação  linear  e  positiva  entre  liquidez  e  retorno. Especificamente sobre a análise do mercado brasileiro, o resultado foi uma relação  que também se mostrou positiva entre a liquidez e os retornos sendo esse estatisticamente  significativo.  Segundo  o  trabalho,  o  resultado  divergente  em  relação  ao  de  países  desenvolvidos  é  explicado  devido  à  baixa  integração  entre  os  mercados  emergentes  e  os  globais, por isso a falta de liquidez não funcionará como fator de risco, e, por conseguinte,  os retornos não necessariamente serão menores. 

 

2.1. Estudos Relacionados ao Mercado Brasileiro realizados no Brasil  

Dos estudos encontrados sobre liquidez no mercado brasileiro temos Bruni e Famá  (1998). Aludido estudo teve foco na análise da relação entre a liquidez e o retorno de uma  ação.  A  base  de  dados  utilizada  foi  o  histórico  de  todas  as  ações  negociadas  na  Bolsa  de  Valores  de  São  Paulo  (Bovespa)  no  período  que  compreendeu  1988  e  1996.  Com  o  pressuposto de que o risco sistemático (conforme o modelo CAPM) e a liquidez (conforme o  trabalho  de  Amihud  e  Mendelson  (1986))  estão  relacionados  com  o  retorno,  os  autores 

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evidenciaram a presença de uma relação negativa e significativa entre o retorno e a liquidez,  mensurada pela negociabilidade média da ação. 

No  trabalho  de  Vieira  e  Milach  (2008),  foram  utilizadas  várias  metodologias  de  diversas  literaturas  para  avaliar  a  liquidez/iliquidez  através  de  proxies.  Dessa  forma,  os  autores tentaram avaliar o efeito do prêmio pela iliquidez no mercado acionário  brasileiro  entre  1995  e  2005.  O  método  utilizado  foi  proposto  por  Fama  e  Macbeth  (1973),  e  como  resultados  encontrou  que  apenas  a  variável  “turnover”  é  significativa  na  influência  do  retorno. Para a análise de Vieira e Milach, as ações foram divididas em grupos que possuíam  retornos  médios  mensais  positivos  e  negativos.  As  variáveis  utilizadas  foram,  além  do  “turnover”, o ”bd‐ask Spread”, a “Iliquidez de Amihud” (2002), volume financeiro e número  de negócios. Como resultado do grupo com retornos positivos, apenas as variáveis Iliquidez  de Amihud e spread foram significativas, enquanto no grupo de retornos negativos todas as  variáveis eram significativas. Ou seja, o resultado foi que o prêmio por iliquidez se faz mais  presente  no  momento  de  retornos  negativos  da  empresa.  Uma  variação  do  estudo  foi  utilizar  o  “efeito  janeiro”  (que é  a exclusão  desse  mês  da amostra,  pois  o  comportamento  dele pode gerar distorções na análise já que ele possui um padrão de comportamento) na  regressão,  porém  os  resultados  encontrados  indicaram  que  o  “efeito  janeiro”  não  é  expressivo no período do estudo em questão. 

Correia,  Amaral  e  Bressan  (2008)  realizaram  um  estudo  que  também  verificou  a  relação da liquidez com o valor de mercado nas ações. Examinaram se o retorno das ações é  explicado  pelo  índice  de  “turnover”.  Essa  foi  a  proxy  utilizada  para  a  liquidez.  Incluíram  o  controle no modelo pela variável “tamanho da empresa” e pelo “valor patrimonial/preço”. A  análise  consistiu  em  uma  regressão  de  dados  em  painel  de  ações  negociadas  na  Bovespa  entre  1995  e  2004,  sendo  empregado  o  método  Seemingly  Unrelated  Regressions  (SUR).  Diferentemente  dos  resultados  anteriores,  o  estudo  mostrou  a  existência  de  uma  relação  linear  e  positiva  entre  retorno  e  liquidez  das  ações. Sendo  assim,  o  resultado  se  opôs  a  literatura  que  considera  hipótese  de  um  prêmio  por  falta  de  liquidez,  como  Amihud  e  Mendelson  (1986),  mas  corrobora  com  o  estudo  de  Jun,  Marathe  e  Shawky  (2003)  em  mercados emergentes, descrito na seção anterior. 

No estudo de Mendes Vieira, Ceretta e Lopes da Fonseca (2011), verificou‐se como a  liquidez  influencia  a  precificação  dos  ativos,  entre  janeiro  de  2000  e  junho  de  2008.  O  interessante desse estudo foi a utilização das medidas de liquidez: “quantidade de títulos”, 

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“quantidade  de  negócios”  e  “volume  financeiro”,  em  dois  momentos  diferentes  (atual  e  defasada)  todas  ponderadas  pelo  índice  Bovespa.  Os  autores  encontraram  resultados  os  quais  mostram  que  o  retorno  dos  ativos  tem  influência  positiva  em  relação  ao  retorno  do  índice  Bovespa  e  pelas  variações  de  liquidez.  Contudo,  o  estudo  não  chegou  a  analisar  na  crise financeira de 2008.  

Machado e Medeiros (2012) realizaram um estudo também com o intuito de verificar  o efeito da liquidez nas ações negociadas no mercado brasileiro. O período da amostra foi de  1995  a  2008,  e  o  trabalho  concluiu  que  existe  prêmio  de  liquidez  e  numericamente  esse  prêmio se encontra entre 0,83% a 3,04%, dependendo da metodologia utilizada. No estudo,  foram adotados cinco indicadores de liquidez (“turnover”, “volume negociado”, “quantidade  de negócios”, “negociabilidade” e o “turnover padronizado”) para todas as ações negociadas  na  Bovespa,  com  exceção  das  empresas  financeiras  que  ficaram  fora  do  estudo.  As  ações  foram  divididas  em  cinco  grupos  de  acordo  com  a  classificação  da  liquidez.  No  segundo  momento, foi testada a existência do prêmio de iliquidez de forma distinta entre os grupos.  Para  isso,  o  modelo  de  CAPM  e  o  de  Três‐fatores  de  Fama  e  French  (1993)  foi  utilizado.  Como resultado foi verificado a relação positiva entre a iliquidez e o retorno, sendo que o  prêmio variou de 0,83% a 2,19%, sem ser ajustado ao risco, e de 1,77% a 2,78%, ajustado ao  risco  conforme  CAPM.  No  caso  do  modelo  de  “Três‐fatores”  os  resultados  também  se  mostraram  positivos  entre  1,24%  a  3,04%,  ajustado  ao  risco.  Da  mesma  forma  que  o  trabalho  de  Mendes  Vieira,  Ceretta  e  Lopes  da  Fonseca  (2011),  a  crítica  é  que  não  foi  estudado o período após a quebra da Lehman Brothers (setembro 2008), onde poderiam ser  verificadas alterações importantes no comportamento do mercado.  

Kunkel, Ceretta, Mendes Vieira, Girardi e Righi (2014), analisou o comportamento da  liquidez  no  mercado  brasileiro  modelando  as  variações  médias  da  média,  no  período  compreendido entre 1995 e 2012. Para isso, basearam‐se na variável “Iliquidez de Amihud”  (2002)  utilizada  conjuntamente  com  a  metodologia  Autorregressiva  com  Mudança  de  Regime Markoviana (MS‐AR), descrita em Krolzig (1998). No trabalho foi constatado que a  dinâmica do comportamento da liquidez se divide em dois regimes, um de maior oscilação e  outro  que  se  caracteriza  pela  maior  estabilidade  da  liquidez  do  mercado.  Pelo  estudo  foi  constatado que a liquidez atual é influenciada pelo seu comportamento no período anterior,  sendo que no caso do regime de maior oscilação a influência dos períodos passados possui  menor intensidade. A conclusão desse trabalho foi que o mercado brasileiro de ações possui 

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um  comportamento  explicado  pelo  passado  em  momentos  mais  prolongados  de  menor  oscilação da liquidez. 

2.2. Estudos Relacionados ao Flight to Quality/Liquidity  

Seguindo  agora  para  a  segunda  parte  do  trabalho,  estudaremos  a  liquidez  no  contexto de qualidade de crédito da empresa. Esse tipo de análise é pouco relacionado com  o mercado de ações, apesar de ser um fator extremamente importante para o mercado de  capitais (emissão de dívida). 

O tema Flight to Quality vem sendo abordado há algum tempo. Um caso onde esse  movimento  foi  possível  de  se  verificar  ocorreu  na  crise  causada  pela  alavancagem  e  posterior quebra do LTCM. O jornal  Financial Times de Londres escreveu: “LTCM… possuía 

grandes posições no mercado Russo, também estava em mercados tão distantes como o de  títulos da Indonésia e o mercado de Ações brasileiro, contudo a maioria das suas exposições  estava  nos  Estados  Unidos,  Europa  e  Japão.  No  entanto,  seu  balanço  foi  aniquilado...  e  qualquer redução nas taxas de juros dos EUA provavelmente, sozinha, não será o suficiente  para  deter  a  escala  global  do  “flight  to  quality”.”  –  Nesse  caso  a  liquidez  global  saiu  dos 

ativos  e  foi  para  US  Treasuries,  o  que  demostra  a  sensibilidade  do  mercado  para  essa  questão, pois a quebra de um fundo iniciou esse movimento. 

De acordo com o modelo desenvolvido por Vayanos (2004), os investidores que são  avessos  ao  risco  e  temem  que  resgates  em  aplicações  possam  gerar  prejuízos  durante  períodos  de  alta  volatilidade.  Portanto,  em  períodos  que  essa  volatilidade  aumenta,  esse  investidor tende a seguir para a estratégia de Flight to Quality/Liquidity. Ao mesmo tempo, a  aversão ao risco desses investidores aumenta subindo assim o prêmio de risco exigido para  realização  de  novos  investimentos.  Esse  movimento  derruba  os  preços  dos  ativos  mais  arriscados.   Ericsson e Renault (2006) desenvolveram um modelo que ilustra o impacto do risco  de liquidez sobre spread embutido nas taxas dos títulos corporativos. O principal resultado  do modelo é que os spreads são positivamente correlacionados com o risco de crédito e/ou  possibilidade de default.    Ben‐Rephael (2011) estudou o fenômeno de Flight to Quality/Liquidity nos mercados  de  ações  no  período  de  1986  até  2008  identificando  dez  períodos  de  crise  de  acordo  com 

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saltos positivos no índice do VIX (índice de volatilidade de mercado) para ações americanas.  Dessa forma, conseguiu verificar que as ações ilíquidas tiveram uma depreciação maior que  as  ações  com  liquidez  nos  três  meses  conseguintes  ao  início  na  crise.  De  acordo  com  o  estudo,  isso  é  o  resultado  de  retiradas  de  clientes  dos  fundos  que  possuíam  ações  consideradas de menor liquidez. 

Donato  (2011)  realizou  um  estudo  que  relaciona  a  estrutura  de capital  da  empresa  com a liquidez de suas ações. A base de dados utilizada pela autora foi do período de 1998 a  2009, onde 587 empresas brasileiras, sendo nenhuma financeira, foram submetidas a uma  regressão  em  painel.  Nessa  regressão,  a  variável  explicativa  foi  o  “endividamento”  e  a  “liquidez  das  ações”  foram  medidas  pelas  variáveis  independentes:  “presença  em  bolsa”,  “índice de liquidez” e o “volume de negociação”. O resultado da dissertação demostrou que  a  liquidez  das  ações  é  uma  variável  que  influencia  o  nível  e  a  forma  de  endividamento  da  empresa  no  horizonte  de  longo  prazo.  Isso  permite  que  as  empresas  possuam  um  menor  custo de capital. 

Rösch  e  Kaserer  (2014)  demostraram  com  seu  trabalho  que  existe  uma  relação  positiva entre o risco de crédito e o risco de liquidez, i.e., existe um spread entre o custo de  liquidez  para  ações  com  elevada  nota  de  classificação  de  crédito  e  ações  com  baixa  classificação  de  crédito.  Quando  temos  momentos  de  incerteza  no  mercado,  o  impacto  sofrido  pela  liquidez  das  empresas  em  relação  ao  seu  risco  de  crédito  se  intensifica.  Esse  fator  corrobora  com  a  existência  do  fenômeno  de  Flight  to  Liquidity  ou  Flight  to  Quality  também no mercado de ações. 

2.3. Resumo da Revisão Bibliográfica  

As evidências relatadas mostram que os estudos realizados apontam a existência de  uma  relação  entre  a  liquidez  e  variação  no  retorno,  para  os  mercados  de  ações,  tanto  desenvolvidos,  que  é  o  foco  da  maioria  dos  trabalhos  citados,  quanto  para  mercados  emergentes. É válido ressaltar que os trabalhos apresentados possuem diferentes medidas  de  liquidez  com  variáveis  diferentes  entre  eles.  A  principal  explicação  para  esse  efeito  é  a  multidimensionalidade da liquidez. A própria definição da liquidez no item 1.1 é um exemplo  disso, sendo assim todos os aspectos da liquidez não podem ser representados em apenas  uma única medida (AMIHUD, 2002; SARR e LYBEK, 2002). 

(24)

Portanto, o estudo utilizará mais de uma maneira de representação da liquidez tendo  como base a literatura apresentada. Quanto à construção dos modelos, observa‐se que nos  estudos apresentados existem diferentes focos, sendo que alguns avaliam a relação entre o  retorno  e  a liquidez  do  ativo,  e  outros,  avaliam  evidências para  a  influência  da  liquidez  de  mercado sobre o retorno do ativo. Porém a forma de avaliação é comum a todos  que é o  efeito da liquidez em suas variadas dimensões. 

A tabela 1 a seguir, foi baseada nesta seção da revisão bibliográfica. Nela constam as  principais medidas das literaturas acerca da liquidez discorridas. 

(25)

Autor  Medida de liquidez/iliquidez  Efeito no  Retorno 

Brennan et al. (1998)  Volume Financeiro  Negativa 

Datar, Naik e Radcliffe (1998);  Correia, Amaral e Bressan (2008);  Vieira e Milach (2008) 

Turnover  Negativa 

Chordia et al. (2001b)  Volume Financeiro e Turnover  Negativa 

Fama e French (1992)  Valor de Mercado  Negativa 

Machado e Medeiros (2012)   Volume Financeiro, Turnover, Quantidade de 

Negócios, Negociabilidade e Turnover padronizado  Negativa 

Liu (2006)  Turnover padronizado  Negativa 

Amihud e Medelson (1986);   Sarr e Lybek (2002); Vieira e  Milach (2008) 

Bid Ask Spread  Positiva 

Chalmers e Kadlec (1998)  Spread  Positiva 

Brennan e Subrahmanyan (1996)  Medida inversa do market depth, Kyle (1985)  Positiva  Amihud (2002); Kunkel, Ceretta,  Mendes Vieira, Girardi e Righi  (2014); Vieira e Milach (2008)  Iliquidez  Positiva  Tabela 1 ‐ Medidas de liquidez e sua relação com o retorno de acordo com autores.   

No  caso  da  relação  de  liquidez  com  o  fenômeno  de  Flight  to  Quality/Liquidity,  a  maioria dos trabalhos relacionam taxas de títulos corporativos com a qualidade de crédito, a  exceção  é  o  trabalho  de  Rosch  e  Kaserer  (2014)  onde  o  estudo  foi  realizado  em  ações  do  mercado alemão.  

A  segunda  parte  desse  trabalho  utilizou  como  base  o  estudo  descrito  para  o  desenvolvimento da modelagem. 

(26)

3. METODOLOGIA  

Esta seção se subdivide em: delineamento, que apresenta a constituição da amostra  e  das  variáveis,  modelagem  econométrica,  que  expõe  os  modelos  estimados  a  fim  de  alcançar  os  objetivos  propostos,  e  a  justificativa  para  análise  em  painel.  Cada  uma  das  subdivisões das seções possui ainda outras divisões que devem auxiliar na compreensão de  cada item.    3.1. Delineamento   3.1.1.   Construção da Amostra para os Estudos    Como o intuito de executar os testes para medir a significância e relação da liquidez  na  amplitude  do  retorno  (tanto  para  variações  positivas  quanto  negativas)  das  ações  ao  longo do tempo, foi escolhida uma série de variáveis dependentes e independentes para se  realizar o estudo com ferramentas econométricas, baseando‐se na literatura apresentada na  seção anterior. Assim será possível verificar quais variáveis de liquidez possuem efeitos mais  significantes sobre os retornos em absoluto das ações. 

Para  a  base  de  dados  utilizamos  as  ações  pertencentes  ao  índice  IBrX  no  quadrimestre de maio a agosto de 2016. Esse benchmark foi escolhido entre a possibilidade  da utilização das ações do IBrX 100 ou a utilização de um índice mais conhecido, o Ibovespa.  A opção pelo IBrX 100 se deu pela menor concentração em relação ao Ibovespa, que possui  uma  parte  muito  relevante  de  sua  constituição  em  Petrobras,  Vale  e  Itaú,  e  também  pela  maior quantidade de ações listadas. 

Sobre o IBrX 100: é o resultado de uma carteira teórica de ativos com o objetivo de  ser o indicador do desempenho médio das cotações dos 100 ativos de maior negociabilidade  e  representatividade  do  mercado  de  ações  brasileiro.  Essas  ações  são  ponderadas  na  carteira  do  índice  pelo  seu  respectivo  valor  de  mercado  das  ações  outstanding. As  100 

primeiras  ações  são  escolhidas  em  ordem  decrescente  por  liquidez,  de  acordo  com  seu  índice de negociabilidade no período de vigência das 3 (três) carteiras anteriores e possuir  presença em pregão de 95% (noventa e cinco por cento) nesse período. A ponderação das  empresas  no  índice  é  revisada  a  cada  quatro  meses.  Não  estão  incluídos  nesse  universo 

(27)

BDRs  e  ativos  de  companhias  em  recuperação  judicial  ou  extrajudicial,  regime  especial  de  administração  temporária,  intervenção,  que  sejam  negociados  em  qualquer  outra  situação  especial de listagem ou serem classificado como Penny Stock (ações com valor inferior a 1  real). (BM&F BOVESPA, 2016).  O Índice de Negociabilidade (IN) é definido pela equação a baixo:  ∗    (1) , onde:  IN – Índice de Negociabilidade  ni – número de negócios com a ação i no mercado à vista (lote‐padrão)  N – número total de negócios no mercado à vista da Bovespa (lote‐padrão)  vi – volume financeiro gerado pelos negócios com a ação i no mercado à vista (lote‐padrão)  V – volume financeiro total do mercado à vista da Bovespa (lote‐padrão)    A data de início do índice é de 28 de dezembro de 1995, quando o mesmo teve de  cotação  1.000  pontos.  Eventos  com  bonificações,  proventos,  incorporações,  entre  outros,  são incorporados ao valor do índice; deste modo, é possível considerar o retorno total dos  investimentos. No IBrX  100,  os ativos são ponderados pelo valor de mercado do free float  (ativos que se encontram em circulação) da espécie pertencente à carteira (BM&F BOVESPA,  2016).    Figura 1 ‐ Histórico de fechamento do IBrX.  Fonte ‐ Bloomberg. 

(28)

A  periodicidade  da  coleta  de  dados  foi  mensal,  assim  seguimos  a  literatura  que  foi  baseada  em  dados  mensais.  O  período  dessa  coleta  foi  de  janeiro  de  2000  até  agosto  de  2016,  totalizando  quase  17  anos  de  amostra.  O  período  escolhido  procurou  abranger  um  espaço  de  tempo  suficiente  para  obter  uma  base  de  dados  robusta  para  os  cálculos  econométricos.  Dentro  desse  período  estamos  colocando  alguns  choques  ocorridos  na  economia  brasileira,  pois  um  dos  pontos  de  interesse  é  estudar  como  se  comportou  a  liquidez em períodos heterogêneos. Os períodos de crises como o que antecedeu a entrada  do ex‐presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Poder Executivo brasileiro em 2003, crise pela  quebra da Lehman Brothers em 2008 e a mais recente recessão de 2014 estarão dentro do  estudo.    As figuras 2, 3 e 4, demostram o comportamento do VIX do mercado de ações norte‐ americano, o PIB brasileiro e o último relatório do Comitê de Datação de Ciclos Econômicos  (CODACE), esses indicadores serão parte integrante do identificador para momentos de crise  quando analisarmos as condições de rating de crédito das empresas.    Figura 2 ‐ Histórico de fechamento do Índice de Volatilidade do mercado Americano VIX.  Fonte ‐ Bloomberg   

(29)

 

Figura 3 ‐ Histórico trimestral do PIB brasileiro. 

Fonte ‐ Bloomberg. 

 

O  CODACE  é  um  comitê  criado  em  2008  pela  Fundação  Getúlio  Vargas  com  a  finalidade de determinar uma cronologia de referência para os ciclos econômicos brasileiros,  estabelecida pela alternância entre datas de picos e vales no nível de atividade econômica.  Para a realização desse trabalho, o CODACE segue o modelo adotado em muitos países, com  destaque para o Comitê de Datação norte‐americano, criado em 1978 pelo National Bureau 

of Economic Research (NBER).  

A  ilustração  abaixo  representa  graficamente  a  cronologia  dos  ciclos  de  negócios  brasileiros desde 1980. A curva reproduz a evolução do PIB Trimestral, com ajuste sazonal,  em  nível,  considerando‐se  um  encadeamento  das  séries  antigas  e  novas  das  Contas  Nacionais. 

(30)

  Figura 4 – Representação gráfica da Cronologia Trimestral dos Ciclos de Negócios Brasileiros desde 1980.  Fonte – Comitê de Datação de Ciclos Econômicos relatório de 30 de julho de 2015, página 2.    3.1.2. Variáveis    Para variáveis independentes do primeiro estudo, os dados de mercados colhidos de  cada  ação  foram  o  preço  de  fechamento,  o  fechamento  do  preço  de  compra  (bid),  o  fechamento  do  preço  de  venda  (ask),  volume  negociado,  número  de  negócios  realizados  (número  de  trades),  número  de  títulos  disponíveis  de  cada  ação  (títulos  outstanding)  e  o 

Market Cap. 

No  caso  do  segundo  estudo  temos  ainda  como  variáveis  independentes  a  classificação de risco de crédito das empresas subdividido em três classificações. 

Todas as variáveis independentes são informações de mercado extraídas do terminal  Bloomberg,  no  caso  das  informações  das  ações,  as  mesmas  já  estão  corrigidas  por  dividendos, splits, inplits e bonificações. 

 

3.1.2.1. Variáveis Dependentes   

Como  mencionado  na  introdução,  a  medida  de  Iliquidez  de  Amihud  (2002),  a  qual  será  explicada  a  seguir,  é  responsável  pela  ideia  do  primeiro  estudo  realizado  no  trabalho  dado sua relação com o retorno absoluto. 

(31)

Índice  de  Iliquidez  de  Amihud  (2002):  essa  medida  foi  desenvolvida  pelo  autor  e  denominada Iliquidez no seu estudo realizado em 2002. Apresenta‐se como a razão entre o  retorno  mensal  em  absoluto  e  a  somatória  do  volume  financeiro  negociado  diariamente  para cada ação durante o mesmo mês. De acordo com o autor, a interpretação é a resposta  do preço em relação a cada unidade monetária negociada. A fórmula da medida de iliquidez  proposta por Amihud (2002) é apresentada abaixo:  

, ,

, ∗ 100.000    (2) , onde:   

ILLIQ i,t – Índice de Amihud (2002) da ação i no período t;  R i,t – retorno absoluto da ação i no período t; 

VOLD i,t – volume mensal da ação i no período t.  

 

A  variável  acima  define  a  iliquidez  de  uma  ação  devido  à  relação  entre  o  retorno  absoluto  entre  os  instantes  t  e  t  ‐  1  e  o  volume  financeiro  negociado  no  instante  t.  A  concepção do racional dessa variável, segundo o autor, é: quanto menor for a variação no  preço da ação dado uma elevação em seu volume de negociação, menor será o seu nível de  iliquidez, ou seja, mais líquida será a ação.  

Realizando  uma  analise  nessa  medida  foi  possível  identificar  que  o  Índice  funciona  como  uma  relação  entre  o  retorno  em  absoluto  e  o  volume  negociado,  dessa  maneira  expandimos  esse  raciocínio  colocamos  outras  medidas  consideradas  de  liquidez  em  uma  regressão. 

Dessa  forma  para  o  primeiro  estudo  a  variável  considerada  dependente  foi  o  logaritmo natural do retorno absoluto das ações. Como o estudo tem por objetivo entender  o efeito das variáveis de liquidez e suas significâncias no comportamento dos retornos das  ações,  o  cálculo  econométrico  utilizará  a  variável  Retorno  Absoluto  conforme  a  equação  abaixo: 

, | |    (3) , onde: 

Retorno Absoluto i,t – Retorno mensal da ação i no período t  P i,t – Preço de fechamento da ação i no final do período t  P i,t‐1 – Preço de fechamento da ação i no final do período t‐1   

Na  segunda  parte  que  estudou  o  efeito  do  Flight  to  Quality/Liquidity,  utilizamos  como variáveis dependentes a Iliquidez de Amihud (2002), explicada no inicio dessa seção, 

(32)

Turnover  e  Spread,  que  serão  explicado  nas  próximas  seções,  em  3  regressões  distintas  e  verificar os respectivos comportamentos. As variáveis Tunover e Spread serão explicadas na  próxima seção.      3.1.2.2. Variáveis Independentes    Nessa subseção serão descritas as variáveis independentes utilizadas na regressão.    3.1.2.2.1. Retorno Índice Brasil 100 (IBrX 100) em Absoluto   

Essa  variável  independente  foi  descrita  de  forma  extensa  no  item  3.1.1  construção  da  amostra.  Consideramos  colocar  essa  variável  no  modelo,  pois  dessa  forma  será  possível  retirarmos do estudo o fator mercado na explicação do retorno da ação:  | |    (4) , onde:  Retorno Absoluto IBrX t – Variação mensal do índice IBrX no período t  P t – Preço de fechamento do índice IBrX no período t  P t‐1 – Preço de fechamento do índice IBrX no período t‐1    3.1.2.2.2. Volume Financeiro    O volume financeiro é a soma de todos os valores dos negócios realizados no mês.  Essa variável é utilizada como um indicador de liquidez, pois se entende que ativos os quais  podem ser transacionados em volumes financeiros elevados não possuem restrição de valor  para  execução  de  ordens,  por  isso  o  investidor,  ao  decidir  negociar  estas  ações,  pode  comparar  o  tamanho  de  sua  posição  financeira  frente  ao  valor  total  médio  negociado  e  estimar o tempo necessário para realizar sua operação sem distorcer o preço de mercado.  

    (5) , onde: 

Volume Financeiro t – Variação mensal do Volume Financeiro no período t em relação ao período t‐1;  VF t – Volume Financeiro no período t. 

 

Na  literatura  esse  indicador  foi  utilizado  como  variável  independente nos  trabalhos  de  Jun,  Marathe  e  Shawky  (2003),  Vieira  e  Milach  (2008),  Donato  (2011),  Machado  e  Medeiros (2012) e Rösch e Kaserer (2014). 

(33)

 

3.1.2.2.3. Número de Trades ou Negócios 

 

O número de trades é a quantidade de operações realizadas durante um período –  no  presente  caso,  um  mês  –  em  determinada  ação.  Sua  utilização  como  um  indicador  de  liquidez  está  relacionada  a  capacidade  que  o  investidor  possui  para  realizar  operações  de  entrada e saída do trade de maneira a não influenciar o preço de mercado. Portanto, ações  que  possuem  elevado  número  de  trades  permite  que  o  investidor,  ao  decidir  comprar  ou  vender uma ação, possa executar a quantidade almejada com a média negociada e estimar o  tempo necessário para realizar sua operação. Existe diferença de informações entre volume  financeiro  e  número  de  trades,  apesar  de  ser  esperada  uma  colinearidade  entre  essas  medidas. Exemplo: quando verificamos um volume financeiro elevado em uma ação, não é  possível afirmar como esse foi realizado, pois esse volume elevado pode ser executado em  diversas  transações  ou  em  apenas  uma  única  transação.  Dessa  forma,  essa  variável  demonstra  que  não  apenas  o  volume  financeiro  é  importante,  mas  também  a  forma  que  esse volume é executado.   

ú     (6) , onde: 

Número de Trades – Variação da quantidade de trades no período t em relação ao período t‐1;  NT t – Número de Trades no período t. 

 

Ele  foi  utilizado  como  variável  independente  nos  trabalhos  de  Liu  (2006),  Vieira  e  Milach (2008), Correia, Amaral e Bressan (2008) e Machado e Medeiros (2012).  

 

3.1.2.2.4. Valor de Mercado ou Market Cap   

O Valor de Mercado (Market Cap) é uma variável que indica o tamanho da empresa  em  relação  a  valor  total.  Ao  tomar  uma  decisão  o  investidor  pensa  na  forma  de  reduzir  o  risco.  Nesse  caso,  o  racional  é  que  empresas  de  maior  porte  tendem  a  não  falir  repentinamente, portanto, são mais seguras. 

    (7) , onde: 

Valor de Mercado t – Variação entre os Valores de Mercados da ação i no período t em relação ao período t‐1;  VM t – Valor de Mercado no período t. 

(34)

Na  literatura  esse  indicador  foi  utilizado  como  variável  independente  nos  trabalhos  de  Fama  e  French  (1992),  Chordia,  Subrahmanyam  e  Anshuman  (2001),  Correia,  Amaral  e  Bressan (2008) e Rösch e Kaserer (2014). 

 

3.1.2.2.5. Turnover 

 

Turnover  é  uma  razão  que  leva  em  consideração  o  volume  negociado  total  e  a 

quantidade  de  títulos  outstanding  multiplicado  pelo  preço  da  ação.  Ele  é  utilizado  como  indicador  de  liquidez  porque  demonstra  o  giro  das  ações  da  empresa  entre  as  mãos  dos  investidores  e,  segundo  Merton  (1987),  assim  o  número  de  acionas  ganha  relevância  na  liquidez. Para esse estudo a fórmula de cálculo encontra‐se a seguir: 

, í ,

, ∗ ,     (8) , onde: 

Turnover i,t – O giro da ação i no período t; 

Volume i,t – Volume financeiro negociado da ação i no período t; 

Títulos Outstand i,t – Quantidade de ações outstanding pelo tipo de ação da empresa i no período t;  P i – Preço de fechamento da ação i no período t. 

 

A proxy foi usada por Bruni e Famá (1998), Jun, Marathe e Shawky (2003), Chordia,  Subrahmanyam  e  Anshuman  (2001),  Correia,  Amaral  e  Bressan  (2008)  e  Vieira  e  Milach  (2008), Machado e Medeiros (2012) como uma variável independente.    Como descrito na seção 3.1.2.1 essa variável será considerada como dependente na  segunda parte do estudo desse trabalho.    3.1.2.2.6. Spread    A variável spread foi introduzida na literatura por Amihud e Mendelson (1986). Para  os  autores,  essa  medida  mostra  quanto  o  investidor  está  disposto  a  pagar  em  relação  a  quanto os outros investidores estariam dispostos a vender a ação. A variável compreende a  diferença entre a melhor oferta de compra (bid) e a melhor oferta de venda (ask) de uma  determinada ação. Dessa forma, não é possível comparar o indicador entre as ações e, por  esse motivo, é necessário fazer uma ponderação pelo preço médio entre bid e ask. Para o 

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cálculo desta variável a diferença entre a oferta de compra e venda também foi dividida pela  média dos seus preços, conforme demonstrado abaixo:  , | , ,| , , /     (9), onde:  Spread i,t – Diferença entre a melhor oferta de compra da ação i e a sua melhor oferta de venda no período t  ponderada pelo seu preço médio, que basicamente é o percentual do preço.  Bid i,t – Preço de fechamento da melhor oferta de compra da ação i no período t.  Ask i,t – Preço de fechamento da melhor oferta de venda da ação i no período t.   

Vieira  e  Milach  (2008)  e  Rösch  e  Kaserer  (2014)  utilizaram  a  variável  independente 

Spread em seus estudos de liquidez. Uma observação que seria interessante e mais preciso 

realizar  uma  média  das  cotações  intraday  no  lugar  da  cotação  de  fechamento,  que  pode  conter distorções em ações menos líquidas.    Como descrito na seção 3.1.2.1 essa variável será considerada como dependente na  segunda parte do estudo desse trabalho.  Na tabela abaixo estão as variáveis e a expectativa de sua relação com a variação do  retorno referente ao primeiro estudo.    Variável  Efeito esperado da   Variação do Retorno  Retorno Índice IBrX‐100  Positiva  Iliquidez  Positiva  Volume financeiro   Negativa  Número de Trades  Negativa  Market Cap  Negativa  Turnover  Negativa  Spread  Positiva  Tabela 2 ‐ Medidas de liquidez estudadas e suas relações com o retorno.       

Imagem

Figura 1 ‐ Histórico de fechamento do IBrX.   
Figura 3 ‐ Histórico trimestral do PIB brasileiro.   
Figura 4 – Representação gráfica da Cronologia Trimestral dos Ciclos de Negócios Brasileiros desde 1980.    Fonte – Comitê de Datação de Ciclos Econômicos relatório de 30 de julho de 2015, página 2.    3.1.2
Tabela 6 – Empresas do IBrX‐100, com classificação pelas agências de Rating nos períodos de crise.   
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Referências

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