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“Pensar no que é certo e no que é errado – dentro da cela – Pensar no que a gente fez”: As vivências dos (as) jovens em cumprimento de medida socioeducativa na cidade de Fortaleza-CE / “Thinking about what's right and what's wrong - inside the cell - Thin

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Academic year: 2020

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p.59902-59907 aug. 2020. ISSN 2525-8761

“Pensar no que é certo e no que é errado – dentro da cela – Pensar no que a

gente fez”: As vivências dos (as) jovens em cumprimento de medida

socioeducativa na cidade de Fortaleza-CE

“Thinking about what's right and what's wrong - inside the cell - Thinking

about what we did”: The experiences of young people in fulfilling a

socio-educational measure in the city of Fortaleza-CE

DOI:10.34117/bjdv6n8-414

Recebimento dos originais:08/07/2020 Aceitação para publicação:20/08/2020

Lílian Damaris Alves Monteiro Graduanda em Serviço Social Universidade Estadual do Ceará (UECE)

Keliane de Oliveira Sinésio Batista Graduada em Serviço Social Universidade Estadual do Ceará (UECE)

Pedro Igor Araújo da Silva Mestrando em Sociologia

Universiadade Estadual do Ceará (UECE) Mariana Lucas de Lucena

Graduada em Serviço Social Universidade Estadual do Ceará (UECE)

Rosalvo Negreiros de Oliveira Júnior Mestrando em Sociologia

Universidade Estadual do Ceará (UECE) Maria Andréa Luz da Silva

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade Universidade Estadual do Ceará (UECE)

Francisco Horácio da Silva Frota Doutor em Sociologia Política

Univeridad de Salamanca

RESUMO

Este trabalho, tem por finalidade discutir as vivências do cotidiano dos (as) jovens em cumprimento de medida socioeducativa em meio fechado na cidade de Fortaleza-Ce, conhecendo suas trajetórias e analisando-as para além do senso comum, percebendo suas singularidades. Utilizou-se para atingir o intento pesquisa bibliográfica e documental associada à pesquisa de campo com a técnica de grupo focal. Não obstante, pretendemos demonstrar a

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aplicação (ou não) daquilo que está previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), bem como no Sistema Nacional de Atendimento Socieducativo – SINASE.

Palavras-chave: Juventudes, Trajetórias juvenis, Medidas Socioeducativas. ABSTRACT

This work aims to discuss the daily experiences of young people in compliance with a socio-educational measure in a closed environment in the city of Fortaleza-Ce, knowing their trajectories and analyzing them beyond common sense, realizing their singularities. It was used to achieve the purpose of bibliographic and documentary research associated with field research with the focus group technique. Nevertheless, we intend to demonstrate the application (or not) of what is provided for in the Statute of the Child and Adolescent (ECA), as well as in the National Social Assistance System - SINASE.

Keywwords: Youths, Youth trajectories, Education Measures.

1 INTRODUÇÃO

A presente pesquisa é, na verdade, um conjunto de achados empíricos de um trabalho ainda maior, intitulado como “‘Do código do Menor ao SINASE’: a realidade dos adolescentes em cumprimento de medidas de internação no sistema socioeducativo cearense”.

Destarte, para fins de situação do leitor, estamos aqui tratando da faixa etária entre 12 e 21 anos, público alvo das medidas socioeducativas, conforme previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Entendendo também que a aludida lei surge como resposta ao “Código de Menores”, em um contexto de efervescência da luta e de crescimento dos movimentos sociais no Brasil, que acabara de sair de um período ditatorial.

Neste estudo, partimos da compreensão de que as juventudes (no plural por acreditarmos que existem diferentes tipos de jovens, bem como diferentes formar de vivenciar este período) devem ser percebidas a partir de uma análise concebida dentro de uma determinada estrutura social, percebendo as similitudes e diferenças entre os indivíduos. Referente à estrutura social atual temos um contexto de crescente aumento no número da violência, principalmente no que se refere às juventudes, tendo em vista que segundo o Atlas da Violência 2018, “No país, 33.590 jovens foram assassinados em 2016, sendo 94,6% do sexo masculino. Esse número representa um aumento de 7,4% em relação ao ano anterior. (p.32)”.

O aumento no número de homicídios sinaliza também o crescimento de jovens inseridos nas atividades ilegais ou, nos aproximando da nossa abordagem, no envolvimento com atos infracionais, o que segundo o art. 103 do ECA é considerado como “[...] a conduta

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descrita como crime ou contravenção penal”. Como resposta isso, estão às medidas socioeducativas, as quais possuem 6 tipos de execução, sendo elas: advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviço à comunidade, liberdade assistida, inserção em regime de semiliberdade e internação em unidade socioeducativa, nas quais as duas últimas são regimes de privação de liberdade – foco de nossa pesquisa.

Sem mais delongas, pretendemos demonstrar, portando, ainda que de forma breve, aquilo que pudemos apreender sobre a realidade destes jovens em cumprimento de medida socioeducativa em meio fechado na cidade de Fortaleza ao longo da nossa pesquisa realizada entres os meses de março e abril do corrente ano.

2 METODOLOGIA

A pesquisa em tela privilegiou inicialmente um estudo bibliográfico e documental sobre a temática. Posteriormente, foram feitos encontros no formato de grupo de estudos para aprofundarmos a discussão. Contou ainda com trabalho de campo, o qual fora realizado em parceria com o Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) por meio de um termo de cooperação entre a instituição referida e o Núcleo de Pesquisas Sociais – NUPES/UECE.

No que tange a coleta de dados, foram utilizados diários de campo, questionários e grupos focais, realizados com adolescentes e familiares nos 10 centros de aplicação de medida socioeducativa de meio fechado, sendo eles: Centro de Semiliberdade Mártir Francisca, Centro Socioeducativo Aldaci Barbosa Mota (semiliberdade e internação feminino), Centro Socioeducativo Cardeal Aloísio Lorscheider (internação), Centro Socioeducativo Dom Bosco (internação), Centro Socioeducativo Patativa do Assaré (internação), Centro Socioeducativo São Francisco (internação Provisória), Centro Educacional São Miguel (internação Provisória), Centro Socioeducativo Passaré (internação), Centro Socioeducativo Canindezinho e Unidade de Recepção Luis Barros Montenegro.

Cumpre destacar que esta produção tem por objetivo geral analisar o perfil dos adolescentes atendidos, a situação das unidades de execução das medidas de privação de liberdade e as articulações institucionais que compõe a política de atendimento socioeducativo no estado. Não obstante, temos como objetivos específicos identificar a população atendida por esta política, avaliar a qualidade da execução das medidas supracitadas, tendo por parâmetro o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE, bem como a percepção dos jovens usuários desta política sobre as suas próprias vivências.

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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O título deste trabalho já diz muito sobre o que descobrimos ao longo da nossa trajetória metodológica, tendo em vista que se trata, na verdade, de uma das falas de nossos interlocutores, o que já nos permite traçar algumas linhas para aprofundamento e discussão. Destarte, percebemos que para os jovens autores de ato infracional, estar sobre cumprimento de uma medida socioeducativa de privação de liberdade (internação) é uma “oportunidade” de pensar sobre aquilo que fora feito, assim como na diferença entre o que é “certo ou errado”, aproximando-se muito mais de um caráter moralista e punitivo do que de uma concepção sociopedagógica/restaurativa-educativa, conforme prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) e nos Cadernos da Socioeducação, produzidos pela Secretaria de Estado da Criança e da Juventude (SECJ – PR).

Ainda neste sentindo, se analisarmos, por exemplo, os aspectos arquitetônicos das unidades, que deveriam proporcionar “segurança e humanização” (SECJ – PR, 2010), encontramos locais que na verdade estão repletos de falhas, que mais parecem presídios, onde os dormitórios tem, de fato, aspecto de selas, funcionando sobre a lógica do encarceramento. Não obstante, são necessárias diversas reformas estruturais “básicas”, que garantam as condições mínimas de vida, como, a título de exemplo, consertos nas encanações (para sessar “goteira”) e/ou efetuar dedetizações (para diminuir a quantidade de ratos, baratas e outros insetos), entre outras intervenções que aparecem como pedido na fala de nossos pesquisados. Quando trazemos a tona essas problemáticas, reconhecemos que há uma “mortificação do eu” (GOFFMAN, 2008), anulando a humanização e singularidades destes socioeducandos.

No que tange ao cotidiano dos (as) jovens autores (as) de ato infracional dentro das unidades socioeducativo nos deparamos com uma realidade onde eles (as) têm horário pré- determinado para acordar, dormir, alimentar-se, ir as atividades, aos atendimentos, fazer as ligações, enfim, tudo de acordo com as normas da instituição, o que, inclusive, está previsto no Regimento Interno das Unidades Socioeducativas (2010). Posto isso, a mãe de um adolescente (também nossa interlocutora, haja vista que a participação das famílias está contida no nosso percorrer metodológico) assemelha esta trajetória com a criação de um “bacurim” (nomenclatura pejorativa da cultura nordestina referente ao filhote de porco) e, consequentemente, entende o local como um “chiqueiro”, o que é muito representativo para nós. Partindo para uma concepção mais cientifica, esta forma de condução da disciplina em muito nos lembra da “Casa dos Jovens detentos de Paris” de 1838, apresentada por Léon

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Faucher (1838, p. 274-282, apud FOUCAULT, 1975, p. 11-13), ou seja, um caráter ainda muito conservador, apesar dos anos passados e da quantidade de direitos e progresso supostamente alcançados.

Em tempos hodiernos, não podemos falar das vivências dos (as) jovens em cumprimento de medida socioeducativa em meio fechado sem situá-los dentro de um contexto de efervescência e crescimento das organizações criminosas/facções na cidade de Fortaleza, o que interfere diretamente na rotina das unidades, tal como na própria vida destes indivíduos e de suas famílias. Descobrimos, por exemplo, que alguns socioeducandos estão impedidos de participar das atividades nos centros por conta de disputa entre esses grupos, dificultando assim, a efetivação dos fins da socioeducação. Além disso, os familiares vivem sobre constante medo, temendo que algo aconteça ao membro da família que está interno na unidade socioeducativa, o que pode culminar em um processo de adoecimento físico e/ou mental destas pessoas.

Apesar das problemáticas apontadas, compreendemos que os “[...]guerreiros também sofrem” (RIFIOTIS, DASSI e VIEIRA, 2010, p. 23), e que precisam ser vistos a partir de suas singularidades, entendendo que existem fatores determinantes e condicionantes, frutos de uma sociedade capitalista desigual e excludente, para que os jovens adentrem na prática de atos infracionais e, consequentemente, ingressem no sistema socioeducativo. Dentro desta perspectiva, o próprio desejo por um determinado objeto, baseado em uma lógica de consumo advinda do sistema mencionado, “justifica” a obtenção dele por meio de atividades ilícitas. Da mesma maneira, a lógica excludente do capitalismo intensifica a característica típica da juventude de necessidade por prestígio e aceitação, o que reflete também na inserção deste no “submundo” da criminalidade, haja vista o “orgulho e satisfação” (ELIAS, 2006, apud DIAS, 2015) que esses grupos proporcionam.

Para não cairmos no fatalismo, cumpre destacar que dentro dos centros socioeducativos há aqueles que buscam oportunidades de melhoria de vida e, de fato, acreditam que o cumprimento da medida socioeducativa poderá conduzi-los a isto, a partir das oficinas e cursos oferecidos nas unidades, por exemplo. Ressaltando que provavelmente este espaço não seria oferecido no lugar de origem destes indivíduos.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao analisarmos as vivências dos jovens em cumprimento de medida socioeducativa de internação na cidade de Fortaleza, percebemos que muito ainda há de ser visto e revisto, pensado e problematizado. Sobretudo a falta de consonância entre o que ocorre no cotidiano

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das unidades e o que está previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e no Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE).

Outrossim, precisamos problematizar o crescimento do número de jovens que estão inseridos no sistema socioeducativo, pensando suas trajetórias e os problemas sociais que corroboram para esta inclusão. Não com o intuito de eximir o sujeito de seus atos, mas pensar a responsabilidade do Estado na formação do indivíduo e na construção de possibilidades para sua manutenção.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências.

. Lei nº 12.594, de 18 de janeiro de 2012. Institui o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase).

ATLAS DA VIOLÊNCIA 2018. Disponível em:

http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/relatorio_institucional/180604_atlas_da_v iolencia_2018.pdf. Acesso em 20 de jul. 2018

CEARÁ. Secretária do Trabalho e Desenvolvimento Social. Regimento Interno: Unidades de medida socioeducativa do Estado do Ceará. Governo do Estado do Ceará. 2013.

DIAS, C.C.N.. A produção da disciplina pelo encarceramento. O Público e o Privado (UECE), v. 26, p. 35-51, 2015.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Ed. Vozes. Petrópolis, RJ. 1987.

GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de Janeiro: LTC. 2008

RIFIOTIS, T. ; DASSI, T. ; VIEIRA, Danielli . Vivendo no veneno: ensaio sobre regimes de moralidade entre “adolescentes em conflito com a lei” cumprindo medida socioeducativa em Santa Catarina. 34º Encontro Anual da ANPOCS. p. 1-29, 2010.

Secretária de Estado da Criança e da Juventude. Práticas de socioeducação in Cadernos de Socioeducação. Curitiba – PR. 2º Ed. 2010.

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