Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 60757-60769 aug. 2020. ISSN 2525-8761
Levantamento florístico do Parque das Pedras, Pocinhos – PB
Floristic survey of Parque das Pedras, Pocinhos – PB
DOI:10.34117/bjdv6n8-478
Recebimento dos originais: 17/07/2020 Aceitação para publicação: 24/08/2020
Letícia Keyla França de Andrade
Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA – UFPB) Instituição: Universidade Federal da Paraíba
Endereço: Campus I. Cidade Universitária, João Pessoa, PB. CEP: 58051-900 E-mail: leticiakeylaf@gmail.com
Wesla Mennys Silva
Graduação em Ciências Biológicas Instituição: Universidade Estadual da Paraíba
Endereço: R. Baraúnas, 351. Universitário, Campina Grande, PB. CEP: 58429-500 E-mail: weslasilva@ig.com.br
Zelma Glebya Maciel Quirino
Doutora em Biologia Vegetal (PPGBV – UFPE)
Professora da Universidade Federal da Paraíba (Campus I e IV) Endereço: Rua da Mangueira s/n. Centro, Rio Tinto, PB. CEP: 58000-000
E-mail: zelmaglebya@gmail.com
RESUMO
O presente trabalho objetivou conhecer a composição florística de um Parque Ecológico situado em uma região de Caatinga. O estudo foi conduzido no Parque das Pedras, localizado no município de Pocinhos (PB). O levantamento ocorreu no período de outubro de 2003 a outubro de 2004, onde as espécies em estágio reprodutivo (floração e frutificação) foram coletadas, identificadas e classificadas de acordo com a bibliografia. Registrou-se um total de 72 espécies, pertencentes a 28 famílias e designadas a 59 gêneros. Fabaceae (N=11), Cactaceae (N=6), Anacardiaceae (N=5), Rubiaceae (N=5) e Euphorbiaceae (N=4) foram as famílias de maior riqueza, compondo em conjunto 43% das espécies coletadas. A distribuição botânica quanto ao estrato foi homogênea, com arbustos (32%), herbáceas (30%) e árvores (22%) possuindo número de espécies semelhantes. Os resultados encontrados sugerem que a alta porcentagem das herbáceas está vinculada a períodos de maior disponibilidade hídrica, como o registrado durante a coleta dos espécimes. A riqueza vegetal no Parque das Pedras reforça a ideia de que se deve estabelecer estratégias urgentes e eficazes de manejo e conservação da biota do bioma Caatinga.
Palavras-chave: Caatinga, Espécies Endêmicas, Fabaceae, Herbáceas. ABSTRACT
This work aimed to know the floristic composition of an Ecological Park located in a fragment of Caatinga. The study was conducted in Parque das Pedras (Pocinhos – Paraíba). The survey occurred from october 2003 to october 2004. Species with reproductive structures were collected, identified and classified according to the bibliography. A total of 72 species, belonging to 28 botanic families
Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 60757-60769 aug. 2020. ISSN 2525-8761 and 59 genera were registered. Fabaceae (N=11), Cactaceae (N=6), Anacardiaceae (N=5), Rubiaceae (N=5) and Euphorbiaceae (N=4) were the richest families. Together they represent 43% of the data. Shrubs (32%), herbaceous (30%) and trees (22%) had a similar number of species. Our results suggest that the high number of herbaceous plants registered is linked to the water’s availability during the collection period. The richness of plants in Parque das Pedras reinforces that effective strategies must be established to manage and to conserve the biodiversity of Caatinga.
Keywords: Caatinga, Fabaceae, Endemic Species, Herbaceous.
1 INTRODUÇÃO
Situada no Nordeste brasileiro, a Caatinga é o principal bioma existente na região. Ocupa cerca de 912.000 km² (10%) do território nacional (SILVA; BARBOSA 2017) e é caracterizada por possuir uma vegetação em que se predominam as fases vegetativas e reprodutivas sazonais, composta por espécies xerófitas que são adaptadas a sobreviver nos ambientes semiáridos (ALMEIDA-CORTEZ et al. 2016). Além disso, exibe uma alta diversidade e apresenta elevado endemismo (PESSOA et al. 2008; SILVA et al. 2009).
Do ponto de vista econômico, as espécies presentes na Caatinga são bastante exploradas pelo homem, variando de plantas arbóreo-arbustivas, comumente extraídas para a comercialização da madeira, bem como para a implementação de atividades de cunho agropecuário, até espécies herbáceas que são utilizadas para a indústria farmacêutica e de cosméticos (RIBEIRO et al. 2015; CARVALHO et al. 2020).
Segundo ARAÚJO et al. (2010), o bioma se encontra em um acentuado processo de degradação, com o uso desordenado dos recursos providos por essa região, o que acaba por resultar na substituição de espécies nativas por cultivos e pastagens. Em virtude disso, muitas espécies vegetais encontradas na Caatinga estão ameaçadas de extinção, o que compromete a dinâmica da comunidade biológica. Entre elas, podemos citar a aroeira (Myracrodruon urundeuva M. Allemão.), a baraúna (Schinopsis brasiliensis Engl.) e a catingueira (Caesalpinia pyramidalis Tul.) (IBAMA 2002). Nessa perspectiva, estudar a composição da flora e a estrutura de uma comunidade vegetal é o primeiro procedimento a ser realizado para a tomada de decisões que englobem a manutenção dos remanescentes florestais do semiárido nordestino (MARQUES et al. 2020).
Dentro da Caatinga paraibana se encontra o Parque das Pedras, localizado no município de Pocinhos. A região constitui um importante fragmento de vegetação do estado, sendo composto por espécies nativas e endêmicas do bioma. Tendo em vista a sua relevância ecológica, o presente trabalho objetivou conhecer a composição florística do Parque das Pedras, buscando identificar os
Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 60757-60769 aug. 2020. ISSN 2525-8761 táxons predominantes na área, categorizar a distribuição do estrato vegetal, bem como contribuir para futuros projetos de manejo e conservação da flora da Caatinga.
2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
O Parque das Pedras localiza-se próximo a zona urbana do município de Pocinhos (7°04`36``S, 36° 03`04``W), na parte ocidental do planalto da Borborema, inserida na zona fisiográfica do Agreste paraibano, cuja altitude se aproxima de 655m. Distante 152km da capital João Pessoa, o município possui cerca de 14.871 habitantes e sua área territorial é de 608 Km2, representando 1,08% da área total do estado.
O parque possui uma área de 50 hectares, com vegetação típica de Caatinga, formado por afloramentos rochosos graníticos e gnaisses, denominados inselbergs. A área é de propriedade privada, onde seu proprietário (Sr. Martin Cabral Gondin), que há anos vêm desenvolvendo o potencial turístico, mantêm a cobertura vegetal nativa.
Segundo a classificação de Köppen (ALVARES et al. 2013), o tipo climático da região estudada é semiárido e quente (BSh’), de modo que a temperatura está intrinsicamente relacionada ao tipo de relevo, com médias térmicas superiores a 27ºC e uma baixa média pluviométrica (EMBRAPA 2001).
2.2 LEVANTAMENTO FLORÍSTICO
O trabalho de campo foi realizado no período de outubro de 2003 a outubro de 2004, com excursões quinzenais por toda a área do parque para executar o levantamento da flora. As espécies foram registradas e espécimes em estágio reprodutivo coletados para a elaboração de exsicatas.
A identificação das espécies foi realizada através do uso de chaves (CRONQUIST 1981), bibliografias especializadas (BARROSO 2004; SOUZA; LORENZI 2005), bem como em comparações com o material herborizado disponível no Laboratório de Botânica da UEPB. A atual nomenclatura aceita para cada espécie seguiu a classificação da FLORA DO BRASIL (2020).
2.3 MATERIAL BOTÂNICO
Após a secagem do material botânico, exsicatas foram confeccionadas, para em seguida serem incorporadas ao Herbário Professor Lauro Pires Xavier (JPB), da Universidade Federal da Paraíba como espécime testemunho.
Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 60757-60769 aug. 2020. ISSN 2525-8761 2.4 COLETA DOS DADOS PLUVIOMÉTRICOS
A coleta de dados pluviométricos foi obtida no Laboratório de Meteorologia, Recursos Hídricos e Sensoriamento Remoto da Paraíba (LMRS), órgão vinculado à Secretaria Extraordinária do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMARH).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA
Registrou-se um total de 72 espécies pertencentes a 28 famílias e designadas a 59 gêneros, com 57 identificadas ao nível de morfoespécie, 13 ao nível de gênero e duas não determinadas (Tabela 1). Verificou-se que 14 espécies (19%) do levantamento são endêmicas da Caatinga. SILVA et al. (2019) ressaltam que esse bioma detêm a maior diversidade da flora endêmica dentre as Florestas Tropicais Sazonalmente Secas, de modo que compreender a composição florística e como essas espécies podem vir a responder a perturbações antrópicas pode auxiliar na conservação desse grupo.
Tabela 1. Lista das famílias e espécies registradas no Parque das Pedras, Pocinhos-PB, com seu respectivo hábito.
Família/Espécie Hábito
Acanthaceae
Ruellia asperula (Mart. ex Nees) Lindau. Arbusto
Ruellia paniculata L. Arbusto
Amaranthaceae
Alternanthera dentata (Moench) Stuchlík ex R.E.Fr. Herbácea
Anacardiaceae
Anacardium occidentale L. Árvore
Myracrodruon urundeuva M. Allemão. Árvore
Spondias tuberosa Arruda. Árvore
Spondias sp. Árvore
Schinopsis brasiliensis Engl. Árvore
Apocynaceae
Aspidosperma pyrifolium Mart. & Zucc. Árvore
Mandevilla tenuifolia (J.C. Mikan) Woodson. Herbácea
Asteraceae
Centratherum sp. Herbácea
Lourteigia sp. Herbácea
Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 60757-60769 aug. 2020. ISSN 2525-8761
Anemopaegma sp. Trepadeira
Brassicaceae
Capparis flexuosa (L.) L. Trepadeira
Bromeliaceae
Encholirium spectabile Mart. ex Schult. f. Herbácea
Portea sp. Arbusto
Burseraceae
Commiphora leptophloeos (Mart.) J.B. Gillett. Herbácea
Cactaceae
Cereus Jamacaru DC. Arbusto
Melocactus ernestii Vaupel. Arbusto
Melocactus bahiensis (Britton & Rose) Luetzelb. Arbusto
Tacinga inamoena (K.Schum.) N.P.Taylor & Stuppy. Arbusto
Pilosocereus chrysostele (Vaupel) Byles &
G.D.Rowley. Arbusto
Pilosocereus gounellei (F.A.C.Weber) Byles &
Rowley. Arbusto
Commelinaceae
Commelina erecta L. Herbácea
Commelina sp. Herbácea
Convolvulaceae
Jacquemontia densiflora (Meisn.). Hallier f. Herbácea
Merremia aegyptia (L.) Urb. Trepadeira
Cucurbitaceae
Momordica charantia L. Trepadeira
Euphorbiaceae
Cnidoscolus urens (L.) Arthur. Arbusto
Euphorbia papillosa A. St.-Hil. Arbusto
Jatropha gossypiifolia L. Arbusto
Manihot glaziovii Muell. Arg. Arbusto
Fabaceae
Caesalpinia ferrea Mart. ex Tul. Árvore
Caesalpinia pyramidalis Tul. Árvore
Hymenaea caurbaril L. Árvore
Senna martiana (Benth.) H.S.Irwin & Barneby. Arbusto
Amburana cearensis (Allemão) A.C. Sm. Árvore
Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 60757-60769 aug. 2020. ISSN 2525-8761
Dioclea grandiflora Mart. ex Benth. Trepadeira
Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenam. Árvore
Mimosa paraibana R.C. Barneby. Arbusto
Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir. Árvore
Prosopis juliflora (Sw.) D.C. Árvore
Malpighiaceae
Stigmaplyllum paralias A. Juss. Trepadeira
Stigmaplyllum sp. Trepadeira
Malvaceae
Ceiba glaziovii (Kuntze) K. Schum. Árvore
Melochia tomentosa L. Arbusto
Melastomataceae
Tibouchina candolleana (DC.) Cogn. Arbusto
Trembleya parviflora (Don) Cogn. Arbusto
Myrtaceae
Eugenia uvalha Cambess. Arbusto
Myrciaria cauliflora (Mart.) O. Berg. Árvore
Nymphaeaceae
Nymphaea sp1. Herbácea
Nymphaea sp2. Herbácea
Victoria sp. Herbácea
Orchidaceae
Cyrtopodium intermedium Brade. Herbácea
Pontederiaceae
Eichharnia sp. Herbácea
Rubiaceae
Borreria poaia (A.St.-Hil) DC. Herbácea
Randia formosa (Jacq.) K. Schum. Herbácea
Richardia grandiflora (Cham & Schltdl.) Steud. Herbácea
Spermacoce verticillata L. Herbácea
Tocoyena formosa (Cham. & Schltdl.) K. Schum. Arbusto
Sapindaceae
Serjania coradinii Ferruci. Trepadeira
Talisia esculenta (A. St.- Hil) Radlk. Árvore
Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 60757-60769 aug. 2020. ISSN 2525-8761
Solanum lycocarpum A. St.-Hil. Arbusto
Solanum paniculatum L. Arbusto
Verbenaceae
Latana camara L. Herbácea
Verbena sp. Herbácea
Violaceae
Hybanthus ipecacuanha (L.) Baull. Herbácea
Vitaceae Cissus sp. Trepadeira Indeterminada Sp 1 Herbácea Sp 2 Trepadeira Fonte: SILVA, W. M. (2004).
As famílias de maior riqueza foram Fabaceae (N=11), Cactaceae (N=6), Anacardiaceae (N=5), Rubiaceae (N=5) e Euphorbiaceae (N=4) (Figura 1). Quanto ao gênero, Caesalpinia, Commelina,
Melocactus, Mimosa, Nymphaea, Pilosocereus, Ruellia, Solanum, Spondias e Stigmaplyllum se
destacaram por apresentarem duas espécies. Esse dado nos mostra que no Parque das Pedras a vegetação possui uma tendência a dispor de uma baixa diversidade dentro dos táxons, como é relatado para a Caatinga (FARIAS et al. 2017; LACERDA et al. 2010).
Figura 1. Riqueza florística ao nível de família botânica registrada no Parque das Pedras (Pocinhos – PB).
Fonte: SILVA, W. M. (2004). 0 5 10 15 20 25 30 Anacardiaceae Cactaceae Euphorbiaceae Fabaceae Nymphaeaceae Rubiaceae Famílias com 2 spp. Famílias com 1 sp. Número de espécies No m e da f a m ília bo tâ nica
Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 60757-60769 aug. 2020. ISSN 2525-8761 Ao comparar os resultados encontrados com a bibliografia foi possível perceber a similaridade na composição florística quanto as famílias encontradas para as distintas áreas da Caatinga, onde Fabaceae, Euphorbiaceae e Cactaceae são comumente citadas pela elevada riqueza nesses ambientes (ALMEIDA-CORTEZ et al. 2016; BULHÕES et al. 2015; MACHADO et al. 2012; RODAL e NASCIMENTO 2002). Essas famílias desempenham um papel vital do ponto de vista ecológico, de forma que as espécies vegetais que as compõem são chaves para a manutenção das interações mutualísticas entre plantas e animais, além de fornecerem serviços ecossistêmicos para a população (SIMÕES et al. 2019; LEAL et al. 2018; TABARELLI et al. 2017).
A família Bromeliaceae conteve apenas duas das espécies coletadas no estudo. No entanto, outros levantamentos florísticos de inselbergs (FRANÇA et al. 1997; LUNA 2004) indicam uma maior representação desse grupo no bioma Caatinga e revelam a sua importância ecológica nesses ambientes. A espécie E. spectabile possui uma forte relação com o grupo dos morcegos, sendo imprescindível para a manutenção da dinâmica do ecossistema. A interação garante o recurso alimentar ao animal e a eficiência no processo de polinização para o vegetal (GONÇALVES-OLIVEIRA et al. 2017; QUEIROZ et al. 2016).
É importante ressaltar o registro de três espécies macrófitas pertencentes a família Nymphaeaceae, não comumente citadas em levantamentos de Caatinga. O seu surgimento na área analisada é um resultado das fissuras encontradas nos inselbergs que são aproveitadas para a construção de pequenos poços. A água é retida e acaba por criar um habitat adequado para a propagação de plantas aquáticas. KHEDR e HEGAZY (1998) afirmam que espécies do gênero
Nymphaea conseguem se adaptar e sobreviver em locais cuja quantidade de água e incidência de
luz flutua. Portanto, essa plasticidade pode explicar o ajuste dos indivíduos encontrados durante a coleta realizada.
3.2 DISTRIBUIÇÃO NOS DIFERENTES HÁBITOS
A distribuição dos estratos se deu de forma homogênea, de maneira que os arbustos compuseram 23 espécies (32%), as herbáceas 22 (30%), as árvores 16 (22%) e as trepadeiras 11 (16%) (Figura 2).
Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 60757-60769 aug. 2020. ISSN 2525-8761
Figura 2. Representatividade dos hábitos registrados para as espécies vegetais do Parque das Pedras, PB.
Fonte: SILVA, W. M. (2004).
Os arbustos foram compostos por dez famílias, se destacando por elevada riqueza Cactaceae (N=6) e Euphorbiaceae (N=4). As herbáceas estão dispostas em treze famílias, com Rubiaceae possuindo quatro espécies, seguida por Asteraceae, Commelinaceae e Verbenaceae (N=2). O estrato arbóreo foi distribuído por apenas seis famílias. Fabaceae (N=7) e Anacardiaceae (N=5) exibiram maior riqueza. Por fim, as trepadeiras foram registradas em sete famílias, com Fabaceae e Malpighiaceae apresentando duas espécies cada.
Quando comparado a outros levantamentos fora constatado uma elevada porcentagem de herbáceas na maioria dos trabalhos analisados (Tabela 2). O predomínio deste estrato provavelmente está vinculado a disponibilidade hídrica (ALMEIDA-CORTEZ et al. 2016), tendo em vista que, apesar da baixa média pluviométrica anual, o município do parque da pesquisa (Pocinhos, PB) apresentou um alto índice de chuvas nos meses (janeiro e fevereiro) que antecederam o maior número de coletas das ervas, assim como dos arbustos e das trepadeiras (Figura 3). Em contraposição, o estrato arbóreo teve seu maior fluxo de coletas no período estacionário seco, sugerindo que este grupo não sofre variações abruptas em períodos de maior escassez da água.
0 5 10 15 20 25
Arbóreo Arbustivo Herbáceo Trepadeira
Núm er o de esp éc ies
Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 60757-60769 aug. 2020. ISSN 2525-8761
Tabela 2. Comparação quanto ao hábito vegetal em levantamentos florísticos do bioma Caatinga.
Neste estudo (2004) Alcoforado et al. (2003) Machado et al. (2012) Almeida-Cortez et al. (2016) Arbusto 32% 40,2% 23,1% 15,38% Arbóreo 22% 29,0% 18,3% 17,95% Herbácea 30% 13,3% 46,6% 43,6% Trepadeira 16% 17,5% 12% 7,68%
Fontes: ALCOFORADO et al. (2003); SILVA, W. M. (2004); MACHADO et al. (2012); ALMEIDA-CORTEZ et al. (2016)
Figura 3. Relação entre o número de espécies novas coletadas no Parque das Pedras (PB), o hábito e a precipitação
mensal durante o estudo.
Fonte: SILVA, W. M. (2004).
4 CONCLUSÕES
Com a composição de 72 espécies em estágio reprodutivo durante a realização das coletas, o estudo demonstrou que a riqueza vegetal do Parque das Pedras é elevada.
As famílias Fabaceae, Cactaceae, Anacardiaceae, Rubiaceae e Euphorbiaceae apresentaram maior riqueza, com destaque para a primeira citada. Esse é um resultado comum em áreas de Caatinga, de modo que espécies dessas famílias apresentam características morfológicas e fisiológicas que garantem o seu estabelecimento em regiões semiáridas.
0 50 100 150 200 250 0 1 2 3 4 5 6
out/03 nov/03 dez/03 jan/04 fev/04 mar/04 abr/04 mai/04 jun/04 jul/04 ago/04 set/04 out/04
Pre cip ita çã o ( m m ) Núm er o de esp éc ies
Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 60757-60769 aug. 2020. ISSN 2525-8761 A composição dos estratos vegetais foi homogênea. No entanto, os resultados sugerem que a alta porcentagem das herbáceas (22 spp.) está vinculada a períodos de maior disponibilidade hídrica. Portanto, esse padrão pode estar sujeito a variações e deve ser investigado.
A riqueza da flora e o seu grau de endemismo reforçam a ideia de que se deve estabelecer estratégias urgentes e eficazes de manejo e conservação da biota situada no Parque das Pedras. Por consequência, será mantida uma relação harmônica entre o homem e a natureza, de modo que o parque possa ser utilizado com finalidades ecoturísticas sem causar um desequilíbrio nas interações ecológicas da área.
REFERÊNCIAS
ALCOFORADO-FILHO, F.G.; SAMPAIO, E. V. D. S. B.; RODAL, M. J. N. Florística e fitossociologia de um remanescente de vegetação caducifólia espinhosa arbórea em Caruaru, Pernambuco. Acta Botânica Brasílica, 17(2): 287-303. 2003.
ALVARES, C. A.; STAPE, J. L.; SENTELHAS, P. C.; MORAES, G.; LEONARDO, J.; SPAROVEK, G. Köppen's climate classification map for Brazil. Meteorologische Zeitschrift, 22(6): 711-728. 2013.
ARAUJO, K. D.; PARENTE, H. N.; ÉDER-SILVA, É.; RAMALHO, C. I.; DANTAS, R. T.; ANDRADE, A. P.; SILVA, D. S. (Levantamento florístico do estrato arbustivo-arbóreo em áreas contíguas de Caatinga no Cariri Paraibano. Revista Caatinga, 23(1): 63-70. 2010.
ALMEIDA-CORTEZ, J. S.; TAVARES, F. M.; SCHULZ, K.; PEREIRA, R. D. C. A.; CIERJACKS, A. Floristic survey of the caatinga in areas with different grazing intensities, Pernambuco, Northeast Brazil. Journal of Environmental Analysis and Progress, 1(1): 43-51. 2016.
BARROSO, G.M.; GUIMARÃES, E. F.; ICHASO, C. L. F.; COSTA, C. G.; PEIXOTO, A. L.; LIMA, H. C. Sistemática de Angiospermas do Brasil. Viçosa: Editora UFV, 2004. 309p.
BRASIL, Flora. 2020 em construção. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em:< http://floradobrasil. jbrj. gov. br/>. Acesso em: agosto de 2020.
BULHÕES, A. A.; CHAVES, A. D. C. G.; DE ALMEIDA, R. R. P.; RAMOS, Í. A. N.; DA SILVA, R. A.; DE ANDRADE, A. B. A.; SILVA, F. T. Levantamento florístico e fitossociológico das espécies arbóreas do bioma caatinga realizado na Fazenda Várzea da fé no município de Pombal-PB. Informativo Técnico do Semiárido, 9(1): 51-56. 2015.
CARVALHO, W. S.; DA SILVA SANTOS, L. R.; DE OLIVEIRA, S. F.; DE OLIVEIRA, F. M. P.; AMAN, X.; LEAL, I. R. Formigas como provedoras de serviços ecossistêmicos na Caatinga: Como informar a sociedade sobre pesquisas ecológicas. Journal of Environmental Analysis and
Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 60757-60769 aug. 2020. ISSN 2525-8761 CRONQUIST, A. An integrated system of classification of flowering plants. Columbia University
Press, New York. 1981.
EMBRAPA, Zoneamento Agroecológico do Nordeste ZANE; Brasília: Embrapa. 2001.
FARIAS, R. C.; LACERDA, A. V.; GOMES, A. C.; BARBOSA, F. M.; DORNELAS, C. S. M. Riqueza florística em uma área ciliar de Caatinga no Cariri Ocidental da Paraíba, Brasil. Rev. Bras.
Gest. Amb. Sustent. 4 (7): 109-118. 2017.
FRANÇA, F.; MELO, E.; SANTOS, C. C. Flora de inselbergs da região de milagres, Bahia, Brasil: e. caracterização da vegetação e lista de espécies de dois inselbergs. Sitientibus, Feira de Santana, 17: 163-184. 1997.
GONÇALVES‐OLIVEIRA, R.C.; WÖHRMANN, T.; BENKO‐ISEPPON, A. M.; KRAPP, F.; ALVES, M.; WANDERLEY, M. D. G. L.; WEISING, K. Population genetic structure of the rock outcrop species Encholirium spectabile (Bromeliaceae): The role of pollination vs. seed dispersal and evolutionary implications. American Journal of Botany, 104(6): 868-878. 2017.
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Apresenta
texto sobre o ecossistema da caatinga. 2002. Disponível em:
<http://www2.ibama.gov.br/ecossis/caatinga.htm>, Acesso em 05 de março de 2005.
KHEDR, A. H. A.; HEGAZY, A. K. Ecology of the rampant weed Nymphaea lotus L. Willdenow in natural and ricefield habitats of the Nile delta, Egypt. Hydrobiologia, 386(1-3): 119-129. 1998.
LACERDA, A. V.; BARBOSA, F. M.; SOARES, J. J.; BARBOSA, M. R. D. V. Flora arbustiva-arbórea de três áreas ribeirinhas no semiárido paraibano, Brasil. Biota Neotropica, 10 (4): 275-284, 2010.
LEAL, I. R.; LOPES, A. V.; MACHADO, I. C.; TABARELLI, M. Interações planta-animal na Caatinga: visão geral e perspectivas futuras. Ciência e Cultura, 70(4): 35-40. 2018.
LUNA, I. R. Estudo Florístico de um inselbergue na Serra das Flechas município de Pedra
Lavrada – PB. 2004. Monografia (Graduação em Ciências Biológicas) - Universidade Estadual da
Paraíba, Campina Grande, 2004.
LMRS-PB/SEMARH. Laboratório de Meteorologia, Recursos Hídricos e Saneamento Remoto
da Paraíba e Secretaria Extraordinária do Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Disponível em
<http//:paraíba.pb.org.br>, acessado em dezembro, 2004.
MACHADO, W.; PRATA, A. P.; MELLO, A. Floristic composition in areas of Caatinga and Brejo de Altitude in Sergipe state, Brazil. Check List, 8: 1089. 2012.
MARQUES, F. J.; CABRAL, A. G. A.; DE LIMA, C. R.; DE FRANÇA, P. R. C. Florística e estrutura do componente arbustivo-arbóreo da caatinga nas margens do rio Sucuru em coxixola, Paraíba: reflexos da antropização. Brazilian Journal of Development, 6 (4): 20058-20072. 2020.
Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 60757-60769 aug. 2020. ISSN 2525-8761 PESSOA, M. F. Estudo da cobertura vegetal em ambientes da caatinga com diferentes formas de manejo no assentamento Moacir Lucena, Apodi - RN. Revista Caatinga, Mossoró, 21(3): 40-48. 2008.
QUEIROZ, J. A.; QUIRINO, Z. G. M.; LOPES, A. V.; MACHADO, I. C. Vertebrate mixed pollination system in Encholirium spectabile: A bromeliad pollinated by bats, opossum and hummingbirds in a tropical dry forest. Journal of Arid Environments, 125: 21– 30. 2016.
RIBEIRO, E. M. S.; ARROYO-RODRÍGUEZ, V.; SANTOS, B. A.; TABARELLI, M.; LEAL, I. R. Chronic anthropogenic disturbance drives the biological impoverishment of the Brazilian Caatinga vegetation. Journal of Applied Ecology, 52(3): 611-620. 2015.
RODAL, M.J.N.; NASCIMENTO, L.M. Levantamento florístico da Floresta Serrana da Reserva Biológica de Serra Negra, Microrregião de Itaparica, Pernambuco, Brasil. Acta Botânica Brasílica, 16(4): 481-500. 2002.
SIMÕES, S.S.; ZAPPI, D.; COSTA, G. M. D.; DE OLIVEIRA, G.; AONA, L. Y. S. Spatial niche modelling of five endemic cacti from the Brazilian Caatinga: Past, present and future. Austral
Ecology, 45(1): 35-47. 2020.
SOUZA, V.C.; LORENZI, H. Botânica Sistemática. Nova Odesso, SP: Instituto Plantarum de
Estudo da Flora LTDA. 2005. 609P.
SILVA, K. A.; ARAUJO, E. L.; FERRAZ, E. M. N. Estudo florístico do componente herbáceo e relação com solos em áreas de caatinga do embasamento cristalino e bacia sedimentar, Petrolândia-PE. Acta Botânica Brasília, 23(1): 100-110. 2009.
SILVA, J. M. C.; BARBOSA, L. C. F. Impact of human activities on the Caatinga. In: Caatinga.
Springer, Cham. (pp. 359-368). 2017.
SILVA, J. L. S.; CRUZ-NETO, O.; PERES, C. A.; TABARELLI, M.; LOPES, A. V. Climate change will reduce suitable Caatinga dry forest habitat for endemic plants with disproportionate impacts on specialized reproductive strategies. PloS one, 14(5): e0217028. 2019.
TABARELLI, M.; LEAL, I. R.; SCARANO, F. R.; SILVA, J. M. C. The future of the Caatinga. In: